terça-feira, 11 de agosto de 2009

como nascer de novo

Hoje em dia, "nascer de novo" é manchete. A revista Time publicou um artigo especial sobre o assunto, intitulado "A fé dos nascidos de novo". Candidatos a cargos políticos dedicam à questão atenção igual à que dão às últimas estatísticas econômicas e à crise de energia. Um antigo líder do grupo "Pantera Negra", um agitador radical da década de 60, retorna do exílio e declara: "Minha vida deu uma guinada de 180 graus. Eu nasci de novo." Um homem que esteve envolvido em um dos mais divulgados escândalos políticos de nosso tempo escreve um livro no qual expõe a transformação por que passou sua vida como conseqüência de haver ele nascido de novo.
Uma pesquisa popular do Instituto Gallup apresenta a espantosa revelação de que nos Estados Unidos "mais de um terço da população em idade de votar passou pela experiência religiosa do novo nascimento".
O novo nascimento.
Será isso possível? Uma vida pode ser transformada?
De que se trata, afinal? O que significa isso?
Será que é genuíno? Será duradouro?
Como uma pessoa nasce de novo?
A expressão "nascer de novo" não é simplesmente um termo novo, cunhado por jornalistas :modernos para descrever as mais recentes tendências religiosas. O termo "nascer de novo" tem quase dois mil anos. Numa norte escura, na velha cidade de Jerusalém, Jesus volta-se para um dos mais conhecidos intelectuais de seu tempo, e lhe diz: "Deixe-me dizer-lhe urna coisa, a menos que uma pessoa nasça de novo, ela não pode ver o reino de Deus." (João 3:3) Com estas palavras, Jesus nos informa acerca da possibilidade e da necessidade de um novo nascimento – de uma transformação espiritual. De lá para cá, incontáveis milhões de homens, no decorrer dos séculos, têm dado testemunho da realidade do poder de Deus em sua vida, através da experiência de um novo nascimento.
Um jovem oficial do corpo de fuzileiros, veterano da guerra do Vietnã, descreveu publicamente uma batalha noturna, na qual ele e sua tropa haviam estado sob ataque inimigo. Poucos deles escaparam com vida, em helicópteros de socorro. Ele fora submetido a dezesseis cirurgias, que lhe haviam restaurado a capacidade física, mas experimentara, também, um renascimento espiritual, depois que regressara à pátria. Ele disse: "Nós juramos lealdade à bandeira de nosso país, mas a menos que tenhamos um novo nascimento pela fé em Cristo, toda a religião que professarmos não vale nada." Esse tenente nascera de novo.
Estou-me lembrando dessa notável cristã holandesa que é Corrie ten Boom, agora com mais de oitenta anos. O relato de sua coragem em meio à perseguição nazista tem inspirado a milhões de pessoas. Ela fala de uma experiência acorrida quando ela contava cinco anos de idade, e disse à mãe: "Quero Jesus em meu coração." E ela relata como sua mãe segurou sua mãozinha, e orou com ela. "Foi muito simples, mas Jesus Cristo diz que todos nós devemos ir a ele como criancinhas, não importa a idade que tenhamos, ou qual seja nossa formação social ou intelectual."
Corrie ten Boom, com a idade de cinco anos, nasceu de novo.
Já ouvi de inúmeras pessoas, pessoalmente ou por carta, o relato de como nasceram de novo e tiveram sua vida completamente transformada. Um homem de Milwaukee escreveu-me: "Hoje eu e minha esposa estivemos a ponto de acabar com nosso casamento. Sentíamos que não podíamos mais continuar juntos, nas condições em que estávamos vivendo. Ambos reconhecemos que críamos não mais amar um ao outro. Eu não apreciava mais a companhia dela, nem minha vida no lar. Nós nos dirigíamos palavras amargas. Não conseguíamos mais fazer concessões, nem chegávamos a um ponto conciliatório para ver como poderíamos melhorar nossa convivência, mesmo que quiséssemos tentar.
"Creio que foi pela orientação de Deus que liguei a televisão, e escutei sua mensagem acerca do renascimento espiritual. Minha esposa assistia ao programa comigo, e durante o mesmo, começamos a examinar nosso coração e sentimos uma nova vida em nosso interior. Orei a Deus para que penetrasse em meu coração e realmente me tornasse um homem novo, e me ajudasse a iniciar uma nova vida. Nossas dificuldades agora parecem bastante insignificantes."
Tanto aquele homem como sua esposa nasceram de novo.
O que significa nascer de nova? Não se trata de uma obra de auto-aperfeiçoamento que, de alguma forma, aplicamos a nós mesmos. Hoje em dia ouvimos falar multo em reciclagem, reconstrução, remodelação. Reformamos casas, acrescentando-lhes novas cômodos. Demolimos construções velhas para construirmos novas, e chamamos a isso renovação urbana. Milhões e milhões de dólares são gastos anualmente em centros de estética, institutos de beleza, e cosméticos exóticos – por pessoas que desejam remodelar o rosto ou renovar o corpo.
Da mesma forma, os homens experimentam, freneticamente, todos os tipos de mezinhas que aparecem, prometendo uma renovação interior. Alguns procuram isso num consultório psiquiátrico. Outros buscam essa renovação através de uma incursão pelas religiões orientais, ou em processos de meditação transcendental. Outros, ainda, procuram a paz interior e a renovação nas drogas e no álcool. Mas qualquer que seja o caminho experimentado, eventualmente, todos chegam a um beco sem saída". Por quê? Simplesmente porque o homem não pode renovar a si mesmo. Foi Deus quem nos criou e somente Deus pode recriar-nos. Somente Deus pode dar-nos novo nascimento que desejamos e de que precisamos tão desesperadamente.
Creio que esta questão é uma das mais importantes de todo o mundo. Governantes podem ser eleitos, mas podem ser derrubados. Máquinas militares podem avançar, mas podem recuar também. Os homens exploram o espaço e as profundezas do oceano. Todos esses eventos são facetas de um grande plano para a humanidade deste planeta.
Mas o tema central do universo é o propósito para a vida, o objetivo de cada indivíduo. Todos os homens são importantes aos olhos de Deus. É por isso que ele não pode ficar de braços cruzados (por assim dizer), e simplesmente ver a raça humana espojar-se na infelicidade e destruição. A maior verdade de todo o universo é essa de que podemos nascer de novo. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16)
Este novo nascimento ocorre de várias maneiras. Às vezes, ele parece que se desenrola durante certo período de tempo, às vezes, acorre num momento. O caminho que as pessoas seguem para chegar a este ponto pode ser direto, ou dar muitas voltas. Mas qualquer que seja este caminho sempre encontramos Cristo no fim dele para nos receber. E esse encontro com Cristo, este novo nascimento, é o início de outro caminho em nossa vida, um caminho inteiramente novo, sob o controle dele. E vidas podem ser transformadas de forma notável, relacionamentos conjugais podem ser melhorados, sociedades podem ser influenciadas para o bem – pela simples mas irresistível influência de indivíduos que aprenderam o que é nascer de novo.
É bem possível que, no fundo do seu coração, exista uma carência desconhecida que você não sabe descrever. Talvez tenha passado toda a sua vida buscando preencher um vazio que existe em seu coração, a fim de encontrar um propósito para a vida. Talvez externamente você esteja levando uma vida de muito sucesso, mas isso não lhe tenha trazido nem paz, nem a verdadeira felicidade. Talvez sua vida seja uma interminável cadeia de mágoas e sonhos desfeitos. Ou talvez você seja apenas curioso.
Qualquer que seja sua formação anterior, peço a Deus que use este livro para dar-lhe esperanças – para mostrar-lhe que você também pode nascer de novo.
Como Nascer de Novo não foi escrito para teólogos ou filósofos. Já existem muitas obras profundas de teologia que examinam o significado do novo nascimento (ou regeneração, como o denominam os teólogos). Sei que existem, entre os teólogos, diversos enfoques com relação a este assunto. Alguns dão maior importância ao que Deus faz para conduzir-nos à fé. Outros focalizam mais a busca da fé empreendida pelo homem. Alguns falam do novo nascimento como um evento único na vida das pessoas; outros usam o termo para descrever tudo que Deus quer realizar em nós. Na verdade, existe um mistério com relação ao novo nascimento; não podemos compreender tudo que ele encerra, pois nossa mente é finita.
Todavia, apesar de toda a divergência dos teólogos a respeito de certos detalhes doutrinários, a verdade central acerca do novo nascimento é clara: sem Deus, o homem está espiritualmente morto. Precisa nascer de novo. E isto só pode acontecer pela graça de Deus, através da fé em Cristo.
Minha principal preocupação tem sido fazer um livro de cunho prático. Embora não seja possível ao homem esgotar este assunto, eu quis expor tudo que é necessário para que as pessoas que realmente desejam conhecer a Deus, possam conhecê-lo. Quero ajudá-las a passar por esta experiência transformadora. Quero que elas – que você – tenham um novo nascimento. Creio que Deus quer que você nasça de novo.
Já havíamos iniciado este livro quando o termo "nascer de novo" virou manchete. Tenho sentido a bênção de Deus enquanto o escrevia, e senti também que pode ter sido Deus quem nos induziu a produzir esta obra justamente numa ocasião em que milhões de pessoas indagam o que vem a ser este novo nascimento.
O manuscrito original foi entregue a uma amiga nossa, Carole Carlson – cuja ajuda foi solicitada. Depois, com o auxílio adicional de minha esposa, Millie Denert, e de Cliff Barrows e sua esposa Billie, terminamos o livro em um pequeno apartamento no México, onde eu me restabelecia de uma enfermidade.
Portanto, quero deixar aqui minha palavra de agradecimento ao casal Bill e Vivian Mead, de Dallas, Texas, e aos nossos maravilhosos amigos da família Servitje, do México, que possibilitaram nosso trabalho e esse período de restabelecimento; à minha secretária, Stephanie Wills, que datilografou e redatilografou o manuscrito; à minha esposa Ruth, pelo seu maravilhoso incentivo e apoio; ao meu colega, Dr. John Akers, pelos seus comentários; mas principalmente a Carole Carlson, pelo magnífico trabalho que realizou ao simplificar um texto que poderia ter sido por demais profundo e teológico para as pessoas do mundo inteiro, que, espero e oro, lerão esta obra, e experimentarão o novo nascimento.

Billy Graham


























POR QUE ME SINTO TÃO VAZIO?

Quando o satélite Viking aterrissou em Marte, o mundo exclamou: "Inacreditável! Maravilhoso!" O misterioso planeta vermelho fora devassado. Um robô engenhosamente projetado e que custara bilhões de dólares, e saíra das mentes inquisitivas de centenas de cientistas, realizara uma tarefa com que o homem sonhava havia muitas gerações.
Explorar os grandes mistérios do universo, tentar prever as variações súbitas da natureza, ou as tendências da sociedade ou da política – tudo isso são interesses do homem moderno.
No mundo dos negócios, por exemplo, os homens procuram meios de melhorar sua eficiência. Em paredes de escritórios ou quadros de aviso de companhias de vendas, vemos cartazes com slogans assim: "Planeje com antecedência!" ou "Planeje seu trabalho, e depois 'trabalhe' em seu plano!" Algumas empresas contratam firmas administrativas, pagando-lhes somas fabulosas, para que descubram como essas empresas podem melhorar seu planejamento. Os negócios, a política mundial e a economia são coisas que mudam tão bruscamente, que em questão de dias o destino de todo o país pode modificar-se. Companhias denominadas "Fábricas de pensamento" projetam o pensamento para daí a uma década ou mais, a fim de se manterem em dia com as variações dos tempos.
Em nossa vida, procuramos manter uma agenda, onde anotamos nossos compromissos e programamos nossas atividades. Se não houvesse este planejamento, as crianças nunca iriam ao dentista, as mulheres nunca conseguiriam chegar às suas reuniões comunitárias, e os sindicatos e federações fracassariam. Estamos sempre procurando maneiras de facilitar a vida e simplificar nosso viver diário.
Mas, e quanto às questões maiores da vida e da morte? Nós as planejamos? Será que precisamos entender as profundas questões morais e espirituais para que nossa vida transcorra mais em ordem? O homem sempre pensou que sim, e é por isso que existem filósofos, psicólogos, teólogos. Hoje em dia, porém, grande parte da busca que o mundo empreende em direção ao saber e á felicidade, ignora a pessoa de Deus.
Conheci um brilhante jovem advogado que parecera não enxergar a sua necessidade de Deus durante os anos em que se concentrara nos estudos. Mais tarde, começou a escrever um livro a respeito de um homem famoso. Enquanto trabalhava em sua obra, tivemos uma conversa através da qual pude perceber que ele vivia um período de indagação espiritual. Esperava encontrar, em algum aspecto da vida de seu biografado, uma realização espiritual que ele próprio desejava. Ele sabia que essa pessoa cria em Deus e aceitara a Cristo em seu coração. Parecia também estar seguro de que aquele indivíduo acerca de quem escrevia, vez por outra, tinha dúvidas.
Aquele jovem que havia tanto tempo empreendia sua busca pessoal, agora tomava interesse pelas coisas espirituais. Em meus primeiros contatos com ele, pensei que fosse agnóstico, interessado apenas em obter conhecimentos na universidade, e depois na faculdade de direito. Agora creio que durante sua adolescência e juventude – ele sempre esteve buscando a Deus, sem o saber.

O Homem Independente

Somos instruídos a nos tornarmos independentes. É possível que olhemos para um indivíduo e pensemos: "Ah, ali está uma pessoa que venceu na vida." Nós o admiramos e respeitamos sua habilidade de "vencer sozinho".
Nós até já vimos um comercial de televisão que dizia: "Por favor, mãe, prefiro fazer isso sozinho." Creio que fui criado para fazer algo melhor; deve haver coisa melhor nessa vida. "Por que me sinto tão vazio?"
Tais sentimentos, que muitas vezes são subconscientes, levam-nos a lutar para atingir um alvo desconhecido. Podemos até tentar fugir a esta realidade, podemos nos desviar para um mundo de fantasia, ou até regredir para uma existência nos níveis inferiores, procurando uma evasão. Podemos arrancar os cabelos em desespero, e dizer: "De que adianta tudo isso? Se eu estiver trabalhando e me mantendo longe dos problemas, então tudo está bem." Mas, bem no fundo de nosso ser, existe um impulso que sempre nos leva a empreender esta busca novamente.
Esta é uma das razões por que a nação se deixou fascinar pelo livro Roots (Raízes), que resultou de uma busca de dez anos pela própria identidade, empreendida pelo autor, Alex Haley. Outro escritor, Rod MacKuen, sentiu-se desenraizado e com um estranho vácuo no coração, ao encetar a procura de seu pai verdadeiro. O mais antigo livro que possui a rapa humana é o livro de Jó, e Jó certa vez exclamou: "Ah! se eu soubesse onde o poderia achar!" (Jó 23.23.)
Esta busca não é limitada por raça, idade, situação econômica, sexo ou grau de instrução. Ou o homem começou do nada e procura um lugar para onde se dirigir, ou partiu de algum ponto, e perdeu seu rumo. Em nenhum destes casos, está realmente na busca. Nenhum de nós jamais encontrará a "satisfação plena" enquanto não descobrirmos que nossas raízes encontram-se na eternidade.
Um famoso cientista de uma Universidade oriental pediu-me para vê-lo certa vez. Um pouco surpreso, encontrei-me com ele numa sala tranqüila do centro estudantil. E de repente, aquele homem inteligente, admirado por muitos, respeitado como um dos principais de seu campo científico, descontrolou-se e rompeu em choro. Quando conseguiu se acalmar, confessou:
"Estou a ponto de acabar com a vida... Meu lar está destruído; eu sou alcoólatra, embora ninguém o saiba; meus filhos não me respeitam; nunca tive um princípio orientador em minha vida, a não ser a idéia de tornar-me reconhecido no campo da física. Cheguei à conclusão de que realmente não conheço os verdadeiros valores da vida. Já o vi pela televisão, e embora não compreenda tudo que o senhor procura ensinar, estou certo de que sabe qual é o verdadeiro propósito da vida."
A esta altura ele hesitou antes de prosseguir, e estou certo de que o que aquele homem famoso, que venceu sozinho, disse, foi-lhe muito penoso. Ele falou: "Vim procurá-lo para pedir-lhe ajuda." Era um grito de desespero.
Em todas as culturas, em todos os países – desde os analfabetos até os ganhadores de Prêmio Nobel – ocorre esse fenômeno secular, o mistério do antropos ("aquele que olha para o alto"), aquele que busca, que procura o propósito mais profundo, e muitas vezes oculto, da vida.
Nos aeroportos, aviões, em saguões de hotéis, de todo o mundo, pessoas têm me abordado com problemas sérios, acerca de famílias desfeitas, enfermidades, ou desastres financeiros. Mas muitas vezes, elas revelam almas vazias. Viajando de avião certa vez, um homem abriu-me o coração e contou-me sua história. Era uma longa saga de sonhos desfeitos, esperanças frustradas, e vazio interior. Antes de nos separar-nos ele disse "Sim" a Cristo. E uma expressão de imenso alívio espelhou-se em seu resto, quando sussurrou-me: "Obrigado!"
Ao desembarcarmos, vi-o abraçar a esposa e conversar animadamente com ela. Não sei qual era o teor de sua palestra, mas pelas suas feições, calculei que estava a falar-lhe de seu novo relacionamento com o Senhor. Posso imaginar como a mulher deve ter ficado surpresa com a transformação dele, pois ele me dissera que por causa de seu temperamento difícil e de suas infidelidades, seu casamento estava para ser desfeito.
Não ser se o casamento deles foi acertado, porque nunca mais o vi, mas a verdade é que a direção de sua vida mudou completamente durante aquela viagem de avião.

Fama e Fortuna

Unia de nossas mais conhecidas personalidades da TV convidou-me, após um programa seu no qual eu me apresentara, para ir ao seu camarim por uns instantes. Pediu-me que me aproximasse dele, e disse: "Eu faço as pessoas rirem... mas interiormente vivo num inferno. Já me casei duas vezes, e os dois casamentos foram desfeitos. A maior parte da culpa cabe a mim, acho, mas não creio que me arrisque a um terceiro casamento a não ser que encontre a realização pessoal que não sei como conquistar."
Fez uma pausa e fitou-me: "Você crê que aquilo que estou procurando realmente pode ser resumido na palavra Deus?"
Nem toda a fama e dinheiro que ganhara haviam satisfeito o anseio do seu coração.
Uma pessoa que iria ter grande influência na vida de Charles Colson – que esteve ligado ao "caso Watergate" foi Tom Phillips. Em seu livro Born Again (Nascido de Novo), Colson escreve que Tom Phillips lhe disse o seguinte: "Pode ser difícil de entender... mas eu não parecia ter nada de realmente importante. Tudo era superficial. Todas as coisas materiais da vida são totalmente sem sentido, se a pessoa não descobre o que há por trás delas...
"Certo dia, eu estava em Nova York a negócios e vim a saber que Billy Graham realizava uma cruzada no Madison Square Garden", continuou Tom. "Fui – por curiosidade, creio - esperando talvez aprender alguma corsa. E o que Billy Graham disse naquela noite, colocou todas as coisas em sua perspectiva correta para mim. Vi o que me faltava – um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, e compreendi que eu nunca o convidara para entrar em minha vida, e nem a dedicara a ele. Então, eu o fiz – naquela mesma noite, na Cruzada." Mais uma vez, uma pessoa era induzida a examinar sua alma.
"Certa vez, eu me encontrava em um país estrangeiro, e fui convidado a almoçar com um homem que, materialmente falando, possuía tudo o que o mundo pode oferecer. E aliás, ele me falou que poderia comprar qualquer coisa que desejasse. Ele viajara bastante a negócios, e tudo que tocava parecia transformar-se em ouro. Ele era proeminente em seu grupo social, e, entretanto, disse-me textualmente: "Sou um velho infeliz, fadado a morrer. E se existe mesmo um inferno, é para lá que me destino."
Contemplei, através de belíssimas janelas, a neve que caía lá fora, mansamente, sobre o gramado bem cuidado. Pensei em muitos outros que haviam expressado idéias semelhantes acerca do vazio de uma vida sem Deus – a ausência de um objetivo para a vida em um homem que tinha tudo, mas nada por que viver. Minha atenção voltou-se para ele com um sobressalto, ao ouvi-lo dizer: "Pedi-lhe que viesse aqui hoje para ler a Bíblia para mim, e falar-me acerca de Deus. Será que já é tarde demais? Meu pai e minha mãe eram crentes em Deus e muitas vezes oravam por mim."
Passou-me pela mente o verso de Mateus 4.4: "Não só de pão viverá o homem." E o texto de Lucas 12.15 diz: "Porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui."
Todos os dias estamos ouvindo falar de pessoas ricas, famosas e talentosas que estão desiludidas. Multas delas estão recorrendo ao ocultismo ou à meditação transcendental, ou às religiões orientais. Outras se voltam para o crime. Mas as perguntas que elas pensaram que iriam ser respondidas continuam ressoando: O que é o homem? De onde veio ele? Qual é o propósito de sua presença neste planeta? Para onde vai ele? Existe um Deus que nos ama? E se existe um Deus, revelou-se ele ao homem?

Os Intelectuais Estão Procurando?

Os homens e mulheres que são considerados parte da elite intelectual, estão à procura do mesmo sentido para a vida, do mesmo senso de realização, mas muitos deles são detidos nessa busca pelo orgulho pessoal. Eles gostariam de salvar-se a si mesmos, pois o orgulho alimenta a auto-estima, levando-nos a crer que podemos passar sem Deus.
O famoso escritor e filósofo inglês, Bertrand Russell, produziu, com abundância, obras acerca da ética, moral e da sociedade humana, tentando provar o que ele acreditava serem os erros da Bíblia. A respeito desse orgulho intelectual, Russell escreveu o seguinte: "Todos os homens gostariam de ser Deus, se lhes fosse possível; e alguns têm dificuldade em reconhecer esta impossibilidade."
Desde o começo dos tempos, o homem tem dito como Lúcifer: "Serei semelhante ao Altíssimo" (Isa. 14:14).
E a busca continua. O coração precisa ser satisfeito, e a maioria dos intelectuais chega a um ponto de sua existência quando a vida acadêmica, a comunidade científica, as atividades políticas ou econômicas não satisfazem mais.
Um excelente crítico do cenário cultural escreveu: "O homem, apesar de ser humano, procura sempre e sempre escapar à lógica de sua própria realidade, e deseja encontrar seu verdadeiro eu, seu humanismo, sua liberdade, mesmo que somente possa fazê-lo através de uma total irracionalidade ou de um misticismo completamente infundado."
Estamos presenciando as conseqüências de o homem buscar seu verdadeiro eu em experiências místicas e novos cultos, e naquilo que denominam "nova consciência". "O homem hoje deseja experimentar a Deus. Nem fé, nem conhecimento são a palavra-chave, mas experiência."
E à medida que se intensifica este anseio pela experiência, as falsas filosofias e os falsos deuses se tornam aceitáveis. Um intelectual europeu afirmou:
"Há séculos que empreendemos a busca daquele ideal que os gregos denominaram ataraxia, a idéia de uma calma tranqüila, de profunda satisfação interior, que transcende as inquietações, frustrações e tensões do viver diário. Muitos a procuraram através da filosofia e religião, mas sempre tem havido uma busca paralela de atalhos."
Certo escritor americano afirma: "À medida que aumenta de intensidade a busca do homem por novas experiências, novos líderes, novas esperanças, existe também aquele anseio contínuo de encontrar-se outra alternativa para um futuro que parece ser tão negro."
Os homens estão desesperadamente desejosos de paz, mas a paz de Deus não é a ausência de tensões e tumultos, mas, sim, uma paz, que, mesmo em meio a tensões e tumultos, continua a existir.
Em Calcutá, na Índia, desejei visitar uma grande serva de Deus que é conhecida no mundo como Mãe Teresa. Eu chegara bem cedo, e as irmãs não queriam perturbar Mãe Teresa, pois três pessoas haviam morrido em seus braços naquele dia, e ela acabara de recolher-se a seu quarto para descansar um pouco. No entanto, o oficial que me levara até lá enviou um recado a ela, e daí a alguns instantes ela apareceu. Imediatamente, aquela santa mulher deu-me a impressão de uma pessoa que goza de paz interior em meio à tormenta. É a paz que ultrapassa todo entendimento, e todos os desentendimentos também.
Como precisamos deste tipo de paz, nesta geração que está senda despedaçada por inquietude interior e desespero! Os jornais diários são exemplos clássicos de um quadro negativo. Terrorismo, bombardeios, suicídios, divórcios e um pessimismo geral são as doenças do dia atual, pois o homem, em seu orgulho, recusa-se a voltar-se para Deus.
Entretanto, o intelectual sincero, aquele que cultiva uma mente aberta juntamente com a busca do coração, faz uma descoberta maravilhosa. Diz o Dr. Rookmaaker:
"Não podemos entender a Deus perfeitamente, nem conhecer sua obra completamente. Mas ele não nos pede que o aceitemos com uma fé cega. Pelo contrário, ele nos pede que olhemos ao redor, e reconheçamos que as coisas que ele nos ensina através de seu Filho, seus profetas, e seus apóstolos são verdadeiras, são reais e são relativas a este mundo, o cosmo que ele criou.
Portanto, nossa fé nunca pode ser considerada como irracional, nem como algo pré-fabricado. A fé não significa o holocausto do intelecto para quem cré na versão bíblica da História."

Quem Precisa de Socorro?

Na epidemia de filmes sobre catástrofes que grassou nos meados dessa década de 70, houve um que se chamou Terremoto. Quando o devastador tremor de terra ocorre, duas das personagens principais do filme procuram abrigo sob um carro forte, para esconderem-se dos destroços que caíam, e do terror da natureza desenfreada. Naquele momento, eles não pararam para raciocinar sobre o que estava acontecendo, e nem procuraram analisar o que iriam fazer; só sabiam que precisavam de socorro, e correram a abrigar-se.
A pessoa que se encontra nas mais precárias circunstâncias da vida deseja socorro imediato. Ela não precisa analisar o socorro, nem examinar a forma sob a qual ele lhe chega; ela só sabe que precisa ser salva.
Quando nos referimos ao desastre de nossos terremotos interiores, alguns intelectuais desejam saber qual é a fonte de auxílio e conhecer todos os detalhes que se relacionam com esta fonte. O intelectual tem um cerro conjunto de crenças auto-suficientes, e acredita que seu sistema está completo. Outros intelectuais aceitam cegamente as falsificações que lhes são apresentadas em linguagem e linha de pensamento tão complexas, que quem quiser negar suas premissas correrá o risco de parecer ignorante. Para algumas pessoas é muito difícil dizer: "Isto não faz muito sentido; eu não entendo o que quer dizer."
Contudo, vários intelectuais abriram o coração e a mente para a verdade das boas-novas, e encontraram uma nova vida.
Uma jovem hindu que fazia um curso de pós-graduação em medicina nuclear na Universidade de Los Angeles, iniciava seu segundo ano de estudos, quando assistiu a uma de nossas cruzadas. Ao término do culto, ela aceitou Jesus como seu Salvador, e nasceu de novo.
Um brilhante cirurgião que assistiu a uma cruzada ouviu-me afirmar que, se para chegar aos céus cada pessoa dependesse de boas obras, eu não tinha esperanças de chegar lá. Ele dedicara sua vida a socorrer a humanidade, mas naquele momento compreendeu que seus estudos e todos aqueles anos de dedicação e esforço, suas noites de vigília com os pacientes, e seu amor pela profissão não lhe conquistariam um lugar junto a Deus. E esse homem, que vira muitos nascimentos nessa vida, aprendeu o que significava nascer de novo.
Muitas pessoas pensam que Cristo só conversava com pessoas desclassificadas ou com crianças. Mas um de seus grandes encontros, durante seu ministério, foi com um intelectual. Esse homem, cujo nome era Nicodemos, tinha uma ideologia e filosofia teológica muito rígida, e que aliás era excelente, pois tinha Deus como centro. Entretanto, esse intelectual estruturara seu sistema religioso-filosófico sem o nova nascimento, que somente é encontrado em Jesus Cristo.
E o que foi que Jesus, um carpinteiro de Nazaré, disse àquele homem culto? Ele disse mais ou menos o seguinte: Sinto muito, Nicodemos, mas não posso explicar-lhe isso. Você está diante de um fato que o perturba, porque não se ajusta ao sen sistema. Você reconhece que não sou um homem comum, e que eu opero no poder de Deus. Isto não faz muito sentido para você, mas não posso explicar-lhe, porque suas suposições não me concedem um ponto de partida. Nicodemos, para você isto é ilógico. Não há nada em suas idéias que o aceite. Mas você não terá visão espiritual, enquanto não nascer espiritualmente. Você terá que nascer de novo."
Nicodemos estava confuso. "E como é que um homem que já está envelhecendo pode nascer de novo?" indagou ele. "Como pode ele retornar ao ventre de sua mãe e nascer pela segunda vez?"
Os intelectuais perguntam: "Como é que um homem pode nascer duas veles? "
Quem quiser encontrar respostas para suas indagações tem que se dispor a rejeitar muita coisa de seu antigo sistema de pensamento e mergulhar no novo. Então enxergará a possibilidade de algo que pensou ser impossível.
"É por isso que somente esta fé singularmente 'impossível' – em um Deus que existe, em uma encarnação que é terrena e é histórica, em uma salvação que vai de encontro à natureza humana, em uma ressurreição que aniquila o caráter decisivo da morte – é capaz de oferecer uma alternativa para o vacilante pó da terra, e, através de um novo nascimento, abrir-lhe caminho para uma nova vida."
Nas montanhas próximas ao lugar onde moramos, certa vez, um pequeno avião se perdeu com quatro pessoas a bordo. Mais ou menos por essa mesma época, uma jovem de quinze anos perdeu-se na mesma área. Foi uma ocasião de muita tristeza para nossa comunidade, pois as quatro pessoas morreram e a jovem nunca foi encontrada.
Certo dia, quando minha esposa comentava com um senhor que trabalha para nós acerca dos trágicos acontecimentos que sucederam àquelas pessoas, ele contou-lhe um fato de sua própria experiência. Ele nascera e se criara nessas montanhas, disse-lhe, e pensou que nunca iria perder-se nelas. Quando criança, aquela região fora área de lazer, e depois de adulto, era ali que ele caçava. Em certa ocasião, porém, ele ficou a vaguear pelo mato, subindo penhascos, terrivelmente confuso. Ele ia de um lado para outro, até que, de repente, para seu alívio, chegou a um barraco onde morava um velho. E ele disse a Ruth que nunca esqueceria o conselho que o homem lhe deu: "Quando você se perder nestas montanhas, nunca desça – procure sempre subir. Do alto do morro, você avista o lugar e fica sabendo onde está, e pode orientar-se de novo."
É possível que venhamos a perder-nos nas montanhas da vida. Temos duas escolhas: ou podemos descer e nos deixar dominar por drogas, depressões, vazio e confusão de mente, ou podemos continuar a subir. A direção que seguirmos determinará se encontraremos a nós mesmos ou não.
Nessa época de indagações e buscas, a mais importante delas é a nossa busca de um conhecimento acerca da vida, e acerca de Deus. Esta busca nos lançará na única direção certa, no único caminho certo, e então estaremos encetando aquela jornada, quando nascemos de novo.





ALGUÉM PODE DIZER-ME ONDE ENCONTRO DEUS?

Um bêbado estava procurando alguma coisa na rua certa noite, debaixo de um poste de luz. Andava de um lado para outro, tateando a calçada de concreto, vez por outra agarrando-se ao poste para equilibrar-se. Um passante indagou-lhe o que procurava. "Perdi minha carteira", respondeu o bêbado. O outro ofereceu-se para ajudá-lo, mas sem sucesso.
"Tem certeza de que a perdeu aqui?" perguntou ele ao bêbado.
"É claro que não", respondeu. "Foi lá atrás; no meio da quadra."
"Então, porque não está procurando lá?"
"Porque", respondeu o outro, com uma lógica contundente, "lá está escuro."
Procurar é importante, mas não adianta nada, se não procurarmos no lugar certo.
O governador de certo Estado recebeu-nos em sua casa, e, após o jantar, pediu para falar comigo em particular. Fomos para o seu escritório, e ali percebi que ele estava lutando contra a emoção. Por fim, ele disse: "Estou chegando ao fim de minha resistência. Preciso de Deus. Pode dizer-me como encontrá-lo?"
Um jovem militar, endurecido pelo rigoroso treinamento do grupo "Boinas Verdes", e que era tão forte que suas mãos haviam sido postas no seguro, por serem consideradas armas mortais, caiu ao chão de seu quarto, certa noite, chorando como uma criancinha, e dizendo: "Deus! Deus! Onde estás?"
Desde um barraco de favela até a mais rica mansão; de uma autoridade municipal até um prisioneiro aguardando a morte, todos os homens indagam se existe Deus. E se existe, como é ele?
Um fato digno de nota para todos os que buscam a Deus é que a crença em algum deus é praticamente universal. Qualquer que seja o período da História que estudarmos, qualquer que seja a cultura que examinarmos, se analisarmos o passado histórico da humanidade, veremos que todos os povos, primitivos ou modernos, reconhecem a existência de algum tipo de deidade. Nos últimos dois séculos, as escavações arqueológicas têm revelado as ruínas de muitas civilizações antigas, mas nenhuma delas encontrou ainda uma cultura que não desse alguma evidência de adoração a um deus. O homem adorou o sol, e fez, para si imagens. O homem adora um código de leis, adora animais, e até outros homens. Alguns parecem adorar a si mesmos. O homem faz deuses criados por sua imaginação, embora ele creia que Deus exista – uma crença meio confusa e indistinta.
Algumas pessoas, frustradas, desistem desta busca de Deus e passam a considerar-se "ateus" ou "agnósticos", professando não ter religião. Mas eles têm necessidade de preencher aquele vácuo que existe em seu interior com algum outro tipo de deidade. E portanto, o homem cria seu próprio deus – dinheiro, trabalho, sucesso, fama, sexo, álcool, ou até comidas.
Na atualidade muitos fazem de sua pátria seu objeto de adoração, esposando o evangelho do nacionalismo. Erroneamente, tentam substituir o Deus vivo e verdadeiro pela religião do nacionalismo. Outros transformam em deus a causa que defendem. Embora muitos grupos radicais neguem fé em Deus, milhares de seus seguidores, de bom grado, entregam sua vida e sofrem privações e pobreza por sua crença na "causa" ou na "revolução".
Não conseguindo encontrar o verdadeiro Deus, milhões de pessoas consagram sua lealdade a uma causa menor ou a um deus menor. Contudo, tais pessoas não encontram nem satisfação nem respostas para suas indagações supremas. Assim como Adão foi criado para manter comunhão com Deus, assim o são todos os homens. Jesus fez o seguinte comentário acerca do primeiro mandamento: "Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento, e de toda tua força." (Mar. 12:30)
Ele deu a entender que o homem, diferentemente de um mineral ou de um animal irracional, tem a capacidade de amar a Deus.

Uma Dupla Busca

Como já vimos, uma pessoa sábia busca a Deus, mas ela não tem a capacidade intelectual necessária para encontrar, através de raciocínios, seu caminho para Deus. Então ela deve fazer uma pergunta séria: "Será que há alguma esperança de eu ser bem sucedida nesta busca? Será que realmente posso conhecer a Deus?"
Certa vez, quando eu estava sendo entrevistado por Ludovic Kennedy, da BBC de Londres, ele indagou: "Quem criou a Deus?" A resposta foi simples: "Ninguém." Deus tem existência própria.
"No princípio, Deus" são as palavras que formam a pedra fundamental de toda a nossa existência. Sem Deus, não existiria começo nem continuação. Deus foi a energia criadora, e a força coesiva que tirou o universo do nada. Com o divino haja, ele criou a forma, do nada; da desordem, criou a ordem e das trevas, criou a luz.
Os cientistas não conseguem ver a Deus em um tubo de ensaio, nem num telescópio. Deus é Deus, e a mente do homem é por demais pequena.
Blaise Pascal, o célebre físico francês do século XVII, disse certa vez: "Se acrescentarmos uma unidade ao infinito, ela não lhe acrescenta nada, do mesmo modo que ele não cresceria se lhe acrescentássemos a medida de um pé. O finito é engolfado pelo infinito, e se torna zero absoluto. Assim é nossa mente diante de Deus."
O fato de não compreendermos a Deus completamente não deveria espantar-nos. Afinal, vivemos cercados de mistérios que não conseguimos entender – e mistérios muito mais simples. Quem saberia explicar por que todos os objetos são sempre atraídos para o centro da terra? Newton descobriu a lei da gravidade, mas ele não sabia explicá-la. Quem pode explicar o mistério da reprodução? Há anos que os cientistas tentam reproduzir uma célula viva e desvendar o mistério da procriação. Eles crêem que estão-se aproximando do segredo, mas ainda não obtiveram a vitória.
Já nos acostumamos a aceitar muitos mistérios que não sabemos explicar. Fico admirado ao ver minha esposa misturar fubá de milho, com óleo, ovos, fermento e leite, e depois ver aquela massa espessa crescer lentamente dentro do formo, e depois ser retirada de lá leve e macia, com uma crosta corada. Não entendo isso, mas aceito os resultados.
Deus é muito mais complexo do que alguns dos fenômenos terrenos que não compreendemos.
E, apesar de tudo, poderíamos apresentar, perante um júri cético, muitos argumentos em favor da tese da existência de Deus. No plano científico, sabemos que qualquer objeto em movimento é movido por uma força externa, já que o movimento é resultado de matéria mais energia. Entretanto, no mundo da matéria não pode existir energia sem vida, e vida pressupõe a existência de um ser que produz a energia que move coisas tais como as ondas do mar e os planetas.
Outro argumento é que nada pode ser a sua própria causa. Se alguma coisa causasse a própria existência ela seria anterior a si mesma, e isto é absurdo.
Consideremos a lei da vida. Vemos objetos que não possuem intelecto, assim como estrelas e planetas, que se movem seguindo sempre um plano definido, em perfeita harmonia uns com os outros. É evidente que sua movimentação não é produto do acaso, mas de um cuidadoso planejamento.
Aquilo que não possui inteligência não pode mover-se inteligentemente. O que dá direção e planejamento a esses objetos inanimados? É Deus. Ele é a força motivadora da vida, que está por trás de tudo.
Existem muitas evidências e argumentações que atestam a existência de Deus, mas a verdade é que ela não é provada apenas com argumentos. Se a mente humana pudesse provar a Deus plenamente, ele não seria maior que a mente que o prova.
A suprema aproximação do homem para Deus é pela fé. A fé é o elo que nos liga a ele. As Escrituras dizem que temos que crer que ele existe. O termo "fé" aparece inúmeras vezes na Bíblia, e Deus toma a si o incentivo desta fé. Deus continua a buscar o homem, assim como o homem está buscando por ele.
A despeito das repetidas rebeliões do homem, Deus o ama com amor eterno. Alguns pais terrenos desistem de seus filhos quando estes se entregam a hábitos desprezíveis e a companhias indesejáveis. Há pais que expulsam um filho ou filha de casa, e lhe dizem para nunca mais voltar. Por outro lado, há pais que negam os filhos antes mesmo de nascerem. Conhecemos jovens – e até adultos – cuja vida está marcada por causa dessa rejeição paterna. O único modo de essas pessoas serem restauradas é aceitar o fato, e pedir ao Senhor para preencher essa lacuna de sua vida. A Bíblia diz: "Porque se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá." (Sal. 27:10.)
Deus nunca abandona o homem. A mais dramática busca de todos os séculos é a procura terna e paciente de Deus pelo homem.
Quando o homem, no jardim do Éden, resolveu desobedecer a Lei de Deus, e interrompeu a linha de comunicação entre ele e o Senhor, a comunhão entre eles deixou de existir. A luz e as trevas não podiam coexistir lado a lado. Por que foi que surgiu esta barreira entre Deus e sua criatura? O que causou isto foi uma característica divina que a média das pessoas não compreende. Deus é "santidade" absoluta.
No passado Deus disse a Israel: "Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo" (Lev. 19:2).
No livro de Apocalipse, o clamor que ressoa nos céus dia e noite é o seguinte: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, que é e que há de vir." (Ap. 4:8.)
Um Deus santo retrai-se à nossa pecaminosidade; ele não pode contemplar o pecado, pois este é terrível e revoltante para ele. E como o homem se manchou com o pecado, Deus não pôde mais manter comunhão com ele. Entretanto, Deus nos ama – apesar de tudo.
Deus tinha um plano para restaurar o homem, apesar do seu pecado. E se Deus não tivesse um plano, ninguém mais poderia ter. Logo no início, ele disse a Adão: "Certamente morrerás" (Gên. 2:17). Num dos capítulos posteriores, iremos discutir as três dimensões da morte. O homem teria que morrer, ou Deus teria que voltar atrás em sua palavra, e ele não pode mentir, pois nesse caso não seria mais Deus.
Vemos que, como o homem ainda peca, ainda desafia a autoridade e ainda age independentemente de Deus, existe uma grande separação entre ele e o Senhor. Os homens e mulheres do século XX não são diferentes de Adão e Eva. É verdade que atingimos uma tecnologia sofisticada, construímos alguns arranha-céus, e escrevemos milhões de livros, mas ainda permanece um abismo entre o homem pecaminoso e o Deus santo. Contudo, Deus apela e suplica ao homem, através deste abismo escuro e estéril, a que se reconcilie com ele.
Deus nos ama. O apóstolo João disse: "Deus é amor" (1 João 4:8).
O profeta Jeremias repete as palavras divinas: "Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí." (Jer. 31:3.) Outro profeta, Malaquias, disse: "Eu vos tenho amado, diz o Senhor" (Mal. 1:2).
Todos os romances e peças teatrais precisam apresentar um tipo de conflito. Mas nem mesmo Shakespeare poderia ter criado uma trama mais forte que a do dilema divino. Sabemos que o homem é pecador e está separado de Deus. E como Deus é santo, ele não pode perdoar nem ignorar automaticamente a rebelião do homem. Mas como Deus é amor, ele não pode atirá-lo para um lado, tampouco. Aí está o conflito. Como pode Deus ser justo e justificador? A pergunta que Jó propôs a Deus foi: "Como pode o homem ser justo para com Deus?" (9:2.)

Deus Fala

Quando eu era garoto o rádio estava começando a aparecer. Lembro-me de que nos reuníamos em torno de um tosco aparelho, de fabricação caseira, e girávamos os três botões de sintonia, num esforço de estabelecer contato com a estação transmissora. Muitas vezes, o único som que partia do amplificador eram os estalidos e chiados da estática. Não era muito agradável escutar todos aqueles ruídos confusos, mas continuávamos a tentar, com muita expectativa. Sabíamos que, em algum lugar, havia uma estação transmissora, que não víamos, mas se conseguíssemos estabelecer contato com ela, se o dial fosse ajustado adequadamente, poderíamos ouvir uma voz falando em alto e bom som. Após um longo tempo de esforços laboriosos, o som distante de uma música ou uma voz, repentinamente, se fazia ouvir, e um sorriso de triunfo iluminava o rosto de cada uma das pessoas no aposento. Por fim conseguíramos sintonizar com a estação.
Talvez você esteja surpreso de os profetas haverem dito que Deus lhes falava. Ele fala conosco? Ele nos diz onde está – como podemos encontrá-lo – e como podemos acertar as coisas com ele? Na segunda parte deste livro estudaremos como Deus respondeu a estas perguntas, e veremos que tipo de pessoa era Jesus Cristo e a obra que realizou. Deus resolveu o problema; ele nos falou de si mesmo e de seu terno interesse por nós. O segredo de tudo é uma linha de comunicação que se chama "revelação". Revelar significa "tornar conhecido, desvendar". Mas uma revelação pressupõe um elemento "revelador", que neste caso é Deus. Também pressupõe "ouvintes" – os profetas e apóstolos escolhidos por Deus, e que registraram na Bíblia aquilo que ele lhes falou. A revelação é uma linha de comunicação na qual Deus se encontra em uma das pontas e o homem na outra.
Na revelação que Deus estabeleceu entre ele e o homem, encontramos uma nova dimensão de vida, mas temos que "sintonizar". Existem níveis de vida que nunca atingimos e que nos aguardam. Paz, satisfação e gozo que nunca experimentamos estão à nossa disposição. Deus está tentando chegar até nós. Os céus estão chamando e Deus está-nos falando.
Você já ouviu a voz de Deus? Na mesma hora em que você está buscando a Deus, ele está-lhe falando.


DEUS REALMENTE FALA CONOSCO?

Deus tem nos falado desde o início. Adão ouviu a voz do Senhor no jardim do Éden. Deus também falou a Eva, e ela sabia quem estava falando, e deve ter tremido pois reconheceu que o desobedecera.
Duas pessoas – um homem e uma mulher – resolveram desobedecer a Deus e mergulharem num mundo onde a espiritualidade era negra e morta – um mundo fisicamente improdutivo, a não ser à custa de muito esforço e sofrimento.
O mundo estava sob a condenação divina. A Bíblia ensina que o homem se encontra num período de trevas espirituais. "O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos." (2 Co. 4:4.) Isaías, o grande profeta hebreu, disse: "Apalpamos as paredes como cegos, sim, como os que não têm olhos andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como nas trevas, e entre os robustos somos como mortos." (Is. 59:10.)
Ele estava fazendo uma descrição vívida da cegueira espiritual, que, na realidade, é a escuridão espiritual. Encontrar-se em meio às trevas é uma experiência terrível.
Quando estive na Inglaterra, logo após a segunda grande guerra, certo dia o nevoeiro era tão denso que um de nós tinha que caminhar na frente do carro para evitar que batesse na guia da calçada. Foi uma experiência que nunca tínhamos vivido antes, uma espécie de black-out ligeiramente aterrador.
Infinitamente pior será cair em trevas espirituais eternas. Existem pessoas cegas que "enxergam" melhor que outras que possuem ótima visão.
Conhecemos uma belíssima jovem coreana, que tem uma voz maravilhosa, que já foi descrita como "elétrica" e que também toca piano de forma esplendorosa. Essa jovem, Kim, é cega, mas "enxerga" melhor que muita gente com visão total, e não considera sua cegueira como deficiência, mas, sim, como um dom de Deus. Descobri que ela possui uma grande acuidade mental, psicológica e espiritual, absolutamente admirável.
O homem também é espiritualmente surdo. Outro grande profeta disse que o povo "tem ouvidos para ouvir, mas não ouve" (Ez. 12:22). Jesus disse o mesmo, ainda com maior ênfase: "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos." (Lc. 16:31.)
A diferença entre a surdez física e a espiritual é multo bem ilustrada em nossas campanhas. Sempre temos uma seção do auditório reservada para os surdos-mudos, e muitas vezes passo ali para apertar a mão daquelas pessoas. Em certa cruzada, cerca de doze surdos vieram ver-me em meu gabinete, e conversei com eles através de um intérprete. A luz de Cristo brilhava claramente na fisionomia de alguns deles.
O mundo dos surdos é muito difícil de ser entendido por aqueles que desfrutam de uma boa audição. Mas, todos os dias caminhamos num mundo de pessoas surdas espiritualmente.
Espiritualmente falando, muitos homens estão mais que surdos e cegos – estão mortos. "Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados." (Ef. 2:1.) Para os que estão mortos espiritualmente não existe possibilidade de comunhão com Deus. Milhões de pessoas anseiam por um mundo de felicidade, luz, harmonia e paz, mas, em vez disso, acham-se envolvidas por um mundo de pessimismo, trevas, discórdias e tumultos. Elas procuram a felicidade, mas esta parece fugir delas, assim como um raio de sol ou um facho de luz ilude a criancinha que tenta agarrá-lo.
Muitos desistem e entregam-se ao pessimismo. Muitas vezes esta atitude de desespero os conduz a um círculo de festas ou bares, onde tentam apagar a realidade de seu mundo, com a irrealidade do álcool. Às vezes, tais pessoas são levadas às drogas ou a dedicar-se desesperadamente a um passatempo ou esporte. Todos estes são sintomas da grande enfermidade que é o escapismo, e são causados por uma infecção terrível chamada pecado.
Muitas pessoas gostariam de poder dissecar a Deus em seus microscópios. Estabelecem seu próprio método de análise e depois não chegam a nenhuma conclusão. Deus continua sendo, para elas, o grande silêncio cósmico, desconhecido e invisível. E, no entanto, ele se comunica com aqueles que se mostram dispostos a umedecê-lo. Ele penetra no silêncio escuro com revelações francas e vivificantes, através da natureza, da consciência humana, das Escrituras e da pessoa de Jesus Cristo.

Deus Fala Pela Natureza

Eu assisti ao nascimento de meu filho mais novo. Também meus três genros e meu filho mais velho assistiram ao nascimento de seus filhos. Todos sentimos que havíamos presenciado um milagre. Como disse um dos médicos: "Quem pode negar a existência de Deus, depois de assistir a um parto?"
Em sua linguagem peculiar, a natureza nos fala da existência de Deus, seja no choro de uma criancinha, ou no canto de uma cotovia. É a linguagem da ordem, da beleza, da perfeição e da inteligência. A complexidade de detalhes de uma flor é obra das mãos de Deus; os instintos das aves foram designados por ele. Deus fala ao homem pela regularidade das estações do ano; pelos movimentos do sol, da lua e das estrelas; pelo equilíbrio dos elementos que nos permite respirar. "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite." (Sl. 19:1,2.)
As próprias dimensões do universo sempre se constituíram num ponto incompreensível para o homem, mas, com as explorações do século XX que lançaram o homem no espaço, nossa mente ficou ainda mais intimidada. Os cientistas que não crêem em Deus devem estar completamente confusos ao constatarem como o homem é pequeno nesta terra – que é parte de um grupo de galáxias estimadas em 100 bilhões, cada uma delas com 100 bilhões de estrelas e planetas.
Juntamente com a exploração do universo, esta geração está examinando também o outro lado da escala. O microscópio eletrônico e as pesquisas bioquímicas capacitaram os pesquisadores a estudar células que são ampliadas até 200.000 vezes o seu tamanho natural. Existem tantas moléculas em uma gota de água que se elas fossem transformadas em grãos de areia, seriam em quantidade suficiente para pavimentar uma estrada de Los Angeles a Nova York.
O apóstolo Paulo disse: "Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas." (Rm. 1:20.) Deus disse que poderíamos aprender muita coisa a respeito dele simplesmente pela observação da natureza. E como ele se revela através do universo que criou, os homens não têm desculpas para não crerem nele. É por esta razão que o salmista afirma: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus" (Sl. 14:1).
Deus nos fala através da natureza, mas não podemos conhecê-lo simplesmente sentando-nos debaixo de uma árvore e contemplando o céu. Ele tem outro meio de revelar-se a nós, que, por vezes, é denominado "um cicio tranqüilo e suave".

Deus Fala Pela Nossa Consciência

O que é a consciência? Um dicionário define-a assim: "É o senso de certo e errado; idéias e sentimentos que dizem a uma pessoa quando está agindo certo, e a advertem acerca do que é errado."
"Faça aquilo que a consciência lhe ditar", por vezes é um conselho sábio, mas nem sempre. Deus se revela em nossa consciência. Por vezes, ela nos ensina com mansidão, inclinando-nos para a direção certa, como um introdutor, num teatro às escuras, nos conduz para nossa poltrona. Outras vezes, a consciência é nosso pior inimigo, torturando-nos dia e noite, com uma inquietação agonizante.
Paulo descreve a operação da consciência nos seguintes termos: "Quando, pois, os gentios que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei, gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se." (Rm 2:14,15.)
"A consciência humana é como o farol do Senhor, revelando todas as suas intenções secretas." (Pv. 20:27 - Salmos e Provérbios Vivos.)
Quando compreendemos que Deus pega uma possante lanterna e ilumina com ela os recessos escuros de nossa mente, examinando não apenas nossas ações, mas também os intentos que geram tais ações, vemos claramente que ele realmente nos fala através da consciência.
Até mesmo as pessoas que não são crentes percebem a existência de uma força orientadora em seu interior. Thomas Jefferson escreveu o seguinte, há quase duzentos anos: "O senso moral ou consciência é uma parte tão real do homem como um braço ou uma perna. Ela é dada a todos os seres humanos, em graus mais fracos ou mais fortes, assim como seus membros são mais fracos ou mais fortes."
Algumas pessoas, mesmo não tendo Deus, possuem um senso de consciência mais forte do que outras. Mas aquele que tem uma consciência morta ou cauterizada, é como um avião sem piloto, ou um barco sem leme, e navega em rota de colisão com as circunstâncias. Por causa do pecado, a consciência pode tornar-se entorpecida e até morrer.

Deus Fala Pelas Escrituras

A Bíblia é o livro de texto da revelação. Na grande escola de Deus, contamos com três livros de texto – um chama-se natureza, outro consciência, e o outro, as Escrituras. As leis de Deus, reveladas na natureza, nunca mudam. No livro de texto da revelação, o que está escrito – a Bíblia – Deus nos fala com palavras. A Bíblia é o único livro que revela o Criador à sua criatura. Nenhum outro livro, produzido pelo homem, pode fazer tal declaração, e apoiá-la com fatos.
A Bíblia é singular em suas afirmações e ensinos, e na maneira como tem sido preservada através dos séculos. Hoje em dia, muitas pessoas estão examinando livros que dizem contar as soluções para as grandes indagações da vida e da morte; muitos desses livros são produto das religiões orientais ou da filosofia humanista.
Em seu livro Evidence that Demands a Verdict (Evidências que exigem um veredito), Josh McDowell cita um antigo professor de sânscrito que passou quarenta e dois anos estudando a literatura oriental, e disse, comparando-a com a Bíblia: "Coloque-os, se desejar, no lado esquerdo de sua escrivaninha; mas coloque a Bíblia Sagrada à direita, sozinha, somente ela – e com uma boa separação entre os dois. Pois... existe uma profunda diferença entre ela e os chamados livros sacros do Oriente, um abismo que a separa dos outros de forma cabal e inconciliável, para sempre... um verdadeiro vácuo que não pode ser ligado por nenhuma ciência de pensamento religioso."
Os céticos atacam a Bíblia, mas depois recuam, perplexos. Os agnósticos zombam de seus ensinos, mas não conseguem formular uma refutação intelectual genuína. Os ateus negam sua validade, mas são obrigados a render-se, ao verificarem que ela é acurada historicamente, e provada pela arqueologia.
Peguei, certa vez, uma renomada revista noticiosa, e li uma declaração de certo chefe de Estado, a respeito das atuais tendências econômicas. Até aí nada de espantoso. Todos nós temos ouvido ou lido declarações feitas por homens e mulheres todos os dias. E quando as ouvimos de várias fontes, sentimo-nos inclinados a crer nelas, e passá-las a outras pessoas.
Se encontrarmos um livro que afirma em centenas de situações diversas, que, por exemplo, a rainha da Inglaterra disse certas coisas, acreditaremos que ela realmente fez tais declarações. Não há dúvida nenhuma.
Os escritores bíblicos falaram de muitos modos para indicar que fora Deus quem lhes dera as informações que possuíam. Somente no Velho Testamento, eles afirmam 3000 vezes que Deus falou alguma coisa. Apenas nos cinco primeiros livros da Bíblia encontramos várias frases assim:
"E chamou o Senhor Deus ao homem."
"E disse o Senhor Deus à mulher."
"E disse o Senhor a Noé."
"E Deus falou a Israel."
"Disse Deus."
"E falou o Senhor dizendo."
"E ordenou o Senhor."
"Ouvi a palavra do Senhor."
"Diz o Senhor."
Será que Deus falou a estes homens da forma como descreveram? Se não o fez, eles são os mais consumados mentirosos que o mundo já conheceu, ou então eram mentalmente perturbados. Mas será que um grande número de pessoas, residindo em regiões diversas, muitas das quais não se conheciam poderiam dizer mais de três mil mentiras com relação a um assunto apenas? E se eles se enganaram nesta questão, por que deveríamos acreditar em quaisquer das outras coisas que disseram? E se não acreditarmos que Deus falou a estes autores bíblicos, então não podemos crer que as profecias destes grandes homens se cumpriram – mas elas se cumpriram!
Se uma pessoa mente para nós uma ou duas vezes, começamos a desconfiar dela. Começamos a achar difícil, quando não impossível, crer em qualquer coisa que ela diz.
Jesus citava o Velho Testamento freqüentemente. Ele o conhecia bem, e nunca duvidou das Escrituras. Ele disse: "A Escritura não pode falhar." (Jo. 10:35.)
Os apóstolos também citavam textos do Velho Testamento muitas vezes. Paulo disse: "Toda Escritura é inspirada por Deus" (2 Tm 3:16). E o apóstolo Pedro declarou: "Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo." (2 Pe 1:21.)
Muitas pessoas passam a crer na Bíblia, por intermédio de uma fonte de segunda mão. Um conhecimento superficial, colhido de filmes épicos sobre a Bíblia, filmes de TV, coisas que se ouvem dizer, e cursos de religiões comparadas, fornecem-nos apenas uma visão humana das Escrituras. Hoje, no ginásio e nas faculdades, os jovens têm aulas sobre "A Bíblia como literatura". Muitas vezes, estes cursos têm a finalidade de solapar a fé dos jovens, a não ser nos casos em que o professor compreende a Bíblia e tem uma fé robusta em Deus.
Conheço jovens que estudaram assuntos tais como: "Os mitos e discrepâncias da Bíblia".
Informações de segunda mão não servem.
Um verso ou um relato bíblico pode falar a um coração de uma forma que outra pessoa nunca imaginaria. Foi uma fonte de primeira mão, numa livraria de segunda mão, que transformou a vida de toda uma família.
Minha esposa tem uma fraqueza por livros – principalmente livros antigos, velhos clássicos evangélicos, que já saíram de publicação. Algum tempo atrás, a livraria Foyles, de Londres, mantinha um grande departamento de livros religiosos de segunda mão. Certo dia, durante a cruzada que realizamos ali em 1954, ela estava examinando alguns livros na loja, quando um nervoso balconista apareceu, surgindo de trás de uma pilha de livros, e perguntou-lhe se ela era a Sra. Graham. Depois que ela respondeu que sim, começou a narrar-lhe uma história de confusões, desespero e frustração. Seu casamento estava indo mal, seu lar estava desajustado, e seus problemas econômicos estavam aumentando. Explicou que já lançara mão de todos os meios de ajuda que encontrara, e, como último recurso, tencionava assistir ao culto da campanha, naquela noite. Ruth disse-lhe que oraria por ele. E ela o fez. Isso foi em 1954.
Em 55, retornamos a Londres. E novamente minha esposa foi ao departamento de livros de segunda mão de Foyles. E dessa vez o mesmo balconista apareceu de trás das pilhas de livros, mas o rosto iluminado por um sorriso. Depois de expressar seu contentamento em vê-la de novo, ele contou-lhe que fora ao culto, naquela norte, no ano anterior, como dissera que faria. Ele encontrara o Salvador, e os problemas de sua vida haviam sido solucionados.
Depois, ele indagou de Ruth se ela estaria interessada em saber qual fora o versículo que tocara o coração dele. Ela estava. Ele desapareceu por uns instantes, e depois voltou com uma Bíblia bem gasta. Abriu-a no Salmo 102, que eu lera na noite em que ele fora à cruzada. Indicou o verso 6: "Sou como pelicano em o deserto, como a coruja das ruínas." Esta palavra descrevera para ele as condições de sua alma com tanta exatidão que, pela primeira vez, ele compreendeu bem como Deus o amava e o entendia. Em conseqüência disso, ele experimentou uma conversão genuína ao Senhor Jesus Cristo. E posteriormente toda a sua família foi salva também.
Em 1972, minha esposa esteve em Londres, participando de uma reunião em Harringay. Ao término da cerimônia, um cavalheiro aproximou-se dela, e não foi preciso que ele se apresentasse. Ela reconheceu aquele balconista da Foyles. Ele estava radiante de felicidade e apresentou-lhe sua família, todos crentes, e relatou-lhe que agora todos trabalhavam na obra do Senhor – tudo porque Deus lhe falara, quando ele era "uma coruja das ruínas".
Faça uso deste instrumento de comunicação pelo qual Deus nos fala – isto é, a Bíblia. Leia-a. Estude-a. Memorize-a. Ela modificará sua vida inteiramente. Ela não é um livro qualquer. É um livro "vivo", que opera em seu coração, mente e alma.


Falando em Lugares Escuros

Nos lugares onde existe fácil acesso à Bíblia, ela pode até ficar empoeirada numa prateleira. Entretanto nos países onde é considerada literatura subversiva, ela fala de maneiras as mais incomuns.
Um famoso violinista foi convidado alguns anos atrás, por Chou-En-Lai para lecionar em uma das mais proeminentes universidades da República Popular da China. Disseram-lhe que quando quisesse deixar o país poderia fazê-lo imediatamente. Sete anos depois, esse violinista achou-se completamente desiludido.
Quando se dirigiu ao departamento para obter um visto de saída, este lhe foi negado. Mas ele continuava indo ali todos os dias, e numa dessas vezes, alguém colocou um pedaço de papel em seu bolso. Chegando em casa, sentiu-o no bolso, tirou, e verificou tratar-se de uma página da Bíblia. Leu-a com muito interesse, e sentiu que ela lhe falava ao coração de maneira estranha. Numa das outras vezes que foi ao departamento, um homem aproximou-se dele, e indagou se ele desejaria outra página da Bíblia. Respondeu que sim.
E, a cada vez que ele voltava à repartição recebia outra folha da Bíblia: E ali, na República Popular da China, ele foi convertido a Cristo. Afinal, ele conseguiu o visto de saída, e foi para Hong-Kong. Atualmente, ele leciona em outro país.
Quando Corrie ten Boom se encontrava no campo de prisioneiros de Ravensbruck, foi o fato de ela estudar e ensinar a Palavra de Deus que conservou sua mente lúcida, de modo que, quando foi libertada, encontrava-se mentalmente saudável. Muitos daqueles presos, quando foram soltos, não passavam de pobres doentes, que requeriam cuidados especiais, até que recuperassem, em parte, as condições normais.
Uma experiência semelhante é contada por uma missionária que estivera presa na China, pelos japoneses. Em certo campo de concentração, a penalidade para quem possuísse sequer uma porção das Escrituras era a morte. Todavia, um pequeno Evangelho de João chegou-lhe às mãos, dentro de um casaco de frio. À noite, quando ia deitar-se, ela se cobria bem, e, com uma lanterninha, lia um verso das Escrituras, depois ia dormir, memorizando aquele verso. Desse modo, depois de algum tempo, ela decorara todo o Evangelho de João. Todas as vezes que ia ao lavatório, tirava uma página do livrinho, dissolvia-a em água e sabão, atirava-a no vaso e dava descarga. "E foi dessa maneira", explicou ela, "que me desfiz daquele livro de João."
Esta missionária foi entrevistada por um repórter do Time pouco antes de os prisioneiros serem libertados. E depois, quando todos já saíam, por acaso, esse repórter encontrava-se junto aos portões. Em sua maioria, eles iam andando aglomerados, olhos fixos no chão, quase como autômatos. Então surgiu a missionariazinha, tranqüila e feliz. Um dos jornalistas presentes indagou: "Será que conseguiram aplicar-lhe lavagem cerebral?"
O repórter do Time, ouvindo aquilo, observou: "Deus aplicou-lhe lavagem cerebral."
A Palavra de Deus, escondida no coração de qualquer pessoa é uma voz teimosa demais para ser abafada. Ruth teve outra experiência em Londres com ênfase no mesmo fato. Durante a campanha que realizamos em Earl's Court, em 1966, ela travou amizade com uma jovem hippie, de Cockney. Todas as noites quando ali chegávamos, a jovem estava esperando por Ruth. Era uma moça adorável, mas irreprimivelmente rebelde. Durante os primeiros dias da cruzada, muitas vezes, ela se assentou junto a Ruth, e algumas vezes ela apenas acompanhava minha esposa até seu lugar. E foi assim que nasceu uma amizade incomum, mas duradoura.
Ruth veio a saber que antes de sua conversão, a jovem fora viciada em drogas, e instruiu-a para que decorasse vários versos das Escrituras, que ela cria poderiam ser de grande importância para ela, como João 3:16, 1 João 1:8, e os últimos dois versos de Judas. Numa daquelas noites, Ruth advertiu-a de que, por causa de seu passado, quando enfrentasse uma adversidade, ela se acharia diante de dois caminhos: um Seria recorrer ás drogas, e o outro seguir em frente, firme em Jesus.
Certo dia, durante o culto, um dos introdutores entregou à minha esposa um bilhete onde se lia: "Estou dopada; preciso de sua ajuda. Por favor, ajude-me." Estava assinado o nome da jovem amiga.
Ruth saiu quietamente da reunião, e encontrou-a a esperá-la – rosto pálido, olhos encovados, visivelmente drogada. Tendo tido pouca experiência com viciados, Ruth pensou que devia tratá-la como se trata um bêbedo, e levou-a a um stand de cal do estádio, e deu-lhe um pouco da bebida. Ela não sabia que essa era a última coisa que deveria ter feito. No caminho perguntou à jovem por que fizera aquilo e recebeu a seguinte resposta: "Minha melhor amiga morreu hoje de uma dose excessiva."
Ruth queria que ela ouvisse o sermão, e elas se assentaram numa escada, não muito distante de um alto-falante. Mas a moça não estava em condições de escutar. Percebendo que sua jovem amiga estava rapidamente perdendo a noção das coisas, Ruth escreveu em um cartãozinho que retirara do fundo de uma caixa de lenço de papel, as seguintes palavras: "Deus me ama. Jesus morreu por mim. Não importa o que eu faça, ele me perdoará, se eu me arrepender, e pedir-lhe perdão."
No ano seguinte, 1967, voltamos a Londres e realizamos outra série de conferências no Earl's Court. Certa tarde, Ruth estava tomando chá com sua jovem amiga hippie. A jovem enfiou a mão em sua bolsa-sacola, e tirou de lá um cartãozinho amarfanhado, o mesmo no qual Ruth escrevera aquelas palavras no ano anterior. Indagou de minha esposa quando ela escrevera aquilo. Ela respondeu-lhe, mas a moça não se lembrava de nada do que se passara na ocasião. Depois ela repetiu de cor os versos que Ruth lhe recomendara que decorasse, e perguntou-lhe quando os memorizara. Ruth explicou-lhe, mas ela não se recordava. É interessante notar que as drogas haviam-lhe causado uma amnésia apenas parcial, pois não tinham apagado de sua mente a Palavra de Deus que ela escondera no coração.
Uma situação semelhante ocorreu quando Ruth sofreu um acidente, certa vez. Quando tentava armar um balanço para nossos netos, ela caiu de uma árvore. Sofreu uma concussão bem séria e ficou inconsciente por quase uma semana. Logo que recobrou a consciência, o que mais a preocupou foi o fato de que não se recordava de muitas coisas. Mas sua maior perda foi a dos versículos bíblicos que decorara no decorrer dos anos.
Em seu caderninho de anotações, ela registrou o que lhe acontecera certa noite, quando estava orando acerca do fato. Como que brotando do nada, ocorreram-lhe as palavras: "Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí." Não se lembrava absolutamente de quando memorizara aquele verso, pois sua mente ainda estava meio nebulosa. Mas o certo é que o verso fora fixado ali.

Deus Fala Através de Jesus Cristo

Deus nos fala com a maior clareza na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo. "Deus... nestes últimos dias nos falou, em um que é seu Filho." (Hb. 1:1,2.) Em todos estes séculos, muitas pessoas têm acreditado que Deus é apenas um espírito que se encontra no interior de todos nós. Tolstoi, o grande escritor russo, disse: "Todos os homens reconhecem existir dentro de si mesmos um espírito livre e racional, independente de seu corpo. Este espírito é o que chamamos de Deus."
Os filósofos encontram Deus em todas as coisas. No primeiro século, o filósofo romano, Sêneca, estabeleceu um princípio para a crença através dos séculos, ao escrever: "Chamem-no de natureza, destino, fortuna: todos estes nomes são designações de um mesmo e único Deus."
Sêneca estava errado, naturalmente. E, como ele, milhares e milhares de pessoas têm estado igualmente erradas.
Em algumas religiões do mundo, encontramos referências à crença de que Deus visitaria a terra. Já houve muitos homens que se declararam ser Deus. Um certo homem da Coréia, mesmo em nossos dias, tem atraído a si muitos seguidores, alegando ser o "Senhor da segunda vinda".
Todavia, foi somente na "plenitude dos tempos", quando todas as condições eram perfeitas e todas as profecias foram cumpridas, que "Deus enviou seu Filho, nascido de mulher" (Gl. 4:4).
Numa pequenina cidade do Oriente Médio, há quase dois mil anos, cumpriu-se a profecia de Miquéias 5.2, e Deus "foi manifestado na carne'' (1 Tm. 3:16). Esta manifestação veio na pessoa de Cristo.
As Escrituras dizem de Cristo que "nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Cl. 2:9).
Esta é a forma de revelação mais completa que Deus fez ao mundo. Você deseja saber como Deus é? Tudo que tem a fazer é olhar para Jesus Cristo.
A natureza tem perfeição e beleza; no mundo material que nos cerca, vemos ordem, força e majestade. E todos estes adjetivos aplicam-se a Jesus Cristo. No trabalho de nossa consciência e na magnificência da Palavra escrita encontramos justiça, misericórdia, graça e amor. Todas estas coisas são atributos de Jesus Cristo. "E o Verbo (logos) se fez carne, e habitou entre nós." (Jo. 1:14.)
Jesus disse o seguinte aos seus discípulos e a todos nós que vivemos no século XX: "Credes em Deus, crede também em mim" (Jo. 14:1). Esta seqüência de fé é inevitável. Se cremos no que Deus fez e no que Deus disse, devemos crer também naquele que ele enviou.
Como podemos crer? O meio pelo qual entendemos as realidades da salvação é a fé. Deus não nos pede que entendamos tudo, mas ele nos diz para crermos. "Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." (Jo. 20:31.)
A necessidade que temos de conhecer a Deus, nossa esperança de vida eterna, o desejo de uma nova ordem social – tudo isso tem que estar associado á única pessoa que pode obter estes objetivos – Jesus Cristo. Quando vamos a Jesus, o desconhecido se torna conhecido, e experimentamos o próprio Deus.
Quando nossa vida, escura e trôpega, encontra-se com a luz da presença eterna de Deus, somos capacitados a enxergar naquele outro mundo que se estende além da confusão e frustração do mundo em que vivemos.
Uma criancinha, que ainda não havia atingido a idade escolar, entrou em um labirinto de certo parque de diversões. Quando o pai percebeu que ela se afastara dele, procurou-a e encontrou-a ali, tentando achar a saída, e já começando a chorar de medo. Ela estava cada vez mais confusa pelos inúmeros caminhos que via, mas, por fim, ouviu a voz do pai gritar-lhe: "Não chore, querida. Estenda os braços e procure tatear. Você encontrará a porta. Siga a direção de minha voz."
E enquanto ele assim falava, a garotinha acalmou-se e, pouco depois, encontrava a saída e corria para os braços do pai, estendidos para ela.
Deus revelou-se à raça humana, que está neste planeta pequeno, através da natureza, da Bíblia, da consciência – e, de modo completo, na pessoa de Jesus Cristo.













MAS, EU NÃO TENHO RELIGIÃO!

Muitas vezes, ouvimos a seguinte pergunta: "E as outras religiões do mundo? Uma religião não é tão boa quanto a outra?"
Poucos vocábulos da linguagem humana têm sido tão deturpados e incompreendidos como este – "religião". O filósofo alemão do século XVIII, Emmanuel Kant, descreveu a religião como sendo a "moralidade ou ação moral". Hegel, outro filósofo, que aliás influenciou o pensamento de Hitler, disse que a religião era "um tipo de conhecimento".
Para muitas pessoas a religião tem vários significados. Pode ser o simbolismo sádico do "grupo Manson", cujas adeptos riscavam na testa um X, com faca; pode ser os rituais da meditação transcendental, ou cânticos de vários cultos; ou pode sugerir uma meditação silenciosa entre as reconfortantes paredes de um templo.
Muitas pessoas dizem, não sem certo orgulho: "Eu não sou muito religioso", mas a despeito das objeções do homem, ele é um ser essencialmente religioso. Tanto a Bíblia como a antropologia, a sociologia e outras ciências ensinam que as pessoas anseiam por uma experiência religiosa de qualquer tipo.
Na faculdade, eu me graduei em antropologia, que o dicionário define como sendo a ciência que estuda o homem, suas raças, costumes e crenças. Tive também o privilégio de viajar bastante em todos os continentes. E já descobri, por experiência própria, que tudo aquilo que aprendi no estudo da antropologia é verdade. O homem revela mesmo uma tendência natural para religião – e não somente ele tem essa tendência, como também a grande maioria das raças pratica ou professa alguma forma de religião.
Podemos descrever a religião como tendo dois pólos magnéticos – o bíblico e o naturalista. O pólo bíblico é descrito nos ensinos da Bíblia. O naturalista é explicado nas religiões criadas pelos homens. Nos sistemas humanísticos existem certos elementos de verdade. Muitas de suas crenças foram retiradas da filosofia judaico-cristã; muitas utilizam porções delas e introduzem suas próprias fábulas. Outras religiões ou crenças possuem, em caráter fragmentado, o que o cristianismo possui como um todo.
O apóstolo Paulo falou desse pólo naturalista, quando disse: "E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes, e répteis." (Rm. 1:23.)
Todas as falsas religiões seccionam partes da revelação de Deus, acrescentam suas próprias idéias, e aparecem com vários pontos de vista que diferem da revelação de Deus, encontrada na Bíblia. A religião natural não procede de Deus, mas do mundo natural que ele criou e que, em seu orgulho, afasta-se dele.
Uma religião falsa é como uma imitação, no mundo da alta moda. Li em algum lugar que, logo após um desfile de modelos originais exclusivos em uma das casas de modas de Paris, aparecem cópias dos modelos em lojas de venda em massa, com etiquetas diferentes. A própria existência destas falsificações atesta a existência do original. Se não houvesse o produto genuíno não haveria imitações.
O plano original de Deus tem sido sempre imitado e falsificado.

O Nascimento da Religião

Como foi que começaram todas as religiões do mundo? Um grande conquistador militar do passado fez uma declaração verdadeira, sem perceber que chegara bem perto da Verdade. Napoleão Bonaparte disse: "Eu creria ruma religião que tivesse existido desde o início dos tempos; mas quando penso em Sócrates, Platão e Maomé, não creio mais. Todas as religiões foram criadas pelo próprio homem."
João Bunyan disse certa vez: "A religião é a melhor armadura que um homem pode ter; mas, como manto, seria o pior."
Quando foi que o homem inventou esta confusão de religiões? Tudo começo com duas pessoas bem conhecidas.
Deveríamos pensar que, quando Adão e Eva tivessem filhos, eles teriam capacidade de instilar neles a importância de termos um relacionamento correto com Deus. No entanto, Caim quis fazer tudo à sua maneira. Ele aproximou-se do altar, pela primeira vez, com uma oferta do "fruto da terra", tentando reaver o "Paraíso", rejeitando o plano de Deus para a redenção. Caim trouxe a Deus algo que ele havia cultivado, elementos distintivos de sua própria cultura. Hoje interpretamos a oferta de Caim como uma tentativa sua de obter a salvação pelas obras. Mas Deus nunca disse que poderíamos chegar ao céu através de nosso próprio esforço.
Seu irmão Abel obedeceu a Deus, e humildemente ofereceu as primícias de seu rebanho, em um sacrifício de sangue. Abel aceitou a determinação divina de que o pecado merecia a monte, e só poderia ser compensado diante de Deus pela morte expiatória de um animal sem culpa. Caim rejeitou este plano deliberadamente. Deus requeria um sacrifício de sangue.
Os autores bíblicos sabiam que o sangue era essencial à vida. Qualquer pessoa ou animal pode passar bem sem uma perna ou sem um olho, mas nem o animal nem o homem podem viver sem sangue. É por isso que o Velho Testamento diz: "Porque a vida da carne está no sangue" (Lv. 17:11).
Assim, a Bíblia ensina que a expiação pelo pecado só é possível com derramamento de sangue: "Com efeito, quase todas as cousas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão." (Hb 9.22.)
Quando falamos do sangue de Cristo, portanto, estamos dizendo que ele morreu por nós. O sacrifício de sangue acentuou para nós a gravidade do pecado. O pecado é uma questão de vida ou de morte. Somente o derramamento de sangue poderia fazer expiação pelo pecado. A morte de Cristo também emprestou maior ênfase ao princípio da substituição vicária. No Velho Testamento, um animal era visto como um substituto; um animal inocente tomava o lugar de um culpado. Do mesmo modo, Cristo morreu em nosso lugar. Ele era inocente, mas, de livre vontade, verteu seu sangue por nos, e tomou nosso lugar. Nos merecíamos a morte por causa de nossos pecados, mas ele morreu em nosso lugar.
E como Cristo morreu por nós, podemos experimentar sua vida – agora e eternamente. "Sabendo que não foi mediante cousas corruptíveis... que fostes resgatados... mas pelo precioso sangue... de Cristo." (Hb. 1:18,19.)
Quando Caim deliberou seguir seus próprios intentos, e não a determinação de Deus que exigia o derramamento de sangue, entrou amargura em seu coração. Ele começou a odiar seu irmão Abel. Da mesma forma que o verdadeiro crente muitas vezes não é bem aceito por aqueles que seguem uma religião criada pelo homem, Abel não era mais aceito por Caim, e este ódio se acirrou cada vez mais até ao ponto de Caim matar o irmão.
Orgulho, ciúme e ódio são sentimentos que sempre se encontram no coração dos homens, de todas as épocas e de todas as culturas. Muitos anos atrás, quando eu estudava numa escola da Flórida, um rapaz matou seu irmão num acesso de ciúmes. O pai e a mãe haviam morrido num acidente automobilístico, e quando foi lido o testamento, viram que eles haviam deixado dois terços da propriedade – um imenso laranjal – para o filho mais velho, deixando apenas um terço para o mais moço. O rapaz ficou deprimido e emocionalmente instável, sentindo raiva dos país já falecidos, e com intenso ciúme do irmão. O rapaz mais velho desapareceu, e cerca de um mês e meio depois seu corpo foi encontrado num rio, amarrado com arame a um tronco de cipreste.
Os tempos não mudaram. Milhões de pessoas desejam a salvação, mas à sua maneira; querem estabelecer sua própria rota nesta vida e inventar diversos tipos de caminhos para alcançar a Deus.
Quando o cristianismo é verdadeiro, ele não é uma religião. A religião é um esforço do homem para chegar a Deus. Um dicionário define religião do seguinte modo: "Crença em Deus ou deuses... adoração a Deus ou deuses." Qualquer coisa pode ser religião. Mas o verdadeiro cristianismo é um relacionamento pessoal entre Deus e o homem.
O atual interesse pelo ocultismo e pelas religiões orientais é uma prova da eterna busca do homem para Deus. Não podemos fugir ao fato de que o homem é instintivamente religioso, mas Deus escolheu revelar-se a nós pela natureza, pela consciência, pelas Escrituras e através de Jesus Cristo. As Escrituras dizem que não existem desculpas para quem não conhece a Deus.

Em Nome da "Religião"

Não é de se admirar que as pessoas digam com certa satisfação: "Não tenho religião", pois grandes injustiças e atos de extrema crueldade têm sido praticados em nome da religião.
Na China, onde minha esposa viveu quando criança, muitas vezes as criancinhas que morriam antes da dentição, eram atiradas aos cães para serem devoradas. As pessoas temiam que, se os espíritos maus percebessem que elas amavam seus filhos, viriam, e lhes tirariam os outros. E dessa maneira rude, tentavam provar sua indiferença para com os filhos. A idéia que Ruth formou de "religião" foi de algo sombrio, sem alegria – por vezes, cruel.
Certa vez, vi um homem na Índia deitado sobre um leito de pregos. Ele já estava ali havia muitos dias, sem comer, e bebendo pouca água. Com isto tentava fazer expiação pelos seus pecados. Em outra ocasião, na África, vi um homem caminhar sobre carvão em brasa. Ao que se pensava, se ele saísse dali ileso teria sido aceito por Deus; se se queimasse, seria considerado pecador, necessitado de arrependimento.
Certa missionária na Índia, ao passar pelas margens do rio Ganges notou uma mulher sentada ali com dois de seus filhos. No colo, estava uma belíssima criancinha, e choramingando ao seu lado, uma criança bastante retardada, de cerca de três anos. Ao retornar para casa mais tarde, a missionária viu a jovem mulher ainda sentada no mesmo lugar, tentando consolar o filho retardado, mas o bebê não estava mais ali. Horrorizada pelo pensamento que lhe ocorreu e que poderia ser verdadeiro, ela hesitou um momento, mas dirigiu-se à mulher e perguntou-lhe o que acontecera. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, a mulher ergueu os olhos e disse: "Não sei do seu deus, mas o deus da minha terra exige o melhor." Ela dera o bebê perfeito ao deus do Ganges.
As pessoas sempre f'azem sacrifícios humanos em nome da religião. Adoram toda espécie de ídolos desde macacos até árvores. Então fazem oferendas às árvores, e crêem que se alguma coisa ferir a árvore, algum infortúnio sobrevirá à aldeia. Temem que se a árvore for cortada, o povoado e todos os seus habitantes perecerão.
Em nome da religião, reis, imperadores e líderes de nações e tribos têm sido adorados como deuses. Certo erudito inglês escreveu: "Num certo estágio da sociedade primitiva, o rei ou sacerdote muitas vezes é considerado como sendo investido de poderes sobrenaturais, ou como sendo uma reencarnação de uma divindade; ele é responsabilizado pelo mau tempo, pelo fracasso nas colheitas, e outras calamidades semelhantes."
Um exemplo de monarca adorado como deidade era o caso do Mikado, o imperador espiritual do Japão. Ele recebia, em ato oficial, o título de "Manifestarão ou encarnação da divindade". Um relato antigo dizia o seguinte acerca do Mikado: "Era considerado para ele um ato vergonhoso e degradante tocar com os pés no chão... Nada era retirado de seu corpo; nem seu cabelo, nem sua barba e nem suas unhas eram cortadas."
Muitas pessoas desprezam a religião, e concordam com certo professor de filosofia de uma famosa universidade americana, que escreveu: "O termo 'religião' foi posto em uso para identificar, ao mesmo tempo, seitas como judaísmo, cristianismo, maometismo, budismo, hinduísmo, taoísmo e confucionismo, bem assim como muitas outras ideologias irmãs, das quais algumas têm nomenclatura própria e outras não, mas todas suficientemente semelhantes às sete primeiras para serem agrupadas com elas."
Será que realmente podemos incluir o cristianismo junto com as outras religiões do mundo?

Indesculpáveis

Desde os primórdios da criação, a "religião" natural foi introduzida na vivência humana como um substituto para o plano divino. O apóstolo Paulo descreve esse fenômeno em sua carta aos romanos, fazendo referências a imagens parecidas com pássaros, animais e serpentes, para ilustrar a religião criada pelo homem. Mas isso não descreve todas as formas dela. Hoje existem novas e inúmeras expressões religiosas mais sofisticadas – principalmente em certas universidades americanas – mas todas elas brotam da mesma raiz: o homem buscando a Deus, consciente ou inconscientemente.
Paulo descreve do seguinte modo a corrupção que o homem faz da revelação divina: "Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis. Porquanto, tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos... pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém." (Rm 1.20-25.)
O apóstolo está dizendo simplesmente que todos os homens possuem pelo menos um conhecimento primitivo de Deus. Algumas pessoas encaram esta questão com certo cinismo, que provoca uma pergunta inevitável: "E os pagãos que nunca ouviram falar de Jesus?"
E os "pagãos" dos Estados Unidos, ou da Universidade de Oxford ou da Sorbonne? Deus criou a todos nos á sua imagem e semelhança; cada um terá que prestar contas a Deus de acordo com os esclarecimentos que recebeu. Como é que um Deus justo condenará pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho? A resposta encontra-se em Gênesis 18.25: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?"
A natureza criada por Deus dará testemunho de um poder ou pessoa divina, ao qual todos corresponderão. Por outro lado, a justiça de Deus se manifestará contra aqueles que não vivem de acordo com os esclarecimentos que Deus lhes tem dado.
Em minha vida, tenho sabido de muitos exemplos de pessoas que receberam revelações acerca do "poder eterno e da natureza divina" de Deus, sem a ajuda de uma Bíblia ou de uma campanha evangelística.
Nos meados da década de 50, realizamos uma grande campanha em Madras, na Índia. Certo homem caminhou mais de 180 quilômetros para assistir àquelas reuniões. Disseram-me que ele era de um povoado onde nunca estivera um missionário, e onde, ao que se sabia, o evangelho de Cristo era completamente desconhecido. E, no entanto, esse homem desejara de todo o coração conhecer o Deus vivo e verdadeiro. Ele ouvira dizer que um "guru" dos Estados Unidos estava ali e iria falar acerca de Deus. Seu anseio de conhecer o Senhor era tão intenso que ele veio à cruzada e encontrou-se com Cristo. Oito meses depois, quando o Bispo Newbigin, da Igreja do Sul da Índia (que foi quem me relatou o fato) visitou o povoado, descobriu que toda a comunidade se tornara uma igreja. Todas as pessoas dali haviam sido levadas a Cristo por meio desse homem.
Quando pregávamos no nordeste da Índia em 1972, soubemos de pessoas que caminharam até dez dias, carregando nos ombros todos os seus pertences, trazendo a família inteira, provenientes de lugares tais como Nepal, Sikkim e Birmânia. Informaram-me de que muitas daquelas pessoas nunca haviam ouvido falar do nome de Jesus Cristo. Apenas haviam sabido que uma reunião religiosa estava-se realizando, e elas quiseram vir ver de que se tratava. Muitos ficaram e encontraram a Cristo.
Estou convencido de que, quando uma pessoa busca a Deus de todo o coração, Deus se revela a ela de alguma maneira. Deus usa qualquer coisa para alcançar aquele que o busca: uma pessoa, a Bíblia, um contato com outros crentes, etc.
Um famoso conhecedor da Bíblia, o Dr. Donald Barnhouse, falou acerca de uma viagem fluvial que teve de realizar, pelo centro da África. Logo que entrou no barco, viu uma galinha, e pensou tratar-se do almoço deles. Cerca de duas ou três horas depois, ouviu um rumor distante e percebeu que se aproximavam de corredeiras. Os homens naturais do lugar, que remavam a embarcação, dirigiram-na para a margem do rio, pegaram a galinha, e foram para a mata. Fizeram um altar tosco. Antes de oferecerem a ave no altar, deceparam-lhe a cabeça e espargiram o sangue na parte anterior do bote. O Dr. Barnhouse disse que percebeu uma vez mais que, mesmo sem terem ouvido um missionário e sem a Palavra de Deus, aqueles homens sabiam que havia necessidade de um sacrifício.
Então o apóstolo Paulo diz que Deus tomou previdências para que todos os homens, em todo lugar, possuam um conhecimento básico acerca dele, de seus atributos, de seu poder, de sua natureza divina. Através da observação, e da própria consciência, eles podem responder a ele, se assim o desejarem.
Mas a humanidade afastou-se dele. A mente humana não amou a verdade o suficiente para ficar; a vontade dos homens não desejou obedecê-lo; suas emoções não vibram com a idéia de agradar-lhe.
O que aconteceu? O que ainda acontece? O homem reprime a verdade; mistura-a ao erro e cria as religiões do mundo.
As religiões humanistas muitas vezes se escandalizam com a fé bíblica, que é a crença que aceita a Bíblia como a fonte de informação básica com relação a questões como o pecado, e como a justificação do pecador que Deus declara "justo" pela monte expiatória de Cristo. A religião natural contém verdade suficiente apenas para torná-la mais ilusória. É possível que contenha aspectos da verdade, ou elevados padrões de ética. Alguns de seus adeptos, por vezes, usam termos que podem parecer expressões da linguagem bíblica. O escritor inglês, C. S. Lewis, disse que todas as religiões são, na realidade, ou uma "pré-estréia" do cristianismo ou uma perversão dele.
A religião do homem pode ter um sonido muito agradável. Thomas Paine escreveu o seguinte: "O mundo é minha pátria; toda a humanidade é minha irmã, e fazer o bem é minha religião." Embora a moralidade ou "fazer o bem" possa conquistar a aprovação dos homens, não é aceitável para Deus, nem reflete plenamente a obediência a seus requisitos morais. Na verdade, alguns dos atos da mais crua imoralidade da História humana, têm recebido a aprovação da religião natural.
Existe um grande enganador que se adapta a todas as culturas, chegando até mesmo a iludir, por vezes, os verdadeiros crentes. E ele não se apresenta no palco, vestido com um manto vermelho, e usando uma máscara horrenda, mas abre seu caminho de maneira sutil, como "anjo de luz". É assim que Satanás opera. Milhares de pessoas têm entrado em igrejas sem nunca conhecerem uma experiência vital com Jesus Cristo. Elas recebem substitutos para essa experiência, sob a forma de ritos religiosos, boas obras, trabalho comunitário, ou reforma social, os quais são todos elogiáveis em si mesmos, mas nenhum deles conquista para o homem o direito de um relacionamento com Deus.
Muitas pessoas costumam dizer: "Acho que sou cristão", ou "Tento viver como um cristão". Mas não existe a possibilidade de "achar" ou "tentar", na vida cristã. Nem mesmo alguns de nossos intelectuais conseguiram entender esta verdade: a simplicidade do evangelho está ao alcance tanto dos retardados mentais como dos gênios.

Os Contemporizadores

Onde existe verdade e erro sempre existe a possibilidade da contemporização. Em algumas igrejas, há um movimento no sentido de se reformular a mensagem de Cristo, a fim de torná-la mais aceitável para o homem moderno. Há quem defenda a tese de que as "igrejas cristãs têm sido, e ainda são, a maior fonte do anti-intelectualismo e da oposição ao pensamento crítico".
Escrevem-se livros e pregam-se sermões com a finalidade de depreciar a Bíblia e as crenças básicas da fé cristã. Existe um volume grosso, intitulado Bible Myths (Mitos bíblicos), que tem um capítulo cujo título é "Os Milagres de Cristo", e que se inicia da seguinte maneira: "A legendária história de Jesus Cristo, contida nos livros do Novo Testamento, está cheia de prodígios e milagres. Estes chamados prodígios, e a fé que o povo parecia depositar em tal teia de falsidades, indicam a prevalente disposição do ser humano para crer em tudo, e foi entre tal classe que o cristianismo se propagou."
A revista Time, num longo artigo sobre a Bíblia, disse o seguinte: "Indagações acerca da Bíblia não são novidade; elas surgiram desde os seus primeiros dias."
Conheci um professor de arqueologia no Wheaton College, que fazia um curso na Universidade de Chicago. Muitas vezes, um professor seu da universidade apresentava argumentos para abalar a veracidade das Escrituras. E em cada uma dessas vezes, este professor de arqueologia respondia com uma descoberta arqueológica, que provava a autenticidade das Escrituras. A certa altura, aquele professor da Universidade de Chicago exasperou-se e exclamou: "Esse é o problema de vocês, arqueólogos evangélicos. Estão sempre escavando alguma coisa para provar que estamos errados e a Bíblia está certa."
A arqueologia nunca descobriu nada que desaprovasse as Escrituras.
Entre os contemporizadores estão alguns teólogos que não conseguem concordar entre si acerca de que partes do Novo Testamento devem aceitar e quais as que devem rejeitar. Alguns deles parecem estar de acordo em que alguns dos milagres eram somente mitos. Consideram a ressurreição de Jesus como uma experiência subjetiva dos discípulos, e não um fato acontecido. Questionam o fato de Jesus Cristo haver sido sobrenatural, e rejeitam qualquer explicação que diga que parte de seu mérito residiu no fato de que ele era Deus, e ao mesmo tempo homem. C. S. Lewis ficava sempre perplexo com os críticos bíblicos que escolhiam certos eventos sobrenaturais para aceitar. Ele se espantava com a mentalidade seletiva de certos cristãos exegetas que "depois de engolir camelos tais como a ressurreição, coavam mosquitos tais como o milagre da multiplicação dos pães".

Os Enganadores

Da contemporização ao engano, a distância é pequena. Por toda a Bíblia há textos advertindo-nos acerca dos falsos profetas e mestres. Jesus disse: "Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores... Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis." (Mt. 7:15,20.)
Às vezes, estes "disfarces de ovelhas" são mantos clericais. Pode tratar-se de um liberal ou de um fundamentalista. O liberal é como os saduceus do passado, negando a verdade bíblica. Os fundamentalistas extremos, como os antigos fariseus, aceitam a teologia pura, mas acrescentam a ela muitas idéias não bíblicas. Outras vezes, este "disfarce" é usado por uma pessoa com muitos diplomas, falando palavras de aparência lógica. Às vezes, é bem difícil para um crente saber se certa pessoa é um falso mestre ou não, já que, em alguns aspectos, ela lembra um mestre verdadeiro. Jesus mencionou os falsos profetas que estarão "operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mt. 24:24).
Mas a pessoa que inspira o grande engano é o próprio Satanás. Ele é ardiloso e inteligente, e opera com meios tão sutis e secretos, que nenhum crente deve vangloriar-se, dizendo que se encontra a salvo de seus ataques.
O apóstolo Paulo advertiu-nos de que: "Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados." (2 Tim. 3:13.)
Também avisou a Igreja de Éfeso, dizendo: "Ninguém vos engane com palavras vás" (Ef. 6.5); e também "Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. " (Ef. 4:14.)
Uma senhora que atualmente dirige uma classe bíblica na Califórnia com centenas de participantes, disse que durante muitos anos seu pseudo-intelectualismo fez com que ela aceitasse qualquer "pensamento religioso" que lhe era apresentado. Mas depois de aceitar a Jesus Cristo como seu Salvador e passar pela experiência do novo nascimento espiritual, ela disse: "Não sou mais criança... levada por todo vento de doutrina."
Estamos numa época em que aparecerão mais falsos profetas. Vivemos num período da História que pode representar o final desta era. O apóstolo Pedro disse: "Assim como no meio do povo surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e sua destruição não dorme." (2 Pe. 2:1-3.)
Quando entendermos que as heresias e enganos são introduzidos secretamente, nos tornaremos mais alertas quanto a esses perigos. A escola dominical, a classe bíblica, o púlpito, a sala de aula e os meios de comunicação em massa estão sendo totalmente invadidos. Alguns dos termos da linguagem cristã são até usados por eles, como por exemplo: paz, amor, nascer de novo. Fiquemos atentos, porém, a algumas palavras que estão semeadas pela literatura secular, mas com significado inteiramente diverso do cristão: messias, um cristo, redenção, regenerar, gênesis, conversão, misericórdia, salvação, apóstolo, profeta, libertador, salvador, líder espiritual. Até mesmo alguns termos de sentido essencialmente teológico estão perdendo seu significado original, termos tais como: evangélico, Bíblia infalível, etc.
Milhares de cristãos indoutrinados estão sendo enganados hoje em dia, bem como milhões de pessoas que rejeitam ou ignoram o verdadeiro Cristo. Enganadores que apresentam argumentos intelectuais que mais parecem compêndios escolares estão enganando a muitos.
Paulo não tem complacência com os falsos mestres. Ele diz: "Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras." (1 Tm. 1:2.) A Bíblia é muito clara ao dizer que muitos apostatarão da fé por darem ouvidos às mentiras de Satanás, e resolverem deliberadamente aceitar doutrinas de demônios, em vez das verdades de Deus.

Voltando às Doutrinas Básicas

Tanto as pessoas que são membros de igrejas como algumas que não são membros, mas possuem sede espiritual, têm estado ansiosas por uma experiência pessoal e vital com o Senhor Jesus Cristo. E muitas recorrem a outras formas de adoração, além do culto da igreja.
Em 1965, escrevi em meu livro Mundo em Chamas que "a menos que a igreja retorne prontamente à mensagem bíblica correta, presenciaremos o espetáculo de milhões de cristãos deixando a igreja instituída, para buscar alimento espiritual em outras fontes". E é exatamente o que está sucedendo.
Temos uma estimativa de que existem mais de dois milhões de grupos de oração e estudo bíblico, reunindo-se em lares e igrejas, nos Estados Unidos, e que não existiam há dez anos. Uma das grandes esperanças que divisamos é a de que a liderança denominacional esteja principiando a conscientizar-se disso, e a promover estudos bíblicos orientados para a classe leiga, com ensino adequado.
Nos últimos anos, os trabalhos preparatórios de nossas cruzadas têm revelado um aumento bem significativo no número de grupos de oração nos lares. Em nossas campanhas mais recentes, temos procurado abrir um centro de oração em cada bairro da cidade. O resultado é que milhares de grupos estão sendo acrescentados aos grupos normais da cruzada em alguns lugares chegam a ser em número de 5.000.
Sabendo-se que quase cinqüenta milhões de americanos adultos professam haver experimentado a conversão religiosa do novo nascimento, creio ser importante compreendermos de que se trata.

Um Velho Chavão

Nenhum erro é tão grosseiro quanto o do velho chavão que diz: "Qualquer religião serve, desde que se seja sincero." E se a mesma linha de pensamento fosse aplicada à alimentação de uma criancinha? A mãe poderia dizer: "Como não tenho outro leite, mas quero alimentar meu filhinho, vou colocar na mamadeira Coca-cola ou um pouco de vinho. Afinal, tudo é líquido." Tal raciocínio é simplesmente ridículo, mas é nada mais nada menos que essa questão da "sinceridade".
Quem inventou a religião? Voltemos àqueles dois irmãos. As duas chamas daqueles altares que foram por eles erguidos, do lado de fora do Éden, ilustram bem a diferença entre a verdadeira e a falsa religião. Uma pertencia a Abel, que apresentou ao Senhor uma oferta das primícias do seu rebanho. O ato de Abel foi praticado em amor, adoração, humildade, reverência e obediência. E a Bíblia diz que o Senhor olhou para Abel e sua oferta com muita consideração.
Seu irmão mais velho, Caim, trouxe ao altar uma oferta sem sangue, uma oferta barata, e a Bíblia diz que "ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou" (Gn. 4:5).
Será que Deus estava sendo injusto? Em última análise, não fora intenção de Caim agradar a Deus? Não estava ele sendo sincero?
Essa história foi registrada na Bíblia com a finalidade de ensinar-nos que existe uma forma certa e uma forma errada de entrar em contato com Deus. Abel trouxe sacrifício de sangue, como Deus orientara; Caim ofereceu um sacrifício de vegetais, uma oferta egoísta e superficial, desobedecendo a Deus e aproximando-se dele sem fé. E como Deus não abençoasse sua oferta ele matou o irmão. O culto de Caim era uma religiosidade estéril, vazia, como de resto toda a sua vida havia-se tornado. Ele deixou sua família, e passou a vagar sobre a terra, um homem amargurado, que clamava a Deus dizendo: "É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo." (Gn. 4:13.) Caim era sincero, mas errou.
A religião humanista brota bem à vista dos grandes homens de Deus. Enquanto Moisés se encontrava no monte Sinai, recebendo as placas de pedra "escritas pelo dedo de Deus", uma religião falsa estava surgindo no acampamento de Israel. O povo disse a Arão: "Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós." Arão deixou-se empolgar pela idéia de uma nova religião e disse: "Tirai as argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas, e trazei-as." Desse ouro, ele fabricou dois bezerros fundidos, e eles disseram: "São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito." (Êx. 32:1-4.)
Através dos tempos, outras crenças idólatras têm minado os fundamentos da verdade. Sejam antigas ou modernas, todas elas têm proposto alternativas para o método bíblico da aproximação do homem a Deus.
O homem pode engenhar planos para satisfazer seus anseios interiores, mas, em meio a todas as "religiões" do mundo, o método divino está na Bíblia, ao alcance de todos os que quiserem chegar-se ao Senhor, nos termos dele. Para a pessoa que busca, a solução está ao alcance.

O QUE É ISSO QUE CHAMAM PECADO?

Existe uma anedota acerca de um jato que estaria fazendo o percurso Chicago - Los Angeles. Logo que a gigantesca aeronave atingiu 40.000 pés de altitude, os passageiros ouviram uma voz falando-lhes pelo alto-falante: "Isto é uma gravação. Você está tendo o privilégio de participar do primeiro vôo em um jato totalmente dirigido por processos eletrônicos. Este avião decolou eletronicamente, e está agora voando a uma altitude de 40.000 pés, também dirigido eletronicamente. Aterrissará em Los Angeles, eletronicamente.
"Esta nave não tem piloto, nem co-piloto, nem navegador. Mas não se preocupem. Nada poderá dar errado... errado... errado... errado... errado..."
Alguma coisa saiu errada com nossa era do jato. Diz-se que é cientificamente sofisticada e moralmente emancipada. Mas não é. O que foi que saiu errado?
Em todas as grandes cidades dos Estados Unidos e da Europa o crime está aumentando. Parece que uma onda de crimes está assolando o mundo inteiro, com a força de um furacão. Uma revista noticiosa relatou que nos Estados Unidos, nos últimos quatorze anos, o índice de roubos subiu em 255%; o de estupro, em 143%; o de assaltos, em 153% e de assassinatos, em 106%.
A estatística, geralmente, é apenas uma cifra fria, enquanto não nos atinge. Disseram-me que numa universidade particular, em pequena cidade do oeste americano, as moças não saem de seus aposentos à noite por temerem assaltos ou estupros. O homem que me contou isto, disse-me que enviara sua filha para essa escola, a fim de vê-la a salvo das áreas perigosas das grandes cidades. Mas a situação ali era pior.
Não existe mais zona de segurança em nenhuma cidade. Uma mulher pode levar uma pancada de revólver, enquanto estaciona o carro numa garagem subterrânea, ou um homem pode ser agredido ao encaminhar-se para seu escritório. Os criminosos não respeitam idade, e muitos cidadãos mais idosos vivem, em muitos lugares, num verdadeiro pesadelo de terror. Na cidade de Nova York, a polícia acusou uma "gang" de seis jovens – um dos quais contava apenas treze anos – de haver assassinado por asfixia três velhos sem dinheiro. Um deles, um judeu, morreu com seu manto de orações enfiado na garganta.
O homem é uma contradição. De um lado vemos ódio, depravação e pecado; do outro, bondade, compaixão e amor: Por um lado o homem é um miserável pecador; por outro, tem faculdades que lhe possibilitam um relacionamento com Deus. Não admira que Paulo tenha considerado essa moléstia que afeta o homem como "o mistério da iniqüidade".
Algumas pessoas não gostam da palavra pecado. Crêem que isso é para os outros, mas não para elas. Porém, todos reconhecemos que a raça humana está enferma, e qualquer que seja a enfermidade, ela afetou toda a existência.
O que é isto que chamamos ? A confissão de Westminster define-o como "Qualquer falha de uma conformação do homem à lei de Deus, ou a transgressão da mesma." Pecado é qualquer atitude contrária à vontade de Deus.

O Começo do Pecado

Como foi que o pecado começou, e por que Deus o permitiu? A Bíblia dá uma indicação da resposta a essa pergunta ao ensinar que o pecado não se originou com o homem, mas com um anjo, que conhecemos como Satanás. E ele não era um simples anjo, mas a mais magnífica das criaturas.
O profeta Ezequiel descreve este ser nobre com as seguintes palavras: "Tu eras querubim da guarda, ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus... Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti." (Ez. 28:14,15.) Eis aqui uma indicação de como tudo começou. Num passado desconhecido, o pecado brotou no coração desta magnífica criatura celeste.
O profeta Isaías dá-nos outra explicação sobre a origem do mal: "Como caíste do céu, ó estrela da manhã, (Lúcifer) filha da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo." (Is. 14:12-15.)
Este é o quadro geral. O pecado de Lúcifer se resume nestas cinco afirmativas: subirei, exaltarei, assentarei, subirei e serei. Ele caiu, e tornou-se Satanás, por causa de sua ambição desmedida. Ele queria ser igual a Deus. Isto é uma manifestação do orgulho em sua forma máxima. O Novo Testamento nos dá uma descrição do pecado do orgulho, quando fala de uma pessoa que pode ensoberbecer "e incorra na condenação do diabo" (1 Tm. 3:6).

De Satanás aos Pecadores

O pecado começou com a revolta de Lúcifer, e continuou com a rebelião do homem contra Deus. Em lugar de "viver para Deus", o pecado faz-nos "viver para o eu".
A Bíblia ensina claramente como o pecado entrou na raça humana. Naquele maravilhoso jardim do Éden, havia muitas árvores. Uma delas simbolizava o conhecimento do bem e do mal, e Deus, em sua sabedoria, disse: "Dele não comereis". E Adão e Eva, com uma ou duas mordidas, desobedeceram a vontade de Deus, que eles bem conheciam. (Ver Rm. 5:12-19; Gn. 3:1-9; 1 Tm. 2:13,14.)
Deus poderia ter-nos criado como robôs humanos, que obedeceriam automaticamente a sua orientação. Obviamente, isso seria uma obediência sobre a qual o homem não teria o mínimo controle. Mas em vez disso, Deus criou-nos à sua imagem, e deseja que a criatura adore seu Criador em uma atitude responsiva de amor. Mas isso só pode acontecer se exercitarmos o livre arbítrio. O amor e a obediência que resultam de uma compulsão, não satisfazem. Deus queria filhos, não máquinas.
Um pastor amigo que jantava conosco certa noite, contou-nos acerca de seu filho que estava estudando numa universidade estadual, e se tornando "muito sábio". "Papai", disse ele certo dia, "não estou muito certo de que, quando sair da escola, eu possa acompanhá-lo em sua simples fé cristã." Nosso amigo fitou o filho bem nos olhos e respondeu: "Filho, este é um privilégio seu; um terrível privilégio."
E fui isso que Deus deu a Adão e Eva – e que ele nos dá – um terrível privilégio. Deus concedeu à humanidade o dom da liberdade. Nossos primeiros país tinham o direito de escolha: poderiam amar a Deus ou rebelar-se, e construir seu mundo sem ele. A árvore do conhecimento do bem e do mal foi uma prova para eles – e eles fracassaram.

O Pecado é Rebelião

Por que Adão e Eva, tendo todo o Paraíso à sua disposição decidiram rebelar-se? A causa desta rebelião foi "a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida" (1 Jo. 2:16). E foi a este pecado de concupiscência que Eva se rendeu. "Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu." (Gn. 3:6.)
Séculos depois, Cristo enfrentou os mesmos três tipos de tentação no deserto. Ele venceu a todos eles, e ao fazê-lo mostrou-nos que é possível resistir às tentações de Satanás. (Mt. 4:1-11.)
Os Dez Mandamentos ordenam que não cobicemos e não desejemos nada. Contudo, toda a lei moral não é apenas um teste; seu objetivo é nosso beneficio. Toda lei que Deus nos deu é para nosso bem. Se uma pessoa a transgride, ela está não somente rebelando-se contra Deus, mas também prejudicando a si mesma, de alguma forma. Deus nos deu a "lei", porque ele ama os homens. O desígnio supremo da lei é o beneficio do homem. Os mandamentos de Deus foram dados ao homem com a finalidade de promover sua felicidade, e não de restringi-la. Deus quer o melhor para nós. Pedir a Deus para modificar seus mandamentos será o mesmo que pedir a ele para deixar de amar o homem.
O filho muitas vezes acusa os país de "não o compreenderem" ou de serem demasiadamente exigentes. Quando um pai diz a um filho adolescente: "Esteja em casa até às 11:00, e diga-me sempre aonde vai", ele não está punindo, mas protegendo-o. Deus é um pai amoroso.
Quando Adão e Eva transgrediram o mandamento de Deus, morreram espiritualmente, e passaram a encarar a morte eterna. As conseqüências daquele ato foram imediatas e terríveis. O pecado tornou-se – e ainda é – o mais presente elemento da vida.
Em nosso universo vivemos sob a lei de Deus. No plano físico, os planetas se movimentam com uma precisão de fração de segundos. Nas galáxias, não existem experimentos. Vemos na natureza que tudo segue um plano harmonioso, ordenado e preciso. Será que o Deus que criou o universo material poderia ser menos exato numa questão tão importante como a do aspecto moral e espiritual do ser humano? Deus nos ama com amor infinito, e não pode aprovar uma desordem, nem irá fazê-lo. Conseqüentemente, ele estabeleceu leis espirituais, que, se obedecidas, produzem harmonia e felicidade; mas a desobediência a elas resulta em desarmonia e desordem.
Quais foram os resultados do pecado de Adão e Eva? Quando Satanás, bem como Adão e Eva contestaram a lei de Deus, eles não a destruíram, mas trouxeram destruição sobre si mesmos. A vida de beleza, liberdade e comunhão com Deus, que Adão conhecera, acabara-se; seu pecado deu como resultado a morte em vida. A natureza ficou amaldiçoada, e o veneno do pecado afetou toda a família humana. Toda a criação foi lançada em confusão, e a Terra agora era um planeta em rebelião.

Errando o Alvo

Um dos vocábulos usadas para a palavra pecado no Novo Testamento significa "errar o alvo". Pecar é não viver de acorde com os princípios de Deus. Todos nós erramos este alvo; não existe uma só pessoa que seja capaz de cumprir todas as leis de Deus, em todos os tempos.
E para alguns, até mesmo os padrões do mundo são difíceis de serem observados. Um dos espetáculos mais eletrizantes que podemos assistir é o dos Jogos Olímpicos Mundiais. Alguns atletas preparam-se durante anos e anos, disciplinando o corpo e a mente a fim de superar recordes cada vez mais elevados, e muitas vezes não alcançam seu objetivo. Certa patinadora no gelo disse que temia que uma queda um dia viesse a prejudicar seu desempenho. Disse ela: "Pense só no volume de tempo que eu tenho investido nisso, e no que outras pessoas também investiram para ajudar-me. Um só erro basta para destruir tudo."
Na vida espiritual, estamos constantemente errando. Não existe possibilidade de apresentarmos um desempenho perfeito. O Rei Davi disse: "Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer." (Sl. 14:3.)
O profeta Isaías confessa: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho." (Is. 53:6.)
Nós todos fomos afetados pelo pecado de Adão. Davi disse: "Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe." (Sl. 51:6.) Isto não significa que ele nascera de uma união ilegal, mas que ele herdara de seus país a tendência para pecar.
"Por que temos que ser castigados por algo que Adão fez?" Pense nisso. Será que você teria agido diferentemente de Adão? Estou certo de que eu não teria.
Nós todos somos pecadores por escolha própria. Quando atingimos a idade da razão, e nos defrontamos com a escolha entre o bem e o mal, todos falhamos. Deliberamos ficar com raiva, ou mentir, ou praticar atos egoísticos. Passamos adiante mexericos ou denegrimos o caráter de alguém. Nenhum de nós pode realmente confiar no próprio coração, assim como ninguém pode confiar em um leão.
Em certa reserva florestal da África Oriental, os leões podem vaguear à vontade, como se estivessem em seu próprio habitat. Os visitantes têm permissão para atravessar a área de carro ou de jipe, para ver os animais, mas são advertidos a que nunca se aproximem deles. Uma senhora, porém, arriou a vidraça do veículo para ver melhor e, inesperadamente, um leão a atacou, ferindo-a gravemente. Aquele animal parecera tão manso, tão dócil, mas em questão de instantes tornou-se feroz.
A Bíblia aplica este princípio da seguinte maneira: "Eis que o pecado jaz à porta" (Gn. 4:7.) Quando as circunstâncias favorecem, a maioria das pessoas é capaz de qualquer coisa. Davi foi um exemplo clássico. Premido pelas circunstâncias do desejo carnal, ele possuiu a mulher de outro homem; depois, tomou previdências para que o marido dela fosse eliminado, enviando-o para a linha de frente da batalha.
Mas alguém pode estar dizendo: "O senhor faz todo mundo parecer tão podre que isso não pode realmente ser verdade." Naturalmente, que não é. Mas é possível um indivíduo possuir moral ilibada e, no entanto, não ter amor por Deus, que é o requisito fundamental da lei.
E quando deixamos de preencher os requisitos de Deus, somos culpados e estamos sob condenação. O fato de sermos culpados implica em que merecemos castigo. A própria santidade de Deus reage contra o pecado: "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens..." (Rm. 1:18.)

Culpados de Quê?

A Bíblia diz que pecar é estar destituído da glória de Deus. Muitas pessoas não estão cientes da natureza desse alvo, e, por isso, quando são informadas de que erraram o alvo, não entendem esse conceito. Imaginemos que alguém coloque uma venda em nossos olhos, ajustada de tal maneira que fiquemos completamente às escuras. Depois a pessoa nos diz que há um alvo no outro canto do aposento, e que devemos atirar um dardo nele. Atiramos o dardo na direção indicada, mas quando a venda é removida, percebemos que o dardo está encravado num abajur, distante do alvo cerca de um metro. Ao atirar, havíamos feito mira na direção certa, mas erramos o alvo.
É assim que está o mundo hoje: errando o alvo. É isso que Salomão quer dizer quando fala: "Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de monte." (Pv. 14:12.) Quando Deus remove a venda de nossos olhos, e um pouco de luz penetra em nossa vida, aí então principiamos a enxergar pelo menos o contorno do alvo.
Vemos, por exemplo, como Deus começou a dar um senso de direção a uma jovem que nos escreveu o seguinte: "Não me encontro em dificuldades, ou coisas assim, mas sinto que preciso do auxílio de Jesus Cristo. Essa é minha primeira tentativa de buscar a ele. Tenho dezessete anos, mas desejo sinceramente considerar-me uma crente. Estou buscando... por favor, não me decepcione."
Sua carta demonstra que ela sente algo de errado em sua vida atual. Ainda não é capaz de definir o que está errado nela, e o que está certo em Cristo, mas sua vida sem Cristo carrega uma espécie de odor de morte, que ela deseja substituir pelo "perfume" de Cristo. Quando ela menciona que não se encontra em dificuldades, está querendo dizer que não está presa, nem desmoralizada de algum outro modo perante a sociedade. Mas, apesar disso, ela sente desassossego no coração.
Deus nos dá a lei para levar-nos a reconhecer que existe algo de terrivelmente errado em nossa vida, e que a morte – morte espiritual – é a conseqüência fatal disso. Essa lei é um conjunto de princípios que irá aguçar nosso julgamento moral, para que possamos identificar o pecado. Os Dez Mandamentos constituem a essência básica da lei. Eles são como um grande aparelho de Raios-X, que revelam a estrutura óssea de nossa pecaminosidade. As primeiras quatro chapas dizem respeito ao nosso relacionamento com Deus. As outras seis abordam nosso relacionamento com os homens.

Estudando as Chapas

"Não terás outros deuses diante de mim" (Êx. 20:3). Essa expressão "outros deuses" não se refere necessariamente a um buda de bronze ou a uma representação totêmica. Qualquer coisa que receber nosso interesse máximo é nosso deus. Os esportes podem ser o deus de alguém – também o trabalho ou o dinheiro. O sexo pode ser o deus de algumas pessoas, enquanto as viagens podem ser o de outras. Mas nosso interesse máximo deveria concentrar-se em Deus. Somente ele é digno de nossa adoração. Jesus disse que o grande mandamento era amar a Deus de todo o coração, alma, mente e forças. Se conseguirmos fazer isso, estaremos demonstrando que não temos outro deus além do Senhor.
"Não farás para ti imagem de esculturas" (Êx. 20:4). O primeiro mandamento diz respeito ao Ser a quem adoramos. Este segundo refere-se à forma como adoramos. Somos instruídos a adorá-lo sinceramente, com o coração totalmente dedicado a Deus. "O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração." (1 Sm 16:7.) Quando nos assentamos na igreja, cheios de religiosidade, mas ignorando a Deus, fazemos daquele templo um ídolo.
"Não tomarás o nome do Senhor ten Deus em vão" (Êx. 20:7). Isto não diz respeito apenas ao uso de imprecações, mas também a menção do nome da deidade, como Deus e Senhor, sem pensar no próprio Deus. Se cantamos as palavras de um hino maquinalmente, ou nos dizemos cristãos sem conhecermos a Cristo pessoalmente, estamos tomando o nome de Deus em vão.
Conta-se que Alexandre, o Grande, encontrou certa vez um indivíduo de caráter reprovável cujo nome era Alexandre. Então o general disse-lhe: "Ou transforme sua vida, ou mude de nome."
"Lembra- te do dia do sábado para o santificar." (Êx. 20:8.) De cada sete dias, um é designado pelas Escrituras para adoração especial e descanso. Jesus disse: "O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado." (Mc. 2:27.) Isto quer dizer me precisamos deste dia especial. Deus, em sua sabedoria, afirma que nosso corpo precisa desse dia para observar um tempo de descanso, assim como nosso espírito precisa dele para o culto. O costume de algumas pessoas de utilizar os fins de semana para prolongados períodos de lazer e entretenimento excluindo a adoração a Deus, implica em que perdem tanto os benefícios do lazer como os do culto.
Sabemos que uma nação ou indivíduo que trabalha sete dias por semana sofre danos físicos, psicológicos e espirituais. Todo tipo de maquinaria precisa de uma cessação ocasional.
"Honra a ten pai e tua mãe." (Êx. 20:12.) Este texto não coloca limite de idade para esta honra. Tampouco diz que os país devem ser pessoas honradas, para merecerem honra. Isso não significa, porém, que temos que "obedecer" pais que talvez sejam desonrosos. Não somente durante a nossa infância, mas enquanto nossos país viverem, temos que honrá-los, se é que queremos obedecer a Deus. Essa honra tem muitos aspectos: afeição, apoio moral, ajuda financeira, respeito. No entanto, em nossos lares, ouvem-se mais palavras ásperas que qualquer outra coisa. Dizemos a nossos país coisas que nunca dizemos a amigos, no trabalho ou na igreja.
"Não matarás." (Êx. 20:13.) O ato do assassinato propriamente dito é a culminância de muitas emoções. Por trás dele, acham-se atitudes de irritação, inveja e ódio. Disse Jesus: "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão está sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno do fogo." (Mt. 5:21,22.) Será que alguém é capaz de dizer que nunca se irritou contra alguém? Todos nós somos culpados da transgressão desta lei mesmo que nunca tenhamos tirado a vida de ninguém.
"Não adulterarás." (Êx. 20:14.) Cerro filósofo disse: "Um dos fatos mais extraordinários com relação às religiões não cristãs é que muitas vezes a imoralidade e a obscenidade florescem sob o manto protetor da própria religião. Já se tem dito, e com verdade, que a castidade foi a virtude completamente nova que o cristianismo introduziu no mundo. Embora isto seja verdade, o fato é que este mandamento não se aplica apenas à castidade. Ele não implica apenas em desonrar a própria esposa ou o próprio marido, mantendo relações sexuais com outra pessoa; diz respeito também à mentalidade que está sempre preocupada com o sexo. Diz respeito ao ato de olhar para um homem ou uma mulher com intenção ou desejo lascivo. Para Deus, a pureza é, primeiramente, uma atitude do coração, depois então é um ato.
Com as coisas nestes termos, é possível que o leitor diga: "Isto é ridículo. Ninguém consegue obedecer este mandamento fielmente." E estará com toda razão.
"Não dirás falso testemunho contra o ten próximo." (Êx. 20:16.) Pensamos sempre que testemunha é uma pessoa que comparece a um tribunal para prestar declarações. Se na cadeira de testemunhas mentirmos dizendo: "Mas, meritíssimo, esse homem provocou meu cachorro, e por isso ele o mordeu. Ele bateu em meu cachorro com uma vara, e então o animal o atacou em autodefesa", quando, na realidade, o cão abocanhara a perna do vizinho sem qualquer provocação, então estaremos mentindo.
Mas, e se se trata de um mexerico "inocente"? O mandamento foi transgredido do mesmo modo.
"Não cobiçarás." (Êx. 20:17.) Quando tomamos algo que não nos pertence, isso é roubo. Roubar é um ato; cobiçar é uma atitude. Quando desejamos algo que pertence a outrem, isto é cobiça. Quantos casamentos têm terminado em divórcio, simplesmente porque um homem começou a pensar mais nos atributos da mulher do próximo, do que na sua? Este mandamento diz que não podemos cobiçar nada, e isto inclui o carro, o aparelho de TV do próximo e até sua tenda de camping.

O Diagnóstico do Raio-X

Será que alguém, pode ler e entender os mandamentos sem sentir-se incriminado por eles? Eles revelam a situação do nosso coração. O apóstolo Tiago comentou que até mesmo um só mandamento transgredido é suficiente para destruí-nos. Se estivermos suspensos sobre um abismo, seguros por uma corrente de dez elos, quantos deles precisam romper-se para que caiamos no abismo? "Pois, qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos." (Tg. 2:10.)
A Bíblia e nossa consciência nos dizem que erramos o alvo seriamente, e que somos pecadores. O que um Deus santo faz? Como Deus age com relação a nossos pecados?
Temos uma resposta a respeito disso nas palavras de um jovem que se tornou dolorosamente cônscio do mandamento: "Não furtarás." Disse ele: "Minha vida não era propriamente um mar de rosas. Antes de completar treze anos, eu já era ladrão, tanto no coração como em palavras e ações. Fui preso muitas vezes. Cumpri termo num reformatório, e, depois que saí, em menos de uma semana, estava roubando de novo." Disse que sua família desistiu dele completamente, e que achava que seu futuro estava destruído. Certa noite, ele ouviu a pregação do evangelho pela televisão, arranjou uma Bíblia e começou a lê-la. Em seguida, ele pediu a Cristo que o perdoasse por seu passado pecaminoso. Atualmente ele está esperando em Cristo, para que assente novas bases para sua vida e lhe dê um novo futuro.
Como Deus pode perdoar-nos? O que acontece quando o pecado se torna uma constante em nossa vida? E se somos arrastados pela síndrome do pecado? Existe alguma esperança para nós?
Se não houvesse esperança, eu não estaria escrevendo este livro. Se não houvesse possibilidade de uma solução, você não o estaria lendo!

DEUS TEM A SOLUÇÃO PARA OS MALES DO ESPÍRITO?

Um médico australiano relatou-me uma conversa que se passou entre um homem e o barbeiro. Enquanto trabalhava com a tesoura, o barbeiro observou: "Humm – estou vendo que está com uma ferida nos lábios."
"É", replicou o cliente, "é o cigarro que causa isso."
"Bem", disse o outro, "não parece estar-se cicatrizando."
"Ah, mas vai sarar; vil sarar", respondeu o homem confiantemente.
Um mês depois esse homem voltou à barbearia. A ferida de seu lábio estava bem maior e apresentava um feio aspecto...
"Não se preocupe", disse ele ao barbeiro; "agora estou usando uma piteira. Deve sarar logo."
Mas o barbeiro não pôde deixar de preocupar-se com aquele cliente e arranjou algumas fotos de casos de câncer dos lábios. Mostrou-as ao amigo, instando com ele a que comparasse as figuras com seu próprio lábio.
"É; realmente são parecidos", admitiu ele. "Mas não me preocupo."
No mês seguinte o homem não apareceu para o costumeiro corte de cabelo. Telefonou para a casa dele, para indagar a seu respeito, e recebeu a seguinte resposta: "Ah, você não sabia? Ele morreu de câncer há dois dias."
O pecado é como o câncer: destrói pouco a pouco. Lentamente, sem que nos apercebamos de sua insidiosa presença, ele vai-se alastrando, até que por fim o diagnóstico final é pronunciado: "Doente, à morte."
Certo homem estava descrevendo sua vida para nós, como fora criado em um lar cristão, na Europa, depois viera para os Estados Unidos, quando jovem, para tentar a sorte. Convertera-se a Cristo, mas depois se desviara. Cedendo a uma tentação, e depois a outra e mais outra, ele encontrou-se, finalmente, numa situação que considerava irremediável. Nunca me esquecerei do modo como ele descreveu sua condição. "Era como se estivesse nadando no mar, quando ocorre uma forte corrente submarina", explicou ele. "A gente não percebe que está-se afastando demais da praia, enquanto não sente, de repente, que está sem pé, tentando nadar desesperadamente, mas incapaz de resistir à força da maré vazante."
Mas, se não conhecermos alguns dos sinais de perigo, como iremos procurar socorro? Podemos obter o auxílio que a Bíblia nos apresenta, quando sabemos quais são as partes de nossa personalidade que o pecado ataca e corrompe.

Ataque à Mente

É possível que uma pessoa seja excepcional em certos aspectos, mas completamente despreparada quanto ás realidades espirituais. A Bíblia ensina que existe um véu que encobre nossa mente, e que precisa ser removido para que possamos conhecer a Cristo. Sem este desvendamento espiritual não podemos chegar a Deus.
Às vezes ouvimos pessoas dizerem: "Como um homem inteligente pode crer na Bíblia, com todos aqueles mitos e contradições?" (Querendo dizer com isso que o evangelho de Jesus Cristo é anti-intelectual.) Esta inferência é falsa. A compreensão exige o esforço da mente, mas quando a mente está afetada pelo pecado, ela é nebulosa e confusa.
Joel Quinones era um exemplo típico de pessoa cuja mente estava sob os efeitos deste ataque. Eu o conheci em San Diego, ande fiquei a par de sua extraordinária história. Joel fora preso pela primeira vez com a idade de oito anos, por haver tentado matar um homem sádico que batera nele, e o queimara com pontas de cigarro. Quando Joel foi solto, saiu da cadeia transformado num "poço" de ódio, e daí por diante, fez tudo para demonstrar seu desprezo pela sociedade. Em conseqüência disso, aos dezenove anos, achou-se na prisão de San Quentin, e ali passou doze anos. Entregue aos psiquiatras da instituição, estes o examinaram, deram-lhe tratamento de choque elétrico, e depois, declararam-no "louco criminoso".
Joel foi colocado entre os incorrigíveis. Na hora das refeições, o alimento lhes era entregue numa espécie de pá de cabo longo, introduzida pelo vão que havia sob a porta dupla. "Nem mesmo um tigre precisa ser alimentado dessa forma", disse-nos Joel, "mas era assim que nos tratavam ali."
Depois de ele haver passado todos aqueles anos em San Quentin, o governo decidiu livrar-se de todos os estrangeiros indesejáveis, e Joel, juntamente com outros mexicanos, foi levado para o outro lado da fronteira, e ali solto. Sua mãe era uma pessoa crente, que trabalhava como cozinheira numa escola bíblica, e estivera presente ao primeiro julgamento em que ele fora condenado. Então ela lhe dissera: "Joel, isto não é o fim. Jesus tem uma obra para você."
E quando ele foi solto no México, ela estava ali para recebê-lo. Abraçando-o, ela disse: "Joel, você precisa do Senhor Jesus; precisa pedir-lhe perdão dos pecados, pedir-lhe que lhe dê um novo coração e uma nova vida."
Joel tentou resistir, mas o Senhor começou a operar em seu coração, e depois de algum tempo, já era outra pessoa. Foi para uma escola bíblica; casou-se com uma das alunas, e hoje é capelão de uma prisão no México. Já ganhou tantos prisioneiros para Cristo, que agora está tentando construir um lar para a reabilitação de detentos, antes que estes se reintegrem na sociedade – a "Cidade de Refúgio".
O pecado afetara a vida de Joel, mas o poder transformador de Cristo o dotou com novas qualidades.
Enquanto escrevo, tenho diante de mim uma faca de cabo de osso, cuja lâmina tem mais de doze centímetros de comprimento, arma esta que pertenceu a um homem de nome Joe Medina. A história de Joe é uma das mais incríveis, cômicas e espantosas demonstrações do poder de Deus numa vida que poderia ser considerada por alguns como a mais irrecuperável que já se conheceu. Falamos de mente atacada pelo pecado? Joe simplesmente não conseguia raciocinar em termos de certo e errado.
Ele fora criado em um gueto do Bronx, em Nova York. Sua mãe e as duas avós eram médiuns espíritas. As ruas de Nova York haviam sido o seu lar, desde a mais tenra infância, e as batalhas de gangues, as lutas de faca, roubos e mentiras haviam sido seu modo de vida. Ele foi um dos jovens rebeldes e desesperados da década de 60 – viciado em drogas, e ladrão habilidoso.
Aconteceu, porém, que Joe foi a uma reunião em que pregava Akbar Hacq, um de nossos evangelistas. Antes que a norte terminasse, ele entregou o coração a Jesus Cristo. No dia seguinte ao da sua conversão, um de seus amigos tentou convencê-lo a ir com ele obter algumas drogas, mas Joe não queria ser incomodado. O amigo puxou de uma faca e tentou feri-lo. Foi uni grande erro. Joe era de compleição franzina, mas, numa briga de faca era rápido como um corisco, e antes que se desse conta do que acontecera, enterrara a arma (a que agora se acha em minha escrivaninha) no companheiro. O rapaz que ele feriu ficou no hospital durante duas semanas.
Como Joe não tivesse uma base cristã em que se apoiar, passou por muitos altos e baixos na vida espiritual. Matriculou-se em uma pequena escola evangélica em nossa região, mas abandonou-a antes de concluir o primeiro ano. Ainda não estou muito certo quanto aos motivos que o levaram a tal decisão, mas creio que foi uma vaga noção de que devia voltar ao Bronx e testemunhar de sua fé aos companheiros.
Minha esposa tentou conversar com Joe antes de ele sair, e insistiu com ele para que assistisse à cruzada que realizaríamos no Madison Square Garden. Soube depois que numa das noites de conferência, Joe reuniu alguns de seus amigos valentões e foi com eles ao ginásio. Mas quando lá chegaram, o recinto estava lotado e as portas fechadas. O policial de guarda não deixou que entrassem. Eu havia recebido uma amaça contra a minha vida naquela noite, e a polícia estava encarando com muita seriedade qualquer indivíduo de aparência suspeita. E Joe e seus amigos se enquadravam perfeitamente nessa descrição.
Eles conversaram entre si por um momento, e por fim decidiram avançar contra o policial. Conseguiram chegar à galeria mais elevada do ginásio, mas de repente encontraram-se frente à f'rente com uma muralha de policiais à paisana, que avançava em sua direção. Virando-se para escapar, viram-se diante de outra linha de policiais. Foram atirados para fora do recinto sem mais explicações. Quando ouvi falar disso depois, pensei: "Ah, não! Justamente as pessoas que queremos ganhar."
Apesar disso, Joe não se modificou e na noite seguinte trouxe seu irmão e irmã para a reunião. Ambos foram à frente, recebendo a Cristo.
Mas, durante algum tempo, Joe teve muitas dificuldades, enquanto corrigia seu senso de valores. Certa vez telefonou para Ruth e disse que queria falar-lhe. Logo que chegou, ela percebeu que havia qualquer coisa errada com ele. "Que foi que você fez, Joe?" perguntou ela.
"Ruth, eu assaltei um posto de gasolina."
"Ah, Joe; por que você fez isso?"
"Bem, foi o seguinte: eu tenho um amigo, você sabe. Ele precisava de dinheiro e nunca havia assaltado um posto antes. Puxa, Ruth, achei que era meu dever de cristão ajudá-lo."
Ruth perguntou-lhe quanto haviam roubado, e depois indagou se seu amigo era crente. Não era, respondeu Joe. Ruth explicou-lhe então que ele teria que responsabilizar-se em devolver a quantia toda. Joe pareceu haver levado um soco na boca do estômago. Depois ela lhe perguntou, à queima-roupa, se tinha mais alguma coisa em seu poder que fora roubada. Ele fitou-a espantado, e respondeu-lhe, como se aquela fosse a pergunta mais idiota que alguém já lhe fizera: "Tudo que possuo!"
Joe devolveu tudo que roubara. Depois de mais alguns avanços e recuos na caminhada cristã, coisas que não me interesso em relatar, ele foi finalmente admitido na escola evangélica Columbia Bible College. No último ano foi eleito vice-presidente do corpo docente, e hoje faz um curso de pós-graduação, possuindo um admirável conhecimento bíblico, e grande amor pela Palavra de Deus.
Recentemente, ele veio passar um fim de semana conosco e o pastor da igreja presbiteriana de nossa localidade pediu-lhe que desse seu testemunho, e falasse um pouco acerca de seu ministério. Joe contou como se identificara com os toxicômanos, rebeldes e marginais. Seu relato foi tão cheio de sabor, de humor e compaixão, que os ouvintes saíram dali com a certeza de que "ninguém é irrecuperável".
Somente aqueles que conhecem Joe desde o começo, podem avaliar plenamente as maravilhas do novo nascimento na vida deste jovem. Sua mente fora tão atacada pelo pecado, que foi preciso um longo tempo para que o processo curativo se completasse. Quando nascemos de novo, somos todos bebês, e não crentes maduros; e os bebês precisam de muito amor e paciência.
A Bíblia ensina que o pecado afeta a mente do homem, quer esta mente seja de uma inteligência superior, ou apenas regular. Uma pessoa pode ser intelectualmente brilhante, mas espiritualmente ignorante. "Ora, o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus... e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente." (1 Co. 2:14.)
Uma mente intelectual pode ser transformada, quando Cristo entra no coração.
Gerhard Dirks, um dos homens mais inteligentes do mundo, que segundo consta, tem um QI de 208, possui mais de cento e quarenta patentes junto à companhia IBM, e já tentou, teoricamente, reproduzir o cérebro humano. Mas ele ficou completamente perplexo e aturdido ao constatar a total impossibilidade desse feito. Não sabia o que fazer ou a que recorrer. Ele só podia chegar a duas conclusões: ou o cérebro humano resultava de um fantástico acaso, ou de um planejamento altamente inteligente. Encarando as duas possibilidades, reconheceu que tinha apenas uma escolha, e tornou-se um crente, por uma revelação de Jesus Cristo, cuja inteligência ele nunca poderia superar.
O Dr. Boris Botsenko um brilhante fisico-matemático de origem russa, estava assistindo a uma conferência de cientistas em Edmonton, e, no hotel pegou uma Bíblia gideonita. Leu-a e através dela recebeu a Jesus Cristo, e nasceu de novo. Agora ele trabalha no departamento de pesquisas da Universidade de Toronto.

O Ataque à Vontade

Mas o pecado ataca também outra faceta de nosso ser – a vontade. Disse Jesus: ''Todo o que comete pecado é escravo do pecado." (Jo. 8:34.) Mesmo nos países onde há liberdade política, existem milhões de pessoas que vivem sob a tirania do orgulho, do ciúme ou do preconceito. Outras são escravas do álcool, dos barbitúricos ou dos tóxicos. Estas pessoas possuem características que detestam, ou são consumidas por desejos que desprezam, mas sentem-se impotentes contra eles. Tais pessoas desejam libertar-se, e algumas buscam essa libertação através dos meios oferecidos pelo homem. Mas Cristo disse: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará." (Jo. 8.32.) E Cristo é essa verdade.
Já conheci muitas pessoas que conseguiram libertar-se do cativeiro da vontade e do desejo.
Em maio de 1972, certo pastor fez um apelo evangelístico, e um homem de nome Johnny Cash levantou-se, desceu pelo corredor central, e foi até o altar, onde se ajoelhou. Johnny conta que entregou sua vida a Jesus Cristo naquele dia. Este é um homem cuja existência havia sido profundamente malbaratada pelas drogas e pela prisão, e que se tornara uma espécie de herói no mundo da música "caipira" dos Estados Unidos. Atualmente, ele é uma força para o bem, no mundo, e está sendo muito usado na causa de Cristo.
Tenho em meu poder um cachimbo de haxixe, como recordação de um jovem que fora escravo das drogas. Ele quase destruíra a própria vida, bem como a da jovem que amava. Em conseqüência disso tudo, certo dia, dirigiu-se de carro para um lugar deserto e solitário, e ali cortou os pulsos. Evidentemente, não fez um corte muito profundo, pois o sangue estava escorrendo muito lentamente, e ele pensou que naquele ritmo iria levar muito tempo para morrer. Então deitou-se sob o carro, com o motor ligado, cobriu-se com um cobertor, e começou a aspirar os gases.
Relatou depois que, quando começou a ficar sonolento por causa dos vapores, fez uma oração a Deus, pedindo-lhe que o perdoasse pelo que estava fazendo. De repente, sobreveio-lhe uma horrível sensação de trevas, e reconheceu que o que estava para fazer não agradava a Deus. Fraco, com os pulsos sangrando e a sua mente entorpecida, dirigiu o carro para a casa de um pastor. Este levou-o para um hospital. Depois que o jovem foi socorrido, o pastor explicou-lhe que somente Cristo pode fazer expiação pelos nossos pecados, e libertar-nos da culpa do pecado, e conceder-nos o gozo de um coração perdoado.
Este jovem hoje é bem casado, e se constituí numa influência positiva para a vida de muitos.
O ódio acumulado no coração de uma pessoa também é uma espécie de tirania que faz de qualquer um escravo do pecado, que ataca sua vontade. Alguns anos atrás, o Dr. William P. Wilson, professor de psiquiatria do centro médico da Universidade Duke sistematicamente afastava a Bíblia de seus pacientes do centro. Mas depois ele experimentou o poder de Jesus Cristo, que transformou sua vida, e sua prática da medicina. Hoje ele aplica os conhecimentos que obteve no evangelho, no tratamento de seus pacientes. Ele dispõe sempre de alguns exemplares da Bíblia em seu consultório para distribuir. Diz o Dr. Wilson: "Uma das maiores causas da doença mental é o senso de culpa acumulado. Sentimentos de vergonha, inadequação, fracasso, deficiência total, são algumas das origens dos sentimentos de culpa. A solução do problema da culpa é a aplicação da graça divina, e o novo nascimento conduz ao perdão dos pecados."
Para muitas pessoas, o perdão é difícil de ser acreditado. O Dr. Warren Wiersbe, de Chicago, chama o perdão de "á maior milagre da Bíblia".
Tenho em meu poder uma carta de uni jovem que disse: "Em 1971, abandonei a Universidade Northwestern e me tornei traficante de drogas. Durante sua cruzada em Chicago, atendi ao apelo e fui à frente. Pedi ao Senhor Jesus Cristo que me salvasse, embora eu pessoalmente não estivesse muito sentido pelas minhas práticas erradas. Pedi-lhe também que perdoasse meus pecados (eu tinha um conceito intelectual deles, mas, pessoalmente, não os sentia), e que se revelasse a mim de uma forma pessoal.
"Estava esperando um relâmpago celeste que viesse derrubar-me, ou então esperava que Deus me fizesse passar por um colapso mental, para acertar minha mente e usá-la para sua glória. Desnecessário é dizer que ele não fez nada disso. Comecei a ficar decepcionado, e também um pouco assustado, e pensei que todo aquele negócio de Deus, afinal, poderia vir a revelar-se como sendo uma tremenda fraude. Naquele instante, um conselheiro, um senhor de meia idade, cabelo aparado, trajando um terno, com uma Bíblia na mão, aproximou-se de mim, pregou em minha camisa um desses dísticos acerca de Jesus, e apertou-me a mão: "Que Deus o abençoe, meu jovem!" disse ele. Imagine só! Um "careta" desses apertando minha mão – eu, um estranho hippie. O amor de Deus revelado através dele, mostrou-me que Jesus me amava, independentemente de como eu me vestia, e de meu desprezo pela sociedade. Aquele ato simples atingiu-me em cheio, e, de repente, compreendi a simplicidade da salvação de Deus. Ele não queria submeter-me ao sofrimento de um colapso mental – tudo que queria que eu fizesse era que recebesse seu Filho, como eu acabara de fazer."

Quando a Consciência Falha

O pecado não somente afeta a mente e a vontade, mas também a consciência. Começamos a ficar muito lentos para perceber a aproximação do pecado. É como contar uma mentira. Na primeira vez que passamos adiante uma inverdade, aquilo realmente nos aborrece; mas com a repetição do fato, a consciência deixa de ser nosso guia, e, pouco depois, o hábito já está tão arraigado, que passamos a pensar que a mentira é verdade. Perdemos a sensibilidade às coisas que sabemos serem erradas.
Certa vez, Joe Medina, o jovem a quem já me referi anteriormente, ligou para minha esposa de um telefone público, e disse-lhe: "Ruth, não estou bêbedo, mas queria dizer-lhe uma coisa."
Ruth perguntou-lhe por que estava chamando de uma cabine. Ele explicou que estivera passeando de carro com um amigo que trazia consigo uma dose de uísque num vidro, e que seu amigo não tinha carteira de motorista do Estado de Carolina do Norte, e, portanto, não podia estar dirigindo ali, e muito menos bebendo ao volante. Então, Joe, com seu raciocínio típico, explicou: "Senti que era meu dever de crente beber aquela dose de uísque para ele."
Nunca deixo de admirar-me da paciência de minha esposa. Ela lhe disse: "Joe, você bebeu esse uísque porque queria beber." Houve uma longa pausa. Depois, "Ruth, você tem toda a razão", disse ele.
Joe acostumara-se a chamar o mal de "bem". Ele sabia mentir, trapacear e racionalizar todo tipo de situação a fim de safar-se dela. Se não fosse pela graça de Deus, ele ainda seria assim até hoje.
Os resultados desse mal – não conhecer a diferença entre o certo e o errado – estão manifestos em várias partes da Bíblia. Quando Davi fitou Bate-Seba pela primeira vez, deu início a uma cadeia de erros, que foi de adultério, para mentira, e até o assassinato. Davi foi perdoado pelos seus pecados, mas teve que sofrer as conseqüências naturais dele. Colheu o fruto amargo que plantara, e seu reinado foi anuviado por constantes dificuldades.
Em vista da maneira como permitimos que nossa consciência fique amortecida, é admirável observar-se a paciência de Deus. A Bíblia diz: "Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento." (2 Pe. 3:9.)
Mas não importam as dimensões da paciência de Deus, ele é sempre justo. Quando o homem endurece o coração, Deus continua a falar-lhe, mas o homem não pode ouvir. O texto de Gênesis 6:3 diz: "O meu Espírito não agirá para sempre no homem". E se eventualmente Deus percebe que certa pessoa não se arrependerá, diz a Bíblia que "Há pecado para morte" (1 Jo 5:16). Isto se refere à blasfêmia contra o Espírito Santo, que é a rejeição absoluta do plano divino para nossa salvação, que também é descrito em Hebreus 6:4-6.
"É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia."
Quando a consciência de um homem está acabada, ele emprega toda espécie de desculpa para justificar suas ações. Ele inculpa sua família, seus sócios na firma, seus azares. Ele trapaceia no imposto de renda, porque as leis são injustas. É infiel à esposa (ou a esposa ao marido) porque ela é fria – ou ele é egoísta. O bem e o mal já não existem mais, e a vida toda é vivida nas faixas de tons neutros.
Em Atenas, descobriu-se que a erosão das estátuas e colunas do Partenon, ultimamente, tem atingido um índice acelerado. E não foi o tempo nem as intempéries que causaram a iminente destruição destes inestimáveis exemplares da arte antiga, mas a poluição dos resíduos de nossa sociedade moderna. Do mesmo modo, não são as grandes tempestades da vida que nos abalam, mas a gradual e insidiosa poluição do pecado, que termina por efetivar nossa destruição.

Doente, à Morte

Assim como o crime exige uma punição, o pecado tem seu castigo. Embora este seja um assunto que as pessoas preferem ignorar, a verdade é que esse fato é inevitável. Não somente cada um de nós sofre nesta vida como resultado do pecado, mas cada um terá que enfrentar o julgamento. "Porque o salário do pecado é a morte." (Rm. 6:23.)
Primeiro, é a morte física. A Bíblia nos diz que: "Aos homens está ordenado morrerem uma só vez" (Hb. 9:27). Incidentalmente, isto derrota completamente a idéia da possibilidade de uma reencarnação.
A morte é inevitável, e, em muitos casos, imprevisível. E para cada um de nós haverá um dia, uma hora, um minuto quando, fisicamente, não seremos mais terrenos. Se Deus não houvesse decretado o castigo da morte, a Terra logo se tornaria um lugar inabitável, pois os homens viveriam para sempre em seus pecados.
Mas como a vida é breve, a Bíblia nos ensina assim: "Prepara-te... para te encontrares com o teu Deus." (Am. 4:12.) No decurso de minha vida tenho conhecido inúmeras pessoas que estão plenamente preparadas para se encontrarem com Deus. Existe uma diferença espantosa entre estas e as pessoas que levam uma vida sem Deus.
Nunca me esquecerei de certa época em 1973. Foi o ano em que um dos maiores cristãos que já conheci entrou no reino dos céus. Era meu sogro, o Dr. L. Nelson Bell. O Dr. Bell serviu a Cristo durante muitos anos na China, como médico missionário. Em 1972, ele fora moderador da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, a mais elevada honra que essa denominação poderia prestar a alguém. Na noite anterior ao seu falecimento, ele falou na Conferência de Missões Mundiais, em um grande auditório em Montreal.
Ao fim de sua palestra, ele disse: "Antes de orar, quero dizer algumas palavras. Depois de ouvir o cântico desse hino, ninguém pode negar que nossa Igreja Presbiteriana está-se despertando. Agora, neste lugar, há dois tipos de pessoas. Há aqueles que são salvos e amam o Senhor Jesus Cristo, e há aqueles que ainda não conhecem a Cristo. Minha esperança é que antes de deixarem este recinto essas pessoas venham a conhecê-lo como seu Salvador e Senhor. O Senhor disse: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo."
Foram as últimas palavras que o Dr. Bell pronunciou em público. Naquela noite, ele foi dormir, e quando acordou encontrava-se na presença de seu Senhor. Sua vida completara seu círculo. O hino predileto do Dr. Bell era: "Pelo caminho que o Salvador me conduzir", e quando o vi naquela manhã, foi um grande conforto para mim contemplar um rosto tão tranqüilo.
Ele estava preparado para encontrar-se com Deus.
Lembro-me de ter ouvido as últimas palavras de Pearl Goode, uma extraordinária mulher que durante muitos anos foi um de nossos principais sustentáculos em oração, muitas vezes buscando voluntariamente o isolamento para orar dia e noite por nossa equipe da associação, onde quer que se encontrasse. Ela gozava de uma comunhão tão íntima com Deus que, quando chegou seu momento de partir, sentou-se na cama e disse: "Bem, lá está ele. Lá está Jesus." Ela estava preparada para encontrar-se com Deus.
Em julho de 1976, houve uma inundação repentina no Colorado, que ceifou a vida de muitas pessoas. Entre as vítimas contavam-se algumas jovens crentes que estavam ali num retiro, nas montanhas. Os homens encarregados de recolher os corpos daqueles que haviam sido mortos, relataram mais tarde, que a maioria dos cadáveres estampavam no rosto uma expressão de pavor; mas eles ficaram assombrados ao perceber que cada uma das moças parecia estar em perfeita paz. Elas estavam preparadas para se encontrarem com Deus.
A vida é tão curta. A Bíblia diz que temos que estar preparados, em todos os momentos, para encontrar Deus. Nunca sabemos o que nos aguarda, quando entramos em nosso carro, ou saímos pela porta da rua, ou simplesmente quando abrimos os olhos para um novo dia. "Visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem puseste limites, além dos quais não passará." (Jó 14:5.)
A segunda dimensão da morte é a morte espiritual. Milhões de pessoas na Terra estão fisicamente vivas, mas espiritualmente mortas. Quando nossos olhos e ouvidos se abrem para os clamores do próximo, ouvimos aqueles que dizem ter uma vida vazia e estarem perdidos. Tais pessoas estão desvinculadas da fonte da vida, como um abajur desligado da tomada – são sombrios e sem vida. O abajur pode até ser muito valioso, possuir um belo quebra-luz, que atrai a atenção de todos, mas se não estiver ligado à energia, não tem luminosidade. Jesus disse: "Eu sou a vida."
Jornais e revistas de todo o mundo noticiaram o suicídio de Freddie Prinze. Aos vinte e dois anos de idade ele atingira uma das posições mais elevadas no mundo artístico. Era muito querido do público feminino da televisão americana, e acabara de realizar um show de gala perante o presidente, em sua posse, em Washington. Contudo, havia alguma coisa errada na vida daquele talentoso artista. Um amigo chegado, o comediante David Brenner, explicou o seguinte à revista Time: "Na vida de Freddie não houve aquela transição gradual. O sucesso para ele foi como uma explosão. É terrível para uma pessoa de dezenove anos, um dia estar viajando de metrô, e no dia seguinte saltar de um Rolls Royce."
O produtor James Komack, também seu amigo e confidente, disse: "Freddie não via nada em sua vida que o satisfizesse. Às vezes, ele me perguntava: "É isso, a fama? É só isso?" E Komack explicou: "Seu verdadeiro desespero, quer ele pudesse expressá-lo ou não, girava em torno de questões tais como: Onde me enquadro nessa vida? Onde está a felicidade? E eu lhe respondia: "Por Deus, Freddie, sua felicidade está bem aí. Você é um grande astro." E ele dizia: "Não. Isso já não significa felicidade para mim." E, como comenta a revista Time ao encerrar o artigo: "Num dos mais singulares casos de fuga na história do gueto, a fuga não foi suficiente."
Podemos estar fisicamente vivos, mas espiritualmente mortos, como a mulher que Paulo descreve em 1 Timóteo 5.6: "Mesmo viva, está monta."
A terceira dimensão da morte é a morte eterna. Isso pode ser um assunto que muitas pessoas tentam evitar. Ouvimos falar bastante de "inferno na Terra", mas existe outro inferno que é mais real e fatal – o inferno da morte eterna. O próprio Jesus falou muitas vezes acerca do inferno. Ele nos adverte do inferno que haverá. As Escrituras ensinam que estaremos sozinhos ali, e sofreremos sozinhos as nossas dores. No inferno não existe nenhum tipo de confraternização, a não ser com as trevas. Já ouvi pessoas dizerem: "Se eu achasse que meu pai estava no inferno (ou qualquer outro ente querido) seria para lá que eu quereria ir." Que ilusão! O inferno é o lugar mais solitário que se pode imaginar.
Jesus advertiu os homens nos seguintes termos: "E irão estes para o castigo eterno." (Mt. 25:46.) E disse também: "Mandará o Filho do homem os seus anjos que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes." (Mt. 13:41,42.)
A necessidade de se falar sobre a eternidade nunca é mais premente do que quando somos confrontados com a monte física.
Uma conhecida nossa contou-me que no dia seguinte ao falecimento de seu filho num acidente de avião, ela estava com a casa cheia de pessoas que haviam ido até lá levar-lhe consolo e amor, e a caldeira do aquecimento começou a apresentar problemas. Um bombeiro foi chamado para repará-la. Após ter examinado o aquecedor, ele disse: "Minha senhora, se houvessem demorado um pouco mais a chamar-me, a caldeira poderia ter explodido." E, apesar de todo o sofrimento, ela parou, fitou aquele homem diretamente nos olhos e disse: "Mas há somente uma coisa que realmente importa neste momento. Se a caldeira houvesse explodido enquanto o senhor trabalhava nela, sabe com certeza onde passaria a eternidade?"
E antes de deixar aquela casa, ele aprendera como poderia obter certeza de seu destino eterno.

As Duas Faces do Homem

O homem tem duas faces. Uma revela sua engenhosidade, sua capacidade de criar, de ser bondoso, de reverenciar a verdade. A outra mostra o homem utilizando sua engenhosidade para o mal. Vemo-lo praticar atos de bondade de uma forma ardilosa, a fim de conseguir um intento seu. Vemos uma faceta dele apreciando um belo pôr de sol, mas ao mesmo tempo empenhando-se em projetos que enchem a atmosfera de resíduos que vão obscurecer aquele mesmo pôr de sol. Sua busca da verdade, muitas vezes, acaba numa competição no sentido de se realizar uma descoberta científica com o fim de obter o crédito para tal feito.
O homem é, ao mesmo tempo, honrado e degradado.
A necessidade de um renascimento espiritual está evidente até para o mais desinteressado observador da natureza humana. O homem está caído e perdido, e alienado de Deus. Desde o início, todas as tentativas feitas para recuperá-lo de seu estado de perdição revelaram uma das duas condições seguintes.

Plano A e Plano B

Lembram-se de Caim e Abel? Os filhos de Adão e Eva representam o plano A e o plano B da salvação. Um deles, Caim, escolheu seu próprio método para aproximar-se de Deus. O outro, Abel, foi obediente e utilizou o método proposto por Deus, o plano B.
Caim agiu como um materialista auto-suficiente e humanista religioso. Trouxe ao altar a expressão de seu próprio esforço; tornou-se o protótipo de todos os que se atrevem a aproximar-se de Deus, sem o derramamento de sangue.
Mas o método de Caim não deu certo para ele. Nunca deu para ninguém, e não dará certo hoje tampouco. Somente Deus pode fazer um diagnóstico adequado de nossa enfermidade, e providenciar o remédio para sua cura. Deus escolheu o sangue como meio de redenção. O apóstolo João escreveu que Jesus Cristo "pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados". (Ap. 1:5.)
Quando Jesus Cristo, o perfeito Deus-homem, derramou seu sangue na cruz, ele entregou à morte sua vida pura e imaculada, em sacrifício eterno pelos pecados do homem. Sem o sangue de Cristo, o pecado é uma doença para morte.
Cada um de nós terá que escolher entre os dois métodos o método humano e o método divino. Qual será?




























O HOMEM QUE É DEUS

Escrevo este capítulo pouco depois do Natal. Os cartões de boas-festas ainda estão chegando, atravancando a caixa do correio, e encantando a vista. Muitos deles contém figuras de Jesus, alguns como um bebezinho num berço tosco, outros, como um pastor de ovelhas, cercado de crianças. O mundo está sempre impressionado com a possível aparência dele. Desde as magníficas catedrais da Europa, até as menores classes de escola dominical dos Estados Unidos, vemos quadros que apresentam uma concepção artística acerca de Jesus. Certa vez, estive na África poucos dias antes do Natal, e vi Jesus representado como um bebê negro. No ano passado, estivemos no Oriente durante as festas natalinas, e o vimos representado como um oriental.
Qual é a imagem que o mundo tem de Jesus Cristo? Alguns o visualizam como um homem claro, de olhos azuis, com um sorriso brando, cabeça encimada por um etéreo halo de luz. Nos Estados Unidos, o novo e popular Jesus é um tipo simpático e viril, com um charme robusto, e muito atraente. É provável que Jesus se parecesse com um homem do Oriente Médio, de pele queimada – na verdade, não sabemos. E está certo que não saibamos como eram seus traços físicos – pois hoje ele pertence ao mundo.
Não importa a imagem física que fazemos dele, Jesus Cristo não tem um retrato mais forte que o da Bíblia. É o retrato de um homem que é Deus. O fato de que Jesus Cristo é Deus constituí o ponto central de toda a crença. É o fundamento do cristianismo. E como o modo mais prático de se derrubar qualquer edifício é destruir ou enfraquecer suas bases, os homens têm sempre tentado contestar, ignorar ou zombar das alegações de Cristo quanto à sua divindade. Entretanto, nossa esperança de sermos redimidos do pecado, depende da divindade de Cristo.
Quem é ele?


Jesus – Singular Sob Todos os Aspectos

Sabemos que Jesus existiu. Ele foi uma pessoa que ficou na História. mas também um homem que pertence a todos os tempos e épocas. Tácito, talvez o maior historiador romano nascido no primeiro século, faz referência a Jesus. Josefo, historiador judeu nascido em 37 A.D., relata sua crucificação.
Um teólogo contemporâneo diz que "a última edição da Enciclopédia Britânica emprega vinte mil palavras para descrever esta pessoa: Jesus. A descrição dele ocupou mais espaço que o dedicado a Aristóteles, Cícero, Alexandre, Júlio César, Buda, Confúcio, Maomé, ou Napoleão Bonaparte."
Rousseau disse o seguinte: "Inventar uma vida como a de Cristo teria sido um milagre bem maior que a própria vida dele em si."
Jesus viveu, ensinou e morreu na Terra, numa pequena região do Oriente Médio, cuja maior parte hoje se encontra em território de Israel. Isto é um fato histórico confirmado.

Seu Intelecto

Muitos homens têm sido admirados pela capacidade intelectual que demonstram e muitos têm recebido honrarias pela mesma razão, mas nenhum deles possuiu um intelecto tão incisivo como o de Jesus. Sob as mais diversas circunstâncias – seja cansado de uma longa jornada, ou acossado pelos seus inimigos – Jesus sempre conseguia confundir as maiores mentes de seu tempo.
Ele teve, durante três anos, vários confrontos intelectuais com os líderes religiosos de seus dias. Muitas vezes, aqueles homens tentaram colocá-lo em dificuldades, apresentando-lhe perguntas de difícil resposta. Certa ocasião, quando ele ensinava no templo, os principais dos anciãos e sacerdotes interrogaram-no hostilmente. Perguntaram-lhe: "Com que autoridade fazes estas cousas? e quem te deu essa autoridade?" (Mt. 21:23.)
Ali estavam homens que tinham o controle de todo o ensino religioso, e esse Jesus, um carpinteiro de Nazaré, que não era pupilo deles, estava ensinando em seu território. Imaginemos o que aconteceria em um de nossos mais eminentes seminários, se o zelador subisse à plataforma, e passasse a instruir os alunos.
Jesus respondeu à pergunta das autoridades religiosas, fazendo-lhes outra pergunta. "Também quero fazer-lhes uma pergunta, e se me responderem, eu lhes direi com que autoridade faço estas coisas. O batismo de João era de que origem, do céu ou dos homens?" Ora, João Batista também não fora ordenado por eles, e instruíra seus seguidores a que obedecessem a Jesus. Os líderes religiosos acharam-se num impasse. Sabiam que se dissessem: "Do céu", Jesus poderia retrucar: "Então, por que vocês não creram nele?" Por outro lado, se respondessem: "Dos homens" temiam que o povo se irasse, pois todos criam que João fora um grande profeta. Então, eles simplesmente responderam: "Não sabemos." E Jesus respondeu: "Nem eu vos digo com que autoridade faço estas cousas." (Mt. 21:27.) Jesus possuía uma agilidade mental que tem assombrado os teólogos nestes dois mil anos.

Sua Franqueza

Não importavam quais fossem as conseqüências, Jesus era sempre franco e sincero. Os membros da religião instituída de seu tempo eram extremamente meticulosos na observação de certos ritos para a lavagem dos utensílios que usavam para comer diariamente. Baseado nesta prática, Jesus fez uma ilustração de sua condição espiritual: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança. Fariseu cego; limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo." (Mt. 23:25,26.)
A acusação que Jesus lhes fez ainda é aplicável hoje, como era naqueles dias. A verdadeira fé em Deus é uma realidade interior, e se traduz por uma atitude pessoal, por uma entrega, e não pela observação de certos ritos e leis. A maioria das pessoas teria certa relutância em falar assim com os líderes religiosos de nossa era. Jesus, porém, era um homem franco, corajoso e sincero, em toda e qualquer situação.

Sua Acessibilidade

Jesus possuía a faculdade de compreender todas as pessoas independentemente de sua posição na sociedade. Certa ocasião, ele jantava com um proeminente líder religioso de nome Simão. Enquanto jantava, uma prostituta regenerada entrou no salão onde se processava o banquete, e passou a lavar os pés de Jesus com suas lágrimas, e a enxugá-los com seus cabelos. O líder religioso ficou chocado e começou a olhar para Jesus com certas dúvidas. Ele pensou: "Se este homem fosse profeta, ele saberia quem é esta mulher que o está tocando, que tipo de pessoa ela é..."
Jesus captou a atitude dele, e contou-lhe a seguinte história: "Certo credor tinha dois devedores. Um deles lhe devia quinhentos denários (um denário era equivalente ao salário de um dia de trabalho), e o outro cinqüenta. Vendo que nenhum dos dois poderia pagar-lhe, ele, magnanimamente, perdoou a ambos. Qual dos dois você crê que o amará mais?"
Simão deve ter ponderado consigo mesmo qual seria o objetivo daquela história. Provavelmente, deu de ombros ao responder: "Creio que foi aquele a quem ele perdoou a soma maior."
Jesus disse-lhe que a resposta estava correta. Então ele relembrou a Simão que quando ele entrara em sua casa, Simão ignorara todas as cortesias normais daqueles dias.
"Você não me deu água para lavar os pés, mas ela molhou-os com suas lágrimas e enxugou-os com os cabelos. Você não me deu o beijo de saudação, mas ela, desde que entrou, não cessa de beijar-me os pés."
A seguir, Jesus voltou-se para a mulher e assegurou-a de que seus pecados haviam sido perdoados.
Os outros convidados sentiam-se assombrados e indagavam: "Quem é este que até perdoa pecados?"
Sabemos que Jesus muitas vezes jantava com pessoas da elite social, mas também defendia os desajustados sociais.

Seu Espírito de Perdão

Seus adversários eram fortes e persistentes. Zombavam dele; caluniavam contra ele, e por fim, manobraram o povo para que este apoiasse sua morte por crucificação.
Quando Jesus estava pendurado na cruz, vertendo seu sangue, sofrendo dores e exposto ao sol quente, muitos zombaram dele, dizendo: "Salva-te a ti mesmo descendo da cruz." (Mc. 15:30.)
Apesar de encontrar-se em circunstâncias tão adversas, Jesus revelou uma característica que está acima de nossa compreensão. Ele dirigiu-se a Deus, o Pai, e disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." (Lc. 23.34.) Quantos homens poderiam perdoar seus algozes numa situação tão horrenda?

Sua Autoridade Moral

Os quadros de Jesus que o retratam como um homem de trapos vagos e indistintos, não se encaixam na verdadeira descrição de sua força e autoridade moral. Ao fim de sua vida, os grupos dominantes, tanto religiosos como políticos, uniram-se para pôr fim à sua obra, e mandaram oficiais prende-lo. E aqueles rudes valentões aproximaram-se de Jesus, mas detiveram-se a escutá-lo. Voltaram a seus superiores sem ele.
"Por que não o trouxeram?" indagaram eles. E os oficiais responderam, espantados: "Jamais alguém falou como este homem." (Jo. 7:45,46.) Estavam descobrindo, por experiência própria, algo que as multidões de pessoas comuns já sabiam. "Estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina" relata Mateus; "porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas." (Mt. 7:28,29.)
Jesus Cristo vivia a vida que pregava. Existem muitos homens, que conhecemos, que são nobres, inteligentes e accessíveis, que falam com toda autoridade. Mas somente em Jesus vemos as características humanas que esperaríamos encontrar em Deus, quando ele se tornasse homem.
A afirmação que Jesus faz de sua divindade é plenamente comprovada pelo seu caráter. Ele foi uma pessoa singular, na História.

Mais que Simplesmente Homem

Se isso fosse tudo que podemos dizer acerca de Jesus Cristo, ele teria a oferecer pouco mais que outros grandes homens da História. Contudo, a singularidade de Cristo reside justamente no fato de que, em sua vida na Terra, ele revelou possuir todos os atributos e características da divindade.
O que é um atributo? Certo teólogo deu a seguinte definição: "Os atributos de Deus são aquelas características distintivas da natureza divina, que são inseparáveis da idéia de deidade, e que constituem a base e o fundamento de suas várias manifestações às suas criaturas."
Jesus Cristo foi a manifestação suprema de Deus. "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo."
Ele não foi um homem comum. Centenas de anos antes de ele nascer, o profeta Isaías disse o seguinte: "Eis que a virgem conceberá e dará á luz um filho." (Is. 7:14.)
Nenhum outro homem, em toda a História, pode dizer que nasceu de uma virgem. As Escrituras ensinam que ele não teve pai humano; se tivesse tido, teria herdado os pecados e enfermidades que todos os homens têm, já que "o que é nascido da carne é carne" (Jo. 3:6). Mas, como ele não foi concebido por meios naturais, e, sim, pelo Espírito Santo, ele se destaca como o único homem que saíra puro das mãos de Deus. Ele podia levantar-se perante seus contemporâneos e dizer: "Quem de vocês pode verdadeiramente acusar-me dum pecado?" (Jo. 8:46 NTV.) Ele foi o único homem, desde Adão, que poderia dizer: "Eu sou puro."
Se sondarmos nossa mente, teremos que reconhecer que existem mistérios acerca da encarnação de Cristo que nenhum de nós jamais poderá entender. Aliás, Paulo fala de Deus manifesto na carne como um "mistério" (1 Tm. 3:16).
O apóstolo Paulo deu explicações acerca do homem-Deus em outra epístola. "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens." (Fp. 2:5-7.)
Primeiramente, Deus é santo. Esta é uma característica divina que Jesus Cristo possuía, e que se constitui o centro de toda a fé cristã. O que significa santidade? Este termo é usado com relação a pessoas, lugares, e às vezes até a circunstâncias. Entretanto, esta palavra tão comum, que muitas vezes é mal aplicada e mal compreendida, significa "pureza auto-afirmativa". Nenhum ser humano, agora e nunca, poderia possuir a santidade pura e a perfeição moral.
No Velho Testamento há uma descrição de Deus que diz que ele é "benigno em todas as suas obras" (Sl 145.17). O profeta Isaías, ao ter uma visão do Senhor, exclama: "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos." (Is. 6:3.) No Novo Testamento, este atributo singular é aplicado a Jesus Cristo, a criança santa, o homem imaculado. Portanto, Jesus Cristo possui essa característica que somente Deus poderia possuir.
Em segundo lugar, Deus também é justo. A fim de preservar sua santidade, ele precisa exercer a justiça. Como o pecado é uma ofensa a Deus, o princípio da justiça de Deus é de vital importância ao equilíbrio do universo, assim como toda nação deve ter certas leis e regulamentações para sobreviver. Mas, diversamente do governo humano, que aplica a justiça apenas de maneiras que interessam aos governantes e chefes de governo, a justiça de Deus é pura e ele nunca comete erros.
Jesus Cristo era justo. Durante sua existência terrena Jesus revelou possuir esta característica quando expulsou os arruaceiros do templo, com um chicote. Dele também se diz que é fiel e justo para nos perdoar os pecados. Quando ele morreu por nossos pecados, era o "justo" morrendo pelos pecadores.
Em terceiro lugar, Deus é misericordioso. Esta característica de Deus foi vista em Jesus durante toda a sua vida. Quando a mulher adúltera foi trazida perante as autoridades e condenada ao apedrejamento, Jesus defendeu-a, dizendo: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra." Seus acusadores retiraram-se envergonhados. Jesus Cristo, exercendo a misericórdia divina, disse-lhe que fosse embora e não pecasse mais. O amor, a misericórdia e a compaixão de Jesus são revelados várias e várias vezes durante seu ministério público. No primeiro sermão que Jesus entregou em sua cidade, Nazaré, ele citou o profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor." (Lc. 4:18,19.)
Em quarto lugar, Deus é amor. Os primeiros cânticos que as crianças aprendem, quando são ainda bem pequenas e nem conseguem entoar melodias, falam acerca do amor de Deus. Uma criança pode entender o amor de Deus, mas a profundidade dele é tão infinita que nem os adultos podem fazer uma idéia dela. O amor de Deus é resultante de sua santidade, justiça e misericórdia.
Sendo um Deus santo, ele odeia o pecado e não pode ter comunhão com o pecado. E como a Bíblia nos diz que a alma que pecar deve morrer, vemos que nossa separação de Deus é conseqüência do pecado. Entretanto, como Deus também é misericordioso, ele anseia salvar o pecador culpado, e precisa então prover um substituto que satisfaça sua justiça divina. E ele nos oferece esse substituto na pessoa de Jesus Cristo. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele cré não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo. 3:16.)

Deus e Jesus Cristo São o Mesmo

Em quinto lugar, Jesus Cristo possuía os três "oni" de Deus. Esse prefixo significa "todo" ou "completamente", e quando é empregado no vocábulo onipotente, por exemplo, refere-se a uma pessoa que tem todo o poder. O dicionário tem uma palavra para descrever o Onipotente, e esta palavra é Deus.
Quando Jesus Cristo estava na Terra, em forma humana, ele realizou muitos milagres. Ressuscitou mortos; pegou alguns pães e peixes e multiplicou-os para alimentar milhares de pessoas; curou enfermos com doenças crônicas, e restaurou aleijados. Mas, por que deveria isto surpreender-nos? Disse Jesus: "Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra" (Mt 18.18). Isto seria uma declaração espantosa se tivesse sido feita por qualquer homem comum. Somente Deus pode fazer uma afirmação destas.
Jesus Cristo era onisciente. Isto significa que ele sabia todas as coisas, e ainda sabe. As Escrituras dizem: "Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos..." "Mas o próprio Jesus... conhecia a todos... ele mesmo sabia o que era a natureza humana." (Jo. 2:24,25.) "Cristo, em que todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos." (Cl. 2:3.)
Você sabe de alguém, entre seus conhecidos ou qualquer outra pessoa da História que tenha conhecimento pleno? Já ouviu falar de alguém que conhecia, sem enganar-se, a mente dos homens? Somente um Deus todo-poderoso sabe tudo, e Jesus Cristo era onisciente.
Provavelmente, nenhuma outra idéia apresenta maior dificuldade ao entendimento humano que o conceito de onipresença. Como Deus pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo? Do nosso ponto-de-vista, estamos cerceados por tempo e espaço. Somos criaturas, físicas que somente podem estar em um lugar de cada vez. Muitas vezes nos queixamos: "Não posso estar em toda parte ao mesmo tempo!" Deus transcende tempo e espaço, como também Jesus Cristo. Ele existia antes do início dos tempos. "Antes que Abraão existisse, eu sou." (Jo. 8:58.) "Ele é antes de todas as causas." (Cl. 1:17.)
Jesus não está jungido à Terra. Ele disse: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles." Ele pode encontrar-se numa reunião de crentes numa cabana primitiva da Nova Guiné, ou num almoço de homens de negócio em Dallas. Ele pode estar à mesa de jantar com uma família ou na sala de banquete de uma família real. Jesus Cristo é onipresente.
Jesus Cristo declarou ser Deus. Ele disse: "Eu e o Pai somos um." (Jo. 10:30.) E também: "E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou." (Jo. 12:45.) Quando ele falou aos líderes religiosos de seu tempo, deixou bem claro quem ele era. "Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim." (Jo. 8:18.) Alguns membros da hierarquia da igreja local lhe indagaram: "Onde está teu Pai?" Ao que Jesus respondeu: "Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai." (Jo. 8:19.)
Cristo apresenta-se como tendo sido "enviado por Deus", e como não "sendo deste mundo''. Ele se declara ser a luz do mundo, "o caminho, a verdade e a vida", e "a ressurreição e a vida". Ele promete vida eterna a todos os que nele crerem como Senhor e Salvador.
Diante de todas estas declarações de Jesus Cristo, você agora está diante de uma decisão vital:

O que Fará de Jesus?

A pergunta é: Quem você pensa que Jesus Cristo seja? Se ele não é quem se declara ser, ou é um enganador ou um ególatra. Não podemos nos contentar com uma resposta contemporizante, e dizer que ele era um "homem bom", ou aplicarmos a ele uma forma de bajulação: "Superastro". Ele próprio elimina a possibilidade de uma resposta neutra. Ou temos que acreditar que ele era um lunático e mentiroso, ou então temos que declarar que ele é Deus e Senhor.
À luz das evidências escriturísticas e do fato da ressurreição, a única conclusão lógica possível é a de que ele é Deus, digno de nossa adoração e confiança. Quando resolvo tornar-me cristão, estou tomando uma decisão a respeito da identidade de Cristo. Confiar nele significa ser crente nele, e resulta em estar verdadeiramente vivo.

Saindo de um Deserto Particular

Ouvimos contar de um jovem casal que ficou separado durante a Segunda Grande Guerra. Enquanto o marido estava no campo de batalha, a esposa deu à luz uma filhinha. Os meses se passaram e a esposa conservava sempre um grande retrato do marido sobre a escrivaninha, para que a menina pudesse saber como era seu pai, enquanto crescia. Ela aprendeu a dizer: "Papai", associando a palavra ao retrato.
Finalmente, chegou o dia em que o pai regressou da guerra. Toda a família se reuniu para ver qual seria a reação da garota quando visse o pai pela primeira vez. Imagine-se o desapontamento de todos quando ela revelou não se interessar absolutamente por ele. Em vez disso, ela correu à fotografia sobre a mesa, e disse: "Este é meu pai." E a cada dia aquelas pessoas tinham que limpar as lágrimas ao ver o jovem pai colocar-se de joelhos e procurar comunicar-se com a filhinha, explicando-lhe, da forma mais simples possível, que ele era seu pai. Mas, todas as vezes, ela abanava a cabeça, corria para o retrato e dizia: "Meu pai é este aqui." Esta situação durou algum tempo, mas certo dia, alguma coisa aconteceu, e a menina ficou a olhar a fotografia, e depois ia ao pai, examinando seu rosto atentamente. Voltava à fotografia, olhava-a e olhava o pai. Os familiares retiveram o fôlego, na expectativa. Afinal, após várias idas e vindas, o rostinho dela iluminou-se, e a criança exclamou animadamente: "Os dois são o mesmo papai!"
C. S. Lewis descreveu assim sua experiência: "Você terá que imaginar-me sozinho, naquele quarto em Magdalene, noite após noite, sentindo, sempre que meu pensamento se desviava do trabalho por um instante, a incansável aproximação dAquele que eu desejava evitar. Aquilo que eu tanto temia, afinal, me vencia. E, no domingo da Trindade, de 1929, cedi, e reconheci que Deus era Deus; ajoelhei-me e orei. Naquela noite, talvez eu fosse o mais desalentado e relutante converso de toda a Inglaterra. Naquela ocasião ainda não entendia bem algo que hoje percebo ser a mais clara o óbvia das realidades – a da humildade divina, que aceita os homens mesmo nestes termos. O filho pródigo pelo menos voltou para casa por seus próprios pés. Mas quem saberá adorar suficientemente um amor que abre seus santos portões a um pródigo que é arrastado para dentro, lutando e esperneando, ainda ressentido, correndo os olhos de um lado para outro, procurando um meio de escapulir? As palavras compelle intrare (força-os a entrar) têm sido tão mal aplicadas por homens ímpios, que chegamos a estremecer diante da misericórdia divina. A dureza de Deus é mais suave que a bondade dos homens e sua compulsão é nossa libertação."
Certo professor disse que em mais de quarenta anos de ensino em uma escola ninguém nunca lhe perguntara: "O senhor é crente?" Quando estudante, ele lera livros que apresentavam explicações para os milagres de Cristo; ele se considerava bem informado sobre o assunto, e assumira uma atitude sofisticada em relação a ele. Como conseqüência disso, desacreditava da divindade de Cristo, ao mesmo tempo que abrigava uma crença vaga em Deus.
Entretanto, na prática, disse ele: "Preferi ignorá-lo durante os meus primeiros anos depois de formado. Isso deu início à trilha que iria conduzir-me ao meu próprio deserto particular. Eu tentava satisfazer minhas carências interiores, lendo e estudando literatura e ciência. Esses estudos, muitas vezes, confirmavam minha opinião de que podia deixar Cristo fora de minha vida, pois ele era apenas mais um profeta."
Certo dia, um estudante penetrou no "deserto particular" desse professor, e convidou-o a assistir a uma palestra sobre a divindade de Cristo. O professor, mais tarde, iria relatar o seguinte: "Tive que encarar o lado positivo da divindade de Cristo pela primeira vez, depois de adulto. Eu não pensava que minha descrença na divindade dele pudesse se alterar.
"Devo admitir que, naquela noite, enquanto escutava o conferencista, entre cético e esperançoso, comecei a desejar que me convencessem. E o orador ainda não chegara à metade de seus argumentos, e eu já estava convencido da divindade de Cristo. A noção que eu aceitara durante toda a vida, de que Jesus fora apenas um Mestre de grande inteligência, foi completamente destruída. A mudança que se operou em minhas convicções foi simples."
Tenho que concordar com este professor. É muito simples. Jesus é Deus. Nossa vida terrena e destino eterno dependem de nossa crença nesse fato.














O QUE ACONTECEU NA CRUZ

As joalherias do mundo inteiro, desde as da Quinta Avenida em Nova York até as do Aeroporto de Roma, exibem sempre uma jóia – a cruz. Os mantos clericais têm este emblema gravado, na frente e nas costas. As igrejas também têm a cruz, seja de madeira, bronze, concreto ou cobre. No último mês do ano, alguns prédios de escritórios deixam acesas as lâmpadas de algumas salas; de modo que as janelas, vistas de fora, formem uma cruz que é avistada a quilômetros de distância.
Qual é o significado da cruz de Jesus? Se parássemos as pessoas na rua e lhes fizéssemos esta pergunta, talvez ouvíssemos as seguintes respostas: "Ela é o símbolo do cristianismo'', ou "Jesus foi um mártir que morreu pregado numa cruz". Outros talvez dissessem que ela era um mito; um estudioso de História talvez explicasse que ela era um tipo de execução empregado pelos romanos.
Outra resposta à pergunta "Qual é o significado da cruz?" foi dada pelo poeta Thomas Victoria. Ele tentou expressar o que Jesus diria da cruz, se lhe perguntássemos. O poeta imaginou-o na cruz, cercado de homens cujo único propósito era matá-lo.
Jesus olha para esses homens e diz:
Ah, como é doce o madeiro da cruz,
Como são doces seus cravos,
Já que eu posso morrer por vós.
E foi a essa visão íntima e profundamente pessoal da cruz que Paulo se referiu quando disse: "Entre os homens é raro alguém dar a vida pelo seu semelhante... embora às vezes haja quem tenha coragem de o fazer. Ainda nos resta a seguinte prova do amor de Deus: é que Cristo morreu por nós enquanto éramos ainda pecadores." (Rm. 5:7,8 – Cartas às Igrejas Novas.) O ponto central do ministério de Paulo na grande e comercializada cidade de Corinto foi por ele resumido, quando disse: "Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado." (1 Co. 2:2.)
As pessoas de Corinto, em geral, teriam respondido a esta pergunta acerca do significado da cruz do mesmo modo que qualquer homem da rua, nos Estados Unidos ou em qualquer cidade da Europa, África ou Ásia. Os coríntios viviam numa cidade conhecida por seu caráter moral depravado. Era o tipo de comunidade onde não quereríamos criar nossa família. Os coríntios eram um grupo de pessoas sexualmente dissolutas e sofisticadas, que pensavam que a cruz era algo de muito ridículo, tolo e até idiota. Falando a respeito disso, Paulo escreveu: "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." (1 Co. 1:25.)
Em Corinto, a mensagem da cruz de Cristo era uma pedra de tropeço para judeus, e uma idiotice para os filósofos gregos. Estes últimos acreditavam que poderiam deslindar todos os mistérios divinos, pois tinham excesso de confiança em sua capacidade mental. Entretanto, Paulo disse que o homem natural (referindo-se á pessoa que não possui o Espírito de Deus habitando nela) não pode entender as coisas de Deus. Ele queria dizer que o pecado distorceu nosso entendimento de uma forma tal, que não podemos reconhecer a verdade acerca de Deus.
Mas para que o ensino bíblico acerca do significado da cruz possa ter algum sentido para nós, é preciso que o Espírito de Deus abra nossa mente. As Escrituras ensinam que, como conseqüência de nossa separação de Deus, um véu encobre nossa mente.
Para uma pessoa "de fora", a cruz deve parecer um conceito ridículo. Mas para aqueles que já experimentaram seu poder, ela constitui o único remédio para os males de cada indivíduo e do mundo.
Apesar de o poder do evangelho de Cristo, que foi crucificado, achar-se ao alcance de todos, ele ainda é irrelevante para milhões de pessoas. Tais pessoas refletem um erro que Paulo analisou quando disse: "O que vem a ser então a sabedoria dos filósofos, dos escritores e dos críticos deste mundo? Acaso Deus a não considera louca e vã? Já que o mundo na sua sabedoria não quis conhecer a Deus, Deus, na Sua sabedoria, determinou salvar todos que cressem na "simplicidade" da mensagem do Evangelho." (1 Co. 1:20,21 – Cartas às Igrejas Novas.)
Como podemos tachar a mensagem da cruz de loucura? Será que somos tão bem sucedidos na vida particular, em nossa família e na sociedade, que podemos nos julgar plenamente sábios? Já está na hora de abandonarmos a pretensiosa noção de seres intelectuais, e reconhecer que mesmo a mente mais capacitada, é derrotada pela realidade da vida.
Deus consegue transformar o homem com a mensagem que se centraliza na cruz. Sua forma de tratamento reconhece nossa condição de enfermos, e apresenta o remédio certo. Ele oferece sua sabedoria como uma alternativa para nossos fracassos.
Na vida diária, desfrutamos de muitas facilidades que não compreendemos plenamente. Vamos à pia e abrimos a torneira sem parar para pensar na origem da água, em como ela é conduzida até nós através de sistemas de encanamentos. E que dizer de uma receita médica? Não sabemos lê-la nem analisá-la. Pagamos ao médico uma soma que consideramos exorbitante, mas o fazemos porque confiamos nos conhecimentos dele e em sua autoridade para nos curar.
Do mesmo modo, talvez não entendamos bem todo o significado da cruz, mas nos beneficiamos dela, porque a Bíblia nos fornece a verdadeira solução para o problema do pecado.

O que Aconteceu na Cruz?

A cruz é o ponto central da vida e ministério de Jesus Cristo. Alguns pensam que Deus não queria que Cristo morresse, mas foi forçado a modificar seus planos para que a cruz se encaixasse neles. As Escrituras, porém, nos ensinam claramente que a cruz não foi uma solução de última hora para Deus. Cristo foi "entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus" (At. 2:23).
Deus determinou que a cruz destruísse Satanás, o qual, usando de artifícios, adquirira o direito de posse ao título de propriedade da terra. Quando Satanás, com suas promessas ardilosas, conseguiu separar o homem de Deus, no jardim do Éden, ele não era apenas o enganador de Adão e Eva. De certa maneira, para nos desconhecida, ele começou a exercer uma espécie de falsa soberania sobre o homem. Em sua presunçosa violência, Satanás desencadeou seu mais terrível ataque contra o ministério de Cristo, com o fim de detê-lo, cuidando para que ele fosse morto. Mas Satanás foi frustrado por Deus, e caiu em sua própria armadilha. Ele não compreendera que Deus amava o mundo tão intensamente, que era capaz de deixar seu próprio Filho submeter-se à pior coisa que Satanás podia fazer. O inimigo errou no cálculo. Ele não entendia a grandeza do amor divino, e a inteligência de seu plano.
O poder de Satanás foi desbaratado na cruz. "Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo." (1 Jo. 3:8.) Que golpe foi aplicado em Satanás! Embora ele ainda seja um pretensioso cheio de artimanha, sua destruição já foi efetuada pela vitória de Cristo na cruz. "Para que, por sua monte, destruísse aquele que tem o poder da monte, a saber, o diabo." (Hb. 2:14.) Aquela morte, que parecia a maior derrota da História, revelou-se o maior triunfo.
Através da cruz, Deus não apenas superou a Satanás, mas também reuniu novamente o homem a si mesmo. Cristo resgatou os escravos que Satanás mantivera cativos, e reconciliou-os consigo mesmo. A Bíblia descreve este maravilhoso plano divino com as seguintes palavras: "Mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria esta que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivesse conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da gloria." (1 Co. 2:7,8.) A cruz revelou um segredo eterno. Isso era o "mistério guardado em silêncio nos tempos eternos e que agora se tornou manifesto." (Rm. 16:25,26.)
Se foi possível a um homem, Adão, levar à ruína a humanidade inteira, por que não seria possível que outro homem a redimisse? A Bíblia diz: "Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo." (1 Co. 15:22.)

O que a Cruz Custou a Deus?

Sendo como somos, seres humanos cheios de mágoas, anseios e emoções, é quase impossível para nós, pelo esforço da mente, entender o que custou a Deus permitir que seu único Filho morresse na cruz. Se Deus pudesse perdoar nossos pecados por outros meios, se os problemas do mundo pudessem ser solucionados de forma diferente, ele não teria permitido que Jesus morresse. Na noite anterior à sua crucificação, Jesus orou da seguinte maneira no jardim do Getsêmani: "Meu Pai: Se possível, passe de mim este cálice" (Mt. 26:.39). Em outras palavras, se existe outro método para se redimir a rapa humana, ó Deus, encontre-o! Mas não existe outra forma, e então ele diz: "Todavia, não seja como eu quero, e, sim, como tu queres."
É importante lembrarmos que quando Jesus orou dessa maneira, ele não estava considerando apenas o simples fato de morrer. Assim como sua vida foi singular, assim iria ser a sua morte. O que se passou com ele quando morreu, nunca sucedeu a mais ninguém no passado, e nunca sucederá a ninguém no futuro. Para entendermos bem este fato, temos que estudar a revelação divina anterior ao ministério terreno de Cristo, no Velho Testamento.
A religião ortodoxa judaica foi fundada sobre os alicerces da graça de Deus. Deus estabeleceu um relacionamento com Israel baseado em uma aliança, declarando-se ser o seu Deus, e afirmando de uma forma toda especial que eles eram o seu povo. (Dt. 7:6.) Neste tipo de relacionamento, como deveriam eles expressar seu amor pelo Senhor? A resposta é: fazendo a vontade dele, que lhes fora apresentada pelas leis do Velho Testamento. Mas o povo não conseguia observar a lei de forma perfeita, e quando eles a transgrediam, pecavam. Pois a Bíblia diz: "Porque o pecado é a transgressão da lei." (1 Jo 3:.4.)
Os sacrifícios do templo foram determinados por Deus como demonstração de que a culpa de uma pessoa e a penalidade conseqüente poderiam ser transferidas dela para outrem. No caso do Velho Testamento, um animal perfeito sofria o castigo simbolicamente, e era imolado.
Por que Deus estabeleceu a lei, se sabia que o povo não poderia guardá-la? A Bíblia ensina que a lei foi dada para servir de espelho para o homem. Quando nos miramos nela, vemos o que é a verdadeira retidão. Os Dez Mandamentos descrevem a vida que agrada a Deus. Se somos separados de Deus pelo pecado, a lei revela o pecado e nossa verdadeira condição espiritual. A imagem que o espelho revela não é muito agradável.
O pecado tinha que ser expiado. Por isso, Deus, no princípio, instituiu o sistema de sacrifícios pelo qual, finalmente poderíamos obter um relacionamento com ele. Nos tempos do Velho Testamento aqueles que pecavam levavam a Deus sacrifícios de animais, e os ofereciam a ele. Estes sacrifícios eram imagens do grande sacrifício que ainda deveria ocorrer.
Em Levítico 4, Moisés descreve uma situação na qual um líder nacional se apresenta para oferecer holocausto pelo seu pecado. Podemos dividir o texto em sete etapas:
1. "Quando um príncipe pecar...
2. trará por sua oferta um bode
3. (macho) sem defeito,
4. E porá a mão sobre a cabeça do bode
5. e o imolará... é oferta pelo pecado.
6. Então o sacerdote com o dedo tomará do sangue da oferta pelo pecado e o porá sobre os chifres do altar...
7. Assim o sacerdote fará expiação por ele no tocante ao seu pecado, e este lhe será perdoado" (vv. 22-26).
Observemos a seqüência dos fatos. O homem pecou e quer o perdão de Deus. Ele dirige-se ao sacerdote levando um animal, um exemplar sem defeito, e coloca a mão sobre a cabeça do animal. Simbolicamente, nesse ato, sua culpa e o castigo que ele teria que suportar por causa do pecado, são transferidos para o animal. A seguir ele o imola, como oferta pelo pecado, e o sacerdote coloca uma parte do sangue sobre o altar.
Qual é o significado disto tudo? É a expiação para o homem, com relação ao seu pecado. O relacionamento está interrompido, mas a "expiação" é efetuada, e quanto ao pecado, "este lhe será perdoado" por Deus.
Os holocaustos do Velho Testamento eram imagens visuais para ensinar aos pecadores que havia esperança para eles, pois o castigo pelo pecado poderia ser transferido para outrem. Porém, estas coisas eram apenas símbolos, pois "é impossível que sangue de touros e de bodes remova pecados." (Hb. 10:4.)
Mas Deus podia perdoá-los em face do que ele realizaria, um dia, na cruz. Jesus "tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se á destra de Deus." (Hb. 12:10.)
Deus não introduziu os sacrifícios porque estivesse sedento de sangue, ou porque fosse injusto. Ele queria que nós entendêssemos duas coisas: primeiro, o horror do pecado; segundo, a cruz em que o próprio Deus iria satisfazer, para sempre, as exigências de sua justiça. "Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu (Jesus) próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção." (Hb. 9:12.)
Quando Cristo fez expiação pelo pecado, ele tomou o lugar de homens e mulheres pecadores. Se Deus houvesse perdoado nossos pecados por meio de um decreto, ou emitido uma espécie de documento celestial, isto é, sem o emprego da expiação que implicou na vergonha, sofrimento e monte de Cristo, então talvez pudéssemos pensar que Deus era indiferente ao pecado. E conseqüentemente todos continuaríamos pecando, e a terra se tornaria num terrível inferno.
Pelo sofrimento de Jesus, temos a participação divina no ato da expiação. O pecado traspassou o coração de Deus. Deus sentiu a penetração de cada prego e a da lança. Ele sentiu o sol ardente. Sentiu a zombaria de seus atormentadores e as pancadas aplicadas em seu corpo. Na cruz está o amor sofredor de Deus, levando a culpa pelos pecados do homem. Somente este amor é capaz de quebrantar o coração do pecador, e levá-lo a um arrependimento para a salvação. "Àquele (Jesus) que não conheceu pecado, ele (Deus, o Pai) o fez pecado por nós." (2 Co. 5:21.)

A Razão da Ceia

Muitas pessoas não compreendem a Ceia do Senhor. Para tais pessoas, o culto da santa ceia não tem nenhum significado espiritual. E, no entanto, a comunhão é simplesmente uma representação da cruz. Na Ceia do Senhor, Jesus se compara ao Cordeiro que seria oferecido em sacrifício ou expiação e diz aos discípulos e a todos aqueles que iriam crer nele: "Isto é o meu corpo que é partido por vós." É um símbolo da obra que ele realizou na cruz. Ao oferecer o cálice, ele enfatiza o fato de que seu sangue é vertido para a remissão dos pecados. Os elementos pão e vinho nos transmitem a realidade da expiação e do perdão. Podemos tocá-los, prová-los, vê-los. Temos um pedaço de pão na mão, mas temos Cristo no coração. O cálice está em nossas mãos, mas os benefícios do perdão através de seu sangue são aplicados em nosso coração.
Um dos mais famosos teólogos da Escócia foi John Duncan, de New College, Edimburgo. Certa vez, durante a celebração de uma Ceia do Senhor em uma igreja da Escócia, quando os elementos foram oferecidos a uma jovem de dezesseis anos, ela virou o rosto subitamente para um lado, e com um gesto indicou ao presbítero que afastasse o cálice – ela não poderia tomá-lo. John Duncan estendeu seu longo braço, tocou-lhe o ombro, e disse ternamente: "Tome-o, mocinha; é para pecadores."

Como Posso Entender Tudo Isso?

Existe um mistério na morte de Cristo que foge à nossa compreensão humana. A profundidade do amor de Deus, ao enviar seu Filho para pagar um preço tão terrível, ultrapassa a capacidade da mente humana. Mas temos que aceitá-lo pela fé, senão continuaremos a carregar os fardos da culpa. Temos que aceitar a expiação que Cristo realizou para concretizar a nossa própria expiação, pois isso é algo que nunca poderemos fazer. A salvação é por intermédio de Cristo somente, pela fé somente, e para a glória de Deus somente.
Cristo levou o castigo que era nosso.
Meu sócio e amigo, Cliff Barrows, contou-me o seguinte fato acerca de castigos. Ele se lembrava de uma ocasião em que teve que receber um castigo em lugar de seus filhos, quando estes o desobedeceram. "Eles faziam tudo que eu lhes proibia de fazer. E eu lhes disse que se fizessem aquilo de novo, eu teria que castigá-los. Quando regressei do trabalho, e descobri que não haviam obedecido, meu corarão fraquejou. Eu simplesmente não consegui castigá-los."
Qualquer pai amoroso entende o dilema de Cliff. Quase todos já nos encontramos em situação idêntica. E ele continuou: "Bobby e Bettie Ruth eram bem pequenos. Levei-os para meu quarto; tirei a camisa e a correia. Ajoelhei-me diante da cama com as costas nuas. Fiz com que cada um deles me batesse com a correia, dez vezes. Você precisava ter ouvido o choro! O deles – quero dizer. Não queriam fazer aquilo. Mas eu lhes disse que o castigo tinha que ser aplicado, e assim, entre lágrimas e suspiros eles fizeram o que eu lhes ordenara."
Cliff sorriu ao recordar o incidente. "Devo reconhecer que não fui nenhum herói. Aquilo doeu mesmo. E não me ofereci para fazer a mesma coisa de novo. Mas também nunca mais foi preciso bater neles. Aprenderam a lição. Quando acabou, eu os beijei e eles me beijaram, e a seguir oramos."
Sabemos que, numa dimensão infinita que assombra nosso coração e mente, Cristo pagou a penalidade que nos era devida pelos nossos pecados passados, presentes e futuros.
Foi por isso que ele morreu na cruz.

NO TRIBUNAL DO REI

Nos Estados Unidos temos eleições presidenciais de quatro em quatro anos. E geralmente ocorrem mudanças na Casa Branca, no Congresso e em muitos dos palácios estaduais. Sempre que um chefe de Estado está para entregar o governo ao seu sucessor, ele pode conceder anistia a alguns prisioneiros sob sua jurisdição. É sempre interessante observar quem serão os beneficiados por estes gestos de despedida.
Se eu ou você estivéssemos presos e nos dissessem: "Vocé está livre! O presidente concedeu-lhe anistia", com toda a certeza faríamos as malas e partiríamos bem depressa. Aquele perdão presidencial modificaria toda a nossa vida.
No tribunal do Rei dos reis, o perdão tem um significado muito mais amplo. Na cruz, Deus não apenas livrou do castigo o crente em Cristo, mas também recebeu-o de braços abertos em sua família. Ele nos franqueia sua casa.
Na cruz, recebemos não apenas a absolvição, mas também a justificação (como se nunca houvéramos pecado); não somente o perdão, mas também a aceitação divina. Vimos no capítulo anterior, que o próprio Deus levou o fardo de nossos pecados e sofreu em nosso lugar. Agora, veremos que a cruz nos oferece mais que apenas o perdão.
A questão toda não envolve apenas o sangue de Jesus, que nos purifica de todo pecado, mas também sua justiça. A chave de tudo é a palavra "justificado". Somos "justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus." (Rm. 3:24.)
Alguns anos atrás, fui entrevistado em minha casa, por um conhecido programa de televisão. Sabendo que o programa iria ser mostrado em todo o país, minha esposa preocupou-se em que tudo estivesse na mais perfeita ordem, e com a melhor aparência possível. Ela passou o aspirador e tirou o pó de toda a casa; mas na sala, onde a entrevista iria ser gravada, ela deu uma arrumação detalhada e minuciosa. Quando o pessoal chegou, com suas câmeras e holofotes, ela cria que tudo estava impecável. Colocamo-nos no canto determinado com o entrevistador, e quando, de repente as luzes foram ligadas, enxergamos teias de aranha e poeira em lugares onde nunca tínhamos visto antes. Como explicou minha esposa: "A sala estava toda engalanada de teias de aranha que simplesmente não eram visíveis à iluminação normal."
Naturalmente, a lição que tiramos disso é que não importa o quanto tentemos purificar a nossa vida, no momento que nos examinamos à luz da Palavra de Deus, à luz da santidade divina, todas as teias de aranha e toda a poeira aparecem.
Imaginemos uma sala de tribunal. Deus, o juiz, está sentado em sua cadeira, vestido em todo o seu esplendor. Nós somos arrastados perante ele. Ele nos examina sob o prisma de sua natureza justa, como está expresso na lei moral. Ele se dirige a nós.
DEUS: João (ou Maria), vocé me amou de todo o coração?
JOÃO/MARIA: Não, meritíssimo.
DEUS: Vocé amou ao seu próximo como a si mesmo?
JOÃO/MARIA: Não, meritíssimo.
DEUS: Acredita que é pecador, e que Jesus Cristo morreu pelos seus pecados?
JOÃO/MARIA: Sim, meritíssimo.
DEUS: Então, sua penalidade foi paga por Jesus Cristo na cruz, e vocé está perdoado.
Agora eu fui perdoado, mas ainda há mais. Quando a Bíblia diz que uma pessoa que cré em Jesus é justificada por um dom gratuito de sua graça (ver Romanos 3.24), isto parece implicar em mais que um simples perdão. E é. Se sou um criminoso a quem o presidente concedeu o perdão, todos sabem que eu, apesar do perdão, ainda sou criminoso. Somente não tenho que cumprir a pena. Mas se sou justificado por Deus, é como se eu nunca tivesse pecado.
Recebemos tanto o perdão como a justificação, quando cremos em Cristo. De um lado, Deus nos perdoa por causa da monte de Cristo. Ele pagou nossa pena. Por outro lado, Deus nos declara justos.
DEUS: Como Cristo é justo e você crê em Cristo, eu o declaro, agora, legalmente justo.
Mas como Deus pode fazer isto e continuar sendo "justo" – sabendo-se que ele vinculou o castigo da morte à prática do pecado? A resposta está na justiça de Jesus Cristo. Ele teve uma vida imaculada, perfeita. Seu caráter apoiou totalmente sua afirmação de que era Deus, como vimos no capítulo sete: "O Homem que Era Deus". É fácil entender Deus, o Pai, declarando que Jesus era justo, porque ele o era. Mas como é que isso pode beneficiar a mim, um pecador? Paulo dá a resposta em 2 Coríntios 5:21. Para tornar o texto mais claro vamos usar as palavras Deus e Jesus nos pontos onde aparecem os pronomes ele, o, etc. "A Jesus, que não conheceu pecado, Deus fez (Jesus) pecado por nós; para que em Jesus fôssemos feitos justiça de Deus."
Deus colocou meu pecado sobre Cristo, que não tinha nenhum pecado, ele castigou-o em meu lugar, como já vimos. E fez ainda outra coisa. De acordo com este verso, por um ato de Deus. a justiça de Cristo foi colocada sobre nós, que cremos, "para que nele fôssemos feitos justiça de Deus".
Deus, o juiz, transferiu a justiça de Cristo para nossa conta legal, se cremos em Cristo. Agora, ele nos examina segundo a lei. O que ele vê? Todos os nossos atos e pensamentos errados, cometidos no passado? Nossos pecados presentes? Não. Ele não vê nosso pecado, porque transferiu tudo para Cristo, quando ele o fez pecado. Ele nos olha atentamente e vê a justiça de Cristo.
Mas alguém pode dizer: "Escute, então não sou mais pecador?"
A resposta é "Sim" e "Não". Se você indaga se ainda se encontra na mesma condição de pecador diante de Deus, a resposta é "Não". Para ele, legalmente, vocé é justo. Sua situação perante ele é justa, e a questão examinada no tribunal é exatamente a "situação".
Vocé ainda conserva a capacidade de pecar? A resposta é "Sim". Naturalmente, você não é perfeito. É possível que algumas vezes você tenha pensamentos e atos contrários aos desígnios de Deus. Mas nosso caráter não está em jogo aqui. Nossa situação legal é que está. E legalmente somos declarados justos.

Sou Livre Para Pecar?

"Ame a Deus e viva como quiser." Agora estamos livres para pecar sem quaisquer restrições? Será que podemos sair correndo daquele tribunal, perdoados e justificados, e fazer tudo que quisermos? Sim; mas agora você "nasceu de novo". Você não quererá cometer os erros antigos; seus desejos mudaram.
Se você confiou em Jesus, e viu aquele profundo interesse que ele demonstrou por você na cruz, pode afirmar como o apóstolo Paulo: "Pois o amor de Cristo nos constrange" (2 Co. 5:14). As mudanças interiores que Deus começa a operar em nosso caráter serão objeto de um capítulo posterior. Mas elas se baseiam numa mudança de situação. Nós que antes havíamos sido, com toda a justiça, condenados, somos agora, com toda a justiça declarados justos, quando confiamos em Cristo.
Imagine o que um repórter de jornal faria com uma matéria dessas.

Pecador Perdoado Passa a Morar com o Juiz

Foi um instante de grande tensão para João e Maria quando, perante o juiz, foi lida a lista de acusações contra eles. Porém, o juiz transferiu toda a culpa para Jesus Cristo, que morreu na cruz em favor de João e Maria.
Após terem recebido o perdão, o juiz convidou João e Maria para morarem com ele para sempre.
O jornalista que fizer uma reportagem como esta nunca conseguirá entender a ironia da cena, a menos que ele tenha sido previamente apresentado ao juiz, e conheça seu caráter.
O perdão divino e a justiça de Cristo nos advém somente quando nos confiamos totalmente a Jesus, como nosso Senhor e Salvador. Quando assim fazemos, Deus nos recebe em sua intimidade. Revestidos da justiça de Cristo, podemos desfrutar da comunhão divina e chegar-nos "confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" (Hb. 4:16).

Conclusões do Testemunho

Se eu fosse advogado, estou certo de que examinaria os eventos dos grandes julgamentos realizados no passado, as evidências apresentadas, e as conclusões a que se haviam chegado, pelas averiguações feitas.
Existem algumas conclusões de importância vital, que podemos tirar da morte de Cristo. Primeiro, na cruz vemos a mais forte prova da culpabilidade do mundo. Ali, o pecado atingiu seu grau máximo, quando foi manifestado. O pecado nunca foi mais negro nem mais medonho, que no dia em que Cristo morreu.
Algumas pessoas dizem que, de lá para cá, o homem se aperfeiçoou bastante, e se Cristo viesse hoje teria uma recepção gloriosa. Mas estou convencido de que se ele voltasse hoje, seria torturado e morto ainda com maior rapidez do que o foi há dois mil anos, embora talvez por métodos diferentes, mais sofisticados. Mas os pecadores ainda gritariam: "Fora com este homem."
A natureza pecaminosa da humanidade não mudou. Quando contemplamos a cruz, vemos uma prova clara de que todos os homens "pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm. 3:23). Este é o veredito inevitável de Deus.
O segundo fato que podemos concluir da cruz é que Deus odeia o pecado, e ama a justiça. Ele nos tem dito muitas vezes que a alma que pecar, morrerá, e que ele não pode perdoar nosso pecado a menos que nosso débito seja pago. As Escrituras afirmam: "Sem derramamento de sangue não há remissão" (Hb. 9:22).
Deus não tolerará o pecado. Sendo juiz moral de todo o universo, ele não pode contemporizar, se é que deseja continuar sendo justo. Sua santidade e sua justiça exigem a execução da sentença pela transgressão da lei. Existem algumas escolas de pensamento que crêem que tal descrição de Deus é por demais severa. O pecado, dizem eles, tem bases psicológicas. Algum tempo atrás, um jovem foi executado por haver assassinado dois rapazes. Os jornais ocuparam-se grandemente dos argumentos legais, dos debates acerca da pena de morte, e dos inúmeros adiamentos da data da execução. Por que ele cometera tal ato? Que eventos ou pessoas, no passado, haviam influenciado sua mente, para que se tornasse tão ímpia?
Muitas pessoas afirmam não serem responsáveis por seus atos. Culpam os país, o ambiente ruim, e até o governo. Mas Deus diz que todos nós somos responsáveis. Quando olhamos para a cruz, vemos como é drástica a maneira como Deus pune o pecado. A Bíblia declara o seguinte: "Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as cousas?" (Rm. 8:32.) "Aquele (Jesus) que não conheceu pecado, ele (Deus) o fez pecado por nós." (2 Co. 5:21.)
Se Deus teve que enviar seu único Filho à cruz para pagar a pena do pecado, então o pecado deve ser terrível á sua vista.
Contudo, vemos também que Deus ama a justiça, e reveste o crente de justiça por causa da cruz. É admirável pensar nisso! Somos revestidos, cobertos, protegidos, escudados. Existe um velho e maravilhoso hino que diz: "Jesus, teu sangue e tua justiça são minha beleza e minha gloriosa vestimenta." Isto não é uma justiça própria, mas "a justiça que procede de Deus, baseada na fé" (F. 3:9).
Deus está operando através do Espírito Santo para tornar o crente justo em seu caráter interior. Pedro mostra como esta questão está intimamente relacionada com a cruz quando disse de Cristo: "Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça." (1 Pe. 2:24.)
Que outras conclusões podemos tirar do testemunho da cruz? Vemos nela a maior demonstração do amor de Deus. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo. 3:16.)
Em nossa fraqueza de seres humanos, tendemos a criar graduações de pecados. Esse aqui é um pecado pequeno, em nossa escala de valores; mas aquele lá é um pecado muito grande. Daí, pensarmos que Deus pode perdoar o pecado pequeno, mas nunca poderá perdoar e aceitar um terrível pecador.
Lembro-me de um episódio da Segunda Grande Guerra que ilustra bem esta idéia. Hitler e seu Terceiro "Reich" tinham sido derrotados pelos aliados. Muitos dos antigos líderes nazistas, que haviam praticado alguns dos mais infames crimes conhecidos pela humanidade, foram levados a julgamento em Nuremberg. O mundo todo voltou sua atenção para lá, enquanto as sentenças de morte ou prisão eram passadas contra aqueles criminosos de guerra.
Contudo, em meio aos julgamentos de Nuremberg, divulgou-se a seguinte história, relatada pelo Capelão Henry Gerecke. Ele fora chamado para dar assistência espiritual ao alto comando nazista. Ele se considerava um simples pregador, criado numa fazenda do interior, mas foi-lhe confiada esta tarefa extremamente difícil.
O capelão narrou a sincera conversão à fé em Jesus Cristo de alguns daqueles homens que haviam cometido crimes desprezíveis. Um deles fora anteriormente um dos generais mais chegados a Hitler. A princípio, o capelão adotou uma atitude cautelosa em relação às confissões de fé dos presos. Disse que a primeira vez que viu aquele general lendo a Bíblia pensou: "Fingimento." Porém, à medida que passava mais tempo com ele, veio a reconhecer a verdade, e escreveu: "Quanto mais eu o ouvia, mais sentia que era possível que estivesse sendo sincero. Ele admitira que não fora bom cristão, e fazia questão de afirmar que se sentia muito feliz de que a própria nação que talvez o condenasse à morte, se preocupasse com seu destino eterno, a ponto de fornecer-lhe orientação espiritual." E com a Bíblia na mão, ele dizia: "Sei, por este livro, que Deus pode salvar um pecador como eu."
Que amor admirável Deus nos revelou na cruz!
A quarta conclusão que podemos tirar do testemunho da cruz, é que ela constitui a base para a verdadeira fraternidade universal. Existem muitos grupos por aí que esposam a causa da fraternidade universal, e fazem apelos em favor da paz mundial. Somente quando entrarmos na família de Deus, através da Paternidade divina, é que poderá existir a verdadeira fraternidade humana. Deus não é nosso Pai automaticamente (a não ser pela criação) quando nascemos; é preciso que ele seja nosso Pai espiritualmente.
A Bíblia ensina que, pela cruz, gozamos de uma gloriosa fraternidade, como de um Pai. "Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse em si mesmo novo homem, fazendo a paz." (Fp. 2:14,15.)
Onde não se opera a obra da cruz encontramos amargura, intolerância, ódio, preconceitos, lascívia e ambição. Onde há a poderosa operação da cruz medram o amor, uma nova vida e um novo espírito de fraternidade. A única esperança para a paz humana repousa sobre a cruz de Cristo, na qual todos os homens, independentemente de sua nacionalidade, raça, podem tornar-se numa nova irmandade.
O leitor, provavelmente, conhece a história de Hansi. Seu livro Hansi descreve vividamente sua dedicação total a Adolfo Hitler e ao movimento nazista, como membro da Juventude Hitlerista, e sua subseqüente desilusão e desencanto com a ideologia. Minha esposa recebeu uma carta de Hansi na qual ela narra seu primeiro encontro com Corrie ten Boom, cujo livro O Refúgio Secreto é um relato das experiências da família Boom durante a Segunda Grande Guerra. Essa família foi presa e enviada a campos de concentração dos nazistas, por haver ajudado os judeus a se esconderem das autoridades. O pai e a irmã de Corrie faleceram na prisão.
Cerro dia Hansi e Corrie encontravam-se em uma convenção religiosa, cada qual sentada a uma mesa, no mesmo salão, autografando seus livros. Hansi esperou o mais que pôde, mas por fim, dirigiu-se para onde estava Corrie, pois simplesmente tinha que pedir-lhe perdão pelo que fizera. Abriu caminho por entre as pessoas que estavam na fila com o livro para Corrie autografar, e ajoelhou-se diante dela, com lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto. "Corrie, eu sou Hansi", disse. A reação de Corrie foi não somente de perdão absoluto, mas de amor e aceitação. Isto só poderia acontecer entre cristãos, e ilustra bem a obra da cruz.
O Capitão Mitsuo Fuchida foi o comandante aeronaval japonês que dirigiu o ataque a Pearl Harbor. Ele relata que quando os prisioneiros japoneses retornaram dos Estados Unidos, ele ficou interessado em saber que tipo de tratamento haviam recebido ali. Um ex-prisioneiro, a quem ele interrogou, contou-lhe que foi possível a muitos deles esquecerem o ódio e a hostilidade para com os captores, e explicou por quê. Uma jovem americana fora extremamente bondosa com eles, demonstrando-lhes tanto amor e ternura, que seus corações ficaram tocados. Eles se indagavam por que ela era tão bondosa para com eles, e ficaram grandemente admirados quando ela lhes explicou a razão. Seus pais haviam sido mortos pelo exército japonês. Eram missionários cristãos nas Filipinas no início da guerra, mas quando os japoneses invadiram o país haviam sido obrigados a refugiar-se nas montanhas. Mais tarde, foram encontrados e executados sob a acusação de serem espiões. Mas antes de morrerem, pediram que lhes concedessem trinta minutos para orar, pedido este atendido. A moça estava certa de que os pais haviam passado aqueles trinta minutos orando a Deus para que perdoasse seus algozes. Por causa disso, ela também pedia ao Espírito Santo que removesse todo o ódio de seu coração e o substituísse por amor.
O Cap. Fuchida não compreendia um amor assim. Vários meses se passaram, e, certo dia, em Tóquio, quando saía de uma estação ferroviária, alguém lhe deu um folheto. Narrava a história do sargento americano Jacob DeShazer, que fora capturado pelos japoneses, torturado e mantido prisioneiro por muito tempo. Enquanto ainda se encontrava no campo-prisão, ele recebeu a Jesus Cristo, através da leitura da Bíblia. A Palavra de Deus removeu de seu coração todo o ódio amargo que sentia pelos japoneses, substituindo-o por um amor tão grande, que ele se sentiu compelido a voltar ao Japão para falar ao povo acerca do maravilhoso amor de Cristo.
O Cap. Fuchida comprou uma Bíblia e começou a lê-la. Chegou à narrativa da crucificação, e foi profundamente tocado pelas palavras de Jesus: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." (Lc. 23:34.) Jesus orara pelos próprios soldados que estavam para enterrar a lança em seu lado. No livro que escreveu From Pearl Harbor to Golgotha (De Pearl Harbor ao Gólgota), o capitão relata como encontrou a fonte desse amor miraculoso que pode perdoar inimigos, e como ele agora compreende a história da jovem americana cujos país haviam sido mortos, e a transformação ocorrida na vida de Jacob DeShazer.

Perguntas Pessoais que a Cruz Responde

"Por que não consigo resolver meus problemas?" Esta pergunta fez-me lembrar de uma historieta em quadrinhos da série Peanuts. Ela mostra Lucy em sua "banca" psiquiátrica dando conselhos a Charlie Brown. Charlie acaba de perder mais um jogo, e sente-se deprimido e derrotado. Lucy, a psiquiatra, está-lhe explicando que a vida é toda feita de altos e baixos. E Charlie afasta-se dali gritando: "Mas eu detesto os baixos; quero só os altos."
Receio que muitas vezes nós, que pregamos a mensagem cristã, damos a impressão de que, depois que uma pessoa aceita a Jesus Cristo, ela nunca mais terá problemas. Isso não é bem verdade. A realidade é que temos Alguém que nos ajuda a enfrentar os problemas. Temos uma amiga que está paralítica há trinta anos. Apesar dos problemas que a atormentam, para os quais não há solução, ela aprendeu não somente a aceitar sua condição, mas, além disso, é uma pessoa radiante e vitoriosa, uma benção para os outros, e uma notável ganhadora de almas para Cristo.
Paul Tournier, um dos maiores psiquiatras suíços, afirmou que na vida cristã precisamos entender que cada dia nos apresenta novas circunstâncias, e sempre teremos que fazer certas acomodações. Se viajo de carro para outra cidade, não irei dirigir o tempo todo com as mãos rígidas no volante, nem rodar sempre à mesma velocidade. Terei que parar vez por outra, e dar partida no veículo, fazer ajustamentos. O mesmo se aplica a nosso viver diário. Há sempre um preço a se pagar pelo fato de sermos seres humanos; uma parte desse preço são dores e problemas. Mas temos a promessa de Cristo de que está sempre conosco.
No Salmo 34, há três grandes afirmações acerca de nossos problemas:
"Clamou este aflito, e o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações." (V. 6.)
"Clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações." (V. 17.)
"Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra." (v. 19.)
A vida cristã não é uma via de "escape" da existência, mas um caminho que nos conduz "através" dela. A palavra "livrar" nesses versos não fala de uma libertação das dificuldades, mas de uma libertação "em meio" a elas. O teólogo inglês, Dr. Arthur Way, colocou-os da seguinte maneira: "É uma libertação em meio à provação, e não uma libertação dela. Então, nesse sentido, a idéia é: "Conduziu-me em segurança durante o conflito", e não "Simplesmente livrou-me de enfrentar o conflito."
Outra pergunta é: "Sinto tanto senso de culpa – como posso encontrar alívio?
A culpa é um elemento debilitante. Ela pode destruir nossa atitude, nossos relacionamentos pessoais, e nosso trabalho. Às vezes, nos sentimos culpados por havermos feito coisas erradas pelas quais temos que aceitar o perdão de Deus.
Médicos têm me dito que uma grande parte dos pacientes de hospitais psiquiátricos poderiam ser liberados, se apenas se convencessem plenamente do fato de que foram perdoados.
É fácil colocar a culpa em outrem. A comediante inglesa, Anna Russell, escreveu um interessante poema a respeito da culpa, intitulado "O Velho Sigmund Freud".
Fui ao psiquiatra para ser analisado
E saber por que chutei meu gato e "soquei" o olho de minha esposa.
Ele deitou-me em seu divã, a ver o que descobria.
E eis o que arrancou de meu subconsciente:
Quando eu tinha um ano, minha mãe escondeu meu bonequinho num baú.
E, por isso, naturalmente, estou sempre bêbedo.
Quando tinha dois, sofri de ambivalência com relação a meus irmãos
E, por isso, naturalmente, enveneno minhas amadas.
Agora, estou muito alegre, pois aprendi algo que ele me explicou:
Que tudo que faço errado é culpa de outra pessoa que errou.
Para alguns, a culpa é uma desculpa. Não aceitam o perdão que lhes é oferecido; é tão difícil acreditar. Parece bom demais que Deus nos deixe ficar eternamente livres de nossos pecados – e, no entanto, esta é a mensagem que o evangelho nos traz. Quando nos agarramos à nossa culpa, deixamos de honrar a Deus e prejudicamos nossa vida terrivelmente.
O perdão é a oportunidade que Cristo nos ofereceu na cruz. Quando aceitamos seu perdão, e nos dispomos a perdoar-nos a nós mesmos, então encontramos alívio.
No sistema de esgotos de Londres, depois que, por um processo automático, é aproveitado tudo que se pode aproveitar, os resíduos sedimentados no rio Tâmisa são levados alguns quilômetros mar a dentro, e ali depositados. Segundo consta, são necessários apenas alguns segundos para que a água do mar esteja novamente pura, após o depósito dos detritos. Isso é uma bela ilustração de como nossos pecados são sepultados no fundo do oceano.
Corrie ten Boom narra a história de uma garotinha que quebrou uma xícara valiosa de sua mãe. A menina aproximou-se da mãe em lágrimas. "Ah, mamãe, perdoe-me; quebrei sua linda xícara."
A mãe respondeu: "Sei que vocé está sentida, e a perdôo. Agora não chore mais." E recolheu os cacos da xícara quebrada, e atirou-os no lixo. Mas a filha parecia estar gostando daquele sentimento de culpa. Foi à lata de lixo, pegou os cacos da xícara, levou-os à mãe, e disse-lhe, em prantos: "Mamãe, sinto muito haver quebrado sua xícara."
Dessa vez a mãe lhe falou com toda a firmeza: "Pegue estes pedaços, e os coloque no lixo. Não seja tola de apanhá-los novamente. Eu já disse que a perdoei, e portanto não chore mais e não torne a pegar os cacos da xícara."
A culpa é removida pela confissão e purificação. "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." (1 Jo. 1:9.)
Todavia, o relato do pecado de Davi demonstra que o perdão não elimina as conseqüências naturais do pecado. Um assassinato pode ser perdoado, mas não traz o morto de volta à vida.
Existe uma história bem conhecida de alguns homens escoceses, que haviam passado o dia todo pescando. À noite, eles se encontravam numa pequena estalagem tomando chá. Um dos pescadores, num gesto característico para descrever o tamanho de um dos peixes que haviam escapado, abriu os braços atabalhoado, exatamente no momento em que a garçonete se inclinava para depositar a chávena diante dele. Sua mão esbarrou na xícara, atirando o chá na parede caiada. Imediatamente, uma feia mancha marrom começou a espalhar-se pela parede. O homem que provocara o acidente estava muito constrangido, e desculpou-se repetidas vezes. Outro freguês que ali estava, ergueu-se rápido, dizendo: "Não se preocupe." E retirando do bolso uma caneta, começou a desenhar o contorno da feia mancha. Logo todos puderam distinguir a figura de um magnífico veado real, com seus grandes "galhos". Aquele artista era Sir Edwin Landseer, o melhor desenhista de animais da Inglaterra.
Este incidente sempre ilustra para mim o fato de que se confessarmos não somente nossos pecados mas nossos erros para Deus, ele pode fazer deles algo que redunde para nosso bem e sua glória. Por alguma razão, parece mais difícil confiar a Deus nossos erros e tolices do que os pecados. Nossos enganos e mancadas parecem tão grosseiros, ao passo que os pecados parecem mais uma frutificação própria de nossa natureza humana. Mas o texto de Romanos 8:28 afirma que se os confiarmos a Deus, ele pode fazer com que tudo contribua para nosso bem e sua glória.
Quando alguém faz um bolo, mistura vários ingredientes como farinha, fermento, chocolate amargo, manteiga, etc., os quais, se provados separadamente, não têm bom sabor, mas reunidos dão um delicioso bolo. O mesmo se dá com nossos erros e pecados – embora não sejam um bem em si mesmos, se os entregarmos a Deus, com fé simples e sincera, ele os maneja à sua própria maneira e no tempo certo, e faz deles algo que coopera para nosso bem e sua glória.
Pergunta: "É preciso que eu entenda tudo que diz respeito à morte de Cristo?" A profundeza do amor de Deus ao enviar seu Filho para pagar um preço tão terrível está acima da compreensão humana. Temos que aceitar tudo pela fé, ou então continuaremos a carregar o peso da culpa. A salvação vem somente por Cristo, pela fé somente, e somente para a glória de Deus.
Jesus nunca disse: "Compreenda somente", mas, sim, "Crê somente".






JESUS CRISTO ESTÁ VIVO

Em um grande mausoléu da Praça Vermelha, em Moscou, jazem os restos mortais de Lenine, embalsamados. O caixão de cristal de seu túmulo tem sido visitado por milhões de pessoas. No esquife está a inscrição: "Para ele que foi o maior líder de todos os povos. Foi o senhor da nova humanidade; ele foi o salvador do mundo."
Este tributo a Lenine está todo escrito no pretérito. Que marcante contraste com as palavras de Cristo: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá." (Jo. 11:25.) As bases de nossa fé em Jesus Cristo estão em sua ressurreição. O grande teólogo suíço Karl Barth disse que sem a crença na ressurreição corporal de Jesus Cristo não existe salvação.
Se Cristo estivesse ainda no túmulo, em Jerusalém, onde os milhares de pessoas que visitam Israel todos os anos pudessem passar pelo sepulcro e adorá-lo, então o cristianismo seria uma fábula. O apóstolo Paulo disse: "E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a vossa fé... E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados." (1l Co. 15:14,17.)
Geralmente, o que ouvimos sobre a ressurreição é um sermão de Páscoa, mas isso é tudo. Porém, quando os primeiros apóstolos pregavam, seu tema constante era a cruz e a ressurreição. Sem a ressurreição, a cruz não tem nenhum sentido.

O Homem Viverá de Novo

Algumas pessoas dizem que não passamos de carne, ossos e sangue. Depois que morrermos, nada nos acontece – não vamos a nenhum lugar. Ou então, se vamos, será para um lugar nebuloso, criado pela imaginação, e que pode representar qualquer coisa.
A ciência ajuda? Tenho interrogado cientistas com respeito à vida após a morte, e a maioria deles diz: "Não sabemos." A ciência lida com fórmulas e tubos de ensaio; o mundo espiritual encontra-se fora de seu campo.
Muitos escritores que não crêem na vida após a morte enchem suas obras de tragédias e pessimismo. Gore Vidal, Truman Capote, Dalton Trumbo, e muitos outros, escrevem sempre com um pessimismo constante. Como são diferentes as palavras de Jesus Cristo, que disse: "Porque eu vivo, vos também vivereis" (Jo. 14:9). Devemos basear nossa esperança de imortalidade em Cristo somente, – e não em anseios, argumentos e sentimentos instintivos de imortalidade.
A Bíblia fala da ressurreição de Jesus como de algo que podia ser comprovado pelos sentidos físicos. Os discípulos o viram nas mais diversas situações, depois que ele ressuscitou. Em certa ocasião, apenas um dos discípulos o viu; em outro momento, quinhentos. Eles o tocaram; andaram com ele, conversaram com ele, jantaram com ele, e o examinaram. Isto anula a idéia de as aparições do Cristo ressurreto terem sido mera alucinação, pois coloca-as no plano do fato físico demonstrável.
Há fatos históricos que fornecem bases para a crença na ressurreição corpórea de Cristo. Existem mais evidências para apoiá-la, que para apoiar quaisquer outros eventos, seculares ou religiosos, daquela mesma época.

E Quanto a Outras Religiões?

A maioria das religiões do mundo é baseada em pensamentos filosóficos, à exceção do judaísmo, budismo, islamismo e do cristianismo. Estas quatro baseiam-se em pessoas. Mas destas, somente o cristianismo declara que seu fundador ressuscitou.
Abraão, o pai do judaísmo, morreu dezenove séculos antes de Cristo. Não existe nenhuma evidência de sua ressurreição.
Buda viveu cerca de cinco séculos antes de Cristo, e ensinou alguns princípios acerca do amor fraternal. Acredita-se que ele morreu com a idade de oitenta anos. Não existem evidências de uma possível ressurreição sua.
Maomé morreu no ano 632 A.D., e seu túmulo, em Medina, é visitado por milhares de devotos maometanos. Seu berço natal, Meca, recebe muitos peregrinos todos os anos. Contudo não há evidências de que ele haja ressuscitado.

Evidências da Ressurreição de Cristo

Existe uma teoria chamada "teoria do desmaio", que afirma que Cristo não morreu realmente, mas apenas desfaleceu. E como não é possível uma ressurreição sem que haja a morte, esta idéia nega a sua ressurreição. Contudo, as evidências de sua morte são fortíssimas.
Os soldados estavam certos de que Jesus estava morto, tanto que não acharam necessário quebrar-lhe os ossos das pernas, como haviam feito aos dois ladrões que o ladeavam. Não foram os amigos de Jesus que afiançaram sua morte, mas seus inimigos. Além disso, eles procuraram se certificar disso atravessando seu coração com uma lança.
Um dos homens mais ricos do mundo, Howard Hughs, faleceu recentemente. Os eventos e circunstâncias que cercaram sua morte estão envoltos em mistério, e, no entanto, ele tinha um séqüito de pessoas ao seu redor, que o guardavam havia vários anos.
Numa cidade do Oriente Médio, porém, existem mais evidências históricas da morte de um homem, sozinho numa cruz, entre dois ladrões, que qualquer outra morte da História. Wilbur Smith, o grande estudioso bíblico, disse: "Podemos afirmar simplesmente que conhecemos maior número de detalhes acerca da morte de Jesus e das horas que a antecederam, em Jerusalém e suas cercanias, do que da morte de qualquer outro homem no mundo antigo."
Jesus foi sepultado. Conhecemos melhor os eventos relativos ao sepultamento de Cristo que os de qualquer outra personalidade da História antiga. Seu corpo foi retirado da cruz e envolto em lençóis de linho fino e especiarias. José de Arimatéia, um homem rico que secretamente seguia a Jesus, reuniu toda a sua coragem e pediu a Pilatos o corpo do Mestre. Tendo o seu pedido atendido, diz-nos a Bíblia que ele retirou-o da cruz, e enrolou-o em lençóis de linho. (Mt. 27:59.) Diz-nos também que Nicodemos (o mesmo líder religioso que perguntara a Jesus como é que se pode nascer de novo), trouxe uma caríssima mistura de mirra e aloés, para colocar nos lençóis, como era costume, num sepultamento judeu.
O corpo de Jesus foi depositado no túmulo de José, localizado no jardim. Estas medidas tomadas para o seu sepultamento provam que foi o corpo de Jesus, e não seu espírito, o sepultado. O espírito é imaterial, e não pode ser enterrado.
Após o sepultamento de Cristo, uma enorme pedra foi colocada na boca do túmulo, e sobre ela um sinete da autoridade. Qualquer pessoa que quisesse remover a pedra da entrada do túmulo teria que romper o selo romano, e enfrentar as conseqüências da severa lei romana.
Para garantia de que os discípulos de Jesus não roubariam seu corpo, um destacamento da guarda foi postado diante do túmulo lacrado. Os inimigos de Jesus não queriam arriscar-se a permitir que as profecias acerca de sua ressurreição viessem a cumprir-se.
E os guardas romanos? Não eram homens covardes. O treinamento militar deles era bastante rígido, tanto que o castigo para quem abandonasse seu posto ou dormisse em serviço era a morte.
Os historiadores dizem que provavelmente havia quatro guardas de serviço junto ao túmulo, todos equipados com pesado armamento e escudos. Eles não se descuidariam de nada, para evitar que o corpo de Jesus fosse removido do sepulcro.
O túmulo vazio. Chegou o terceiro dia, o dia em que Jesus dissera que ressuscitaria. Nas imediações do túmulo, a terra começou a tremer, e com isso as armaduras dos soldados devem ter sacudido também, barulhentamente. Então, um anjo do Senhor desceu dos céus, e afastou a pedra com toda a facilidade, e sentou-se sobre ela. Ele nem precisou saudá-los: "Olá, amigos!" Os guardas o fitaram espantados, e ficaram como mortos.
O anjo falou também a Maria Madalena e a Maria, pois a Bíblia nos diz que elas partiram imediatamente, e correram a contar aos discípulos que ele ressuscitara.
Quando Pedro e João chegaram ao túmulo correndo, João espiou para dentro, e encontrou vazios os lençóis que haviam envolvido o corpo de Cristo. Pedro, de acordo com sua personalidade, entrou no túmulo impulsivamente e viu que o corpo de Jesus não estava lá. Desaparecera.
A ressurreição corporal foi um ato atestado por centenas de testemunhas. Temos registros de quinze aparições de Jesus, sob circunstâncias as mais diversas. Seu corpo era semelhante ao que fora pregado na cruz, mas diferente sob certos aspectos. Era tão semelhante com um corpo humano comum que quando ele apareceu a Maria, esta confundiu-o com o jardineiro do lugar. Ele comia, falava e ocupava um lugar no espaço.
Entretanto, seu corpo não era um corpo normal. Ele atravessava portas fechadas, ou desaparecia momentaneamente. O corpo de Cristo era físico e também espiritual. Por que isso deveria surpreender-nos? Paulo perguntou ao Rei Agripa: "Por que se julga tão incrível entre vós que Deus ressuscite mortos?" (At. 26:8.)
Várias e várias vezes a Bíblia afirma o fato da ressurreição corpórea de Jesus. Lucas diz isso claramente no livro de Atos: "A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias." (1:3.)
Falando acerca destas "provas incontestáveis" o escritor C. S. Lewis diz: "O primeiro fato da história da cristandade é um grupo de pessoas dizendo que haviam presenciado uma ressurreição. Se essas pessoas tivessem morrido sem conseguir convencer a mais ninguém dessa "boa-nova", os evangelhos nunca teriam sido escritos."


A Ressurreição é Essencial

Existe uma série de eventos que são como os elos de uma cadeia que vai de eternidade a eternidade. Alguns desses eventos são: a encarnação de Jesus, sua crucificação, ressurreição, ascensão e segunda vinda. Se faltar um desses elos, a cadeia será desfeita.
O cristianismo todo, como sistema de verdade, desmoronará se a ressurreição for rejeitada. Como disse Paulo: "E, se Cristo não ressuscitou, é vá a nossa pregação e a vossa fé." (1 Co. 15:14.)
Se a ressurreição não fosse essencial, além de esse fato romper a cadeia dos eventos da redenção, a boa-nova da salvação seria vazia, sem vida e negativa. A ressurreição é essencial ao evangelho. Paulo disse: "Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras." (1 Co. 15:1-4.)
Em meu livro Mundo em Chamas, relatei um fato acerca do filósofo francês, Augusto Comte e o ensaísta escocês Thomas Carlyle. Comte dissera que iria fundar uma religião que suplantaria a religião de Cristo. Ela não teria nenhum mistério, e seria simples como uma tabuada de multiplicar; seu nome seria Positivismo. "Muito bem, Sr. Comte", replicou Carlyle. "Muito bem. Tudo o que o senhor tem a fazer é falar como nenhum outro homem falou; viver como nenhum outro viveu; ser crucificado e ressuscitar no terceiro dia, e fazer o mundo acreditar que o Senhor ainda está vivo. Assim, sua religião terá chances de perdurar."
Hoje em dia, estão surgindo muitas "religiões novas", brotando como cogumelos após uma chuva de verão. Pergunto-me quantas delas se enquadrariam nos requisitos que Carlyle apresentou a seu amigo.
Ternos enfatizado neste livro a experiência do novo nascimento. A experiência pessoal da salvação está diretamente relacionada com a crença na ressurreição de Cristo. Paulo apresentou a fórmula da fé salvadora, e mostrou que ela está centralizada nessa crença. "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação." (Rm. 10:9,10.)
As Escrituras não poderiam ser mais claras do que são. Contudo, existem igrejas cujos pastores declaram crer na ressurreição, mas querendo dizer que Jesus ergueu-se da morte para uma vida espiritual com Deus. Tais pessoas afirmam acreditar numa ressurreição "espiritual", mas não "física". É isto que alguns pregadores modernistas proclamam no domingo da Páscoa – embora eu deva dizer que o número desses pregadores está diminuindo bastante, o que me alegra muito.
Não admira que existam tantas pessoas em nossas igrejas que vão aos cultos todos os domingos, entra ano sai ano, e nunca ouvem o evangelho completo, e não sabem o que significa "nascer de novo". Ouvem um evangelho mutilado, e que, conseqüentemente, não se constitui em "boas-novas". A ressurreição não foi incorpórea, mas física. Testemunhas oculares declararam: "Vimos a sua glória"; "Ele apareceu"; "Eu vi o Senhor Jesus".
Dentro de um curto período de três dias, esses dois eventos. a morte e a ressurreição de Jesus, ocorreram corporalmente, e não simbolicamente, foi uma ocorrência tangível e não espiritual, foi testemunhada por pessoas de carne e osso, e não criada por uma espécie de alucinação coletiva.
A ressurreição foi também a garantia e a promessa de nossa própria ressurreição.
Para compreender bem isto, precisamos entender que na Bíblia a morte afeta tanto a personalidade como o corpo. (Lembra-se das três dimensões da morte?) O corpo, também, tem que ser resgatado da condenação. Somente pela ressurreição do corpo, Deus poderia obter uma vitória completa sobre a morte. Ele iniciou o processo pela ressurreição do corpo de Jesus, mas também fará o mesmo com o corpo daqueles que crerem. Assim como o julgamento da morte foi total, assim a salvação da sua pena também é total, e se aplica ao fator físico, espiritual e eterno.
Está claro que nosso corpo ressurreto vai ser reconhecível, mas não poderá ser exatamente o mesmo corpo que tivemos aqui. No entanto, deverá ser como o corpo ressurreto de Cristo. Ele tinha as marcas dos cravos e o ferimento do lado, mas também atravessava portas fechadas. E quando chegou o momento de ir para o céu, ele pôde subir.
Que maravilhosa promessa! "Pois se cremos que Cristo morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará juntamente em sua companhia os que dormem." (1 Ts. 4:14.)
Jesus investiu tudo em sua ressurreição dentre os mortos. Pela ressurreição, ele seria conhecido como falso ou verdadeiro.

O que a Ressurreição Significa Para Nós Hoje

Cristo vive em cada pessoa que deposita sua confiança nele. A ressurreição representa a presença do Cristo vivo. Ele disse: "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século." (Mt. 28:20.) Quem assim garante é o próprio Cristo: a vida assume um novo significado. Após a crucificação, os discípulos estavam desesperados. Eles disseram: "Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel." (Lc. 24:21.) Estavam angustiados, porque pensavam que a morte de Cristo fora uma imensa tragédia. A vida perdera todo o significado para eles. Mas quando Jesus ressuscitou de entre os mortos, eles contemplaram o Cristo vivo, e, novamente, sua vida passou a ter um sentido.
Nós também podemos reivindicar as orações do Cristo vivo. A Bíblia diz: "É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está á direita de Deus, e também intercede por nós." (Rm. 8:34.) Não precisamos pensar que nossas orações estão sendo retidas no teto. O Cristo vivo está assentado à destra de Deus, o Pai. Deus, o Filho, conserva a mesma "humanidade" que tomou sobre si para salvar-nos, e está atualmente vivendo em um corpo que ainda tem as marcas dos pregos nas mãos. Ele é nosso grande sumo sacerdote, intercedendo por nós junto a Deus, o Pai.
A presença viva de Cristo dá-nos poder para viver a vida de cada dia e servi-lo. "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai." (Jo. 14:12.)
O corpo ressurreto de Jesus é o "projeto" do corpo que teremos quando também ressuscitarmos de entre os mortos. Não importam as aflições, dores, distorções de nosso corpo terreno, nós receberemos um novo corpo. Que gloriosas promessas do futuro! "Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as cousas." (Fp. 3:20,21.)
Milhares de pessoas hoje em dia estão entusiasmadas com o estudo das profecias. A revelação do que a Bíblia ensina acerca dos eventos passados, presentes e futuros tem se tornado o mais importante tópico para livros, sermões e conferências. A segunda vinda de Cristo está-se tornando uma realidade cada vez mais próxima para nós que estudamos a Bíblia, e analisamos o cenário mundial.
A chave de todo o plano para o futuro está na ressurreição de Cristo. Se Cristo não houvesse ressuscitado dentre os mortos, não poderia haver reino nem o Rei que retorna. Quando os discípulos estavam no local da ascensão de Jesus, de onde ele partiu desta terra, os anjos lhes asseguraram que o Cristo ressuscitado era o Cristo que voltaria. "Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir." (At. 1:11.)
A ressurreição é um evento que nos prepara e confirma aquele momento futuro, quando ele retornará.
Sim, Jesus Cristo está vivo.
Obviamente, a ressurreição corpórea de Cristo é uma parte essencial do plano de Deus para nos salvar. Você já se entregou a este Cristo vivo?
Uma senhora escreveu-nos o seguinte: "Ontem à noite, eu estava sozinha em casa, assistindo à TV. Não tinha a revista com a programação dos canais, mas alguma coisa levou-me a girar o botão de sintonização para o canal onde estavam pregando o evangelho. E eu vinha lutando com um sério problema. Estava e ainda estou, ante a perspectiva da morte. Uma operação talvez me ajude (e talvez não). Eu vinha adiando essa operação por temer estar afastada de Deus.
"Mas então comecei a buscar o Senhor seriamente. A mensagem que ouvi foi o meio que Deus utilizou para falar-me e responder minhas orações. Agora sinto perfeita paz em minha alma."
Se você confiar no Cristo ressuscitado, como seu Senhor e Salvador, ele estará com você, quando morrer, e lhe concederá uma vida eterna com ele. Por causa da ressurreição dele, você pode "nascer de novo".













O NOVO NASCIMENTO É PARA HOJE

Geralmente, quando acabamos de ler os jornais da manhã, o café parece amargo e a torrada sem gosto. Outro tumulto no Egito. A África está dividida por nações rivais. O Oriente Médio parecia estar tranqüilo, até que ocorreu novo incidente na fronteira, e as hostilidades foram reiniciadas. Três moças foram assassinadas no campus de uma famosa universidade estadual.
Que pode fazer o homem comum? Ele se sente despreparado, desamparado. Todos os comitês políticos, resoluções, as mudanças de governo não parecem modificar a sociedade.
Estamos crendo que para a humanidade ser salva, alguma medida drástica precisa ser tomada prontamente. As forças que parecem estar-se arregimentando em nosso mundo são tão avassaladoras, que homens e mulheres, em toda a parte, começam a clamar em desespero. Sentem-se como o homem que João Bunyan descreve no início de O Peregrino. "... estava grandemente perturbado de espírito, e clamou, como já fizera antes, gritando: "Que devo fazer para me salvar?"
Tanta coisa parece melhorar em nosso mundo, menos o homem. Já conseguimos enviar uma nave espacial à lua, e fotografar de perto o planeta Marte, mas não podemos andar pelas ruas à noite, em segurança. Os sutis pecados do egoísmo e indiferença estão por toda a parte. Homens aparentemente honestos admitem acalentar desejos os mais grosseiros. (E quem ainda se choca com tais coisas?) Os vícios humanos andam à solta e por toda parte campeiam roubos, trapaças, mentiras, morte e estupros.
Uma pessoa ligada à indústria cinematográfica disse que tudo que se tem a fazer é comparar os títulos dos velhos clássicos do cinema com filmes sendo exibidos presentemente, para se constatar a mudança da ética moral, ocorrida nesta última geração. E realmente, é bem grande a distância entre Canção do Deserto e Deep Throat (O fundo da garganta).
O homem tem feito muitas tentativas para modificar-se. Temos tentado, sem sucesso, atingir objetivos morais procurando melhorar o meio-ambiente, mas muitos estão desiludidos com os resultados alcançados.
Como podemos mudar nossa natureza humana?

De Fora Para Dentro

Os estudos de antropologia, psicologia e sociologia que são desenvolvidos com a finalidade de descobrir os princípios que regem o comportamento humano constituem um setor importante da pesquisa educacional. Contudo, muitas vezes, os pesquisadores ignoram o fator pecado, e vêem o homem apenas como um ser resultante de uma combinação de genes e cromossomos, cuja formação é depois afetada pelo meio-ambiente em que vive.
Numa convenção da Associação Americana de Antropologia um zoólogo da Universidade de Harvard introduziu urna nova disciplina à comunidade acadêmica. Denominou-a de "sociobiologia", e definiu-a como sendo "o estudo das bases biológicas do comportamento social, em todas as espécies; seus associados crêem que parte do comportamento humano – ou talvez todo ele – é determinado por fatores genéticos".
Os sociobiólogos dão a entender que "uma parcela bem grande da moralidade humana talvez seja baseada em fatores genéticos". Mas eles deixam de considerar adequadamente a inclinação inata de cada pessoa para o egoísmo, o vício, a indiferença a Deus, pois muitas de suas conclusões são pseudocientíficas.
Se realmente somos regidos por nossos genes, ou moldados pelo meio-ambiente, então tudo que temos a fazer é descobrir uma forma de alterar as bases genéticas dos seres humanos, ou sanear o meio-ambiente, solucionando problemas de habitação, favelas, pobreza, desemprego e descriminação racial.
Um escritor bastante conhecido disse: "Hoje em dia, muitos pregadores têm se mostrado moderados em questões tais como o pecado e arrependimento do indivíduo, e dirigem seus ataques ao pecado da sociedade numa tentativa de constrange-la à ação. Esses ataques vão desde uma branda palestra sobre sociologia até violentas demonstrações contra as injustiças sociais. Todavia, as favelas e guetos não desaparecerão da sociedade a menos que essas favelas e guetos desapareçam do coração dos homens."
Mas nós, os cristãos, precisamos tomar uma atitude com relação às injustiças sociais, favelas e guetos. Não podemos ficar sentados, dizendo que os problemas são grandes demais ou insolúveis. Temos que nos interessar em procurar melhorar a existência dos menos afortunados, cujo nível de vida é tão baixo que se constitui um desafio para nossa imaginação, e a vida dos que se encontram sob fortíssimas opressões políticas. Entretanto, a sociedade não pode ser modificada por coerção e força, pois quando tais meios são empregados, o homem perde a liberdade. Ela só pode ser modificada por uma transformação completa do coração humano.
O homem tenta modificar-se também utilizando processos químicos. Os cientistas conseguiram descobrir métodos de controle do comportamento através de drogas, que, em alguns casos, têm se revelado valiosos. Muitas pesquisas têm sido feitas nesse sentido, e que poderão reverter-se em beneficio dos doentes mentais. O perigo é que estas drogas, nas mãos de um ditador mundial, poderiam controlar toda uma população de homens normais. Relatos de prisioneiros de países oprimidos atestam que os atuais manipuladores de mentes fazem uso de drogas para influenciar as ações de certas pessoas.
Um deles escreveu o seguinte: "Eu próprio testemunhei o tratamento aplicado aos prisioneiros políticos em hospitais psiquiátricos, quando estes tentavam protestar, recusando alimentos e os "tratamentos" impostos a eles. Eram amarrados, recebiam injeções de sulfa paralisante, e alimentados à força... eles inventaram uma poderosa forma de se livrarem daqueles que não pensam como eles. E além de não hesitarem em confiná-los em hospitais-prisão, eles agravam ainda mais o seu crime inoculando nos prisioneiros certas substâncias químicas, com a finalidade de destruir sua personalidade e intelecto."
Algumas mudanças no equilíbrio químico do organismo podem ser-nos benéficas; outras podem causar danos permanentes. A questão é: "Quem ministra a droga, e com que objetivo?"
Várias experiências têm sido efetuadas no intuito de se tentar dar a uma pessoa a capacidade intelectual de outra, levando a efeito o que esses "controladores de mente" chamam de "reencarnação artificial". Num estudo que alguém conseguiu enviar para fora da Rússia, relatava-se que um dos maiores físicos do país experimentara "unir duas mentes, telepaticamente". O cientista explica: "Quando isto for possível, um professor estará capacitado a instruir seu aluno, ultrapassando seus limites normais, atravessando seus mecanismos de defesa, atingindo os 90% do cérebro que normalmente ficam desusados." E ele continua sua explicação dizendo que "reencarnaram um gênio da matemática europeu em um estudante de matemática de nível universitário".
Outra tentativa do homem para resolver os problemas da humanidade diz respeito à área da microbiologia. O crescente sucesso dos transplantes de órgãos, no futuro, pode conduzir a ciência a um grande movimento para modificar as pessoas através da substituição de certos órgãos ligados ao pensamento, consciência e emoções. Entretanto, o evangelho da microbiologia, ministrado por cientistas que são eles próprios homens pecadores, tendo acesso apenas à substância de um mundo caído, deverá fracassar.
Muitos escritores de ficção científica consideram suas especulações interplanetárias como a única maneira de resolver os problemas da humanidade. Mas a dificuldade fundamental é que o pecado está profundamente enraizado na natureza humana e não pode ser removido por tais influências. Sempre que Deus é ignorado, os próprios solucionadores de problemas participam do problema. As superpotências, agora, estão-se preparando desesperadamente para uma guerra "espacial". Um editorial de certo jornal declarou o seguinte: "Quem ganhar esta corrida, poderá ter nas mãos o controle do mundo."
Muitas pessoas hoje em dia estão tentando encontrar uma solução para os problemas do homem, voltando-se para o ocultismo. Buscam conhecimentos e poder em fontes às quais, segundo diz a Bíblia, devíamos resistir de todo o coração. O apóstolo Paulo afirma: "Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes." (Ef. 6:12.) O mundo do ocultismo é uma fonte de terror e destruição.
Os métodos que os homens empregam para modificar-se, a partir do exterior para o interior, são realmente variados e às vezes notáveis.

De Dentro Para Fora

Jesus disse que Deus pode transformar o homem de dentro para fora. Foi um desafio – um mandamento. Ele não disse: "Seria bom se vocês nascessem de novo", ou "Seria bom para vocês, se nascessem de novo", mas o que ele disse foi: "Importa-vos nascer de novo". (Jo. 3:7.)
Eu sempre me espantei com o fato de ele haver dito isso a um devotado líder religioso. Nicodemos, deve ter ficado bastante chocado ao ouvi-lo. Afinal, Nicodemos era um homem bom, de boa moral e religioso. É provável que seus vizinhos dissessem dele: "Ele é ótima pessoa. Você pode confiar-lhe sua vida. É um grande teólogo."
Nicodemos jejuava duas vezes por semana; passava duas horas por dia no templo, em oração, e dava os dízimos de toda a sua renda. Era professor de teologia no seminário local. Se uma igreja estivesse à procura de um pastor, interessada no melhor pastor que pudesse achar, ela se voltaria para uma pessoa como Nicodemos. Mas Jesus afirmou que toda a sua religiosidade e bondade não eram suficientes. Ele disse: "Importa-vos nascer de novo."
Apesar de todo o seu preparo e posição profissional, Nicodemos viu que havia em Jesus Cristo algo de muito especial – algo que ele não compreendia. Viu em Jesus uma nova qualidade de vida. Ele estava sinceramente procurando saber qual era sua dimensão de vida.
Quando Jesus lhe falou que a menos que nascesse de novo não poderia ver o reino de Deus, estava-lhe explicando que não precisava melhorar seus padrões morais nem aumentar seus títulos de doutorado, mas precisava receber uma nova qualidade de vida – a vida eterna – que começa neste mundo e continua até o além.
Certa vez, quando regressei para casa de uma viagem, encontrei, em minha escrivaninha, como de costume, uma pilha de cartas. Nessa ocasião a que me refiro, havia duas provenientes de hospitais de doentes mentais, de estados diferentes. Bastou apenas olhar a caligrafia delas e ler rapidamente as cartas para perceber claramente que tais pessoas deviam mesmo estar em instituições para doentes mentais. E, no entanto, ambas falavam do Senhor Jesus e do conforto que ele significava para elas.
Não pude deixar de pensar na bondade, amor e compaixão de Deus em revelar-se ao homem através de algo tão simples como a fé de uma criança, em vez de fazê-lo pelo intelecto. De outra forma, não haveria esperanças para as criancinhas, nem para os retardados ou pessoas com deficiências cerebrais. Porém, tanto um cientista brilhante como o verdadeiro intelectual e o gênio, todos tem que vir a Cristo do mesmo modo. Como Jesus disse em Mateus 18.3: "Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus."
John Hunter, o teólogo inglês, conta a história de um jovem que o procurou após uma pregação em que discorrera acerca de João 3. "Como Nicodemos, ele também era muito culta, e disse: 'O que o senhor disse tocou-me profundamente; na verdade, se eu conseguisse entender o que o senhor nos contou, eu me tornaria crente.' Ele foi bem sincero ao fazer essa declaração, por isso continuei a interrogá-lo e a conversar com ele. Ele se graduara numa universidade, e tinha a mente treinada para o raciocínio e avaliação de fatos.
"Perguntei-lhe: 'Se você realmente pudesse entender o significado completo do evangelho, você se tornaria cristão?' "Sim', replicou ele.'Eu me tornaria.' "Bem', continuei, 'então consideremos o seguinte. Tenho um amigo que trabalha como missionário no Congo, entre os pigmeus, um povo que possui reduzida capacidade de entendimento. Se para nos tornarmos cristãos, tivéssemos de entender a mensagem do evangelho, como poderiam aquelas pessoas tão simples receberem esta bênção?'
"A resposta dele foi bastante franca: 'Sabe de uma coisa? Nunca pensei nisso."
"Não", respondi. 'Mas Deus pensou. A mensagem do evangelho não precisa ser entendida pela pessoa que a busca, mas apenas recebida em fé simples. Não é a compreensão plena da mensagem do evangelho que me capacita a receber a bênção, mas simplesmente a crença nela e sua aceitação.' Nicodemos principiou conhecendo a mensagem, mas depois creu e recebeu."
Há muitas pessoas hoje, assentadas nos bancos das igrejas, que nunca ouviram esta mensagem do novo nascimento. Algumas igrejas falam de boas obras, mudanças sociais, legislação, e ignoram a única coisa que realmente poderá resolver os problemas de nosso mundo – homens e mulheres transformados. O problema básico do homem é primeiramente espiritual; depois, social. Ele precisa de uma transformação completa, de dentro para fora.
Algum tempo atrás, assisti a uma histórica conferência evangélica na África. Todos os países do continente, à exceção de um, faziam-se representar por seus delegados. Nunca antes houvera tal ajuntamento de cristãos ali. Ouvi várias vezes os líderes africanos expressarem sua apreciação pelo que as missões cristãs realizaram lá, principalmente nos campos evangelístico, médico e educacional. Um dos oradores disse o seguinte: "Oitenta e cinco por cento do volume educacional levado a efeito ao sul do Saara foram executados por missões cristãs."
Um bispo anglicano da Inglaterra disse-nos: "Todas as agências de cunho social da Inglaterra, começando com a Sociedade de Prevenção da Crueldade aos Animais, e daí para cima, foram fundadas como resultado da conversão de uma pessoa a Cristo ou de um despertamento espiritual." Temos que nos acautelar para não colocarmos os carros adiante dos bois.
A Bíblia menciona muitas vezes esta transformação de que Jesus falou. Deus disse o seguinte, através do profeta Ezequiel: "Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo" (36:26). No livro de Atos, Pedro denomina o fato "converter" ou "arrepender". Em sua carta aos romanos, Paulo fala dele como "ressurretos dentre os mortos" (6:13). Em Colossenses ele o chama de: "(despir-se) do velho homem com seus feitos e (revestir-se) do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" (1:9,10). Em Tito, ele o descreve como "lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (3.5). Pedro fala em sermos "co-participantes da natureza divina" (2 Pe 1.4). No catecismo da Igreja da Inglaterra, é descrito como "morte para o pecado e novo nascimento para a justiça".
O contexto de João 3 ensina que o novo nascimento é algo que somente Deus pode realizar no homem, quando este se dispõe a render-se a ele. Já vimos que a Bíblia ensina que o homem está morto em seus pecados e transgressões, e que sua grande necessidade é de vida eterna. Não temos em nosso interior a semente da nova vida; ela tem que vir do próprio Deus.
Um dos maiores escritores deste século, Oswald Chambers, disse: "Nossa função, como obreiros de Deus, é abrir os olhos dos homens para que se transportem das trevas para a luz; mas isso não é salvação; isso é conversão – o esforço de um indivíduo que foi despertado. Acho que não é exagero dizer que a maioria dos crentes nominais é deste tipo; seus olhos estão abertos, mas não receberam nada... Quando um homem nasce de novo, ele sabe que nasceu de novo, porque recebeu um dom do Deus todo-poderoso, e não por uma decisão sua."
A conversão significa "voltar". A Bíblia apresenta este conceito inúmeras vezes, e Deus apela ao homem a que se volte para ele. O Senhor falou o seguinte através do profeta Ezequiel: "Convertei-vos... dai as costas a todas as vossas abominações." (14:6.) Outro profeta disse: "Olhai para mim, e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro." (Is. 45:22.)
O novo nascimento não é uma mera reforma; é uma transformação completa. As pessoas estão sempre fazendo propósitos de se aperfeiçoarem, de se modificarem, mas quebram esses propósitos pouco depois de os fazerem. Mas a Bíblia ensina que pelo novo nascimento podemos entrar num novo mundo.
Os contrastes que a Bíblia apresenta para expressar esta transformação que acorre em nós quando nascemos de novo são bem claros; da concupiscência para a santidade; das trevas para a luz; da morte para a ressurreição; de estranho ao reino de Deus para o status de cidadão dele. A Bíblia ensina que a pessoa que nasce de novo tem uma ventado transformada, afeições diferentes, outros objetivos de vida, uma nova disposição, novos propósitos. Recebeu uma nova natureza e um coração novo. Torna-se uma nova criatura.

Antes e Depois

A Bíblia é cheia de exemplos de pessoas de todas as camadas sociais que foram transformadas após um encontro com Jesus Cristo. O Senhor teve uma conversa com uma mulher em Samaria, uma prostituta, uma espécie de pária em sua própria localidade. Para fugir a um encontro com outras mulheres do lugar, ela foi a um poço na hora mais quente do dia, quando sabia que não toparia com outras pessoas da aldeia. Mas ali ela encontrou a Cristo. Imediatamente, transformou-se em entra pessoa. Aliás, ela se tornou uma missionário, pois correu à sua própria cidade, onde era ridicularizada e desprezada, para falar acerca de Jesus Cristo aos outros. E lemos depois que "muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito" (Jo. 4:39).
André era um homem comum. Não parecia ser uma pessoa de grande personalidade, mas sua aceitação de Cristo foi pronta; na verdade, no momento em que encontrou Jesus, começou logo a demonstrar seu fervor por ele. A primeira coisa que fez foi procurar seu irmão e contar-lhe a novidade acerca do Messias que achara. É possível que ele não tenha sida um ardoroso evangelista, mas todas as ocasiões em que é mencionado na Bíblia vemo-lo produzindo frutos para Deus.
Nestes dias de altos impostos, as declarações anuais de renda não são saudadas com muito entusiasmo. No tempo de Jesus a situação não era multo diferente. Zaqueu era coletor de impostas, e não muito honesto, pois sabia defraudar as pessoas com muita ardileza. Mas quando encontrou Jesus, tudo isso mudou. Ele se arrependeu e logo desejou reparar seus erros. "Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais." (Lc. 19:8.)
Um jovem intelectual de nome Saulo viajava na estrada de Damasco, em perseguição aos cristãos, quando encontrou Jesus. Até hoje falamos em experiências "da estrada de Damasco", pois, daquele dia em diante, Saulo nunca mais foi o mesmo. Ele se tornou o grande apóstolo Paulo. E muitas vezes fez referência àquele encontro, relembrando-se do dia e do momento em que conheceu a Cristo.
No dia de Pentecostes, uma mudança dramática sucedeu a três mil pessoas, que nasceram de novo. De manhã, estavam perdidas, incertas quanto ao seu objetivo na vida, e muitas delas eram culpadas da morte de Cristo. Outras estavam com medo ou das autoridades religiosas ou das seculares. Mas, ao fim do dia, cada uma delas já passara da morte para a vida. "Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida." (Jo 5.24.)
Qualquer pessoa que se dispõe a confiar em Jesus Cristo como seu Salvador pessoal, e seu Senhor pode receber o novo nascimento imediatamente. Não se trata de algo que só será recebido após a morte ou no momento da morte; é para agora. "Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvação." (2 Cor. 6:2.)

O Novo Nascimento é Para Agora

Estes anúncios de drogas para emagrecimento ou de cirurgia plástica que apresentam o "Antes" e o "Depois" nunca poderão comparar-se ao impacto do testemunho daqueles que nasceram de novo. Desde presidentes de empresas e detentos, estas histórias falam de vidas que foram transformadas e colocadas "de cabeça para cima".
Uma jovem escreveu-nos nos seguintes termos: "Até janeiro passado, eu era uma estranha para Jesus. Era rebelde, ladra, bêbeda, toxicômana, adúltera, hippie, uma pessoa egocêntrica e confusa. Cerca de um ano atrás, fui a um estudo bíblico, levada pela curiosidade, pensando em confundir a todos com minhas perguntas. Naquela noite, comecei a interessar-me pela Bíblia. Por fim, após meses de pesquisa e estudo das Escrituras, o texto de João 3:16 falou ao meu coração, e entreguei minha vida a Cristo. Nunca pensei que tal felicidade pudesse existir. Deus nos mostra como temos que amar e o que é ser amado. Ele é aquilo que eu estava procurando desde meus tempos de adolescente. Ele é o "bem supremo" que eu procurava e não encontrava. Eu pensara que drogas, bebida, amor livre, e vaguear pelo país de um lado para outro iriam tornar-me uma pessoa livre, mas todas estas coisas eram como armadilhas. O pecado foi o alçapão que me deixou nesse estado de confusão, infelicidade e culpa, e quase me levou ao suicídio. Cristo me libertou. Ser cristão é maravilhoso, porque há sempre um novo desafio diante de nós, sempre há muito que aprender. Agora acordo feliz de ver o novo dia. Ele me renovou."
O cantor Johnny Cash diz: "Alguns anos atrás, eu estava amarrado às drogas. Sentia pavor de acordar pela manhã. Não tinha alegria, nem paz, nem felicidade na vida. Então, certo dia, em meu desespero, entreguei minha vida completamente a Deus. Agora, fico ansioso para despertar de manhã, para estudar a Bíblia. As palavras da Bíblia penetram diretamente em meu coração. Isso não significa que todos os problemas tenham sido solucionados, ou que tenha alcançado um estado de perfeição. Contudo, minha vida sofreu uma completa reviravolta. Eu nasci de novo."























O NOVO NASCIMENTO NÃO É APENAS UM SENTIMENTO

Certo homem que havia sido levado a uma reunião evangelística, recordou os seguintes eventos:
"Foi ali que,. pela primeira vez, segundo creio, ouvi a mensagem do evangelho de Jesus e suas declarações apresentadas de forma poderosa, mas simples.
"Ao fim da palestra, o pregador convidou a todos os que quisessem saber mais, que fossem à frente do salão. Eu fui, e apresentaram-me ao pregador. Conversamos durante algum tempo. Havia outras pessoas ali que desejavam fazer-lhe perguntas. Então encaminhei-me para a saída, bastante interessado no que ele dissera, mas ainda muito confuso.
"Quando já me achava junto à porta, para sair, um homem aproximou-se de mim, olhou-me diretamente nos olhos e perguntou:
"O senhor é cristão?"
"Pergunta estranha", pensei, e armando-me de meu melhor sorriso respondi: "Ah, sim; creio que sim."
"O senhor é cristão?" insistiu ele, com um brilho diferente nos olhos.
"Ora essa". pensei. "Vou dar uma resposta educada, e depois procuro um jeito de escapar."
"Então respondi: "Bem, estou tentando ser."
"Já tentou ser um elefante?"
"Sorrindo pelo meu espanto mudo, ele tomou-me pelo braço, e fez-me sentar em uma cadeira, e a seguir explicou-me que por mais que eu tentasse nunca me transformaria num cristão (assim como nunca poderia tornar-me um elefante). Depois, passou a expor o que era o cristianismo segundo o Novo Testamento. E disse que Jesus morrera em meu lugar, pagara o castigo que meus pecados requeriam. Do modo como eu estava, achava-me condenado perante um Deus santo; eu precisava de um Salvador. Somente Jesus poderia salvar-me. O perdão pelo passado somente era possível através dele. Além disso, por sua ressurreição, ele me oferecia poder para viver o tipo de vida que até então eu considerava desesperadamente inatingível.
''Que maravilhosa oferta! Se o Deus vivo realmente desejava entrar em minha vida miserável e manchada, para tomar conta de algo que eu estava desperdiçando e estragando, como eu poderia recusar? Ele prometia: "Eis que estou à porta e bato."
"Abri a porta de par em par. E ele cumpriu sua palavra."
Este homem nasceu de novo. Passou por uma completa reviravolta em sua vida. Ele se julgara cristão antes, mas nunca fizera uma entrega pessoal a Jesus Cristo.
O Senhor Jesus realizou uma obra muito simples, mas nós a complicamos demasiadamente. Ele falava ao povo em frases curtas e palavras do vocabulário cotidiano, ilustrando suas mensagens com parábolas e histórias.
Paulo disse ao carcereiro de Filipos o que ele deveria fazer, para ser salvo. "Crê no Senhor Jesus, e serás salvo." (At. 16:31.)
É tão simples, que muitas vezes passa ignorado. Embora a mensagem do evangelho seja difundida principalmente nos Estados Unidos – pelas estações de rádio e pela televisão, nas ruas, nos púlpitos, e exposta em livros e folhetos – milhões de pessoas simplesmente ainda a ignoram. Para se nascer de novo, tudo que se tem a fazer é arrepender-se dos pecados e crer no Senhor Jesus como Salvador e Senhor. Não temos que nos purificar, desistir de certas coisas, ou modificar a nós mesmos; temos que ir a Cristo como estamos. É por isso que sempre cantamos, em nossas cruzadas, o hino: "Tal qual estou".

Palavra-Chave: Arrependimento

No Novo Testamento, o apóstolo Pedro diz o seguinte: "Arrependei-vos, pois. e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados." (At. 3:19.)
Ninguém pode voltar-se para Deus desejando arrepender-se ou crer, sem a ajuda dele. É ele quem opera este ato em nós.
A Bíblia nos diz muitas vezes como homens e mulheres fizeram isso. "Converte-me, e serei convertido, porque tu és o Senhor meu Deus." (Jr. 31:18.)
Para muitas pessoas a palavra "arrependimento" está fora de moda. Ela não parece ocupar um lugar certo no vocabulário do século XX. Mas o arrependimento é um dos dois elementos vitais da conversão, e simplesmente significa reconhecer o que somos e ter a disposição de mudar de mente com relação ao pecado, ao ego e a Deus.
O arrependimento implica primeiramente num reconhecimento de nosso pecado. Quando nos arrependemos, estamos afirmando que reconhecemos que somos pecadores e que nosso pecado nos coloca em culpa perante Deus. Este tipo de culpa não significa um autodesprezo incriminante, mas significa que enxergamos a nós mesmos como Deus nos enxerga. e dizemos: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador." (Lc. 18:13.) Não é somente a culpa de toda a sociedade que estamos reconhecendo. É muito fácil culpar o governo, o sistema de ensino, a igreja, o lar, pelos nossos próprios erros.
A Bíblia ensina que quando atingimos a idade da razão – o que geralmente ocorre entre os dez e os onze anos – Deus nos contempla como adultos que podem tomar decisões de ordem moral e espiritual, e pelas quais seremos responsáveis no dia do julgamento. Cada um de nós tem suas culpas individuais perante Deus. Desde o momento em que somos concebidos, já trazemos a tendência para o pecado; depois tornamo-nos pecadores por uma escolha pessoal, e finalmente pecadores na prática. É por isso que a Bíblia diz que todos pecamos e carecemos da glória de Deus.
Todas as pessoas, de todo o mundo, seja qual for a raça, cor, língua ou cultura. precisa nascer de novo. Somos culpados de "pecado" (singular), que se expressa em "pecados" (plural). Transgredimos a lei de Deus e nos rebelamos contra ele, porque somos pecadores por natureza. E foi esse problema do pecado (singular) que Cristo resolveu na cruz.
Temos ouvido falar muito em "raízes". As raízes do pecado individual e coletivo da humanidade estão no fundo do coração do homem. Somos uma raça humana doente. E essa doença só pode ser tratada pelo sangue de Cristo, assim como no Velho Testamento o sangue dos animais era derramado em centenas de altares, na esperança do dia em que Jesus Cristo seria "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo. 1:29). Ele se tornou o bode expiatório para o mundo inteiro. Todos os nossos pecados foram depositados sobre ele. É por esta razão que Deus pode perdoar-nos hoje. É por isso que ele pode infundir-nos nova vida – que é chamada regeneração ou novo nascimento.
Quando olhamos os atributos de Deus e compreendemos como estamos aquém de sua perfeição, não podemos deixar de reconhecer nossa natureza pecaminosa. O apóstolo Pedro havia praticado atos pecaminosos e abrigado pensamentos pecaminosos, mas muito além de um reconhecimento mental ou físico de seus erros, ele reconhecia sua natureza pecaminosa. Ele disse: "Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador." (Lc. 5:8.) Notemos que ele não disse "Eu peco", mas "sou pecador".
Jó viu como era corrupto em relação à perfeição divina, e exclamou: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza." (Jó 42:5,6.) Ele se comparou com Deus e se arrependeu; reconheceu que se achava diante do Senhor.
O arrependimento também implica numa genuína tristeza pelo pecado. A tristeza é uma emoção, e nós somos criaturas muito instáveis quanto ao grau de emoção que experimentamos. Contudo, o arrependimento sem tristeza é vazio. O apóstolo Paulo disse: "Agora me alegro, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que de nossa parte nenhum dano sofrêsseis." (2 Co. 7:9.)
Com o arrependimento ocorre também uma mudança de objetivos, um abandono espontâneo do pecado. Se tivéssemos que nos arrepender sem o auxílio de Deus, então nossa situação seria quase crítica. As Escrituras ensinam que estamos mortos em delitos e pecados. Um homem morto não pode fazer nada; portanto, precisamos da ajuda de Deus até para nos arrependermos. Às vezes isto implicará numa reparação. Se roubamos, mentimos ou enganamos alguém, ou prejudicamos outras pessoas, temos que ir a elas, e acertar as coisas, sempre que possível.
Já recebi centenas de cartas de pessoas que me confiaram que haviam recebido dinheiro que lhes fora roubado por pessoas que agora se diziam "nascidas de novo". Muitas pessoas, antes de se converterem, foram ladrões de lojas. E muitos delas sentem que devem voltar à loja, confessar seu erro ao gerente, e restituir o valor roubado.
Na época em que minha esposa estava aconselhando Joe Medina, depois que ele foi tentado e assaltou um posto de gasolina para ajudar um amigo, ela lhe falou que aquele arrependimento nunca seria genuíno, se ele não confessasse seu crime. Ele o fez. Ele trabalhou naquelas férias de verão e ganhou dinheiro, e restituiu toda a quantia roubada. O proprietário do pasto perdoou-o. Hoje, este jovem já completou quatro anos de seminário, e agora é ministro do evangelho.
Quando Jim Vaus, aquele elemento do submundo do crime, conheceu a Cristo em 1949, ele passou várias semanas procurando pessoas a quem ofendera, prejudicara ou de quem roubara. Devolveu tudo que pôde, e pediu perdão a todos aqueles a quem ofendera.
Este tipo de reparação é muito raro hoje em dia, mas é claramente ensinado nas Escrituras. É a complementação de nosso arrependimento. Demonstra para aqueles a quem temos ofendido, e para o mundo em geral, que realmente estamos sendo sinceros com Deus.
Quando as emoções são contrárias à nossa disposição de nos afastarmos do pecado, a hipocrisia entra na vida do crente, e as dúvidas começam a grassar. Existem tantas coisas na Bíblia que parecem difíceis de crer. Quando nos tornamos uma nova criatura em Cristo, vivemos uma experiência vibrante, alegre e empolgante, que nos mantém, emocionalmente, durante algum tempo. Depois, as dúvidas podem entrar em nosso coração, a princípio, quietamente, depois mais audaciosamente, à medida que nossas indagações começam a expulsar a verdade. "Como posso dispor-me a consagrar minha vida a Deus, quando ele talvez me force a fazer algo que não desejo?"
Certa senhora, muito rica e bela, que gozava de bastante proeminência em sua comunidade, converteu-se. Uma das primeiras pessoas a quem ela relatou sua experiência, uma amiga de muitos anos, perguntou-lhe: "Ora, Dorothy, e o que você vai fazer agora – vai para a África como missionária?" Dorothy lutou com as emoções durante uns momentos, mas respondeu pela sua vontade rendida a Deus: "Se isso é o que Deus deseja, irei."
Mas, para a maioria das pessoas não é fácil demonstrar esta disposição de entregar a direção e ação de sua vida a Deus.
Uma senhora extraordinária que escreveu um dos clássicos da literatura cristã, conta a história de um jovem de grande inteligência, um novo convertido, que enfrentava sérias dificuldades em sua experiência cristã, com respeito a essa questão da vontade. Ele duvidava muito, e, emocionalmente, nada lhe parecia real. Alguém lhe deu o seguinte conselho: "A vontade de um homem é realmente o seu ego... o que quer que sua vontade faça, ele faz. Seu papel, então, é apenas colocar sua vontade... ao lado de Deus, tomando a deliberação de que você crerá naquilo que ele disser (na Bíblia) simplesmente porque ele o diz, e que você não dará atenção alguma aos seus sentimentos que tornam tudo tão irreal. Deus não deixará de responder, mais cedo ou mais tarde, com sua revelação, a uma fé assim."
"O jovem meditou por uns instantes, e depois disse solenemente: "Eu compreendo, e farei o que você diz. Não consigo controlar minhas emoções, mas posso controlar minha vontade; e essa nova vida começa a parecer-me possível, se é que apenas minha vontade precisa ser ajustada nessa questão. Posso entregar minha vontade ao Senhor, e o farei."
O arrependimento bíblico é o combustível que usamos para colocar nossa vida em movimento, sendo que Deus estará na direção. Enquanto não utilizarmos este combustível, estaremos jungidos à Terra, amarrados ao chão pelo nosso ego, nosso orgulho, nossos problemas e culpa. Os jovens muitas vezes estão acorrentados em uma prisão de falta de objetivo na vida, incertezas, e até mesmo de culpa. E muitas pessoas mais idosas também encaram a velhice e a morte com pavor e temor. O verdadeiro arrependimento pode soltar estas cadeias.
Portanto, o arrependimento é, primeiramente, um fator absolutamente necessário para quem quer nascer de novo. Ele implica num simples reconhecimento do que somos perante Deus – pecadores carentes de sua glória; em segundo lugar, implica em tristeza genuína pelo pecado; terceiro, significa uma disposição de nos afastarmos do pecado.

Palavra-Chave: Fé

Considerando a conversão, vimos que ela tem uma faceta chamada arrependimento que consiste de "dar as costas ao pecado". Mas ela possui também um lado chamado fé, que implica em "voltar-se para Deus".
A fé é antes de tudo crença – a crença de que Cristo era quem ele disse ser. Segundo, a fé é a crença de que ele pode fazer aquilo que alegou poder fazer – ele pode perdoar-nos, e pode entrar em nossa vida. Em terceiro lugar, a fé é confiança, um ato de entrega, pelo qual abro a porta do coração para ele.
No Novo Testamento, as palavras "fé", "crença" e "crer" correspondem, no grego, a palavras sinônimas, e, portanto, intercambiáveis.
Depositar fé em Cristo significa que primeiramente temos que fazer uma escolha. As Escrituras dizem: "Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus." (Jo. 3:18.) A pessoa que crê não é condenada; a pessoa que não creu está condenada. A fim de não ser condenada cada pessoa tem que tomar uma decisão – ela tem que resolver a crer.
Vemos então como é importante crer. A Bíblia diz que sem fé é impossível agradar a Deus. Mas o que significa crer? Significa entregar-se totalmente a Cristo, render-se a ele. Crer é uma reação positiva de nossa parte para com a oferta divina de misericórdia, amor e perdão. Deus tomou a iniciativa, e fez tudo que lhe era possível para oferecer-nos salvação. Quando Cristo inclinou a cabeça na cruz e disse "Está consumado", ele quis dizer exatamente isso (Jo. 19:30). O plano de Deus para nossa reconciliação e redenção estava completo em seu Filho. Mas, somente crendo em Jesus – rendendo-nos a ele, entregando-nos a ele – é que somos salvos.
A crença não é um mero sentimento; é a certeza da salvação. Talvez nos olhemos ao espelho e digamos: "Não me sinto salvo; não me sinto perdoado." Mas não procuremos fundamentar nossa certeza em sentimentos. Cristo prometeu, e ele não pode mentir. A fé é um ato deliberado, o de entregarmos nosso ser à pessoa de Jesus Cristo. Não se trata simplesmente de "agarrar-se", por assim dizer, a uma idéia vaga. É um ato de confiança no Deus-Homem, Jesus Cristo.
O Novo Testamento nunca emprega as palavras crença e fé no plural. Portanto, a fé cristã não implica em aceitar uma longa lista de proibições. Ela significa, isso sim, uma entrega individual da mente e do coração a uma pessoa, Jesus Cristo. Não implica em crer em toda e qualquer coisa. É crer numa pessoa, e essa pessoa é o Cristo descrito na Bíblia.
A fé não é anti-intelectual. Ela envolve uma premissa muito lógica – isto é, confiar na capacidade superior de Deus para salvar-nos.
Francis Schaeffer, esse brilhante teólogo cristão que vive na Suíça, explica que não somente a fé é lógica, mas a falta de fé é ilógica. Ele escreveu: "O homem foi criado à imagem de Deus; portanto, em vista do fato de que Deus é um Deus pessoal, o abismo que há não é entre Deus e o homem, mas entre o homem e tudo o mais. Mas em vista do fato de que Deus é infinito, o homem está tão separado de Deus, como o átomo ou qualquer outro objeto finito está do universo. Aqui então vemos como o homem pode ser finito, mas ainda assim uma pessoa.
"Não se trata de afirmar que esta é a melhor explicação da existência; é a única. É por isso que podemos apoiar o cristianismo e manter nossa integridade intelectual. A única explicação para tudo que existe é que ele, o Deus infinito e pessoal, realmente existe."
A fé em Cristo também é voluntária. Ninguém pode ser forçado a crer em Jesus, nem pode ser coagido a isso por propinas, nem ser iludido. Deus não entra em nossa vida pela força. O Espírito Santo faz todo o possível para nos importunar, atrair-nos, amar-nos – mas, no fim, a decisão é nossa. Deus não somente deu seu Filho na cruz, onde o plano da redenção foi consumado, mas ele deu a lei, expressa nos dez mandamentos e o Sermão do Monte para nos mostrar que precisamos de perdão; ele nos deu o Espírito Santo para nos convencer dessa necessidade. Ele nos dá o Espírito Santo para atrair-nos para a cruz, mas, apesar de tudo isso, somos nós quem decidimos se aceitaremos o perdão gratuito que Deus nos oferece, ou continuaremos em nossa condição de pecadores.
A fé, também, afeta toda a personalidade. Em seu livro Knowing God (Conhecendo a Deus), J. J. Parker diz o seguinte: "Conhecer a Deus é uma questão de envolvimento pessoal, em mente, vontade e emoção. De outro modo, não seria um relacionamento pessoal pleno."
Portanto, a fé não é apenas uma reação emocional, ou um entendimento intelectual, ou uma decisão voluntária; a fé abrange tudo isso. Ela envolve o intelecto, a emoção e a vontade.

Passos que Conduzem à Conversão

Já vimos que a conversão ocorre quando nos arrependemos e depositamos fé em Cristo. Mas como se passam as coisas quando nos aproximamos do ponto da conversão? Quanto tempo demora? Será ela emocional e dramática? Minha resposta é: não sei. Se todas as pessoas tivessem a mesma reação, poderíamos fazer a aplicação de uma fórmula química com resultados pré-determinados. A palavra-chave aqui é variedade.
Entenderemos isto perfeitamente se pararmos um instante para refletir acerca de Deus. Primeiramente, o ponto a que estamos nos dirigindo é um ponto onde o próprio Deus realizará o ato; é ele quem nos converte, quando nos arrependemos e cremos em Cristo. "A salvação vem do Senhor." Segundo, a atuação dele se inicia bem antes daquele ponto. Como já vimos, durante o tempo que precede a conversão, ele está-nos preparando para a fé, mostrando-nos como Cristo é grandioso e revelando-nos seu poder de perdoar.
Portanto, as questões acerca da duração do processo da conversão e da carga emocional que ele conterá são muito individuais. Deus olha para cada um de nós de maneira diferente, pois somos diferentes uns dos outros. Ele nos trata como somos. Ele me trata da maneira como sou. Naturalmente, em seu interesse por nós, seu objetivo para cada um é o mesmo – o novo nascimento. Mas para ajudar-nos a atingir esse fim, ele terá um relacionamento bem pessoal conosco, assim como um pastor, que conhece todas as suas ovelhas pelo nome.
Poderíamos citar como exemplos experiências de pessoas que conhecemos, ou indicar nossa própria experiência. Se você ainda não nasceu de novo, o fato de estar lendo este livro agora pode ser o recurso que Deus está utilizando para levá-lo a uma decisão.
Deus conhece as necessidades de nosso coração. Quando examinamos os métodos que ele empregou com diversas pessoas da Bíblia, antes de sua conversação, veremos que ele compreende e respeita a individualidade de cada um. Em João 1. Por exemplo, ele conversou com vários homens que ainda não haviam se convertido. Quando foi procurado por André e um amigo, Jesus lhes perguntou: "Que buscais?", e depois convidou-os a passar o dia com ele no lugar onde se hospedava. O que André necessitava era de uma conversa tranqüila, para que ele se conscientizasse de seus pecados e confiasse em Jesus.
André levou ao Senhor seu inconstante irmão Simão. Cristo agiu com ele de modo inteiramente diverso. Olhando-o seriamente, Jesus disse: "Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)'', palavra que significa "pedra". Jesus manifestou uma centelha de sua majestade ao dizer àquele jovem temperamental que, se confiasse nele, seu caráter seria transformado, tomando a firmeza da rocha (Jo. 1:42). Para converter-se, Pedro precisava enxergar seu pecado de autoconfiança, que lhe dava uma personalidade tão variável. Ele devia também sentir que precisava confiar em Cristo como aquele que tinha o poder de modificá-lo e se interessava em fazê-lo.
No dia seguinte, Jesus encontrou a Felipe e tratou-o de outra forma. Ele simplesmente disse-lhe: "Segue-me." Diferentemente de André e Pedro, Filipe precisou de uma ordem direta. Depois, Filipe levou a Cristo Natanael, um homem religioso, homem de oração, que buscava uma experiência com Deus. Jesus mudou seu método para ajustá-lo às carências especiais desse homem, pois disse-lhe em João 1:51: "Em verdade, em verdade1-os digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem."
André, Pedro, Filipe e Natanael eram todos diferentes, e por isso Jesus tratou-ns de maneira diferente. Todos precisavam de um relacionamento com Cristo. Isso, em essência, é o nova nascimento. Para alguns deles, a consciência do que estava-se passando sobreveio lentamente. Foram necessários meses de uma doutrinação levada a efeito pelo próprio Jesus. É por isso que sempre aconselho aos novos convertidos que dediquem bastante tempo ao estudo da Bíblia e à oração, antes de subirem a uma plataforma para dar testemunho. As Escrituras nos advertem com relação a "neófitos". Muitas vezes temos cometido esse erro em nossas cruzadas, inconscientemente, levando à frente, para testemunhar, jovens convertidos que ainda não cresceram na graça e no conhecimento de Cristo. Depois de longos anos de experiências, tornamo-nos mais cautelosos.
Após sua conversão, o apóstolo Paulo passou três anos estudando na Arábia. Deus levou quarenta anos preparando Moisés, num deserto, antes que ele aparecesse publicamente. Em nossos dias, ouvimos contar de pessoas que um dia estão na cadeia, e algumas semanas depois acham-se numa plataforma testemunhando de sua conversão perante um grande auditório. Às vezes tal ato é seguido por uma grande tragédia – o chamado converso não era realmente nascido de novo; ele professara conhecer a Cristo, mas não se dispusera a pagar o preço de seguir a Cristo.
Conheço um jovem que parecia ter sido gloriosamente convertido em uma de nossas cruzadas, e creio que ele o foi. Passou um longo período procurando superar sua dependência das drogas, e aprofundando o conhecimento das Escrituras. Instamos com ele para que estudasse numa escola bíblica, e ele o fez, durante um ano. Seu testemunho era tão maravilhoso, que começaram a chover convites de todas as partes do país para que ele contasse sua história. Não demorou muito, e toda essa atenção levou-o a apostatar, chegando ao ponto de abandonar a esposa e filhos. Mas tenho o prazer de dizer que ele já foi restaurado à comunhão com Deus, reconheceu seus pecados e erros, e agora irá terminar os estudos.
Como devemos esperar que seja o processo de conversão que nos aproxima da crise do novo nascimento? Ele será adequado ao nosso ambiente, temperamento, carências interiores e esperanças. Este é o modo como Deus opera.

Qual a Duração Desses Passos?

O período de tempo e a intensidade da emoção envolvidos no processo de conversão variam muito. Algumas pessoas, mas não todas, passam por uma crise emocional com sintomas semelhantes ao de um conflito mental. Podem experimentar sensações profundas, e até derramar lágrimas de arrependimento. O Espírito Santo está a convencê-las de pecado, e essa é sua forma de corresponder a ele. Cada um de nós pode ter uma experiência emocional diferente. No dia em que aceitei a Cristo, havia várias pessoas ao meu redor chorando. Eu não derramei uma lágrima sequer, e até comecei a questionar se minha entrega a Cristo fora mesmo genuína.
Mas nesses anos, de lá para cá, já aprendi que muitas pessoas têm uma conversão ainda mais tranqüila, sendo que o processo é mais curto. Talvez uma pessoa, lendo a Bíblia ou cantando um hino, possa chegar a uma verdade evangélica, e a aplicá-la a si mesma, naquele momento. Outra pessoa ouve um sermão, e sem qualquer esforço e conflito recebe a mensagem e crê em Cristo. A conversão dessas pessoas mais tranqüilas não é menos verdadeira que a das mais expressivas ou dramáticas.
O capítulo 16 do livro de Atos relata duas conversões que se constituem dois contrastes marcantes. Lídia era uma negociante da cidade de Filipos. Ela já demonstrara interesse por Deus ao reunir-se para orar à beira do rio, onde ouviu Paulo pregar. O Senhor abriu-lhe o coração para receber a mensagem do evangelho, e ela se converteu, sem barulho e sem fortes demonstrações emocionais.
Depois, foi o carcereiro de Filipos, onde Paulo estava preso. Houve um terremoto, e o carcereiro entrou em pânico ao compreender que os prisioneiros poderiam ter escapado. Pensou que o único modo de evadir ao problema seria matar-se. E quando já estava sacando da espada, ouviu o apóstolo Paulo dizer: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos." (At. 16:28.)
O carcereiro mal cria no que ouvia. Por que os prisioneiros não haviam fugido? Ele tremia dos pés à cabeça, e pediu uma lanterna. Olhou para Paulo e Silas, seus prisioneiros, e caiu a seus pés, clamando: "Que devo fazer para ser salvo?" Paulo disse-lhe para crer no Senhor Jesus Cristo e seria salvo, e ele se converteu ali mesmo, nos escombros da prisão.
Jesus ilustrou a experiência de conversão, comparando-a ao vento. "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito." (Jo. 3:8.)
O vento pode ser calmo, suave, ou pode atingir as proporções de um ciclone. O mesmo se dá com a conversão. Às vezes ela é suave e calma, outras vezes, como um ciclone, que modifica a face da paisagem.
Mas há um momento definido, uma determinada hora num certo dia do ano, em que a pessoa pode dizer: "Foi naquele dia que eu nasci de novo"! Conheço muitas pessoas que sabem indicar um determinado momento, e dizer: "Foi aquele o dia de meu novo nascimento espiritual." Porém sei que há pessoas que estão em comunhão com Jesus Cristo, mas que não se lembram de um momento exato quando deliberadamente entregaram-se a ele, e não se lembram de uma época em que não o amavam nem confiavam nele. Minha esposa é uma dessas grandes cristãs que se encaixam nesta categoria. Contudo, em minha opinião, tais pessoas são a exceção, e não a regra. As Escrituras ensinam que a fé é um ato da vontade, portanto, quer elas se lembrem do momento ou não, houve um momento em que cruzaram a linha da monte para a vida.
Entretanto, o importante para cada pessoa agora não é "quando" mas "se". O momento em que fomos salvos não é tão relevante quanto se fomos salvos. Muitas vezes não sabemos dizer o momento exato em que a noite passa a ser dia, mas sabemos quando é dia claro. Assim também, a grande pergunta que devem responder todos aqueles que não têm consciência de um ato da vontade com o qual se teriam rendido a Cristo como Senhor e Salvador é: "Você está vivendo à luz do dia, em contato com Cristo?"

Como Receber a Cristo

Pouco depois que recebi a Cristo, alguém me deu um folheto intitulado: "Quatro coisas que Deus quer que saibas", escrito por um inglês. Aqueles quatro pontos eram excelentes, e eu sempre os mencionava nas pregações no início de meu ministério. Anos depois, Bill Bright, da Cruzada Cristã Estudantil, preparou o folheto "Quatro Leis Espirituais", que tem sido amplamente usado em todo o mundo, ajudando pessoas a compreenderem o que seja nascer de novo. Em nossa organização, publicamos também um folheto que intitulamos: "Four Steps to Peace with God" (Quatro Passos Para Obter Paz com Deus), baseado, em grande parte, num de meus primeiros livros – Paz com Deus. Não creio, porém, que exista uma fórmula ou receita certinha, com o selo de aprovação de um departamento qualquer. Contudo, acho que esse tipo de literatura fornece uma espécie de base que auxilia as pessoas a compreenderem como podem receber a Cristo.
Damos a seguir algumas das instruções bíblicas que poderão ajudar o leitor a aceitar a Cristo como seu Senhor e Salvador. Nos capítulos anteriores, vimos a necessidade da conversão, a direção e os passos que conduzem a ela, e é possível que o leitor tenha tirado suas próprias conclusões.
Mas mesmo assim, eu gostaria de apresentar resumidamente os passos que deve dar.
Primeiro, você deve reconhecer o que Deus realizou; reconhecer que ele o ama tanto. que deu seu Filho para morrer na cruz. Leia o conhecido verso abaixo, e, nos lugares onde aparecem as palavras "o mundo" e "todo o", troque-as pelo seu nome. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira. que deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo. 3:16.) "O Filho de Deus me amou e a si mesmo se entregou por mim." (Gl. 2:20.)
Segundo, você precisa arrepender-se de seus pecados. Jesus disse: "Se, porém, não vos arrependerdes... pereceis." (Lc. 13:3.) Ele disse também: "Arrependei-vos e crede." (Mc. 1:15.) Não basta entristecer-se pelo pecado. O arrependimento é a meia-volta que damos para nos afastarmos dele.
Terceiro, você deve receber a Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor. "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber, aos que crêem no seu nome." (Jo. 1:12.) Isto significa que você deve parar de tentar salvar-se a si mesmo, e aceitar a Cristo como seu único Senhor e Salvador. Confie nele plenamente, sem reservas.
Quarto, você deve dizer uma confissão pública de sua fé em Cristo. Esta confissão será um sinal de que você se converteu. Jesus disse: "Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus." (Mt. 12:32.) Quando alguém recebe a Cristo, é extremamente importante que ele o diga a outra pessoa o mais cedo possível. Tal atitude lhe dará forças e coragem para testemunhar.
Faça-o agora. "Es agora o tempo sobremodo oportuno; eis agora o dia da salvação." (2 Co. 6:2.) Se você estiver disposto a arrepender-se de seus pecados e receber a Jesus Cristo como Senhor e Salvador, pode fazê-lo agora. Nesse momento, você pode ou inclinar a cabeça ou ajoelhar-se, e repetir a breve oração que transcrevemos abaixo, e que tenho repetido com milhares de pessoas em todos os continentes.
Ó Deus, reconheço que tenho pecado contra ti. Estou arrependido de meus pecados. Estou disposto a abandona-los. Sinceramente recebo a Jesus Cristo reconhecendo-o como meu Salvador. Confesso-o como meu Senhor. Deste momento em diante quero viver para ele e servi-lo. Em nome de Jesus. Amém.
Há muitos anos atrás, escrevi estes mesmos passos e esta mesma oração em um livro que publiquei e que foi lido por milhões de pessoas como você, as quais os aceitaram e nos escreveram relatando a transformação que ocorreu em suas vidas. Se você está desejoso de tomar esta decisão, e recebeu a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, então você se tornou um filho de Deus, no qual Jesus Cristo habita. Não precisa avaliar a certeza de sua salvação pelos seus sentimentos. Creia em Deus. Ele cumpre sua Palavra. Você nasceu de novo. Está vivo!



VIVO E DESENVOLVENDO-SE!

"Depois de pensar no assunto durante três dias, compreendi que precisava de Jesus Cristo, e aceitei-o. Agora minha vida está entregue ao Senhor, e tenho mais poder, o qual me é dado por Deus."
Quem fez tal declaração? Alguém que se encontrava num nível de vida inferior, lutando para obter fama e posição? Não.
Foi um jovem e simpático atleta da Universidade do Sul da Califórnia, John Naber, que recebeu honrarias internacionais, conquistando quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1976. John Naber disse que estivera buscando algo de mais significativo em sua vida. Depois de assistir a uma de nossas reuniões, começou a despertar para o conhecimento de Jesus Cristo. E ele nasceu de novo.
Muitas e muitas pessoas célebres, principalmente no campo dos esportes, nos meios artísticos e político estão relatando sua experiência de como se tornaram vivas em Cristo. Embora seja emocionante ouvirmos tais relatos, existem também alguns perigos (como já mencionei antes) para um "neófito" que tem pouca instrução na Palavra de Deus. Contudo, não posso deixar de rejubilar-me por todos eles, e creio que Deus tem se movido poderosamente, alcançando pessoas de dons e talentos extraordinários em todo o mundo. E ele está usando muitas dessas pessoas para ganhar outros para Cristo. Certo artigo de jornal disse que "há evidências de um avivamento religioso atualmente em toda a parte", e depois relaciona várias personalidades famosas que "sabiam indicar o momento exato de sua transformação espiritual" com "relatos muitas vezes incríveis de como nasceram de novo. Alguns dizem que já encontraram Jesus Cristo. Outros nasceram de novo. Outros explicam que experimentaram uma sensação como a de um choque elétrico. Em ambos os casos, os novos crentes tiveram transbordantes sensações de amor e gozo."
Dean Jones, um ator que tem feito muitos filmes de Walt Disney, conta: "Eu atuava num festival de verão em Nova Jersey e fora para meu quarto para estar sozinho. Nada me satisfazia. Olhei para fora, pela janela, e senti medo e confusão. Impulsivamente, ajoelhei-me perto da cama, e expus a Deus as minhas dúvidas, sem saber por que me sentia impelido a agir assim. Eu disse a ele: "Se tu deres um sentido à minha vida, eu te servirei."
Não há nada mais emocionante do que o testemunho de uma pessoa que passou por um renascimento espiritual. Mas isto não é apenas uma história interessante ou uma experiência fascinante. Aquele que é nascido de novo recebeu de Deus muitas riquezas. Passemos a examiná-las, e depois veremos como podemos extrair vantagens desse rico potencial.

Perdoado

"Os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome." (1 Jo. 2:12.) Que maravilhosa promessa! Por todo o Novo Testamento vemos que aquele que recebe a Cristo como o Senhor e Salvador também recebe, imediatamente, o dom do perdão. A Bíblia diz: "Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões." (Sl. 103:12.)
"Perdoe-me!" "Sinto muito!" "Não tive a intenção..." Quantas vezes repetimos estas palavras, e elas como que ecoam de volta para nós como um som oco. Mas o perdão de Deus não é uma afirmação casual, é o aniquilamento completo de toda impureza e degradação de nosso passado, presente e futuro. A única razão por que nossos pecados podem ser perdoados é que Jesus Cristo pagou o preço total deles, na cruz.
Sentimentos de culpa têm servido de base para muitos enredos dramáticos. É famosa a frase do MacBeth, de Shakespeare: "Fora, maldita mancha! Fora!" Os sentimentos de culpa têm sido o ponto focal de aconselhamento psiquiátrico de inúmeras pessoas. Muitos se sentem como Judas, que, após haver traído a Cristo, disse: "Pequei, traindo sangue inocente." Tão terrível é o peso da culpa, que o grande e glorioso conceito de perdão deveria ser proclamado aos gritos por todos os crentes em Jesus Cristo.
A bondade de Deus em perdoar-nos é ainda mais ampla quando nos recordamos de que, ao nos convertermos, somos declarados justos – o que significa que, à vista de Deus, estamos sem culpa, revestidos para sempre da justiça de Cristo.
Como vimos na parte intitulada "No tribunal do Rei", o perdão e a justificação são dádivas gratuitas de Deus.

Adotado Pelo Rei

Quando nos convertemos, Deus nos adota como seu filho ou filha. E sendo filhos adotivos, cada um de nós pode reclamar seus direitos de herdeiro dele, juntamente com Jesus Cristo. "Deus enviou seu Filho... para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos." (Gl. 4:45.)
Conheço um casal, um advogado e sua esposa, que adotou duas crianças, um menino e uma menina. A menina parece-se demais com a mãe, e o rapaz poderia facilmente passar por filho legítimo de seu pai. O fato de haverem eles sido escolhidos por seus país deu-lhes um grande senso de segurança e amor.
Ser considerado filho do Senhor do Universo é algo de muito grandioso.

A Habitação do Espírito Santo

Quando nos convertemos, o Espírito de Deus imediatamente passa a viver em nós. Antes de Jesus Cristo subir aos céus, ele disse: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade... vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós." (Jo. 14:16, 17.)
Quando Cristo vivia nesta terra, ele só podia estar com um pequeno grupo de pessoas, de cada vez. Agora, Cristo vive, através do Espírito Santo, no coração de todos os que o receberam como Senhor e Salvador. Lloyd Ogilvie, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Hollywood, refere-se ao Espírito Santo como "o Cristo contemporâneo". Paulo escreveu o seguinte aos romanos: "Esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que em vós habita." (8:11)
No histórico Congresso de Evangelismo realizado na Suíça em 1974, o Espírito Santo foi assunto de muitas preleções e estudos. O Rev. Gottfried Osei-Mensah, de Nairobi, Quênia, disse: "O Espírito é nosso mestre. É função dele, que vive em nós, libertar-nos do domínio do pecado na vida diária e levar-nos a viver a nova vida que desfrutamos em Cristo."
Quanto tempo o Espírito Santo vive no coração do crente? Para sempre. Deus não nos daria uma dádiva tão poderosa como o Espírito Santo, para depois tomá-la de volta. Pela fé aceitamos a declaração de Deus de que temos o Espírito Santo habitando em nós, mas podemos vê-lo operando também. O Espírito Santo pode revigorar um cristão fatigado, cativar um crente indiferente, e encher de poder uma igreja ressequida.
Certo pastor de Buenos Aires disse o seguinte: "O Espírito Santo hoje está restaurando o fruto do Espírito – amor, alegria, paz. Todas estas coisas serão os elementos que mostrarão ao mundo que somos o seu povo."
O Espírito Santo está entre nós para dar-nos um poder especial para trabalharmos para Cristo. Ele está aí para conceder-nos forças no momento da tentação.
Jesus prometeu que receberíamos o poder do Espírito Santo (At. 1:8). Talvez você tenha ouvido a história do pica-pau que estava bicando um tronco de árvore. No mesmo momento, um raio se abateu sobre a árvore, rachando-a de alto a baixo. Quando se recuperou do susto, o passarinho fugiu dali, exclamando: "Nunca pensei que tivesse uma bicada tão forte!" Não lhe pergunto: "Você já possui o Espírito Santo?" mas, sim: "O Espírito Santo já possui você?"

Vitória Sobre as Tentações

A Bíblia ensina que todo novo crente em Jesus Cristo – a pessoa convertida – deve "aborrecer o mal" (Rm. 12:9). E aqui está outra advertência: "No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano." (Ef. 4:22.)
Agora, espere um minuto. Como seremos capazes de parar de praticar certos atos pecaminosos que temos praticado durante anos, ou livrar-nos de algumas das atitudes negativas, suspeitosas, ódios e ambições, que já estão enraizados em nossa personalidade? "Eu simplesmente não consigo fazer isso sozinho", dirá você.
Tem razão. Contudo, nossa capacitação para resistirmos ao pecado e obedecermos a Deus provém do Espírito Santo, que habita em todos os verdadeiros crentes. Não se espera de nós que lutemos sozinhos contra as tentações. Deus vive em nosso coração e nos ajuda a resistir ao pecado. É função dele operar; e a nossa é render-nos a ele.
E quanto à velha importunação da tentação? A Bíblia não diz que não seremos tentados; isso seria tolice. Sabemos que vivemos num mundo cheio de tentações, a maioria das quais se nos apresentam em atraentes invólucros, e nos são oferecidas como coisas que devemos experimentar ou comprar – só uma vez! Mas o crente recebe também a oferta da vitória sobre as tentações. "Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar." (1 Co. 10:13.)
Ser tentado não é pecar: como crente em Jesus Cristo, você não precisa culpar-se por uma intensificação das tentações que o cercam. O Espírito Santo que habita em nós nos fortalece para resistirmos à tentação.
A tentação é muito forte, e se tornará ainda mais forte depois que você nascer de novo. As Escrituras nos dizem que estamos numa batalha espiritual, e que nossos inimigos têm mais poder e habilidade para tentar-nos, que qualquer outra coisa que tenhamos encontrado antes. E é nesse ponto que muitos crentes cometem um grande erro. Ao se converterem, pensam que se tornarão imediatamente perfeitos, e que viverão continuamente num plano superior. Então eles se defrontam com tentações e conflitos, e, às vezes, até cedem a elas. O novo convertido examina a si mesmo, e não fica muito satisfeito com o que vê. Sente-se dominado por desânimos e frustrações. Isto é normal. O diabo nos tenta e Deus nos prova. Muitas vezes, tentação e provação são os dois lados de uma mesma medalha – Deus permite que o diabo nos tente, e usa isto como um teste para nós, ou como uma experiência para aprofundar nossa fé, e para vermos como somos fracos, se nos estribarmos apenas em nós mesmos. Ele quer que passemos a depender inteira e completamente dele.
Há uma velha alegoria que ilustra muito bem esta verdade. "Satanás reuniu seus servos num concílio, para consultá-los acerca de como poderiam levar um homem bom a pecar. Um dos espíritos maus disse: "Eu o farei pecar!" - "E como você fará isso? indagou Satanás. "Colocarei diante dele todos os prazeres do pecado", foi a resposta; "eu lhe falarei dos deleites que ele proporciona, e das recompensas que traz." "Ah", retrucou Satanás, "isso não adianta; ele já experimentou tudo e já conhece a verdade." Depois, outro anjo mau levantou-se e disse: "Eu o farei pecar. " - "O que você fará?" indagou Satanás. "Eu lhe falarei que a virtude não contém prazeres e não traz recompensas." "- Ah, não", exclamou Satanás, "isto não adianta nada, pois ele já experimentou e sabe que "os seus (sabedoria) caminhos são caminhos deliciosos, e todas as suas veredas paz." "Bem", disse outro demônio erguendo-se, "tentarei fazê-lo pecar." - "E o que você fará?" indagou Satanás de novo. "Colocarei o desânimo em sua alma", foi a resposta. "Ah, isto dará certo!" gritou Satanás; "Isto dá certo. Nós o derrotaremos."
O conflito espiritual está operando no coração de cada crente. É verdade que o crente possui uma nova natureza, mas a velha natureza pecaminosa ainda está nele. Cabe a nós, render-nos diariamente a essa nova natureza que é dominada por Cristo.
Conta-se a história de uma dona de casa que encontrou um rato em sua cozinha, e pegou uma vassoura. O rato não perdeu tempo analisando a mulher com a vassoura, mas apressou-se a procurar o orifício da entrada. Assim deve ser conosco. Quando somos apanhados pela tentação, não devemos parar para contemplar a tentação, mas apressar-nos a encontrar a saída. A Bíblia diz: "Deus... não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, junto com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar." (1 Cor. 10:13.)
Quando um crente peca, ele se sente profundamente infeliz. Às vezes, ele evita outros crentes, pára de ir à Igreja, e pensa que está sendo incompreendido. Contudo, todo o crente tem acesso a Deus, através da oração, e depois que confessa seu pecado, Deus o restaura à comunhão consigo. Esta é a diferença entre o crente e o incrédulo. O incrédulo faz do pecado uma prática constante; o crente não.
Queremos dar uma palavra aqui sobre como os crentes devem tratar um irmão "caído". Alguns anos atrás, fiquei conhecendo um jovem universitário que se convertera recentemente, abandonando o vício de drogas. Pouco depois de sua conversão, ele aquiesceu em tornar-se informante de um agente de delegacia de tóxicos, que desejava prender os traficantes da área. Seus amigos crentes advertiram-no do perigo da situação, mas ele já dera sua palavra ao agente, e o inevitável aconteceu.
Ele anulou seu testemunho cristão, pois teve que fingir-se de viciado, a fim de convencer o traficante de que era mesmo toxicômano, e em certo momento teve que tomar duas doses de heroína. (Incidentalmente, as duas doses tiveram sobre ele um efeito contrário ao que produziam antes de sua conversão, pois em vez de lhe proporcionarem sensações agradáveis, deram-lhe uma violenta crise.) No domingo anterior ao dia em que deveria deixar a escola e voltar para casa, ele se levantou perante a classe de escola dominical e relatou-lhes o que acontecera. O traficante fora preso, e embora aquele jovem tivesse destruído seu testemunho, ele desejava que os colegas soubessem que ele ainda era crente, e seguidor do Senhor. De pé, diante da classe, ele uniu dois dedos e explicou: "Eu e Jesus somos assim." Isto deu ao professor a oportunidade de ensinar aos alunos como deveriam tratar um irmão aparentemente caído. Durante o tempo em que ele estava tentando auxiliar o agente de tóxicos, todos os crentes da faculdade haviam pensado que ele apostatara da fé, e passaram a tratá-lo friamente. Na verdade, quando vemos um irmão cair (ou quando pensamos que caiu) devemos, como o bom samaritano, abaixar-nos, ajudá-lo a erguer-se de novo, e fazer tudo o que pudermos para encorajá-lo, orar por ele, e mostrar-lhe que o amamos e acreditamos nele.
O crente detesta o pecado e quer viver de acordo com os mandamentos de Deus. Paulo diz que nos, os crentes, "não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." (Rm. 8:4. ) O Espírito Santo que habita em nós convence-nos de várias maneiras. O crente começa a perceber que as piadas imorais que antes eram parte de seu repertório agora lhe engasgam na garganta. As festinhas que antes eram tão interessantes e engraçadas, agora são monótonas e desinteressantes.
Eu e Ruth temos ido a multas festinhas em várias partes do mundo. Sempre bebemos apenas refrigerantes e procuramos dar nosso testemunho. O primeiro converso da Cruzada de Nova York resultou diretamente de nossa ida a uma dessas festas, a bordo de um navio, regressando do Japão, no início da década de 50. Tais ocasiões podem proporcionar-nos grandes oportunidades de testemunho cristão. Muitas vezes acontece de inúmeras pessoas se agruparem ao nosso redor, fazendo-nos perguntas acerca da vida espiritual. Foi desse mesmo modo que Jesus conversou com publicanos e pecadores, tendo sempre em vista um propósito definido. Por outro lado, se vamos a uma festa apenas para nos reunirmos com aquele grupo, muitas vezes ela termina se tornando maçante, e ainda corremos o risco doloroso de ouvir alguém usar de palavrões ou tomar o nome do Senhor em vão.
As decisões de um recém-convertido são tomadas de uma perspectiva diferente. Ele pode entregar-se ao pecado (e sentir-se infeliz nele) ou entregar-se a Deus. O conselho de Paulo é excelente: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Rm. 12:1,2.)
A transformação pela renovação da mente pode acontecer rápida e dramaticamente, como o viciado que imediatamente experimenta a crise da cura, ou pode passar a integrar nosso estilo de vida de uma forma mais gradual.

Crescendo Lentamente, Quase Imperceptivelmente – mas Crescendo

Muitas pessoas atingem a maturidade cristã com grande rapidez; outras, o fazem de forma mais lenta, quase imperceptível. Certa vez vi na televisão um filme de uma flor brotando, primeiro em botão e depois abrindo as pétalas. Todo o processo fora filmado em câmara lenta, durante longo período de tempo. Se fôssemos observar a mesma coisa a olho nu, teríamos que passar ali vários dias. Da mesma forma, observamos nossa vida de um dia para outro, e muitas vezes nos desanimados com o seu lento crescimento. Mas se esperarmos um ou dois anos, e depois examinarmos de novo, veremos o quanto já crescemos. Nós nos tornamos mais bondosos, mais simpáticos, mais amorosos. Amamos mais a Bíblia. Gostamos de orar. Somos testemunhas fiéis. Nunca alcançaremos aquele ponto de maturidade plena em Cristo, enquanto não o virmos face a face.
Súbitas ou graduais, as mudanças que ocorrem na vida de um convertido são parte de seu crescimento. Ele não nasce adulto, mas nasce com as energias de uma nova vida que o conduzirão ao amadurecimento, com o passar do tempo. Este crescimento é espiritual e moral. É como o desenvolvimento de um bebê que primeiramente engatinha, depois dá passos trôpegos, depois caminha livremente, e por fim corre. Este processo leva tempo, estudo, paciência e disciplina.
Uma pessoa pode tentar imitar o crescimento cristão por um esforço de religiosidade, mas o resultado é um modelo em gesso do Davi de Miguel Ângelo. É falso e quebra-se à toa.
Um grupo de estudantes da Universidade de Harvard tentou certa vez enganar o famoso professor de Zoologia, Agassiz. Tomaram partes de vários insetos, e, com grande habilidade, conseguiram juntá-las, criando um novo inseto, que, segundo criam, iria confundir o mestre. No dia determinado levaram-no para ele, e pediram-lhe que o identificasse. Enquanto ele examinava detidamente o espécime à sua frente, os alunos ficaram mais confiantes de que realmente haviam conseguido iludir o gênio.
Por fim, o Prof. Agassiz ergueu a cabeça e disse: "Já o identifiquei!" Mal podendo controlar o riso, eles lhe perguntaram o nome. Agassiz respondeu: "É impostor!"
Uma pessoa que possui a verdadeira vida de Deus logo consegue reconhecer a fraude, e pensa: "Impostor!"
O novo convertido é um bebê em Cristo. E qualquer bebê precisa ser alimentado para crescer. Ele deve ser protegido porque nasceu em um mundo repleto de inimigos. Sua principal batalha será contra o "mundo", a "carne" e o "diabo". É por isso que ele precisa do encorajamento de sua família, dos amigos cristãos, e principalmente da igreja. Ao tempo de seu nascimento, o filho de Deus tem á sua disposição grandes riquezas e uma herança maravilhosa, mas leva algum tempo para que ele fique sabendo de tudo isso.
O mais importante no início dessa nova vida é ser alimentado e fortalecido. Damos abaixo alguns dos mais importantes elementos de nutrição que há.

Adquira Uma Bíblia

Se você já possui uma Bíblia, ótimo. Contudo, se as Escrituras se lhe apresentam como um mundo completamente novo, eu o aconselharia a obter uma das traduções modernas, que serão de mais fácil entendimento. É importante que comece a lê-la pelo Novo Testamento; o evangelho de João é um bom livro para iniciar a leitura.
Procure saturar-se da Palavra de Deus. Não se preocupe se não compreender tudo que lê, pois não entenderá. Ore antes de começar, pedindo ao Espírito Santo que torne a leitura bem clara para você. As Escrituras representam a maior fonte de esperança que encontramos neste mundo desesperado. "Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança." (Rm. 15:4.)
Memorize trechos da Palavra de Deus. "Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti." (Sl. 119:11.) Procure encontrar versos das Escrituras que venham de encontro às suas necessidades e problemas, e copie-os num cartão. Coloque o cartão no bolso ou na bolsa, e leia-lo com freqüência. Repasse-o diariamente, e, no fim da semana, já o saberá de cor.
Satanás é um grande desencorajador. Ele não quer que leiamos a Bíblia nem que a memorizemos. É possível que você já tenha sido importunado por ele antes, mas agora está fazendo algo que o irrita muito. Você deixou o lado dele, e uniu-se ao exército de Deus. Agora é um soldado cristão e Satanás utilizará contra você todas as suas armas secretas. De agora em diante, você estará nadando contra as correntes dos males deste mundo.
Mas você poderá superar tudo que ele atira contra você com a armadura que Deus lhe dá: "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus." (Ef 6.17.) E não apenas temos a Palavra de Deus, que é uma arma para ser usada ofensivamente, mas também contamos com um escudo para nossa defesa. Temas "o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno" (Ef. 6:16).
Quando Cristo se encontrava no deserto, ele foi tentado por Satanás, e a cada tentação que enfrentou, respondeu com um texto das Escrituras, dizendo: "Está escrito" (Mt. 4).
Cristo precisou utilizar esta arma, e nos também precisamos.

Aprenda a Orar

Existem muitos livros acerca da oração; seminários são organizados tratando apenas desse assunto, e centenas de sermões pregados sobre o poder da oração.
Jesus disse que os homens devem "orar sempre e nunca esmorecer" (Lc. 18:1). O apóstolo Paulo disse: "Orai sem cessar." (1 Ts. 5:17.)
A oração não precisa ser eloqüente nem feita na linguagem de um teólogo. Depois que fazemos nossa decisão por Cristo, Deus nos dá o privilégio de nos dirigirmos diretamente a ele, como Pai. Oramos a ele como uma criança fala a seu terno e amoroso pai. No início, talvez não tenhamos fluência, mas é importante que comecemos logo a orar. Minha esposa possui um caderno no qual ela registra fatos interessantes acerca de nossos filhos, quando começavam a conversar conosco. Ela guarda com carinho suas primeiras tentativas, com todos os erros. Ela diz: "Não trocaria este caderno por nada."
Quando Paulo nos disse para orarmos sem cessar, ele usou um termo que em seu tempo era empregado para indicar tosse constante. Durante o dia, devemos voltar-nos rapidamente para Deus, várias vezes, para louvá-lo e agradecer-lhe as bênçãos, e suplicar sua ajuda. Nossas orações devem ser específicas. Deus está interessado em tudo que fazemos e nada é grande nem insignificante demais para ele.

Procure a Companhia de Outros Crentes

Não é intenção de Deus que vivamos sozinhos a vida cristã. É por isso que ele une os crentes para que formem grupos cristãos. O primeiro lugar que uma pessoa que nasceu de novo deve procurar é uma igreja que ensine a Bíblia e creia nela. Não digo que qualquer igreja serve. O pastor ensina a Palavra de Deus, ou apenas expõe suas próprias idéias ou de outros homens? Você saberá reconhecer isso. A igreja tem escola dominical para todas as idades?
Sem a comunhão com outros crentes, o cristão recém-nascido tenderá a "murchar". O autor do livro de Hebreus diz: "Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não abandonemos a nossa própria congregação como é costume de alguns; antes, façamos admoestações." (Hb. 10:24,25.)
Talvez haja uma classe de estudo bíblico ou de oração em sua comunidade. É maravilhoso conhecer um novo grupo de amigos, pessoas que se encontram em vários estágios do crescimento cristão, com quem podemos nos comunicar e fortalecer a fé.
Uma de nossas filhas mora num bairro de classe média abastada. Algumas das líderes sociais da cidade são suas vizinhas. Após haver orado bastante, ela resolveu que iria às casas das vizinhas perguntar-lhes se não gostariam de participar de um estudo bíblico. Bateu de porta em porta, e, em todas as casas, as mulheres não apenas disseram "sim", mas algumas delas romperam em lágrimas e disseram: "Eu estava esperando que alguém me convidasse para uma classe dessas, para estudar a Bíblia." Atualmente minha filha dirige uma classe bíblica semanal com trezentas mulheres, e muitas outras aguardando a vez.
Se não houver uma classe bíblica em sua comunidade, talvez você possa iniciar uma. Certamente, encontrará vizinhos profundamente interessados, com mais facilidade do que supõe. Eles estão apenas esperando que alguém tome a iniciativa. Pode ser que no princípio apenas dois ou três compareçam. Leiam um texto bíblico, discutam-no, e depois orem. Existem milhares de classes bíblicas surgindo pelo mundo inteiro, em lares, escritórios, etc. Até mesmo profissionais de golfe, que viajam de um lado para outro, costumam ter classes semanais de estudo bíblico, sempre com a assistência de dez a cinqüenta golfistas e suas esposas.
Você não está sozinho. A paternidade de Deus cria a verdadeira fraternidade entre os homens, um ideal que os filósofos e moralistas têm buscado desde o início dos tempos. Esta fraternidade universal derruba barreiras de língua, de formação cultural e de raça. Uma das maiores alegrias que um crente experimenta é a de encontrar um irmão crente em local inesperado. A garçonete de um restaurante descobre que tem um laço em comum com seu freguês. O passageiro de um avião fica sabendo que a atendente de cabine é crente. Quando nos achamos num país estrangeiro e encontramos um crente, imediatamente nos sentimos em casa. Não há necessidade de apresentações. Participamos do maior laço que existe na terra. Não há outro tipo de camaradagem que se lhe compare.
No início deste livro, eu disse que acreditava que o mais importante assunto do mundo é o novo nascimento. É o que de mais importante pode suceder a uma pessoa.
Somente quando nascemos de novo podemos desfrutar de todas as riquezas de Deus que estão guardadas para nós. Não apenas estamos vivendo; estamos verdadeiramente VIVOS!

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