sábado, 22 de agosto de 2009

VÍCIO SEXUAL

Como o cão que torna ao seu vômito, assim é o tolo que reitera a sua estultícia. Provérbios 26.11

Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido. Provérbios 5.22

Mas principalmente aqueles que segundo a carne andam em concupiscências de imundícia e desprezam as dominações. Atrevidos, obstinados, não receiam blasfemar das autoridades; enquanto os anjos, sendo maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor. Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo o galardão da injustiça; pois que tais homens têm prazer nos deleites cotidianos; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em seus enganos, quando se banqueteiam convosco; tendo os olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exer¬citado na avareza, filhos de maldição; os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça. Mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta. Estes são fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva; porque, falando coisas mui arrogantes de vaidades, engodam com as concupiscências da carne e com dissoluções aqueles que se estavam afastando dos que andam em erro, prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo. 2 Pedro 2.10-19

Porque os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite; para que não dês a outros a tua honra, nem os teus anos a cruéis. E ele segue-a logo, como boi que vai ao matadouro; e, como o louco ao castigo das prisões, até que a flecha lhe atravesse o fígado, como a ave que se apressa para o laço e não sabe que ele está ali contra a sua vida. Provérbios 5.3, 9; 7.22,23

COMO TUDO COMEÇA
Jimmy foi apresentado à pornografia quando tinha sete anos. Um dia, seu irmão mais velho o levou para a casa de um amigo cujo pai vendia fitas pornográficas. Enquanto Jimmy assistia deslumbrado às fitas, os outros dois desapareceram, indo para um quarto, o que ele mais tarde compreendeu que fora um encontro homossexual. Jimmy nunca mais seria o mesmo. Essa exposição inicial conduziu-o a toda uma vida de escravidão à pornografia, que o transformou em um viciado sexual maduro (o irmão de Jimmy, também um viciado sexual, alguns anos depois, seria condenado por estuprar e assassinar duas mulheres e uma menina.)
Richard foi apresentado ao sexo pela primeira vez quando era adolescente, e foi convidado para ir à casa de um amigo para participar de uma orgia. Durante anos, levou uma vida obcecada pelo sexo. Logo depois de se casar, com muita manipulação e "subterfúgios" ininterruptos, ele conseguiu convencer sua esposa a incorporar o "estilo de vida liberal" em seu casamento. Por 12 anos, Rebeca, sua esposa, viveu em vergonha e degradação cons¬tante, até que ela encontrou Jesus Cristo, e sua vida inteira mudou. Ainda passaria muitos anos até Richard fazer a mesma descoberta.
Um dia, enquanto ainda era adolescente, Glen estava caminhando pela estrada, de volta para casa, depois da escola. Enquanto ele andava com passos pesados, despreocupadamente, um carro parou no acostamento da estrada cerca de 800m à sua frente. Glen ficou muito curioso quando viu uma caixa sendo atirada para fora do carro. Quando ele alcançou a caixa, abriu-a e encontrou centenas de revistas pornográficas. Sua vida nunca mais foi a mesma.Mesmo depois de tornar-se cristão quando estava na faculdade, anos de vício sexual se seguiram. Glen tornou-se gerente geral de uma estação de rádio cristã, a despeito de sua luta contínua contra a pornografia. A verdade sobre sua vida secreta finalmente foi revelada quando ele deixou sua esposa devota e fugiu com a esposa de um pastor.
Bob foi apresentado à pornografia pela primeira vez quando descobriu revistas de sexo explícito debaixo da cama de seu pai. Anos de escravidão se seguiram. Quando a pornografia já não o excitava mais, ele começou a andar furtivamente ao redor de casas para espiar pelas janelas. Ele passava horas em uma janela, esperando o vislumbre de um corpo nu. Depois de arruinar um casamento e quase fazer o mesmo com outro, Bob finalmente buscou ajuda.

ESCRAVIDÃO SEXUAL
Todos esses homens compartilhavam algo em comum: eles se tornaram viciados com um comportamento sexual compulsivo. Vício é um conjunto de hábitos pecaminosos de pensamentos e ações que se transformam em um estilo de vida. Assim, existem aqueles que desenvolvem um estilo de vida de satisfação sexual e tornam-se viciados no "clímax" associado à atividade sexual, da mesma maneira que outros se viciam na euforia do álcool ou das drogas. Quando os homens enfatizam demasiadamente a importância do sexo na vida deles, este começa a ditar-lhes um estilo de vida, e eles ficam obcecados por pensamentos sexuais. No fim, perdem o controle sobre com que freqüência, com quem e sob quais circunstâncias terão relações sexuais. Eles tornam-se prisioneiros de um comportamento sexual compulsivo. O que começa como "apenas se divertindo um pouco" ou "satisfazendo os desejos normais", gradualmente os atrai cada vez mais fundo para o lodo da escravidão. Se continuarem sem se arrepender, Deus irá entregar-lhes a um sentimento perverso (Rm 1.28).

Da mesma forma que o traficante do bairro induz alguém com maconha de graça, com a intenção de conduzi-lo ao uso de drogas pesadas, Satanás atrai sutilmente uma vítima desprevenida para suas garras com algumas experiências sexuais satisfatórias. Contudo, a Bíblia assegura que o gozo do pecado durará somente por pouco tempo (Hb 11.25). Em um capítulo mais adiante, veremos como Satanás lança a isca diante do nariz de sua vítima.

ROTINAS ESPECIAIS
A medida que o vício aumenta a pressão sobre a vítima, ela passa a desenvolver rotinas ou rituais especiais com os quais ela se acostuma. O homem com o hábito de assistir a fitas pornográficas pode começar dando uma olhada nas prateleiras de revistas de uma sex shop por algum tempo. Conforme seu desejo vai aumentando, ele pode aventurar-se a ir para a galeria de filmes, a uma sala mal-iluminada, localizada nos fundos da livraria. De lá, ele pode ir de cabine em cabine, procurando pelo filme perfeito (sua fantasia máxima) até que ele finalmente satisfaz sua lascívia. Identifico-me com essa cerimônia em particular. Eu também entrava em uma sex shop e "dava uma examinada", perambulando pelas cabines de vídeo, vendo as propagandas do filme de cada uma. Então, eu ia metodicamente em cada cabine, pegando a fita que mais me atraía no final.
Um padrasto que molesta uma criança terá uma rotina completamente diferente. Ele poderá (ou não) começar olhando pornografia. Por fim, ele entrará sorrateiramente no quarto da criança, onde praticará seus atos, movido por sua lascívia.
Lew começou a molestar sua filha mais velha quando ela tinha dez anos. Em cada ocasião, ele gastava vários momentos, persuadindo-a e animando-a para convencê-la de que aquele era seu modo de mostrar seu "amor especial" por ela e de que este seria seu pequeno segredo. Ela aceitou relutantemente até que ele tentou molestar sua irmãzinha menor. Tendo vivido com o horror do abuso sexual, ela não agüentaria ver sua irmã passar pelo que ela tinha sofrido. Desesperada, ela contou a sua professora, que alertou imediatamente as autoridades.
Um exibicionista normalmente age rotineiramente dentro de um carro. Ele pode estar indo a uma loja quando a idéia de se expor para uma mulher entra em sua mente. Imediatamente, fica tomado pelo pensamento até que finalmente age, dirigido por sua fantasia, na frente de alguma vítima que não desconfia de coisa alguma.
Sam era adolescente quando começou a sentir vontade de se expor. Toda manhã, quando um grupo de adolescentes passava por seu quintal a caminho da escola, ele se masturbava enquanto as via passar pela janela. Embora ele nunca ousasse se mostrar, só de pensar nas garotas vendo-o se masturbar o excitava. Conforme ele crescia, esse desejo insuportável continuava a incomodá-lo. Ele repetida¬mente o descartava, contudo não desaparecia. Um dia, ele encostou seu carro e se masturbou enquanto uma mulher passava por perto. Ele conseguiu esconder-se muito bem, mas o pensamento dela vendo-o masturbar-se era excitante. Sam repetiu essa mesma rotina algumas vezes durante vários meses, até que finalmente sua lascívia dominou-o, e ele cedeu à tentação. Ele deixou que uma mulher o visse enquanto ele chegava ao orgasmo. Embora isso o tenha assustado terrivelmente, ele se viu repetindo o ato inúmeras vezes. A masturbação apenas não era mais suficiente para satisfazê-lo.
A rotina do homem que faz ligações telefônicas indecentes se assemelha muito a do exibicionista; a diferença é que o ritual é feito pelo telefone. Enquanto ele disca vários números de telefone, vai ficando excitado só de pensar em conseguir falar com alguma mulher ingênua o suficiente para escutar o que ele diz. É quando sua lascívia se satisfaz.
Veja o exemplo de Stan. Seus problemas começaram com o 0800. Ele começava excitando-se com pornografia e, então, ligava para um número especial, em que uma garota falaria obscenidades com ele. Mas isso era muito fácil. Em vez de atingir o orgasmo com ela, ele começava a discar rapidamente os números da lista telefônica local até encontrar uma mulher que escutasse suas suges¬tões lascivas e a descrição gráfica de seu orgasmo subseqüente.
O voyeur, a pessoa que busca a satisfação sexual por meio da erotização da visão, vagueará horas pelas ruas, na esperança de encontrar uma janela que possa oferecer alguma excitação. Após esperar ansiosamente, talvez horas em cada ocasião, finalmente o vislumbre de um corpo nu entrará em seu campo visual. Essa visão atinge o clímax de sua lascívia.
Bob estaria sentado em sua casa à noite, assistindo à televisão, quando o pensamento de todas aquelas janelas potenciais começaria a seduzi-lo. Depois de todos terem ido para a cama, ele escaparia furtivamente da casa e rua abaixo, procuraria por uma janela com cortinas abertas. Depois de encontrar uma, ele ficaria ali por um longo período de tempo, até que conseguisse ter um vislumbre de qualquer coisa excitante.
A mulher viciada em sexo poderá agir rotineiramente em bares, indo de um homem para outro, noite após noite. Ela pode tentar ver com quantos homens ela consegue flertar ou provocar em uma noite até escolher um para dormir. Então, terminará a noite.
Betty, uma mulher razoavelmente atraente, era uma cantora de boate que amava seduzir os homens. Ela gostava da atenção que recebia do público enquanto cantava. Durante sua apresentação, ela escolhia um homem para "atraí-lo". Acabar na cama com aquele homem faria com que ela se sentisse incrivelmente desejável e sensual como mulher. Se um homem no bar não prestasse atenção suficiente nela, talvez porque ele fosse casado, ela encararia aquilo como um desafio para seduzi-lo. Todas as conquistas lhe davam uma tremenda satisfação. Por fim, Betty se casou, mas logo perdeu a atenção dos homens e começou a ter casos secretos. Não im¬portava quantos homens conseguisse seduzir, ela não atingia o ponto de estar realmente contente com ela mesma como pessoa. No entanto, tudo aquilo começou a mudar quando ela aceitou Jesus Cristo como seu Salvador.
Um "sujeito" pode agir rotineiramente cruzando a zona de me¬retrício, um abrigo para prostitutas. Cativado pela cena inteira, ele lentamente passa diante de cada mulher, examinando-a cuida¬dosamente. Ele começa a fantasiar, e a lascívia aumenta em seu coração. Finalmente, por qualquer motivo, uma delas percebe seu interesse, e ele procura seus serviços para a noite.
Jody passava horas passando com seu carro por ruas lotadas de prostitutas. Essa era a metade de sua excitação. De vez em quando, ele parava o carro e conversava com uma delas por algum tempo, mas normalmente ele não estava pronto para terminar ainda sua rotina; então, continuava dirigindo e prosseguindo com sua busca. Por fim, depois de seu desejo de fazer sexo estar aproximando-se do clímax, ele escolhia uma das mulheres para levar ao seu quarto de hotel. Era onde sua rotina atingia o ponto culminante.
O homossexual compulsivo age rotineiramente de uma das duas maneiras. Normalmente, ele vai a um bar local de gays, onde flerta com alguns homens até encontrar o parceiro "ideal". Ou ele pode preferir ir a uma galeria de filmes de uma sex shop, onde haverá homens "heterossexuais" e bissexuais que aceitarão seus serviços. Lá, ele passará de homem em homem a noite inteira, até finalmente se cansar e encontrar alguma maneira de alcançar prazer por ele mesmo.
Rick fez as duas coisas. Algumas noites, ele ia aos bares de gay ou às casas de massagem, procurando por outro homossexual que lhe atraísse. Os dois podiam tomar vários drinks juntos enquanto iam-se conhecendo e terminavam, então, na cama naquela noite. Outras noites, ele ia às sex shops. Ele se oferecia para "cuidar" dos homens heterossexuais que estavam assistindo a fitas pornográ¬ficas em pequenas cabines. Em uma noite, ele podia fazer sexo com uma dúzia ou mais de homens naquela cabine. Embora fosse levado a fazer isso, era confuso para ele o quão pouca satisfação ele recebia.
Todos esses homens diferentes compartilharam uma coisa em comum: eles permitiram que pensamentos pecaminosos domi¬nassem a vida deles a ponto de se tornarem viciados em seu comportamento. Suas rotinas verdadeiras podem diferir, mas todas elas têm um padrão distinto ou observável que, no fim, leva a seu "comportamento" sexual.

CICLO MALIGNO DO PECADO
Depois de o homem tornar-se um viciado sexual, entra em um ciclo vicioso de autodestruição e degradação. Parece que quanto mais compulsivo ou pervertido for seu comportamento sexual, mais severamente a sociedade vai rotulá-lo e julgá-lo por causa disso. Conseqüentemente, sua vida inteira é consumida pela culpa e vergonha. Isso se aplica especialmente àquelas pessoas que vêm de uma formação cristã ou são ativas em sua igreja local. Com o passar do tempo, muitas coisas começam a acontecer na vida do viciado sexual. Seu senso de confiança e auto-estima diminuem gradativamente, e aumenta o vazio dentro dele. Como resultado, ele começa uma busca intensa e desesperada para preencher o vazio em sua vida. Uma vez que o sexo foi o elixir ao qual ele recorreu em outras ocasiões de desespero, da mesma maneira que o bêbado recorre à garrafa de bebida, o viciado sexual procurará o(s) objeto(s) de seu desejo. Infelizmente, depois de fugir para o sexo a fim de encontrar conforto ou simplesmente um "escape", ele só consegue cobrir-se com mais vergonha e desespero — a cova fica mais funda, e a escuridão, mais densa.
Ele começa a construir uma barreira em torno de si. À medida que aumenta a necessidade de se proteger, aliena-se ainda mais daqueles que ama. Assim, as pessoas começam a se sentir incapazes de se aproximar dele. Não conseguem entender o que está aconte¬cendo com ele ou por que não conseguem comunicar-se com ele.
Essa é uma das diferenças entre os alcoólatras e o viciado sexual. É raro o vício do álcool ser um segredo. Em geral, não leva muito tempo para as pessoas descobrirem o problema do alcoólatra. Elas podem até entender por que o bêbado se aliena; com o viciado sexual, as pessoas normalmente não têm idéia alguma do que está acontecendo e não conseguem entender o comportamento do viciado. Hal descreve o que aconteceu em sua família:
A alienação de minha família começou muito antes de eu ter percebido. Foi somente quando fiz um retrospecto que pude ver o que realmente se passava. No início, envolvia somente minha família imediata. Minha obsessão egocêntrica com sexo resultou em minha esposa não receber o amor e a atenção que ela verdadeiramente merecia. Sua frustração compreensível com esse vácuo em nosso relaciona¬mento resultou em brigas incontáveis — muitas delas sérias.

COLOCANDO A CULPA NOS OUTROS
O homem preso por hábitos do pecado sexual começa a colocar a culpa nos outros por todos os seus problemas. Aceitar a respon¬sabilidade por sua vida e as próprias falhas significaria lutar corpo-a-corpo com seu vício. Contrário a aceitar a responsabilidade por seus atos, ele precisa encontrar outros para colocar a culpa. Ele está em um estado constante de negação, mesmo que entenda seu vício. Quanto mais nega a pecaminosidade de sua vida ou de seus atos, mais responsabiliza aqueles à sua volta. "É culpa do meu pai", ou "É porque minha esposa não me dá atenção". Parece que o problema sempre está em outra parte.
Esse processo de colocar a responsabilidade nos outros pode acontecer na mente do viciado enquanto ele procura justificar seus atos, ou simplesmente transferir a culpa para aqueles ao seu redor, à medida que eles tentam aproximar-se dele com algum assunto relacionado. Ele não somente deixa de admitir o erro de seu compor¬tamento sexual, como pode até mesmo chegar a negar qualquer outro pecado em sua vida. O escritor de Hebreus sabia dos efeitos do pecado quando disse: Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado (Hb 3.12,13).

MANIPULANDO OUTROS
Além de colocar a culpa nos outros, o viciado torna-se manipulador. Uma vez que é sempre culpa de outra pessoa, ele justifica seus atos e sua manipulação. Seu artifício egoísta pode incluir atacar sua esposa depois das "escapadas" toda vez que ela questiona seu comportamento: "Você está sempre atrás de mim com alguma coisa!" ou: "Você não confia em mim!" Essas são sempre as desculpas favoritas de alguém em pecado compulsivo. Freqüentemente, a pobre esposa pensa que está perdendo seu juízo. Seus subterfúgios são tão convincentes, que até ele acredita neles. Se o viciado não conseguir convencer-se de que seus problemas são culpa de uma outra pessoa, terá de lidar com a própria culpa.
Richard usou suas capacidades de manipulação com sua esposa para conseguir seu envolvimento em seu estilo de vida pervertido. A princípio, ele fazia comentários sobre outros homens enquanto fazia amor com ela. Então, ele aumentou seus esforços. Ele era doce e adulador enquanto tentava persuadi-la a se envolver, ou a atacava por sua resistência em favor da decência. Ele tentou uma tática após outra na intenção de fazê-la ceder. Assim que ela per¬cebeu que enquanto resistisse, nunca teria um lar feliz, ela deixou de se importar. Não demorou muito para ela ceder e se envolver com seu "estilo de vida liberal". Se ela tentasse protestar, ele usaria de um sarcasmo cruel para depreciá-la e degradá-la. Somente depois de conhecer o Senhor, ela teve a determinação de restabelecer seu compromisso com a decência.
Salomão poderia estar descrevendo Richard quando disse:

O homem de Belial, o homem vicioso, anda em perversidade de boca. Acena com os olhos, fala com os pés, faz sinais com os dedos. Perversidade há no seu coração; todo o tempo maquina mal; anda semeando contendas (Pv 6.12-14).

CRÍTICO E AGRESSIVO
O viciado sexual também se tornará muito crítico e acusador daqueles ao seu redor. Uma vez que se colocou em um pedestal pelo processo de negação, ele se vê incapaz de fazer algo errado. Nova¬mente, admitir que ele é vulnerável ao erro ou às imperfeições exigirá que ele lute corpo-a-corpo com a realidade de seus atos. Tudo isso é parte do "engano do pecado".
Dentro de si, o homem que desenvolveu um estilo de vida de satisfação sexual sabe que o que ele está fazendo é errado; por isso, ataca os outros com crítica. Seus insultos não só mantêm os outros abaixo dele — fazendo-o, desse modo, sentir-se melhor consigo mesmo - como também convencem os outros (pelo menos em seu pensamento deformado) de que são mais culpados do que ele por quaisquer problemas que possam existir. Como subdelegado de polícia de Los Angeles, designado para uma divisão de cárcere de segurança máxima, geralmente me tornava um dispensador de justiça vigilante. Não perdia muito tempo examinando a sujeira em minha própria vida, mas era rápido para infligir castigo em presos problemáticos por suas infrações!
O viciado sexual também ataca aqueles a quem ele ama para se proteger de perguntas especulativas. Se ele for inacessível, não terá de responder por seus atos. Se a esposa tenta questioná-lo sobre sua vida pessoal, sua atitude defensiva maldosa destrói suas melhores intenções, e ela rapidamente aprende a manter a boca fechada. No íntimo, ele sabe que seu temperamento é seu "trunfo" se ela começar a perscrutar seu comportamento. Certamente, Salomão viu tudo isso quando disse: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á (Pv 9.7,8).
O homem controlado pelo pecado normalmente é excessivamente sensível à crítica. O tempo todo, seu senso profundo de vergonha por seus atos reforça seu senso de indignidade. No entanto, em vez de ir para a cruz de Jesus Cristo com aquela grande necessidade, ele tentará lidar com ela tentando criar um senso presunçoso de valor próprio. Seu pecado sexual cria um ciclo vicioso que provoca um redemoinho de destruição. Quanto mais pecado o viciado sexual cometer, maior é a vergonha e pior ele se sente consigo mesmo. Ele compensa a vergonha tornando-se mais orgulhoso. Dominado pelo orgulho, ele se transforma em um indivíduo extremamente irritável. Como discutiremos no capítulo sete, muita dessa arrogância e desse egocentrismo se dissipa quando o homem começa a se humilhar.
Sam, um exibicionista, era assim. Ele sentia uma vergonha pro¬funda devido ao seu comportamento. Embora ele fosse convencido e arrogante com aqueles ao seu redor, dentro de si, ele se sentia uma pessoa "estranha". Ele sabia que estava traindo sua esposa, mas, em vez de se humilhar para ela, tornou-se inacessível. Sam era tão sensível, que ela não podia fazer menção de qualquer um de seus defeitos ou culpas. Contudo, a verdade de seu pecado veio à luz quando ele se expôs à melhor amiga.

A CARNE CONTROLADORA
O pecado afeta as pessoas de várias maneiras. Em geral, o pecado tende a ressaltar a natureza caída das pessoas. Se a pessoa for naturalmente introvertida, o pecado vai levá-la a um isolamento mais profundo.
Mark era um sargento da Força Aérea, designado para uma equipe de elite de paramédicos. Enquanto servia na Coréia durante muitos anos, ele ficou cada vez mais isolado de todos ao seu redor. Ele nunca conseguiu convidar uma garota para sair. Quanto mais se envolvia em seu pecado sexual, mais a vergonha destruía a confiança dele como homem. Contudo, nunca teve dificuldades para freqüentar casas de massagem e bares agitados, porque ele não precisava ter relação com aquelas mulheres para se divertir; ele só precisava de dinheiro. No fim, um ódio profundo pelas mulheres foi consumindo-o (somente depois de ir para o Pure Life Ministries tempos depois e ter aprendido a se humilhar é que conseguiu ser libertado desse ódio).
Muitos homens tratam a frustração de sua miséria tornando-se pessoas "super controladoras". Eles procuram controlar todos os detalhes da vida à sua volta. A menor contrariedade de sua vontade causa grande agitação e frustração. Len era um homem que reconheceu sua necessidade de ir para a casa de recuperação do Pure Life para viciados sexuais. Contudo, ele também tinha várias noções preconcebidas de como seria a vida lá. Em vez de ir para o programa humilhado por seu pecado e desesperado por ajuda, ele foi com uma atitude, esperando que tudo fosse do seu jeito. De fato, chegou até a enviar uma lista de exigências para o diretor do programa! Depois de instalado na casa de recuperação, Len foi ficando cada vez mais frustrado, porque ele não conseguia manipular seu ambiente e as pessoas como ele estava acostumado a fazer. Sua atitude tornou-se insuportável para os colegas. Embora ele quisesse ajuda e tentasse suportar o programa, simplesmente não queria entregar as rédeas de sua vida ao Senhor. O diretor do programa, por fim, explicou-lhe que sua atitude estava tornando impossível ao pessoal do programa ajudá-lo. Embora o diretor do programa tivesse sido delicado e humilde em sua abordagem, foi demais para Len. Ele saiu esbravejando do escritório com ira. Para muitos, uma situação como essa o teria levado a uma crise de nervos e de volta ao pecado. Len, porém, foi para um quarto de motel e ficou pensando sobre tudo. Na manhã seguinte, ele ligou para o diretor e humilhou-se. Ele recebeu permissão para voltar ao programa de recuperação, onde finalmente teve uma mudança de vida com o Senhor.
Charlie era um tipo de pessoa completamente diferente. Sua natureza sociável e amável fez dele uma das pessoas mais adoráveis que se poderia encontrar. Entretanto, ninguém sabia que ele era um voyeur. Como resultado, carregava um senso profundo de culpa e humilhação por causa de seu pecado secreto. Charlie não era, de forma alguma, uma pessoa brava por natureza, nem controladora ou introvertida. Ele era "popular" e parecia ganhar impulso na vida, ganhando a admiração e afeto daqueles que o cercavam. Sua natureza amável só servia para disfarçar um espírito extremamente arrogante. Quanto mais ele cedia ao seu pecado, mais generoso se tornava. A atitude confiante de Charlie mas¬carava sua arrogância e falta de respeito a qualquer autoridade. Na realidade, ele podia passar impune na igreja porque as pessoas gostavam muito dele. Quando Charlie chegou ao programa de recuperação, Deus tratou muito severamente de seu espírito zombeteiro e rebelde. Depois de ter-se humilhado e se tornado sóbrio, a vida dele foi transformada.
Embora cada caso seja diferente, a natureza verdadeira do homem será realçada por seu pecado. O pecado, como a guerra, só ressalta o pior das pessoas. As respostas fornecidas na última parte deste livro ajudarão a eliminar a velha natureza carnal e diminuir as falhas da pessoa.

PARANÓIA
Outro fenômeno que o viciado sexual enfrenta é a paranóia em pensar que os outros sabem a respeito de seu comportamento secreto. Lembro-me de que, certa vez, ao sair de uma sex shop depois de ter cometido um ato lascivo, um carro de polícia vinha em minha direção, tocando a sirene. Em meu pensamento confuso, pensei que estavam atrás de mim! Em outra ocasião, a caminho de uma sex shop, vi um carro com meus amigos. Embora tenha guiado meu carro para longe da loja, eu sabia que seria rotulado de pervertido daquele dia em diante. Na realidade, nem a polícia, nem meus amigos tinham a menor idéia do que eu estava fazendo.
Ted tinha realmente paranóia de as pessoas saberem sobre sua vida. Ele estava convencido de que todos no seu serviço sabiam a respeito de seu comportamento anormal. Descrevia, com riqueza de detalhes, as coisas que tinham acontecido em seu serviço para convencê-lo de que eles sabiam. Ele também tinha certeza de que a polícia estava em seu encalço, vinte e quatro horas por dia. Precisei conversar muito com ele para convencê-lo de que a polícia não tem condições de concentrar vigilância em um só exibicionista!
Além da paranóia, existe a vergonha profunda que os viciados sexuais convivem diariamente. Eu me sentia um verdadeiro hipócrita quando ia à igreja. Sempre tive uma sensação desagra¬dável de que as pessoas na igreja sabiam de alguma maneira o que eu estava fazendo em secreto. Quando finalmente comecei a andar em vitória, fui libertado para conseguir olhar as pessoas nos olhos, sabendo que eu nada tinha a esconder. Como Salomão descreve: Fogem os ímpios, sem que ninguém os persiga; mas qualquer justo está confiado como o filho do leão (Pv 28.1).

TODOS OS GRUPOS SÃO ATINGIDOS
A escravidão (o vício sexual) transcende todos os grupos socioeconômicos, raciais e étnicos. A idéia do pervertido sexual de um homem mirrado e imundo, saindo debaixo de alguma pedra, foi banida nos últimos anos, visto que cada vez mais são descobertas personalidades "respeitáveis" nessas situações com¬prometedoras. Na verdade, quanto mais altamente respeitável for o viciado em sua vida pública, mais vergonha ele terá e maior será seu medo de ser descoberto e exposto.
O vício sexual também vai além das linhas de preferência sexual. Nem todos os homossexuais são viciados em comportamento sexual compulsivo. Alguns vivem com um parceiro e não tem necessidade de se aventurar na vida de múltiplos parceiros. Contudo, normalmente essa é uma rara exceção. A homossexualidade, por sua natureza, promove a variedade no sexo. O homossexual que demonstra vontade de se arrepender de seu comportamento deve enfrentar outros problemas. Ele se vê como "gay" há muitos anos. É sua identidade. Quando eu estava no meio do meu pecado, simplesmente me via como um homem normal, embora exageradamente sexual. No entanto, um homem envolvido no estilo de vida "gay" freqüentemente vê a si mesmo primeiro como homossexual, depois como homem. Ele deve não somente dominar o vício sexual, como também esperar que, de alguma maneira, sua preferência sexual mude. Seus maneirismos e freqüentemente a própria identidade inteira precisarão ser mudados. Isso realmente pode acontecer? Claro que sim! A promessa de mudança e libertação do pecado está bem no coração do Evangelho. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres (Jo 8.36).

Capítulo 2
A ESPIRAL DA DEGRADAÇÃO

Sim, eles bem sabiam de Deus, mas não admitiram, nem O adoraram, nem mesmo agradeceram a ele todo o seu cuidado diário. E, depois, começaram a fazer idéias tolas de como Deus seria e o que Ele queria que eles fizessem. O resultado foi que suas mentes insensatas ficaram confusas e em trevas. Dizendo-se sábios sem Deus, tornaram-se em vez disso completamente tolos. E assim Deus deixou que continuassem com toda a espécie de pecados sexuais e que fizessem tudo quanto desejassem: coisas vis e pecaminosas com os corpos uns dos outros. Em vez de crerem naquilo que eles próprios sabiam ser a verdade sobre Deus, escolheram de vontade própria crer em mentiras. E assim fizeram suas orações às coisas que Deus fez mas não obedecendo ao Deus bendito que criou essas mesmas coisas. Esta é a razão pela qual Deus os abandonou, deixando-os cometer todas essas ações pecaminosas, a tal ponto que até suas mulheres se voltaram contra o plano natural que Deus tinha para elas e cederam aos pecados sexuais entre elas mesmas. E os homens, em vez de terem relações sexuais normais, cada qual com sua mulher, arderam em paixão uns pelos outros, homens praticando coisas vergonhosas com outros homens e, como resul¬tado disso, receberam a paga em suas próprias almas com o castigo que bem mereciam. Assim, quando eles abandonaram a Deus e nem mesmo O reco¬nheceram, Deus os deixou fazer tudo quanto suas mentes malignas poderiam imaginar. Eram perfeitamente sabedores da pena de morte divina por todos esses crimes; contudo, continuaram assim mesmo e os praticaram de todas as maneiras, encorajando outros também para que agissem do mesmo modo. Romanos 1.21,22, 24-28,32 BV

Nesse grande trecho das Escrituras, podemos ver claramente a espiral descendente da escravidão sexual. Em nenhum outro lugar da Bíblia, a vileza do pecado é mais vividamente contrastada com a glória de Deus. Que tragédia quando uma pessoa conhece o Senhor e, contudo, permanece no pecado sexual! Alguns crescem na igreja, mas começam a entremear-se com o pecado porque não querem entregar-se verdadeiramente ao Senhor. Não demora muito e eles caem de cabeça no grande abismo da perversão. Outros foram escravos do pecado sexual durante anos, antes de conhecerem ao Senhor. O chamado para o pecado é tortu¬rante, e a pessoa volta a procurar o pecado rapidamente. Freqüentemente, eles se afundarão ainda mais no pecado do que antes de sua conversão.
Algo acontece espiritualmente para a pessoa que se desvia da luz. Pedro disse:

Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. Deste modo, sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz O cão voltou ao seu próprio vômito; a porca lavada, ao espojadouro de lama. 2 Pedro 2.20-22

Se a pessoa cresceu na igreja e se envolveu com pecado, ou veio para o Senhor, mas retornou a seus antigos hábitos, o padrão de pecado apresentado no capítulo um de Romanos ainda acontece. Existem sete passos decadentes que levam à escravidão sexual. Vamos examiná-los.

1. DEIXAR DE GLORIFICAR A DEUS

Sim, eles bem sabiam de Deus, mas não admitiram, nem O adoraram.

Perder o espírito de reverência e adoração é o primeiro passo para baixo na espiral da degradação. Quando uma pessoa é salva, ela se apaixona por Jesus. Ele Se torna seu "primeiro amor".
Se o novo convertido continua vivendo nesse amor por Jesus, pode-se esperar muitos anos frutíferos. No entanto, em Romanos 1.21 é descrita uma pessoa que começou a se desviar daquele primeiro amor. Ela pode ainda continuar fazendo as mesmas coisas de um convertido, mas algo dentro dela está secando. Ela está perdendo seu senso de adoração ao Deus que o salvou. Esse declínio do primeiro amor é suficiente para permitir que se erga um altar de idolatria sexual no coração da pessoa e, uma vez estabelecido, ela deixará de adorar a Deus para adorar a perversão da lascívia sexual.
Outro aspecto é a velha natureza orgulhosa que começa a ressurgir. A pessoa que foi uma vez quebrantada quando percebeu sua grande necessidade de Deus perde aquela humildade de espírito e começa a encher-se de orgulho. Depois que a pessoa é salva, não leva muito tempo para ela aprender algumas verdades espirituais e, então, pensar que tal conhecimento recém-descoberto de alguma forma faz dela um gigante espiritual. Antes que ela perceba o que está acontecendo, começa a perder o temor (e o medo que o acompanha) que tinha a Deus e começa a desenvolver um padrão terrível de auto-engrandecimento. A honra e a reverência que pertencem a Deus e somente a Deus, é logo engolida na exaltação de si mesmo, ou conforme expressa na Palavra de Deus: Eles não o glorificaram como Deus (Rm 1.21). O amor do homem para consigo próprio substitui o amor por Deus. A fé em si próprio suplanta a fé em Deus. A glória para si próprio substitui a glória que pertence ao Senhor. Assim começa o desvio para longe de Deus.

2. A PERDA DE UM ESPÍRITO DE GRATIDÃO

Nem mesmo agradeceram a ele todo o seu cuidado diário.

Uma vez tomado o primeiro passo para baixo, o seguinte fica mais fácil. O segundo passo é deixar de agradecer a Deus — uma atitude de ingratidão. Paulo está especificamente falando do espírito que essas pessoas tinham para com Deus. A ingratidão foi o que enfureceu o Senhor com os israelitas enquanto Ele os levava para a Terra Prometida. Eles estavam descontentes com o que Deus lhes tinha dado. Eles "murmuraram" contra o Senhor. Mesmo depois de terem sido milagrosamente libertados por Deus das mãos de seus cruéis opressores, eles ainda tiveram a ousadia de reclamar. A falta de gratidão quase levou Deus a destruir os israelitas.
É esta atitude que se introduz muito sutilmente depois que a pessoa desvia seus olhos de Deus. Se somente a presença mara¬vilhosa de Deus não captura sua devoção, como eles se satisfarão com qualquer outra coisa? Esse senso de descontentamento leva as pessoas a procurarem outras formas de satisfazer suas necessidades. Esse é um estado de espírito perigoso porque, se as providências maravilhosas de Deus não são suficientes para manter a atenção da pessoa, o que mais será?
A vida de Bill é um exemplo perfeito do que acontece com a pessoa que vive em descontentamento. Criado em um lar cristão e mimado de várias maneiras, ele considerava certo seu caminhar cristão. Ele amava a Deus, ou pelo menos pensava que amava e queria servir a Ele. Porém, ele deixou de dar valor a sua salvação, uma vez que ele supunha que sempre, a teve. Com o passar dos anos, Bill começou a desenvolver um fascínio pela idéia de ter uma relação homossexual. A princípio, ele expulsou rapidamente esses pensamentos de sua cabeça. Mas, gradualmente, esse desejo começou a ganhar lugar em seu coração e, por fim, deixou sua esposa para procurar outro homem. Na sua cabeça, somente essa fantasia iria realmente satisfazer suas necessidades. Bill nunca cultivou uma atitude de ação de graças para com Deus e, desse modo, foi facil¬mente seduzido por um pecado que ele acreditava que lhe ofereceria uma verdadeira satisfação. Depois de vários meses em pecado e graças ao jejum e oração de sua esposa dedicada, Bill percebeu que tinha sido enganado por uma mentira. Ele viu o vazio do estilo de vida "gay" e voltou para casa.

3. O CORAÇÃO OBSCURECIDO
E, depois, começaram afazer idéias tolas de como Deus seria e o que Ele queria que eles fiassem. O resultado foi que suas mentes insensatas ficaram confusas e em trevas.

Quando uma pessoa se desvia de Deus em seu coração, torna-se vulnerável ao pensamento carnal. Paulo disse que eles se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu (Rm 1.21). Ele procura à sua volta por algo que dê significado à sua vida, algo que lhe ofereça prazer e satisfação, e, então, permite que sua mente especule, sonhe e fantasie.
Para o viciado sexual, a vida idealizada se torna dominada com casos e aventuras maravilhosas com outras pessoas. Talvez tudo isso tenha começado quando ele era um adolescente, folheando uma Playboy, enchendo a mente com pensamentos de fazer sexo com todos aqueles parceiros aparentemente dispostos. Ou talvez tenha sido uma relação homossexual quando ainda era muito jovem com um amigo que o introduziu ao sexo. Para Bill, como para a maioria dos homens, começou com apenas um pensa¬mento lascivo ocasional. Onde quer que tenha iniciado, só o levou a uma direção, e era a do caminho escorregadio da escuridão. Infelizmente, a pessoa quase nunca se afasta desse caminho.
E também importante notar como a escuridão começa a tomar o coração de uma pessoa. Um ponto decisivo na vida de uma pessoa é quando ela se entrega a imaginações vãs. A vida de Bill é um exemplo de alguém que permitiu que a idealização ganhasse um lugar seguro em sua mente, verdadeiramente entregando sua mente preciosa para a adoção por forças demoníacas.
Até este ponto, Bill iniciou os passos para as trevas. O pecado, então, começou a exercer o domínio sobre sua vida — o domínio que ele lhe deu. Voluntariamente, ele tomou a decisão de colocar Deus em segundo plano em sua vida, escolhendo não Lhe ser grato, deci¬dindo especular sobre coisas diferentes do Senhor. Desse modo, perdeu o controle. As trevas consumiram seu coração, e Bill, de repente, afundou-se na comunidade homossexual. Foi, então, que o pecado reinou livremente em sua vida. Paulo fala de seus perigos:

Não deixem nunca mais que o pecado controle esse corpo fraco de vocês; e não cedam aos seus desejos pecaminosos. Não deixem que nenhuma parte de seus corpos seja instrumento do mal, usada para pecar. Antes entreguem-se inteira¬mente a Deus — o corpo todo — pois que vocês voltaram da morte e desejam ser instrumentos nas mãos de Deus, usados para seus bons propósitos. Será que vocês não compreendem que podem escolher seu próprio senhor? Podem escolher , o pecado (com a morte) ou então a obediência (com a absolvição). Aquele a quem você mesmo se oferecer, este o tomará, será o seu senhor e você será escravo dele. Romanos 6.12,13,16 BV

Essas palavras fortes indicam o poder que podemos dar ao pecado em nossa vida. Depois que o pecado torna-se o mestre da vida de uma pessoa, as trevas prevalecem; onde reina as trevas, as forças malignas dominam e controlam.
À medida que a mente de uma pessoa é controlada pelo pecado, ela fica menos sensível à voz do Espírito Santo. Em outra epístola, Paulo usa a mesma terminologia encontrada no capítulo um de Romanos para descrever esse fenômeno.

E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez cometerem toda impureza. Efésios 4.17-19

Trevas na mente significa falta de luz no pensamento de uma pessoa. Quanto mais ela se entrega ao poder do pecado, mais dura fica com relação a Deus. Ela pode ainda freqüentar a igreja, cantar todos os cânticos de adoração e até apreciar uma boa pregação, mas seu coração empedernido a impede de sentir o Espírito Santo impulsionando-a ao arrependimento. Quanto mais uma pessoa peca, mais densa a insensibilidade se torna. Por fim, ela se encontrará tão endurecida, que não conseguirá mais discernir a verdade por si mesma. Embora ela, possivelmente, ainda tenha alguma compreensão da doutrina, a Verdade foi efetivamente excluída de seu coração.

4. O IMPEDIMENTO DA VERDADE

Em vez de crerem naquilo que eles próprios sabiam ser a verdade sobre Deus, escolheram de vontade própria crer em mentiras.

Paulo diz que essas pessoas detêm a verdade em injustiça (Rm 1.18). literalmente, ele quer dizer controlar a verdade ou reprimi-la. O qua¬dro aqui é que Deus está tentando desesperadamente atravessar as trevas de seu pensamento com a luz de Jesus. Porém, algo se rebela dentro da pessoa e a faz se afastar da verdade. O Espírito Santo continua introduzindo pensamentos condenatórios na mente do homem, mas ele não Lhe dá ouvidos. Ele não quer ouvir a voz do Senhor porque sabe que isso significaria desistir do que deseja. A verdade não somente é ignorada, mas também o engano agora entra em cena. As declarações abaixo são típicas do que a pessoa enganada diz a si mesmo para justificar seu pecado ou impedi-la de lutar corpo-a-corpo com ele.

Estou andando com Deus. Só tenho este probleminha. Essa é a mentalidade de alguém que deseja minimizar o mal de seu pecado de forma que possa continuar com ele. Vamos usar o exemplo do mal monstruoso da pornografia. Mesmo a pessoa que não vai além de ocasionalmente ver pornografia e masturbar-se, ainda está entregando sua mente e seu coração à perversidade. Ninguém que está vendo pornografia está andando com Deus! O homem pode ocasionalmente ter experiências com o Senhor, mas, como veremos mais adiante, ele certamente não está andando com Ele, está simplesmente lisonjeando o próprio ego e enganando-se.

Estou passando agora por um período difícil de minha vida. Eu sairei dele. Essa é de alguém que está simplesmente esperando para se arrepender, imaginando que pode acabar com seu pecado quando quiser. Talvez não perceba que o pecado sexual é uma besta que cresce na proporção direta de quanto é alimentada. Quanto mais o homem cede ao pecado, mais ele demanda. Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação (2 Co 6.2b). Quanto mais a pessoa protela seu arrependi¬mento, menos probabilidade tem de se arrepender de seu pecado.

Eu tentei deixar. Tentei seguir os passos apresentados neste livro. Nada muda. Continuo viciado como sempre fui. Muitos homens que vacilaram entre seu amor por Deus e seu amor pelo pecado acreditavam honestamente que tinham feito tudo o que podiam para se libertar, mas não funcionou. Aqueles que são honestos com eles mesmos percebem que fizeram somente tenta¬tivas indiferentes de mudar. Eles podem tentar convencer-se de que realmente tentaram, mas a verdade é que não o fizeram. Tim foi um exemplo disso. Ele tinha uma riqueza de "conhecimento bíblico intelectual" e conhecia a Verdade. Quando eu disse que ele precisava aplicar fielmente os princípios deste livro em sua vida diária, ele insistiu que tinha feito, mas sem sucesso. Ele deixou o Pure Life Ministries, convencendo-se de que ele necessitava de uma terapia especial para "lidar com esse problema". Depois de gastar alguns anos, procurou-nos humildemente, embora tenha retornado em uma condição pior do que aquela que estava quando nos deixou. Foi, então, que ele admitiu que nunca tinha realmente tentado fazer as coisas da maneira de Deus. Inicialmente, havia enganado a si mesmo, acreditando no que queria acreditar.

Deus entende que eu sou um homem e que tenho paixões naturais. A masturbação é a minha provisão de Deus até que eu me case. Alguns dos principais psicólogos cristãos acreditam que a masturbação é uma função normal que, a menos que seja levada para o casamento, normalmente prova ser inofensiva.* Acre¬dito que isso foi dito para aliviar parte da culpa e condenação associada a ela. Contudo, algo não pode ser tolerado, porque faz as pessoas se sentirem culpadas. Pode ser normal para o homem caído masturbar-se, mais isso não o torna aceitável aos olhos de um Deus santo! Essas paixões naturais são chamadas de concupiscências da carne. Conforme descobriremos mais adiante, o Senhor tem-nos dado graciosamente respostas para nos ajudar a vencer esses desejos carnais.
Deus não tolera, nem tolerará a satisfação carnal e narcisista da masturbação. Ele criou a sexualidade como uma forma de duas pessoas casadas expressarem o amor de uma para com a outra e desfrutar uma satisfação mútua. O sexo fora desse contexto torna-se algo sórdido e sujo. Por exemplo, em que a pessoa está pensando quando se masturba? A masturbação gira em torno da lascívia e da fantasia, nenhuma das quais Deus aprova. Além disso, é a masturbação que abre a porta para a escravidão posterior. Tentar justificar isso espiritualmente é só mais auto-engano.

5. O APERTAR DA CADEIA
Esta é a razão pela qual Deus os abandonou, deixando-os cometer todas essas ações pecaminosas [...] e, como resultado disso, receberam a paga em suas próprias almas com o castigo que bem mereciam.

Conforme a pessoa continua buscando a fantasia sexual, ela acha que cada pecado com que se envolve irá, por fim, perder o poder de satisfazê-la. Como se entrega repetidamente a essa rotina em particular, o nível de tentação é menos pronunciado, porque o ato pecaminoso perde sua capacidade de satisfazê-la. Depois de se entregar à impureza da lascívia, nada poderá mantê-la satis¬feita. Ela irá mergulhar de um abismo de trevas a outro, até que esteja saturada com um comportamento desprezível. O pecado está aumentando sua pressão.
Primeiro, o viciado deseja incessantemente um pouco mais de uma atividade específica. Pode ser fornicação, adultério, masturbação etc. Como o ato sexual inicial começa a perder sua emoção, o viciado tenta manter o alto nível de excitação que ele está acostumado a atingir, aumentando a freqüência de seu com¬portamento. A todo instante, ele volta para ter mais, e as garras do pecado são fortalecidas. Quanto mais ele faz isso, mais quer.
Por fim, a repetição não é suficiente para mantê-lo interessado. Ele começa a almejar algo mais perverso, mais degradante, mais proibido e mais maligno. Ele se concentra em reviver a exube¬rância que sentia no princípio de seu pecado. Sem medo das conseqüências, seu único alvo é o prazer.
Considerando que ele se satisfazia olhando a Playboy, vê-se agora atraído pela pornografia explícita. Pode até ter rejeitado o pensamento de homossexualidade, mas agora se acha atraído por ele. A idéia de sua esposa tendo relações com outro homem era repulsiva em certa ocasião, mas, naquele momento, ele se vê fantasiando isso. Conforme cruza a barreira da idealização e entra no comportamento real, descobre que vê as coisas de um modo diferente. Eventualmente, começa a ter pensamentos totalmente opostos ao que ele pensa ser direito. Por exemplo, ele pode real¬mente começar a pensar que a maioria das mulheres realmente quer sexo imoral, mas só estão inibidas por causa da repressão da sociedade. Depois que a pessoa atinge esse ponto, sua vida rapidamente começa a ser governada quase exclusivamente por seu pecado. Ele não consegue mais tomar decisões corretas, e sua vida toma rapidamente um desfecho. O prazer pecaminoso agora domina sua mente. Conseqüentemente, ele está recebendo em si mesmo a recompensa que devidamente merece.

6. ENTREGANDO-SE
Assim, quando eles abandonaram a Deus e nem mesmo O reconheceram, Deus os deixou fazer tudo quanto suas mentes malignas poderiam imaginar.

Uma das realidades apavorantes sobre este Ser, Jeová, a quem servimos, é que Ele dará às pessoas o que elas mostram que querem. Pode-se ver isso inúmeras vezes nas Escrituras. Analise o tempo em que o povo hebreu caminhou errante no deserto.
Deus estava tentando revelar Seus caminhos maravilhosos para os israelitas, mas, em vez disso, repetidamente, eles exigiam ter o estilo de vida carnal do Egito. Não queriam ser libertados das trevas do Egito até que tivessem pagado o preço da escravidão. Mas, até então, lembravam-se somente de sua vida no país do Nilo com afeição em vez de horror. Eles desejavam as panelas de carne do Egito. Quem nos dará carne a comer? Pois bem nos ia no Egito [...] Por que saímos do Egito? (Nm 11.18,20). Depois de ter suportado esta atitude por muito tempo, Deus finalmente se irou e disse: Não comereis um dia, nem dois dias, nem cinco dias, nem dez dias, nem vinte dias; mas um mês inteiro, até vos sair pelos narizes, até que vos enfastieis dela, porquanto rejeitastes ao SENHOR, que está no meio de vós, e chorastes diante dele, dizendo: Por que saímos do Egito? (Nm 11.19,20). Eles receberam exatamente o que queriam. Deus é extremamente longânimo com Seu povo, mas virá um tempo, se eles continuarem a resistir às Suas advertências e insistir em pecar, em que Ele entregar-lhes-á o que eles desejam. Três vezes neste capítulo em Romanos encontramos as palavras: "Deus os entregou".
Esta frase é uma tradução da palavra grega paradidomai, que significa literalmente trair ou acabar com um relacionamento. Nós a encontramos nas palavras de Judas ao sumo sacerdote: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? (Mt 26.15a). Jesus usou a mesma palavra ao descrever a perseguição nos últimos dias: Então, vos hão de entregar para serdes atormentados (Mt 24.9a). O significado exato dessa Palavra, conforme usada no contexto de Romanos 1 é: "Se você insistir em continuar com seu pecado, virá o tempo em que Deus lhe entregará ao poder do inimigo".
O retrato pintado aqui é de um traidor sendo deixado para defender-se sozinho do inimigo. A pessoa que abandona o Senhor, na realidade, acaba tornando-se o abandonado. O que o apóstolo ilustra não é tanto a ação de um entregando o outro, mas a retirada da proteção de um do outro. No caso do crente, Deus retira a graça a fim de preservá-lo do pecado. Mais do que a maioria possa perceber, o Senhor impede que as pessoas se afundem ainda mais no pecado pela Sua graça. Se for rejeitada repetidas vezes, essa graça protetora por fim é retirada, e a pessoa conse¬gue o que ela mostrou que verdadeiramente queria. Isso não significa que Deus a abandonou totalmente, mas a voz do Espírito Santo, convencendo-o do pecado, não lhe afeta mais. Sua mente não pensa mais de maneira sã; seu modo de pensar torna-se confuso. Ele se encontra fazendo coisas literalmente insanas, porque sua mente se corrompeu.

7. CHEIO DE TODA INIQÜIDADE
Eram perfeitamente sabedores da pena de morte divina por todos esses crimes; contudo, continuaram assim mesmo e os praticaram de todas as maneiras, encorajando outros também para que agissem do mesmo modo.

Abandonado, o pecador se lança ao pecado. Ardendo com uma intensa chama de lascívia, ele não consegue mais se conter. Cada vez mais fundo, mergulha no poço imundo da depravação. Nada é muito indecente, vergonhoso ou proibido. A taça da iniqüidade está cheia agora. O pecado reina completamente na mente do homem. Em vez de transbordar com o amor de Jesus, o homem se encontra transbordando de depravação. A única coisa que o faz refrear é qualquer temor que ainda possa ter de Deus, da lei ou da possível perda de seus amados.
Tendo alcançado esse lugar, ele se encontra desfrutando a com¬panhia de outros que vivem na mesma degradação. Eles têm seus desejos imundos em comum. Não somente gostam da companhia uns dos outros, mas também aprovam entusiastica¬mente os atos degradantes dos outros. Todos acharam uma forma de racionalizar seus estilos de vida. O pessoal da balada fala de sua "coragem" em sair e se divertir, enquanto o resto da sociedade é muito inibido. Os homossexuais se convencem de que nasceram "desse jeito". Os pedófilos alegam que as crianças têm sua própria cabeça e têm o direito de decidir se querem ou não fazer sexo. Eles se cercam de pessoas que lhes ajudam a escapar da responsabilidade por seu pecado e apóiam seu modo de pensar. Todos eles passaram do limite. A mente deles se corrompeu, e a consciência foi cauterizada. Eles permitiram que as trevas governassem a vida deles, e assim, estão cheios de toda iniqüidade.
Esta passagem inteira das Escrituras é uma flecha gigante apontada para baixo. Jesus disse: Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado (Jo 8.34). Paulo disse: Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? (Rm 6.16). Salomão disse: Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido (Pv 5.22). E o salmista disse: Tal como a que se assenta nas trevas e sombra da morte, presa em aflição e em ferro. Como se rebelaram contra as palavras de Deus e desprezaram o conselho do Altíssimo (Sl 107.10,11).
Pode haver um retrato mais terrível da escravidão do que um cristão adorando o ídolo da sensualidade interiormente e servindo suas lascívias exteriormente? Não existe escravidão pior do que a da lascívia. É impossível satisfazer suas exigências. O pecado nunca se satisfaz.

Capítulo 3
OS QUATRO MOTIVOS PRIMÁRIOS

Salomão nos dá quatro causas para o sexo ilícito: Neste capítulo, examinaremos cada uma em detalhe.

1. O PROIBIDO
A mulher louca é alvoroçadora; é néscia e não sabe coisa alguma. E assenta-se à porta da sua casa ou numa cadeira, nas alturas da cidade, para chamar os que passam e seguem direito o seu caminho. Quem é simples, volte-se para aqui. E aos faltos de entendimento diz: As águas roubadas são doces, e o pão comido às ocultas é suave. Mas não sabem que ali estão os mortos, que os seus convidados estão nas profundezas do inferno. Provérbios 9.13-18

Nesta passagem da Bíblia, Salomão nos dá uma ilustração exce¬lente da primeira causa: o proibido. Ele nos mostra uma prostituta sentada à porta para atrair os homens que de nada desconfiam. Salomão nos diz que os simples serão pegos em sua armadilha. A palavra hebréia usada aqui para simples é peti. De acordo com estudiosos:
A idéia básica do verbo é estar aberto, espaçoso, escancarado, e poderia relacionar-se ao imaturo ou simples que está aberto a todos os tipos de tentação, não tendo desenvolvido uma capaci¬dade de julgamento arguta sobre o que é certo ou errado.1
Isso descreve com precisão o modo como eu era antes. Eu estava sempre aberto para tentar novas experiências, não importando os perigos ou as conseqüências possíveis envolvidas. Se fosse proibido, melhor ainda.
Uma das características mais fascinantes do sexo ilícito é sua natureza proibida. Aparentemente, quanto mais proibida, mais fascinante tende a ser. É por isso que um homem cristão casado, viciado em sexo, sente a necessidade de estar com outras mulheres. Ele não deveria. É "proibido". Assim, para o cristão que se sente pressionado a viver uma vida íntegra e está lutando constantemente para resistir às exigências de sua carne, pode ser opressivamente irresistível por causa disso. Desejar o que é proibido faz parte da natureza caída do homem. Tente deixar uma criança de quatro anos sozinha em um quarto com uma caixa que foi dito para ela não abrir!
O Livro de Gênesis conta sobre Eva sendo tentada a comer do fruto da árvore proibida por Deus. Aparentemente, porque era proibido, era mais desejável. Assim é o caso com o sexo, quanto mais proibido, mais desejado. Esta é uma das coisas que excita o homem. Se ele sabe, sem dúvida, que pode ter uma mulher, é apenas uma excitação normal. No entanto, se uma determinada mulher o provoca, e depois finge que não está interessada em ir com ele para a cama, ele fica extremamente excitado. A mera questão de ela sair ou não com ele é o suficiente para mantê-lo enfeitiçado. Muitas pessoas não buscam "o proibido" por causa da moral, das leis governamentais ou das leis divinas. De outro modo, as pessoas seriam incapazes de se conter. Novamente, tudo isso é por causa da natureza caída do homem. Esta motivação influencia especialmente os estupradores, pedófilos (molestadores de crianças), aqueles que tomam liberdades indecentes e voyeurs.
O estuprador, embora motivado por um espírito de poder e, geralmente, de raiva, deseja o que é ilícito. Ele vê uma mulher andando na rua, e a idéia de dominá-la, forçando-a a fazer o que ele quer, excita-o imensamente. Ela não lhe deu consentimento para desfrutar sua beleza. Ao contrário, é para o homem que ela escolher. O desejo de tomar o que é ilícito é uma força motriz, poderosa em sua vida. De outro modo, ele simplesmente pagaria uma prostituta para deixá-lo dominá-la. Como isso reduz a excitação, ele prefere tomar violenta¬mente o que não lhe pertence.
Ray era um estuprador convicto. Ele admitiu que havia estu¬prado várias mulheres antes de ser pego. A satisfação de tomar "posse" das mulheres, ainda que por pouco tempo, motivava-o. Nenhuma daquelas mulheres era tão deslumbrante de forma que ele tinha de possuí-la, nem ele era tão sexualmente estimulado de forma que tinha que realmente fazer sexo com uma mulher. Em vez disso, era o estímulo intensificado que ele experimentava quando ponderava a idéia de dominar uma mulher e tomar posse de seu corpo. Simplesmente queria desfrutar o que era estritamente proibido para ele.
Os motivos do pedófilo são ligeiramente diferentes do estuprador. Ele também busca o que é proibido, mas não é o ato de dominar outro que o excita. De fato, ele quase sempre tenta ganhar o que quer convencendo, seduzindo ou subornando suas vítimas. Não está interessado em lutar pelo que quer; almeja vítimas dispostas. Seu motivo é ter o que há de mais proibido em nossa sociedade: uma criança. Ele não pára para examinar seus sentimentos, nem toma tempo para descobrir a razão de ser sexualmente atraído por uma criança, sabe somente que ele é assim. Mas por quê? Por que o corpo de uma garota jovem o excita mais do que o de uma mulher perfeitamente desenvolvida? Porque é proibido. Quanto mais nova a criança, mais proibido o ato. Essa é a força que impulsiona o pedófilo.
O outro tipo de viciado, escravizado pelo que é proibido, é o homem que gosta de tomar liberdades indecentes com as mulheres, especialmente em lugares lotados. Ele propositadamente se coloca em lugares apertados com mulheres. Pode ser em um ônibus lotado ou em pé em uma fila. Ele programa cuidadosamente sua chegada para coincidir com a de uma mulher de sua escolha. Se ele tiver sorte, o ônibus dará uma virada brusca e ele "acidentalmente" esbarrará nela. Ele pode até ser imprudente o suficiente para posicionar sua mão de forma a tocar alguma parte do corpo dela.
E, por fim, quem mais obviamente procura o que é proibido é o voyeur. Ele passará horas vagueando pela vizinhança, procurando pela janela perfeita para espiar, esperando conseguir uma "visão". Apenas o vislumbre de um corpo nu compensa sua espera.
Vamos tomar Bob como exemplo. Ele saía dirigindo à noite, procurando janelas potenciais. O que o excitava mais era poder ver alguém em suas atividades normais. A expectativa de ver alguém se despindo ou tendo relações sexuais o manteria postado na janela. Por que não ir simplesmente a um show de strip-tease? Bob também se sentia hipnotizado pelo proibido.

2. SATISFAÇÃO DO EGO
Vara te guardarem da má mulher e das lisonjas da língua estranha. Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te prendas com os seus olhos. Porque por causa de uma mulher prostituta se chega a pedir um bocado de pão; e a adúltera anda à caça de preciosa vida. Tomará alguém fogo no seu seio, sem que as suas vestes se queimem? Ou andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés? Provérbios 6.24-28

O segundo fator motivador, associado ao sexo ilícito, é a satisfação pessoal. A atenção de uma mulher bonita pode despertar rapida¬mente os interesses de qualquer homem. As mulheres são também geralmente vulneráveis a essa tentação. O homem que visita pros¬titutas está geralmente ludibriado por essa tática do diabo. Ele não considera o fato de que a prostituta só está encenando em troca de seu dinheiro. Ele sabe disso subconscientemente, mas não se importa. Ele quer ser notado. Gosta de se sentir necessário. Deseja sentir-se um homem verdadeiro. Desse modo, ela ajuda a massagear seu ego, fazendo-o sentir-se bem e viril ao mesmo tempo — por uma pequena quantia, é claro. Embora seja somente uma encenação, ele ainda está disposto a pagar, simplesmente por causa do modo como ela o faz sentir-se.
Para esse viciado sexual, a prostituta reforça seu pensamento grandioso de "ser alguém especial que as pessoas simplesmente não entendem". Na realidade, bem no fundo, ele se sente inferior e compensa esse sentimento fingindo ser mais do que é. As palavras lisonjeiras de uma prostituta temporariamente confortam seu ego frágil. Sente-se melhor a seu respeito por algum tempo, mas dura pouco, porque não muda os sentimentos profundos de inferiori¬dade que tem sobre de si mesmo. Para um homem que julga que não merece amor, um encontro com uma prostituta de fala suave é como um "escape" para aumentar sua auto-estima.
O tipo "Don Juan" em algum lugar do seu passado começou a acreditar erroneamente que seduzir mulheres o faria sentir-se melhor consigo mesmo. Ele imagina que "conquistar" uma mulher convencerá os outros de como desejável ele deve ser. Lembro-me de várias vezes acordar na manhã seguinte com uma nova mulher e sentir como se eu estivesse no topo do mundo. O ato sexual real pode ter sido somente medíocre, mas eu tinha conseguido possuir seu corpo com meu charme. O caçador de mulheres sente que realizou algo significativo, isto é, um ponto a mais.
A mulher em pecado sexual compulsivo pode praticar sua rotina por um motivo ligeiramente diferente. Ela, como a conquistadora, inicia seu comportamento para reforçar seu senso de valor pró¬prio. A diferença é que ela também tenta satisfazer a necessidade de se sentir amada. Ela pode ou não experimentar prazer no sexo. O que é mais importante para ela é ter uma experiência que a faça sentir-se desejada como mulher. Um caso desses é o de Martha, que se via repetidamente na cama com homens. Ela havia sido estuprada e tinha sofrido abuso na infância, e acabou vendo-se suja e desmerecedora do amor verdadeiro. Ela sentia que seu único valor como ser humano era satisfazer os homens; então, era o que ela fazia. No íntimo, ela estava tentando ganhar auto-aceitação, satisfazendo os homens. Se ela os fizesse apreciá-la, sentir-se-ia melhor consigo mesma de alguma maneira.
Embora os caçadores de mulheres e os "clientes" de prostíbulo sejam vítimas primárias do narcisismo, existem outros que tam¬bém se tornam vítimas. Em seu pensamento confuso, o estuprador, o molestador de criança ou o exibicionista alcançarão a satisfação do ego de sua atividade quando imaginam suas vítimas gostando da experiência. Os filmes pornográficos que mostram mulheres sendo estupradas e que começam gradualmente a gostar do ato podem reforçar ou levar alguns homens a justificar o comporta¬mento pervertido. Eles presumem que suas vítimas responderão da mesma maneira: resistindo inicialmente, mas, no fim, gostando do que está sendo feito com elas.
Existe ainda mais uma pessoa que é seduzida pelo inimigo a acreditar nessa mentira da satisfação do ego. Essa pessoa não é nem mesmo um viciado sexual, pode ter um relacionamento aparentemente maravilhoso com Deus e não perceber que está passando por esse problema. Refiro-me à moça comum que se tornou "viciada" na armadilha de ser notada pelos homens. As mulheres hoje estão sob uma pressão tremenda de nossa sociedade (por meio da mídia e dos anunciantes) para parecerem sedutoras, sensuais e atraentes para os homens. Elas competem entre si para parecer que estão na moda e atrair os olhares dos homens. O que é especialmente uma vergonha é que essa competitividade corre desenfreada dentro da igreja. Às vezes, é chocante ver o que as mulheres cristãs vestem. Infelizmente, elas permitiram que o mundo prejudicasse ou até mesmo subs¬tituísse a própria moralidade por causa do desejo enorme de ganhar a atenção dos homens. O sexo ilícito e a atenção do sexo oposto .nunca atenderam e nunca atenderão às necessidades primárias das pessoas. Somente ao aceitar a si mesmo como Deus nos aceita é que a pessoa experimentará verdadeiramente um senso de valor próprio. Isso vem na medida em que aprendemos a amar a Deus e aos outros. Frank Worthen escreve:
A imagem que temos de nós mesmos é de importância vital para o processo de mudança. Ela é, contudo, entrelaçada com a imagem que temos de Deus e dos outros. Até que tenhamos um relacionamento pessoal com Deus, amando-O e confiando nEle, não conseguiremos jamais nos relacionar bem com os outros. Não teremos amor ver¬dadeiro para compartilhar. Somente quando amarmos a Deus e compartilharmos Seu amor é que poderemos sentir-nos bem conosco. De certo modo, nossa auto-imagem é o resultado de um processo filtrante.2

3. RECOMPENSANDO-SE.
Disse eu no meu coração: Ora, vem, eu te provarei com a alegria; portanto, goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade. Amontoei também para mim prata, e ouro, e jóias de reis e das províncias; provi-me de cantores, e de cantoras, e das delicias dos filhos dos homens, e de instrumentos de música de toda sorte. E engrandeci-me e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim, em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria. E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhos neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho. E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito; e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito e que proveito nenhum havia debaixo do sol. Eclesiastes 2.1, 8-11

A terceira causa para a atividade sexual ilícita é recompensar-se. Existem vários motivos que levam o viciado a tomar a decisão de voltar-se para seu pecado. Um fator contribuinte é o sentimento de justificação decorrente do viciado dizer a si mesmo que ele merece divertir-se um pouco. Para a pessoa que consegue uma satisfação temporária por meio do comportamento compulsivo, é fácil usar essa desculpa como uma recompensa. No passado, minha esposa costumava justificar sua luta com os gastos com¬pulsivos. Ela dizia a si mesma que havia trabalhado duro a semana inteira e merecia presentear-se com um vestido novo. "Afinal de contas, por que estou trabalhando se não posso desfrutar do dinheiro?", ela se perguntava (o que ela não considerava eram as faturas do cartão de crédito e a dívida que ela realmente possuía por causa desses presentes para ela. Simplesmente descartava isso como "apenas uma outra conta".)
Vamos examinar Salomão, que fez muitas coisas grandes e maravilhosas no reino que herdou. Foi Deus quem abençoou Israel durante aquele tempo, mas Salomão administrou eficaz¬mente seus negócios. Davi fez de Israel uma nação poderosa, mas Salomão levou a nação à proeminência. Ele não somente a levou a uma posição de grandeza econômica, mas também construiu o templo do Senhor. Depois que olhou para os seus grandes feitos, convenceu-se de que merecia uma recompensa. Seu primeiro erro foi considerar mérito seu o trabalho de Deus. Em vez de ser grato ao Senhor por todas as coisas maravilhosas que Ele havia feito, Salomão considerou mérito seu aquelas bênçãos. Ele desonrou Deus, roubando a glória que pertencia somente ao Senhor. Depois, começou a desejar as mulheres estrangeiras que viviam em Israel. Ele nutriu "idéias fúteis" e adentrou no mundo da idealização. Como permitiu que suas fantasias tomassem o controle de sua mente, as trevas entraram em seu coração. Conseqüentemente, recompensou-se tomando centenas de esposas estrangeiras e concubinas, o que era contra os preceitos de Deus. Ele sabia que isso era errado, mas se justifi¬cou em sua mente, dizendo que ele as merecia. Como resultado, Salomão experimentou a espiral da degradação descrita no capítulo anterior.
Ninguém merece o pecado. O pecado não é algo a ser merecido ou desejado, mas é algo que se deve evitar a todo custo. Deus abençoa a obediência e dá ricamente recompensas conforme a Sua vontade. Na verdade, Ele tem muito prazer em recompensar Seus filhos quando eles Lhe obedecem. Buscar a própria recompensa, especialmente para satisfazer sua lascívia pecaminosa, só acumu¬lará problemas para si mesmo.

4. VARIEDADE
Filho meu, atende à minha sabedoria; à minha razão inclina o teu ouvido; para que conserves os meus avisos, e os teus lábios guardem o conhecimento. Porque os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite; mas o seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois fios. Os seus pés descem à morte; os seus passos firmam-se no inferno. E por que, filho meu, andarias atraído pela estranha e abraçarias o seio da estrangeira? Provérbios 5.1-5, 20

A quarta causa para a atividade sexual ilícita é a variedade. Salomão compara os lábios da mulher estranha com mel e azeite. Por que ele descreve assim a beleza de uma mulher estranha? Provavelmente porque ela é diferente. Deus instilou em nós uma atração natural pelo sexo oposto, mas podemos maculá-la por nosso pecado. A vida de Salomão nos conta dessa causa:

E o rei Salomão amou muitas mulheres estranhas, e isso além da filha de Faraó, moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, das nações de que o SENHOR tinha dito aos filhos de Israel: Não entrareis a elas, e elas não entrarão a vós; de outra maneira, perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor. E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração. 1 Reis 11.1-3

O desejo de uma pessoa pela variedade manifesta-se geral¬mente por meio de um comportamento obsessivo. A pessoa nunca se satisfaz, conforme provado pelos excessos da vida de Salomão. Lembro-me de, certa vez, ter passado a noite inteira com duas mulheres e, menos de 15 minutos depois de deixá-las na manhã seguinte, avistei uma prostituta pela qual eu era atraído e contratei seus serviços — eu não tinha ficado satisfeito o suficiente. Uma pessoa viciada na variedade jamais ficará satisfeita. Cada filme pornográfico só será excitante até ter sido "capturado" ou de alguma maneira experimentado, tornando-se depois obsoleto. Esses mesmos sentimentos podem ser atribuídos ao "Don Juan" que quer conquistar mulheres. Cada uma será usada até ele terminar com ela, e então ele procurará novas aventuras.
A variedade é provavelmente a maior mentira que Satanás dá à atividade ilícita. Quando eu estava na minha vida de pecado, ficava obcecado pela idéia de um certo tipo de mulher, uma loira, por exemplo. Depois de seduzir uma e tê-la experimentado o suficiente para estar "satisfeito", eu me encontrava hipnoti¬zado com o pensamento de um tipo diferente de mulher, talvez uma morena alta. Depois de seduzir uma morena, eu voltava a pensar em loiras, ou ruivas ou quem quer que fosse. Eu continuava a ser enganado, acreditando que, se eu pudesse ter um tipo particular de mulher, eu me satisfaria. Na realidade, nunca estava satisfeito, nem nunca estaria. A variedade é indubitavelmente a razão primária para a maioria do comportamento sexual ilícito. O mundo promove a variedade como o tempero da vida. Eu digo que essa é uma mentira vazia de Satanás.

Capítulo 4
A NECESSIDADE DE VIVER NA LUZ

Tim foi o pastor da mocidade de uma igreja batista próspera durante seis anos até que surgiram boatos de que ele se havia envolvido sexualmente com uma das garotas do colegial de seu grupo de mocidade. Quando o pastor Thomas confrontou-o com tais acusações, Tim admitiu que era verdade e, em prantos, pediu o perdão da liderança da igreja. O pastor continuou a indagá-lo sobre outros possíveis incidentes com as moças da igreja. Tim negou sinceramente quaisquer outros relacionamentos. A diretoria da igreja aceitou suas desculpas sem duvidar e chegou à conclusão de que expor o pecado de Tim à congregação era desnecessário. O fato foi considerado uma fraqueza temporária diante da tentação, e Tim pôde continuar a ser pastor da mocidade.
Quase três anos depois, mais incidentes começaram a vir à tona. Mais uma vez, o pastor confrontou Tim com as infor¬mações que havia recebido. Novamente Tim (da mesma maneira que antes) admitiu somente o que estava sendo ques¬tionado. Desta vez, o pastor Thomas lhe pediu que renunciasse sua posição. A seu pedido, ele obteve permissão para falar com a congregação em uma reunião da igreja. Como o jovem ministro encantador pintou um quadro muito distorcido, con¬tudo acreditável, de contrição, a igreja imediatamente votou em continuar com seu salário enquanto ele passava por um processo de restauração e aconselhamento.
Contudo, descobriu-se mais tarde que até mesmo durante o período de reabilitação, Tim continuou a ter encontros sexuais com outras adolescentes.

Henry tinha um dos ministérios de recuperação de viciados em drogas mais bem-sucedidos do país. Ele sabia falar bem e tinha uma capacidade natural de se conduzir de uma maneira profis¬sional. Carismático e transbordando de confiança, ele era o retrato da nova liderança que se estava levantando na igreja da década de 90. Sem que aqueles ao seu redor soubessem, ele visitava regu¬larmente prostitutas e tinha relações sexuais com mulheres em sua comunidade.

Keith, um ministro pentecostal da terceira geração, era um dos pregadores jovens promissores de sua denominação. Ele tinha uma capacidade tão grande de emocionar as pessoas que era sempre convidado para pregar. Todos amavam Keith. Até mesmo o superintendente de sua região denominacional tomou-o como seu protegido. Se ele soubesse da vida secreta de Keith, as coisas seriam bem diferentes. Freqüentemente, depois de pregar, Keith se "recompensava" em uma casa de massagem local. Ele também tinha começado a beber, levando um frasco consigo aonde quer que ele fosse. Sua esposa sabia de sua vida secreta, mas encobria com medo de prejudicar sua reputação dentro da denominação.

Essas histórias representam um submundo pesado que atual¬mente avança para dentro do reino do cristianismo americano. Um estudo recente realizado pela Promise Keepers revelou que 65% dos homens entrevistados relataram o uso regular de porno¬grafia.1 Suspeito que essa grande porcentagem reflete o fato de que homens lutando com o pecado sexual tendem a ser atraídos para o Promise Keepers. Não obstante, o pecado sexual é, sem dúvida alguma, um problema de proporções enormes no Corpo de Cristo, e normalmente não é relatado. Há inúmeros motivos para esses homens manterem seus pecados escondidos.
Em primeiro lugar, pecado sexual é algo vergonhoso de se admitir. Em nossa sociedade, um homem pode ser exaltado por ser um "Don Juan", mas, geralmente, qualquer outro comporta¬mento sexual fora de controle é visto com suspeita e até desdém. Se um homem admite suas lutas para seu pastor, daquele dia em diante, ele se pergunta o que seu pastor pensa dele: "Ele acha que sou estranho? Ele está preocupado por eu estar perto dos adolescentes, ou pior, das crianças? Aquela pregação sobre a lascívia foi para mim? Será que ele contou o meu problema para os outros membros da igreja?" Se essas preocupações já impedem o cristão que está em conflito de confiar em seu pastor, quanto mais nos outros irmãos.
Em segundo lugar, embora nossa sociedade não considere a fornicação, ou até mesmo o adultério, vergonhoso, esses pecados são absolutamente inaceitáveis no movimento evangélico. Uma mulher pode ter o hábito terrível de espalhar fofoca na igreja, um homem pode ser obcecado pelo seu trabalho às custas de sua família, ou alguém pode ser extremamente crítico daqueles ao seu redor, mas esses, como também muitos outros pecados, são tolerados na igreja. No entanto, se um homem admite cometer adultério, ele é instantaneamente julgado como alguém que está longe de Deus. Embora seja provavelmente verdade, existe certa¬mente um padrão duplo de moral dentro do Corpo de Cristo.
Outro fator que contribui para o homem manter seu pecado encoberto é que é muito fácil levar uma vida dupla de aparência religiosa e pecado sexual secreto. Ao contrário do vício do álcool ou das drogas, o homem consegue manter uma vida exteriormente normal sem ser descoberto. Existe um estilo de vida para quem vive viciado. As drogas e o álcool afetam a capacidade da pessoa de trabalhar. A maioria não consegue manter segredo desse tipo de hábito. Mas com o vício sexual, o homem pode ser um presi¬dente, uma celebridade, até um evangelista famoso e ainda manter uma fachada de respeitabilidade.

QUANDO O INTERIOR E O EXTERIOR NÃO SE ALINHAM
Todos nós temos um mundo interior formado de diferentes partes do nosso homem interior: coração, alma, mente, espírito, vontade, intelecto e emoções. É a vida que continua dentro de nós: pensamentos, sensações, atitudes, sentimentos e opiniões. E onde os sonhos são gerados e onde sofremos os fracassos, o lugar onde os processos complexos são postos em movimento, e as decisões da vida são contempladas. Aqui também encontramos as emoções conflitantes de amor e ódio, de afeição e desafeição, de atração e repugnância. Nosso mundo interior é onde vivemos a existência diária. Algumas pessoas são consideradas abertas porque não têm medo de mostrar seus pensamentos e senti¬mentos para os outros. Outras são consideradas fechadas, sentindo-se ansiosas quando as pessoas se tornam muito íntimas. Independente do quão disposta a pessoa seja para falar de seus sentimentos, a verdade é que ela nunca permitirá completamente que o outro conheça intimamente a parte mais profunda de seu interior. Este é um lugar extremamente privado, um santuário interno - um santo dos santos, por assim dizer.
A vida exterior está em contraste com o mundo interior. E a maneira como falamos e agimos na frente das outras pessoas. Todos temos uma imagem que tentamos manter - o modo como queremos que as pessoas nos vejam. Uma pessoa pode querer ser vista como intelectual e culta. Outra pode querer mostrar-se dura, enquanto outra ainda poderá querer ser vista como meiga. As impressões que desejamos projetar são tecidas em tudo o que dizemos e fazemos na presença dos outros.
A tendência de nos projetarmos da maneira que queremos que outros nos vejam também se transfere para a vida espiritual, na qual encontramos a tentação irresistível de nos fazer aparecer em uma luz favorável. Se somos cristãos cercados por outros cristãos, tendemos a nos projetar como "espirituais". Por quê? Nos círculos cristãos, parecer "espiritual" é o que leva os outros a nos admirarem e nos respeitarem. Admitir culpa, derrota ou (horror dos horrores) pecado flagrante, seria admitir ser um fracasso no cristianismo.
Uma vez que Jesus compreendia os temores contra os quais as pessoas lutavam dentro de si, certa ocasião, Ele abordou especi¬ficamente essa questão. Voltando-se aos Seus seguidores mais íntimos, Ele lhes deu essa séria advertência:

Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido. Porquanto tudo o que em trevas dissestes à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete sobre os telhados será apregoado. E digo-vos, amigos meus: não temais os que matam o corpo e depois não têm mais o que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei. Lucas 12.2-5

Todos temos, até certo ponto, um receio do que as outras pessoas pensam de nós. Suponho que isso comece no playground, onde as crianças podem ser cruéis umas com as outras. Esse temor se aprofunda durante os anos complicados da adolescência e se enraíza durante a vida adulta. Jesus disse que devemos vencer esses temores e concentrá-los em Deus: Temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei. Em outras palavras, devemos estar mais preocupados com a realidade de nossa condição espiritual interna do que com nossa aparência aos olhos do homem.
O conflito entre o modo como nos apresentamos exterior¬mente e o modo como vivemos interiormente é um tema predominante nas Escrituras. Paulo disse: Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus (Rm 2.28,29). Pedro disse às mulheres cristãs de seus dias: A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e jóias de ouro ou roupas finas. Ao contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranqüilo, o que é de grande valor para Deus (1 Pe 3.3,4 NVI).
Deus disse, por intermédio do profeta Isaías: Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído (Is 29.13). Para o profeta Samuel, Ele disse: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração (1 Sm 16.7).
Existem mais de duas mil referências diretas na Bíblia para a vida interior, mas é indiretamente referida em quase todas as páginas. É claro que as Escrituras dão uma ênfase enorme no que está dentro de nós. Muitos cristãos hoje se assemelham muito aos fariseus mencionados por Jesus em Lucas 11.39b, que limpam o exterior do copo e do prato; mas o [...] interior está cheio de rapina e maldade. Em essência, eles ignoram a importância da vida interior e preferem concentrar-se em se apresentar da maneira mais favorável exteriormente.
O apóstolo João também observou isso ao seu redor. Em sua Primeira Epístola, ele disse o seguinte com relação a essa dicotomia:

Se dissermos que temos comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. 1 João 1.6-10

No quadro da página a seguir, podemos ver um plano detalhado desses versículos na Epístola de João.
Existem três categorias. A primeira, o que dizemos, é sim¬plesmente o que transmitimos àqueles ao nosso redor. A segunda classificação é o que fazemos. Nossos atos falam sobre nossa condição verdadeira, o que realmente parecemos. A terceira categoria descreve o resultado, a conseqüência do que dizemos e o que fazemos. Quando uma pessoa transfere a culpa, minimiza ou esconde seu pecado, a mensagem que ela envia àqueles ao seu redor é que ela não tem pecado. É claro que ela pode realmente nunca dizer as palavras: "Não tenho pecado". Ela simplesmente tenta convencer os outros de sua inocência, mascarando ou minimizando seu pecado. Quando João escreveu essa epístola, simplesmente se referia a todos os cristãos. Todos certamente têm algum grau de pecado - ninguém está isento. Aqueles que estão em pecado sexual sem se arrepender são ainda mais culpados de hipocrisia, porque seu pecado é muito mais profundo do que o do cristão em geral.
João mostra claramente o quão é vitalmente importante trazer nosso pecado à luz por meio da confissão aberta. A palavra grega para confissão, homologeo, significa literalmente estar de comum acordo, estar de acordo com o outro. Quer reconheçamos ou não, para nós mesmos ou para os outros, que o nosso pecado está presente, ele ainda existe, e Deus o vê. Quando confessamos nosso pecado, ou andamos na luz, o sangue de Cristo graciosa¬mente nos limpa de toda culpa, e entramos em comunhão com o irmão com o qual nos abrimos. Não é suficiente a pessoa lutar com seu pecado. Ela deve ir para a luz com os outros. As trevas são o domínio do diabo. Aqueles que se recusam a trazer seu pecado à luz estão escolhendo permanecer nas trevas.


O que dizemos O que fazemos Resultados ou realidade da situação
v. 6 Temos comunhão com Ele. Andamos em trevas. Mentimos; não praticamos a verdade.
v. 7 ________________ Andamos na luz. Temos comunhão; o sangue de Jesus nos purifica.
v. 8 Não temos pecado. Enganamos a nós Não há verdade em nós mesmos.
v. 9 Confessamos nosso pecado. _________________ Ele nos perdoa e nos purifica.
v. 10 Não pecamos. Fazemo-lO mentiroso. Sua Palavra não está em nós
Figura 4-1

EXPOSIÇÃO
O cristão que julga poder continuar escondendo seu pecado, por fim, descobre que Deus o ama demais para permitir-lhe continuar preso a seu pecado secreto. Pode tornar-se evidente em sua fala (Pv 12.13), em seu olhar malicioso para as mulheres (Mt 6.23) ou seus modos. Em certo ponto, sua vida secreta será exposta para aqueles ao seu redor. Jesus assegurou isso quando disse: Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz (Lc 8.17).
Tom era pastor de uma pequena igreja em Iowa. Ele também era viciado em pornografia e visitava freqüentemente prostitutas em uma cidade próxima. Foi ficando cada vez mais difícil para ele administrar essa vida dupla. As pessoas o respeitavam como seu líder espiritual, contudo, havia ocasiões em que a sujeira de sua mente era bastante óbvia aos outros. Como ele assistia a fitas pornográficas regularmente, estava muito acostumado com sua linguagem sexual. Uma vez, quando estava com algumas mulheres da igreja, ele deixou cair um prato, que se despedaçou no chão e, antes que ele percebesse, soltou um palavrão. Em outra ocasião, seus olhos seguiram uma moça vestida com roupas diminutas, e, quando ele se voltou, viu um de seus diáconos observando-o.
O cristão envolvido em pecado sexual não conseguirá esconder sua identidade verdadeira por muito tempo. Deus é conhecido por trazer humilhação a um de Seus filhos para conseguir sua atenção. Se Ele julga que precisa fazer isso, Ele fará. Ele é muito paciente e bondoso conosco, mas nos ama muito para nos deixar em nosso pecado.
Esse foi o caso de um ministro que estava praticando adultério com uma das mulheres de sua igreja. Certa vez, ele estava conver¬sando com sua amante ao telefone de seu escritório. Eles estavam tendo uma conversa íntima quando, de alguma maneira, sem que percebesse, ele apertou o botão do intercomunicador. A conversa toda acabou sendo transmitida pela igreja inteira. Mais tarde, ele foi capaz de olhar para trás e ver como Deus tentou repetidamente obter sua atenção, mas sem sucesso.
O pecado de outro homem, que era diácono de uma grande igreja, foi descoberto de uma maneira completamente imprevisível. Sua igreja estava filmando um pequeno documentário sobre ado¬lescentes fugitivos. Quando eles estavam filmando uma das moças que se passava por prostituta para o filme, este homem passou de carro e tentou contratar seus serviços. Imagine sua surpresa e total embaraço quando ele descobriu que o grupo inteiro da mocidade de sua igreja havia visto o filme.
É desnecessário dizer que Deus usará qualquer método para conseguir a atenção de alguém - até mesmo a humilhação pública. Deus não contenderá com o homem para sempre!

O ENGANO DO PECADO SEXUAL
As pessoas tendem a negligenciar seu pecado profundamente enraizado porque ele tem uma natureza extremamente enga¬nosa. Existe uma correlação interessante entre o envolvimento de uma pessoa com o pecado e sua percepção dele. Quanto mais a pessoa torna-se envolvida com o pecado, menos ela o vê. Ele é uma doença hedionda que destrói a capacidade da pessoa de compreender sua existência. Pode ser comparado a um vírus de computador, que pode esconder sua presença do usuário enquanto destrói sistematicamente o disco rígido. Geralmente aqueles mais envolvidos em pecado são os que não conseguem notar a pre¬sença do mal trabalhando dentro deles. O pecado tem o poder de se mascarar tão bem que poderá realmente fazer a pessoa que lida com ele pensar, no mínimo, que é a mais espiritual.
Por outro lado, quanto mais uma pessoa domina o pecado em sua vida e se aproxima mais de Deus, mais sua natureza peca¬minosa se sobressai. Deus habita na luz inacessível (1 Tm 6.16) e, assim, conseqüentemente, todo vestígio de egoísmo, orgulho e pecado será exposto àquele que buscar ao Senhor com sinceridade. A luz intensa e brilhante de Deus expõe o que está no coração da pessoa. Aqueles que querem aproximar-se mais do Senhor regozijam-se por causa disso. Eles amam a Luz, e, então, abraçam-nA, muito embora isso signifique que seu verdadeiro eu será desmas¬carado. Jesus disse:

E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. João 3.19-21

Se uma pessoa escrava de pecado sexual espera dar uma virada em sua vida, é essencial que ela venha para a luz com o pecado que tão de perto a rodeia (Hb 12.1), de forma que ela possa finalmente deixar todo peso e caminhar em vitória por intermédio de Jesus Cristo.
Se parece que estou promovendo a idéia de que a pessoa deve caminhar censurando-se ou deprimindo-se, nada poderia estar mais longe da verdade. Defendo a necessidade de a pessoa atentar sobre onde está espiritualmente. Sua única esperança é ter algo real em Deus. Manter-se enganado a um falso senso de segu¬rança só a manterá afundada no fardo do pecado não-confessado, que, por sua vez, promoverá a ilusão sobre sua espiritualidade.
No verso da inscrição para o programa de recuperação do Pure Life Ministries para viciados sexuais encontra-se o seguinte:

Em uma escala de um a dez, informe sua nota nas seguintes áreas (10 para muito espiritual e 1 para muito carnal):

Amor aos outros____ Relacionamento com Deus____ Vida de oração____
Obediência_____ Humildade_____ Generosidade_____ Bondade_____
Alegria____ Autodisciplina____ Zelo____ Maturidade____ Honestidade____.

Os homens que nos procuram por ajuda estão geralmente lutando contra as perversões mais profundas imagináveis. Com isso em mente, provavelmente você ficaria surpreso em ver como eles se classificam espiritualmente. Geralmente, os candi¬datos dão a si mesmo notas bem altas em tudo, exceto na autodisciplina. Não é raro ver nota seis, sete é até mesmo oito em sua folha de auto-avaliação. Como pode ser isso? A maioria deles vem para o programa de recuperação considerando-se pessoas bastante espirituais, com somente um "probleminha".
São necessários meses de trabalho paciente por parte de nossos conselheiros para ajudar um homem a ver que ele não é tão espi¬ritual como pensava ser e que há muito trabalho a ser feito em sua vida. E somente nesse momento que seu coração endurecido começa a amolecer, e ele, finalmente, vê sua necessidade pelo Senhor. A atitude com a qual entrou para o programa — achar que era bastante espiritual e sofria somente de um probleminha — gradualmente se dissipa, e podemos começar a ajudá-lo. Por que é tão importante para ele chegar a essa compreensão? Se ele acredita que está em boa forma espiritual, não vê sua necessidade de mudança, crescimento, amadurecimento ou mesmo arrepen¬dimento. Algumas vezes, tivemos de perguntar a alguns homens que vieram para o programa com essa atitude: "Se você é tão espiritual e tem isso ao mesmo tempo, por que está aqui?" Essa pergunta não é para insultá-los, mas rapidamente levá-los a algum tipo de realidade; isso produz a humildade, de forma que podemos começar a conduzi-los ao caminho da vitória.

VIVENDO NA LUZ
Ser honesto é uma questão extremamente importante para o homem lutando com pecado sexual. A honestidade começa examinando o próprio coração, sua vida idealizada e seus atos. Nesse processo, o homem que deseja ao Senhor humilhar-se-á e firmar-se-á na conclusão inevitável: "Não sou tão espiritual quanto imaginava ser. Se eu quiser mudar, terei de parar de enganar a mim mesmo e aos outros. Estou onde estou espiritualmente. Manter uma perspectiva presunçosa de minha espiritualidade só está atrapalhando qualquer crescimento real. A verdade é que meu coração está cheio de perversidade. Meu pensamento tornou-se cada vez mais deformado. Eu magoei Deus e minha família com meus atos. Preciso arrepender-me". Ser brutalmente honesto consigo mesmo é essencial, mas é só o começo. Um homem que tinha sido condenado por tentativa de estupro, mas depois se esforçou para deixar o vício sexual disse: "Se você não deseja livrar-se do problema, confesse isso somente a Deus. Se você deseja livrar-se dele, confesse isso para outra pessoa. Caso real¬mente deseje livrar-se dele, continue aconselhando-se!" E ainda outro homem que vive agora em vitória disse: "Confessei meu pecado para Deus durante anos. Quero dizer, derramei meu coração, suplicando por Seu perdão, mas foi só algumas semanas depois que comecei a confessar para outro irmão é que eu obtive vitória!"
Um homem que está lutando precisa ser honesto consigo mesmo e pelo menos com uma outra pessoa, que deve ser um cristão firme na fé e conhecedor da Palavra. Ele também deve ser o tipo de homem disposto a não só confrontar aquele que confessa com amor a respeito de seu pecado, como também encorajá-lo em seu crescimento na justiça. O pastor de uma igreja que crê na Bíblia, ora e pratica a Palavra seria um bom ponto de partida.
Há cura na confissão (Tg 5.16) e só beneficia a pessoa em seu comprometimento para mudar. Somente saber que existe alguém que sabe de sua vida secreta e o está exortando para a vitória é uma ajuda tremenda. Salomão disse: O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia (Pv 28.13).
Uma coisa que tende a exacerbar o problema ainda mais é que os viciados sexuais são muito propensos a isolar-se das outras pessoas. Como descobriremos mais tarde, a fantasia desempenha um grande papel no seu dia-a-dia. Ela os mantém em um mundo fechado de narcisismo extremo. Romper esse isolamento é um passo chave para sair das trevas do pecado sexual.
A vida dupla deve ser derrubada, não importa como. Satanás sabe do poder que tem quando algo é mantido em segredo. O homem que almeja continuar com seu pecado evita a exposição a todo custo. Entretanto, o homem que deseja seriamente vencê-lo, irá expor seu pecado de forma que estará menos suscetível a sucumbir às tentações quando elas surgirem mais tarde. Levar uma vida dupla impede a criação de um fundamento sólido de santidade. Tiago diz que o homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos (Tg 1.8). Ele nunca experimentará a verda¬deira estabilidade espiritual.
Tenho ouvido as pessoas me dizerem muitas vezes que não têm ninguém para se confessar. O que estão realmente dizendo é que não estavam desesperadas o suficiente para procurar alguém que pudesse ajudá-las. Como já foi mencionado antes, se um homem estiver determinado a ver-se livre do domínio do pecado sexual, ele fará qualquer coisa que for necessário. Tornar-se trans¬parente para outra pessoa é uma das coisas mais difíceis, mas que deve ser feita. Um homem pode colocar em prática todos os outros passos descritos nesse livro, mas se ele furtar-se a esse, todos os outros esforços poderão mostrar-se terem sido em vão.
Devemos fazer a pergunta do capítulo nove: "O quanto você se importa? Quando chegar ao ponto em que realmente não agüentar mais o pecado em sua vida, estará disposto a fazer qualquer coisa, até mesmo tomar-se vulnerável a uma outra pessoa? O que o deteria? Somente o desejo de salvar as aparências, a reputação, e proteger-se. A libertação real do pecado sexual jamais será possível até que o coração esteja aberto e exposto. Evitar falar, encobrir e mascarar o verdadeiro eu somente o manterão preso nas trevas.
Encontre alguém em sua igreja para se aconselhar. Se você não sabe quem seria melhor, procure seu pastor e explique a ele que você gostaria de se aconselhar com outra pessoa e peça sua orien¬tação para identificar quem seria mais confiável. Você verá que prestar contas continuamente a alguém se mostrará um passo muito importante no processo de conquista.
Se você for casado, é importante se abrir com sua esposa. Alguns homens me diziam que não podiam magoar suas esposas, que não sabiam de seu problema. Eu somente respondia: "Se você se preo¬cupasse tanto assim com sua esposa, em primeiro lugar não teria cometido o pecado. E não é somente isso, mas é seu pecado que está ferindo sua esposa. Ela pode não saber de seu pecado, mas você está destruindo sua casa por causa dele". Para falar a verdade, o homem não está preocupado em machucar sua esposa tanto quanto em fazer a confissão dolorosa para ela de quem realmente ele é. Não é o conhecimento do pecado que magoa a esposa, mas o pecado em si! De várias maneiras, uma pessoa com sexo ilícito em sua vida magoa aqueles a quem ama. Sim, a verdade dói, mas é preferível ao pecado quando se compara as conseqüências de ambos. Encobrir sua transgressão é somente outra maneira do estilo de vida narcisista de um viciado sexual manifestar-se. Na verdade, ele está muito mais preocupado com o custo que terá de pagar por sua atitude transparente que o dano possível a seus amados.
Embora seja importante um homem abrir-se com sua esposa, ela não deve ser sua "conselheira". Tal responsabilidade de compar¬tilhar os detalhes de seus erros é pedir demais dela. Primeiramente, ele precisa falar-lhe sinceramente da essência do pecado, de forma que ela saiba de sua vida secreta. Ela poderá, então, pedir a prestação de contas de seu tempo e dinheiro. Uma vez ciente de suas lutas, ela estará muito mais alerta a seus esquemas para conseguir dinheiro ou tempo para seu pecado. Uma esposa temente a Deus, ajudando seu marido dessa forma, é inestimável para o homem que deseja ser livre.

O VERDADEIRO ACONSELHAMENTO BÍBLICO
Como já mencionei antes, trazer o pecado secreto ao conheci¬mento é vital. Mas o aconselhamento bíblico nunca significou um grupo de homens sentados em círculo discutindo seus fracassos. Essa maneira pode ser, de certo modo, útil para homens que precisam levar seu pecado ao conhecimento de outros, mas não existe poder nessa situação para realizar sua libertação necessária.
Uma pessoa só pode guiar outra espiritualmente até onde ela mesmo já foi guiada. Jesus disse: Deixai-os; são condutores cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova (Mt 15.14). É útil até certo ponto abrir-se com outras pessoas sobre suas lutas. Mas há um princípio bíblico que é muito mais poderoso em sua capacidade de mudar vidas. Os homens precisam muito ser disciplinados. O que você quer dizer? Li todos os livros sobre vício sexual. Ouvi as me¬lhores pregações em programa de rádio cristão. Só preciso de um pouco de aconselhamento!
Você poderá ficar surpreso ao descobrir que o "aconselhamento" em palavras não é mencionado na Bíblia. O conceito está nas Escrituras, mas não da maneira fraca que é usado atualmente. Ao contrário, o conceito bíblico é o de ser disciplinado. Não me refiro a receber mais informações sobre o cristianismo. Escutar boas pregações e ler livros interessantes pode ser útil, mas o que o cristão imaturo precisa mais é de um santo com maturidade para tomá-lo sob sua proteção, por assim dizer, e trazer uma instrução espiritual à sua vida (é o que fazemos na casa de recu¬peração do Pure Life). O crescimento espiritual necessário para o homem que está no domínio do pecado não acontecerá sim¬plesmente conversando com outros homens que também estão lutando, nem virá adquirindo mais conhecimento intelectual no assunto. Só vem através de um discipulado verdadeiro — centrado em Cristo.
Em várias ocasiões, Jesus falou para as multidões, mas Ele gastou uma quantia enorme de tempo desenvolvendo um caráter espiri¬tual no pequeno grupo de homens sob Seu cuidado. Um homem pode ouvir pregações, mas, a menos que ele tenha de responder àquelas palavras, ele provavelmente não se beneficiará do que foi dito. O homem está perdido na multidão de ouvintes. Ele pode ignorar, fazer pouco caso e até mesmo discordar do que está ouvindo, e nunca precisar enfrentar a verdade do que está sendo declarado.
No entanto, quando um homem temente a Deus dedicar-se a disciplinar o irmão cristão em lutas, algo poderoso acontece. A verdade é partilhada. O pecado é tratado de frente. O mentor espera mudança. O mais importante, o homem experimenta, em primeira mão, alguém que está andando na luz e confrontando-o. Esse é o padrão bíblico para o aconselhamento. Parece que, no ocupado estilo de vida que os americanos possuem, os pastores não têm mais tempo de aconselhar os homens como faziam antes. O pecado se alastra pela igreja porque os cristãos podem agora viver sem qualquer prestação de contas verdadeira por seus atos.

Capítulo 5
NA MENTE DO VICIADO SEXUAL

Chegou o tempo de sondar profundamente a mente do viciado sexual. Para fazer isso adequadamente, devemos examinar mais uma vez a descrição terrível, contudo precisa, daqueles que foram entregues à lascívia apresentada no primeiro capítulo de Romanos. Nessa parte das Escrituras, verificamos 11 aspectos diferentes da mente do homem em pecado sexual. Antes de examiná-los em detalhes, vamos dar uma rápida olhada na lista abaixo.

1. Vãos em suas imaginações (Rm 1.21).
2. Um coração obscurecido e insensato (v. 21).
3. Dizendo-se sábios, na realidade, são loucos (v. 22).
4. Mudando a glória de Deus em uma imagem (v. 23).
5. Concupiscências do coração (v. 24).
6. Mudando a verdade de Deus em mentira (v. 25).
7. Paixões infames (v. 26).
8. Sensualidade inflamada (v. 27).
9. Renúncia do conhecimento de Deus (v. 28).
10. Um sentimento perverso (v. 28).
11. Homem interior cheio de toda a iniqüidade (v. 29)

A corrupção da mente humana não acontece necessariamente na ordem exata relacionada acima; contudo, usaremos a ordem que Paulo nos deu como um esquema.

VÃS IMAGINAÇÕES
A imaginação é uma das mais fascinantes e misteriosas opera¬ções da mente humana. Uma pessoa pode estar sentada em uma cela de prisão, por exemplo, e surpreender-se em um local exótico sobre a Terra com sua imaginação. Fisicamente, ele pode estar como um rato, encurralado em um buraco úmido, mas, em sua mente, pode estar bebericando uma bebida gelada em uma praia no Havaí.
Para o homem entregue ao pecado sexual, essa vida idealizada geralmente gira em torno de sexo. No mundo da idealização sexual, tudo é sempre como ele imagina. A mulher (ou homem) na fantasia é extremamente atraente. Ela faz exatamente o que ele deseja, e sua única vontade é satisfazer cada desejo seu. As características da mu¬lher podem mudar em um instante. Uma hora ela é uma loira alta. Alguns minutos depois, ela se torna uma oriental exótica. Talvez, mais tarde, seja uma ardente mulher negra. As variações são tão numerosas quanto a população mundial feminina. Não somente a parceira pode ser trocada instantaneamente, como também o cenário. Pode ser a mulher que ele viu na loja aquele dia "avançando" para ele. Mais tarde, é seu próprio harém pessoal. Novamente, as possibilidades são infinitas.
No mundo da imaginação de um homem, tudo é perfeito. Ele não precisa lidar com a rejeição. Todas essas mulheres do sonho o amam; nenhuma se recusa a ficar com ele. Nunca precisa lidar com a impotência ou com o nervosismo, tudo é fácil. A mulher é sempre perfeita. Não há cheiros desagradáveis, períodos mens¬truais, doenças ou falta de interesse. Ela não é rude, não o critica, nem está procurando aproveitar-se dele ou pegar seu dinheiro.
Ela estará disposta a fazer qualquer ato sexual desejado porque ela vive para servir-lhe. E, por fim, ele não precisa preocupar-se em ser pego por sua esposa ou preso pelas autoridades. Em seu pequeno mundo perfeito dos sonhos, nada dá errado.
Que escape ideal das dificuldades da vida! A qualquer momento, o homem pode estar na cama com a mulher mais linda do mundo. Por que ele iria querer ficar na realidade onde é obrigado a enfrentar problemas, dificuldades, fracassos e desapontamentos? Um dos motivos por que é tão fácil escapar para a própria imaginação é que existem muitas conseqüências dolorosas que acompanham uma vida de pecado sexual. Quanto mais dor o homem tiver de enfrentar por causa de seu pecado, mais desejará escapar da realidade, refugiando-se em seu pequeno mundo secreto.
Outro aspecto da vida idealizada é que o ego reina supremo. Em essência, tudo gira em torno dos desejos pessoais do homem, isto é, o que quer, o que não quer, o modo como ele gosta disso, o modo como quer que tudo seja feito, e assim por diante. Quando retorna ao mundo real, para sua consternação, descobre que as pessoas não estão preocupadas em que tudo seja da sua maneira. Conseqüentemente, o mundo idealizado se fortalece e fortifica o narcisismo do homem. Quanto mais se entrega à fantasia, mais narcisista se torna. Conforme aumenta seu narcisismo, ele se entrincheira ainda mais na vida idealizada, onde tudo gira em torno dele. Isso lhe cria muitos problemas em casa e no trabalho. Aqueles ao seu redor sofrem por causa de seu narcisismo crescente. Ele mostra pouco interesse por seus entes amados, nem passa algum tempo com eles como deveria. Quando está com eles, sua natureza narcisista pode ser tão detestável e dominante, que pre¬ferem não estar perto dele.
Outro efeito devastador da imaginação vã é que ela impede Deus de ajudá-lo em seu dilema com o vício sexual. Como men¬cionado antes, ninguém vai querer entrar no mundo real e lidar com seus problemas e fracassos quando pode escolher trancar-se seguramente, longe, em um mundo perfeito. Como examinaremos mais tarde, é por meio das provações da vida que Deus disciplina o homem para a santidade. Muito embora a correção seja uma das maiores necessidades dos viciados sexuais, a vida idealizada faz o processo de disciplina parecer absolutamente insuportável. Ele está tão acostumado a ter seu próprio modo, que a menor contrariedade de sua vontade vai parecer-lhe esmagadora.
Há um fardo enorme que vem com uma imaginação desenfreada e devassa. O viciado sexual não percebe o efeito negativo que ela tem sobre sua vida. Uma ilustração recente que me vem à mente é de uma cena que testemunhei certa noite. Tivemos um culto maravilhoso, encorajador, em uma quinta-feira à noite, no templo do Pure Life. Depois do culto, dois homens, que tinham sido designados para arrumar a igreja, estavam empilhando as cadeiras. Eu ainda estava sentado no altar, desfrutando a presença de Deus. Um deles tinha mais ou menos 30 e era muito gordo. O outro era um homem jovem fisicamente saudável com cerca de 20 anos. O homem jovem pegava um par de cadeiras de cada vez e, quase em um arranco, levava-as energicamente ao lugar onde pertenciam. Contudo, o homem gordo levantava uma cadeira com grande esforço e lentamente cruzava o salão com ela, avançando cada passo com dificuldade. Assim é o caso com o homem atolado com o peso do pecado sexual. Até as menores tarefas que a maioria das pessoas pode fazer rotineiramente tornam-se extre¬mamente penosas para ele. Sua pobre esposa não consegue entender por que seu marido não consegue passar um pouco de tempo com seu filho. Ela não entende essa carga onerosa que ele está levando pela vida. Toda sua energia está sendo consumida para manter e procurar sua vida secreta. E como um computador de oito megabytes de memória RAM tentando rodar um programa que requer 32 MB. A força interna e a capacidade simplesmente não estão disponíveis.
Paulo descreve as imaginações de um homem entregue ao pecado como vãs. Elas são tão vazias quanto as miragens que enganam as almas sedentas atravessando o deserto, não ofere¬cendo benefício algum à vida do homem. Elas são totalmente desprezíveis. Na verdade, elas são piores. Não são apenas destituídas de qualquer realidade, mas também têm o poder de exaurir a alma de um homem de tudo o que tem substância ou valor. Quanto mais o homem se entrega a uma vida de pensamentos devassos, mais seu caráter moral corrompe-se de dentro para fora, deixando um grande vazio no interior. O termo peso leve é geralmente usado para descrever alguém que não tem habilidade em um campo particular de empenho. Da mesma maneira, o homem que continuamente sucumbe ao pecado sexual torna-se um peso leve espiritual. Embora ele possa ter um grande conhecimento intelectual com relação às questões espirituais ou algum dom extraordinário, não existe substância espiritual dentro dele. Merlin Carothers diz o seguinte:
Existe algo intrigante e mistificador sobre nossa habilidade de imaginar coisas conhecidas e desconhecidas. Para Deus, essa habili¬dade é sagrada. Ele não quer que se faça mau uso dela. É exatamente por isso que as forças malignas têm um desejo enorme de ver essa habilidade ser mal usada. Nossa mente é o campo de batalha; nossa imaginação é o troféu a ser conquistado.
Se usarmos nosso poder de imaginação para visualizar qualquer coisa que represente lascívia ou impureza, estamos em conflito direto com a vontade de Deus. Os homens gostam de usar o poder da imaginação para criar uma multidão de imagens que Deus proibiu. Por exemplo, quando um homem vê uma mulher que lhe atrai, ele pode despi-la em sua imaginação, pouco a pouco, até ela ficar completamente nua. Ele pode, então, usar sua imaginação para sentir como seria tocar seu corpo. Ele pode continuar com essa atividade mental até que tenha experimentado todo ato sexual possível. Ele tomou o dom sagrado e especial de Deus e o consumiu no altar da lascívia [...J.1

UM CORAÇÃO OBSCURECIDO E INSENSATO
Como o homem continua a viver uma grande parte de sua existência no mundo da idealização, esbanjando-se com todo tipo de prazer, ele logo descobre que as fantasias sobre atividades sexuais "normais" tornam-se menos atraentes. Ele agora precisa procurar por algo um pouco mais devasso para manter seu in¬teresse. O mundo da pornografia, com todas as suas histórias sórdidas de devassidão, oferece um amplo material que ele pode escolher para satisfazer seus desejos lascivos. A profundidade e extensão do desvio no qual ele se aprofunda são ilimitadas.
Se fosse para comparar as atividades internas de uma pessoa a um computador, o coração seria a memória, o teclado, os sentidos que trariam informações ao computador, e a unidade de processamento central, a mente que completa todas as funções. O processo inteiro começa quando o homem permite que sua mente seja inundada com imagens e cenários devassos. Com o passar do tempo, os efeitos cumulativos desta invasão cobram direitos do coração do homem. Os bancos de memória ficam saturados de informações deformadas. Como resultado, seu cora¬ção infectado, que já é mau por natureza, torna-se ainda mais doente que no início.

O ORGULHO DO INTELECTO
No versículo seguinte, Paulo expõe a grande ilusão dos indivíduos submersos na perversidade que ainda se consideram espirituais:
Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos (Rm 1.22). É interessante como a palavra sábio {sophos) é usada em outras passagens no Novo Testamento. Jesus orou: Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos (Mt 11.25).

Paulo lembrou à Igreja de Coríntios:

Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteli¬gência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueja de Deus é mais forte do que os homens. Porque vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. 1 Coríntios 1.19,20, 25-27

Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos. 1 Coríntios 3.18-20

Existe uma falsa sabedoria fora do conhecimento de Deus que atrai as pessoas que estão distantes do Senhor. E chamada de intelectualismo humano e é incubada pelo orgulho. Como examinaremos mais adiante, o orgulho e o pecado sexual são inextricavelmente ligados. Eu o menciono agora porque ele desempenha um papel importante no processo da degradação mental. Jesus agradeceu ao Pai, porque as verdades de Deus foram ocultas aos que eram sábios a seus próprios olhos. Somente um coração humilde pode entender a verdadeira natureza de Deus. Ler livros, ouvir pregações e até mesmo estudar a Bíblia para si mesmo muitas vezes só servirão para aumentar a compreensão intelectual de uma pessoa sobre quem é Deus. Porém, a menos que esteja no Espírito no qual a Palavra foi dada, ela não pode verdadeiramente conhecer Deus. Infelizmente, muitos cristãos, especialmente aqueles em pecado sexual, estão confusos sobre o que significa conhecer Deus. Eles confundem informações sobre o cristianismo com o conhecimento sincero de Deus, que só é revelado ao Seu servo humilde e obediente. Por esta razão, Paulo escreve: Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos (Rm 1.22), para explicar que quanto mais as pessoas se engrandecem em seu pensamento, mais longe ficam de Deus. Talvez seja esse o motivo por que um indivíduo envolvido com algo tão vil quanto a pornografia pode realmente se ver como religioso.

A PRIMEIRA TROCA
Quando Paulo disse que eles mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível (Rm 1.23), parece que ele fazia uma referência direta ao templo em Jerusalém que, no tempo do Antigo Testamento, tornou-se o lugar de habitação da glória de Deus. Quando Salomão dedicou o templo, fomos informados de que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a Casa do SENHOR E não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR enchera a Casa do SENHOR (1 Rs 8.10,11). Que cena gloriosa deve ter sido!
Porém, tudo isso mudou no tempo do Novo Testamento. A Nova Aliança ensina que o homem interior é agora o templo de Deus. De fato, Paulo disse:

Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus. 1 Coríntios 6.18-20

Em outras palavras, da mesma forma que o templo de Salomão foi cheio da glória shekinah de Deus, assim também o mundo interior deve ser um lugar santo onde Ele é venerado, adorado e amado. Foi o que Jesus quis dizer quando declarou: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento (Mt 22.37).
O que acontece quando este templo torna-se sujo com pensa¬mentos e imagens obscenas? Paulo diz em Romanos 1.23: E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Essa passagem bíblica faz alusão a algo que o Senhor mostrou a Ezequiel. Ele estava assentado na Babilônia com os cativos quando o Senhor o levou em visão a Jerusalém, onde ainda estava vivendo um grande número do povo de Israel. Esse é o relato que Ezequiel nos dá quando o Senhor o levou ao templo:

E entrei e olhei, e eis que toda forma de répteis, e de animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel estavam pintados na parede em todo o redor. E setenta homens dos anciãos da casa de Israel, com Jazanias, filho de Safã, que se achava no meio deles, estavam em pé diante das pinturas, e cada um tinha na mão o seu incensário; e subia uma espessa nuvem de incenso. Então, me disse: Viste, filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel fiarem nas trevas, cada um nas suas câmaras pintadas de imagens? E eles dizem: O SENHOR não nos vé, o SENHOR abandonou a terra. Ezequiel 8.10-12

As câmaras pintadas de imagens que Ezequiel viu eram sim¬plesmente pornografia antiga. Era exatamente a isso que Paulo se referia quando disse que os homens mudaram a glória de Deus em imagens sórdidas. Quando um homem cristão introduz imagens pornográficas no templo de Deus, produz uma profanação interior imediata. Tanto quanto alguns possam tentar minimizar os efeitos que a pornografia tem na vida de uma pessoa (existem até alguns psicólogos "cristãos" que instigam os casais a melhorar seu rela¬cionamento íntimo com isso), a devastação que ela impõe na vida interior de uma pessoa é imensurável. É por isso que Paulo argumentou com os cristãos: Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. Ninguém se engane a si mesmo (1 Co 3.16-18a).

CONCUPISCÊNCIAS DO CORAÇÃO
A lascívia e a idealização são ambas relacionadas ao desejo, que é o anseio por algo que atrai a pessoa. É a expressão da vontade -a parte do eu interior de uma pessoa que dita suas próprias inclinações na vida. Quando alguém diz: "Darei 500 dólares ao orfanato", ela está expressando sua determinação em fazer o que ela deseja fazer: quer ajudar aquela instituição de caridade. O desejo nasce na vontade da pessoa. Não há coisa alguma necessariamente errada em ansiar por algo. Muitos anseios pessoais são saudáveis e até agradáveis ao Senhor. Por exemplo, o salmista disse: SENHOR, tu ouviste os desejos dos mansos; confortarás o seu coração; os teus ouvidos estarão abertos para eles (Sl 10.17). Davi disse: Deleita-te também no SENHOR, e ele te concederá o que deseja o teu coração (Sl 37.4). Salomão disse: Convertei-vos pela minha repreensão; eis que abundantemente derramarei sobre vós meu espírito e vos farei saber as minhas palavras (Pv 1.23) e o temor do ímpio virá sobre ele, mas o desejo dos justos Deus o cumprirá (Pv 10.24).
O desejo é um dos impulsos que Deus insulou nos seres humanos para ajudá-los a produzir. As vontades ou desejos das pessoas são tão diversos quanto o número de seres humanos no planeta. O temperamento, a formação e o meio ambiente de um indivíduo contribuem conjuntamente para o que ele pode buscar na vida. Estão inclusos nessa lista os apetites naturais do corpo humano, que se podem deformar e/ou saírem de controle, como no caso dos viciados sexuais. Os apetites são contaminados pelo pecado.
Paulo falou das concupiscências do coração. O termo grego aqui é epithumia, que significa ansiar por algo. Normalmente, refere-se a almejar algo que é proibido. Paulo disse que essas concupiscências são enganosas (Ef 4.22), loucas e nocivas (1 Tm 6.9) e podem reinar no corpo de uma pessoa (Rm 6.12). Pedro disse que elas são imundas (2 Pe 2.10) e combatem contra a alma (1 Pe 2.11), e Tiago disse que elas guerreiam contra os membros (Tg 4.1) e seduzem para o pecado (Tg 1.14). Jesus disse que cobiçar uma mulher é cometer adultério com ela em seu coração (Mt 5.28). Desse ensino particular de Jesus, Adam Clarke disse o seguinte:

Se os olhares e desejos voluntários e deliberados tornam uma pessoa adúltera, quantas pessoas existem cuja vida inteira é um crime contínuo, cujos olhos cheios de adultério não podem parar de pecar! (2 Pe 2.14). Muitos abominariam cometer um ato externo diante dos olhos dos homens, em um templo de pedra, contudo, não têm medo de cometer uma multidão desses atos no templo do coração deles, e à vista de Deus!2
Charles Spurgeon disse simplesmente: "Que rei nós temos, que estende seu cetro acima da esfera de nossas concupiscências interiores!"3
Paulo as chamou de concupiscências do coração. Devemos prestar atenção ao fato de que a concupiscência vem do coração do homem. Recentemente, falava em uma série de reuniões de homens em Boston sobre como vencer o poder da concupiscência. Após uma reunião em particular, um jovem curioso, mas sincero, veio a mim com uma expressão desnorteada em sua face. "Bem, ajude-me a entender isso, irmão Gallagher", disse ele. "Como nos livrar do espírito da concupiscência?" Eu sabia muito bem aonde ele queria chegar. Como muitos outros, fora ensinado de que a concupiscência vinha de demônios que atormentavam o crente. Embora os demônios desempenhem um papel na escravidão do pecado sexual compulsivo, o entendi¬mento fundamental desse jovem estava errado. Pedi que ele abrisse sua Bíblia em Tiago 1.14, e ele leu para mim: Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
"Qual é a concupiscência na qual ele é engodado?", perguntei. Quando fiz a pergunta, um aspecto de assombro absoluto tomou conta de sua face.
"É minha própria concupiscência, não é?", ele me perguntou em resposta a essa nova revelação.
Eu lhe disse: "Ouça, o diabo pode balançar uma isca diante do seu nariz, mas existe algo dentro de você que realmente deseja essa isca. Você não é lascivo porque algum demônio avança para você. Você é lascivo porque tem dentro de si um desejo por algo que não é certo. Jesus disse: Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São essas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem (Mt 15.19,20). O diabo pode recorrer àquela concupiscência, mas ele não a criou. Ela já existia em nós.

A SEGUNDA TROCA
Quando Paulo disse que eles mudaram a verdade de Deus em mentira, referia-se à substituição voluntária de uma verdade imu¬tável em uma mentira específica. Mas essa substituição não é uma questão secundária. Ela envolve nossa fé fundamental sobre Deus. A essência do caráter de Deus é que ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre (1 Cr 16.34 — ARA). Essa afirmação bíblica, que se repete inúmeras vezes na Bíblia, resume o conheci¬mento de quem é Deus.
Eva possuía a verdade sobre Deus. Ela esteve em Sua presença e, certamente, sabia que Ele era um Ser bondoso e amoroso. Seguramente, durante aqueles encontros maravilhosos no jardim, ela observou Sua natureza doce e Seu caráter longânime. Não obstante, Satanás dirigiu-se a ela com uma perspectiva alternativa. Ele sugeriu a possibilidade de Deus ter mentido para ela sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal. "Ele está escondendo fatos sobre você" foi a insinuação. "Ele faz parecer que conhecê-lO é tudo que existe na vida, mas é uma mentira! Você só conhece o bem. Existe um mundo inteiro de perversidades que você ainda não experimentou. É de onde vem a satisfação real!"
Como é normalmente o caso com o diabo, existe um elemento de verdade no que ele diz. E verdade, ela não tinha experimentado o mal. Era também verdade, até certo ponto, que existe alguma satis¬fação proveniente do pecado. A Bíblia fala de por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado (Hb 11.25). O pecado é prazeroso, mas somente temporariamente. O diabo deixou de dizer que o sofrimento, a miséria e a morte são conseqüências inevitáveis do pecado. Conseqüentemente, a pessoa que se dedica à busca do pecado aceitou a mentira de que um relacionamento com Deus não é suficiente para trazer satisfação. Ela está convencida de que deve existir algo mais na vida. Naturalmente, uma vez que o pecado afastou-a de Deus, a alegria que vem dessa proximidade é esquecida. Toda vez que o diabo balança a isca de algum prazer torturante na frente do homem, este perde rapidamente qualquer senso da realidade de Deus que possa ainda possuir e mergulha no mar da satisfação sexual.
A verdade é que Deus é um bom Pai e deseja somente fazer o bem para Seus filhos. Porém, a obediência de Seus filhos desem¬penha um grande papel em sua capacidade de satisfazer esse desejo. Aquele que nunca se arrepende, nunca toma posse da verdade de quem Deus realmente é, jamais experimentará a profundidade da satisfação gerada por um relacionamento correto com Ele. Em vez disso, ele se condena a suportar o mesmo carrossel inúmeras vezes: a promessa de satisfação, o ato do pecado, o vazio da experiência e suas conseqüências subseqüentes. Essa é a troca da verdade sobre Deus por uma mentira.

A ALMA DOENTE
Nossa sétima característica vai direto ao âmago do ser de uma pessoa. No versículo 26, Paulo fala das paixões infames. A palavra grega para paixões nesta passagem é pathos. O Zodhiates Bible Dictionary diz o seguinte: "Essas são concupiscências que desonram aqueles que cedem a elas. Pathos é a condição doente da alma, de onde manam várias concupiscências".4 Os Estudos da Palavra de Vincent vê esse termo grego da mesma maneira. Ao comparar epithumia (concupiscência) com pathos (paixões), diz que pathos:
É a palavra mais reduzida e intensa. Epithumia é uma palavra mais ampla, incluindo o mundo inteiro de concupiscências ativas e desejos, enquanto o significado de pathos é passivo, sendo a condição doente de onde manam as concupiscências. Epithumia são desejos malignos; pathos, afetos incontroláveis. Desse modo, parece que o castigo divino era mais severo, porque eles eram entregues a uma condição, e não simplesmente a um desejo maligno.5
Conforme o viciado sexual continua a encher sua mente com pensamentos perversos, eles começam a cobrar direitos de seu coração. Claro que foi o coração que produziu primeiramente a concupiscência. Jesus disse: Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem (Mc 7.21-23). Por intermédio do profeta Jeremias, o Senhor disse: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? (Jr 17.9). Embora o coração humano tenha uma incli¬nação para o pecado, ele se torna cada vez mais perverso com a tolerância ao pecado. Quanto mais a pessoa peca, mais corrom¬pido torna-se o seu coração. Quanto mais corrompido ele fica, maior a escravidão do pecado.

INFLAMANDO-SE EM SUA SENSUALIDADE
Aqueles que experimentaram as chamas inextinguíveis da sensuali¬dade ardente podem entender por que os pais da primeira igreja cristã consideravam que o pior aspecto do inferno era uma pessoa ser deixada à sua própria concupiscência, sem possibilidade de satisfazê-la. Em um grau menor, isso pode ser ilustrado ao segurar um pedaço de carne a uma pequena distância, fora do alcance de um cachorro. Os olhos dele se concentram somente no objeto à vista. Sua boca começa a salivar, e as batidas de seu coração aumentam. A visão e o cheiro da carne levam-no quase a um estado de transe, enquanto fixa seu olhar sobre ela. Essa é uma representação do viciado que contempla sua rotina. Salomão descreve o feitiço hipnótico da tentação sexual:

Seduziu-o com a multidão das suas palavras, com as lisonjas dos seus lábios o persuadiu. E ele segue-a logo, como boi que vai ao matadouro; e, como o louco ao castigo das prisões, até que a flecha lhe atravesse o fígado, como a ave que se apressa para o laço e não sabe que ele está ali contra a sua vida. Provérbios 7.21-23

O homem guiado pela lascívia perde todo o senso de realidade. Ele esquece completamente os custos envolvidos com o pecado e, freqüentemente, ver-se-á fazendo coisas nesse estado alterado de espírito que ele nunca cogitaria fazer. Ele experimenta isso de duas maneiras diferentes.
Em primeiro lugar, ele pode realizar atos infames os quais repeliria ou lhe assustaria em tempo de "sanidade". Já conversei com homens que me confessaram atitudes que, na verdade, fazia-os sentir enojados depois. Alguns explicaram como seus padrões e valores morais normais voavam pela janela quando eles entravam nesse transe de lascívia. Os homens que sentem muito medo de serem presos podem ir atrás das prostitutas enquanto estão sendo guiados pela lascívia, enquanto outros se expõem às mulheres depois de sua lascívia ter sido despertada. Ainda outros molestarão seus próprios filhos enquanto estão neste estado de espírito. A lista continua.
Em segundo, ele vê sua imaginação voando às soltas. Lembro-me de ter lido a história de um homem que parou seu carro em um semáforo e trocou olhares com uma linda mulher no carro próximo a ele. A mente do homem disparou enquanto ela o seguia. Toda vez que eles chegavam a um outro sinal, ela o examinava superficialmente. Claro, em seu estado de espírito, ele imaginava que ela o estava paquerando. Sua imaginação chegou a um final chocante quando ela parou em frente a uma delegacia e correu para dentro. Subitamente, ele percebeu que ele tinha criado o cenário inteiro em sua imaginação.
O homem louco por sexo torna-se hipnotizado pelo objeto de sua lascívia, que se torna um ídolo gigantesco; algo que adquire um grau tão imenso de importância, que tudo mais na vida deve girar ao seu redor. O ídolo tem o poder de manter o homem em um estado constante de sede insaciável. Ele passará um tempo enorme idealizando sobre isso. O ímpeto para satisfazer seu desejo manterá o voyeur em uma janela por horas ou um "Don Juan" indo ao encalço de mulheres para sempre. O mesmo tema persiste: sempre indo atrás, nunca satisfeito. A insaciabilidade da lascívia é algo comum entre os viciados.
É como uma pequena chama que foi acesa. Conforme esse fogo é alimentado, ele fica cada vez maior. Ela exige mais de nosso tempo e energia para ser satisfeita. No fim, esses apetites podem tornar-se um fogo fora de controle - eles se tornam inextinguíveis.6
O pecado é um senhor exigente. A idealização tem um modo de exigir a obediência fanática de uma pessoa, ao passo que dá pouco em retorno. Um homem, cuja rotina sexual incluía travestir-se de mulher, contou-nos que passava literalmente dias visitando brechós à procura de roupas femininas para vestir. É absolutamente absurdo o quanto a escravidão sexual pode ser obsessiva. Quanto mais a pessoa enche sua mente com esse tipo de pensamento, provavelmente mais intensa torna-se sua obsessão. E como Salomão disse: Quem lavra sua terra terá comida com fartura, mas quem persegue fantasias se fartará de miséria (Pv 28.19 NVI).

O CONHECIMENTO DE DEUS
Conforme o homem afunda cada vez mais na bílis da depra¬vação, gradualmente perde seu controle do conhecimento de Deus. Paulo disse que eles se não importaram de ter conhecimento de Deus (Rm 1.28). Este conhecimento significa simplesmente ter intimidade com Ele. Obviamente, a pessoa não pode esperar estar em aliança com os espíritos imundos do reino demoníaco boa parte de seu tempo e depois pensar que se aninhará no colo do Pai por alguns momentos ternos de comunhão! Preste atenção no que Paulo tem a dizer sobre esse tipo de comportamento:

Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Velo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo poderoso. Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus. 2 Coríntios6.14-18;7.1

Deus é extremamente longânimo. Ele é tão longânimo que, se uma pessoa simplesmente se arrepender, Ele irá saltitando para ela com uma aceitação graciosa.* Contudo, deve-se também enfatizar que aquele que estiver em apostasia deve percorrer uma longa estrada de volta a um lugar de intimidade real com o Senhor. Esta é a realidade prática do desviado. Uma citação do Vulpit commentary descreve isso melhor:
Oh, você que está abandonando Cristo, se for realmente dEle, terá de voltar; mas não será uma jornada alegre para você. Não, realmente! Nunca foi, e nunca será. Ainda louvado seja o Senhor, que o obriga a fazer isso, embora difícil e duro de fazer. É a mão que foi pregada na cruz, e o coração que foi ferido por você, que agora usa o açoite que o compele, em tristeza e em vergonha, a voltar para Ele, a quem você abandonou.7

O SENTIMENTO PERVERSO
Existe uma palavra maravilhosa no Novo Testamento que gostaria de mencionar aqui. A palavra é dokimazo. Vem de outra palavra grega que significa ser testado. Dokimazo transmite a idéia de um homem cujo caráter foi provado por meio dos testes da vida. Para Timóteo, Paulo falou dos requisitos de um diácono: E também estes sejam primeiro provados [dokimazo], depois sirvam, se forem irrepreensíveis (1 Tm 3.10). Pedro usou a palavra com um sentido diferente: Vara que a prova [dokimazo] da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado [dokimazo] pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo (1 Pe 1.7). Ser um homem de dokimazo é ser um homem de caráter provado.
No primeiro capítulo de Romanos, Paulo descreveu homens que foram entregues a um sentimento perverso. A palavra perverso no grego é adokimos. O a na frente da palavra é um particípio negativo. É usado no grego da mesma forma que usamos o prefixo des- (desamoroso, descrente etc). Assim, nesse sentido, significa que Deus levantou Suas mãos, por assim dizer, e entregou-os para serem homens sem caráter que podem dizer, agir e buscar qualquer coisa ou qualquer pessoa debaixo do sol em sua sensua¬lidade inflamada.

A TAÇA ESTÁ CHEIA
Conforme chegamos ao fim do primeiro capítulo de Romanos, palavras que descrevem aqueles que se comprometeram total¬mente com um estilo de vida de impiedade parecem jorrar do coração partido de Paulo: iniqüidade, maldade, avareza, malignidade, inveja, homicídio, contenda, engano, malícia; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães, néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, sem misericórdia. Ao ler essa lista de pecados, é muito tentador escolher alguns que não se aplicam e minimizar os outros que se aplicam. Paulo simplesmente mostra no que o homem se transforma depois de se entregar a um estilo de vida sórdido, licencioso. Ele diz que eles estão cheios de todas essas características de iniqüidade — 21 aspectos diferentes do mundo interior de um homem em pecado sexual.
Paulo não insinuou aqui que eles têm um probleminha e algumas idiossincrasias de personalidade das quais Deus vai livrá-los um dia. Não! Eles estão cheios de iniqüidade, prostituição, malícia, avareza e maldade. Esta é a realidade hedionda do vício sexual.
Capítulo 6
O PROCESSO DO PECADO

O ato sexual pecaminoso para o viciado não é uma simples ação; ao contrário, é uma série complexa de ações. Geralmente, o homem está simplesmente ocupado com suas atividades normais da vida — trabalhando, mandando mensagens, assistindo à televisão e assim por diante — quando o pensamento do pecado sexual vem à mente. Ele pondera a idéia por algum tempo até que ela se torna forte o suficiente para o motivar a ação. Ele então se envolve em uma seqüência de eventos que se torna sua rotina particular e culmina na realização do seu pecado. Compelidos por passos sucessivos, por uma concupiscência motriz, ele, por fim, realiza a experiência erótica que o cativou desde a tentação inicial. Depois que o episódio inteiro foi completado, ele deve agora enfrentar as conseqüências do que fez. O livro de Tiago revela esse processo de uma perspectiva espiritual:

Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos. Tiago 1.13-16

The pulpit commentary diz o seguinte sobre esse texto:
A tentação se origina dentro do coração do pecador. É inútil culpar seu Criador. O pecado não faz parte da nossa natureza original e não é para ser justificado com o argumento de um ambiente desfavorável. Um homem só peca quando ele é "atraído" pela isca e "puxado" pelo anzol de sua própria concupiscência, isto é, o poder compulsivo que seduz para a iniqüidade é a natureza corrupta dentro de nós. O mundo e o diabo só conseguem tentar eficazmente quando eles agitam o poço imundo do desejo pessoal depravado. A "con¬cupiscência" inclui, além dos apetites do corpo, as disposições malignas da mente, como o orgulho, a malícia, a inveja, a vaidade, o amor pelo ócio etc. Qualquer apelo a esses princípios e afetos vis só pode ser bem-sucedido com o consentimento da vontade. Todo homem é pessoalmente responsável por seu pecado, porque cada pecado provém de sua própria concupiscência.
A concupiscência é, ao longo dessa passagem personificada de uma maneira alegórica, como uma prostituta que se esforça, como a de Provérbios 9.13-18, para atrair e cativar a vontade. Primeiro, ela atrai o homem que passa e segue direito o seu caminho, a princípio íntegro e com prazer saudável. Então, ela o atrai para seu abraço de uma maneira sedutora: as águas roubadas são doces. Pode-se dizer que a concupiscência é concebida quando ela obtém o consentimento da vontade, ou desarma sua oposição. O homem que se demora com a tentação, em vez de enfrentá-la com uma resistência instantânea e oração, certamente sucumbirá a ela. Da união da concupiscência com a vontade, nasce um pecado. A perversão em estado embrio¬nário transforma-se em ação de transgressão positiva. E isso não é tudo. O pecado, filho da concupiscência, cresce da infância de mera escolha para a vida adulta de hábito enraizado, e, quando estiver amadurecido, por sua vez, transforma-se, como o resultado da união com a vontade, na mãe da morte. Foi assim com o pecado de nossos primeiros pais no paraíso. Foi assim com o pecado de Acã (Js 7.21). Ele viu, cobiçou, tomou e morreu. É assim com o pecado da liber¬tinagem, que sugere a figura dessa passagem. A corrupção física que a prática da sensualidade acarreta é somente um sacramento da morte espiritual. A morte é o fruto de todo pecado. O pecado mata a paz, a esperança, a utilidade, a consciência e a alma. A casa de prostituição da concupiscência e do pecado torna-se o vestíbulo da perdição.1

Thomas A. Kempis dá seu ponto de vista:

Primeiro vem à mente um simples pensamento de pecado, então segue uma imaginação intensa, depois, o encanto e o impulso maligno, e, então, o consentimento. E assim, pouco a pouco, nosso inimigo perverso consegue uma entrada completa, porque ele não sofreu resistência desde o começo.2

O Jamieson, Fausset, Brown Commentary acrescenta:

Todo homem, quando tentado, está sendo atraído por meio de [...] sua própria concupiscência. A causa do pecado está em nós mesmos. Até mesmo as sugestões de Satanás não nos põem em pe¬rigo antes que se tornem nossas próprias. Cada um tem sua própria concupiscência peculiar, proveniente de seu próprio temperamento e hábito.3

TENTAÇÃO
A tentação sempre precede o processo do pecado. Os pensa¬mentos são colocados na mente de uma pessoa por um dos mensageiros de Satanás ou simplesmente aparecem como um desejo da carne. Indiferentemente, a mera existência da tentação não constitui pecado.
Na Odisséia de Homero, lemos as aventuras de um herói grego com o nome de Ulisses. Durante uma de suas aventuras, ele encon¬tra as sereias cujos cantos sedutores invocavam a loucura total que resultava na morte de qualquer um que os ouvisse. Quando o bar¬co de Ulisses estava prestes a navegar pelo mar das sereias, ele tampou os ouvidos de seus homens com cera, de forma que não pudessem ouvir o canto de morte, enquanto ele o ouvia agarrado com firmeza ao mastro. Somente as cordas puderam conter a loucura que se apoderou dele. Isso ilustra o viciado sexual sendo tentado. Quando o pensamento fascinante começa a se assomar, freqüentemente o único jeito de resistir a ele é agarrando-se com firmeza a um mastro.
Salomão disse: Porque os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite (Pv 5.3). Esta frase descreve como o diabo apresenta a tentação. O mel representa a satisfação prometida. A tentação parece irresistível porque vem enlaçada com o engano de que o ato pecaminoso trará prazer e satisfação tremendos. A verdade é que se passa muito tempo após o viciado sexual experimentar qualquer prazer real em seu pecado. Todavia, quando surge o pensamento atormentador, ele se esquece de tudo, e o ato pecaminoso sexual parece absolutamente inebriante e conse¬qüentemente irresistível.
O azeite representa a astúcia do inimigo. Ele sabe quando estamos passando por um momento de fraqueza. Ele não se importa em esperar dias ou até semanas se isso significar uma grande derrota para o cristão. Paulo fala duas vezes das ciladas do diabo (Ef 6.11; 2 Co 2.11). As forças demoníacas do inferno estão realizando suas "guerras de guerrilhas" com muita diligência há muito tempo. Completamente camufladas e extremamente calculistas, elas lançam a ilusão perfeita, calculando o momento de cada ataque consecutivo para roubar, matar e destruir o que pertence a Deus (Jo 10.10).
Depois que Satanás conseguiu fisgar um peixe em seu anzol do vício sexual, a seu bel-prazer, o que ele precisa fazer é dar um puxão suave na linha para pôr o homem em movimento. Freqüentemente isso acontece quando são lembradas experiências prazerosas passadas. Frank Worthen comenta:
FLASHBACKS: pouquíssimos encontros sexuais no estilo de vida homossexual podem ser considerados grandes. Quase sempre, há um desejo de que eles poderiam ter sido melhores. Freqüentemente, sentiremos que fomos usados, defraudados e degradados após esse encontro. Satanás, porém, tem uma maneira de lançar em nós as recordações de experiências sexuais passadas. Nas recordações que ele apresenta, todas as conotações negativas são apagadas. Só nos lembramos das positivas. Ele também nos tenta através de nossa tendência natural para fazer associações. Todos nós somos despertados por uma certa música, aromas, sons e imagens visuais, que evocam recordações distintas e vividas de experiências passadas.4

Ronald A. Jenson fala sobre os "gatilhos" que geralmente levam uma pessoa a pecar:
Um gatilho é qualquer evento ou emoção que evoca uma resposta inevitável. O planejamento pensa sobre ambos os gatilhos e o resul¬tado habitual que eles produzem em você. Quais são seus gatilhos? Se você puder identificar o que o leva a um momento difícil, pode preparar-se e frustrar os planos da derrota e do fracasso.5

Descobri que existiam quatro circunstâncias em minha vida que normalmente provavam ser desastrosas para mim, se todas elas acontecessem ao mesmo tempo. A primeira, claro, era a tentação em si. Novamente, os demônios usavam o momento perfeito para implantar seus pensamentos. Eles normalmente não se davam ao trabalho de me tentar, a menos que eles pudessem sincronizar a tentação com os outros três elementos necessários: a libido acumulada, o dinheiro e a oportunidade.
A libido acumulada que eu experimentaria, se não tivesse tido relações sexuais por vários dias, aumentava tremendamente meu desejo de agir. Com minha produção de hormônios elevada, eu ficava imensamente sensível aos estímulos sexuais.
Era também vital que eu tivesse bastante dinheiro para gastar com meu pecado. Independente de qual fosse a atividade sexual, normalmente custava dinheiro. Eu poderia facilmente gastar dez dólares em 15 minutos na galeria de filmes localizada em qualquer sex shop. Claro que visitar as prostitutas ou as casas de massagem seria muito mais caro.
Por fim, eu precisava ter a oportunidade. Se minha esposa estivesse no trabalho, ou se eu tivesse uma desculpa para sair, teria a chance de me entregar à minha rotina favorita.
Um aviso: qualquer esposa tentando ajudar seu marido no processo para vencer esse hábito terá de monitorar de perto várias coisas, e a primeira delas é o dinheiro. Assim que eu deter¬minei a mim mesmo que obteria vitória sobre o pecado sexual, minha esposa e eu concordamos que eu não teria mais do que cinco dólares em meu bolso de cada vez. Eu não podia ter cartão de crédito ou cartão do banco. Essa válvula de segurança desem¬penhou uma parte extremamente importante na vitória que se seguiu. O homem seriamente disposto não se furtará a fazer isso. Além disso, ela deve estar em sintonia com o problema do marido e observar atentamente suas atitudes. Se ele se levantar repenti¬namente e anunciar que precisa fazer compras, ela deve questioná-lo sobre suas reais intenções. A esposa que é enganada aprende, em pouco tempo, a suspeitar de qualquer comportamento estranho. Novamente, o homem que deseja ser libertado ficará grato e receberá de bom grado essa devoção de sua esposa.
Naturalmente, uma das áreas que poderão estar fora de seu alcance é o seu trabalho. No entanto, se ele trabalha em uma fábrica, escritório ou loja e, simplesmente, não pode deixar seu trabalho, ela pode descansar sabendo que ele terá menos proba¬bilidade de entrar em dificuldades enquanto estiver no ambiente de trabalho. Ela saberá exatamente a que horas ele deve chegar do trabalho toda noite. Se disser que precisará fazer horas extras, ela examinará criteriosamente seu comprovante de pagamento.
Existem muitos homens que estão em situações de trabalho favoráveis a cair em pecado. Vamos tomar Sam como exemplo. Ele era um vendedor externo de uma empresa conceituada que vendia janelas de vinil para várias lojas de construção. Tinha um itinerário regular de lojas para visitar todo mês. Ele me pediu conselho com relação a seu hábito de freqüentar casas de massagem durante o dia. Eu lhe disse que ele precisava encontrar um trabalho diferente. Ouvindo isso, olhou para mim com uma expressão de espanto absoluto e respondeu rapidamente: "Eu amo meu trabalho. Ganho um bom dinheiro para minha família. Esse tra¬balho é perfeito para mim!".
"Eu não duvido de que seu trabalho seja perfeito", respondi. "O inimigo é perito em oferecer trabalhos que são perfeitos para os seus desígnios malignos. Sam, se a vitória sobre o pecado não significa nada mais para você além de desistir de um trabalho, você também poderá conformar-se a um estilo de vida de fracasso. Você nunca irá mudar", eu lhe disse. Infelizmente, até onde sei, Sam continua ganhando um bom dinheiro com seu trabalho e continua a visitar casas de massagem. Ele preferiu seu emprego a obter a vitória.
Larry era outro homem que enfrentou um "dilema" semelhante. Ele possuía um ramo de negócio que exigia que ele mantivesse um website. Ele checava rotineiramente as notícias e seu portfólio de ações na Internet. Ele se conectava todos os dias no horário do almoço e um pouco antes de fechar para checar suas ações e ler as notícias. Larry também tinha o hábito de visitar vários sites pornográficos. Embora quisesse parar com isso, toda vez que pensava em desistir da Internet, rapidamente rejeitava o pensa¬mento porque "precisava dela para seu trabalho". A verdade era que ele não queria deixar seu ritual diário, por assim dizer, de se conectar à rede. Como Sam, ele teve a mesma expressão de desapontamento em sua face quando eu lhe sugeri que parasse de se conectar na Internet. "Mas eu preciso disso para meu trabalho", insistiu.
Em nossa conversa, sondei algumas coisas, e a questão real veio à luz. "Acho que só estou persistindo com minha rotina de me conectar para ver as notícias e as ações. Mas o que fazer com meu website? Temos de mantê-lo". Larry admitiu. Esse problema era um pouco mais legítimo. Conversamos um pouco mais, e descobri que o homem responsável em sua empresa por manter o website era um cristão. Chamamos Jim e lhe explicamos o problema. Foi muito humilhante para Larry confessar a um empregado, mas ele realmente queria ajuda. Eles desconectaram o computador de Larry de seu servidor da Internet, tiraram o software de seu computador e colocaram uma nova senha no computador de Jim. Assim, Larry não podia ter mais acesso para ver pornografia de sua sala. Ele perdeu o direito de ter sua rotina na Internet, mas essa solução simples foi tudo o que ele precisou fazer para encontrar a liberdade que lhe havia escapado por algum tempo.
Larry estava disposto a fazer qualquer coisa que precisasse. Sua atitude é um exemplo do que Jesus quis dizer quando afirmou:
Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. Mateus 5.29,30

O ÍDOLO DA FANTASIA
O passo inicial para o pecado é permitir que o pensamento de tentação se inflame. É extremamente difícil impedir os processos do pensamento depois de entretidos. Tiago disse que alguém é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência (Tg 1.14). Isso ilustra a concupiscência de um homem, que o leva a um lugar onde ele não consegue defender-se e, então, engana-o. É quase como se os seus desejos carnais momentanea¬mente tomassem o controle de sua mente e o levassem a algum mundo idealizado, onde ele estaria então totalmente indefeso. Uma vez lá, ele é tragado pelas imaginações malignas de seu cora¬ção doente.
Isso não é algo que ele não quer fazer. Pelo contrário, é exata¬mente o que ele quer fazer. A Nova Versão Internacional traduz da seguinte forma: Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Não é somente o objeto da tentação que ele deseja, mas também a tentação em si! Ele deseja encher sua mente com essa tentação assoladora! Não é de se admirar que ele tenha tamanha dificuldade para exercitar o autodomínio. Da mesma forma que uma pessoa saboreia cada porção de um pudim delicioso, o viciado sexual saboreia cada pensamento do encontro sexual máximo. Quanto mais ele idealiza, mais probabilidade terá de realizar o ato. Ele está, em essência, erguendo um ídolo da fantasia. Quanto mais ele nutre a fantasia, mais o ídolo se edifica. Nesse momento, ele está sendo engodado.
Esses pensamentos são difíceis de controlar, porque a pessoa vê somente a satisfação imediata. A idealização da experiência iminente obscurece os votos feitos para parar com esse compor¬tamento. Tudo o que ele vê à sua frente é a "beleza" do ato antecedido. Ele se esquece completamente de Deus e de seus amados. Suas tentativas passadas para deixar esse pecado estão perdidas agora no mar do esquecimento. Parece que ele simples¬mente não se pode ajudar. Conforme a concupiscência cresce em sua mente, seu comportamento torna-se negligente. Coisas que ele nunca imaginou fazer sob circunstâncias normais tornam-se agora "grandes expectativas". Ele está começando a entrar em transe, como o cachorro hipnotizado por um pedaço de carne um pouco além de seu alcance. Seu coração começa a disparar, ele começa a respirar com dificuldade, e as palmas de suas mãos começam a suar. Ele está realmente ficando intoxicado pelo desejo. O ciclo do vício está agora em movimento, e ele alcançou o "ponto sem volta". Dietrich Bonhoeffer descreve melhor essa luta:
Nesse momento, Deus é irreal para nós, Ele perde toda a realidade e somente o desejo pela criatura é real; a única realidade é o mal. Aqui, Satanás não nos enche com ódio por Deus, mas com o esqueci¬mento de Deus. E agora sua fraude é somada a esta prova de força. A concupiscência assim despertada envolve a mente e a vontade do homem em trevas profundas. Os poderes do discernimento claro e de decisão são tirados de nós.6

MOVENDO-SE FISICAMENTE EM DIREÇÃO AO PECADO
O próximo passo é dado quando o corpo realmente se levanta e se move. A pessoa pode querer enganar-se, pensando que só irá cruzar a área onde a "ação" está e não vai fazer coisa alguma, mas quase sempre faz. Lembro-me de pensar comigo mesmo: "Vou passar em frente às prostitutas somente para vê-las". Outra forma de me enganar era dizendo a mim mesmo que eu somente olharia para a revista. O problema era que, assim que eu começava a olhar para a revista, entrava naquele estado de espírito alterado no» qual tudo se torna sexual e nada é proibido. Depois de examinar as revistas, eu queria ver os filmes. Assim que começava a assistir aos filmes, queria a coisa real. Ao ver a pornografia, a pessoa acaba ficando pervertida em sua tomada de decisão. O pecado nunca se satisfaz. Um pecado leva a outro. Uma má decisão leva a outra. Talvez seja por isso que o profeta Miquéias tenha advertido:
Ai daqueles que, nas suas camas, intentam a iniqüidade e maquinam o mal; à luz da alva o praticam, porque está no poder da sua mão! (Mq 2.1).

O PONTO SEM VOLTA
Depois que o corpo está em movimento, a racionalização assume o comando. "Bem, é muito tarde para parar agora. Bem que eu podia vencer isso!" Esse é "o ponto sem volta". Agora desenfreado, desinibido, sem medo, culpa ou a possibilidade de perigo, o viciado está totalmente convencido de que esta é a única rota racional que ele pode tomar. Salomão iria descrevê-lo como um homem com um coração que maquina pensamentos viciosos; pés que se apressam a correr para o mal (Pv 6.18). Desse modo, o viciado torna-se totalmente comprometido a expressar sua idealização. As ondas da concupiscência vão levá-lo para o oceano da perversão em que ele deseja estar. Embora tenha pretendido somente passar em frente às prostitutas, casas de massagem ou onde quer que seja sua fonte particular de tentação, depois que viu e ouviu o som da "zona de meretrício", a atração do pecado o subjuga.

AS VÁRIAS ROTINAS
Agora os comportamentos diferentes entram em jogo. Cada viciado possui a própria idealização — a própria rotina. Na verdade, é onde eles encontram a excitação verdadeira. A rotina do viciado começa imediatamente quando ele se move em direção ao seu pecado. Da mesma maneira que o alcoólatra considera seus amigos do bar, a excitação da música, a paquera com as mulheres e a "diversão" de uma noite fora bebendo, o viciado pensa a respeito das muitas coisas que abrangem sua rotina sexual. Ele se precipita para o lugar onde ela possa ser alcançada e, uma vez que o orgasmo não pode continuar indefinidamente, o viciado deve fazer a neces¬sidade durar. Alguns conseguiram algumas vezes fazer esse período durar por mais de 24 horas, não querendo que a excitação e o divertimento acabassem. Essa rotina varia de acordo com cada viciado. Para alguns, significa ir de filme em filme em uma galeria, consumido pela lascívia da variedade. Para outros, pode ser passar em frente, procurando prostitutas — homens ou mulheres. Para o estuprador, será conseguir encontrar uma vítima. O voyeur procurará por uma janela provável. O exibicionista procurará por um espectador em potencial. Conquanto sejam todos diferentes, compartilham uma coisa em comum: a concupiscência foi concebida no coração de cada um, e cada um está agora em uma missão pessoal para satisfazer o melhor de sua capacidade.

O ATO PECAMINOSO
Pecado. O ato real. E freqüentemente um desapontamento terrível, após um período durante o qual a satisfação da idealização foi antecedida. Não obstante, é o objeto do desejo no qual a pessoa fixou sua mente. Depois que ela entrou no transe e iniciou sua rotina, é altamente improvável que ela possa refrear-se de cometer algum tipo de ato sexual. Lembro-me de pensar objetivamente quando saía da galeria de filmes para uma casa de massagem. Eu sabia que a experiência não seria tudo aquilo e, contudo, parecia que eu não conseguia deter a mim mesmo de terminar o ato. Eu havia ligado o motor e somente o ato seria suficiente para justificar sua conclusão. Desse modo, uma vez que o viciado sexual investiu tempo e energia em sua idealização, será necessário algo especial para culminar o processo inteiro. Alguns homens conseguem limitar seu pecado vendo pornografia, mas, mesmo para eles, algo especial precisará ser atingido para terminarem o que eles mesmos colocaram em prática.

MORTE
Finalmente, quando o ato pecaminoso foi cometido, ele traz a morte: a morte do auto-respeito e a dos sentimentos. Ele trará tam¬bém desespero, raiva, desamparo, desesperança, culpa, condenação e votos para nunca mais fazer isso de novo. E um preço horrível que Satanás e seus demônios cobram daqueles que foram logrados. Primeiro, eles o dominam para cometer o pecado; então, uma vez cometido, eles o condenam e o atacam por ser fraco e desprezível. A vergonha se aprofunda mais e mais.
Depois de concluído o ato sexual, e a concupiscência se esvaiu de seu corpo, a pessoa começa a ver o pecado mais claramente. As promessas vazias da idealização não estão em lugar algum para serem encontradas; tudo o que resta é o castigo horrível por seu pecado. Durante a tentação, ele se esqueceu das conseqüências de suas escolhas. Agora, elas estão claramente à vista. Como Salomão descreveu em detalhes muito interessantes as conse¬qüências de se render à tentação sexual. Ele traz tudo isso à vida na seguinte passagem:

Porque os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite; mas o seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois fios. Os seus pés descem à morte; os seus passos firmam-se no inferno. Ela não pondera a vereda da vida; as suas carreiras são variáveis, e não as conhece. Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos e não vos desvieis das palavras da minha boca. Afasta dela o teu caminho e não te aproximes da porta da sua casa; para que não dês a outros a tua honra, nem os teus anos a cruéis. Para que não se fartem os estranhos do teu poder, e todos os teus trabalhos entrem na casa do estrangeiro; e gemas no teu fim, quando se consumirem a tua carne e o teu corpo, e digas: Como aborreci a correção! E desprezou o meu coração a repreensão! E não escutei a voz dos meus ensinadores, nem a meus mestres inclinei o meu ouvido! Provérbios 5.3-13

Em duas ocasiões diferentes, Salomão usou a palavra hebréia aharit. No versículo quatro, ele diz o seu fim. No versículo 11 está expresso no teu fim. Aharit deriva da palavra hebréia ahar, que significa demorar-se. O que Salomão mostrou é que o pecado não desaparece simplesmente após ter sido saciado. Seus efeitos podem demorar por muito tempo. Já mencionamos a morte que se experimenta após cada ato pecaminoso. Além dessas mortes, existem também as conseqüências a longo prazo por toda a vida decorrente de ceder ao pecado sexual. Adam Clarke comenta essa passagem:
O lamento aqui é o do tipo mais excessivo: a palavra naham é freqüentemente aplicada ao rosnar de um leão e o murmúrio rouco incessante do mar. Em minhas atribuições, já fui chamado várias vezes para visitar o leito de morte dessas pessoas, onde os gemidos e gritos agudos eram incessantes por meio das dores lançadas em seus ossos e sua carne. Quem quer que tenha testemunhado uma cena final como esta perceberá imediatamente com que força e pro¬priedade o sábio fala. Como aborreci a correção! E não escutei a voz dos meus ensinadores! É o grito inútil naquele momento terrível. Querido leitor, seja você quem for, guarde isso em seu coração.7

Repetidamente, tenho testemunhado a angústia de um homem quando ele é obrigado a finalmente assumir a responsabilidade por seus atos passados. É desnecessário dizer que, quanto mais se evita, pior será o sofrimento.

RESOLUÇÕES E ARREPENDIMENTO
Quando o viciado entra na fase inicial de remorso, geralmente faz certas promessas a Deus, jurando nunca mais repetir o mesmo pecado: "Senhor, juro que nunca mais farei isso!" Conforme seus olhos se abrem para a realidade do vazio e natureza horrível de seu pecado, faz prontamente esse voto, pois, neste momento, vê a realidade do seu pecado.
Contudo, o problema em fazer tal resolução é que ela se origina da própria força e determinação do homem para resistir ao mal e vencê-lo. Esse tipo de promessa não resistirá às futuras tentações na mesma área. Foi por esse exato motivo que o viciado sexual tentou inúmeras vezes antes de quebrar o hábito, ainda sem proveito.
O homem precisa desesperadamente de arrependimento. O arrependimento verdadeiro acontece quando o coração do homem muda sua perspectiva do pecado. O homem só deixará seu comportamento pecaminoso e destrutivo quando ele arrepender-se verdadeiramente em seu coração. Conforme se aproxima cada vez mais do coração de Deus, começa a desenvolver uma "tristeza espiritual" por sua transgressão.

VENCENDO A TENTAÇÃO
Conforme a pessoa se fortalece em seu andar cristão e se aproxima mais de Deus, começa a ver o ato inteiro do pecado, inclusive as conseqüências, em vez de apenas a recompensa. Essa é a razão principal de eu ter vencido minhas tentações pessoais. Conforme me aproximava mais do Senhor, quando comecei a sair da escravidão, conseguia ver os efeitos do meu pecado e a rebelião mais clara¬mente. Em vez de me concentrar na experiência "deliciosa", consegui ver de forma realística que as experiências passadas, na melhor das hipóteses, normalmente eram somente medíocres. Em lugar de focar meus pensamentos em quão prazerosa ela poderia ser, vi claramente as conseqüências que me aguardavam: o aharit. Eu me lembrava dos dias de vergonha, nojo e condenação, oprimidos pela culpa. Pior de tudo, eu me lembrava de estar sepa¬rado do Senhor.
Eu venci a tentação porque me recusei a permitir abrigar pensamentos sexuais. Quando uma idealização entrava em minha mente, fazia a decisão consciente de não entretê-la. A pessoa que se dá ao luxo de saborear uma idealização está posicionando-se para uma queda enorme. A hora de lidar com a tentação é no momento em que ela aparece. Quanto mais se demora com o pensamento, mais difícil fica resistir a ele.

FUGINDO DA TENTAÇÃO
Tendo examinado o processo inteiro do pecado, vamos retornar agora ao início e estudar mais atentamente como escapar das armadilhas da tentação sexual. A Bíblia nos dá uma maneira de lidar com essas tentações: Fuja! Paulo admoestou Timóteo para fugir dos desejos da mocidade (2 Tm 2.22). Em Gênesis 39, vemos a história de um homem de Deus que teve de lidar com a tentação sexual.

E aconteceu, depois destas coisas, que a mulher de seu senhor pôs os olhos em José e disse: Deita-te comigo. Porém ele recusou e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo e entregou em minha mão tudo o que tem. Ninguém há maior do que eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu és sua mulher; como, pois, faria eu este tamanho mal e pecaria contra Deus?E aconteceu que, falando ela cada dia a José, e não lhe dando ele ouvidos para deitar-se com ela e estar com ela, sucedeu, num certo dia, que veio à casa para fazer o seu serviço; e nenhum dos da casa estava ali. E ela lhe pegou pela sua veste, dizendo: Deita-te comigo. E ele dei¬xou a sua veste na mão dela, e fugiu, e saiu para fora. Gênesis 39.7-12

Veja, se conseguir, a diferença no modo como essas duas pessoas lidaram com o que foi, indubitavelmente, uma atração mútua. É provável que a esposa de Potifar fosse uma mulher bonita. Talvez fosse uma das principais damas da sociedade. Ela devia vestir-se com as sedas mais finas e usar os perfumes mais caros. Em comparação às escravas incultas a que José estava acostumado, ela deve ter parecido incrivelmente fascinante.
É interessante notar que ela não se interessou por José até ele ter sido exaltado por seu marido. É provável que antes de ter sido promovido à sua alta posição, ela nem o tenha notado. Naquele momento, os dois estavam perto um do outro todos os dias. A esposa de Potifar deve ter começado a respeitar José pelo modo como ele conduzia eficientemente seus deveres. Depois de ter sido elevado, ela olhou para José com desejo.
Isso acontece com algumas mulheres quando vêem exaltado um homem de Deus. Existe algo na presença poderosa atrás do púlpito que elas querem capturar. Muitas mulheres começam a idealizar sobre como poderiam seduzir o homem de Deus. Certamente, grande parte dos evangelistas bem conhecidos pode testificar ter encontrado mulheres tentando atraí-los e seduzi-los. Depois que uma mulher vai atrás de um homem dessa forma, ela normalmente fará qualquer coisa para realizar sua missão diabólica. Em sua mente, pensa que, se conseguir conquistá-lo sexualmente, ela, de alguma maneira, "capturará" aquele poder ou aquele carisma que emana de sua personalidade.
Isso é o que a esposa de Potifar tentou fazer. Ela observou a coragem e confiança de José e quis possuir isso de algum modo. Ela não percebeu que essas qualidades notáveis estavam nele por¬que ele era um homem de Deus. Ela estava dirigida por seus próprios desejos carnais e, conforme o observava trabalhar na casa dia após dia, os pensamentos lascivos começaram a se abri¬gar em sua mente. Ela poderia tê-los rejeitado, mas ela escolheu abrigá-los. Talvez, antes mesmo de ela saber, deixou escapar um dia: Deita-te comigo. Chocada pelo fato de o escravo ter-lhe recusado, ela se defrontou com um desafio ainda maior. O relato diz que José tentou argumentar com ela os motivos pelos quais ele não podia fazer isso. Mas ela não os aceitou. Todos os dias, ela flertava com ele, provavelmente chegando às raias do que é denominado hoje de assédio sexual. Não obstante, José, um homem de honra e integridade, continuava a resistir firmemente a seus avanços ilícitos. Finalmente, quando ela não podia agüentar mais, e suas concupiscências tornaram-se uma obsessão, ela se atirou nele e quase lhe implorou: Deita-te comigo! Quando José fugiu, ela chegou à conclusão dolorosa e humilhante de que nunca poderia tê-lo sexualmente, e, então, ela jogou-o na prisão.
José deve ter tido alguma luta com a tentação enquanto olhava a beleza egípcia radiante, refinada, que se oferecia a ele. Mas lidou com essa atração mútua de uma maneira diferente; não deu "provisão alguma para a carne". Ele rejeitou a idéia imediata¬mente e se recusou até a considerá-la. Quando aquela mulher finalmente se atirou nele, ele conhecia o segredo para sair da tentação: fugiu! Esse é o melhor caminho para lidar com uma tentação; fuja para o outro lado!

O CAMINHO DO ESCAPE
Um aspecto importante de lidar com a tentação é que há sempre uma saída. Paulo disse: Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar (1 Co 10.13).
Quando eu lutava com a tentação, realmente duvidada da Bíblia, porque esse versículo não parecia de forma alguma ser verdadeiro para mim. Eu detestava quando os pregadores usavam esse versículo. "Eles não entendem o que é isso", eu dizia para mim mesmo. Porém, gostaria de compartilhar algumas idéias sobre esse texto. Primeiro, não há mais qualquer dúvida em minha mente sobre a verdade desta declaração (e todas as outras que estão na Bíblia!). Observando as tentações em retrospecto, posso ver agora que Deus sempre me deu um escape. Como eu estava tão ema¬ranhado em meu pecado e com o hábito tão arraigado de ceder à tentação, eu não estava sintonizado com a direção do Espírito Santo. Ou eu não via o escape ou preferia ignorá-lo. Eu estava tão acostumado a perder essas batalhas, que resolvi em minha mente que simplesmente não podia ganhar, então, para que tentar? Eu estava tão condicionado a ceder à tentação, que me convenci de que não poderia dominá-la. Além disso, eu estava tão escravizado por meu pecado, que não queria encontrar um escape. Mas a verdade é que há sempre um escape à disposição.
Paulo disse que Deus não vos deixará tentar acima do que podeis, Uma ilustração da palavra capaz (poder) é a linha traçada no lado de um navio. Conforme o navio é carregado com as cargas e afunda na água, ele se aproxima do ponto em que a "linha-limite" fica paralela com o nível da água, indicando que o navio atingiu sua capacidade de carregamento. Quando o navio carregado afunda abaixo da linha, sabe-se que o navio foi sobrecarregado. Nunca somos tentados além de nossa "linha-limite". Nunca seremos carregados com mais tentação ou prova do que podemos suportar. Deus nunca permite que nossas tentações passem daquela linha. Ele sempre nos fornece um escape!
Desse modo, devemos aprender a estar sensíveis à rota de escape que Ele nos fornece. Só podemos aprender Seus métodos estudando Seus caminhos. Este é o motivo por que é tão impor¬tante que saibamos aonde ir para encontrar ajuda. Se buscarmos a esmo qualquer fonte de respostas, provavelmente seremos mal-orientados e induzidos ainda mais ao erro.

SEGUNDA PARTE
O CAMINHO CERTO

Capítulo 7
A RAIZ DOS PROBLEMAS

As pessoas que lutam com o pecado sexual compulsivo freqüentemente têm um desejo de chegar à "raiz dos problemas". Por causa dos esforços humanísticos de certas "escolas de pen¬samento" (isto é, a Psicologia), muitos foram levados a crer que as causas foram enterradas bem fundo, na infância da pessoa e, por isso, devem ser cavadas e examinadas por completo. Esse conceito de buscar soluções para os problemas atuais, explorando o passado, foi formulado primeiramente por Sigmund Freud *. As teorias que ele formulou ajudaram a dar forma ao campo moderno da Psicologia. Alguns de seus conceitos sobre os proble¬mas "emocionais" que as pessoas enfrentam foram úteis, porém, a maioria foi simplesmente estranha. Essencialmente, a principal terapia que ele concebeu para ajudar as pessoas, a Psicanálise, contava com as lembranças do paciente sobre as experiências em sua infância como a chave para destrancar os problemas presentes. A idéia era de que a memória dos primeiros encontros traumáticos levaria o paciente a experimentar de alguma maneira uma ruptura psicológica, resultando em uma nova capacidade para lidar com as tensões diárias da vida. Todavia, essa teoria, que não é mais apoiada pelos psicólogos e terapeutas, ainda desempenhou um papel-chave na formulação de muitas teorias de Psicoterapia que abundam hoje.
Conquanto seja inegavelmente verdadeiro que o ambiente no qual uma criança é criada exerça um impacto tremendo na direção e desenvolvimento de sua vida, não existe absolutamente evidência para sugerir que simplesmente se lembrar daqueles incidentes afetaria ou mudaria o presente. Se é que faz algo, esse tipo de terapia somente encoraja o paciente a colocar a culpa em outros, em vez de assumir a responsabilidade pessoal por seus atos e suas decisões.

LIDANDO COM O PRESENTE
A Bíblia ensina claramente para o cristão que está lutando com hábitos pecaminosos a lidar com o "aqui-e-agora" em lugar de tentar solucionar os problemas, resgatando as memórias passadas. Com relação à busca da perfeição espiritual, Paulo disse: Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim (Fp 3.13,14). Não existe absolutamente suporte bíblico para trazer à tona experiências traumáticas da infância. Embora no aconselhamento possa haver uma necessidade oca¬sional de tratar algo que aconteceu na infância, não se deve olhar para o passado como uma chave para lidar com o presente.
A Bíblia ensina o cristão em lutas a lidar com sua natureza pecadora. Você consegue imaginar Deus dizendo: "Não matarás... a menos, claro, que você tenha sido abusado na infância, então é compreensível". Como é ridículo! Contudo, não somente nas notícias, como também nos programas de televisão atuais, muitas pessoas justificam e racionalizam seus pecaminosos erros e estilos de vida, apontando um dedo "acusador" para seus pais ou para outros do passado. A verdade é que, antes que a pessoa possa mesmo esperar vencer um pecado habitual, ela deve primeiro estar disposta a assumir a responsabilidade pelos próprios atos. Isso significa lidar com o comportamento atual sem desculpas. O que aconteceu no passado não pode ser mudado. Conseqüen¬temente, aqueles que serão vitoriosos sobre o pecado devem aprender a esquecer o que ficou no passado e focar sua atenção no presente.
A história a seguir nos mostra como Davi respondeu quando confrontado com seu grande fracasso moral.

E aconteceu que, tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem para a guerra, enviou Davi a Joabe [...] porém Davi ficou em Jerusalém. E aconteceu, à hora da tarde, que Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista. [...] Então, enviou Davi mensageiros e a mandou trazer; e, entrando ela a ele, se deitou com ela [...].
E o SENHOR enviou Natã a Davi; e, entrando ele a Davi, disse-lhe: [...] Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol. Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. 2 Samuel 11.1,2,4;12.1,12,13a

O primeiro passo em direção à vitória sobre um hábito domi¬nante da vida é entender que você se encontra nas circunstâncias atuais por causa das escolhas que você tomou para si mesmo. Davi assumiu a responsabilidade total quando foi confrontado sobre seu pecado com Bate-Seba. Ele não ofereceu as desculpas deploráveis que se pode ouvir freqüentemente hoje: "Estava pas¬sando por um período difícil em minha vida. Foi o inimigo que preparou tudo isso. Deus sabe que eu sou um homem com paixões naturais. O que Ele acha que um homem faria sob tais circuns¬tâncias? Minha esposa está distante de mim ultimamente. Não é de se admirar que eu tenha caído em tentação!" Davi sabia que estava errado. Ele fez uma decisão consciente de pecar — ninguém mais. Quando Deus o castigou por seu pecado, ele não se levantou e cerrou os punhos contra Deus. Em vez disso, ele entendeu e aceitou humildemente o castigo por seus atos.

CULPANDO OS PAIS
Alguns de nós, inclusive eu mesmo, não tivemos um começo muito bom na vida. Eu passei muitos anos culpando os outros por meus problemas. Embora eu tenha sido cercado por influências negativas em casa, escolhi seguir o caminho da imoralidade. Culpar os pais por nosso pecado sempre foi um problema. Leia o que Deus disse a Seu povo por intermédio do profeta Ezequiel:

E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Que tendes vós, vós que dizeis esta parábola acerca da terra de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor JEOVÁ, que nunca mais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá. A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Ezequiel 18.1-4,20

Deus tratou desse assunto porque Seu povo culpava seus pais por seus atos. Eles estavam usando as transgressões de seus pais como uma desculpa para cometer os próprios pecados. Deus até mesmo os proibiu de usar essa frase. Eles não deviam explorar o pecado de outros como um meio de justificar os próprios atos.
Porém, existem pessoas que foram legitimamente defraudadas na vida. Essas pessoas são as mais inclinadas a usar o abuso que sofreram como uma desculpa para permanecer no pecado. Julie era uma dessas pessoas. Foi criada por um padrasto abusivo, que começou a molestá-la em tenra idade. Quando chegou à ado¬lescência, ela se rebelou e começou a ter relações sexuais com praticamente qualquer um que ela quisesse. Ela continuou com esse comportamento estouvado mesmo depois de nascer de novo.
Embora sua infância tenha sido uma história de sofrimento, Julie estará destinada a continuar a viver uma vida de degradação até que decida assumir a responsabilidade pelo próprio pecado, agora no presente. Guardando um rancor profundo por seu padrasto e usando seu abuso como uma desculpa para permanecer no pecado, ela está paralisada para experimentar a liberdade que Deus quer que ela tenha. Infelizmente, há aqueles ao seu redor que pensam que seu pecado é justificável por causa dos sofrimentos no passado. Ela é uma vítima que precisa aceitar o amor de Deus, não uma pecadora que se deve arrepender. Julie gosta de seu pecado e fica feliz por ter conselheiros que reforçam a idéia de que ela não é responsável por seus atos. Às vezes, devemos confrontar o pecado de uma pessoa para o próprio bem dela. A compaixão humana diz que devemos tratar Julie como uma vítima. A compaixão divina diz que ela é responsável por seus atos e, a menos que se arrependa, continuará separada dEle, atrelada a um carrossel desesperançado de pecado, dor e degradação. A condolência humana mal-orientada só torna a situação pior.
A abordagem humana de lidar com o pecado lembra-me de uma história que minha tia me contou certa vez. Quando eu era garotinho, tive sarampo. O médico disse a minha mãe que ela deveria lavar meus olhos todos os dias por causa do risco de desenvolver uma infecção que poderia causar cegueira. Estávamos visitando a casa de minha tia naquela ocasião. Um dia, minha mãe me pegou à força e tentou limpar meus olhos, mas, quando eu comecei a gritar e a espernear em protesto, ela parou. Vendo isso, minha tia me agarrou e "sem nenhum dó" limpou meus olhos! Agora eu pergunto: qual das duas estava expressando uma misericórdia divina por mim naquele momento? Era minha tia.
Algumas vezes, nós também precisamos ser tratados firmemente com a Palavra de Deus para nosso próprio bem. Ninguém negaria que Julie foi vítima de um padrasto mau e pervertido. Na verdade, o que foi feito a ela foi uma coisa horrível. Mas, se ela não começar a assumir a responsabilidade por seus atos presentes, nunca estará verdadeiramente livre da dor de seu passado.

CULPANDO O PARCEIRO
Enquanto alguns culpam seus pais por seus problemas atuais, outros culpam seus cônjuges. Umas das "desculpas" que eu tenho ouvido muitas vezes é: "Sou infiel à minha esposa porque ela não satisfaz minhas necessidades". O homem que comete algo tão vil quanto o adultério, porque sua esposa não satisfaz suas exi¬gências sexuais, é realmente pior em seu coração que o adúltero, cuja vida sexual está simplesmente fora de controle. Uma coisa é um homem ter um vício que continua a mover-se em forma de espiral descontrolada, chegando a ponto de cometer adultério. Mas tomar uma decisão premeditada e calculada de ter relações sexuais com uma outra pessoa, porque o cônjuge não é tão obcecado por sexo como ele é, mostra uma natureza narcisista e extrema¬mente fria.
Na realidade, o homem que tenta culpar a falta de interesse sexual da esposa como pretexto para o seu adultério não está sendo honesto consigo mesmo. Ele simplesmente quer fazer isso. O homem que ama verdadeiramente sua esposa nunca pensará em tal coisa. O adultério não é algo que ele consideraria, muito menos tentaria. Um homem de Deus examinaria imediatamente a própria vida a fim de descobrir por que ele está tendo essa resposta de sua esposa. Então, tentaria entender o que ele poderia fazer para satisfazer melhor as necessidades dela. O homem que alega estar sendo defraudado normalmente está negligenciando as necessidades de sua esposa. Em seu narcisismo extremo, ele não ama sua esposa como deveria; caso contrário, ela estaria mais predisposta a responder aos seus avanços. Muito freqüentemente, o problema inicial não é com a esposa, mas com o marido.

CULPANDO DEUS
Por mais incrível que possa parecer, muitos homens tentam culpar Deus. Alguns realmente ficam bravos porque Ele "deixou-os chegar a esse estado", ou porque Ele não os libertou imediata¬mente quando pediram. Não é preciso dizer que estão caminhando sobre uma fina camada de gelo! Não é culpa de Deus quando as pessoas escolhem viver em pecado. Ele graciosamente já fez tudo que podia para tornar a salvação e liberdade acessível a nós. Tiago diz que Deus jamais tenta o homem (Tg 1.13). Paulo diz que sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso (Rm 3.4). O começo de nossa vida pode não parecer justo, mas ainda assim não podemos culpar Deus. Afinal de contas, Ele jamais toma quaisquer decisões erradas por nós.
Esse é um passo muito importante para alguns de vocês que estão lendo este livro. Muitos tenderão a pular esse capítulo, desprezando o que está sendo considerado aqui. Devemos assumir a responsabilidade por nosso pecado. Devemos dizer a Deus que pecamos contra Ele e contra os outros. Isso não deve ser feito como alguma fórmula secreta para receber perdão, mas com uma contrição sincera pela iniqüidade de nossos atos, levando a um arrependimento verdadeiro.

AS RAÍZES VERDADEIRAS
Ao procurar as raízes do vício sexual, não precisamos olhar além de nossa própria natureza. Jeremias disse: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? (Jr 17.9). Davi afirmou: Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe (Sl 51.5). Salomão observou: A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção a afugentará dele (Pv 22.15). Paulo afirmou que todos pecamos e destituídos estamos da glória de Deus (Rm 3.23), enquanto João declarou que: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós (1 Jo 1.8). E, por fim, Jesus declarou:

Mas o que sai da boca procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do. coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São essas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem. Mateus 15.18-20

A raiz do pecado sexual compulsivo procede do coração, não do passado. Um dos grandes ensinos fundamentais da fé cristã é a doutrina da degradação do homem. Embora o homem tenha sido feito à imagem de um Deus santo, sua natureza se corrompeu quando ele caiu em pecado no jardim do Éden. Desde aquele tempo, não houve mais justo, nem um sequer (Rm 3.10). Somos seres corrompidos que almejam o que atrai nossa natureza carnal. É natural desejar o que é pecaminoso e ilícito. Embora a maioria das pessoas não aja de acordo com seus pensamentos, creio que todos ficariam abismados se conhecessem os pensamentos que passam na mente de pessoas "respeitáveis".
A realidade desse fato, certa vez, chocou-me quando eu e minha esposa estávamos em San Antônio, no Texas. Esperávamos por nossa amiga enquanto ela tinha ido ao tribunal de Justiça local. Enquanto estávamos sentados em seu carro conversando casual¬mente, passaram ao nosso lado duas jovens senhoras bem vestidas. Era evidente que elas eram funcionárias de escritório em horário de almoço, fazendo uma caminhada relaxante. Conforme elas se aproximavam, fiquei impressionado com a aparência de pessoas boas que tinham. Eu estava realmente lutando com o pensamento de "boas" pessoas serem enviadas para o inferno por um Deus amoroso. Não muito antes disso, eu tinha questionado Deus: "Senhor, como podes enviar pessoas respeitáveis para o inferno?" Essa era uma daquelas perguntas importunas que não estavam bem resolvidas comigo. Ao passarem pelo carro em que estávamos, uma delas soltou uma obscenidade. Naquele instante, o Senhor me fez ver que até mesmo aqueles que possam ser considerados "respeitáveis" pelos padrões humanos, não são assim aos olhos de um Deus santo.
A verdade é que mesmo as pessoas consideradas "boas" não são realmente boas. Elas não são inerentemente boas como Carl Rogers nos teria feito acreditar. Nós, como uma espécie caída, temos uma inclinação natural para o pecado e para a rebelião contra nosso Criador. É dessa atração inata para o que é ilícito que o pecado sexual compulsivo provém. Embora nem todo mundo lute com o mesmo pecado, todo indivíduo tem pecado, que vem naturalmente. Como Paulo tão adequadamente citou do Antigo Testamento:

Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e junta¬mente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Romanos 3.10-18

LIDANDO COM AS RAÍZES
Desde o momento em que ficamos grandes o suficiente para entender, somos bombardeados com a mensagem: "Sua vida é o que você escolheu fazer". Nossos pais nos dizem que precisamos esforçar-nos para realizar algumas tarefas; na escola, somos ensinados a nos orgulhar de nosso trabalho. Da Educação Infantil ao Ensino Médio, nossos professores estão constantemente aumentando nossa auto-estima. Os esportes em equipe e as atividades extracurriculares desenvolvem o espírito de grupo. O espírito competitivo da escola é usado como uma desculpa para degradar verbalmente e rir de outras escolas, freqüentemente sob a suposta inocência de "rivalidade". Somos encorajados a acreditar em nós mesmos e tirar o máximo proveito de cada oportunidade, mesmo às custas da reputação ou dos sentimentos dos outros. A mentalidade do "devo isso a mim mesmo" tem acompanhado os americanos ao longo do largo caminho do egocentrismo. "Procurar ser o número um" tornou-se o principal objetivo da América.
O que tudo isso tem a ver com o vício sexual? A resposta é simples. O que foi esboçado na parte anterior é a conseqüência direta de duas raízes de vício sexual: o orgulho e a vida narcisista. Muito de nossa vida foi ditado por esses dois motivos. É hora de chegar às vias de fato com o que realmente está oculto sobre a falta de controle do viciado. Em síntese, ele é orgulhoso além da medida e escolheu presentear-se com praticamente qualquer coisa que queira ou deseje. Uma vez que os seres humanos possuem realmente uma natureza pecaminosa, pode-se esperar que a vida de todos seja uma baderna. Contudo, a vida de uma pessoa fica fora de controle à medida que ela se torna narcisista e orgulhosa.
Lidar com o vício sexual na vida do cristão pode ser comparado a lidar com as feridas daqueles que estão na cama por causa da leucemia. Você pode tratar essas lesões dolorosas com as melhores pomadas, cremes e bandagens, mas até que você cure a leucemia, o paciente ficará acamado e continuará a sofrer com essa irritação.
Da mesma maneira, o vício sexual é um subproduto de um estilo de vida narcisista. A pessoa é viciada em sexo ilícito porque ela é consumida pelo eu. Você pode "tratar" desse problema pelo resto de sua vida, mas até a natureza narcisista ser tratada, o problema persistirá. Esta é a razão do Pure Life Ministries enfatizar o tratamento de todos os aspectos da vida espiritual do crente. A medida que ele amadurece como cristão, tornar-se-á cada vez mais interessado na vida dos outros. Quanto menos narcisista ele se torna, menos importante será a auto-satisfação em sua vida.

O PROCESSO DE MORTE
Depois que a pessoa nasce de novo, Deus começa imediata¬mente um processo de renovação em sua vida - transformando-a em uma nova criação (2 Co 5.17 - NVT). Contudo, sua resposta ou disposição para permitir que Deus o transforme à semelhança de Seu Filho, Jesus Cristo, é essencialmente importante se ele espera crescer no Senhor e caminhar diariamente em vitória sobre seu pecado. Existem cristãos que, a princípio, decidem não crescer.
Existem também aqueles que crescem lentamente, enquanto outros amadurecem mais rápido. Seja qual for o caso, Deus tenta transfor¬mar-nos da velha natureza carnal em uma nova pessoa, à semelhança de Cristo. Ele metodicamente nos despoja de todas as características do ego. Quanto menos existir de mim, mais espaço haverá para a personalidade de Jesus brilhar. Quando aprendemos a morrer para o ego, tornamo-nos cada vez mais como Cristo.
Deus pode usar muitos tipos de experiências em nossa vida para provocar essa transformação. Todos nós, conhecemos Romanos 8.28 e usamos freqüentemente esse versículo toda vez que as coisas vão mal. No entanto, a maioria de nós usa esse versículo fora de contexto. É o versículo seguinte que é a chave. Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8.28,29 - ARA). As palavras-chave nesta passagem da Bíblia são Seu propósito. Qual o propósito de Deus para Seus filhos? Serem conforme a imagem de Seu Filho. Conseqüentemente, todas as coisas (isto é, circunstâncias, provações, adversidades, sofrimento, perda etc.) são instrumentos para efetuar essa mudança divina interior. Deus deseja moldar-nos em "réplicas" de Jesus a fim de serem espalhadas por toda a terra como Seus vasos de misericórdia. Nossa parte nesse processo é aprender a morrer para o ego, de forma que Deus possa reinar livremente para nos fazer mais como Jesus Cristo, que deu a sua vida por nós (1 Jo 3.16).

NEGANDO A SI MESMO
O que todos os viciados sexuais têm em comum é uma falta de autocontrole. Eles não conseguem controlar seus desejos sexuais. Eles nunca aprenderam a "negar" a si mesmo. Na realidade, eles têm obsessivamente procurado o prazer a ponto de sacrificarem sem o menor remorso o caminhar com Deus, o casamento e a família no processo. Satisfazer todos os desejos tem sido a prioridade.
Contudo, Jesus disse: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará (Lc 9.23,24).
Vencer hábitos de pecado sexual exige mais do que simples¬mente exercitar o autocontrole, de outra forma não seria chamado de vício. A pessoa que luta nessa batalha deve aprender a dizer "não" às tentações quando elas surgem. Contudo, ainda existe mais.
A pessoa que caminha em vitória é aquela que aprendeu a "negar a si mesmo". Esse deve tornar-se um estilo de vida. Na verdade, Jesus exige isso de todos que confessam ser Seus seguidores. Negar-se a si mesmo significa pôr de lado o que nós desejamos fazer em cada área da vida e escolher, em vez disso, fazer a vontade de Deus. Essa obediência é gradualmente trabalhada no homem que prontamente se submete à disciplina de Deus, permitindo-O governar e controlar sua vida.
Descobri que grande parte das pessoas que são viciadas em algo em particular também não consegue exercitar o controle em outras áreas de sua vida. Por exemplo, comer demais é muito comum entre os viciados sexuais. Outros gastam com seu cartão de crédito sem levar absolutamente em consideração as conse¬qüências inevitáveis. Outros ainda se entregam aos esportes, entretenimento, ou qualquer número de buscas frívolas. Geralmente isso acontece porque o problema subjacente não é o vício sexual, mas a falta de controle, restrição e disciplina resultante de uma vida de auto-satisfação. Uma das chaves para vencer um vício é aprender a se conter em qualquer área da vida, não somente na do vício. Conforme a pessoa aprende a se conter em todas as áreas da vida, descobre que a tentação para ceder ao pecado sexual se enfraquece. Buscar outras formas de prazer só serve para fortalecer o vício porque a auto-satisfação simplesmente reforça o narcisismo.
Tomar sua cruz, como Jesus ordenou em Lucas 9.23, significa por fim à velha natureza — o ego. O Calvário representa a morte para o velho modo de viver. Como Paulo disse: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (2 Co 5.17). Algo deve ser drasticamente diferente na pes¬soa que vai a Cristo. Deve haver uma mudança fundamental e visível na natureza dela. A cruz do Calvário representa o fim de uma velha era e o prenuncio de uma nova. A meu ver, A. W. Tozer relata isso melhor:
A velha cruz é um símbolo de morte. Ela representa o fim abrupto e violento de um ser humano. Nos tempos romanos, o homem que pegasse essa cruz e se colocasse a caminho, já tinha dito adeus aos seus amigos. Ele não voltaria. Seria o fim de sua vida. A cruz não fazia acordo, nada modificava, nada poupava; ela matava tudo do homem, completamente e para sempre. Ela não tentava manter boas relações com sua vítima. Ela golpeava de uma maneira cruel e dura e, quando terminava seu trabalho, o homem já não existia mais.1

ORGULHO: O CÂNCER DA ALMA
A outra raiz do pecado sexual é o orgulho. Salomão disse: A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda (Pv 16.18). Parece que quanto mais orgulhosa uma pessoa é mais difícil se torna vencer o pecado sexual. Ser orgulhoso é simplesmente ser cheio do ego e ter um senso de valor próprio. Essa atitude deve ser seriamente tratada se a pessoa espera vencer o ego e seu pecado sexual conseqüente. C. H. Spurgeon disse:
O orgulho é tão natural ao homem caído que ele brota em seu coração como erva daninha em um jardim regado, ou afluem em um riacho. É um pecado que impregna tudo e sufoca todas as coisas como poeira na estrada, ou farinha no moinho. Cada toque seu é iníquo. Você pode abater essa raposa e pensar que a destruiu, e veja! Sua exultação é orgulho. Ninguém tem mais orgulho do que aquele que imagina que não têm. O orgulho é um pecado com mil vidas; parece impossível matá-lo.2

C. S. Lewis observou:

Quanto mais orgulho a pessoa tem, menos gosta do orgulho em outros. Na verdade, se você quiser saber o quão orgulhoso você é, a maneira mais fácil é perguntando-se: "O quanto não gosto quando outras pessoas me desprezam, ou se recusam a me notar, ou me tratam com superioridade ou se exibem?" O fato é que o orgulho de cada da pessoa está concorrendo com o orgulho de todas as outras. O orgulho é competitivo por natureza.3

William Gumall, o grande escritor puritano do século 17, deu uma descrição pavorosa do orgulho:

O orgulho foi o pecado que transformou Satanás, um anjo santo, em um demônio amaldiçoado. Satanás conhece melhor que ninguém o poder condenatório do orgulho. É de se admirar, então, que ele o use tão freqüentemente para envenenar os santos? Seu intento é faci¬litado porque o coração do homem mostra uma inclinação natural para isso. O orgulho, como a bebida, é inebriante. Um ou dois tragos normalmente deixa um homem inútil para Deus.4

Agora que a definição de orgulho foi firmemente estabelecida, vamos examinar como o orgulho é manifestado em nossa vida. Isso ajudará a vencer seu domínio.

UM ESPÍRITO ALTIVO
Quando se pensa na palavra altivo, vem rapidamente à nossa mente a imagem de uma pessoa rica e esnobe. No entanto, a Bíblia usa o termo para descrever qualquer atitude de "ser melhor que os outros". A pessoa não precisa ser rica para ser cheia de altivez. Considerar-se mais inteligente, mais bonito, mais forte ou mais capaz que os outros são todos aspectos de arrogância. Embora esse tipo de mentalidade seja encorajado em nossa cultura, não há lugar para ele no Reino de Deus. O salmista disse: Aquele que difama o seu próximo às escondidas, eu o destruirei; aquele que tem olhar altivo e coração soberbo, não o suportarei. Ainda que o SENHOR é excelso, atenta para o humilde; mas ao soberbo, conhece-o de longe (Sl 101.5; 138.6).
Pondere a realidade dessas declarações. Se nós, cristãos, temos arrogância em nossa vida, não nos podemos aproximar de Deus. Ele não nos tolerará! Quanto mais nos tivermos em alto conceito, mais nos distanciamos de Deus. O crente que persiste em sua arrogância está em uma posição terrivelmente perigosa.
Isso me faz lembrar de um homem que tivemos na casa de recuperação certa vez. Detesto dizer isso de uma maneira tão enfática, mas ele exalava arrogância! Você podia quase sentir a tensão quando aquele homem entrava na sala. Era óbvio, desde o dia de sua chegada, que ele se via superior aos outros em todas as áreas da vida. Como poderíamos ajudá-lo com essa atitude? Ele não estava disposto a se humilhar e foi embora depois de duas semanas.

ORGULHO AUTOPROTETOR
Um indivíduo com orgulho autoprotetor sente muita dificul¬dade em ser vulnerável aos outros. Ele é extremamente defensivo e se ofende facilmente. Essa pessoa se armou com um sistema elaborado de paredes e mecanismos de defesa, em uma tentativa de proteger-se da vulnerabilidade. Uma vez que a pessoa com orgulho autoprotetor é geralmente sensível por natureza, freqüentemente a menor ofensa a levará a "poupar-se" de mais danos. Conseqüentemente, as paredes de sua fortaleza pessoal ficam mais grossas e se tornam ainda mais impenetráveis a quaisquer "intrusos" radicionais.
Tiago disse: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes (Tg 4.6). A pessoa que luta com essa natureza protetora deve aprender a colocar sua confiança em Deus e entender que ser humilhada (que é o pior caso e raramente acontece) não é algo horrível, mas algo que Deus usará para seu próprio bem. Thomas A. Kempis disse:
É bom, às vezes, sermos contestados, embora tenhamos uma boa intenção. Essas coisas geralmente ajudam a obter humildade.5

A pessoa com paredes protetoras deve abrir sua guarda e perceber que é bom ser vista como algo menos do que perfeito. Na realidade, é uma experiência libertadora que a ajudará a se tornar uma pessoa mais segura e mais amorosa. Conforme aprende a se tornar mais vulnerável às outras pessoas, descobre que suas paredes muito altas e protetoras caem. Aquelas paredes representam o medo do homem que será substituído por uma preocupação maior para com os outros. Como o apóstolo idoso do amor expressou: No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor (1 Jo 4.18-ARA).
Josh tinha muito orgulho autoprotetor. Desde a infância, sempre foi demasiadamente sensível à correção das figuras de autoridade ou às piadas sarcásticas dos colegas. Quando ele procurou o Pure Life para ajuda, tinha enormes paredes construídas em torno de si. Ele não se permitia ser vulnerável em qualquer ocasião. No decorrer do programa da casa de recuperação, isso mudou. "O que real¬mente me ajudou foi ver o pessoal de apoio humilhando-se na frente dos homens, arrependendo-se de algo que eles pudessem ter feito e que não tinha sido o certo", disse Josh. "Passei a confiar neles quando vi que também estavam dispostos a admitir seus erros". Gradualmente, Josh aprendeu a expressar o amor de Cristo para aqueles ao seu redor.

ORGULHO INACESSÍVEL
A pessoa com orgulho inacessível não pode ser corrigida, reprovada ou confrontada em qualquer coisa. Ela fica visivelmente tensa sempre que é confrontada sobre áreas em sua vida que precisam ser corrigidas. Salomão disse: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á (Pv 9.7,8).
Uma pessoa orgulhosa e tola não será repreendida. Isso é lamen¬tável, porque o aconselhamento bíblico eficaz, que tende a ser confrontador, é essencial para o processo de crescimento de qual¬quer cristão que deseja vencer o pecado em sua vida. A pessoa com "orgulho inacessível" deve aprender a ver a correção como benéfica, em vez de tê-la como um ataque do qual ela deva vigorosamente defender-se. Ela deve estar disposta a ouvir o conselho de outros e permitir-se ser repreendido por eles quando necessário.

ORGULHO DE SER UM SABE-TUDO
O indivíduo com orgulho de sabe-tudo é normalmente muito talentoso, dotado e inteligente. Ele tende a pensar que pode fazer tudo, e, de muitas maneiras, normalmente ele pode! Suspeita muito da capacidade dos outros devido à visão presunçosa de si mesmo — seu ego incorrigível. Vê-se como o homem que tem todas as respostas, porque gosta de ter um alto conceito de si mesmo. Mas, na realidade, engana a si mesmo, acreditando que as outras pessoas não têm coisa alguma para ensinar-lhe. Desdenhosamente, ele não acredita na capacidade dos outros por causa de sua arro¬gância. Paulo disse: Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabe¬doria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia (1 Co 3.18,19).
Conseqüentemente, a pessoa com "orgulho de sabe-tudo" precisa aprender a humildemente pedir o conselho de outros. A vida de Burt mudou quando ele começou a fazer isso. Forte líder por natureza, sempre se colocou em posições de liderança. Realmente, era bastante talentoso em muitas áreas da vida. Contudo, Burt era também extremamente orgulhoso a respeito das próprias habili¬dades. O apóstolo Paulo disse: O saber ensoberbece, mas o amor edifica (1 Co 8.1b — ARA). Por fim, Burt começou a ver o egoísmo feio de sua atitude e a falta de amor que ele tinha para com aqueles à sua volta. Felizmente, por nossa sugestão, ele começou a pedir o conselho das outras pessoas para fazer coisas que era capaz de fazer sozinho. Esse pequeno exercício o ajudou tremendamente. Embora praticamente tivesse de amarrar sua língua com um nó quando a outra pessoa começava a ensiná-lo, pouco a pouco, ele tornou-se mais humilde.

ORGULHO AUTO-ENGRANDECEDOR
Um indivíduo dominado pelo orgulho auto-engrandecedor sente a necessidade de ser o centro das atenções. Ele não somente consegue que todos o notem, como também, normalmente, tem uma personalidade natural que atrai as pessoas. Ele geralmente é muito sociável e amante da diversão. Não somente gosta da atenção que recebe, mas as pessoas também gostam de lhe dar atenção!
Salomão disse: Louve-te o estranho, e não a tua boca, o estrangeiro, e não os teus lábios (Pv 27.2). A pessoa que luta com esse tipo de orgulho precisa aprender a desenvolver a mansidão. Em lugar de sempre se promover e certificar-se de que todo mundo está vendo suas boas obras, deve aprender a trabalhar silenciosamente para o Senhor e permitir que Ele o exalte. Tiago nos adverte: Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará (Tg 4.10).

ORGULHO DA REBELDIA
Aqueles que lutam com o orgulho da rebeldia são insubmissos às autoridades. Essa pessoa também é confiante em suas habilidades (como característica de alguém que tem o orgulho de sabe-tudo) e acha que ele é quem deve ser o líder. Coloca-se arrogantemente no mesmo nível daqueles a quem Deus colocou acima dele. Pode fazer declarações imprudentes como: "Eu escuto Deus, não os homens".
Desde a década de 60, a rebelião se alastrou na América. Em vez de aceitar ordens de um superior no trabalho ou na Igreja, a sociedade nos ensina a questionar continuamente as autoridades. Quão diferente é a perspectiva de Deus sobre a autoridade. Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles, é dito em Hebreus 13.17a (ARA), como quem deve prestar contas. Esse espírito rebelde também se infiltra na Igreja hoje. Precisamos aceitar humildemente nossa posição abaixo dos líderes que Deus estabeleceu para nós. Deus nos colocou sob o cuidado e a autoridade de um pastor, então, devemos submeter-nos à sua liderança como a Deus.

ORGULHO ESPIRITUAL
E, por último, ninguém com uma mentalidade "cheia de si" está do lado oposto ao que Jesus descreveu como sendo "pobre de espírito". Uma pessoa com orgulho espiritual imagina-se um gigante espiritual. Deus detesta o farisaísmo e o orgulho espiritual. Jesus ficou irado com os fariseus por causa de sua falsa piedade — sua aparência de santidade. Eles não eram mais pecadores do que os outros a sua volta, mas agiam como se fossem os principais modelos de santidade. No entanto, Jesus disse o seguinte sobre eles:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade. Mateus 23.27,28

Muitos na Igreja, hoje, agem da mesma maneira. Alguns se sentam presunçosamente nos bancos da igreja, julgando todos a sua volta para ver se eles se enquadram em seus "padrões". Outros são os "tipos superespirituais", que estão sempre ouvindo uma assim chamada "Palavra" de Deus, embora seu caminhar cristão seja freqüentemente caracterizado por instabilidade, compromisso, ou até desobediência aberta. Conseqüentemente, eles são espiri¬tualmente arrogantes, considerando-se estar em um nível de maturidade a que eles ainda não chegaram. É por esse motivo que eu creio firmemente que cristãos em pecado sexual não devem estar na liderança, uma vez que isso só servirá para promover seus egos. Paulo disse:

Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos. Romanos 12.3,16

O ESCAPE É A HUMILDADE
A humildade genuína é um fruto do Espírito decorrente do verdadeiro quebrantamento - o processo de quebrantamento do ego. Quanto mais houver da velha natureza em um crente, menos espaço haverá para Cristo ou Seus atributos. Martin Luther disse: "Deus criou o mundo do nada e, contanto que não sejamos nada, Ele pode fazer algo de nós".6
Andrew Murray declarou:
Essa é a verdadeira abnegação a qual nosso Salvador nos chama — o reconhecimento de que o ego nada tem de bom nele, exceto um vaso vazio que Deus deve encher. É simplesmente o senso de insigni¬ficância completa, que vem quando vemos o quanto verdadeiramente Deus é tudo, e no qual damos caminho para Deus ser tudo.7

Não é uma questão de ter uma alta ou baixa auto-estima. Qualquer pessoa que amadurece como um crente chegará por fim ao lugar onde a auto-estima é substituída pela Cristo-estima. Um homem não combate o baixo conceito que tem de si mesmo tentando elevar-se. A única resposta real para alguém que luta com a (assim chamada) baixa auto-estima é humilhar-se e permitir que o Senhor introduza um senso de segurança e realização, que é dado a qualquer filho de Deus que caminhe em obediência a Ele. Aproximar-se mais do Senhor resulta em uma diminuição propor¬cional da autoconsciência, que é vital para alcançar humildade de espírito por meio da direção do Espírito Santo.
Um dos temas do Novo Testamento é a condição de servo. Oh, quão estranho é o conceito de servo na Igreja hoje! Não é humildade o que a maioria deseja, mas a superioridade! Esforçar-se para obter honra faz parte de nossa natureza humana e parece praticamente inevitável. Até os discípulos, na noite anterior à crucificação do nosso Salvador, discutiram entre si sobre quem seria o maior. Jesus lhes respondeu: Mas não sereis vós assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve (Lc 22.26). Em João 13, Jesus Se ajoelhou e lavou os pés deles. O Senhor estava mostrando-lhes, por meio desse ato de servidão e abnega¬ção total, como ser um servo. Ele disse:

Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes. João 13.13-17

Lavar os pés não é popular na Igreja hoje. Eu sei, não devemos ser legalistas e achar que nos devemos ajoelhar e lavar os pés uns dos outros... Então, novamente, talvez não fosse uma má idéia afinal! Se nosso humilde Salvador fez isso, certamente nos podemos humilhar e fazer o mesmo. Lembro-me da primeira vez em que me coloquei de joelhos e lavei os pés dos homens na casa de recuperação. Minha carne hesitava pelo horror da idéia! Eu sabia que o Espírito Santo me cutucava suavemente, então me obriguei a fazer isso. E sabe de uma coisa? Foi uma experiência libertadora! Fiquei abismado ao descobrir o quanto era bom deixar de lado minha imagem cuidadosamente protegida. O que as pessoas pensa¬vam de mim, de repente, não tinha importância alguma. Tal ato de servir fará muito, tanto pela pessoa que tem um ego inflado e orgulho, quanto para o pecado que acompanha os dois.
Tornar-se um servo é uma atitude que a pessoa deve desen¬volver. Envolve um estilo de vida de pôr os outros antes de si mesmo. O orgulho e o narcisismo estão tão entrelaçados em nosso ser que é virtualmente impossível lidar com um sem lidar com o outro. Até que a pessoa aprenda a colocar os outros antes dela mesma, nunca estará verdadeiramente livre do desejo de satisfazer sua carne egoísta. Humilhar a si mesmo por meio de atos de servidão é uma das maiores ferramentas que Deus nos deu para vencer a vida narcisista. O narcisismo é a base para o vício sexual desenvolver-se. Viver atento às necessidades dos outros e ter um coração de servo minará completamente a vida narcisista e neutralizará a tentação poderosa de cobiçar mais pelo que é proibido.

Capítulo 8
A LIBERDADE VEM AOS POUCOS POR UMA RAZÃO

Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tributação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente. 2 Coríntios 4.16,17

Deus transforma o homem de duas maneiras distintas: ou por meio de um milagre, que acontece instantaneamente, ou por meio de um processo de mudança ao longo de um extenso período. Muitos viciados em drogas que persistiram em seus hábitos por anos foram libertados instantaneamente quando aceitaram ao Senhor. Deus nem sempre escolhe lidar com eles dessa maneira, embora eu tenha ouvido falar de muitos casos em que Ele fez assim.
Contudo, o Senhor quase sempre lida com aqueles em pecado sexual por meio de um processo gradual, bem organizado, de transformar o homem em uma nova criatura. Em todos esses anos aconselhando homens que estavam lutando com pecado sexual, pude contar nos dedos aqueles que foram instantanea¬mente libertados.
Da mesma maneira que o homem normalmente levou anos para se emaranhar nessa bagunça espiritual, levará algum tempo para sair dela. Na sociedade "automatizada" de hoje, em que as pessoas são curadas de suas doenças rapidamente, nós nos acostumamos a esperar resultados imediatos para tudo o que desejamos. Como resultado, as pessoas ficam geralmente impacientes com a programação de Deus. Como exploraremos nesse capítulo, você verá que existem bons motivos para a mudança não acontecer rapidamente.
Uma das coisas que devemos perceber é que, se Deus nos libertasse imediatamente, então seria muito mais fácil retornarmos aos velhos hábitos. No entanto, quando a pessoa tem de lutar e esforçar-se para quebrar o domínio poderoso do pecado, ela valo¬rizará a liberdade que conseqüentemente terá. Lembro-me da ocasião em que deixei de fumar pela primeira vez, quando aceitei ao Senhor. Kathy e eu estabelecemos uma data para parar de fumar e nos preparamos para uma grande batalha. Planejamos passar o dia caminhando, esperando aliviar parte da tremenda carga de tensão que esperávamos. Quando chegou finalmente o dia, foi quase uma decepção. Não havia batalha alguma. Foi muito fácil! Eu estava trabalhando na prisão algumas semanas depois quando me encontrei em uma situação estressante. Outro delegado estava fumando um cigarro e fiquei tentado a fumar também. Lembro-me de ter pensado que parar de fumar foi fácil, então, por que não? Comecei a fumar de novo, mas da outra vez que parei de fumar tive de trabalhar por isso!
Todas as dores pela qual minha esposa e eu passamos teve um efeito real em mim. Isso me capacitou a ver mais claramente as conseqüências de meu pecado. Durante aquele tempo de combate às tentações do pecado sexual, determinei-me a resistir a elas, em parte por causa do preço que já havia pagado. Eu simplesmente não queria ter de pagar tal preço novamente; conhecia o resultado final muito bem.

CONFIANÇA EM DEUS
Também, durante o processo diligente, reformador, Deus está ensinando o homem a confiar totalmente nEle. Nunca me esque¬cerei da passagem da Bíblia que Deus me deu quando eu estava lutando desesperadamente nesse processo. Foi algo que Paulo relatou quando ele estava em lutas. E disse-me: A. minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo (2 Co 12.9). Embora, na ocasião, eu não conseguisse entender como isso poderia aplicar-se à minha situação, sabia que era de Deus, e eu não tinha outra escolha, a não ser esperar paciente¬mente nEle para me libertar. Durante o período de fraqueza e debilidade total, tive de depender totalmente dEle. Como delegado, fui treinado para lidar com qualquer situação que se apresentasse. Agora, eu não podia mais confiar em mim mesmo para tratar de meus problemas dentro ou fora do trabalho. Deus me mostrou que eu não podia vencer sem Ele; Ele teve de fazer isso, e eu tive de esperar nEle.
Deus é o Artesão-mestre e usa realmente o pecado de um homem para, no fim, trazê-lo para mais perto dEle. As conseqüências do pecado de um homem são geralmente instrumentos para fazê-lo cair de joelhos, de forma que clamará desesperadamente ao Senhor por ajuda. Ser totalmente impotente sobre o pecado torna um homem dependente de Deus. Se ele pudesse deixar seu pecado por si mesmo, por que, então, precisaria do Senhor? Conseqüentemente, Deus usa as circunstâncias para ensinar o homem a depender total¬mente dEle e para convencê-lo da verdade que o salmista escreveu: Vão é o socorro do homem (Sl 60.11b).

O TEMPO DE DEUS
Devemos também perceber que Deus lida com o homem em Seu próprio tempo. Ele sabe quando cada pessoa está preparada para o passo seguinte na jornada para a liberdade. A pessoa que lida com pecado sexual freqüentemente não consegue ver além do pecado aparentemente insuperável em sua vida. Ela deseja ser libertada de seu pecado e do sofrimento associado a ele. Contudo, Deus vê o coração do homem e seu futuro inteiro. Ele sabe que existem muitas questões profundamente arraigadas que devem ser expostas e subseqüentemente tratadas. Geralmente, Deus está mais preocupado em expor e expelir as questões subjacentes do coração do que com o pecado externo com o qual a pessoa luta. Uma vez que o homem O busca para ajuda, o Senhor pode usar esse período crítico de sua vida para revelar outras áreas que estão ajudando e estimulando seu vício constante em sexo.
Ignorando o fato de que Deus tem planos muito maiores para sua vida, o homem preso em pecado habitual é propenso a se preocupar somente em ser libertado. Contudo, libertá-lo das garras de seu pecado sexual é somente uma parte do que o Senhor deseja fazer em sua vida. Por exemplo, a falta de amor que o homem demonstra por aqueles ao seu redor poderia parecer uma questão secundária, mas é um assunto de extrema importância para o Senhor. Sim, Ele quer ver o homem libertado, mas Ele também está interessado no caráter desse homem depois que ele for "libertado" de seu pecado. Será que ele transferirá seu narcisismo para o trabalho, sentindo uma necessidade compulsiva de trabalhar muito? Será que viverá o resto de sua vida sem se preocupar com as almas perdidas ao seu redor, que estão indo para o inferno? Continuará a ser narcisista com sua família? Aqueles que trabalham com ele terão de continuar suportando seu temperamento? Como o escritor de Hebreus nos exorta: Deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia (Hb 12.1b). Como foi discutido no último capítulo, o problema subjacente do vício sexual é o narcisismo. Deus deseja usar esse período da vida do homem para trabalhar em sua natureza narcisista e orgulhosa. O homem em pecado freqüentemente não consegue ver além da liberdade imediata que ele deseja, mas o Senhor vê os resultados a longo prazo.
A medida que o homem passa pelo processo de restauração, Deus tenta produzir e cultivar o fruto do Espírito. Ele espera que aquele homem possua um grande amor de Deus pelos outros. O Senhor quer ver sua vida cheia de paz e alegria verdadeira, que só pode vir do Espírito. Ele ensina ao homem o enorme valor de ser paciente com as outras pessoas. Durante esse período, Ele também desenvolve sua fé, instilando bondade e transformando seu caráter insensível em um caráter bondoso. Sim, Ele até desenvolve o autocontrole divino, que pode resistir às tentações do inimigo.
Contudo, uma vida transformada da degradação e inutilidade total para uma vida frutífera e com propósitos não é poupada da experiência da dor. A libertação do vício sexual envolve também a perda pessoal. O verdadeiro vencedor deve romper com certos relacionamentos, lugares e coisas que eram intimamente associadas ao seu estilo de vida pecaminoso. Isso é extremamente difícil e geralmente traumático para o viciado sexual que, durante muitos anos, procurou em seu pecado o conforto e o prazer, e o via como um escape do mundo real. O homem invariavelmente se vê lamentando a perda, não apenas do prazer do pecado, mas também dos outros elementos que acompanhavam o estilo de vida daquela transgressão. A verdade é que a idolatria do pecado sexual roubou o direito legítimo de Deus na vida do homem, levando-o a voltar-se para seu "ídolo" como um motivo para a vida e para sempre correr em busca de conforto. Este se tornou um santuário da dor da realidade. O homem tem adorado neste altar por muitos anos.

APRENDENDO A LUTAR
Existe um aspecto do cristianismo descrito no Livro de Apocalipse que deve ser mencionado aqui. Nos capítulos dois e três, João é instruído a escrever cartas para sete igrejas que esta¬vam localizadas na Ásia. Essas sete cartas cobrem todas as lutas gerais que as igrejas encontraram ao longo dos séculos. Grande parte dos estudiosos concorda que essas cartas representam os tipos diferentes de igrejas que existiram com o passar do tempo. Uma frase é repetida no final de cada carta: "Ao que vencer". Sete aspectos diferentes da vida eterna são, então, prometidos para cada igreja vencedora.
A palavra grega que traduzimos como vencer é nikao, que significa conquistar ou subjugar. Ela vem da raiz nike, que sig¬nifica vitória. Assim, aprendemos que os cristãos são destinados a conquistar ou subjugar algo. Alguns sinônimos para a palavra conquistar são sobrepujar, prevalecer, dominar, subjugar e esmagar. Esses termos descrevem o tipo de vida que o cristão deve viver e experimentar.
Ao longo de sua jornada cristã, o crente constantemente enfrentará obstáculos para ter uma vida santa. Como discutirei depois, grande parte desses obstáculos está dentro de sua própria carne. Outros são colocados em seu caminho pelo espírito deste mundo. Seja qual for a fonte de oposição, espera-se que ele vença essas armadilhas. Paulo falou de combater o bom combate (1 Tm 1.18; 6.12), batalha travada (Rm 7.23), armas da nossa milícia (2 Co 10.4), nossa luta (Ef 6.12) e sermos um soldado em serviço (2 Tm 2.4). Pedro disse que nos devemos abster das concupiscências da carne, as quais combatem contra a alma (1 Pe 2.11). Tiago declarou que são dos vossos deleites que nos vossos membros guerreiam? (Tg 4.1). Não há duvida alguma de que o cristão deve aprender a guerrear contra os próprios desejos carnais e tentações apresentados pelo inimigo.
Uma ilustração disso encontra-se no Antigo Testamento, no Livro de Juizes. De acordo com as Escrituras, Deus real¬mente permitiu que nações iníquas, que adoravam demônios, permanecessem na Palestina. A razão: Estas, pois, são as nações que o SENHOR deixou ficar, para por elas provar a Israel, a saber, a todos os que não sabiam de todas as guerras de Canaã. Isso tão-somente para que as gerações dos filhos de Israel delas soubessem (para lhes ensinar a guerra), pelo menos as gerações que, dantes, não sabiam disso (Jz 3.1,2).
A terra da Palestina antiga estava cheia de cultos da fertilidade. Os israelitas foram forçados a guerrear contra o povo que lhes havia oferecido o que eles queriam. Ao longo da história da nação de Israel, o povo vacilou de um lado para o outro entre a adoração a Jeová e a adoração aos ídolos. Deus poderia simplesmente ter feito chover fogo do céu sobre todos aqueles idólatras, mas, em vez disso, Ele disse a Seu povo que os expulsasse. Esse tipo de combate mortal no mundo natural é um exemplo típico das batalhas travadas no reino espiritual pelo crente do Novo Testamento cujas armas [...] não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas (2 Co 10.4b).
Conseqüentemente, o viciado sexual cristão deve travar uma guerra contra os inimigos de sua alma: Destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo (2 Co 10.5). Ele deve esforçar-se para abandonar a dicotomia amor-ódio de seu relacionamento com o pecado. Sua carne ama isso e quer persistir, embora ele entenda o mal disso e aspire a que Deus o liberte. Ele clama ao Senhor e, então, um dia ou dois depois, está de volta ao seu pecado. Em vez de lhe dar uma libertação instantânea ou um "escape" desejado, o Senhor deseja que ele aprenda a guerrear contra isso. Para quê? Para que ele aprenda a odiar a iniqüidade como o Senhor a odeia. Como qualquer bom soldado, o homem que vence deve suportar e ainda permanecer no combate até o fim, dependendo exclusivamente da ajuda do Senhor. Por fim, ele desenvolverá verdadeiramente uma indignação justa (isto é, ódio) por seu pecado e as iniqüidades que guerreiam contra sua alma.

QUANTO TEMPO LEVARÁ?
Um indivíduo que está lidando com o vício sexual precisa entender que leva algum tempo para vencer esse pecado. A derrota desse vício só começará quando ele aceitar o fato de que precisa mudar sua desregrada vida sexual. O tempo que levará depende de duas coisas que discutirei neste capítulo.
A primeira é a intensidade de seu envolvimento com o pecado sexual. A pessoa tem feito isso há anos? Ela esteve negando seu problema? Tem-se recusado a assumir a responsabilidade por seus atos? O quanto profundamente entrou em degradação? Se houver uma prova de que o vício profundamente arraigado existe, será longo o tempo que levará para afrouxar o controle poderoso que aquele pecado tem sobre ele. Nesses casos, o vício cresceu tanto que se tornou profundamente enraizado em seu ser, que se tornou uma grande parte de quem ele é. E compreensível o quão assustador pode ser para ele renunciar algo que identifica como parte de sua natureza.
Se o problema dele não foi além da pornografia e/ou masturbação, então ele é realmente afortunado. Vencer o hábito da masturbação é muito mais fácil que subjugar um vício arraigado como o da homossexualidade, por exemplo. Quanto mais o homem tiver-se afundado na "espiral da degradação", mais difícil será sua escalada. Desse modo, quanto mais extensa a perversão, maior será a batalha, uma vez que Deus procura restaurá-lo à sanidade.
O outro fator é a determinação da pessoa em ser livre a qualquer custo. Pessoalmente, prefiro trabalhar com alguém que tenha problemas existentes há muito tempo, mas é honesto consigo mesmo e está determinado a suportar qualquer coisa para ter a vitória real. Às vezes, o homem com o pior vício é aquele que encontra a maior liberdade. Entendendo sua necessidade, ele sabe que deve encontrar seu caminho para Deus, não importa o que tenha de passar.
Por outro lado, lidei com pessoas cujos problemas não eram tão graves, contudo, nunca pareciam fazer progressos. Alguns simplesmente faziam um pequeno esforço ou, às vezes, nenhum para encontrar a vitória. Outros faziam da vitória o centro da vida deles, mas olhavam para os lugares errados. Vamos examinar a vida de Ben. Embora seu estágio de vício não fosse extremo, embora se esforçasse muito para abandoná-lo, ele teve poucos resultados. Ben colocou em sua cabeça que a abordagem bíblica era muito simplista e decidiu seguir a rota secular de 12 passos.
Tentei persuadi-lo de que somente Deus poderia libertá-lo e de que precisaria depender somente dEle, mas ele ignorou meus conselhos. Ele entrou em um "grupo de 12 passos" em sua cidade e, aparentemente, está na mesma condição em que estava há quatro anos.
Nesse ínterim, aqueles que se lançaram aos pés do Senhor tiveram resultados maravilhosos!

VENCENDO A MONTANHA
Subir a montanha íngreme, escarpada para a liberdade, levará tempo, mas a perseverança, com a determinação para ganhar a liberdade a qualquer preço, dará resultados! Pode levar um tempo, mas a vontade de Deus é libertá-lo.
Alguns experimentam a liberdade assim que têm um escape estruturado. Aconteceu assim com Lance. Ele me ouviu quando tive meu primeiro programa de rádio em Sacramento. Era como se ele pudesse afastar-se e ficar bem longe de seu pecado a qualquer hora antes disso, mas ele apenas precisava ser reafirmado. Ele veio para nossa primeira reunião e nunca mais relembrou seu velho estilo de vida. Lance teve a maturidade espiritual para vencer e só precisava ser instilado com a esperança de que podia.
No entanto, outros exigem mais tempo, mas conforme com¬batem, os períodos de pureza sexual irão tornar-se cada vez mais longos. Foi assim em minha vida. No decorrer dos anos em meu ministério, não encontrei muitos homens que fossem mais obcecados e fora de controle com a atividade sexual do que eu. Eu havia chegado a um ponto em que me entregara completa¬mente à satisfação sexual. Minha batalha para sair daquela cova não foi fácil. Não obstante, estava determinado a ser libertado. A princípio, o vício parecia uma subida em uma montanha traiçoeira. Quando relembro o processo pelo qual passei, vejo agora que os passos descritos neste livro eram uma escada levando diretamente para o cume daquela montanha.
Sim, um enorme pináculo se assomava sobre mim. É claro que era demasiadamente alto para eu simplesmente saltar por cima. Sem dúvidas, quanto mais olhava para ele, mais impossível parecia escalá-lo. Como fiz então? Simplesmente dei um passo de cada vez. Todos os dias, eu acordava e me propunha a fazer o melhor. Se fracassasse, isso significava simplesmente que havia deslizado alguns passos. Não levava muito tempo, e lá estava eu de volta naquele lugar na escada, dirigindo-me para o alto. Tudo o que eu precisava fazer era manter meus olhos no degrau à minha frente, esquecendo-me de quão alta era aquela montanha e continuar minha subida.
Não demorou muito para eu conseguir olhar para trás e ver que já tinha trilhado um longo caminho. Embora ainda escorregasse de vez em quando, estava mais perto do Senhor do que nunca estive, e os deslizes eram menos freqüentes. Sim, eu havia feito um progresso considerável. De certo modo, quando considerava o quanto já tinha avançado, a distância que havia à minha frente não parecia mais impossível. Comecei a ter esperança.
Por fim, depois de continuar implacavelmente minha busca por degraus mais altos e seguindo diariamente os passos descri¬tos mais adiante neste livro, dizer "não" à tentação tornou-se mais fácil e mais automático em alguns casos. "Não, realmente não quero ir ao sex shop hoje!" Minhas vitórias pessoais sobrepu¬javam as derrotas.
Certa ocasião, suportei vários meses somente para me ver de novo em meu pecado. Eu tinha aprendido a viver sem sexo ilícito, mas fui pego em um dia particularmente de "fraqueza" e sucumbi à tentação. O que se seguiu foram algumas semanas de grandes lutas. Todavia, esta se mostrou ser minha última tentativa. Quando me afastei naquela vez, foi para sempre. Embora depois disso eu ainda tivesse lutas ocasionais, o pecado havia perdido o controle sobre mim.
Eu havia subido aquela montanha e nem sabia disso. Foram necessários vários meses levando uma vida pura para perceber que o pecado sexual não tinha mais controle sobre mim. Eu estive tão focado nos degraus à minha frente, que me esqueci de olhar para o topo da montanha. Ela não estava mais lá! Estava atrás de mim!
Fico imaginando o que teria acontecido sem os passos descritos neste livro. Eu provavelmente teria permanecido no degrau mais baixo, olhando para cima desanimado. Eu teria desejado transpor o cume daquela montanha, mas não sabendo como fazer isso. Oh, eu teria feito uma tentativa ocasional de escalar; mas, sem uma direção clara, teria sido simplesmente um esforço infrutífero. Eu teria vagado sem objetivo ao longo da base da colina, não sabendo qual caminho tomar e não tendo coisa alguma para me agarrar. Eu poderia ter corrido para cima da encosta da montanha, cheio de determinação e com grande esforço. Apesar disso, logo me cansaria e recuaria colina abaixo, mais exausto e desencorajado do que nunca.
Posso testemunhar que o único caminho para transpor essa montanha é simplesmente escalar assiduamente, alguns passos de cada vez, um dia de cada vez - avançando sempre, mantendo os olhos em Deus e fazendo o melhor a cada dia. A menos que Deus escolha realizar algum outro milagre, este é o único caminho para transpor essa montanha.

LIDANDO COM A CULPA
Mais uma vez, vencer uma montanha enorme como a do pecado sexual compulsivo não acontece rapidamente. Como o homem luta para vencer, ele terá de aceitar o fato de que pode ocasionalmente deslizar. Eu disse aceitar o fato, mas não usá-lo como desculpa para deliberadamente ceder ao pecado! Toda vez que alguém cede ao pecado, afasta-se mais de Deus. Então suportará mais dor e angústia para compensar o terreno perdido. Por favor, perceba e entenda que há um preço a se pagar pelo fracasso. Entretanto, isso é necessário. Cada fracasso só intensificará o ódio por seu pecado. Se e quando você falhar, será importante não entrar em pânico e desistir. Nada excita mais o inimigo do que tentar alguém em pecado e, então, esbofeteá-lo com conde¬nação e culpa.
Porém, o equilíbrio adequado deve ser mantido. Se a pessoa não experimenta um senso de culpa, ela nunca se sentirá compelida a mudar. Por outro lado, se ele sentir-se oprimido pela culpa, simplesmente perderá a esperança e desistirá em derrota. Culpa é um sentimento colocado em nossa consciência por uma boa razão. Se não experimentássemos um sentimento de culpa quando fizéssemos algo errado, nunca seríamos condenados e, assim, nunca saberíamos a diferença entre o certo e o errado. A culpa sobre o pecado é uma resposta natural a ele.
Mas Deus providenciou algo para o nosso "errar o alvo". Tudo o que precisamos fazer é confessar a Deus a iniqüidade de nossos atos, pedindo-Lhe que nos perdoe, e o pecado será imediata¬mente esquecido para sempre. A Bíblia diz: Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). Quanto está longe o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões (Sl 103.12). Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1a).
Conforme passamos por esse processo de entrar em liberdade, vamos manter nossos olhos no Senhor, não no pecado. Se sempre nos focarmos em quão mal estamos indo ou em nosso comporta¬mento pecaminoso passado, nunca perceberemos vitória alguma. Como descobriremos mais adiante no livro, a graça de Deus tem o poder de conduzir-nos por esse processo e trazer-nos para o outro lado, livres do domínio do pecado.

Capítulo 9
O QUANTO VOCÊ SE IMPORTA?

Ainda assim, agora mesmo diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em beneficência e se arrepende do mal. Joel 2.12,13

O quão ardentemente você quer ser transformado? Você está desesperado o suficiente para fazer o que for preciso para ser libertado dos laços que o amarraram? Grande parte do restante deste livro oferecerá passos práticos e técnicas que você pode utilizar à medida que começar sua vida como um cristão vencedor. A verdadeira libertação não acontecerá se você não prestar atenção aos passos oferecidos. É tão simples quanto isso.
Na passagem acima, o Senhor compele Seu povo, por inter¬médio do profeta Joel, a converter-se para Ele com todo o seu coração. Ele sabia que compromissos indiferentes não eram suficientes. Se o seu problema se parece, de qualquer modo, com o que o meu era, você tem sido, sem dúvida, uma pessoa desinteressada ou até mesmo rebelde há anos. Eu oscilava entre querer ser um homem cristão casado e feliz e ainda querer ser um "solteiro liberal". Mesmo após minha conversão a Cristo, que foi uma experiência muito real, continuei resistindo em fazer aquelas coisas necessárias para trazer minha libertação do pecado sexual.
Naturalmente, você tem uma tremenda vantagem sobre mim. Aprendi esses passos de um modo duro. Se eu tivesse tido as diretrizes específicas esboçadas neste livro, o tempo que levei para dominar meus modos de vida pecaminosos teria sido tremen¬damente menor. Não sabia se conseguiria mudar! Eu não sabia de ninguém com o mesmo problema que tivesse conseguido dominá-lo. Mas você sabe! Só isso já lhe deve dar uma grande esperança e encorajamento. Você pode ser libertado de sua escravidão. Não estou dizendo que será fácil, mas você poderá mudar se estiver disposto a seguir os passos esboçados. Worthen discute essa mudança:

REALMENTE QUEREMOS MUDAR? Quando chegamos ao ponto em que percebemos que nossos esforços não nos estão levando a lugar algum, aceitamos a conclusão de que não podemos mudar a nós mesmos. A pergunta seguinte a fazer é: "Realmente queremos que nossa vida seja diferente?" Geralmente Deus não opera muito em nossa vida até que sejamos honestos com Ele. O Senhor sabe se estamos pedindo a libertação quando realmente não a queremos. Freqüentemente, investimos em nossos problemas. Passamos anos ajustando-nos confortavelmente a nossa situação. Continuar com nosso pecado tem seus benefícios: temos a compaixão dos outros, permite que escapemos das responsabilidades e fornece-nos uma forma de excitamento. Geralmente, preferimos reorganizar nosso pensamento para acomodar nosso pecado a atacar um problema aparentemente impossível. Se a mudança não estiver ocorrendo em nossa vida, precisaremos admitir que realmente não a queremos.
CAUSAS PARA A MUDANÇA. Enquanto alguns de nós não querem mudar, outros desejam verdadeiramente. Contudo, ainda caímos no padrão sucesso/fracasso. Às vezes, a questão subjacente consiste nas nossas causas. Podemos querer ser libertados da homossexualidade somente por causa do estigma relacionado ao nosso pecado. Sentimo-nos embaraçados ao nos vermos como uma pessoa "desajustada".

Gostaríamos de ter uma vida sem problemas, de forma a nos orgulhar de nós mesmos e ter o respeito dos outros... É verdade que Deus usa a humilhação, a inconveniência e as conseqüências desagradáveis do pecado em nossa vida para nos levar ao arrepen¬dimento. No entanto, a liberdade duradoura do pecado acontece quando nossas razões são puras: quando não queremos entristecer o Espírito Santo de Deus. Nosso desejo por um relacionamento pleno e rico com o Senhor é a motivação que abre o caminho para a mudança real!1

Você provavelmente está agonizando espiritualmente há muitos meses, queixando-se amargamente com Deus por sua vida ator¬mentada. Como mencionado antes, você não pode culpar Deus pelas escolhas infelizes que fez. Contudo, Ele irá transformá-lo, se isso é o que você deseja sinceramente. Se realmente quiser que Ele mude você... Isso tudo dependerá de sua disposição para permitir ao Senhor endireitar seus caminhos tortos. Você pode ter culpado outros por seus problemas há anos, mas agora é hora de ser forte, erguer-se com esforço próprio e determinar-se a derrotar esse pecado com a força e o poder de Deus! Ninguém mais pode fazer isso por você.
A imagem que me vem à mente é a de um pugilista levando socos de um outro lutador, quando subitamente, diz um basta àquilo e começa a dar uns golpes! Isso também deve acontecer com você. Você deve livrar-se dessa complacência e começar a dar uns golpes! Não é isso o que o Senhor estava dizendo por intermédio do profeta Joel: "Convertei-vos, jejuai, chorai e rasgai o vosso coração"? Essas são palavras de ação que descrevem uma pessoa determinada a conseguir o que ela precisa do Senhor. Vencer essa batalha exigirá esse tipo de compromisso sério. Como alguém pode saber que encontrará verdadeiramente a liberdade do pecado sexual fazendo essas coisas? O princípio divino "se então", como eu o chamo, garante que sim.

O PRINCÍPIO "SE ENTÃO"
Na Bíblia inteira, Deus fez uma multidão de promessas a Seu povo. Contudo, muitas dessas promessas dependem de o crente fazer algo primeiro. Embora nem todas tenham realmente as palavras "se então" contidas nelas, todas têm uma natureza condicional, que é entendida. Leia cada um dos versículos seguintes como se Deus estivesse falando diretamente com você:

E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscara minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. 2 Crônicas 7.14

Deleita-te também no SENHOR, e ele te concederá o que deseja o teu coração. Entrega o teu caminho ao SENHOR; confia nele, e ele tudo fará. Salmo 37.4,5

Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. Provérbios 3.5,6

Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos. Seja a vossa eqüi¬dade notória a todos os homens. Perto está o Senhor. Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Filipenses 4.4-7

Existe um tema em comum em todos esses versículos de promessas. Se fizermos algo, isto é, se nos arrependermos, confiarmos, regozijarmos, orarmos etc., então Deus fará algo por nós. O vício sexual não será vencido, se a pessoa ficar sentada e esperar que Deus envie um raio. O homem determinado deve começar a luta por si mesmo.
Deus decidiu que você seria salvo e, de repente, fê-lo ser um cristão? Talvez você não estivesse ciente disso. Talvez tudo o que você tenha visto foi que Ele começou a convencer o seu coração por intermédio do Espírito Santo. Ele graciosamente orquestrou as circunstâncias, de forma que você se voltasse para Ele. A chave é que, em um dado momento, você teve de dar um passo voluntário em Sua direção. Ao fazer isso, encontrou-O no altar, onde alegre¬mente foi recebido como Seu filho.
Esse mesmo princípio se aplica à vitória sobre o pecado. Devemos tomar o primeiro passo. Lembro-me da vida monótona que minha esposa levava quando ela trabalhava em um lugar que a fazia trabalhar mais do que as horas devidas, com péssimas condições de trabalho e ganhando muito mal. Ela detestava aquele emprego, e por um bom motivo! Era um lugar muito lúgubre para se trabalhar. Ela queria muito sair dali, mas não conseguia emprego em qualquer outro lugar. Um dia, Deus me revelou o motivo: ela tinha um comportamento errado no emprego. Freqüentemente chegava atrasada, fazia o trabalho negligente¬mente e geralmente encontrava alguma desculpa para sair mais cedo. Eu lhe disse que Deus nunca a mudaria daquele emprego até que ela mudasse sua atitude. Ela sabia que isso era verdade e determinou em seu coração ser a melhor funcionária que aquela empresa já tivera. Começou a chegar ao trabalho na hora certa e a produzir mais do que nunca. No decorrer de uma semana, uma grande companhia de seguros para a qual havia enviado o currículo alguns meses antes a contratou! Ela aprendeu uma lição valiosa dessa experiência. Poderia ter continuado a reclamar e ser ingrata, mas escolheu fazer o que o Senhor queria que fizesse, independente das circunstâncias. Deus honrou aquele compro¬misso e a abençoou muito. Ao olhar para as suas circunstâncias, você deve decidir se continuará no caminho fácil ou percorrerá a estrada que o Senhor pavimentou para você. Não será fácil, mas o princípio do "se então" garante que Ele honrará seu primeiro passo e irá ajudá-lo nessa luta.

CLAMANDO A DEUS
É importante entender que Deus ama tremendamente Seu povo e deseja ardentemente ajudá-lo. Quando alguém chega a ponto de querer desesperadamente que o Senhor remova o pecado de sua vida, começará a clamar a Deus por ajuda, que nunca está longe. Deus garante a liberdade para Seus filhos, mas é responsabilidade deles atender às condições. O princípio "se então" ajuda os santos em luta a reconhecerem que, se cla¬marem por Sua ajuda sem cessar, Ele responderá às suas súplicas. A persistência na oração foi estabelecida por Deus como o meio de receber Sua ajuda. Para explicar melhor essa verdade, Jesus contou as seguintes histórias que demonstram o benefício de ser audacioso.

Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo e, se for procurá-lo à meia-noite, lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho o que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar. Digo-vos que, ainda que se não levante a dar-lhos por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação e lhe dará tudo o que houver mister. Lucas 11.5-8

E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca desfa¬lecer, dizendo: Havia numa cidade um certo juiz que nem a Deus temia, nem respeitava homem algum. Havia também naquela mesma cidade uma certa viúva e ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. E, por algum tempo, não quis; mas, depois, disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra? Lucas 18.1-7

Ninguém entende plenamente tudo o que está envolvido na oração respondida ou em ser libertado da escravidão. Contudo, sabemos que, aqui, o Senhor nos deu princípios importantes nos quais podemos confiar para nos ajudar. Se você duvida que Deus realmente ouve o clamor de Seus filhos, examine essas passagens que ostentam Sua misericórdia:

Então, clamamos ao SENHOR, Deus de nossos pais; e o SENHOR ouviu a nossa voz e atentou para a nossa miséria, e para o nosso trabalho, e para a nossa opressão. E o SENHOR nos tirou do Egito com mão forte, e com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais, e com milagres. Deuteronômio 26.7,8

E os filhos de Israel clamaram ao SENHOR, e o SENHOR levantou aos filhos de Israel um libertador, e os libertou: Otniel, filho de Quenaz irmão de Calebe, mais novo do que ele. Juizes 3.9

Então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR, e o SENHOR lhes levantou um libertador: Eúde, filho de Gera, benjamita, homem canhoto. E os filhos de Israel enviaram pela sua mão um presente a Eglom, rei dos moabitas. Juizes 3.15

Então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR, porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro e por vinte anos oprimia os filhos de Israel violenta¬mente. E o SENHOR derrotou a Sísera, e todos os seus carros, e todo o seu exército afio de espada, diante de Baraque; e Sísera desceu do carro e fugiu a pé. Juizes 4.3,15

E sucedeu que, clamando os filhos de Israel ao SENHOR, por causa dos midianitas, enviou o SENHOR um profeta aos filhos de Israel, que lhes disse: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Do Egito eu vos fiz subir e vos tirei da casa da servidão. Juizes 6.7,8

Essas passagens são apenas alguns relatos da resposta de Deus para o clamor de Seu povo. Um sem-número de vezes, a nação de Israel esteve em dificuldades por causa da desobediência. Todavia, sempre que eles clamavam a Deus por ajuda, Ele os socorria. Sua situação pode ser muito parecida com a do povo de Israel. É por causa de sua desobediência que você está em apuros; não obstante, há um Deus misericordioso que ouve o clamor de Seus filhos.
Cheguei a pensar que todas as minhas idas ao altar, clamando pela ajuda de Deus era um desperdício de tempo. Então, quando reexaminei aqueles incidentes isolados, pude perceber que minhas idas ao altar contribuíram para realizar minha libertação! Se você realmente quer ser libertado da escravidão do pecado sexual, clame a Deus diariamente. Faça isso hoje! Faça isso agora! Seu clamor será ouvido!
Depois de Davi ter cometido o pecado de adultério com Bate-Seba, ele se humilhou e fez a seguinte oração:

Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias, Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal, para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares. Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniqüidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se conver¬terão. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Porque te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. Salmo 51.1-17

Se você começar a clamar a Deus no mesmo espírito, começará a vê-lO trabalhar em sua vida. Você deve aproximar-se dEle com um espírito quebrantado e arrependido, já tendo chegado ao "fim de suas forças", não fazendo as coisas de seu modo, mas humil¬demente clamando ao Senhor por ajuda. Novamente, Deus ouve o clamor de Seus filhos.
Para ilustrar como Deus responde às nossas orações, gostaria de contar uma história verdadeira que aconteceu há cerca de sete anos. Havia dois homens em uma igreja que, sem ter conhecimento um do outro, estavam lutando contra o vício sexual. Chuck ficou sabendo do Pure Life Ministries e imediatamente deu entrada no processo para entrar na casa de recuperação. Gene, o outro homem, era o pastor da mocidade da mesma igreja. O pastor líder havia acabado de descobrir que Gene tivera uma relação sexual com um dos adolescentes. Um amigo deu a Gene uma cópia antiga deste livro, que ele leu de uma só vez. A vida de Gene se desintegrava ao seu redor. Em seu estado desesperador, ele, com audácia, disse a Deus que, se o Senhor quisesse que ele fosse ajudado pelo Pure Life Ministries, então deveria fazer com que Steve Gallagher ligasse para a igreja naquele dia. Seu desafio para Deus não era uma tentativa de fazer prova com o Senhor ou estabelecer condições. Era sim¬plesmente a súplica urgente de um homem que não sabia mais o que fazer.
Gene não tinha conhecimento algum de que Chuck enviara uma ficha de inscrição para a casa de recuperação, e que eu a estava examinando naquela manhã. Por alguma razão inexplicável, em vez de colocar o número do telefone de sua casa na ficha de inscrição, Chuck colocou o número da igreja. Nunca me esquecerei do que aconteceu naquela manhã em que liguei. Coincidente¬mente, a secretária estava doente e não tinha ido trabalhar naquele dia, então, quando o telefone tocou, foi Gene quem atendeu.
— Victory Christian Center, bom dia. Posso ajudar?
Embora Gene estivesse muito perturbado por dentro, ele se obrigava a fingir no trabalho.
— Sim, posso falar com Chuck Green?, perguntei.
— Chuck é membro de nossa igreja, mas ele não trabalha aqui. No entanto, posso anotar o recado para ele. Quem gostaria de falar com ele?
— Meu nome é Steve Gallagher. Quando disse essas palavras, ouvi o telefone cair.
— Alô, você ainda está ouvindo-me?
Passaram-se dois longos minutos antes de Gene responder às
minhas perguntas.
— Você é Steve Gallagher, que escreveu Idolatria sexual?, ele perguntou incredulamente.
— Sim, sou eu.
Depois de ouvir a confirmação de que era eu, Gene começou a me contar a história toda. Dois dias depois, ele estava na casa de recuperação. No decorrer dos seis meses seguintes, a vida de Gene foi transformada, e ele foi, por fim, reintegrado ao minis¬tério. Certamente, Deus ouve ao clamor de Seus filhos!

A ORAÇÃO DA FÉ
Existe ainda um outro aspecto do clamor por ajuda que é muito importante. A oração da fé desempenha um papel importante na libertação definitiva dos viciados. A despeito do que alguns ensinam, fé não é algo obtido simplesmente por meio da negação da realidade (isto é, a pessoa doente que age como se a doença não estivesse lá etc.). O centro da fé cristã é Cristo, e nossa fé está intrinsecamente ligada a quem Ele é. O que a pessoa acredita sobre o Senhor determina tudo em sua vida como um cristão. Assim, na maior parte, nossa capacidade de crer no Senhor pela vitória está diretamente determinada por nosso nível de confiança nEle. Essa confiança fundamenta-se no conheci¬mento que se tem de Seu caráter. Deus está trabalhando, tentando instilar um senso de Sua lealdade aos Seus filhos. Aqueles que chegam a desenvolver um relacionamento mais íntimo com o Senhor descobrem que Ele é uma Pessoa meiga, amorosa. O texto a seguir é um trecho de meu livro The God who meets our needs [O Deus que conhece nossas necessidades]:
Tenho um amigo muito querido chamado Jerry. Ele tem quatro filhos e é um homem de Deus que tem, ao que me parece, uma paciência extraordinária. Quando um de seus filhos se comporta mal, Jerry calmamente e amorosamente lhe explica porque ele será castigado e, então, dá-lhe a punição exigida. Normalmente, seus filhos o vêem como um pai amoroso e bondoso. Se um deles precisa de algo, não tem medo de pedir-lhe. Na realidade, se for algo que ele sabe tratar-se de uma necessidade legítima, ele pede com muita confiança (talvez até demais, às vezes!). Por que essas crianças têm tanta confiança de que o pai responderá seus pedidos? É porque incontáveis vezes, no decorrer dos anos, ele tem provado seu amor e generosidade a eles. Eles confiam nele por causa de seu caráter provado. Assim, como cristãos, a base para crer na resposta da oração não é que somos capazes de resistir à dor sem se lamentar e de alguma maneira evocar a fé, reprimindo todos os pensamentos duvidosos, mas que acreditamos na bondade de Deus e em Seu desejo de suprir abundantemente nossas necessidades.
Não é isso exatamente o que Jesus nos ensina no Sermão da Montanha? Ele disse: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre. E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? (Mt 7.7-11).
A palavra crer no grego é pistos, que o Vine's Expository Dictionary [Dicionário Expositivo Vine] define como crer, também ser persuadido e, conseqüentemente, colocar a confiança, confiar, significa, neste senso da palavra, confiança, não mera crença.6

Outro dicionário vai mais além quando considera a razão para a confiança: Para persuadir, particularmente para mover ou atingir por palavras amáveis ou motivos.Para persuadir para sentimentos amáveis, para conciliar; para pacificar ou aquietar uma consciência acusadora; para conquistar, ganhar o favor ou fazer-se amigo de (alguém). 7

Isso me lembra um filme a que assisti há alguns anos, intitulado Conduzindo Miss Daisy. No filme, um homem negro é contratado para ser o chofer de uma mulher judia na Geórgia, durante a década de 50. Mal-humorada, arrogante e profundamente desconfiada de todos, a mulher trata todos à sua volta com desdém. O homem negro, um cristão devoto, humilha-se continuamente a ela durante seu longo relacionamento. No fim, depois de ambos envelhecerem juntos, ela derruba suas muralhas para que todos vejam seu amor e admiração por ele. Ele ganhou seu coração por sua humildade, lealdade e bondade.
Este é um retrato real do modo pelo qual o Senhor nos atrai para crer nEle. Deus nos ajuda, encoraja-nos e abençoa-nos todos os dias. No fim, o coração se enternece, e Ele ganhou outro para Si mesmo. Somente o coração mais duro poderia resistir a esse amor persistente.2
Um dos aspectos terríveis e assustadores do pecado é a incredu¬lidade que ele promove. Quanto mais profundamente arraigado o pecado, maiores as trevas da incredulidade. Muitos homens que procuram o programa de recuperação do Pure Life Ministries chegam muito céticos. Parte do problema, naturalmente, é que ouviram incontáveis promessas vazias dadas por aqueles que tentam atrair seguidores para seu sistema particular de recuperação. Não ficamos demasiadamente preocupados quando um homem chega com uma atitude cética porque sabemos que dentro de um mês, mais ou menos, ele verá a realidade de Deus, a qual produzirá muita esperança dentro dele. Existem sempre aqueles que não crerão no melhor de Deus. Eles são como o servo mau que Jesus disse ter tentado justificar sua preguiça colocando a culpa em Deus: Mas, chegando também o que recebera um talento disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste (Mt 25.24). Muitos preferem acreditar que Deus é severo para, de alguma maneira, justificar sua deso¬bediência. Como foi o caso do servo que escondeu seu talento, as desculpas não alterarão o curso da realidade no dia do ajuste de contas.
O fato é que o Senhor deseja muito ajudar o cristão em lutas e está disponível para oferecer o poder necessário para vencer, se o homem tão-somente se humilhar e pedir. A oração da fé diz: "Senhor, reconheço que é por minha culpa que estou nessa dificuldade. Venho ao Teu trono, procurando por misericórdia. Meu pedido não se fundamenta em qualquer mérito meu, mas em Teu grande coração. Eu creio no que a Bíblia diz sobre o Senhor. Tu és um Deus de misericórdia e compaixão, e eu creio que Tu me ajudarás nessa confusão por quem Tu és".
Essa é a oração que o Senhor responderá prontamente.

TERCEIRA PARTE
INFLUÊNCIAS

Capítulo 10
A CARNE PECADORA

Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias. Gálatas 5.19,20

Nos três capítulos seguintes, examinaremos as três forças que trabalham incansavelmente para compelir-nos em direção ao pecado. Elas são a carne, o mundo e o inimigo.
Vamos explorar primeiro a carne, que é a única influência das três, gerada dentro de nós. A Bíblia utiliza primeiramente esse termo como uma designação da humanidade. O texto de Gênesis 6.12 é um exemplo: a composição inicial do homem é carne, e, então, o termo usado representa o homem por toda a Palavra de Deus. Até no sentido espiritual, a pessoa está presa em seu corpo carnal, com a alma e espírito residindo dentro dela simultanea¬mente. Onde quer que o corpo do homem esteja, ali está o homem. Qualquer coisa que aconteça com o corpo, acontece com ele. Sua alma acompanha seu corpo. É o corpo do homem que nós vemos e interagimos.
Os seres humanos foram criados com certos desejos inatos, impulsos e apetites, como fome, sede e até o desejo por sexo. Se mantidos dentro dos limites adequados para os quais foram criados, todos são benéficos e extremamente vitais para a manu¬tenção da vida humana. Porém, "os desejos da carne" como Paulo os cunhou, não estão limitados aos desejos básicos descritos. Existem muitas coisas que a carne do homem deseja. Esses impulsos o incitam a buscar coisas que lhe darão conforto, satisfação física e prazer. Uma vez que a carne deseja somente o que lhe traz satisfação, os desejos da carne são narcisistas por natureza. Conseqüente¬mente, a indulgência a qualquer um deles tende a promover um nível tremendo de narcisismo dentro da pessoa.
O pecado é outro fator a ser considerado. A natureza física do homem não está preocupada em agradar a Deus. Ela só está interessada em conforto, prazer e na preservação do ego. Por isso, o homem que ainda não teve um encontro com Deus vive completamente sob o patrocínio de sua carne exigente. Os desejos da carne levam a pessoa a fazer coisas totalmente contrárias à natureza e ao Reino de Deus. O pecado, qualquer comportamento proibido por Deus, age como a influência governante dentro do homem. Na verdade, todo ser humano nasce com uma natureza corrompida inclinada para o pecado. Como mencionado no capítulo sete, todos nós nascemos com uma natureza caída, contaminada pelo pecado. É "o princípio interior do mal que possui nossa natureza e se apóia na vontade, além do alcance de nosso poder".1
Viver sob o domínio de uma natureza pecaminosa cria hábitos que, no fim, constituem um estilo de vida. Buracos fundos são cavados na vida de uma pessoa. Ela passa a responder conforta¬velmente a seus desejos íntimos. Quando vem a se tornar um cristão, as paixões da carne já governaram sua vida por muitos anos. Esses hábitos profundamente arraigados foram constan¬temente reforçados e fortalecidos pela velha natureza, que se acostumou a ter o próprio caminho. Quando o desejo pelo comportamento sexual brota dentro dela, ela se entrega ao desejo ardente sem pensar duas vezes. Novamente, o propósito funda¬mental da vida, até mesmo para o não-cristão mais respeitável, gira em torno do prazer, satisfação e autopreservação.
Quando uma pessoa nasce de novo, repentinamente uma nova influência é introduzida em seu ser. É o Espírito de Deus que passa a morar dentro dela. Enquanto que, antes, grande parte das decisões da vida era tomada com o objetivo de satisfazer seus desejos naturais, agora a pessoa recebe um sistema inteiramente novo de valor. Embora uma nova moralidade tenha sido instilada na pessoa, os desejos físicos da carne são ainda inexoráveis para exercer sua influência. Desse modo, encontramos Paulo angustiando-se com a antiqüíssima luta dos cristãos: Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis (Gl 5.17). Existe agora uma guerra acontecendo dentro da pessoa que não existia antes. Anterior¬mente, não existia batalha porque a carne desfrutava de liberdade total em sua influência.

NATUREZA DUPLA
É significativo notar que Jesus descreveu a experiência da conversão como "nascer de novo". De fato, grande parte do Novo Testamento descreve um processo de crescimento por meio do qual aqueles que são "bebês em Cristo" alcancem gradualmente a maturidade espiritual. Infelizmente, muitos cristãos permanecem imaturos por um tempo. No entanto, aqueles que crescem percebem a velha natureza carnal desvanecendo-se lentamente conforme vai surgindo uma nova natureza.
O homem é um ser que contém três partes: corpo, alma e espírito. A carne anseia pela satisfação a qualquer preço. Ela sempre busca o que é sensual e prazeroso. Não se preocupa com Deus, com a família, amigos ou ninguém mais. Só quer que suas concupiscências e seus desejos sejam completamente satisfeitos.
O espírito é um vazio dentro do ser de uma pessoa que é preenchido com o Espírito de Cristo na conversão. Ele almeja as coisas de Deus e anela pela satisfação espiritual. Ele só deseja fazer o que agrada a Deus. É aqui que nos angustiamos com culpa quando somos desobedientes ao Senhor.
Por fim, a alma (mente) é formada de emoções, vontade e intelecto. Quando a pessoa nasce de novo, a carne é uma força muscular poderosa. Comparativamente, o espírito é um fraco mal-alimentado! No entanto, conforme o cristão começa a amadurecer espiritualmente, o homem espiritual fica mais forte e com maior capacidade de subjugar o homem carnal, como Deus planejou.
É na alma que se trava a guerra entre a carne e o Espírito. Embora seja nosso intelecto e emoções que combatam, é a vontade que toma a decisão final. Deus deu a toda pessoa um livre-arbítrio para escolher o que é certo e o que é errado. A todo o momento, temos de decidir qual lado alimentaremos. Da mesma maneira que a carne fica mais forte quando a alimentamos com um viver sensual, nosso espírito fica mais forte quando é alimen¬tado com as coisas de Deus.
Quem você alimentará mais? Você alimentará seu homem carnal, deixando-o cada vez mais forte? Ou fortalecerá seu homem espiritual, que Paulo diz estar "sendo renovado?" O restante deste livro ensinará você a desenvolver metodica¬mente o homem espiritual. Conforme o homem espiritual vai sendo alimentado, fortalecido e renovado, o velho homem carnal gradualmente enfraquece até murchar. Esse é um dos segredos mais importantes para se libertar da escravidão sexual.
Tudo o que diz respeito ao cristianismo opõe-se diretamente à carne e aos seus desejos. A velha natureza carnal deseja uma vida que gire em torno do prazer. O cristianismo contradiz tal estilo de vida hedonístico. A carne deseja se ver jactanciosa e envaidecida. O cristianismo resiste ao orgulho. A velha natureza quer usar a "sabedoria do mundo". O cristianismo prega contra o raciocínio humano. Tudo o que a carne quer é contrário ao Espírito.
Paulo afirma que nos vestimos da nova natureza (Cl 3.10). Essa nova natureza deve ser alimentada diariamente pela Palavra de Deus por meio do poder do Espírito Santo. Talvez você já conheça o exemplo sobre o esquimó passando pela rua com dois huskies. Um homem lhe perguntou qual dos cachorros era o mais forte. Ao que o esquimó lhe respondeu: "O que eu alimento mais". Admito que, por minha força, sou absolutamente impotente sobre o vício sexual. Estou convencido de minha fraqueza porque falhei inúmeras vezes no passado quando as tentações me subjugaram. Porém, conforme minha mente se renovava a cada dia, meu ser espiritual era fortalecido. Para minha surpresa, descobri que realmente tinha duas naturezas muito distintas dentro de mim. Agora eu escolho alimentar a nova natureza que eu quero que dite o curso de minha vida.

A GUERRA INTERIOR
O cristão em lutas que ainda se sente fraco espiritualmente me faz lembrar de um filme que vi há muitos anos. O herói era um detetive de narcóticos que foi seqüestrado e teve heroína injetada em seu corpo. Você podia ver a determinação escrita em sua face. Ele queria escapar, mas seu corpo não cooperava. Ele reuniu toda a sua força e lutava para chegar até a porta, mas toda vez que ele tentava levantar-se, ele caía com a cara no chão. A pessoa fraca espiritualmente é assim também. As influências do mundo, a carne e o diabo parecem tão opressivos que cada vez que a pessoa tenta fazer direito, ela se vê fracassando muitas vezes. No capítulo sete de Romanos, Paulo descreve esta guerra que se passa dentro de todo verdadeiro cristão:

Não me compreendo de modo algum, pois realmente quero fazer o que é correto, porém não consigo. Faço, sim, aquilo que eu não quero — aquilo que eu odeio. Eu sei perfeitamente que o que estou fazendo está errado, e a minha consciência má prova que eu concordo com essas leis que estou quebrando. No entanto, não o posso evitar por mim mesmo, porque já não sou que estou fazendo. E o pecado dentro de mim, que é mais forte do que eu e me obriga a fazer coisas ruins. Eu sei que estou completamente corrompido no que diz respeito à minha velha natu¬reza pecaminosa. Seja para que lado for que eu me volte, não consigo fazer o bem. Quero, sim, mas não consigo. Quando quero fazer o bem, não faço; e quando procuro não errar, mesmo assim eu erro. Agora, se estou fazendo aquilo que não quero, é simples dizer onde a dificuldade está: o pecado ainda me retém entre suas garras malignas. Parece um fato da vida que, quando quero fazer o que é correto, faço inevitavelmente o que está errado. Quanto à minha nova natureza, eu gosto de fazer a vontade de Deus; contudo existe alguma coisa bem no seu íntimo, lá em minha natureza inferior, que está em guerra com a minha mente e ganha a luta, fazendo-me escravo do pecado que ainda está dentro de mim. Em minha mente desejo de bom grado ser um servo de Deus, mas, em vez disso, vejo-me ainda escravizado ao pecado. Assim, vocês podem ver como isto é: minha nova vida manda-me fazer o que é correto, porém a velha natureza que ainda está dentro de mim gosta de pecar. Que situação terrível, esta em que eu estou! Quem é que me livrará da minha escravidão a essa mortí¬fera natureza inferior? Mas, graças a Deus! Isso foi feito por Jesus Cristo, nosso Senhor. Ele me libertou. Romanos 7.15-25 BV

O IMPULSO FÍSICO
Nada existe de errado com o sexo, desde que limitado à inti¬midade entre um homem e sua esposa. Deus deseja que os casais, dos quais Ele Se deleitou, deleitem-se um com o outro. Desse modo, Ele fez do sexo uma experiência prazerosa (leia o capítulo 17). Entretanto, a confusão e a perversão surgem quando as pessoas se desviam dos propósitos para os quais Deus ordenou.
O desejo por sexo é um dos impulsos básicos, físicos, do ser humano. Está entre a fome, a sede e o sono como os impulsos naturais mais importantes. Deus instilou esses desejos em nós para que fizéssemos as coisas necessárias para existir e sobreviver como indivíduos e como uma espécie. Se não tivéssemos fome, com que freqüência nos alimentaríamos? Se não tivéssemos sede, com que freqüência beberíamos? Se não ficássemos sonolentos, quando nossos corpos descansariam? Se Deus não tivesse colo¬cado um desejo sadio dentro de nós para fazermos sexo, como nos reproduziríamos?
Como acontece com todos esses impulsos, quando alguém abusa do propósito do sexo, fica duplamente difícil mantê-lo sob controle. Uma pessoa que se tornou viciada em álcool ou drogas enfrenta uma tremenda batalha para se libertar. A libertação desse impulso não somente depende de ela entregar sua vida para Jesus Cristo, mas também da disposição em modificar certos aspectos de seu estilo de vida. E imperativo que ela mude seus amigos e os lugares que freqüenta. Velhos conhecidos e vizinhanças podem desencadear outra recaída e sabotar qualquer progresso que já tenha feito. No entanto, para quem é viciado em comida ou em sexo, essas modificações só o beneficiaria até um certo grau. Ele sempre estará em busca de comida e pessoas em um certo ponto de sua vida, e ele é forçado a lidar com um desejo inato por comida ou sexo — desejos virtualmente impossíveis de se evitar. Um alcoólatra poderia passar sua vida inteira sem nunca mais tomar outro gole, mas os viciados sexuais devem aprender a controlar seus apetites. Isso é algo extremamente difícil de fazer; conseqüentemente, não é fácil para o viciado escapar da escravidão do pecado sexual. Além do clamor incessante e exigências cruéis de sua carne por mais, ele tem o mundo dizendo-lhe constante¬mente que ele pode ter mais a qualquer hora, em qualquer lugar e com quem ele desejar. Worthen diz:

A carne sempre quer o que é mais fácil de conseguir. Ela nunca se interessa por algo que requer dor ou esforço. Ela sempre quer voltar ao que era confortável. Nossa carne prefere gemer e levantar a bandeira branca. Precisamos lembrar de que a carne está do outro lado! A carne tem muito prazer em responder a qualquer convite para pecar. A carne também criticará nossa defesa com mensagens como: "Você está lutando contra o que você mais quer!" 2

PRESSÃO FISIOLÓGICA ACUMULADA
Outro fator que deve ser considerado quando se fala sobre o impulso sexual em um homem é a pressão fisiológica acumulada que ele experimenta quando está abstinente há algum tempo.
Os homens possuem dois órgãos ovais que produzem sêmen chamados testículos. Quando a resposta sexual é inibida, eles se enchem gradualmente de sêmen até o máximo de sua capacidade. Quando o nível máximo é alcançado, os homens se excitam facil¬mente ao menor estímulo sexual.
Muitos homens solteiros me procuram perguntando como conseguir a vitória sobre o hábito da masturbação. O dilema deles é sério e legítimo por causa da pressão fisiológica acumulada que acontece. Eles não têm o luxo de aliviar esse reservatório de sêmen que produz tais desejos sexuais intensos. No entanto, por outro modo, é mais fácil para eles do que para o homem casado lutar com a escravidão. Os solteiros freqüentemente pensam que os homens casados não devem ter quaisquer problemas com pecado sexual. O que eles não entendem é que os homens casados não podem simplesmente deixar de fazer sexo; eles têm de aprender a controlá-lo. Os pensamentos idealizados que um homem casado abriga em sua mente enquanto faz amor com sua esposa são tão pecaminosos quanto os pensamentos idealizados de um homem solteiro ao se masturbar. O homem não se liberta da concupiscência ao casar-se. Ele tem de controlar a vida idealizada depois de casado da mesma forma de quando era solteiro. A excitação de uma jovem esposa durará por algum tempo, mas aquelas idealizações atormentadoras voltarão a persegui-lo até que ele verdadeiramente as domine espiritualmente.
De certo modo, é mais fácil para o homem solteiro; ele pode subjugar sua carne. Embora o desejo físico esteja lá, ele pode acostumar-se de tal maneira com a falta de atividade sexual que, por fim, o "hábito" do sexo é subjugado. Parece que o período mais difícil que o homem enfrenta é de cinco a dez dias depois da última ejaculação. Quando aquele nível hormonal começar a chegar ao ponto máximo, é como se tudo tivesse uma conotação sexual! Isso durará por alguns dias, mas então começa a dissipar-se. É quase como se o homem se tornasse assexual.
O desejo irresistível por sexo parece diminuir e alcançar um nível mais controlável.
Muitos homens solteiros estão tão presos ao hábito da masturbação que raramente conseguem ficar mais de dez dias sem se aliviar. Subjugar a masturbação não é de modo algum uma tarefa impossível como muitos presumem. Para a pessoa que quer se libertar, Deus preparou uma maneira de escape. A pergunta é: você realmente quer ser libertado? Como já disse antes, Deus não vai tirar um hábito que você deseja manter. Oh, eu sei que sua carne anseia por isso, mas você quer sinceramente a vitória?

SATISFAZENDO A CARNE
Lembro-me da folha satírica que um sargento de polícia certa vez escreveu. Era algo parecido como: Como criar um criminoso comum. Ela relacionava aproximadamente 15 sugestões de como criar seu filho para tornar-se um criminoso. Ainda me lembro de algumas coisas: Ceda todas as vezes que ele exigir algo, não o contradiga, não o castigue, não ensine a ele respeito pelas outras pessoas. Creio que você entendeu a mensagem. Com isso em mente, gostaria de compartilhar o que chamo de Os dez passos para um modo de vida carnal:
(1) Passe tempo assistindo a programas seculares na televisão o máximo possível. Você merece isso!
(2) Coma doce sempre que for possível e satisfaça todo desejo por comida imediatamente.
(3) Preocupe-se em amar mais a você e menos a Deus e aos outros.
(4) Encha sua vida com coisas divertidas e evite a adversidade a todo custo.
(5) Seja um recebedor, não um doador; afinal de contas, você já paga impostos!
(6) Nunca faça coisa alguma que as pessoas interpretariam como fanatismo; você tem uma imagem a zelar!
(7) Não se preocupe em ter devocionais diárias; você não tem tempo!
(8) Ao ser confrontado com pecado em sua vida, recorra direta¬mente à ilusão.
(9) Toda vez que você tiver um problema, recorra sempre a um livro de Psicologia; os psicólogos sabem muito mais sobre a vida do que Deus.
(10) Entregue-se a todo desejo sexual; afinal de contas, Deus os criou em você.
O texto acima foi escrito por brincadeira, claro, mas nos ajuda a ver o quão facilmente podemos fortalecer a carne às custas de nossa vida espiritual. Toda vez que satisfazemos a carne, seja por meio de algo aparentemente inofensivo ou algo claramente pecaminoso, estamos fortalecendo a carne. Por conseguinte, estamos aumentando seu domínio em nossa vida por meio de reforço ininterrupto.

O PODER DO HÁBITO
Muitas pessoas encontram dificuldades para vencer o poder da carne porque passaram muitos anos desenvolvendo padrões específicos de vida que são difíceis de modificar. Um estilo de vida é formado de vários hábitos. Abandonar uma vida que satisfazia a carne para ganhar uma controlada pelo Espírito requer a mudança de certas rotinas. Nelson E. Hinman discute o poder do hábito:

Mas eu digo que o poder do hábito está arraigado no recôndito mais profundo de nossa mente, bem abaixo das áreas de recordação rápida... Todas as nossas habilidades são desenvolvidas por bons hábitos praticados. Ele chega até nosso subconsciente e nos controla. Enquanto você dirigir seu carro tendo de pensar sobre tudo o que faz, você será um motorista perigoso. Mas, ao "praticar" a direção do carro, isso se torna hábito. Depois que você estabelece o hábito de dirigir, você se torna um motorista muito bom. Como você faz isso? Pela prática. E quanto à digitação? Algumas pessoas podem sentar-se em frente a um teclado, sem nunca ter tocado em um e em um período extraordinariamente curto pode estar digitando. Como? Pela prática...
O que não percebemos é que, do mesmo modo, podemos desen¬volver hábitos ruins. Os jogadores de beisebol, às vezes, desenvolvem maus hábitos. É para isso que existem os técnicos, eles percebem um jogador que está desenvolvendo um mau hábito e trabalham com ele até eliminarem esse mau comportamento. Você pode entender isso, mas o que você provavelmente não pára para pensar é que pelo processo idêntico desenvolvemos hábitos emocionais; tanto bons quanto ruins...
Podemos entender isso um pouco mais claramente se falarmos sobre o ódio. Tal sentimento é uma resposta aprendida. Eu sei porque tive um problema com ódio por mais de 20 anos... Eu o desenvolvi pela resposta habitual. Aprendi a fazer isso. Quanto mais eu praticava, melhor eu me saía. Bem, tive de aprender como in¬verter isso...
Podemos treinar nossa mente para agir de qualquer maneira que quisermos, até um certo ponto. Mas existe algo na Bíblia chamado pecado, que interrompe o melhor que você pode fazer. Contudo, não está além de seu controle porque Deus nos deu um livro de direções e instruções sobre como lidar com isso.3

Os viciados sexuais desenvolveram hábitos para responder sexualmente aos estímulos externos. Com o passar dos anos, eles aprenderam a reagir a certas situações com lascívia ou idealização. Quando eu dirigia meu carro e via uma mulher bonita passando, eu olhava para ela com malícia. No fim, isso se tornou um hábito. Quando eu ia para a cama com minha esposa, eu freqüentemente idealizava outras mulheres. Quando eu sentia o desejo por sexo ilícito, eu estava acostumado a ceder sem lutar. Eu precisei aprender a romper com esses hábitos terríveis e exercitar o autocontrole. Como? Pela prática!

A PRÁTICA APERFEIÇOA
Paulo e Pedro entenderam a importância de estabelecer hábitos adequados por meio da prática.

Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas seme¬lhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. Gálatas 5.19-21

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco. Filipenses 4.8,9

Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo, e vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude, a ciência, e à ciência, a temperança, e à temperança, a paciência, e à paciência, a piedade, e à piedade, o amor fraternal, e ao amor fraternal, a caridade. Porque, se em vós houver e aumentarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. 2 Pedro 1.4-10

Podemos ver nessas passagens das Escrituras que temos uma escolha sobre o que praticamos. Se praticarmos (ou semearmos) a impiedade, então desejaremos (ou ceifaremos) impiedade. Da mesma maneira, se praticarmos a piedade, então desejaremos uma maior piedade. Os sentimentos sempre seguem o compor¬tamento. Os hábitos adequados precisam ser estabelecidos em nossa mente e, conforme forem estabelecidos, desejaremos continuar neles. Jay Adams examina a necessidade de estabelecer novos hábitos:

Os conselheiros devem reconhecer que muitos cristãos desistem. Eles querem a mudança muito rápida. O que eles realmente querem é a mudança sem a luta diária. Às vezes, eles desistem quando estão bem no limiar do sucesso. Eles param antes de receber. Normal¬mente leva pelo menos três semanas de esforço diário adequado para a pessoa sentir-se à vontade para desempenhar uma nova prática. E leva aproximadamente mais três semanas para tornar a prática parte de si mesmo. Todavia, muitos cristãos não perseveram mesmo por três dias. Se eles não conseguem um sucesso imediato, eles se desencorajam. Eles querem o que desejam agora, e se não conseguem, eles desistem.
Vimos, então, que romper com um hábito é uma iniciativa bila¬teral que exige uma resistência regular e estruturada para descartar um e introduzir outro. O rompimento de um hábito é mais que isso; envolve também adquirir um novo hábito. Quando a pessoa que foi aconselhada se volta para seus velhos caminhos, ao mesmo tempo, ela deve voltar-se para os novos caminhos de Deus.4

O inimigo inicial que enfrentaremos é a própria natureza caída. É nossa carne que anela por satisfação. É dentro desses recônditos que o pecado reside. Embora estejamos sob um ataque exterior, se pudermos vencer a guerra interior, os inimigos externos cairão diante de nós.

Capítulo 11
SEPARANDO-SE DO MUNDO

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. Mateus 7.13

É fácil entender por que as pessoas, na presente era, têm uma concepção errada sobre sexo. Para onde quer que você se volte, encontra a promoção e exploração do sexo. Hollywood está em¬penhada em retratar o herói como o sedutor mestre. Os filmes estão repletos de atrizes lindas, vestidas escassamente (ou nuas). Os anunciantes usam o sexo ostensivamente para vender seus produtos. Os estilistas fazem o máximo para se assegurar de que as jovens estão exibindo seu corpo o tanto quanto possível. As festas nas empresas contratam homens ou mulheres para fazer strip-tease para divertir os convidados. A homossexualidade é descaradamente ostentada e defendida. As pessoas vivem aber¬tamente juntas em pecado. Não é preciso dizer que o tecido moral de nossa sociedade está sendo desfiado bem diante dos nossos olhos.
A sociedade ensina aos jovens que o sexo não somente é aceito, como também é esperado. Vamos tomar como exemplo a vida de um menino comum de 12 anos. Ele se levanta de manhã e vai para a escola. Nas aulas de Ciências, ele recebe educação sexual que evita tomar uma posição moral contra o sexo antes do casa¬mento ou mesmo a homossexualidade. Geralmente, com seus companheiros de sala, escuta secretamente os garotos mais populares e freqüentemente precoces falarem sobre suas escapadas sexuais. A caminho de casa, de volta da escola, ele pára na loja de conveniências local e vê capas de revista com mulheres nuas atrás do balcão ou nas bancas, afixadas bem à sua frente. Em casa, escuta no rádio os grupos populares de música cantarem sobre sexo. Depois do jantar, ele assiste a um filme na televisão em que os personagens estão envolvidos em várias cenas de sexo. O herói é quase sempre um conquistador - o tipo "casanova". Então, vêm os comerciais que exibem mulheres bonitas em trajes de banho para vender de tudo, de revistas de esportes a auto¬móveis. Com uma exposição esmagadora como essa, por que alguém ficaria surpreso com o fato de um adolescente virar um viciado sexual?
Uma sociedade permissiva, como a nossa, torna o caminho para o vício sexual muito fácil. Da mesma maneira que nossa cultura facilita a pessoa afundar cada vez mais profundamente em escravidão, ela igualmente dificulta o caminho para a pessoa escapar dela. Para onde quer que se volte, é constantemente confrontada e lembrada do que está tentando evitar. Erwin Lutzer dá seu ponto de vista do raciocínio da sociedade:

Para aqueles que acreditam em sexo livre, o sexo é primeiramente uma experiência física. Quando você tem fome, você come, quando está cansado, dorme e, quando está excitado, faz sexo. Tal raciocínio pode soar certo, mas está a quilômetros de distância do alvo.1

Lester Sumrall diz que
"o mundo carnal faz-nos acreditar que o prazer é o único objetivo do sexo. Alguns cristãos puritanos acham que o prazer nada tem a ver com o sexo. Ambos estão errados".2

Conseqüentemente, quando uma pessoa cresce em uma sociedade que apresenta essa mensagem hedonística, que é basi¬camente: "Se você se sente bem, faça-o", é muito difícil para sua mente rejeitar essa falácia. Se ele nasce de novo, deve repentina¬mente viver de acordo com novos padrões. Mas como a civilização ocidental é simplesmente viciada na imoralidade, é especialmente difícil para o novo convertido que está lutando contra o vício sexual.

SEPARANDO-NOS
Paulo, quando estava tentando encorajar os cristãos que viviam no clima imoral de Corinto, disse o seguinte:

Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? forque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso. 2 Coríntios 6.14-18

Deus nos chamou para nos separar do mundo. Como podemos sequer esperar limpar nossa mente da sujeira do passado se continuamos a nos atolar nos pensamentos sensuais do mundo? A. W. Tozer explicou da seguinte maneira:

Os homens consideram o mundo não um campo de batalha, mas um playground. Não estamos aqui para lutar, mas para brincar. Não estamos em uma terra estrangeira, estamos em casa. Não nos estamos preparando para viver, já estamos vivendo, e o melhor que podemos fazer é nos livrar de nossas inibições e nossas frus¬trações e viver esta vida plenamente.3

O PLANO DO INIMIGO PARA DESMORALIZAR
Em 1986, quando a Cortina de Ferro ainda estava intacta, ouvi um ex-agente de propaganda da KGB falar em uma facul¬dade próxima. Ele tinha desertado há algum tempo e falava sobre os métodos que ele e outros agentes soviéticos tinham usado para derrubar governos. Ele definiu um processo de quatro passos utilizados para transformar países livres em nações comu¬nistas fechadas. Eles são:
1. Desmoralizar;
2. desestabilizar;
3. causar revolta;
4. fechar e normalizar.
O primeiro objetivo era propagar sua mensagem ao povo e, então, buscar romper com o fluxo do governo, causando inquietação. Depois, haveria uma revolta completa. E, por fim, eles fechariam as fronteiras e procurariam transformá-lo em um estado comunista "normal". Esse prezado soviético não percebia que esses princípios eram demoníacos em origem.
É a estratégia do primeiro passo que desejo examinar. O agente disse que leva até 20 anos repetindo e sistematicamente circulando a mensagem para as pessoas daquele país de que o comunismo é bom. É claro que essa mensagem é, a princípio, rejeitada. Contudo, conforme a mensagem continua a passar diante das pessoas por um longo período, elas gradualmente começam a ficar insensíveis e mudam do que era antes uma posição política de "meio-termo", para o que agora é considerado "extrema esquerda". A parte assustadora é que elas nem percebem que mudaram politicamente. Elas acreditam que ainda estão posicionadas com firmeza no meio-termo. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos. Fomos bombardeados pela mensagem esquerdista por tanto tempo que aquilo que era aceito como meio-termo está agora extremamente distante do que já foi um dia. Não estamos mais preocupados em ser derrubados pelo comunismo, mas os princípios do socia¬lismo são atualmente a base de nosso sistema educacional.
Enquanto os Estados Unidos estão politicamente à esquerda do que era anteriormente, assim também estamos à esquerda moralmente. Há 40 anos, um casal vivendo em pecado teria sido expulso da cidade, um homossexual não se atreveria a ostentar seu estilo de vida, e a pornografia era o retrato de mulher nua da cintura para cima. Fomos realmente desmoralizados. Tim LaHaye fala desse processo em seu livro oportuno The battle for the mind [A batalha da mente]:

Durante os últimos 200 anos, o humanismo (sabedoria do homem) cativou o pensamento do mundo ocidental. Depois de conquistar as faculdades e universidades da Europa, ele se estendeu para a América, onde desenvolveu uma influência repressora em toda a educação pública. Reconhecendo a natureza estratégica dos campos de educação e de comunicações ao travar sua batalha para ganhar a mente da humanidade, os humanistas gradualmente progrediram, até que virtualmente controlaram ambos. Quase toda grande revista, jornal, rede de televisão, editora de livro secular e produtor de filmes é um humanista comprometido, cercando-se de editores e noticiaristas que compartilham de sua filosofia e raramente permitem que algo que contradiga o humanismo seja apresentado, a menos que sejam obrigados pela pressão da comunidade.4

Embora o autor esteja comentando somente um aspecto do ataque demoníaco global, pode-se ainda ver como o espírito deste mundo endureceu moralmente nossa nação com relação a Deus.

A PASSIVIDADE DA IGREJA AMERICANA
Pedro disse: Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar (1 Pe 5.8). Nessa breve passagem da Bíblia, Pedro enfatiza a importância de guardar cuidadosamente nossa mente contra as astúcias do diabo. Ser sóbrios e vigilantes. Estas palavras criam a imagem de um soldado montando guarda, esperando ser atacado pelas forças inimigas a qualquer momento — completamente alerta. Não dá tempo para tirar uma soneca. Ele deve manter a vigilância para que o inimigo não consiga passar despercebido. Como o inimigo pode fazer isso? Vamos dar uma olhada no oposto da vigilância, que é a passividade. O Dicionário Aurélio define passivo como aquele que não atua; inerte; indiferente, apático 5. É o que aconteceu com grande parte da população cristã na América de hoje. Tornamo-nos tão escravizados em manter uma vida de conforto, que estamos espiritualmente letárgicos. Em vez de derrubar agressivamente as fortalezas do inimigo e travar uma guerra pelas almas de nossos amados, permitimos que o inimigo nos violente, roube-nos e nos explore. Em vez de influenciar o mundo ao nosso redor pela causa de Cristo, permitimos que esse sistema do mundo nos influencie. Conseqüentemente, não estamos espiri¬tualmente habilitados para a guerra; tornamo-nos espiritualmente lerdos e preguiçosos. Paulo disse: Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra (2 Tm 2.3,4).
O cristão que luta com o pecado sexual deve adquirir uma nova postura sobre o que é a vida cristã. Nosso propósito na vida não é satisfazer com muita ganância todos os desejos; estamos aqui para servir Aquele que nos chamou. Não devemos ser glutões para o prazer, mas, em vez disso, soldados dispostos a padecer por amor de Cristo. Em vez de submergir no modo de vida sensual do mundo, devemos separar-nos dele. Em uma declaração pungente carregada de significado para nossa vida, Paulo nos diz: E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). Como vimos anteriormente, a vontade de Deus é que Seus filhos sejam trans¬formados conforme a imagem de Seu Filho (Rm 8.29). Como essa transformação ocorre? Ela acontece por meio da renovação da mente. Devemos despojar-nos da mentalidade do mundo e substituí-la pela mente de Cristo. Como Paulo disse: Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade (Ef 4.22-24 NVT).
Ser cristão significa ter energia e atividade. Pode-se comparar a um peixe. Um peixe vivo e saudável está constantemente nadando contra a corrente do rio. O mais fácil para ele fazer seria flutuar pelo rio, mas ele tem uma inclinação natural para lutar contra a corrente. Um peixe morto ou doente, por outro lado, faz pouco ou nenhum esforço. Ele simplesmente flutua na maré baixa com os mais fracos e outros entulhos. De algum modo, isso descreve sua vida espiritual?

UMA CONSPIRAÇÃO DEMONÍACA
O primeiro modo pelo qual o cristão comum se expõe ao ataque do inimigo é por meio da mídia, e a forma mais poderosa da mídia na sociedade de hoje é a televisão. David Wilkerson explica:

Satanás está obtendo êxito por meio da televisão de uma forma impossível através de qualquer outro tipo de invasão demoníaca. Por meio desse ídolo que fala, ele pode realizar nesta geração o que realizou no Éden. Mas os sodomitas estão aqui agora — em nossos lares. E somos agora os cegos. Escritores, atores e produtores homossexuais apregoam seu direito maligno bem diante de nossos olhos, e quer você admita ou não, você e todos os outros em sua casa estão debaixo de um ataque sodomita demoníaco.6

É como se existisse uma conspiração demoníaca na América para controlar e possuir totalmente a mente dos cristãos. O poema a seguir nos dá uma clara compreensão da estratégia que o inimigo parece usar.

A VISÃO DE SATANÁS
Certa vez, o diabo disse aos demônios de casta inferior.
Nosso trabalho está progredindo com muita lentidão.
O povo santo nos atrapalha.
Como eles não acreditam no show ou no jogo,
Eles ensinam que o Carnaval, o circo e a dança,
O boteco e o cabaré com jogo de azar,
A bebida e o fumo, essas coisas são erradas;
Que os cristãos não se misturam com a multidão descrente;
Eles são rápidos para condenar tudo o que fazemos
Para que não haja muitos incrédulos.
Eles afirmam que essas coisas são todas do diabo;
Que o povo cristão vive em um nível muito mais alto.
Oras, parceiros, sua Teologia, embora perfeitamente verdadeira,
Está impedindo o trabalho que estamos tentando fazer.
Teremos de nos movimentar e bolar um plano
Que mudará seus padrões o mais rápido que pudermos.
Tenho agora uma visão do que podemos fazer exatamente,
Harken, vou contar este logro para você;
Então encontre você mesmo um homem inteligente, mas degradado
Que eu poderei usar para ajudar a executar esse plano.
Não há nada tão real como as coisas que você vê;
Os olhos, a mente e o coração andarão em acordo;
Então o que pode ser melhor do que um objeto para ver?
Eu digo, isso funcionará e convencerá não poucos.
O lar é o lugar para esse dispositivo pecaminoso,
As pessoas enganadas o acharão interessante.
O mundo terá isso, grande parte dos cristãos não poderá dizer
Que é tudo invenção do diabo e foi maquinado no inferno!
Nós o introduziremos com imagens das últimas notícias
E enquanto estiverem ainda olhando, faremos propaganda de bebida alcoólica.
A princípio, isso os chocará; eles verão aturdidos,
Mas logo se acostumarão e continuarão a olhar demoradamente.
Daremos algumas coisas relacionadas ao Evangelho que não são muito fortes
E algumas músicas cristãs para enganá-los.
Eles assistirão às propagandas, com as últimas novidades da moda
E logo estarão assistindo aos programas que provocarão pai¬xões malignas
Eles verão cenas de assassinato e sexo
Até que suas almas fiquem totalmente insensíveis.
O velho altar da família que outrora tinha grande beleza
Logo perderá seu lugar sem muito alarme.
A oração em secreto também se perderá
Conforme eles olharem para a tela sem contar o preço.
Os pregadores condescendentes, que não tomam uma posição definida,
Abraçarão essa nova visão e a considerarão formidável.
Eles ajudarão a enganar as pessoas e levá-las a pecar
Buscando essa malignidade e levando-a para casa.
A influência é grande e isso você pode ver;
Olhe para minha queda e você terá de concordar.
Não levará muito tempo, meus demônios, para dizer
Que a visão de Satanás povoará o inferno!
O índice de divórcio aumentará, os crimes sexuais abundarão:
Muito sangue inocente será derramado no chão.
Digo que o lar será maldito rapidamente,
Quando essa minha visão chegar para ficar.
Mexam-se, minha legião, e façam esse trabalho;
Veremos se a Igreja pode continuar a gritar.
O povo santo que nos atrapalha,
Em breve, silenciará seu grito para o show e o joga
Cobriremos a terra com essa visão de Satanás
Então a camuflaremos com o nome de televisão.
As pessoas pensarão que se estão divertindo
Até que o anticristo venha e assuma seu lugar.
Ele governará o mundo enquanto os espectadores assistem
A face da besta, para quem eles foram vendidos.
Nós venceremos por meio do engano, isso não pode falhar,
Embora alguns pregadores santos a vituperará".7

Suponho que o poema conte a história tão bem como qual¬quer outra coisa que eu possa dizer. Uma vez que um grande número de pessoas assiste à televisão, a maioria assume que seja certo. Na verdade, a televisão se tornou uma parte tão integral da vida dos cristãos americanos que a pessoa que não a inclui em sua vida é considerada estranha ou fanática — pelos cristãos! Na realidade, a família se reúne em muitos lares em torno do "tubo". Deus advertiu o povo de Israel contra esse modo de pensar: Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com o maior número para torcer o direito (Ex 23.2). Não é porque todo mundo assiste à televisão que isso seja certo, nem que não seremos responsabilizados por nossas escolhas.

OS EFEITOS DA TELEVISÃO
Muitos santos acreditam que eles podem assistir à televisão sem serem contaminados por ela. Pode parecer a uma pessoa que ela tem controle absoluto sobre o que aceita quando assiste à televisão, mas esse não é o caso. A televisão tem o objetivo de controlar a mente e fazer uma lavagem cerebral com êxito nos espectadores todo dia. É por isso que os anunciantes estão tão dispostos a pagar- milhões de dólares por alguns segundos de publicidade. Dr. Jenson explica os efeitos da televisão no cristão:

Satanás obviamente e audaciosamente usa o sistema do mundo. Ele opera por meio de nossas escolas universidades e governos, porém, mais abertamente por meio da mídia. E a ferramenta mais poderosa da mídia é a televisão. Deveria ser claro para nós, hoje, que Satanás está usando a televisão de uma maneira poderosa. Estamos cercados por uma guerra estratégica, projetada para imo¬bilizar os cristãos.
As crianças basicamente aprendem vendo "imagens" desde a tenra infância, e suas emoções estão diretamente conectadas a elas muito antes que possam falar. Os adultos não são realmente diferentes.
Um filme ou programa de televisão freqüentemente mexe diretamente com nosso pensamento, mente racional e nossas emoções, à parte de qualquer avaliação racional, espiritual [...].
A universidade Harvard concluiu um projeto que incluiu um estudo abrangente sobre o papel da televisão na educação sexual das crianças. O estudo revelou que 70% de todas as insinuações para relações sexuais na televisão envolviam casais solteiros ou prostitutas. Grande parte da atividade erótica da televisão envolve violência contra mulheres, que se reflete em estatísticas que mos¬tram que 50% de todas as mulheres neste país foram vítimas de estupro, incesto ou agressão [...].
Você pode dizer que isso não atinge você ou seus filhos, porque você é um cristão comprometido. Isso não é verdade. Satanás é sutil — ele desenvolve atitudes lentamente. Esta não é uma cruzada contra a televisão. Estou apenas dizendo que estamos passando por uma guerra contra nossa mente. A questão é que a televisão tirou a sensibilidade dos cristãos para o pecado e a dor enquanto enchia nossa mente com emoção artificial e idealização. Para muitas crianças, o teste de realidade é se elas viram ou não isso na televisão. Se eles ainda não viram, então não é real [...].
Essa lavagem cerebral sutil acontece dia após dia. A necessidade por solidão e quietude nunca foi maior do que é agora.
Satanás usa o sistema do mundo para estimular nosso pecado.8

Na próxima vez em que você assistir à televisão, preste atenção ao que os comerciais dizem. Perceba o que eles estão sugerindo que você faça, enquanto está sentado, permitindo passivamente que eles façam isso. "Compre isso se você quiser ser macho"; "Compre aquilo se você quiser que sua casa seja a mais bonita do quarteirão"; "Compre isso se você quiser ser aceito pelo pessoal igual a você"; "Compre isso se quiser gostar de você". Isso é controle da mente. É assustador até mesmo imaginar quanto poder a televisão tem. O cristão que assiste a um comercial de cervejaria que mostra alguém desfrutando a vida pode não correr e comprar uma embalagem de seis latas de cerveja, mas o quanto essa mensagem influencia sua necessidades por sobrie¬dade interior? Qual o efeito cumulativo de ver uma mulher sexy noite após noite na televisão? O quanto ele é influenciado quando acumula horas incontáveis assistindo a tipos de comédia que escarnecem de tudo o que é respeitável?
A televisão pode ser comparada à hipnose, uma ferramenta que é usada para colocar a pessoa em um estado passivo para aceitar subconscientemente o que ela não aceitaria sob um estado de consciência normal. A televisão é uma arma letal que o inimigo usa para endurecer, desmoralizar e, no fim, destruir a mente das pessoas.
Frank Mankiewicz e Joel Swerdlow corajosamente escreveram um livro intitulado Remote control — television and the manipulation of American life [Controle remoto — Televisão e a manipulação da vida americana]. Nesse trabalho secular, eles narraram minuciosamente o que televisão tem feito a esta nação. O segmento abaixo trata especificamente da homossexualidade:

Entretanto, sob uma intensa pressão de ativistas gays organizados, a televisão colaborou imensamente durante a última década para ajudar os homossexuais a "saírem do armário" individualmente e coletivamente. Podemos encontrar séries de episódios, explícitos e sensíveis, sobre o assunto, como também um tratamento geralmente digno em outros lugares: Anita Bryant * não se tornou uma heroína - como ela teria sido há 20 anos na rede de televisão - mas o alvo de piadas e hostilidade nas redes de comunicações.9

Até esses escritores, que provavelmente nem conhecem Cristo, reconhecem o que essa forma poderosa de mídia está fazendo para modelar a mente do público americano. Em seu livro inteiro, eles fornecem provas irrefutáveis de como nossa mente é mani¬pulada por meio dessa fonte "inocente" de divertimento.
Donald Wildmon está também ciente do modo como ela está sendo usada contra os cristãos:

A televisão é o meio mais penetrante e persuasivo que temos. Às vezes, é maior do que a vida. É nosso meio nacional verdadeiro. A rede de televisão é o maior educador que temos. Ela nos diz, em sua programação, o que é certo e errado, o que é aceitável e inaceitável, em quem acreditar e em quem não acreditar, em quem confiar e em quem não confiar e quem devemos desejar imitar.
Ela ensina que o adultério é um estilo de vida aceitável e aprovado; que a violência é um caminho legítimo para atingir suas metas ou para resolver conflitos; que a profanidade é a linguagem do respei¬tável. Mas essas são apenas mensagens superficiais. A mensagem real é mais profunda.
Ela ensina que dificilmente alguém vai para a igreja, que pouquíssimas pessoas em nossa sociedade são cristãs ou vivem de acordo com os princípios cristãos. Como? Simplesmente censu¬rando personagens cristãos, valores cristãos e cultura cristã dos programas. Ela ensina que as pessoas que afirmam serem cristãs são hipócritas, impostoras, mentirosas ou piores. Ela o faz por meio da caracterização.10

Como você se sentiria se alguém o colocasse em frente a milhares de pessoas e começasse a ridicularizar sua fé em Deus? É exata¬mente o que a televisão faz. Seus produtores riem e zombam de nós. Será que nos tornamos tão insensíveis que ainda estamos dispostos a nos alinhar com o sistema do mundo, que odeia as coisas de Deus? É trágico que os cristãos sejam tão versados nos tipos populares de comédias, nos comerciais mais engraçados, nos episódios "mais quentes" e, no entanto, gastem tão pouco do tempo precioso bem quieto diante de Deus, estudando e meditando na Palavra e intercedendo pelos perdidos.
Infelizmente, as pessoas estão muito viciadas em televisão. Freqüentemente, levanta-se a questão de como evitar o tédio sem a televisão, como se isso, de alguma maneira, justificasse o preço espiritual que ela cobra. Eu também pensava dessa maneira quando entrei pela primeira vez na "vida pós-televisão". As horas da noite pareciam andar a passos de tartaruga naquelas primeiras semanas. Não demorou muito para que aquelas horas vazias se enchessem de momentos significativos com minha esposa e momentos agradáveis de comunhão verdadeira com outros cristãos. Nunca é fácil romper com um hábito que a carne esteja acostumada, mas a graça de Deus está disponível para aqueles que estão determinados a romper com as influências desse sistema do mundo.
Para muitos, a decisão que fizerem neste assunto em particular determinará seu grau de lutas no futuro. Aqueles que não estão dispostos a romper com o espírito deste mundo descobrirão que eles têm pouquíssima força para tomar os outros passos necessá¬rios a fim de vencer o domínio do pecado sexual na vida deles.

Capítulo 12
BATALHAS NO REINO ESPIRITUAL

A pessoa que está determinada a vencer o vício sexual deve preparar-se para a batalha e combater sua velha natureza que ainda anseia pelo prazer do pecado sexual. Não somente sua carne deseja isso, mas também um hábito de indulgência foi bem estabelecido. Ao longo da vida diária do cristão, ele descobre que nossa cultura promove uma mensagem ressonante de que o sexo ilícito é algo bom e desejável, que fornece possibilidades infinitas de satisfazer toda idealização imaginável. Como se tudo isso não bastasse, o cristão em lutas deve perceber e aceitar o fato de que existe um exército altamente organizado de seres poderosos, que têm o objetivo de frustrar sua libertação.
É muito importante para a pessoa que está em lutas ter um entendimento adequado de seus inimigos reais nesta batalha espiritual. Existem aqueles que acreditam que a dificuldade inteira para vencer o pecado habitual é apenas um resultado da guerra espiritual, minimizando assim o papel da carne e do mundo. Lembro-me da conversa que tive certa vez com um ministro sobre concupiscência sexual. Eu tinha contado resumidamente meu trabalho com viciados sexuais. "Quando trato com alguém em pecado sexual", ele me respondeu sucintamente, "simples¬mente expulso o demônio e acabou!"
"Sim, eu entendo que os demônios podem influenciar as pessoas de certas maneiras, mas até que a pessoa aprenda a lidar com a própria carne, expulsar uma legião de demônios dele não resolverá seu problema", respondi.
Muitos que trabalham na área de libertação enfatizam demasia¬damente o papel que os demônios desempenham no pecado habitual. Eles parecem procurar uma resposta fácil, ou talvez estejam simplesmente cativados pela idéia de dar ordens aos demônios ao redor.
No lado oposto do espectro estão aqueles que afirmam que todos os problemas de uma pessoa só podem ser atribuídos a ela mesma. Isso é igualmente errado. A idéia de que existem forças demoníacas operando neste mundo é um conceito que eles preferem não pensar a respeito. Sua perspectiva do reino espiri¬tual tende a ser extremamente vaga e superficial. Eles nunca contestariam o que a Bíblia diz sobre o inimigo, mas são inclinados a limitar a atividade demoníaca para feiticeiros em alguma aldeia obscura na África.
A verdade é que existe um exército sofisticado de seres que operam sob a orientação do próprio Satanás. Alguns estudiosos acreditam que Satanás era um dos 12 arcanjos originais criados por Deus. Ele não é simplesmente uma "força maligna" ou uma "influência maligna" como alguns acreditam. Ele é um ser angelical que, como os humanos, está limitado ao tempo e ao espaço. Porém, ao contrário do homem, ele é um ser espiritual que não está restringido aos limites da matéria física.
Seu exército é composto de demônios de vários tamanhos, forças, habilidades e funções (leia Lucas 11.14; Mateus 12.22; 1 João 4.6.). Eles variam de príncipes de países (Dn 10.13) a soldados inferiores (Lc 8.30). Paulo faz menção a essa hierarquia complicada no Livro de Efésios: Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais (Ef 6.12).

Como qualquer agrupamento militar, parece que existem generais, capitães e soldados — ou pelo menos o equivalente a isso — e os demônios foram especialmente designados para molestar e atacar as pessoas. Isso é, na maior parte, conjectura, é claro, mas aparentemente o demônio designado será escolhido com base na área de lutas daquela pessoa. Para aquela que luta com depressão, será designado um demônio de melancolia oculta. Para aqueles que lutam com um temperamento explosivo, um espírito de ódio ou de homicídio receberá a tarefa; e para um com um impulso sexual exagerado, um inimigo de lascívia será comissionado. É provável que esses demônios tenham a habili¬dade de criar atmosferas espirituais conducentes para a luta de um indivíduo. O renomado Dr. Merrill F. Unger, professor de estudos do Antigo Testamento no Seminário Teológico de Dallas há 20 anos, diz o seguinte a respeito da atividade demoníaca em seu livro Demons in the world today [Demônios no mundo atual]:

Na influência demoníaca, os espíritos malignos exercem poder sobre uma pessoa sem a possessão real. Tal influência pode variar de um tormento leve até a sujeição extrema, quando o corpo e a mente são dominados e mantidos em escravidão pelos agentes espirituais. Os cristãos, como também os não-cristãos, podem ser influenciados dessa maneira. Eles podem ser oprimidos, atormentados, abatidos, impedidos e amarrados pelos demônios.1

SOB A PROTEÇÃO DE DEUS
Independente de sua especialidade, os demônios estão limitados em sua esfera de influência e licença para importunar ou atormentar um cristão. Como filho de Deus, a pessoa deve sempre estar consciente de que Satanás e sua legião não podem fazer mais do que for permi¬tido pelo Senhor e Suas leis espirituais.
Existem certas leis que governam o reino físico ditando como os humanos devem realizar as atividades de sua vida diária. Acenda um fósforo debaixo de uma folha seca de papel, e ela queimará, porque foram introduzidos determinados componentes que resul¬tam em fogo. Atire uma bola pela janela, e ela cairá, a menos que algo a detenha. Esses são exemplos das leis de causa e efeito, e existe muito ainda que devemos lidar no reino físico todos os dias. Muito do que fazemos na vida é ditado pelas várias regras físicas da natureza.
Da mesma maneira, existem leis espirituais que governam o reino invisível à nossa volta. Paulo descreveu uma dessas leis no livro de Gálatas. Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna (Gl 6.7,8). Essa lei espiritual declara que, se uma pessoa comete um ato, ela deve sofrer as conseqüências que se seguirão. Jesus dá outro exemplo de uma regra do Reino de Deus: E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado (Mt 23.12). Não importa se alguém aprova ou não essas leis, nem importa se elas são consideradas. Essas são normas de causa e efeito do Reino de Deus que não se pode escapar.
Parece também existir leis espirituais referentes ao envolvimento de forças demoníacas na vida dos cristãos. Quando um cristão se rebela contra o Reino de Deus, ao cometer um ato voluntário de pecado, ele se alinha com o inimigo. O apóstolo João disse: Quem comete o pecado é do diabo (1 Jo 3.8a). O ponto básico dessa declaração é simplesmente que a pessoa que transgride habitualmente as leis de Deus está em aliança com Satanás — ele mesmo sendo o maior rebelde. No entanto, há uma segunda verdade que pode ser retirada dessa declaração. Quando a pessoa comete atos de pecado, ela se expõe a um grau maior de influência do inimigo. Por exemplo, se um homem cristão entra em uma livraria de livros pornográficos, voluntariamente se colocou vulnerável aos pensamentos perversos que o atormentarão pelas semanas seguintes. Depois que o homem "se expôs" à pornografia, os demônios têm o "direito legal" de continuamente atacá-lo e atormentá-lo com aquelas imagens pornográficas.
Outro exemplo é a ira. Quando a vontade de uma pessoa é contrariada, existe uma tentação enorme para se rebelar, não tendo um espírito humilde, e ficar enfurecida. A ira é uma emo¬ção da carne que geralmente emerge do orgulho. Alguns têm "maus temperamentos", significando que habitualmente eles se permitem ser dominados pela ira. É errado para um seguidor do humilde Jesus ficar irado com alguém, mas, quando essa pessoa deixa essa raiva controlá-la a ponto de odiar, ela deu lugar ao diabo. Paulo disse: Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo (Ef 4.26,27), ou como é expresso na NVI: Quando vocês ficarem irados, não pequem. Apazigúem sua ira antes que o sol se ponha, e não dêem lugar ao diabo. A ira, como a concupiscência, é um impulso carnal que o inimigo busca intensi¬ficar na vida de uma pessoa. O Dr. Unger declara:

A influência demoníaca pode acontecer em graus diferentes de severidade e de várias maneiras em cristãos e não-cristãos igual¬mente. Em suas formas menos severas, o ataque demoníaco vem exteriormente pela pressão, sugestão e tentação. Quando a pessoa cede a essa pressão, sugestão e tentação, o resultado é sempre um grau maior de influência demoníaca. Embora a humanidade tenha caído em Adão e se tornado uma presa para Satanás e os demônios, as forças das trevas sempre foram severamente limitadas. Eles só podem escravizar e oprimir o homem caído até o ponto em que ele voluntariamente transgride a lei moral eterna de Deus e se expõe ao diabo.2

Aqueles que estupidamente abrem a porta para o pecado sexual podem esperar que o inimigo se aproveite totalmente da oportu¬nidade para levá-los a um lugar maior de escravidão. Merlin Carothers, renomado por seus ensinos populares sobre louvor, fala sobre a influência demoníaca na vida idealizada:

Porém, qualquer pensamento ligado ao sexo ilícito é como um monstro esperando para atacar. Ele pode ficar escondido por muitos anos, mas, no momento certo, ele surgirá. De fato, esta força maligna está freqüentemente disposta a esperar pelo momento certo para se manifestar. Ele quer fazer mal ao maior número possível de pessoas. Isso o assusta?
Deixe-me assegurá-lo de que eu não estou falando sobre espíritos malignos possuindo cristãos. Entretanto, existe neste mundo uma força maligna cujo desejo é destruir tudo o que Deus quer construir. Essa força, Satanás, é muito mais inteligente do que os cristãos geralmente acreditam. Satanás leva os que são seus a viver em rebe¬lião aberta contra Deus, mas sente prazer em trabalhar secretamente no íntimo dos cristãos. Sua estratégia é nos seduzir para querer coisas que Deus proibiu. Uma vez que o desejo é criado, Satanás continua fortalecendo esse desejo. Ele o traz repetidamente à nossa atenção até que supere nosso desejo de ser obediente a Deus [...].
Nunca foi seguro entrar no território de Satanás. Ele está à procura de quem possa devorar. Escolhe o próprio tempo para realizar os próprios propósitos. Nunca sabemos o que ele fará. Alguns homens me disseram que viveram com pensamentos e desejos imorais por 25 anos antes de cederem aos atos imorais. O tempo é irrelevante para Satanás. Se você acredita que ele é uma realidade e tem poder espiritual, você tem muito a ganhar ficando fora de seu território! Ele também tem um plano para você e provavelmente será cumprido se você permitir que qualquer parte de sua vida esteja sob o seu controle. Ele está especialmente interessado no que está em sua mente.3

Entretanto, os ataques dos demônios não estão limitados aos culpados. Às vezes, os inocentes são agredidos. Porém, nenhum ataque acontecerá sobre um cristão sem o consentimento de Deus. Vejamos, por exemplo, a ocasião em que Jesus disse a Pedro:

Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres,, confirma teus irmãos (Lc 22.31,32).

Depois que a pessoa pertence a Deus, o inimigo pode pedir tudo o que quiser, mas deve obter permissão antes de poder atacar. Os crentes foram comprados de Satanás pelo sangue de Jesus.
Um retrato profundo disso é apresentado no primeiro capítulo do Livro de Jó. Nesta passagem, o leitor recebe um vislumbre fascinante das regiões invisíveis do reino espiritual, onde as grandes tentações são maquinadas. Jó é descrito como um homem sincero, reto e temente a Deus, e que se desviava do mal. O texto continua dizendo que ele vivia em tal estado de retidão que, sempre que seus filhos se reuniam para um banquete, ele oferecia um sacrifício especial para Deus, pensando: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração (Jó 1.5).
Depois de demonstrar o caráter piedoso de Jó, a cena muda para a sala do trono do Todo-Poderoso, onde Satanás desliza entre outros anjos. Radiante, com um certo orgulho paternal, Deus diz: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal (Jó 1.8). Ao que Satanás respondeu com um ruído estridente: Porventura, teme Jó a Deus debalde? Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face! (Jó 1.9-11). Então, sem o conhecimento desse homem reto na terra, um desafio proferido em um reino completamente diferente está prestes a resultar na reviravolta na vida inteira de Jó.
Um dos motivos para essa história constar nas Escrituras foi para mostrar aos cristãos que nosso Pai Celestial estabeleceu limites que o inimigo não pode cruzar sem Sua permissão. *

MESTRE EM TENTAÇÃO
Os seres demoníacos tentam, atormentam e atacam aqueles que crêem em Deus desde o começo da humanidade. Eles usam seres humanos não-salvos para expressar em ações o ódio, a arro¬gância e a perversão, parte de suas naturezas malignas. Essa é a eternidade que o não-salvo pode esperar.
Aqueles que estão no caminho de seguir a Deus são tratados de uma maneira um pouco diferente. Como dito antes, os demônios estão restritos em seu nível de influência. Usarei como ilustração os fuzileiros navais que estavam envolvidos em espionagem em Moscou na década de 80. A única coisa que esses guardas da embaixada tinham de se preocupar era não se deixar enganar para revelar segredos. Os russos tinham certos limites para obter informações. Eles não podiam usar da tortura para forçar os fuzileiros navais a revelar informações militares. Eles não podiam ameaçar a vida deles ou mesmo gritar com eles. A única maneira possível de obterem informações sigilosas era pelo processo de sedução. E foi exatamente o que eles fizeram. Os russos usaram uma linda mulher para seduzir um fuzileiro naval para que ele revelasse segredos. Esse fuzileiro naval não colocou seu país acima dele mesmo. Ele podia estar disposto a morrer pelo seu país em um campo de batalha, mas não estava disposto a morrer para os próprios desejos. Ele perdeu a maior batalha que jamais enfrentaria. Não era uma guerra com o uso de balas de arma de fogo; era uma guerra com a tentação.
Da mesma maneira, quando o inimigo determina tramar a queda de um cristão, ele só pode trabalhar dentro dos limites estabelecidos por Deus. Como Paulo salientou: Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar (1 Co 10.13). O apóstolo veterano não prometeu uma vida livre de tentações, mas que Deus os manteria nos seus limites e sempre forneceria um escape para que o cristão pudesse continuar resistindo.
A cena que testemunhamos no Livro de Jó é típica do que acontece quando um espírito caído deseja "peneirar" um dos filhos de Deus. Vamos ver, por exemplo, a história que analisamos anteriormente de José e a mulher de Potifar. Só temos o quadro físico do que ocorreu, mas o que aconteceu no reino espiritual antes desse incidente? Posso imaginar facilmente a serpente mais uma vez deslizando para a sala do trono de Deus. "Porventura teme José a Deus debalde? Porventura não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoastes e suas posses estão aumentando na terra. Mas per¬mita-me tentá-lo com essa bonita mulher, e ele virará suas costas para Ti. Mas se, por alguma razão, ele não fizer, permita-me lançá-lo na prisão, e ele, certamente, blasfemará de Ti na Tua face". Suspeito que uma conversa assim aconteceu de fato antes da grande tentação que José enfrentou naquele dia. Conseqüente¬mente, a tentação que uma pessoa enfrenta, não importa qual seja, deve primeiro ser liberada pelo Senhor.

CONSPIRADORES CONTRA CRISTÃOS
Não existe limite para a astúcia do inimigo. Eles estão nos negócios de engodar as pessoas para o pecado e a rebelião contra Deus há seis mil anos. Eu posso testemunhar que o inimigo tentou várias vezes me engodar para voltar ao seu domínio de trevas. Um fato desses aconteceu não muito depois de eu começar a andar em vitória. Eu estava vendendo imóveis naquela ocasião e recebi o telefonema de uma senhora que me pediu que eu lhe mostrasse uma das casas que nossa companhia havia colocado na lista de casas à venda. Concordei, peguei as chaves e me dirigi para lá a fim de encontrá-la.
Estacionei meu carro em frente à calçada e fiquei aguardando. Enquanto o tempo passava, fui dominado por um desejo de entrar na casa "só para dar uma espiadinha". Cometi o erro de entrar. Uma vez lá dentro, senti um desejo intenso dê procurar por pornografia. Eu não podia acreditar que eu estava realmente procurando diligentemente em cada quarto por revistas eróticas. De fato, achei uma grande pilha delas no quarto dos fundos. Apanhei uma e dei uma olhada, então a joguei no chão com repugnância e saí apressadamente de casa. A mulher que me ligou nunca apareceu. O inimigo tinha armado aquilo para mim, mas felizmente não passou de um rápido olhar.
Os demônios também tentarão opor-se às boas obras com um ataque. Não muito depois de eu ter compartilhado meu tes¬temunho no Oprah Winfrey Show em 1988, sobreveio-me um ataque violento enquanto eu estava viajando. Eu estava voltando de Phoenix para Sacramento (minha casa naquela ocasião), onde estive ministrando. Eu não via minha esposa há mais de uma semana, o que me tornava particularmente vulnerável. Quando estava passando pelo deserto do Arizona, percebi que eu estava dirigindo na mesma velocidade que uma moça na pista ao lado. Eu a ultrapassava, e então ela me ultrapassava. Duvido que ela estivesse tentando paquerar-me, mas eu estava divertindo-me com a idéia. Quando voltei ao meu juízo e percebi o que eu estava fazendo, acelerei para longe dela. Todavia, esse incidente foi o suficiente para levar minha mente a pensar na direção errada.
Conforme prossegui em meu caminho para o norte, em direção a Bakersfield, comecei a sentir um desejo ardente por uma livraria de pornografia. Eu já tinha vencido há muito tempo meu vício por pornografia, mas, não obstante, a tentação era absolutamente assoladora. Parecia que meu carro estava cheio de uma nuvem espessa de lascívia. Eu estava decidido que, assim que chegasse à cidade, eu procuraria por uma livraria de pornografia. Finalmente cheguei a Bakersfield, contudo, quando vi a saída para o centro da cidade, continuei na auto-estrada. No instante em que passei por aquele desvio, a nuvem de lascívia desapareceu! Olhando para trás, posso ver agora que tinha sido um ataque demoníaco. Nunca subestime o poder e os ardis do inimigo. A Bíblia confirma isso:

Porque não ignoramos os seus ardis. 2 Coríntios 2.11

Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo. 2 Coríntios 11.3

E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras. 2 Coríntios 11.14,15

Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar. 1 Pedro 5.8

Não cometa erro algum; os demônios farão qualquer coisa que puderem para fazer o crente cair, a fim de afastá-lo do Senhor. Eles são estrategistas brilhantes que provavelmente seguem o homem desde que ele nasceu. Eles conhecem muito bem suas fraquezas e sabem exatamente como engodá-lo em suas ciladas.

DESTRUINDO FORTALEZAS
Quando uma pessoa se entrega repetidamente ao pecado sexual durante um tempo, o inimigo estabelece uma base no ser daquela pessoa. Se aquele pecado atinge um ponto incontrolável, ele se torna uma fortaleza do inimigo.* Um demônio da perversão ergueu uma fortaleza no domínio da alma do homem. Quanto mais longo for o tempo em que o pecado continuar a ser feito, mais fortalecida será a presença do inimigo.
Visitei os Cumes de Golan várias vezes ao longo dos anos. Pode-se entender facilmente porque Israel reluta em entregar aquela pequena área aos sírios. As forças inimigas demoraram um tempo para tornar-se firmemente entrincheiradas nos flancos das colinas com vista para o mar da Galiléia. Por muitos anos, eles bombar¬dearam as colônias israelitas abaixo deles. Quando a guerra eclodiu em 1967 entre Israel e as nações árabes circunvizinhas, foi preciso uma luta feroz para expulsar a presença síria acima do lago. Encoberta sob toneladas de concreto, sua artilharia deve ter parecido invencível para os judeus.
É assim que o santo se sente quando deve enfrentar a perspectiva ameaçadora de expulsar um inimigo escondido profundamente em seu ser. Embora possa parecer bastante opressivo, Paulo nos assegura de que este não é o caso:
Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo. 2 Coríntios 10.3-5

Grande parte do restante deste livro ensinará princípios necessários para desalojar o inimigo. Não há necessidade alguma de discutir isso minuciosamente agora. Simplesmente mencionamos aqui para que você possa entender melhor que a batalha está adiante. Porém, seria bom observar o que Paulo disse sobre o lugar ocupado pela idealização para estabelecer e manter uma fortaleza. O inimigo só manterá sua posição se o crente continuar a alimentar idealizações sexuais. Paulo nos diz para destruir essas imaginações. Pode levar um tempo para que o homem tenha uma vida de pensamentos puros, mas é essen¬cial que ele comece a exercitar a disciplina mental agora. Pedro disse:

Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai intei¬ramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. 1 Pedro 1.13-16

MALDIÇÕES FAMILIARES
Existem muitos preceptores que desenvolveram um sistema elaborado de "libertação" com base em um versículo do Antigo Testamento. Quando o Senhor deu a Moisés os Dez manda¬mentos, Ele disse: Não te encurvarás a elas nem as servirás [estava falando dos ídolos] porque eu, o SENHOR, teu Deus, sou Deus zeloso que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem (Êx 20.5). De acordo com esses instrutores, se uma pessoa estiver em um pecado habitual, ela deve "quebrar a maldição familiar", que romperá com o terreno legal que o inimigo tinha na vida dela.
Fico sempre extremamente preocupado quando as pessoas confiantemente ensinam conceitos que não são amplamente amparados nas Escrituras. Conquanto esta noção possa atrair a simpatia daqueles que enfatizam demasiadamente o envolvimento demoníaco na vida do cristão, simplesmente não existe aí amparo bíblico. Acredito que exista algo maligno que possa ser passado do pai, preso em pecado, para o seu filho. Em mais de uma ocasião, ouvi histórias de filhos que cresceram sem a presença do pai em casa e, mais tarde, descobriram que seus pais também eram vicia¬dos sexuais. Freqüentemente, ouve-se sobre um filho que luta contra depressão da mesma maneira que seu pai, ou talvez um alcoólatra cujo pai bebia demais. Poderíamos considerar isso de algumas formas diferentes. Pode ser que a mesma "concupiscência" que seu pai teve de combater foi herdada por ele (Leia Tg 1.14). A outra possibilidade é que nós simplesmente não entendemos como os demônios que oprimem o pai possam atacar também o filho.
Seja qual for o caso, recitar alguma "fórmula de oração" para "quebrar a maldição" não é apenas uma prática sem qualquer amparo bíblico, mas também é absolutamente inútil. Além disso, como já examinamos no capítulo sete, o Senhor proíbe a transfe¬rência de culpa por nossos atos para nossos pais: A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele (Ez 18.20). A noção de que se deve fazer alguma declaração para vencer (ou mesmo vencer parcialmente) o vício ou a escravidão sexual é pura fantasia e um exemplo das muitas respostas patéticas "com curativo superficial" que estão sendo fornecidas àqueles que estão procurando fugir da responsabilidade pessoal pelos próprios atos pecaminosos. Se existe uma maldição familiar, esta será quebrada quando a pessoa experimentar o verdadeiro arre¬pendimento. Quando o pecado cessa, seus efeitos cessam com ele.

AS CILADAS DO DIABO
A vitória é um conceito vago para aqueles que se acostumaram a perder batalhas espirituais. Na maior parte, eles conhecem somente a derrota. Parece que não existe poder para resistir aos espíritos tentadores, com suas tentações aparentemente irresistíveis. No en¬tanto, o poder está disponível para que o filho de Deus resista ao adversário. Paulo pregou por muito tempo na grande metrópole de Éfeso, onde grande parte da congregação era constituída de ex-adoradores do diabo. Eram pessoas que tinham de enfrentar o inimigo em um ambiente extremamente perverso. De sua cela da prisão em Roma, o velho combatente escreveu a epístola que veio a se tornar conhecida como a Epístola aos Efésios. Nela, ele deu o seguinte tratado sobre a guerra espiritual:

No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capa¬cete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos. Efésios 6.10-18

A primeira coisa que Paulo estabeleceu foi a fonte de todo o poder do cristão para combater o inimigo. A Bíblia Ampliada destaca o significado completo do que ele estava expressando no versículo dez: Fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder — essa força que Seu poder (ilimitado) pode oferecer. Paulo tocava aqui em um assunto de extrema importância: as batalhas espirituais não são combatidas com a própria força ou habilidade. Sei que soa ridículo expressar isso de uma maneira tão simples, mas precisamos lembrar que a guerra espiritual é realmente espiritual! Como Paulo disse na passagem de 2 Coríntios: a batalha é combatida no reino espiritual no mesmo grau em que a guerra será eficaz. Para os cristãos, a fonte de poder espiritual é o Espírito Santo.
Isso nos leva a uma outra verdade importante referente ao poder de Deus. Ele só demonstrará Seu poder em nossa vida na medida em que formos fracos em nós mesmos. Nossa fraqueza cria uma dependência verdadeira de Deus. Nos três últimos capítulos da Segunda Epístola de Paulo à Igreja de Corinto, ele usou a palavra fraqueza 13 vezes - em vários casos, para descrever ele mesmo. Ele tentava ensinar aos coríntios que o poder espiritual é diferente do poder pessoal. Seus críticos diziam: A presença do corpo é fraca, e a palavra, desprezível (2 Co 10.10b). Paulo não negou isso, mas simplesmente respondeu, citando Jeremias: Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor (2 Co 10.17).
No capítulo 11 de Coríntios, Paulo registrou todos os sofri¬mentos pelo qual passara por causa da pregação do Evangelho: açoites, chibatadas, apedrejamentos, naufrágios, perigos constantes, fome e sede. Deus permitiu essas aflições para manter Paulo fraco e dependente dEle. No capítulo 12, Paulo conta como Deus o enfraqueceu ainda mais por meio de "um espinho na carne", de forma que o Senhor pudesse continuar a derramar Seu poder por meio da vida de Paulo. Deus lhe disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueja (2 Co 12.9). Ao que Paulo respondeu: De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquejas, para que em mim habite o poder de Cristo (2 Co 12.9b). A única maneira de o crente derrotar o inimigo na área da tentação espiritual é por meio do poder de Deus. Esse poder é atribuído pela dependência absoluta do cristão em Deus.
Desse modo, vemos, em Efésios 6, que nosso poder vem por meio de nossa comunhão íntima com o Senhor. Paulo continua dizendo: Revesti-vos de toda a armadura de Deus (Ef 6.11a). Por que nos devemos revestir desta armadura? Vara que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo (v. 11b). Os princípios que Paulo compartilhou com os efésios tiveram o propósito de ajudá-los a escapar dos planos astuciosos que o diabo maquina para levar os crentes a se desviarem. Ao examinar os vários apetrechos da armadura, pode-se ver rapida¬mente que grande parte são defensivos por natureza: cinto, couraça, escudo e capacete, todos com a finalidade de proteger a pessoa dos golpes do inimigo. Pode-se até mesmo dizer que a espada é defensiva, no sentido de que alguém a utiliza para desviar as armas do inimigo.*
Novamente, o propósito para se revestir da armadura é para que você possa estar firme contra as astutas ciladas do diabo.
No versículo 13, Paulo enfatiza novamente isso dizendo: Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau. A exortação é repetida para nos exortar a resistir às tentações apresentadas pelos demônios a qualquer custo.

DORMINDO COM O INIMIGO
Certa vez, quando estava conversando com os discípulos, Jesus disse: Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo e nada tem em mim (Jo 14.30). Cristo revelou, nesta única declaração, o motivo pelo qual Ele podia estar firme contra as astutas ciladas do diabo. Ele disse que o príncipe deste mundo nada tinha nele. Em outras palavras, nada em Sua vida estava fora da vontade do Pai. Não havia pecado, rebelião, ou hábitos secretos. Satanás não tinha um "gancho" em Jesus. Não havia coisa alguma em que o diabo tivesse solo legal para usar contra Ele.
Esse é o lugar de refugio para o crente. Se o cristão permanecer na vontade de Deus e continuar obediente a Ele, o inimigo fica incapaz de seduzi-lo à rebelião. Os cristãos experimentam problemas quando se entregam a espíritos sujos de pequenas maneiras, fazendo pequenas alianças com aqueles que são seus inimigos. Se eles tiverem áreas de concordância com o inimigo, como resistirão? É respon¬sabilidade de todo cristão manter-se imaculado das contaminações do sistema deste mundo por meio da graça de Deus. A natureza pecaminosa pode querer fazer amizade com espíritos imundos, mas por atos habituais da vontade, o homem pode escolher permanecer em comunhão com Deus sendo-Lhe obediente, e, quando ele assim o fizer, o diabo nada terá nele.
A armadura de Deus é, de certo modo, uma proteção para o cristão dele mesmo. Quando estabelecer os princípios da verdade, da justiça, da fé e assim por diante, ele crescerá espiritualmente e estará capacitado a resistir às tentações que apelam à natureza pecaminosa que possui. A vitória real na vida do crente depende não necessariamente de como ele responde às tentações de hoje, mas do quão disposto está para permitir que Deus o trans¬forme de dentro para fora. Semelhantemente, como um time de beisebol campeão é criado treinando futuras estrelas por meio de um bom "sistema de clube de reserva", assim também o cristão se torna vitorioso, permitindo que Deus crie maturidade em seu caráter. Embora esse crescimento não aconteça da noite para o dia, o processo normalmente deve começar por uma experiência isolada.

QUARTA PARTE
A SAÍDA

Capítulo 13
O LUGAR DE QUEBRANTAMENTO E ARREPENDIMENTO

Fui convidado a dar uma entrevista sobre vício sexual na igreja em um dos primeiros programas de rádio cristão. Nos dias precedentes à entrevista, senti uma convicção crescente de transmitir aos ouvintes do programa a mensagem de que Deus transforma as pessoas. Eu estava determinado a mostrar que um homem aprisionado ao pecado sexual tem esperança por causa do poder transformador de Jesus Cristo.
Entretanto, o apresentador do programa estava igualmente determinado a transmitir sua filosofia. Ele acreditava que a liber¬tação do vício apoiava-se no aconselhamento mútuo entre outros viciados. Todas as vezes que eu tentava direcionar a conversa para o poder transformador de Jesus, que pode verdadeiramente libertar todos os viciados de sua escravidão, ele se opunha aos meus esforços e enfatizava a necessidade do aconselhamento. Como examinamos no capítulo quatro, o aconselhamento tem seu lugar no processo de restauração, mas sozinho não é a solução para o vício. Sua utilidade é efêmera para a pessoa que está tentando vencer um vício.

PROGRAMA DE MANUTENÇÃO
A filosofia comum de lidar com viciados que o apresentador de rádio e inúmeros outros defendem é que, quando um homem é viciado, seja em álcool, drogas, jogos, seja em atividade sexual, ele sempre será viciado nisso. Essa mentalidade é difundida em vários grupos de apoio onde os homens abrem a reunião passeando em torno do círculo e dizendo: "Olá, meu nome é Tim, sou um viciado sexual". Embora o homem possa estar andando em liberdade há seis anos, ainda se espera que se identifique com seu pecado passado. Não somente isso, mas também se espera que ele freqüente reuniões de grupos de apoio pelo resto de sua vida como seu único meio de escapar do vício. Ele é um perdedor e deve, então, sempre manter isso em primeiro plano em sua mente, para que não seja iludido e retorne ao antigo estilo de vida do pecado.
Uma vez que a maioria tem pouca compreensão ou confiança no poder de Deus para transformar a vida de uma pessoa, sua esperança se apóia somente no que eles podem fazer uns pelos outros; estão convencidos de que, em um certo ponto, há poder dentro das "salas" para manter sua abstinência. Essa "solução" tem sido chamada de "manutenção". Ela está fundamentada na premissa de que um indivíduo deve aprender a manter sua recu¬peração do pecado. Em outras palavras, precisa descobrir como levar sua vida de tal maneira que o pecado seja mantido em suspenso. Ele é uma vítima do que é considerado um intruso invisível, que precisa ser mantido dentro de certos limites. Em vez de levar a besta selvagem para fora e inexoravelmente atirar nela, é respeitada e mantida seguramente em uma jaula. O ho¬mem tenta controlá-lo, reprimi-lo, suprimi-lo, mas nunca se torna verdadeiramente livre do vício. Pelo resto da vida, é destinado a ter uma existência "cheia de tensão e ansiedade", de estar a um passo do desastre, o tempo todo, professando uma confiança e fé em Deus.
Tentar "manter" o pecado desse modo impede que a pessoa seja quebrantada. Tomemos o exemplo de Bob. Ele freqüentava regularmente um grupo de apoio em sua igreja para viciados sexuais e comparecia fielmente às reuniões toda terça-feira à noite. Estava ali há três anos, todas as vezes admitindo que havia caído.
Sempre era fiel em confessar seus fracassos, mas isso já se havia tornado uma rotina de fracasso e confissão. Ele nunca mudava.
Mais tarde, Bob admitiu que se convencera de que, enquanto estivesse indo para as reuniões e confessando suas reincidências com o pecado, Deus seria paciente com ele. Seu pecado não estava completamente fora de controle como era no passado, mas Bob não havia ganhado uma vitória real sobre ele - estava confortável com o arranjo.
A resposta para os cristãos é que Deus muda as pessoas de dentro para fora. Essa mudança acontece quando a pessoa vê sua necessidade pela transformação, atraca-se com seu comportamento pecaminoso e experimenta um desvio genuíno daquele estilo de vida. Tal transformação não envolve somente deixar o pecado. É muito mais profundo do que apenas a abstinência. Para que Deus leve uma pessoa ao lugar onde ela possa renunciar aos ídolos de sua vida, é necessária uma revolução tremenda de seu mundo interior inteiro. Ele cuidou e protegeu seu ídolo por anos porque ele o ama e o deseja. A tarefa de Deus é trazê-lo gradualmente ao lugar onde ele não deseje mais fazer isso. Aqueles que simples¬mente "mantêm" seu pecado nunca aprendem verdadeiramente a odiá-lo. Na melhor das hipóteses, aprendem a mantê-lo sob controle. Charles Spurgeon certa vez escreveu que "os homens que apenas acreditam em sua depravação, mas não a odeiam, não são mais do que o diabo a caminho do céu".1
Deve acontecer uma revolução antes que a pessoa odeie seu pecado. Um novo rei deve ser entronado. O velho reino, sob o reinado do ego, deve ser derrubado. A pessoa que se torna um seguidor de Cristo e tenta manter controle sobre a própria vida, não se submeteu ao senhorio de Jesus Cristo. Tudo o que essa pessoa pode esperar é se abster de seu pecado constante. Por outro lado, o homem que permitiu que Deus quebrasse o governo do ego tem, infundido em seu ser, um conjunto de valores inteiramente novo. Era isso a que Paulo se referia quando disse: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (2 Co 5.17). Ele deu uma versão mais completa do que ele estava expressando em sua carta para a igreja de Éfeso:

E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, sepa¬rados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez cometerem toda impureza. Mas vós não aprendestes assim a Cristo, se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus, que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade. Efésios 4.17-24

LIDANDO COM A VONTADE PRÓPRIA
Todo ser humano possui um senso inato de autodeterminação e auto-suficiência. Quando uma pessoa se torna seguidora de Cristo, coloca-se em um curso de colisão inevitável com a vontade de Deus, não importando a severidade de seu pecado. Na verdade, a entrada no Reino de Deus é fundamentada na percepção que a pessoa tem de que seu caminho estava errado e deve, então, ser mudado. O termo bíblico usado para descrever a solução para este problema é chamado de arrependimento.
Muitos supõem que, quando aceitam Jesus, experimentam o arrependimento e, a partir de então, podem prosseguir para os aspectos mais importantes da vida cristã. Não apenas a experiência inicial de conversão para muitos é fraca — como veremos logo — como também significa apenas o primeiro de uma série perpétua de encontros com Deus. Há muitos aspectos que precisam ser transformados na natureza humana caída. Deus não procura mais pessoas que saibam como parecer religiosas ou falar o último linguajar "cristão". Ele busca transformá-las de dentro para fora para que possam carregar a imagem de Jesus Cristo para o mundo não-salvo.
O arrependimento verdadeiro, então, é muito mais do que se alinhar com a religião cristã. A palavra grega que traduzimos como arrependimento é metanoia. É a junção das palavras meta (depois de; seguindo) e noieo (pensar). Metanoia significa reconsiderar ou experimentar uma mudança na linha de pensamento.
Antes de discutirmos o arrependimento do pecado sexual, vamos voltar à questão da vontade humana. É descabido uma pessoa pensar que se pode arrepender de qualquer pecado, contudo, recusar-se a mudar sua forma de pensamento. Arre¬pendimento espiritual é uma experiência por meio da qual a vontade da pessoa é alterada para o propósito expresso de levá-la a estar em linha com a vontade de Deus.
Deixe-me contar algumas histórias da vida de Jesus para ilustrar a diferença entre arrependimento verdadeiro e arrependimento falso. Um dia, Jesus notou um rapaz escutando atentamente a Seus ensinos. Ele fez o convite maravilhoso para o rapaz segui-lO. Senhor, eu te Seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. E Jesus lhe disse: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus (Lc 9.61,62). O homem expressou sua vontade: "Eu Te Seguirei; é meu desejo expresso seguir-Te, mas também é meu desejo primeiro passar um tempo com meus amados. Quero ser Teu seguidor, mas deve ser dentro das minhas condições". O quão diferente é a história de Zaqueu:

E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um homem, chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos e era rico. E procurava ver quem era Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver, porque havia de passar por ali. E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque, hoje, me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu e recebeu-o com júbilo. E, vendo todos isso, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. Lucas 19.1-10

Nesta história, Jesus faz o convite de um modo diferente. Ele se oferece para ser um convidado na casa de Zaqueu. Nessa oferta simples, algo poderoso penetrou o coração daquele publicano avarento. A mudança foi imediatamente evidente: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado (v. 8). Sua vontade foi mudada para estar de acordo com a vontade de Deus. Esse é o arrependimento que os outros não experimentaram. Jesus depois contou uma história para ilustrar a diferença entre arrependimento verdadeiro e falso.

Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas, depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no Reino de Deus. Mateus 21.28-31

Nesta passagem das Escrituras, o segundo filho deu a impressão de que faria a vontade de seu pai: "Eu vou, senhor", disse ele. Embora se tenha apresentado como quem tinha a intenção de fazer a vontade do pai, não cumpriu com o que falou. Talvez fosse um homem inconstante em todos os caminhos de que Tiago falaria mais tarde; ou talvez fosse alguém que vivia uma fachada de obe¬diência, sem que isso fosse a realidade de sua vida. Seja qual for o caso, não obedeceu a seu pai.
O primeiro filho, por outro lado, recusou a princípio. "Não é minha vontade fazer como o senhor deseja", ele disse. Mais tarde, pensando melhor sobre sua decisão, mudou de idéia. Jesus disse que ele se arrependeu de seu pensamento. Talvez a moral da história possa ser resumida melhor nas palavras de Jesus durante o Sermão da Montanha. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus (Mt 7.21). Em outras palavras, uma mera declaração verbal de obediência não tem o mesmo peso que o cumprimento real dela.
Alguém que deseja viver em obediência, mas fracassa continua¬mente, deve lidar com sua vontade. Ele se vê debaixo do poder de alguma entidade estranha (quer a considere demoníaca ou simplesmente pecado), mas, na realidade, está sob o poder da própria vontade. É muito parecido com uma criança mimada que é continuamente malcriada. Há momentos em que quer ser um bom menino, mas quando aparece algo que deseja fazer, ele o faz, não importando as conseqüências. E indisciplinado, está acos¬tumado a fazer o que quer. Ele, em vez de seu pai, é o mestre de sua vida. O homem em pecado sexual compulsivo se conduz da mesma maneira. Faz o que quer que seja que deseje fazer. Ele comete atos de pecado sexual porque gosta disso.
Como descobriremos nos capítulos seguintes, existem vários aspectos envolvidos para uma pessoa entrar em uma vida liberta. Um dos elementos principais do processo envolve arrependi¬mento: ter a própria vontade alterada para alinhar-se com a vontade de Deus. Como Paulo disse: Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição, que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra, não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus (1 Ts 4.3-5).
O arrependimento descreve a transformação de uma pessoa de ser a que faz a própria vontade (carnal) para a que faça a vontade de seu Pai. No início de Seu ministério, as primeiras palavras que saíram da boca de Jesus foram: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus (Mt 4.17b). Ele, então, prosseguiu, dando o fabuloso Sermão da Mon¬tanha, que é uma descrição da experiência inicial de arrependimento e o estilo de vida que surge como resultado. As beatitudes contêm tudo o que está envolvido no processo de transformação. Os sete versículos de Mateus (5.3-9) descrevem como uma pessoa está preparada para o arrependimento, como ele se desenvolve e a vida que o acompanha.

PERCEBENDO A PRÓPRIA NECESSIDADE DE MUDANÇA
Jesus abriu seu sermão revolucionário com as palavras: Bem-aventu¬rados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus (Mt 5.3). Essas palavras descrevem a condição do coração do indivíduo que se torna ciente da grande necessidade da operação de Deus em sua vida. Aquele que teve uma conversão real a Cristo experi¬menta a sensação esmagadora de estar totalmente incompleto. Uma pessoa, pelo menos neste momento em sua vida, compreende que não há coisa alguma que possa fazer para se salvar. Ela percebe que somente o sangue de Jesus Cristo pode fornecer a expiação pelo seu pecado.
O homem oprimido pela sensação de impotência sobre seu pecado geralmente tem uma idéia do que significa ser pobre de espírito. Ele tentou deixar seu comportamento pecaminoso muitas vezes, tomando inúmeras resoluções. Ele tentou com toda sua força mudar sua vida. Quando surgiam as tentações, como uma criancinha sendo levada pela mão, seguia cegamente as ordens de sua concupiscência. Essa pessoa pode ver que sua única esperança para a libertação do poder do pecado é o Salvador.
Muitos entendem, de um modo vago, que não podem vencer seu pecado porque nunca experimentaram a pobreza verdadeira de espírito. Ser pobre de espírito significa que a pessoa realmente não vê capacidade alguma dentro de si para vencer o poder do pecado sem a ajuda de Deus. Aqueles que tentam "manter" seu pecado nunca chegaram a ter uma visão verdadeira de seu desamparo. Não reconhecerão sua necessidade porque desejam permanecer no controle da própria vida. Quando uma pessoa vê verdadeiramente sua condição de desamparado, fica desesperada pela ajuda de Deus, não importando o que isso possa custar-lhe.
Embora existam muitos que jamais chegaram a este lugar de pobreza, outros chegaram e nunca foram mais adiante. Eles vivem confessando abertamente sua impotência, mas continuam a impedir o Senhor de levá-los pelo processo que resultará na vitória sobre o pecado. Não é suficiente o homem perceber que não pode vencer o pecado por si só; algo deve acontecer dentro dele.

A QUEBRA DA VONTADE PRÓPRIA
Depois que a pessoa percebe sua condição pecaminosa, só há uma resposta razoável: uma tristeza profunda pelo quanto ele desobedeceu a Deus, ofendeu, desafiou e até machucou seu Senhor. A segunda frase que Jesus proferiu em Seu Sermão da Montanha foi: Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados (Mt 5.4).
Quando uma pessoa começa a experimentar uma tristeza verdadeira de Deus pelo seu pecado, uma mudança começa a acon¬tecer em seu coração. Ele começa a literalmente odiar seu pecado, percebendo sua natureza má e enganosa que o impedia de ter uma comunhão verdadeira com Deus e com os outros cristãos. Paulo disse dos coríntios que finalmente se arrependeram:

Agora, folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte. 2 Coríntios 7.9,10

Ao longo dos anos, aconselhei muitos homens que haviam tido somente uma tristeza do mundo. Jesus falou sobre a paz que o mundo dá (Jo 14.27). Existe também uma contrição que o mundo dá, e as duas estão intimamente ligadas. A paz mundana depende de circunstâncias favoráveis. A paz que Jesus dá depende de uma sensação interna de tranqüilidade que só existe por meio de um relacionamento sereno com Deus.
A tristeza do mundo é o pesar devido a circunstâncias desfavo¬ráveis. O pecado sexual pode rapidamente trazer essas circunstâncias. As dívidas financeiras freqüentemente se acumulam; uma esposa desolada pode desaparecer com os filhos; uma vida secreta pode ser exposta no trabalho ou mesmo na igreja. Alguns podem até mesmo enfrentar acusações criminais por seus atos. Sentir um remorso enorme pelos próprios atos por causa das conseqüências não é incomum. Sinceramente, compartilho com os homens entristecidos, angustiados o que eles devem enfrentar por causa de sua conduta sexual imprópria. Todavia, tal pesar é comum para qualquer um da humanidade que encontre circunstâncias desfavo¬ráveis. É o que Paulo chama de tristeza do mundo. Não é errado sentir-se triste por essas perdas. E natural sentir-se mal quando se está em uma situação inadequada. No entanto, o perigo com a tristeza do mundo é que ela dá uma falsa sensação de quebrantamento e arrependimento. Conseqüentemente, Paulo diz que ela leva à morte.
Testemunhei um exemplo trágico disso recentemente. Jim e sua esposa, Sue, passaram por aconselhamento no Pure Life Ministries há alguns anos. Jim chorou por causa de seu pecado e prometeu nunca mais cometê-lo. Ele passou a freqüentar reuniões de grupos de apoio, contudo, as coisas nunca mudavam. Ele continuou a freqüentar sex shops e casas de massagem. Também tinha um terrível problema com a ira e, de vez em quando, batia em Sue e em seus dois filhos. Embora sejamos tipicamente muito cautelosos em dar esse conselho, sugerimos que ela obtivesse uma separação legal de Jim. Contudo, antes que isso se concretizasse, Sue continuou nessa situação abusiva por mais de 15 anos. Ela, por fim, decidiu divorciar-se dele.
Perdemos o contato com Jim e Sue ao longo dos anos, mas, coincidentemente, fui convidado para pregar em sua igreja. Fiquei surpreso ao vê-los nesta igreja e fiquei feliz em ver que Jim tinha respondido ao apelo naquele domingo de manhã. Ele chorou muito no altar. Eu exultava de alegria ao ver seu "arrependimento" até que depois o pastor conversou comigo.
"Jim tem chorado durante os últimos cinco anos, desde que Sue divorciou-se dele", ele me informou. "Mas, Steve, ele nunca muda". O lado triste é que ele recebeu o diagnóstico de que sofre de um câncer terminal e tem somente alguns meses de vida. No ponto mais extremo, até onde eu o conheço, Jim foi tragado pela tristeza do mundo. Não estou afirmando que seu pecado levou-o ao câncer, mas é algo para se pensar.
Quão diferente é o homem que experimenta a verdadeira tris¬teza de Deus! Sim, embora se angustie pelas conseqüências de seu pecado, algo diferente acontece dentro dele. Um remorso mais profundo, mais sincero penetra em seu coração endurecido há tanto tempo. Ele vê o que o seu pecado fez para sua família. Fica oprimido pela magnitude de seu estilo de vida narcisista. Seu orgulho o encara penetrantemente. Ele se lembra do quanto não dava importância aos outros. Percebe que entristeceu um Deus amoroso e, repetidamente, feriu o espírito frágil de sua esposa, e seus atos deixaram uma marca indelével em seus filhos. O prazer de seu pecado cobrou um preço tremendo. Para onde quer que se volte, vê a devastação de seu pecado. Este não é o lamento egoísta de uma pessoa com tristeza do mundo. Este homem está sendo quebrantado sobre quem ele é. O controle que teve sobre sua vida destruiu tudo de valor para ele. Essa é uma pessoa que pode perceber muito claramente o preço da vontade própria. O arrependimento verdadeiro é uma experiência profunda e poderosa (ou um fenômeno contínuo). Muito diferente em com¬paração àquelas resoluções superficiais, vazias, que muitos fizeram sob o termo arrependimento!
Eu passei por numerosos quebrantamentos em minha vida. Talvez o que mais me tenha impactado foi o que aconteceu em 1991. Naquela ocasião, eu estava em meu ministério há cinco anos. Embora já tivesse vencido o pecado sexual compulsivo há muito tempo e tivesse até mesmo sendo usado pelo Senhor até certo ponto, ainda era muito narcisista e orgulhoso. Eu passava algumas horas em oração e em estudo da Bíblia todas as manhãs, mas sentia que me afastava do Senhor. Quando orava, era como se Deus estivesse a milhões de quilômetros de distância. Os céus haviam-se tornado de bronze para mim. A Bíblia parecia árida e insípida. Eu estava ficando cada vez mais irritadiço com os outros, endurecido para o Senhor e frio para com as necessidades daqueles a quem fui chamado para ministrar.
O Pure Life Ministries havia acabado de comprar uma proprie¬dade maior (onde estamos atualmente sediados) e precisava encontrar uma nova igreja para os homens da casa de recuperação freqüentar. Em um domingo, eu e Kathy fomos a uma pequena igreja pentecostal fora da região, não muito longe das novas insta¬lações. Eu estava lá para verificar se aquele era o tipo de igreja que gostaríamos que os homens freqüentassem.
O pastor pregou naquele dia sobre o capítulo seis de Lucas. Não era tanto o que ele estava dizendo que me comovia, mas o que Deus estava mostrando-me: eu não estava levando uma vida cristã. Não, não fui despertado emocionalmente, mas me senti culpado. No final da pregação, ele fez um apelo a todos que sentissem que precisavam consertar-se com Deus. Em minha condição orgulhosa, a última coisa que queria fazer era responder a um apelo. Eu estava ali para analisar a igreja, não para me arrepender! A despeito de minha relutância, eu sabia que eu tinha de obedecer à voz do Senhor.
Assim que meus joelhos tocaram o piso do altar, eu comecei a chorar. Tudo o que eu pude ver era o quanto eu tinha sido extremamente orgulhoso e arrogante. Vi a falta de misericórdia e amor em minha vida. Quanto mais Deus me mostrava, mais eu chorava. Em pouco tempo, soluços profundos sacudiam minha estrutura inteira. Na frente de toda a congregação, que eu estava tão preocupado em impressionar, eu chorava como um bebê! Quanto mais humilhado me sentia, mais chorava.
Foi uma experiência terrível na carne, no entanto, foi um dos melhores dias de minha vida! Meu pensamento orgulhoso, minha natureza egoísta e vontade obstinada receberam um soco severo, mas preciso. Dessa experiência veio um novo quebrantamento que transformou completamente minha forma de pensar. Não que eu nunca mais cederia ao orgulho ou egoísmo; eles apenas perderam seu poder incontestado sobre minha vida.
Esse tipo de quebrantamento é o que o homem em pecado sexual precisa experimentar desesperadamente. A vontade forte (como a criança mimada que sempre faz o que quer) deve ser tratada com severidade pelo Senhor. Deus deve receber Sua posição legítima de autoridade no coração do homem. Essa destronização do "ego todo-poderoso" só pode acontecer por meio desse quebrantamento.
Toda vez que uma pessoa é quebrantada por Deus, o ego perde o grande controle sobre a vida. A velha natureza, que ama os prazeres do pecado, deve ser subjugada. Tal coisa só pode acontecer por meio da mão poderosa de Deus. Exami¬narei isso mais detalhadamente no capítulo seguinte, mas estou mencionando agora como uma parte importante no processo de arrependimento.
A pessoa que tenta "manter" seu pecado não pode ter uma vitória verdadeira, porque seu coração não foi transformado! Aqueles que dizem que você deve passar o resto da vida em grupos de apoio e terapia não entendem o poder transformador de um coração arrependido. Muitos deles nunca saberão sobre arrependimento, porque não se permitirão ser quebrantados por Deus. Por isso, o próprio coração endurecido e não-quebrantado estabelece a base para o que eles ensinam a outros. Daquele chão pedregoso vem o tipo de ensino que promove um arrependimento fraco.

A VONTADE SUBJUGADA
A terceira beatitude que examinaremos é: Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança (Mt 5.5 NVI). Mansidão é a sujeição voluntária da vontade de uma pessoa para a vontade de outra. Jesus viveu em mansidão absoluta. Ele era perfeitamente submetido ao Pai. Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6.38). De fato, em outra ocasião, Ele disse: Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo, e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou (Jo 5.30). Jesus estava em tal estado de submissão ao Pai que era impossível para Ele fazer o que bem entendia.
Jesus não precisou ser quebrantado, porque Ele não tinha uma natureza humana caída. Ele nasceu com a natureza sem pecado de Seu Pai. É uma questão diferente para os filhos de Adão. O único modo de termos mansidão é por meio do quebrantamento de nossa vontade. Um retrato perfeito disso é o de um garanhão. Ele pode ser um animal bonito e gracioso, mas não tem utilidade alguma até ser dominado. No entanto, depois de dominado, o cavalo poderoso torna-se controlado pelas rédeas e comandos de seu domador. Esse é um retrato bíblico de mansidão.
O cristão que experimentou a sujeição de sua vontade por seu Pai Celestial aprendeu a ter um respeito saudável pelo chicote do Mestre. Este não é o medo aterrador que uma criança maltratada tem por um pai cruel, mas a reverência adequada que se tem daquele que merece respeito. A vontade desse homem foi subjugada de tal forma que não vê mais sua vida como algo que ele tem o direito de controlar. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1 Co 6.19,20).
O temor a Deus estabelece certos perímetros em volta da pessoa, que ajuda a dificultar qualquer tentativa de a pessoa aventurar-se a entrar no território ilícito do pecado sexual. A justiça é o resultado. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos (Mt 5.6), Jesus continuou a dizer. A pessoa que aprende a viver sob o olhar sempre presente de um Deus santo esmera-se em agradar a Ele. O Senhor descreve esse desejo como fome e sede de justiça. Tal desejo em agradar a Deus promove uma aversão genuína pelo pecado e uma vontade de destruir todos os seus ídolos.
Jesus continua descrevendo misericórdia, pureza e pacificação, que caracterizam ainda mais a vida de uma pessoa que experi¬mentou um quebrantamento e arrependimento verdadeiros. Quando o coração endurecido e impiedoso de uma pessoa é subjugado, uma nova compaixão e um novo amor pelos outros o substituem. E a nova vida que Paulo descreveu. No entanto, esse quebrantamento inicial por Deus é apenas o início!

Capítulo 14
DISCIPLINADO PARA A SANTIDADE

Depois de explicar o problema do vício sexual em um programa de rádio, uma senhora ligou para expressar o que, sem dúvida, muitos dos ouvintes pensavam naquele dia: "Peça-lhes para tomar uma ducha fria!' Em sua compreensão simples da situação, esses homens eram apenas "machos abrasados" que precisavam exercitar um pouco de autodisciplina.
Embora essa prezada senhora não compreendesse inteiramente a gravidade desse assunto, ela não estava tão equivocada assim. Quando você vai diretamente aos fatos, todos os viciados sexuais não têm autodisciplina em uma ou mais áreas da vida. A disciplina é extremamente necessária na vida de um viciado sexual, embora a idéia o faça encolher-se.
A disciplina tem sido definida como "aprender a moldar o caráter e reforçar o comportamento correto. Disciplinar uma pessoa ou um grupo significa comandá-los tão bem de forma que eles atuem da maneira pretendida".1 A Bíblia utiliza o termo tolo para descrever um homem que não presta atenção à instrução, nem recebe a repreensão vivificante. Embora a disciplina seja o que o ajudará a sair do caos que ele criou em sua vida, ele se recusa a recebê-la. Salomão disse: Os loucos desprezam a sabedoria e o ensino (Pv 1.7b), odeiam o conhecimento (Pv 1.22b), são arro¬gantes e consideram-se seguros (Pv 14.16b). Não fales aos ouvidos do tolo, disse ele, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras (Pv 23.9). Ele também disse: Não toma prazer o tolo no entendimento, senão em que se descubra o seu coração (Pv 18.2). Parte do motivo de o viciado sexual não ter interesse em receber correção é porque sua mente está na casa da alegria (Ec 7.4).
Os homens cristãos, cuja vida foi devastada pelo pecado, admitirão humildemente que esses versículos descrevem com precisão como eles eram no passado. Muitos buscaram ajuda, mas estavam sempre procurando por uma resposta fácil, simples. Eram atraídos por "soluções" que exigiam pouco, mas prometiam muito. É claro que na sociedade de hoje nunca haverá escassez de especialistas autodenominados que oferecem descaradamente uma saída fácil para qualquer problema ou circunstância que as pessoas comumente enfrentam na vida.
Verdadeiramente, não existe uma resposta fácil. Os homens determinados a encontrar uma saída fácil de seu pecado estão simplesmente desperdiçando um tempo precioso, tateando no escuro pelo que não existe. Uma vida que saiu do controle só volta a ser controlada através dos processos da disciplina de Deus.

PRECEDENTE BÍBLICO
Desde a infância, a maioria de nós foi bombardeada com um estilo de vida de satisfação imediata, indulgência egoísta, relacio¬namentos superficiais e compromissos banais. Em um certo ponto, aqueles que planejam ter uma vida cristã genuína devem lutar corpo-a-corpo com esse modo de vida não-cristão e encarar sua necessidade de mudança. A disciplina de Deus permite que uma pessoa tenha uma vida santa inserida em uma sociedade decadente e perversa como a nossa.
As Escrituras têm muito a dizer sobre o conceito de disciplina. Castigo, repreensão, admoestação, correção, instrução e treinamento são termos usados sob o tema geral da disciplina na Bíblia. Esses podem não ser termos populares em nossa cultura "vale-tudo" mas todos eles descrevem a forma como Deus trata com Seus filhos em todas as idades.
A Bíblia expressa claramente que os seres humanos começam a vida espiritual no caminho errado. Salomão, falando sob uma unção poderosa de sabedoria, repetidamente aconselhou os pais sobre a necessidade de estabelecer disciplina na vida de uma criança em tenra idade. A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção a afugentará dele (Pv 22.15). A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo envergonha a sua mãe (Pv 29.15). Castiga teu filho enquanto há esperança, mas para o matar não alçarás a tua alma (Pv 19.18). O que retém a sua vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, a seu tempo, o castiga (Pv 13.24).
Essas são palavras sábias para os pais em nossa geração. Não obstante, há uma verdade espiritual muito mais profunda que a verdade prática expressa aqui. As crianças nascem em um mundo mau, com uma inclinação natural para o pecado e a rebelião ao modo de vida ordenado por Deus. Da mesma maneira que a natureza de um bebê deve ser tratada cedo, assim também o novo filho de Deus deve aprender a respeito da mão disciplinadora de um Pai amoroso, celestial. Os ministros que tentam ignorar esse aspecto importante do crescimento espiritual são péssimos exemplos do que um pai espiritual deve ser. O escritor de Hebreus disse o seguinte:

Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado. E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela. Hebreus 12.4-11

Essa passagem maravilhosa, que sucede o grande capítulo de fé da Bíblia, apresenta um princípio básico da vida cristã: Se estais sem disciplina, afirma o escritor de Hebreus, sois, então, bastardos, e não filhos. Embora os cristãos possam tentar evitar a disciplina de Deus na vida deles, se o indivíduo for verdadeiramente um filho de Deus, é inevitável que enfrentará a vara da correção de Deus. Questiono sinceramente a salvação daqueles que parecem nunca enfrentar qualquer disciplina de Deus. A carta abaixo foi extraída do livro de minha esposa, Through deep waters, Letters to hurting wives [Através das águas profundas, cartas a esposas magoadas], que expressa perfeitamente essa verdade.

Querida Lucy,
Lamento saber que seu marido fugiu com outra mulher. Deve doer-lhe muito ouvir o quanto eles estão felizes, especialmente por parecer que tudo em sua vida esteja ruindo. Ambos estão ganhando muito dinheiro, indo à igreja, tendo uma vida próspera e, aparente¬mente, sem quaisquer dificuldades. O quão diferente deve ser sua vida. O que você ganha de salário mal dá para sobreviver. O motor de seu carro precisa ser recondicionado. Você se sente muito só. Posso entender por que você sente como se Deus os estivesse aben¬çoando e castigando você.
Lucy, já lhe ocorreu que esses dois podem nem mesmo conhecer o Senhor? Percebo que eles alegam ser cristãos, mas sua conduta parece qualquer coisa, menos cristã para mim. No mínimo, estão terrivelmente apostatando e estão em uma ilusão real. Tudo ir bem não é necessariamente um sinal da bênção de Deus na vida de uma pessoa. Na verdade, em um caso como este, em especial, parece ser uma falta da mão de Deus em sua vida.
Veja sua vida em comparação. Você é uma cristã sincera, lutando para manter-se viva no meio da aflição e adversidade. Passei muito por isso em meu relacionamento com Deus. Deixe-me compartilhar as palavras de Salomão com você: Filho meu, não rejeites a correção do SENHOR, nem te enojes da sua repreensão. Porque o SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem. (Pv 3.11,12).
Não sei o suficiente sobre essa situação para fazer quaisquer julga¬mentos verdadeiros, mas parece que seu marido e sua amante levam a vida sem a menor preocupação genuína sobre o que Deus pensa. Você, no entanto, está sendo purificada na fornalha da angústia.
Lucy, não deixe a "felicidade" deles enganá-la. A felicidade funda¬mentada em circunstâncias favoráveis não tem profundidade. Salomão disse: O bom entendimento dá graça, mas o caminho dos prevaricadores é áspero (Pv 13.15). Um dia, eles terão de lidar com as conseqüências de seus atos; seja aqui na terra ou diante de um Deus santo.
As boas novas maravilhosas para você é que Deus a ama o suficiente para estar extremamente preocupado com cada aspecto de sua vida. Embora pareça que o Senhor esteja longe durante momentos como esses, Ele nunca esteve tão próximo. Volte-se para Ele para o conforto que só Ele pode dar-lhe.

A REAÇÃO À DISCIPLINA
Muitos de nós receberam a instrução que Salomão dá em Pro¬vérbios 5, mas simplesmente se recusaram a guardar:

Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos e não vos desvieis das palavras da minha boca. Afasta dela o teu caminho e não te aproximes da porta da sua casa; para que não dês a outros a tua honra, nem os teus anos a cruéis. Vara que não se fartem os estranhos do teu poder, e todos os teus trabalhos entrem na casa do estrangeiro; e gemas no teu fim, quando se consumirem a tua carne e o teu corpo, e digas: Como aborreci a correção! E desprezou o meu coração a repreensão! E não escutei a voz dos meus ensinadores, nem a meus mestres inclinei o meu ouvido! Provérbios 5.7-13

Raramente um homem procura o Pure Life Ministries antes de jogar sua vida fora. Porém, a maioria dos homens que se entrega ao pecado sexual sofrerá anos de conseqüências antes de estarem dispostos a permitir que Deus comece uma obra de correção na vida.
Infelizmente, existem também muitos que nunca aprenderão. Eles são como o homem que quebrou o braço, mas não queria ir ao médico. Ele preferia viver com um braço aleijado a ter de passar pela dor de reduzir a fratura. Os viciados sexuais também estão quebrados por dentro. Grande parte deve enfrentar as con¬seqüências de infâncias infelizes ou sofrer o castigo pelas más decisões que fizeram. Toda vez que o Senhor Se aproxima para trazer a correção necessária, eles se afastam. Sentem que não conseguem enfrentar a dor da realidade do que são. O problema verdadeiro é que eles, como o tolo de Provérbios, só vivem pensando no agora. Ainda que o processo de disciplina traga, enfim, a alegria e a liberdade, não conseguem ver além do que é mais fácil no momento.
É por isso que Salomão disse: Mais profundamente entra a repreensão no prudente do que cem açoites no tolo (Pv 17.10). Ele também disse: Ainda que pisasses o tolo com uma mão de gral entre grãos de cevada pilada, não se iria dele a sua estultícia (Pv 27.22). Existem aqueles que se recusam a aprender, independente do preço de sua loucura. O homem que não recebe a instrução do Senhor é destinado a repetir as mesmas lições inúmeras vezes. Ele é como o homem descrito em Provérbios que não quis (1.25), não aceitou, desprezou (1.30), rejeitou, enojou-se (3.11), abandonou (10.17), não ouviu (13.1) e até mesmo aborreceu (5.12) a instrução do Senhor. Muitos que foram dessa maneira no passado estão agora aprendendo a se converter (1.23), guardar (10.17), observar (13.18), ouvir (15.31,32), aceitar (13.1) e até mesmo a amar (12.1) a repreensão de Deus.

Na Figura 15-1, vemos um quadro que esboça vários versículos do Livro de Provérbios com relação àqueles que aceitam ou rejeitam a correção do Senhor. É um modo de escrever hebraico para contrastar o bem e o mal, a luz e as trevas, a insensatez e a sabedoria. Nos versículos listados, é feita uma comparação entre uma pessoa que se volta para os processos de correção de Deus e a que se afasta deles. Dessas passagens, pode-se distinguir prontamente entre o sábio e o tolo.


Positivo Negativo
Versículo O que ele faz Resultado ou realidade O que ele faz Resultado ou realidade
10.17 Guarda a correção O caminho para a vida Abandona a repreensão Desvia-se
12.1 Ama a correção Ama o conhecimento Aborrece a repreensão É chamado de bruto
13.1 Ouve a correção Ama o conhecimento Não ouve É chamado de escarnecedor
13.18 Observa a repreensão Será venerado Rejeita a correção Pobreza e vergonha
15.5 Atenta para a repreensão É chamado de prudente Rejeita a correção É chamado de tolo
15.10 ------------ ------------ Abandona a vereda Dura correção
------------ ------------ Aborrece a repreensão Morrerá
15.31 Escuta a repreensão Mora com o sábio ------------ ------------
15.32 Escuta a repreensão Adquire entendimento Rejeita a correção Menospreza a si mesmo
29.1 ------------ ------------ Torna-se endurecido Não há cura
Figura 15-1

OS MODOS DE DISCIPLINA
A disciplina de Deus na vida de Seus filhos é tão diversa quanto os problemas que Ele deve corrigir. Por exemplo, a vida de Pedro é caracterizada por muita correção. Você se lembra de quando Jesus perguntou aos discípulos quem eles pensavam que Ele fosse? Foram expressas várias noções, mas Pedro, temporariamente cheio com a Palavra de Deus, levantou-se corajosamente e exclamou: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.16b). Que declaração! Essa era uma daquelas ocasiões em que você gostaria que alguém tivesse usado uma filmadora para toda a posteridade! Esse foi certamente um dos maiores momentos de Pedro.
Jesus, que nunca deixava passar a oportunidade de abençoar alguém, virou-se para Pedro e disse: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus (Mt 16.17-19).
Puxa! Como você se sentiria se o Filho de Deus dissesse algo assim para você, diante de todos os seus amigos? Posso ver Pedro inchando-se. E, de acordo com a lei da gravidade, tudo o que sobe deve descer. Alguns minutos mais tarde, quando Jesus reve¬lou o que Ele teria de sofrer em Jerusalém, Pedro o repreendeu. Imagine isso! Pedro, transbordando de orgulho, naquele momento pensou que estava na posição de repreender Deus!
Jesus voltou-se e disse com autoridade para Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens (Mt 16.23). Não entendo como um homem pode estar falando pela Palavra do Senhor em um minuto e falando por Satanás no outro, mas foi assim. Pedro recebeu uma repreensão incisiva de Jesus. É importante ter em mente que o Senhor não estava apenas desabafando uma frus¬tração, como um de nós faria. Sua única preocupação era que Pedro aprendesse a discernir a diferença entre a voz do Espírito Santo e a do inimigo. Pedro recebeu, naquele dia, uma lição do maior Mestre conhecido do homem e, provavelmente, nunca mais se esqueceu dela.
O Senhor também pode graciosamente corrigir Seus filhos por intermédio de outros cristãos. Paulo descreve um incidente que teve com Pedro. Paulo estava enfrentando uma oposição contínua dos judaico-cristãos, judeus que se haviam supostamente convertido ao cristianismo, mas queriam reter a Lei. Pedro estava ao lado de Paulo no meio do conflito. Ele podia ver claramente a mão do Senhor na obra de Paulo. Mais tarde, Pedro foi para a Antioquia, na Síria, onde estava localizada a igreja-matriz de Paulo. Pedro estava inteiramente à vontade com os gentios recém-convertidos, até que um grupo judaico-cristão chegou de Jerusalém. De repente, ele se apartou dos gentios, provavelmente fazendo com que eles se sentissem como se tivessem sido rejeitados pelo Senhor. Paulo confrontou isso publicamente. Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus? (Gl 2.14). Às vezes, uma repreensão severa é o que precisamos para nos colocar de volta no caminho — para nos derrubar de nosso "cavalo alto", por assim dizer. Nesse caso, o temor de Pedro pelos homens foi exposto para todos. Deus poderia ter colocado no coração de Paulo para chamar Pedro à parte e delicadamente lhe mostrar como ele estava mais preocu¬pado com o que os judaico-cristãos pensariam dele do que no bem-estar dos gentios. Porém, as lições que criarão uma barreira ao redor de um homem que se prepara para as tentações futuras normalmente vêm com um preço tremendo.
Outras lições são até mais dolorosas. Quem pode esquecer o que Pedro experimentou na noite em que Jesus foi preso? O Senhor estava sentado à mesa, tomando a última ceia com Seus discípulos. Ele decidiu que estava na hora de contar-lhes o que aconteceria naquela noite; Ele seria traído, preso e, então, crucificado. O confiante Pedro não podia agüentar ouvir esse tipo de discurso. Por ti darei a minha vida (Jo 13.37b), disse ele, com uma autoconfiança inegável.
Jesus respondeu: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo, enquanto me não tiveres negado três vezes (Jo 13.38). Ainda cheio de sua falsa confiança, Pedro respondeu: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei (Mt 26.33b). Depois de algumas horas, Pedro aprendeu a lição dolorosa de depender das próprias forças e habilidades. Depois de negar Jesus pela terceira vez, Jesus, que foi empurrado para fora naquele exato momento, olhou para Seu discípulo confiante. Um olhar vindo daqueles olhos de amor foi o suficiente para partir o coração de Pedro. Fomos informados de que Pedro saiu e chorou amargamente (Lc 22.62).
Alguém poderia perguntar por que Deus é tão duro com aqueles que Ele ama. Eu o encorajo a gastar algum tempo lendo a Primeira e a Segunda Epístola de Pedro. Você lerá as palavras de um homem que passou pelo processo de correção de Deus por mais de 30 anos. Pedro não se tornou um homem por intermédio do qual Deus pudesse falar tais palavras de vida simplesmente, porque ele seguiu Jesus por três anos. A vida de Judas é uma prova clara de que somente estar ao redor de Jesus não produz tal mudança de vida. Pedro amadureceu e teve uma revelação mais profunda das coisas de Deus, porque permitiu ao Senhor corrigi-lo. Podemos também considerar o fato de que, se o Senhor sentiu que um homem como Pedro precisou ser regularmente disciplinado, muito mais aqueles que estão em pecado habitual. Novamente: Porque o SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem (Pv 3.12).

DISCIPLINADO PARA O CARÁTER
Talvez você esteja pensando: "Bem, isso é bom para Pedro. Ele foi um dos discípulos. Mas eu não vou escrever um livro da Bíblia e realmente não quero experimentar a disciplina de Deus. Só quero levar uma vida normal, livre desse pecado que continua levando-me à ruína". O problema com esse tipo de pensamento é que a pessoa que será libertada do pecado deve exibir o caráter de alguém que foi realmente libertado. Entretanto, esse caráter não é gerado espontaneamente, mas deve ser trabalhado nele pela disciplina do Senhor.
Há vários anos, um famoso e importante lançador da liga de beisebol participou de nosso programa de recuperação. A pequena elevação que ele construiu para treinar ainda pode ser vista no galpão. Seu pastor lhe disse: "Seu talento o levou para o topo, mas sua vida foi destruída por falta de caráter. Era verdade. Ele, certamente, tinha a habilidade. Na verdade, poderia até mesmo ter tido mais sucesso, se não se tivesse destruído com drogas e sexo. Deus tentou tratá-lo em várias ocasiões, mas ele estava muito orgulhoso e inflexível. Abaixo está um trecho do testemunho que ele compartilhou sobre o que lhe aconteceu na casa de recuperação:
Embora eu servisse ao Senhor da boca para fora e ostensiva¬mente trabalhasse ou liderasse as atividades e causas cristãs, minha vida era secretamente luxuriosa, gananciosa, narcisista, caótica e muito ambiciosa. Como eu gastava cada vez menos tempo com o Senhor, comecei a confiar cada vez mais em mim mesmo. E, por volta de 1987, não estava mais envolvido com atividades cristãs.
Apesar de ter meu melhor ano em 1988, eu não estava mais interessado em coisa alguma. No auge de minha carreira, eu me entreguei a todo prazer que queria. A princípio, tudo saía conforme eu queria, dentro e fora do campo. Mas logo começaram a surgir muitos problemas, e minha vida começou a ruir rapidamente em todas as áreas. Eu realmente não me importava mais, e embora eu tentasse "puxar a linha", logo me tornei prisioneiro de meus próprios esquemas e comecei a me tornar muito cínico. Comecei a tentar aconselhar-me porque meu casamento estava prestes a terminar em divórcio. Eu tentei a psicologia "cristã", os grupos de 12 passos, clínicas de reabilitação e livros, mas minha arrogância e o domínio profundo do pecado eram demais.
Foi somente quando vim para o Pure Life Ministries que aprendi a andar com Deus novamente. As pessoas lá conhecem Deus e acreditam que só Jesus Cristo pode e irá ajudar-nos a sair de quaisquer problemas que tenham tornado nossa vida tão disfuncional. Buscando a Deus e a instrução em oração, com o apoio e disciplina amorosa que são constantemente ensinadas [...].

Sua história é um testemunho ressoante da verdade que Salomão disse: Pobreza e afronta virão ao que rejeita a correção, mas o que guarda a repreensão será venerado (Pv 13.18). A palavra hebréia para venerado é um termo muito interessante. Significa literal¬mente ser grande ou importante, mas raramente é usada de forma literal.
Esse uso figurativo é um passo fácil para o conceito de uma pessoa "importante" na sociedade, alguém que é respeitável, notável, digno de respeito.2
O processo da disciplina de Deus transforma conseqüente¬mente um homem em uma pessoa "importante" na sociedade, uma pessoa honrada, notável, digna de respeito.
Isso é quase inimaginável para aqueles aprisionados em pecado sexual. Ainda que possam exibir uma confiança exterior, até mesmo arrogante, em seu íntimo existe muita vergonha e culpa por sua vida oculta. Lembro-me de considerar-me secretamente um ordinário, safado e infame. Suponho que se poderia dizer que eu era um "joão-ninguém" moralmente. Como examinamos no primeiro capítulo, quanto mais a pessoa se entrega, mais seu caráter será esvaziado de qualquer coisa de substância real.
Alguns viciados sexuais vêem seu pecado como um tempera¬mento de menos importância em um caráter senão impecável. Tal pensamento é pura fantasia! O comportamento da pessoa em secreto é onde o caráter - ou a falta deste - se revela. Um homem não pode ser compartimentado. Ele só pode agir mediante a sua essência. O pecado sexual secreto não é uma casualidade, é um subproduto direto do seu caráter. O comportamento secreto dele só mudará quando seu caráter mudar.
Vejamos Henry. Ele é o homem carismático mencionado no capítulo quatro, que se tornara o diretor do ministério de reabilitação de usuários de drogas mais bem-sucedido do país. Como já dito antes, a verdade de que ele estava tendo numerosos casos com mulheres casadas e prostitutas, e tinha voltado a abusar das drogas veio à tona. Externamente, ele parecia ser um homem de verdadeiro caráter. Contudo, o homem real interno foi exposto quando ele realizou secretamente seu pecado nos bastidores.
Henry foi para o Pure Life como um homem quebrantado. O pessoal do nosso ministério o amava, mas eles não ficavam impressionados, nem se deixavam enganar por sua personalidade carismática. Ele não iria conseguir tornar as coisas mais fáceis por meio deste programa. Por fim, ele se graduou. Ele começou seu discurso de graduação, listando vários aspectos da casa de recu¬peração dos quais ele não gostou. Um travesseiro fino, o crivo do chuveiro gotejante e um companheiro de quarto que roncava, tudo foi mencionado. Então, ele disse algo que guardo desde então.
"Esse programa foi absolutamente perfeito para mim. Na realidade, foi feito sob medida por Deus. Ele sabia exatamente do que eu precisava. Se fosse como eu queria, tudo teria sido fácil. Eu não teria passado por quaisquer problemas. Eu não teria de enfrentar quaisquer dificuldades. Tudo teria sido exatamente do jeito que eu queria que fosse. Mas eu louvo a Deus por ter contrariado minha vontade quase todos os dias aqui. Porque, se tudo tivesse acontecido perfeitamente, eu ainda seria o homem que estava andando furtivamente ao redor do pecado".
Outros simplesmente tentam criar honra para si mesmos. Eles acreditam que, se eles se conduzirem com muita confiança, poderão parecer respeitáveis para aqueles ao seu redor. E realmente existem muitos que julgam pela aparência (Jo 7.24) e são enganados por esses falsos "cristãos". Jesus discerniu essa abordagem insolente com alguns à Sua volta.
Reparando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola: Quando por alguém fores convidado para um casamento, não procures o primeiro lugar; para não suceder que, havendo um convidado mais digno do que tu, vindo aquele que te convidou e também a ele, te diga: Dá o lugar a este. Então, irás, envergonhado, ocupar o último lugar. Pelo contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra diante de todos os mais convivas. Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. Lucas 14.7-11 - ARA

Ele não será um homem de honra se apenas agir como se merecesse ser tratado como tal. A essência vem conforme Deus desenvolve o caráter de uma pessoa. Henry deixou o programa de recuperação do Pure Life com um grau de importância moral e espiritual que nunca teve antes. Contudo, isso não aconteceu até que seu falso caráter tenha sido exposto pelo que era e Deus pôde começar a desenvolver um caráter real nele. Descrevendo perfeitamente a vida de Henry, Salomão disse: A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra [ou importância] (Pv 29.23).
Outros ainda pensam que podem encontrar algum caminho rápido e simples para atingir os mesmos resultados. Você pode observá-los fluindo para as reuniões de reavivamento, * procurando por uma oração do evangelista que mudará tudo na vida deles. Outros afluem para as sessões de libertação, esperando ficarem livres da influência do demônio que os está levando a pecar. Ainda outros, talvez um pouco mais próximos da verdade, esperam que uma experiência de quebrantamento transforme tudo ao seu redor. Todas essas coisas podem ter seu lugar na vida do crente, mas a vida cristã não é formada por meio de uma única experiência. Nas palavras de um amigo: "Deus pode mudar um homem em um instante, mas ele leva tempo para desenvolver seu caráter". Isso resume tudo.

DISCIPLINADO PARA A SANTIDADE
O último item que gostaria de mencionar, referente ao processo de disciplina que o Senhor faz o cristão passar é a santidade resultante dele. Talvez você se lembre ainda de nossa passagem em Hebreus 12 que na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos partici¬pantes da sua santidade (v. 10). Deus não disciplina um homem porque está irado com ele. Ele o faz porque tem um propósito em mente para a vida daquela pessoa. Ele está procurando por santidade. Nosso amigo Pedro, que experimentou muito castigo nas mãos de seu Pai Celestial, ajuda-nos a ver o que Deus está fazendo:
Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo (1 Pe 1.14-16).
A santidade não vem ao ler um bom livro. Não acontece por estarmos em um culto poderoso. Ela vem quando o Senhor nos purifica de nosso amor pelo pecado e pelo ego. Esse processo leva tempo.

Capítulo 15
ANDANDO NO ESPÍRITO

Na carta de Paulo para a Igreja na Galácia, ele escreveu: Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne (Gl 5.16). Depois de lidar com milhares de homens cristãos em pecado sexual (incluindo muitos ministros), ainda não encontrei prova alguma que conteste esta declaração. Um homem pode procurar psicólogos, grupos de apoio ou serviços de libertação. Ele pode receber a oração de um evangelista famoso ou internar-se em uma clínica para viciados sexuais, mas, se quiser vencer o pecado habitual, deverá aprender a andar no Espírito. Uma vez que a Bíblia é verdadeiramente a Palavra inspirada de Deus, então essa promessa condicional torna-se de extrema importância para o viciado sexual à procura de libertação.
Acredito que todos nós concordamos que a expressão con¬cupiscência da carne caracteriza com exatidão a natureza do pecado sexual. Alguns versículos depois, Paulo dá uma relação das obras da carne que começam com prostituição, fornicação, impureza, lascívia, idolatria etc. (Gl 5.19,20). Pecado sexual e idolatria estão bem no topo da lista. Quando o sexo é o ídolo da vida da pessoa? Uma coisa é a pessoa praticar uma imoralidade, mas outra é quando a pessoa é um adorador habitual no altar da idolatria sexual. Ele está espiritualmente falido e precisa desesperadamente de uma saída. Paulo dá a rota de escape com essa fórmula oculta: "Se você andar em Espírito, então não cum¬prirá a concupiscência da carne".
Essa promessa condicional é tão significativa que cada palavra deve ser cuidadosamente examinada para que o significado total do que está sendo expresso possa ser entendido e, então, aplicado à própria vida.

CAMINHAR
Foi o próprio Jeová que usou primeiro o termo andar. Por intermédio de Seu servo Moisés, Ele disse: Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será o sábado do descanso solene, santa convocação; nenhuma obra fareis; é sábado do SENHOR em todas as vossas moradas. São estas as festas fixas do SENHOR, as santas convocações, que proclamareis no seu tempo determinado: (Lv 26.3,4). Em um sonho, Ele disse a Salomão: Se andares nos meus caminhos e guardares os meus estatutos e os meus mandamentos, como andou Davi, teu pai, prolongarei os teus dias (1 Rs 3.14). Por intermédio de Asafe, Ele exclamou: Pelo, que eu os entreguei aos desejos do seu coração, e andaram segundo os seus próprios conselhos. Ah! Se o meu povo me tivesse ouvido! Se Israel andasse nos meus caminhos! (Sl 81.12,13). Por intermédio do profeta Isaías, o Senhor declarou: Estendi as mãos todo o dia a um povo rebelde, que caminha por caminho que não é bom, após os seus pensamentos (Is 65.2). Várias centenas de anos depois, Jesus usou a mesma ilustração quando Ele disse: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8.12).
Na Bíblia, o termo andar descreve uma certa maneira de a pessoa viver. Na linguagem moderna, o termo estilo de vida seria usado. Esta palavra não descreve simplesmente o tipo de dia ou mesmo da semana que uma pessoa está tendo. Certamente, não se refere a alguém que se sente espiritual no domingo enquanto passa na carne o resto da semana! Quando Paulo diz andar em Espírito, está descrevendo uma condição contínua da vida de uma pessoa. Se ela estiver vivendo em Espírito, não sucumbirá aos desejos de sua carne.

ANDAR NA CARNE
Fico abismado em ver como um homem pode estar no pecado mais desprezível e realmente acreditar que está perto de Deus. Podemos seguramente supor que, se uma pessoa vive sob as ordens da carne, ela não é uma das que estão andando em Espí¬rito. De fato, irei mais longe para dizer que, se uma pessoa está satisfazendo as concupiscências da carne, está realmente andando na carne. Desse modo, podemos usar a terminologia oposta para dizer: "Se você andar na carne, então cumprirá as concupiscências da carne". Em Gálatas 5, Paulo dá uma definição abrangente do que significa andar na carne: Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus (Gl 5.19-21).
Uma pessoa bondosa, ao ler esta passagem das Escrituras, imedia¬tamente examinará seu coração, ponto por ponto. Eu me entrego a pensamentos impuros? O desejo por prazer ocupa um lugar especial em meu coração? Tenho alguns ídolos em minha vida? Tenho problemas com meu temperamento? Sinto ciúmes ou inveja de outras pessoas? Com que freqüência me envolvo em brigas com os outros? Respostas afirmativas a essas perguntas são sinais indicadores de uma pessoa que não está andando em Espírito. No entanto, a pessoa que esquadrinha rapidamente a lista com um olhar superficial, afirmando ser livre de tal estilo de vida, só está enganando a si mesma. Da mesma maneira é aquela que discute sobre cada termo, tentando evitar a verdade do que está expresso. Jesus disse: Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.31,32).
Essa é também uma promessa condicional. A pessoa que vive pelas palavras de Jesus em sua vida diária conhecerá a verdade quando a vir, e essa verdade a libertará. Se ela quiser experimentar a liberdade verdadeira, será imprescindível que se torne aberta e brutalmente honesta consigo mesma.

ANDAR NO ESPÍRITO
Existem muitos que têm uma experiência ocasional com Deus, sentem sua presença num culto da igreja, ou até mesmo O vê trabalhando na vida deles e acreditam que eles estão andando em Espírito. Andar em Espírito significa que a vida da pessoa é dominada, controlada e guiada pelo Espírito Santo. Da mesma maneira que a lista das "obras da carne" define o que significa estar na carne, a lista a seguir do "fruto do Espírito" define o que significa estar em Espírito.
Paulo diz: Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito (Gl 5.22-25). Nova¬mente, o homem que está disposto a ser honesto consigo mesmo examinará essa lista e fará as perguntas difíceis: "Sou realmente tão dedicado à vida dos outros como sou comigo mesmo? Eu tenho paciência para suportar pessoas difíceis e circunstâncias desagradáveis sem perder a percepção da presença de Deus? O quanto amável sou para aqueles que contrariam minha vontade? Estou verdadeira¬mente vivendo em sujeição ao Espírito Santo todos os dias?"
Conforme o fruto do Espírito cresce na vida de uma pessoa, ela ajuda outra a amadurecer em outras áreas de sua vida também. A medida que cresce na fé, é fortalecida para crescer também em mansidão. Uma boa medida para alguém examinar onde está espiritualmente é verificar seu ponto mais fraco. Para os viciados, a falta de autocontrole é uma manifestação muito clara de um problema profundamente arraigado.
Se você andar em Espírito, não cumprirá as concupiscências da carne. À primeira vista, poder-se-ia pensar que a palavra-chave nesta frase é andar ou Espírito. Porém, o termo que queremos focar aqui é em. Conforme ponderado antes, da mesma forma que o espírito deste mundo cria uma atmosfera que a pessoa pode permanecer, assim também o Espírito de Deus. * Uma pessoa que leva sua vida diária em uma atmosfera de Deus não se entregará ou procurará as concupiscências que podem ainda estar dormentes em sua natureza.
O apóstolo João disse: E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado. Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu. E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós: pelo Espírito que nos tem dado (1 Jo 3.5,6,24). Esses versículos não sugerem que uma pessoa viva em perfeição, sem pecado — apenas que não existe pecado governando sua vida. O Espírito e a graça de Jesus Cristo a mantêm em um nível acima do pecado dominante. Esse modo de viver no controle do Espírito Santo não acontece de um dia para outro; ele é desenvolvido na vida do cristão à medida que ele amadurece.

O SUSTENTO DIÁRIO DA ORAÇÃO
A chave para andar em Espírito é encontrada nas palavras de Jesus: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer (Jo 15.1, 4,5).
Há vários elementos envolvidos para entrar nesse tipo de comunhão. Um deles é a oração. A essência da experiência cristã é iniciar e manter um relacionamento íntimo com Deus. E para este propósito que fomos salvos de nossos pecados. Contudo, quão poucos se dedicam a essa intimidade bendita. Freqüentar uma igreja é importante, mas nosso elo com a Videira deve ser mantido diariamente. Imagine como seria um casamento funda¬mentado em nada mais do que um encontro formal uma ou duas vezes por semana.
Ter um tempo de oração todo dia é essencial para a vida de um cristão. A oração conduz ao poder transformador de vida do Espírito Santo. Da mesma maneira que Deus fala conosco por meio de Sua Palavra, falamos com Ele por meio da oração. Orar é simplesmente falar com Deus. Não se deve ter a preocupação em ser eloqüente. O Senhor procura uma conversa real! Ele é nosso melhor Amigo, e é assim que o cristão deve comunicar-se com Ele.
Da mesma forma que como qualquer novo hábito espiritual desenvolver uma vida de oração pode ser inicialmente difícil. Começa tendo uma firme convicção de que a oração é uma parte essencial da vida diária. A pessoa que firma o propósito de cultivar um tempo devocional regular pode achar que aquele tempo parece arrastar-se lentamente no princípio. Isso muda gradualmente conforme o hábito se consolida. A pessoa logo se achará esperando ansiosamente por suas devocionais matutinas. Em breve, a duração do tempo dedicado a estar em comunhão com Deus aumentará.
Existem pelo menos três elementos primordiais para uma vida eficaz de oração. Um deles é que a pessoa deve definir qual será seu estilo de oração. Alguns gostam de ficar em um quarto, onde podem sentir-se livres para falar com Deus, sem se preocupar que alguém os ouça. Outros gostam de escrever suas orações, uma vez que isso os ajuda a manter seus pensamentos focados no Senhor. Pessoalmente, sempre achei mais fácil concentrar-me e falar com o Senhor andando. Onde quer que eu esteja, seja em minha casa em Kentucky ou em alguma cidade distante, tenho o mesmo ritual toda manhã. Tomo uma xícara de café e estudo a Bíblia durante uma hora, então saio para uma caminhada de oração por outra hora. Cada pessoa precisa definir para si mesma o que funciona para ela.
Outro elemento-chave é escolher quando orar. Se for possível, é sempre melhor orar de manhã. O Senhor deve receber os primeiros frutos do dia. A maioria das pessoas ajusta seus despertadores somente para ter tempo suficiente para preparar-se a fim de ir trabalhar. O cristão que está seriamente interessado em desen¬volver um tempo com Deus dará início a uma rotina de deitar-se e levantar-se cedo. Tentar encaixar à força um tempo de oração em um horário matutino já agitado nunca funcionará. Logo será abandonado.
A última coisa que deve ser considerada é quanto tempo passar em oração. Basicamente, quanto mais tempo gasto com o Senhor, melhor. O que é falado com Deus não é tão importante quanto somente estar com Ele. Os relacionamentos não são estabelecidos somente em palavras; são também fundamentados na comunicação não-verbal. Por exemplo, eu e minha esposa podemos estar na mesma sala, sem dizer uma palavra, apenas desfrutando a compa¬nhia um do outro. Isso é o que Deus deseja. O Senhor anseia passar tempo com aqueles a quem Ele ama. Como já mencionamos, desenvolver uma vida devocional não é fácil. O homem que está apenas começando a desenvolver uma vida de oração deve evitar sobrecarregar-se. É muito melhor ser fiel com dez minutos por dia que passar esporadicamente uma hora de uma vez. O hábito nunca se estabelece na vida de uma pessoa inconstante. Enquanto a oração não for uma parte regular da rotina, será sempre enfadonha. Depois de se estabelecer como um elemento firme no início de cada dia, torna-se fácil. E torna-se um bom hábito!
Quando a pessoa iniciar essa nova experiência, é também importante não cometer o erro de olhar para o relógio; o tempo vai parecer passar lentamente. Sempre dou uma olhada em meu relógio quando estou saindo para dar meu passeio. Quando parece que já se passou uma hora desde que saí, olho novamente as horas somente para me certificar de que não estou voltando muito rápido. Normalmente, passo mais de uma hora em oração, mas é muito importante para mim não passar menos de uma hora. Aqueles que estão no quarto devem virar o relógio de forma que não possa ser visto. Alguns podem querer acertar seu relógio de pulso (ou até mesmo um temporizador fora do quarto) que os informará de que seu tempo acabou.
Conforme essa rotina diária se tornar parte da vida da pessoa, logo descobrirá que orar não é mais uma tarefa difícil. Na realidade, descobrirá, em breve, que dez minutos passam voando e que ela precisará orar por 15 minutos para cobrir todos os seus interesses. Depois que essa importante disciplina espiritual for estabelecida, Deus começará a dar-lhe o encargo pelas almas daqueles ao seu redor. Nesse momento, sua vida de oração começa a entrar em uma nova fase. Ela penetra o campo da intercessão.
Conforme a vida devocional da pessoa progride, ela começa também a passar mais tempo adorando ao Senhor. Essa é uma parte integral do crescimento em nosso amor por Deus. Algumas pessoas adoram a Deus enquanto escutam uma música evangélica que apreciam. Porém, é importante lembrar que simplesmente entoar canções de que se gosta não é o mesmo que verdadeira¬mente entrar em espírito de adoração. Jesus disse: Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23,24). Se a pessoa adora verdadeiramente a Deus, existe algo que flui de seu coração em direção ao Senhor. É o que Jesus quis dizer quando falou de adorar em espírito e em verdade. No entanto, há grupos como Vineyard, Hillsong, Maranatha e Hosanna que parecem ter uma unção verdadeira para o louvor e adoração. Algumas pessoas podem beneficiar-se muito, passando um tempo imerso neste tipo de música cristã.
Algo muito poderoso acontece no reino espiritual quando uma pessoa começa a louvar verdadeiramente a Deus. O louvor sincero limpa totalmente a atmosfera da atividade demoníaca. Lembro-me de estar certa vez em pé no culto da capela na época em que cursava na faculdade de Teologia. Passávamos um tempo cantando toda manhã, mas, naquele dia em particular, tivemos a impressão de ter entrado em um nível mais alto de adoração. Quando fechei meus olhos, formou-se um quadro em minha mente. Bem no alto, acima de nós, estava a presença de um Deus santo, e entre os estudantes e o Senhor existia uma nuvem densa de trevas satânicas. Essa presença demoníaca mantinha-nos longe dele, mas conforme levantávamos nossas vozes em louvor, aquela nuvem feia se separava, e logo se dissipou. Nosso louvor abriu uma passagem direta até Deus!
Randy Sager conta a história de quando ele e outros foram usados para entrar nos piores bairros de São Francisco para tes¬temunhar para os não-salvos. Antes de entrar nas ruas e dar início às conversas com outros, o pequeno grupo se reunia na rua e passava um tempo cantando e louvando ao Senhor. Uma noite, quando ele estava caminhando pela rua, um mendigo, com uma aparência imunda, saiu de um beco e chamou Randy. O homem lhe mostrou um distintivo e disse que era um policial disfarçado. Ele disse: "Não sei o que o seu pessoal está fazendo, mas toda vez que vocês chegam aqui, os índices de criminalidade caem para zero!"
Em uma outra ocasião, uma multidão irada de homossexuais militantes apareceu e começou a proferir insultos contra o pequenino grupo de cristãos. A situação ficou sobrecarregada de ódio. Quando parecia que os ativistas gays iriam atacá-los, Randy, bem quieto, começou a louvar a Deus. Logo os outros cristãos compreenderam e se uniram a ele no louvor. A fúria da turba diminuiu, e eles saíram da cena quietos. Não há dúvida de que a verdadeira adoração ajuda a pessoa a entrar em Espírito.

ALIMENTO PARA A ALMA
Passar um tempo em oração e adoração ajuda o cristão a viver na presença do Espírito Santo todo dia. Há um outro aspecto para nossa equação espiritual que é igualmente importante. A Palavra de Deus é a fonte de alimento espiritual do cristão. Ela tem o poder inerente de imputar vida em um santo. O cristão precisa do alimento de Deus regularmente para que ele não seque (Jo 15.6). Porém, quando se trata de empunhar a espada do Espírito, é absolutamente essencial que o cristão esteja manejando bem a Palavra da verdade (2 Tm 2.15). Um problema que os viciados sexuais enfrentam é que seu pensamento foi deformado ao longo de anos de abuso e danos causados por sua exposição à pornografia e à idealização lasciva. Tenho usado a ilustração do espião comercial que invadiu a sala de informática de seu principal concorrente e desorganizou o conjunto de circuitos de sua unidade central de processamento. Esse é um retrato do que o diabo fez aos homens que se envolveram com o pecado sexual. O inimigo desorganizou seus circuitos internos de tal maneira que nada dentro deles funciona como devia. Não obstante, a Palavra de Deus tem o poder de transformar uma pessoa inteiramente. Durante um período, a Palavra religará os circuitos do cristão, se ele se mantiver fiel e passar tempo com a Bíblia todo dia. Para nos ajudar a ver o que o estudo regular da Bíblia fará pelos santos em lutas, voltemo-nos para as palavras de Tiago.

Pelo que, rejeitando toda imundícia e acúmulo de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvara vossa alma. E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. Tiago 1.21-25

Nessa passagem inspirada das Escrituras, existem vários conceitos que podem desempenhar um papel essencial na vida do cristão. O primeiro mencionado é a importância do arrepen¬dimento: Rejeitando toda imundícia e acúmulo de malícia (v. 21).
Conheci homens, no decorrer desses anos, que passaram centenas de horas lendo a Bíblia, no entanto, ficaram cada vez mais indiferentes ao Senhor. Precisa haver um arrependimento sincero experimentado antes de a Palavra poder ser implan¬tada. A pessoa não-arrependida que passa tempo com as Escrituras só fica mais empedernida em seu coração.
Depois, devemos aproximar-nos da Palavra humildemente. Muitos que passam tempo lendo a Bíblia fazem justamente o oposto. Em lugar de permitir que a Palavra penetre e examine o coração deles para convencer, utilizam-nA somente para forta¬lecer suas opiniões doutrinárias ou mostrar aos outros o quanto A conhecem. O Livro de Hebreus diz: Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hb 4.12). Esta é uma declaração extraordinária que a Bíblia faz sobre si. Jesus disse que Suas palavras eram vida e espírito (Jo 6.63). Ela é a vara da boca e o sopro dos lábios do Deus vivo (Is 11.4). Existe uma energia divina liberada quando a Palavra de Deus é abordada no espírito certo. A Palavra vivificada tem o poder de penetrar os recantos mais íntimos do homem. Ela pode dividir os pensa¬mentos e intenções do reino da alma e espírito do pensamento semelhante a Cristo que emana do espírito. Ela separa um do outro, trazendo, então, fim ao caos e à confusão resultantes do engano do pecado. Todo motivo, atitude ou padrão de pensa¬mento são metodicamente e sistematicamente expostos pela Palavra, mostrando o que realmente é. A natureza caída inteira é penetrada com a espada de dois gumes do Espírito. Com uma realidade assustadora, John Calvin fala daqueles que excluem a verdade das Escrituras:
Nada desse tipo se encontra no réprobo, porque ou eles desconsideram negligentemente Deus falando-lhes, e assim escarnecem dEle, ou se surpreendem com Sua verdade e obstinadamente resistem a ela. Em resumo, como a Palavra de Deus é um martelo, então eles têm um coração como a bigorna, de forma que a dureza deles resiste a seus golpes, por mais poderosos que possam ser. A Palavra de Deus, então, está longe de ser tão eficaz para eles, penetrando para dividir a alma e o espírito. Conseqüentemente, parece que o caráter deles está restrito somente aos fiéis, uma vez que somente eles são esquadrinhados tão profundamente. O contexto, no entanto, mostra que existe uma verdade geral a qual se estende também aos réprobos, porque ainda que não sejam comovidos, mas desenvolvam um coração de ferro e bronze contra a Palavra de Deus, devem ser necessariamente restringidos pela própria culpa. Eles realmente riem, mas é um riso sardônico, porque sentem interiormente que estão mortos; fazem evasivas de vários modos para não comparecer diante do tribunal de Deus. Embora relutantes, são arrastados para lá por essa mesma Palavra que arrogantemente escarnecem, de forma que possam ser adequadamente comparados a cães bravos, que mor¬dem e apertam com suas garras as correntes nas quais estão presos, no entanto, nada podem fazer uma vez que ainda permanecem firmemente presos.1

A pessoa que procura sinceramente por Deus para expor e aniquilar o pecado que ainda está alojado dentro dela regozija-se ao ver a espada do Espírito. Ela pode confiar no que a Palavra releva, porque está sendo sustentada por mão firme. Este não é o brandir de espada da pessoa que Salomão escreveu a respeito, cujas palavras ferem como espada (Pv 12.18). Este é o trabalho meticuloso do cirurgião amoroso que extrai o câncer do pecado enraizado por todo o ser interior do paciente.
E chamado por Tiago como a lei perfeita. O homem que se aproxima da Palavra com um espírito humilde percebe que Ela é a única fonte de verdade com credibilidade absoluta. Infelizmente, muitos se tornaram cada vez mais céticos. Eles estão ocupados, correndo pelo país inteiro, procurando pela "última palavra", perdendo o que está bem debaixo de seus narizes durante todo o tempo - a Palavra eterna. Se a Bíblia não parece convincente o suficiente para alguém, tenha a certeza de que Satanás se assegurará de que qualquer outra coisa tome seu lugar. Qualquer coisa! O inimigo prefere ver um cristão gastando horas lendo livros de auto-ajuda a passar cinco minutos na Verdade revelada por Deus. É por isso que existem livrarias repletas de alternativas.

FORMAS PARA ABORDAR AS ESCRITURAS
Além disso, Tiago falou de olhar atentamente para a lei perfeita. A Bíblia merece nosso maior interesse. Existem diversas formas para abordar as Escrituras. Algumas pessoas gostam de ler grandes passagens de uma vez. Talvez tenham um método para ler a Bíblia inteira em um ano. Devo admitir que questiono essa abordagem superficial. Não diria que está errado; apenas questiono o quão profundamente as palavras penetram no coração de uma pessoa que lê "rapidamente" os capítulos de uma só vez.
Prefiro estudar a Bíblia versículo por versículo, capítulo por capítulo e livro por livro. Geralmente, levo semanas estudando um único livro da Bíblia. Pego um capítulo de cada vez, leio em traduções diferentes, palavras-chave de estudo e leio o que vários estudiosos têm a dizer sobre aquele capítulo. Quando termino, aquele livro é "meu". As palavras estão escritas na tábua do meu coração (Pv 3.3). Estão dentro de mim. Posso não abranger uma grande parte da Bíblia rapidamente, mas o que estudo torna-se inerente a mim. Até agora, fiz estudos detalhados de quase todos os livros da Bíblia.
Outra pessoa pode preferir "meditar" nas Escrituras, pegando passagens e refletindo cuidadosamente sobre cada palavra. Isso envolve aquelas passagens particularmente repetidas, pedindo ao Espírito Santo que traga a Palavra "viva" para ele. Normalmente, é assim que Deus revela partes preciosas da Verdade aos Seus seguidores. O Dr. Jenson comenta o que essa abordagem fez em sua vida:

O novo hábito que se desenvolveu gradualmente em mim não foi como qualquer outro. Transformar-se pela renovação de sua mente (Rm 12.2) significa saturar interiormente nossa vida, pensamentos, atitudes, emoções e atos com a Palavra de Deus, de forma que sejamos feitos inteiramente à semelhança de Jesus Cristo.
Estou convencido de que eu tinha de passar por esse processo bíblico de meditação da mesma maneira que eu havia meditado em imagens e pensamentos lascivos por anos, construindo-os em meu sistema. A única maneira de neutralizar isso era ser transfor¬mado pela renovação real de minha mente — meditando na Palavra de Deus [...].2

Ele compara posteriormente a meditação bíblica a uma vaca ruminando. A vaca engole a comida, regurgita, rumina mais um pouco e, por fim, digere-a completamente. Isso ilustra como se deve meditar na Palavra de Deus.
Por último, existem aqueles que passam tempo decorando passagens da Bíblia. Para ilustrar o valor da memorização das Escrituras, deixe-me relatar o testemunho fascinante de um rapaz que conheci há alguns anos. Phil foi criado em um lar cristão e sempre teve o desejo de entrar para o ministério. Ele entrou na faculdade de Teologia e, depois de formado, foi trabalhar em uma grande igreja. Porém, Phil também tinha um problema com pornografia que ninguém, inclusive sua jovem esposa, sabia. Não demorou muito, porém, para que ela começasse a perceber algo. Quando descobriu que ele estava vendo pornografia, ela confidenciou o fato ao pastor líder de sua igreja. Ele imediata¬mente marcou uma reunião com o casal e confrontou Phil sobre o problema. Phil descreve o que aconteceu depois:
Quando me sentei diante do pastor e de minha esposa, uma batalha tremenda começou a me devastar por dentro. Por um lado, havia uma relutância em abandonar todos os prazeres de meus hábitos pecaminosos; no entanto, por outro lado, havia o amor por minha esposa e o desejo de salvar meu casamento.
Então, o Senhor falou claramente ao meu coração e me disse que estava na hora de tomar uma decisão sobre minha vida. "Há cura em minha Palavra", Ele parecia dizer-me. "Lave-se nEla!"
Eu saí de lá percebendo que não tinha outra alternativa senão obedecer ao Senhor ou perder tudo! Muito embora agora eu tenha desejado profundamente esta transformação, constatei que meu coração ainda era enganoso e pecaminoso. Por várias semanas depois disso, debati-me sem um plano ou direção para vencer meu problema. Mas as palavras do Senhor continuavam voltando para mim: "Há cura e purificação em minha Palavra!"
De uma maneira hesitante a princípio, comecei a memorizar as Escrituras. Comecei com a Primeira Epístola de Pedro e fiquei cada vez mais agressivo em minha abordagem. Os primeiros versículos foram os mais difíceis de decorar, mas, quanto mais eu decorava, mais fácil ficava. Começava todos os dias memorizando alguns versículos. Eu os repetia várias vezes até que eu os tivesse registra¬do e, então, revisava os que eu já havia decorado. Todo tempo vago, durante o dia, tornava-se uma oportunidade para rever os versículos. Logo comecei a carregar comigo uma cópia da página da Bíblia que eu estava trabalhando. Quer estivesse dirigindo, esperando em um consultório médico, quer caminhando, não importa onde eu esti¬vesse, tentava manter a Palavra de Deus em meus pensamentos.
A mudança em meu coração começou quase imediatamente! Percebi que todas as tentações habituais que se apresentavam para mim não tinham poder algum! Os "dardos inflamados" que o inimigo lançava não causavam dor! A princípio, foi uma escolha difícil, na medida em que cada pensamento vinha: escolher se abrigaria as fantasias da mente ou se apenas começaria a citar a Palavra de Deus. Mas, como eu escolhia as Escrituras, a tentação se dissipava.
Conforme continuei a fazer isso, descobri que eu estava experi¬mentando uma vitória absoluta nesta área de minha vida, dia após dia, semana após semana. A Palavra não somente tocou minha vida na área da concupiscência, mas também começou a curar todas as áreas de minha vida: meu casamento, negócios, minha auto-imagem, confiança, amor, fé... E a lista continua!

Não consigo enfatizar o suficiente a importância de absorver a Palavra de Deus. A pessoa pode não ser transformada da noite para o dia, mas a mudança virá a tempo. Como eu disse para os homens no passado: "Se vocês não querem estar na mesma condição daqui a dois meses, é melhor começarem logo isso! Cada dia que vocês adiam o início, aumentam o tempo em que estarão passando por esse sofrimento". Jay Adams fala sobre a importância da Palavra de Deus na mudança de hábitos:
O Espírito opera por meio da Palavra de Deus; é assim que Ele trabalha. Então, para ajudar a pessoa que está recebendo aconselhamento a se disciplinar para uma vida com Deus, o con¬selheiro deve insistir no estudo regular da Palavra como um fator essencial.
É pela obediência voluntária, compenetrada e persistente dos requisitos das Escrituras que os padrões de Deus são desenvolvidos e passam a fazer parte de nós. Ele não promete fortalecer, a menos que façam isso; o poder geralmente resulta disso.
Usar a Bíblia todo dia disciplina. Um viver disciplinado, bibli¬camente estruturado é o que é necessário. A estrutura somente traz autonomia. A disciplina traz liberdade. As pessoas foram condicionadas a pensar o contrário. Elas pensam que a autonomia e a liberdade só vêm quando se abandonam a estrutura e a disciplina.
A liberdade vem por meio da lei, não está à parte dela. Quando um trem está mais livre? Quando ele vai sacolejando pelo campo fora dos trilhos? Não. Ele só está livre quando está preso (como desejar) nos trilhos.
Então, ele corre suave e eficazmente, porque foi assim que o fabricante o planejou para correr. Ele precisa estar no trilho, estruturado por ele, para correr corretamente. As pessoas que estão recebendo aconselhamento precisam estar no trilho. O trilho de Deus é encontrado na Palavra de Deus. No mundo redondo de Deus, a pessoa que está recebendo aconselhamento não pode levar uma vida quadrada alegremente; ela sempre terá os cantos batidos. Existe uma estrutura necessária para a vida motivada e orientada por mandamentos; essa estrutura encontra-se na Bíblia. Estar de acordo com essa estrutura pela graça de Deus possibilita os cristãos mudarem, livrarem-se do pecado, vestirem-se de justiça e, desse modo, tornarem-se homens de Deus.
Esta é então a resposta bíblica do conselheiro: leia regularmente as Escrituras, agindo compenetradamente como está escrito, de acordo com o que está fixado, independente de como você se sente.3

LEVANDO A EFEITO A PALAVRA
A última coisa que devemos inferir da passagem em Tiago é que devemos atentar para a Palavra, tornando-nos cumpridores eficazes dela. Conforme a mente da pessoa se reprograma com a Bíblia, viver por meio de um padrão bíblico torna-se mais fácil. A verdade é que alguém realmente só "conhece" a Palavra na mesma medida em que a vive. Novamente, isso leva tempo. À medida que o cristão absorve o ensinamento bíblico, descobre que isso influencia as centenas de decisões que ele toma ao longo do curso de um determinado dia.
Os primeiros nove capítulos de Provérbios tratam quase exclusivamente do poder que a Palavra de Deus confere a um homem que se depara com a tentação sexual:

Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será suave à tua alma. O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões. Provérbios 2.10,12

Filho meu, atende à minha sabedoria; à minha razão inclina o teu ouvido. Porque os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite. Provérbios 5.1,3

Porque o mandamento é uma lâmpada, e a lei, uma luz e as repreensões da correção são o caminho da vida, para te guardarem da má mulher e das lisonjas da língua estranha. Provérbios 6.23,24

Filho meu, guarda as minhas palavras e esconde dentro de ti os meus manda¬mentos. Para te guardarem da mulher alheia, da estranha que lisonjeia com as suas palavras. Provérbios 7.1,5

Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos e estai atentos às palavras da minha boca; não se desvie para os seus caminhos o teu coração, e não andes perdido nas suas veredas. Provérbios 7.24,25

Conforme os pensamentos de Deus são implantados em uma pessoa, ergue-se uma fronteira ao seu redor que a ajuda durante os momentos de tentação a fazer o que é agradável à vista de Deus.
Talvez seja por isso que Tiago chamou a Palavra de lei da liber¬dade. Ela liberta as pessoas! O salmista disse que aqueles que se firmassem na Palavra ficariam puros (Sl 119.9-11), teriam uma reverência por Deus (119.38), indignação pelo pecado (119.53), uma vida de liberdade (119.45) e que o pecado não teria domínio sobre eles (119.133). Davi declarou que o homem que tivesse a Palavra escondida em seu coração não resvalaria (Sl 37.31). Josué afirmou que aqueles que meditassem nEla tornar-se-iam prósperos (Js 1.8). Paulo disse que a nossa fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm 10.17), enquanto o escritor de Hebreus declarou que é impossível agradar a Deus sem ter fé (Hb 11.6). Por fim, Jesus advertiu que, se permanecessem em Sua Palavra, seriam libertados (Jo 8.31,32). É preciso ser mais claro do que isso? Se você crê na Palavra de Deus, então você pode ter esperança de que ela verda¬deiramente o libertará!
A medida que as mudanças eficazes, a longo prazo, acontecerem em você, por meio da Palavra, passar um tempo diariamente na presença de Deus irá ajudá-lo a andar em Espírito. Assim, sua mente e seu coração serão transformados pelo poder de Deus. Como Jesus disse: Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer (Jo 15.4,5).

Capítulo 16
DOMINANDO A LASCÍVIA

Em 1983, eu era um estudante da escola bíblica e era consumido pela lascívia. A conversão magnífica que havia experimentado há apenas alguns meses foi esvaziada de toda sua glória pelo pecado sexual que eu voltara a cair. Eu estava desesperado por ajuda, mas não sabia a quem ou onde procurar. Um dia, porém, o pastor da igreja que eu estava freqüentando anunciou que, na semana seguinte, ele falaria sobre lascívia. Eu estava explodindo de alegria! Mal pude esperar até o domingo seguinte. Naquele dia ansiosamente aguardado, depois de o culto de adoração parecer mais longo que eu já havia participado, o pastor subiu ao púlpito e começou sua mensagem. Durante os 45 minutos seguintes, a congregação recebeu uma mensagem severa sobre por que é errado entregar-se à luxúria. Eu sabia que era errado; eu precisava de respostas de como dominar a lascívia em minha vida! Saí da igreja mais desanimado do que nunca. Desde então, Deus tem-me mostrado claramente como a lascívia pode e deve ser dominada na vida do cristão. Jesus tratou do assunto em seu Sermão da Montanha:

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. Mateus 5.27-30

Infelizmente, essa passagem das Escrituras tem sido muito desconcertante para alguns. Porém, Jesus não diz aos cristãos em lutas para começar a arrancar os olhos e cortar o corpo. O pro¬blema real que está sendo tratado está na mente. Se a mente se torna corrompida com a lascívia, ela requererá algum sacrifício severo para reparar o dano. A lascívia não desaparecerá simples¬mente. O homem que está seriamente determinado a andar em pureza deve tomar algumas medidas drásticas. As implicações sérias das declarações do Senhor aqui devem servir como um incentivo a mais. Existem três aspectos para a lascívia que devem ser tratados na vida do crente. Cada um desses elementos leva consigo uma arma para atacar o problema.

CONDIÇÕES QUE CONTRIBUEM PARA A CONCUPISCÊNCIA
O espírito deste mundo cria atmosferas espirituais que contribuem para a concupiscência. O apóstolo João disse:

Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente. 1 João 2.15-17

O mundo está cheio de concupiscência. Em termos práticos, o espírito deste mundo tira proveito do fato de que os seres humanos têm desejos carnais que lhes são inatos: o desejo pelo prazer, pelo poder e o desejo de ganhar. O inimigo constante¬mente procura criar certas atmosferas que são feitas sob medida para a cobiça particular em nós. Em virtude disso é que o diabo é chamado de príncipe das potestades do ar. Por exemplo, se uma pessoa tiver de ir a um shopping, achará lá uma atmosfera que promove a cobiça. As mulheres em especial são vulneráveis às vitrines nas lojas de roupas. Existe um clima espiritual que instiga as pessoas a quererem mais e mais. Outro exemplo seria ir assistir a uma partida de boxe. Esse ambiente incita o orgulho, a raiva e, por fim, a violência. Essas coisas podem realmente ser sentidas no ar. Se for a um bar, o ambiente o inclinará para a festa. Não obstante, é o inimigo que trabalha em cada um desses locais.
Para os homens envolvidos em perversão sexual, deve haver uma percepção constante das atmosferas que tendem a provo¬car desejos sexuais. Por exemplo, não é aconselhável a um viciado sexual ir à praia ou gastar tempo olhando sem compromisso uma prateleira de revistas. Não se trata simplesmente se existem ou não mulheres seminuas para serem olhadas, mas o homem deve tornar-se sensível a qualquer lugar que tenha um ambiente sen¬sual onde espíritos sedutores estão à espreita.
Até a casa deve ser cuidadosamente guardada. A televisão, como já analisamos, é uma forma do inimigo poder trazer uma atmosfera lasciva para sua sala. A melhor abordagem é desem¬baraçar-se disso. No mínimo, o homem deve limitar a freqüência com que assiste à televisão e ser extremamente seletivo nos programas a que assiste. Outros itens dentro da casa que devem ser vistos como ciladas potenciais são as revistas, catálogos e jornais. Não é preciso necessariamente cortá-los completamente, mas pelo menos ser cuidadoso sobre o que há em casa. A Internet é também uma armadilha possível do inimigo. Sites de pornografia são, sem dúvida, os negócios mais rendosos de comércio na rede. É importante exterminar impiedosamente da casa tudo o que o diabo poderia usar em um momento de fraqueza. A pessoa que quer obter a vitória sobre a lascívia deve fazer tudo de seu poder para minimizar a capacidade do inimigo de atingi-lo espiritual¬mente. Decisões sacrificiais como essas são as que Jesus se referiu quando falou em arrancar os olhos e cortar as mãos.

APAGANDO AS CHAMAS DO INFERNO
Quem pode descrever adequadamente o inferno de viver no espírito de lascívia? De ser guiado com um chicote, mas nunca estar satisfeito... De cometer atos humilhantes e degradantes; de se preparar com todo coração para uma experiência e, então, depois de concluída, considerá-la vazia e insatisfatória... Ter o próprio pensamento tornando-se tenebroso, maligno e até louco; machucar aqueles a quem ama freqüentemente; experimentar uma vida de miséria, desespero e desesperança; ver-se arrastado cada vez mais para longe de Deus... Qualquer um que tenha vivido esse tipo de situação sabe mais sobre as chamas do inferno do que pode imaginar.
O viver lascivo é infernal. Novamente, a concupiscência é exigente e nunca se satisfaz. Quanto mais se alimenta a fera, mais voraz ela se torna. Talvez a reação alérgica ao tóxico ilustre o desejo ardente pela imoralidade pela qual alguns são consumidos. O corpo fica coberto por uma erupção cutânea que provoca uma coceira intensa. Se a pessoa coça a área infectada, corre o risco de piorá-la e espalhá-la para outras partes de seu corpo. Se não coça, sente-se como se fosse ficar louca! E, ainda: mesmo que raspe com uma lima de metal, alguns minutos depois coçará ainda mais.
No segundo capítulo, observamos que uma das primeiras coisas que acontece para a pessoa que trilha o caminho de um estilo de vida de pecado sexual é que ela se torna ingrata. A espiral da degradação é uma realidade horripilante para muitos. Contudo, as boas novas são que, se a pessoa volta pelo mesmo caminho, ela pode sair daquela cova! A gratidão apaga o fogo da concu¬piscência. Um espírito de gratidão destrói o impulso da paixão para o sexo, porque cria a satisfação no coração do homem. Ela acalma a besta, abafa as chamas e cura a coceira. A mensagem por trás da concupiscência é: "Eu quero! Eu quero! Eu quero!" O sentimento abrigado no coração agradecido é: "Veja tudo o que tenho! Obrigado, Senhor, por tudo o que tens feito e me dado. Não preciso mais de coisa alguma". Um coração agradecido é um coração saciado. Quando a pessoa está satisfeita com a vida, ela não é dirigida pela cobiça do que não deveria ter. Por exemplo, recen¬temente comi uma grande iguaria mexicana. Depois, se o garçom me tivesse trazido uma bandeja de costelas deliciosas ou um bife grosso de filé mignon, não teria aceitado qualquer dos pratos. Eu estava saciado. Meu apetite foi completamente saciado; nada mais queria.
Existem aqueles que diriam: "Devo ser grato pelo quê? Minha vida é nada mais do que uma bagunça total. Sou absolutamente infeliz. Sinto-me pressionado a abandonar hábitos que não consigo deixar. Minha esposa está cansada de mim. Não tenho prazer no mundo, mas também não sou feliz como cristão. Do que exatamente tenho de ser grato?" Nunca lhes ocorreu que grande parte do motivo por que estão em tal condição é devido a seu espírito ingrato e mesquinho. Que perspectiva diferente da velhinha que vivia na pobreza, que olhou para o pedaço de pão seco e o copo de água em cima da mesa à sua frente e exclamou: "O quê, tudo isso e Cristo também?!"
Com isso, lembro-me da história de dois garotos, ambos com nove anos. O pai de Johnny é um advogado muito rico em uma grande cidade. Por ocasião do Natal, ele comprou para seu filho muitos presentes. O que ele estava mais empolgado para dar a seu filho era um vídeo game Super Nintendo. Na véspera de Natal, ele teve o cuidado de colocá-lo atrás da árvore de Natal, de forma que fosse o último presente que Johnny abriria. Na manhã seguinte, o garoto de nove anos impacientemente abriu e jogou para o lado todos os seus presentes. A expectativa de seu pai era imensa quando Johnny finalmente segurou o último pacote. Ele rasgou o papel de presente, viu o Nintendo e atirou-o no chão. "Eu queria o novo Sony PlayStation!", ele gritou, saindo correndo com raiva para seu quarto e batendo a porta atrás dele.
Enquanto isso, no coração do México, há um orfanato onde meninos e meninas não-desejados são abandonados. A vida naquelas instalações deterioradas é tudo o que o pequeno Juan já conheceu. Nessa mesma manhã de Natal, um pastor americano apareceu com um caminhão carregado de brinquedos usados que ele havia coletado na igreja. Ele começou a distribuir brin¬quedos variados para todas as crianças. Ele não pôde deixar de ver Juan olhando parado, de um lado. Ele entrou no caminhão e puxou uma bicicleta: os aros da roda estavam quebrados, o guidão estava torto e tudo o mais. Pedalando pela rampa em direção a Juan, ele disse: "Aqui está garotinho, essa é para você. O menino olhou para ele, maravilhado. Nunca ninguém lhe dera qualquer coisa. Ele não podia acreditar nisso. "Vá em frente, Juan. É para você". Nisso, o menino acanhado deu um pulo na bicicleta e começou a andar em volta do estacionamento, rindo e chorando de alegria.
Esses dois meninos representam as atitudes que podemos escolher ter na vida. Temos tanto para sermos agradecidos na América. Deus verdadeiramente derramou Sua graça em nosso país. Além da prosperidade de que desfrutamos, há tudo o que Deus fez para nós como cristãos. Uma olhada rápida nas Escrituras revela somente algumas coisas que Deus dá a Seus filhos. Ele deu Seu Filho, o presente mais precioso que tinha para oferecer, para morrer na cruz por nós: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Ele concede a vida eterna (Rm 6.23) e nos dá tudo o que diz respeito à vida e a piedade (2 Pe 1.3). Outorga-nos as chaves do Reino dos céus (Mt 16.19) e concede-nos o poder de pisar serpentes (Lc 10.19). Ele distribui dons espirituais (1 Co 12) e nos dá o poder de sermos feitos filhos de Deus (Jo 1.12). Concede-nos um espírito de poder, amor e moderação (2 Tm 1.7) e nos dá a vitória por intermédio de Jesus (1 Co 15.57). Ele nos dá toda a sabedoria de que precisamos (Tg 1.5). O Senhor nos dá o Espírito Santo (At 2.38). Para os cristãos, não há limite para nossa lista de gratidão. Se um cristão não é grato é porque voluntariamente escolhe não sê-lo.
A gratidão é uma disposição da vida que deve ser encorajada e nutrida. Se um cristão espera até que se sinta agradecido, isso pode nunca acontecer. Ele deve fazer disso uma prioridade, desenvolver o hábito de ser grato, não importando as circunstâncias. Existem duas atitudes básicas que podem ser tomadas para ajudar. Primeiro, a pessoa precisa arrepender-se do ato de reclamar. Isso significa pedir ao Senhor que lhe perdoe por seu espírito de ingratidão. Ele deve assumir o compromisso de parar de murmurar. Terá de se arrepender da autopiedade, porque é a disposição subjacente que promove a ingratidão. Ele também deve arrepender-se de ser exigente e egoísta na vida. Os cristãos devem esforçar-se para estar no espírito que Juan estava, em vez da atitude apresentada por Johnny.
Em segundo lugar, deve aprender a começar a expressar gratidão. Ele deve agradecer regularmente ao Senhor por tudo o que tem feito em sua vida. Deus certamente foi extremamente paciente com aqueles que lutaram com pecado sexual. Temos muito para sermos gratos! Outro exercício prático é fazer listas de coisas para agradecer. Por exemplo, um cristão pode fazer uma lista de todas as coisas das quais ele é grato em sua vida. Talvez, na semana seguinte, ele faça uma sobre seu trabalho. De todos os presentes que já dei para minha esposa, um de seus favoritos é uma lista emoldurada de 35 qualidades que amo nela, dados em seu 35° aniversário. Até hoje, ela está encantada com o presente!
Fazer listas de itens para agradecer terá um efeito incrível no espírito em que um homem está. Para aqueles que são especial¬mente ingratos, talvez a esposa desses deva ir à locadora mais próxima e alugar o filme O espírito do natal! * A mensagem desse filme é certamente apropriada para o homem infeliz, que nunca está satisfeito com sua vida e não consegue encontrar qualquer coisa para agradecer a Deus.

LIMPANDO O COPO
No capítulo quatro, falei sobre a necessidade de retirar a fachada de santidade e expor a natureza verdadeira do coração. No capítulo cinco, analisamos a mente do homem entregue ao pecado, que é cheia de perversidade e assim por diante. Essa mesma termi¬nologia é usada por Jesus ao falar sobre os fariseus. Um dia, Ele estava comendo com os fariseus, quando um deles o criticou por não lavar com cerimônia Suas mãos antes de comer. Isso seria comparável a um cristão não curvar sua cabeça, dando graças pelo alimento antes de comer. Jesus voltou-se para eles e disse: E o Senhor lhe disse: Agora, vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. "Loucos! O que fez o exterior não fez também o interior? Dai, antes, esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo (Lc 11.39-41).
Lidei com milhares de homens em pecado sexual durante os últimos 15 anos. Muitos aprenderam a limpar o exterior. Eles fre¬qüentavam assiduamente à igreja, deixaram sua vida pregressa de diversão e farra, e se arrependeram da rebelião aberta que manti¬nham com relação a Deus. Exteriormente, pareciam estar agindo certo. Contudo, era uma outra questão interior. Embora tenham limpado o exterior do copo, seu mundo interior ainda estava cheio de impureza, como o Senhor disse dos fariseus em outra ocasião: auto-indulgência (Mt 23.25).
Jesus não repreendeu os fariseus por limpar a vida deles exterior¬mente. É agradável a Deus ir à igreja e arrepender-se das provas visíveis de impureza. Ele procurava ensinar-lhes que é importante da mesma forma limpar a vida por dentro também. Muitos homens que eram controlados por uma concupiscência propulsora conse¬guiram dominar os atos externos do pecado sexual, mas ainda são consumidos pela concupiscência por dentro. Algo deve mudar na vida interior.
Jesus deu a resposta aos fariseus naquele dia. Dai, antes, esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo (Lc 11.41). Com aquela Palavra, Ele tocou diretamente no problema. No coração deles, os fariseus não eram doadores, mas recebedores. Quão diferente era nosso Salvador! Ele passou Seu ministério inteiro servindo os outros. Sua vida foi dedicada a praticar atos de misericórdia. Constantemente, sacrificou-Se pelos outros, mostrando sempre generosidade, cura, libertação, ensinando e doando. O que estava dentro dEle foi expresso na forma de misericórdia, amor e compaixão.
Naquela única palavra, doando, Ele dá a resposta para a pessoa que aprendeu a tomar as atitudes da religião e ainda está cheia de impureza. Esta palavra, que é usada umas duas mil vezes nas Escrituras, descreve a natureza fundamental de Deus e, conse¬qüentemente, o que significa ser piedoso. Descreve também por que muitos continuam derrotados.
Os passos esboçados neste livro levarão o homem que está em lutas à vitória. Os acessos pelos quais o diabo estava agindo podem ser fechados. Dessa forma, Deus poderá tratar a carne do homem, submetendo-o ao Seu processo poderoso de disciplina. O homem pode esquivar-se das maquinações do inimigo, experimentar um quebrantamento real com relação a esse assunto e desenvolver uma vida devocional maravilhosa. Contudo, se ele quiser ser limpo interiormente, uma transformação terá de ocorrer dentro dele. Ele deve receber menos e dar mais!
A concupiscência é uma paixão - uma paixão egoísta. Olhar com malícia para o corpo de alguém é buscar tomar algo daquela pessoa para si. O desejo sexual gira inteiramente em torno da satisfação da própria carne. É um narcisismo absoluto. Existe uma outra paixão disponível para o filho de Deus. É o que motivou Jesus a dar Sua vida na cruz do Calvário. Lucas chamou de Sua paixão (At 1.3). Há um rio celestial na qual a pessoa pode imergir para satisfazer as necessidades de outras pessoas. E o fogo santo no qual Deus vive - uma paixão em ajudar os necessitados. Para o homem que passou sua vida inteira no narcisismo, esse conceito soa completamente estranho. "Veja, cara, só quero ser libertado desse problema de lascívia. Não estou procurando virar o mundo de cabeça para baixo. Contudo, essa é a resposta que Jesus deu àqueles que precisavam de uma grande purificação interior. Ele disse para dar. É o espírito oposto de querer ganhar para si mesmo.
O que exatamente Jesus quis dizer quando declarou o segundo maior mandamento sob o qual a Bíblia inteira se apóia? Quando Ele disse que devemos amar nosso próximo como a nós mesmos. Jesus quis dizer, como o espírito do mundo afirma, que devemos primeiro aprender a amar a nós mesmos? Não! Se existe uma coisa que é verdade sobre aqueles que estão em pecado sexual, é que eles fizeram um trabalho completo de amar a si mesmos. Na realidade, estão tão empenhados em satisfazer a si mesmos, que magoaram todas as pessoas que se aproximaram deles. Com certeza, Jesus quis dizer algo diferente disso! Porque qualquer um que faça um exame superficial da vida no Novo Testamento pode ver claramente que o fundamento da vida cristã envolve fazer o bem para os outros. Amar os outros não é uma sugestão, mas um mandamento! Se você examinar os Dez Mandamentos, descobrirá que os quatro primeiros tratam de nosso amor para com Deus e os seis últimos de nosso amor para com os outros. Na realidade, deixe-me ir um pouco além. Toda vez que uma pessoa peca, está pecando contra Deus e/ou contra outra pessoa.
Jesus disse:
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (Jo 13.34,35). Paulo aconselhou: A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei (Rm 13.8). Pedro advertiu: Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobrirá a multidão de pecados (1 Pe 4.8). Por fim, João declarou: Nós o amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz Eu amo a Deus e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? (1 Jo 4.19,20).
Amar os outros no poder de Deus não é um conceito vago, místico. Em termos mais simples, significa dar a si mesmo. Jesus disse: Dai, antes, esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo. Conforme a pessoa aprende a tornar-se um doador em seu coração, começa a ver tudo na vida de um modo diferente. Ela será limpa interiormente.
Em um nível prático, um modo certo de entrar nessa paixão celestial é começar a ver as necessidades dos outros. Os pecadores sexuais são peritos em tomar um cuidado extremo com cada uma de suas necessidades e desejos, e pouquíssimo interesse têm mostrado pela vida dos outros. Paulo expressou o que é o amor de um modo prático:
Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fp 2.3-5).
Indiscutivelmente, esse era o propósito que Jesus tinha a nosso respeito. Ele foi paciente e extremamente misericordioso para cada um de nós. Ele tem procurado fazer tudo dentro de Seu poder para nos fazer bem. Contudo, muitos são como o servo que foi perdoado de uma grande dívida, mas rapidamente se esqueceu da misericórdia concedida a ele e, então, mostrou uma falta de misericórdia por seu irmão. O rei lhe disse:

Então, o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? (Mt 18.32,33).

Jesus disse: Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai (Mt 10.8). Em outras palavras, saia e vá ao encontro das necessidades dos outros. Comece a ver as outras pessoas como Deus as vê. Quando fizer isso, a compaixão do Senhor começará a crescer em você. Uma mudança gradual começará a acontecer em seu coração. Em vez de ver as pessoas como objetos de uso para seus propósitos narcisistas, começará a vê-las como pessoas com problemas, lutas e dores. Você começará a investir na vida delas para o bem delas. Essa é a vida cristã normal. Qualquer um pode afirmar ser seguidor de Cristo, mas aqueles que têm verdadeiramente o Espírito de Deus dentro de si serão conseqüentemente compelidos a amar as outras pessoas. Oswald Chambers disse: "Quando o Espírito Santo derrama o amor de Deus em nosso coração, então esse amor exige cultivo. Nenhum amor na terra se desenvolverá sem ser cultivado. Temos de nos dedicar a amar, o que significa iden¬tificar-nos com os interesses de Deus por outras pessoas".1
Jesus disse que devíamos dar o que está dentro. Se o pecado está no coração, o melhor lugar para tratar disso não seria no coração? Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem, disse Jesus (Mc 7.23). A chave é converter o coração para um coração bondoso, orando pelos outros. Quando o homem aprender a interceder verdadeiramente pelas necessidades de outras pessoas, acontecerá uma transformação. Ele se tornará um doador em seu coração, em lugar de recebedor. Deus quer que haja um espírito de bênção dentro de Seu povo o tempo todo. Quanto mais um homem ora pelos outros, menos fica irritado, ofendido e provocado por eles; e sim, são menos atraentes para ele sexualmente.
Orar pelos outros é definitivamente um enorme passo na direção certa. A mudança logo aparecerá do coração em atitudes. A velha mesquinhez será substituída por um novo espírito de doação. Da mesma maneira pela qual o velho avarento foi transformado, a pessoa logo estará procurando por oportunidades para suprir as necessidades. Ela se deleitará em dar seu tempo, dinheiro e posses. O mais importante, doará a sua vida tão-somente para que outros prosperem e sejam abençoados.
A melhor forma de começar esse processo é encontrando uma necessidade e suprindo-a. Lembro-me de quando estava em meus primeiros dias de liberdade. O Senhor começou a incomodar meu coração para começar a distribuir bolsas com artigos de necessidades para os mendigos nas ruas de Sacramento. Peguei meu próprio dinheiro e fui às lojas de artigos de segunda mão e comprei toda mochila, maleta e bolsa de ginástica que pude encontrar. Então, enchi as bolsas com todos os tipos de coisas que imaginava ser uma bênção para aqueles homens que estavam morando nas ruas. Fiz isso por várias semanas até que o Senhor me disse que estava na hora de parar. Que oportunidade maravilhosa de exercer misericórdia para com os outros, não esperando receber coisa alguma em troca. Foi a primeira vez que entendi verdadeiramente o que Jesus quis explicar quando disse: Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber (At 20.35).
As possibilidades de se dedicar às necessidades dos outros são ilimitadas. Os ministérios das clínicas de repouso estão sempre procurando voluntários para ajudar os idosos que geralmente foram esquecidos e abandonados pela família e pelos amigos. Que lugar maravilhoso viver pela misericórdia que Deus lhe mostrou! Os ministérios nas prisões precisam de homens que se interessem por aqueles que estão atrás das grades. As crianças precisam de professores de escola dominical que se importem pela vida delas; as cozinhas públicas que servem sopa para os pobres precisam de pessoas que apareçam e sirvam de forma altruísta. Se não houver outra coisa a fazer, pode-se ir ao seu pastor e oferecer-se para servir em qualquer trabalho necessário a fim de ajudar o ministério. A maioria dos pastores está sobrecarregada com obrigações pastorais e vários problemas com relação aos membros de sua congregação, e há poucas pessoas dispostas a dar seu tempo.
É muito importante que a pessoa não se envolva em situações que trarão glória a si mesmo. Homens que estiveram envolvidos em pecado sexual devem primeiro aprender a se tornar servos.
Envolver-se em uma posição de liderança, onde é visto por outros, frustrará o propósito inteiro. Jesus disse: Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. (Mt 6.1). A pessoa precisa servir desinteressadamente, ou nada mudará dentro dela.
Se o homem livrar-se dele mesmo, logo compreenderá a bênção de ser um doador. Não haverá demônio no inferno que possa impedi-lo de viver por meio do amor de Deus pelas outras pessoas. Até que comece a fazer isso, permanecerá aprisionado atrás das paredes de seu egoísmo.
Feche todo o acesso que o inimigo possa ter para atingir sua alma, desenvolva e nutra um espírito de gratidão e aprenda a ser um doador em vez de um recebedor. Esses exercícios espiri¬tuais transformarão o modo como você vê as outras pessoas; você começará a vê-las por meio dos olhos dAquele que sacrifi¬cou Sua vida por você e por elas.

Capítulo 17
COMO SER UM GRANDE AMANTE
(UM CAPÍTULO PARA HOMENS CASADOS)

Um novo mandamento vos dou:Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. João 13.34

Nossa sociedade dá uma ênfase tremenda ao sexo. Don Juan e Casanova são enaltecidos como heróis, muito embora tenham sido ambos viciados sexuais obcecados pela próxima conquista. Hollywood é infalível em seu retrato do herói como o grande amante que tem um vasto número de mulheres à sua disposição. Raramente o ator principal é um homem casado feliz e fiel à esposa. A mensagem transmitida pela indústria cinematográfica é que é bom e aceitável ser sexualmente ativo com muitos parceiros. A apresentação do mundo de um grande amante mascara a realidade do gigolô narcisista, que muda de mulher para mu¬lher, procurando desesperadamente preencher um vazio em sua vida.
Talvez a razão de Hollywood promover tão facilmente o adúl¬tero é porque este tem uma idéia superficial do que seja o amor. Nos filmes, o amor é uma torrente irresistível de emoção, que toma conta da pessoa quase contra a própria vontade. Quantos filmes existem onde a mulher casada inevitavelmente se apaixona por outro homem? Ela sabe que é errado, mas simplesmente não sabe como sair dessa. É claro que o marido é sempre apresentado como um monstro, de forma que todo mundo se alegra quando a esposa angustiada finalmente cede aos próprios sentimentos e comete adultério.
O conceito mundano de amor é extremamente superficial e vai além das emoções que a pessoa sente em um momento em particular. Uma vez que se espera que cada pessoa considere os próprios interesses antes dos interesses dos outros, o amor não é mais significativo do que os sentimentos reforçados de um novo relacionamento. O conceito de amor de Hollywood é, na realidade, nada mais do que a concupiscência sexual. Com base nesta noção, as emoções de uma pessoa são o fundamento para o amor. Pode-se, então, dizer seguramente que o compromisso é tão seguro quanto as paixões instáveis de uma pessoa. Conseqüentemente, não é de se admirar que o índice de divórcio esteja subindo vertiginosa¬mente na América durante os últimos 40 anos, porque o nível de dedicação e o sentimento de compromisso que as pessoas têm umas para com as outras tem decaído continuamente.

AMOR BÍBLICO
A Bíblia apresenta o significado correto da palavra amor. Ele não é fundamentado em sentimentos misteriosos, que sub¬jugam alguma pessoa infeliz. É não só uma decisão premeditada e proposital, como também um ato desinteressado de tratar outra pessoa com bondade e respeito. Disse o apóstolo João:
Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade (1 Jo 3.16-18 ARA).
O nível de compromisso de um marido para com sua esposa vem, em grande parte, porque ele se dedicou ao estilo de vida desinteressado do cristianismo. Bons sentimentos podem ir e vir, mas o compromisso de um cristão com sua esposa é para o resto da vida. Esse nível de devoção para com outra pessoa não é difícil para o homem que está vivendo com um interesse sincero pelas necessidades e sentimentos das outras pessoas, especial¬mente sua esposa e família.
O fundamento do amor bíblico é fundamentado na ação da pessoa, não nos sentimentos. Quando um homem é gentil com sua esposa, por exemplo, ele a está amando; assim, quando for indelicado com ela, não a estará amando. Uma vez que o amor é uma ação que a pessoa pode escolher fazer, suas emoções devem sempre ser secundárias à sua conduta. E por isso que Jesus podia ordenar a Seus seguidores que amem seus inimigos. Ele não esperava que eles tivessem sentimentos ternos quando outros os maltratassem. Ele lhes deu instruções práticas de como tratar essas situações:

Mas a vós, que ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos aborrecem, bendirei os que vos maldizem e orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses. E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir. E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também. Lucas 6.27-31

O homem que deseja ser um grande amante de acordo com os padrões bíblicos tem os recursos para fazer isso; não simples¬mente porque é uma escolha que ele pode fazer, mas porque o Espírito Santo habita dentro dele e amará os outros por seu intermédio. Os mesmos princípios ensinados nas Escrituras sobre como um cristão deve tratar os outros devem também se aplicar ao seu cônjuge. De fato, quando Jesus disse que amássemos o nosso próximo como a nós mesmos, deve-se chegar à certeza de que o seu próximo mais próximo é sua esposa! Para fins de nosso estudo, seria útil examinar a dissertação de Paulo sobre o amor em 1 Coríntios 13.

O amor é muito paciente e bondoso, nunca é invejoso ou ciumento, nunca é presunçoso nem orgulhoso, nunca é arrogante nem egoísta, nem tampouco rude. O amor não exige que se faça o que ele quer. Não é irritadiço, nem melindroso. Não guarda rancor e dificilmente notará o mal que outros lhe fazem. Nunca está satisfeito com a injustiça, mas se alegra quando a verdade triunfa. Se você amar alguém, será leal para com ele, custe o que custar. Sempre acreditará nele, sempre esperará o melhor dele, e sempre se manterá em sua defesa [...] o amor continuará para sempre. 1 Coríntios 13.4-8a BV

Nessa passagem da Escritura, foi dada ao homem casado uma riqueza de informações sobre como ser um grande amante. Vamos examinar esses elementos diferentes do amor no contexto do casamento. Paulo começa seu ensino dizendo que o amor verda¬deiro é paciente com a outra pessoa. Esse é um grande problema para muitos maridos. Muitos homens que estiveram envolvidos em pecado sexual tendem a aproximar-se do leito matrimonial com uma falta de interesse genuíno pelos sentimentos da esposa. Eles geralmente vêem a esposa somente como objeto para ser usado a fim de satisfazer suas necessidades sexuais. A necessidade dela é amplamente ignorada. E fato que as mulheres se aquecem sexualmente em um ritmo muito mais lento do que os homens. O homem envolvido em um estilo de vida imundo freqüente¬mente não tem paciência para mostrar interesse pelas necessidades sexuais da esposa. Justamente quando ela está aquecendo-se sexualmente para o marido, ele já terminou e está pronto para virar-se para o lado e dormir. Esse ato ostensivo de narcisismo é muito infeliz, porque é uma oportunidade maravilhosa de o marido colocar as necessidades dela acima das próprias necessidades e demonstrar-lhe o amor que ajudará a manter o casamento.
Igualmente importante é a necessidade da bondade. O amante bíblico verdadeiro é um homem que é gentil e amável com sua esposa. Ele não pode gritar com ela durante o jantar e depois esperar que ela esteja "disposta" na mesma noite! Muitas esposas foram emocionalmente espancadas durante anos por maridos rudes e controladores. As mulheres são muito sensíveis e frágeis. Precisam ser tratadas com gentileza. Na verdade, o marido deve aprender a ser um cavalheiro. Conforme o marido aprende a tratar sua esposa com ternura, as paredes que ela construiu com o passar do tempo serão, por fim, derrubadas. Normalmente, uma mulher amaria fazer mais para agradar a seu marido, mas a rispidez dele a deixa amedrontada. Porém, se a confiança for gradualmente restabelecida, ela poderá "sair de sua concha". No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo (1 Jo 4.18a ARA), disse o apóstolo João. Se o marido restabelecer a confiança que quebrou, a vida de amor entre ele e sua esposa será restabelecida.
Outras características do amor ágape é que ele não é ciumento ou invejoso.
Devido à tremenda carga de culpa que os viciados sexuais carregam consigo, freqüentemente temem subconscientemente que a esposa esteja sendo infiel. Eles se tornam ciumentos, imaginando todos os tipos de coisas - pura paranóia. Geralmente, isso é somente uma projeção da própria culpa. Conforme começam a emergir do mundo pequeno e narcisista em que viveram por tanto tempo, essas inseguranças gradualmente se dissipam.
O amante bíblico também nunca é altivo nem arrogante. Quando eu estava profundamente em pecado, realmente pensava que minha esposa era tremendamente sortuda em estar comigo! Desenvolvi tal atitude ao longo dos anos, porque eu me sentia confiante de que sempre poderia encontrar outra mulher para me amar. Naquela ocasião, eu não conseguia ver que pessoa vil eu era por dentro. Não era minha esposa que era sortuda, mas eu era afortunado! Isso se tornou real para mim quando ela me deixou e requereu o divórcio. De repente, percebi que a probabi¬lidade de encontrar outra mulher que amasse a Deus e seu marido era remota. Misericordiosamente, o Senhor restabeleceu meu relacionamento com minha esposa, e minha atitude nunca mais foi a mesma. Uma das coisas que aprendi ao longo dos anos é o quanto uma mulher respeita a humildade em um homem. Sempre imaginei a humildade como algo que levaria a mulher a perder o respeito por seu marido, mas exatamente o oposto é verdadeiro.
Isso nos leva à característica mais importante do amor. Paulo disse que o amor verdadeiro não busca os próprios interesses. Posso lembrar-me vividamente do quão narcisista eu era com minha esposa. Olhando para trás, parece que tudo em nossa vida girava em torno do que eu queria, como eu queria que as coisas fossem, o que me fazia feliz e assim por diante. Minha esposa era forçada a satisfazer com dificuldade qualquer tipo de prazer que ela pudesse ter na vida, muito parecido com um cachorro debaixo da mesa esperando por alguns pedaços de comida. Esse estilo de vida narcisista foi transportado também para o quarto. O sexo era primeiramente somente para meu prazer. Não me ocorria que minha esposa também pudesse desfrutá-lo e experimentar uma intimidade verdadeira com seu marido.
Felizmente, conforme comecei a amadurecer em minha fé e assumir a responsabilidade por meus atos, fui forçado a enfrentar o fato de que eu havia sido extremamente narcisista em todas as áreas de minha vida. Como vimos no último capítulo, se o homem interior tiver de ser limpo, deverá acontecer uma grande transformação: de recebedor precisa ser transformado em doador. Foi isso exatamente o que o Senhor começou a fazer dentro de mim. A convicção interior sobre meu narcisismo abriu meus olhos para as necessidades de minha esposa. Comecei a perceber que ela, como mulher, tinha necessidades emocionais que deveriam ser supridas nos momentos de intimidade. Aprendi também a colocar seus desejos acima dos meus. Comecei a me perguntar coisas como: "O que posso fazer para agradar a ela?" "Do que ela gostaria?"
Como me tornei menos narcisista, nossos momentos de intimidade se tornaram mais agradáveis. Eu não precisava mais me entregar a idealizações em profusão para consumar o ato. Gradualmente, o prazer de ter uma vida sexual saudável com minha esposa foi o suficiente para manter-me satisfeito. Não somente minha concupiscência por outras mulheres diminuiu, como também meu amor por minha esposa aumentou. Ela co¬meçou a retribuir quando viu a mudança que estava ocorrendo em mim. Conforme nosso amor crescia, as paredes de proteção começaram a ruir e começamos a trabalhar juntos, em vez de um contra o outro, como marido e mulher devem ser.
Além disso, o homem que tem um amor verdadeiro não se irrita nem é desconfiado. Ele não guarda rancores contra aqueles que aparentemente lhe ofenderam. Gradualmente, aprende a livrar-se dele mesmo e ver a importância daqueles ao seu redor. Que vida infernal é ser continuamente consumido pelos próprios direitos. C. S. Lewis disse:
"Devemos visualizar o inferno como um estado onde todos estão perpetuamente preocupados com a própria dignidade e progresso, onde todos têm uma queixa e vivem as paixões mortais sérias da inveja, da presunção e do ressentimento".1

Como já analisado, o homem em pecado sexual levou uma vida de engano. Quando ele começa a sair dessas trevas, passa a desenvolver um novo gosto pela verdade - ainda que às próprias custas. Quando assume a responsabilidade pelo que tem sido, ele abandona sua vida dupla, sua esposa sente que a vida de engano e negação está desintegrando-se, e ela transborda com grande esperança. No entanto, se o marido envolvido em imo¬ralidade continuar a transferir a culpa ou minimizar seu pecado, a esposa não sentirá que pode confiar nele. Admitir sua natureza pecadora tira o homem das trevas e o traz para a luz.
Quando Paulo estava terminando seu discurso, era como se os adjetivos tivessem saindo em abundância de dentro dele. "Você sempre acreditará nele, sempre esperará o melhor dele e sempre se manterá firme para defendê-lo; o amor dura para sempre". Muitos viciados sexuais casados exigem esse tipo de amor da esposa, mas eles mesmos dão muito pouco disso. A esposa retribuirá ao que o marido tem-lhe dado. É sua responsabilidade amá-la primeiro. Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela (Ef 5.25). Conforme sentir a lealdade e o compromisso dele, normalmente retribuirá dessa maneira. Se ele mostrar que acredita nela, a confiança nele começará a crescer.

UMA VISÃO DIFERENTE DA PRÓPRIA ESPOSA
Muitas, muitas vezes, ao longo dos anos no Pure Life, estivemos na posição infeliz de ter de consolar um homem arrependido pela perda de sua esposa. É sempre uma situação muito triste. Finalmente, o homem volta a seu juízo e sinceramente toma os passos para um arrependimento real, mas então é tarde demais. A esposa foi magoada durante muito tempo e resolveu dar um basta. Depois que essa decisão foi tomada em seu coração, é quase impossível para ela mudar de idéia. Algo dentro dela se fechou. Fechou seu coração para o marido e escolheu continuar a vida sem ele.
Outros homens têm mais sorte. Suas esposas ainda não chegam a esse estado. Eles começaram o processo de arrependimento a tempo. Estão agora na posição invejável de ter uma esposa que pode ajudá-los no processo de restauração. Salomão entendeu o valor de ter uma esposa no meio dessa luta. Depois de advertir os homens sobre as conseqüências de se entregar ao pecado, ele procura aconselhar os maridos a se deleitarem com as próprias esposas, em lugar de ir atrás de mulheres estranhas:

Bebe a água da tua cisterna e das correntes do teu poço. Derramar-se-iam por fora as tuas fontes, e pelas ruas, os ribeiros de águas? Sejam para ti só e não para os estranhos contigo. Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, como cerva amorosa e gazela graciosa; saciem-te os seu s seios em todo o tempo; e pelo seu amor sê atraído perpetuamente. E por que, filho meu, andarias atraído pela estranha e abraçarias o seio da estrangeira? Porque os caminhos do homem estão perante os olhos do SENHOR, e ele aplana todas as suas carreiras. Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido. Ele morrerá, porque sem correção andou, e pelo excesso da sua loucura, andará errado. Provérbios 5.15-23

Existem três palavras de ação que quero examinar brevemente neste capítulo da Bíblia. Em primeiro lugar, Salomão diz que o homem deve alegrar-se com a mulher da sua mocidade. Esse é o espírito de gratidão da qual já falamos a respeito. Em vez de ter uma atitude queixosa pelo que Deus lhe deu, deve desenvolver um coração grato por sua esposa. Ela é uma bênção maravilhosa de Deus para ele.
Em segundo lugar, Salomão instrui o homem a se saciar com os seios de sua esposa. Obviamente trata-se da intimidade. É a satisfação decorrente de ter um coração agradecido. A satisfação está disponível para o homem que está disposto a permitir que Deus o transforme.
Por último, ele exclama: E pelo seu amor sê atraído perpetua¬mente. E por que, filho meu, andarias atraído pela estranha? Talvez eu possa parafrasear desse modo: "Sê atraído por sua esposa. Se o Senhor pode ajudá-lo a se excitar com seu amor, por que você iria querer ir para a cama com alguma prostituta?"
Isso aponta as obras de Deus que o homem carnal não consegue compreender. O Senhor tem o poder de capacitar um homem a se satisfazer com o que ele recebeu. Isso exige paciência e obediência. Quando o homem obedece a Deus, então o Senhor pode ajudá-lo e abençoá-lo. Isso leva tempo.
Temos um retrato maravilhoso desse conceito por meio da história dos israelitas (conforme mencionado antes) no deserto com Moisés. Já mencionamos essa história antes, quando estávamos mostrando como Deus permite que uma pessoa faça o que ela insiste em querer fazer. Vamos voltar a essa história, de forma que possamos ter uma compreensão melhor da ajuda de Deus na batalha com a carne. Só precisaremos examinar uma pequena parte da narrativa para entender a mensagem.
E o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; e dos pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos. Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos. Números 11.4-6

Essa história ilustra ambos o espírito de concupiscência e como Deus procura oferecer um escape. Os filhos de Israel estavam vagando no deserto, porque o Senhor tentava purificá-los do amor à idolatria egípcia antes de enviá-los à Terra Prometida. Tudo no plano de Deus dependia da permissão deles ou não para que o Senhor os transformasse de idólatras maus em uma nação santa. Os "desejos vorazes" que levaram os israelitas a se rebelarem são comparáveis à concupiscência que levou muitos cristãos à mesma situação miserável. Os homens se mantêm aprisionados na memória dos encontros sexuais do passado. Eles tentam constantemente reviver essas experiências - ter nova¬mente a sensação. Eles não estão dispostos a se entregar e aceitar o plano de Deus para a vida deles. Eles querem viver na sombra do Monte Sinai, mas não estão dispostos a deixar o Egito. Então, uma murmuração e inquietação constante tomam conta do coração deles.
O maná é um retrato da esposa. Deus lhe deu uma resposta para o apetite em seu corpo. Mas o maná é um tédio para o homem que está acostumado a comer da árvore de variedades. Ele não está disposto a se permitir estar satisfeito. Deus tem uma resposta para aqueles que sinceramente querem isso. Ela é encontrada nas palavras de reclamação dos murmuradores: Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos (Nm 11.6). Se um homem aprender a amar sua esposa, a despeito de como ele possa sentir-se por dentro, Deus tirará o apetite que ele tem por outras mulheres e dará em seu lugar um desejo por sua esposa. "Se atraído por sua esposa. Se eu posso ajudá-lo a se excitar com seu amor, porque você iria querer ir para a cama com alguma prostituta?" Deus ajudará o homem a se excitar com o amor de sua esposa, se ele aprender a amá-la como o Senhor a ama. É o meu teste¬munho do que Deus fe2 em minha vida. Eu estou satisfeito. Exatamente como a multidão no deserto, cada um terá de decidir se quer estar satisfeito.
Parte do problema com os viciados sexuais é que viveram na pista rápida das experiências sexuais por tanto tempo que dificil¬mente conseguem ir para a pista lenta e obedecer ao limite de velocidade. Se um homem está acostumado a dirigir a 80km/h, percorrer um caminho a 55km/h parece passo de tartaruga. Isso deixa a carne louca. Contudo, se ele entrar na pista lenta e se forçar a ficar ali, o frenesi que ele sente por dentro conseqüentemente diminuirá e 55km/h parecerá rápido!
Figura 17-1

O problema com tentar viver a 80 km/h é que ninguém pode manter esse nível. A vida não foi feita para ser vivida nesse ritmo.
A figura 17-1 mostra a vida do viciado sexual típico. Ele não está disposto a viver no limite de 40-60 km/h como qualquer outra pessoa. Ele está continuamente procurando por experiências maiores, novas conquistas e pecado. Uma vez que existe um preço pelo pecado, depois que ele atingiu o ponto culminante de sua concupiscência, ele submerge nas profundidades do desespero e da desesperança. Ele acredita que o único caminho para escapar da depressão é encorajando-o com uma nova experiência sexual. É ao que Salomão se referia quando disse: E por que, filho meu, andarias atraído pela estranha? (Pv 5.20a). É a atração da idealização. A figura 17-2 mostra a vida de um homem satisfeito com o amor de sua esposa. Sua vida não é caracterizada por cumes e vales extremos. Uma vez que ele não experimenta o desespero do pecado, não sente a necessidade de se excitar com a falsa velocidade do sexo ilícito. Ele está satisfeito em levar sua vida a 50 km/h. O que há de errado com isso? Se Deus pode torná-lo satisfeito com a própria esposa, isso não é melhor do que tentar viver em um ritmo para o qual ele não foi criado? Isso parece inalcançável para alguns, mas somente porque eles estão acostumados a levar a vida por seus sentimentos, em vez de pela fé.
Figura 17-2

Concluirei esse capítulo com uma história muito legal que meu amigo Mike Broadwell me contou certa vez. Sua sobrinha estava observando um peixe dourado nadar de um lado para outro em seu aquário. Isso deixou a menininha muito triste porque parecia uma vida sem graça, nadar de um lado para outro no mesmo velho aquário. Tudo era sempre o mesmo; nada mudava. O pobre peixe nunca teria qualquer outra coisa para esperar da vida. Isso pareceu trágico para aquela garotinha sensível. O tio Mike sabia exatamente o que dizer: "Annie, Deus criou esse peixinho dourado com uma memória minúscula. Quando ele chega ao fim do aquário, ele já se esqueceu completamente de onde ele acabou de estar e, quando se volta, é um território inteiramente novo para ele!" Deus tem o poder de fazer o mesmo milagre no coração humano! Quando o homem sai da pista rápida da atividade sexual, o Senhor instila nele um novo desejo por sua esposa.

Capítulo 18
O PODER DA GRAÇA DE DEUS

O brandir do chicote egípcio não dissipou as memórias de Jonadabe das muitas noites que ele havia passado no templo de Om. Ele conhecia as histórias sobre os encontros místicos que seus descendentes supostamente tiveram com Jeová, o grande Deus dos hebreus. No entanto, ele sempre preferiu a deusa da fertilidade do Egito. "A deusa Ísis sabe como recompensar seus adoradores", ele freqüentemente proferia ditos espirituais depois de uma noite com uma prostituta do templo.
Poder-se-ia pensar que os eventos inesquecíveis ocorridos no último ano teriam causado mais impacto em Jonadabe. Ele fora testemunha ocular da destruição do maior reino na terra. Onda após onda de fúria da natureza bateu contra o império de Faraó até que nada restou além do gemido de lamentação dos pais. Se isso não é suficiente, ele também esteve entre os israelitas que cruzaram o mar Vermelho em terra seca. Mas, um ano depois, eram apenas vagas recordações. Nem mesmo a voz trovejante de Jeová, do Sinai, pôde aquietar as memórias daqueles encontros inesquecíveis no templo de Om. Estavam sempre em sua mente.
Um amigo de Jonadabe, Naasson, contou-lhe sobre uma jovem casada com um dos anciões da tribo de Issacar. "Ela é linda, Jonadabe!", disse ele: "E ouvi dizer que ela é ardente! Jonadabe ficou obcecado pela idéia de possuir aquela mulher. Toda oportunidade que tinha, ele ia até a sua tenda e começava a conversar com ela. Finalmente, ela o convidou para entrar. Infelizmente, para ambos, uma vizinha idosa o viu entrar na tenda. Quando aquela senhora voltou com os chefes da tribo, os dois estavam engolfados nas paixões do adultério.
Com várias testemunhas oculares, foi um julgamento rápido. Jonadabe foi arrastado para fora do arraial, próximo a um lugar imundo e apedrejado pelos chefes da tribo do marido ofendido. Jonadabe gritou aterrorizado quando a chuva impiedosa de pedras o triturou na poeira do Sinai. Sua vida cheia de concupiscência finalmente teve um fim abrupto. *
Nos seis mil anos de existência da humanidade, houve somente períodos passageiros quando o sistema judiciário de Deus foi colo¬cado em vigor na vida dos seres humanos. No entanto, toda vez que a presença do Todo-Poderoso habitou entre o Seu povo, foi um retrato de como é quando Deus controla as atividades dos homens. Sob o Seu sistema judiciário, se você pecasse, deveria enfrentar o castigo da Lei. No Reino de Deus, o castigo por toda transgressão estava claramente estipulado na Lei de Moisés. Não havia equívocos nem quaisquer exceções.
Aqueles que conheceram somente a dispensação da graça devem enfrentar continuamente a tentação de negligenciar o sistema judiciário de Deus em nossa vida. "Isso não se aplica mais para nós", alguém poderia dizer: "Não estamos debaixo da Lei". Sim, é verdade. Não obstante, Paulo nos diz: A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo (Gl 3.24a). Em outras palavras, chegar a uma compreensão de como Deus vê o pecado irá levar-nos a uma revelação de Jesus Cristo. O fato de Deus ter enviado Seu Filho para ter uma morte cruel, horrível, na cruz não significa que Ele não repudia mais o pecado e negligenciou seu sistema judiciário. Significa simplesmente que a morte do Seu Filho proveu uma expiação pelo nosso pecado. Não precisamos mais pagar o castigo completo por nossas transgressões. Deus agora só exige que confessemos os nossos pecados e nos arrependamos deles. Sua graça significa que nós, que tivemos vidas pervertidas, devemos agora viver de maneira agradecida, cientes de que somos criminosos e merecemos ter a mesma pena de morte de Jonadabe, mas fomos perdoados porque o Juiz ordenou que Seu Filho sofresse o castigo em nosso lugar.
Infelizmente, uma atitude sinistra e irreverente arrastou-se para a Igreja. Nossa perspectiva da natureza horrível do pecado tornou-se tão distorcida pelo humanismo que, se Deus tratasse hoje com um homem como Ele fez com Jonadabe, pensaríamos que Ele foi muito severo e impiedoso. Se, hoje, um Ananias e uma Safira modernos fossem mortos por nosso Deus santo, nossa estrutura literalmente desabaria. De um modo geral, a Igreja está muito acomodada com aquilo que esse Deus santo repudia: o pecado.

GRAÇA NÃO É SINÔNIMO DE PACIÊNCIA
Um dia, no alto, nos penhascos desertos do monte Sinai, Deus Se revelou a Moisés. Quando Ele passou na frente do velho profeta, Ele proclamou: Passando, pois, o SENHOR perante a sua face, clamou:
JEOVÁ, o SENHOR, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração (Ex 34.6,7).

Poder-se-ia facilmente passar a vida inteira estudando esse auto-retrato pintado pelo Senhor e nunca esgotar seu significado pleno.
A frase que atrai o interesse especial do homem em pecado habitual é: Tardio em iras. Essa descrição é repetida oito vezes no Antigo Testamento sobre o Senhor. Seu equivalente no Novo Testamento, makrothumeo, é traduzido livremente como paciente ou longânimo. Esse termo grego é usado para descrever um dos frutos do Espírito. O Vines expository dictionary diz o seguinte sobre esse termo:
Ser paciente, longânimo, tolerante. Longânimo é aquela qualidade de autodomínio diante da provocação que não retalia apressada¬mente ou castiga prontamente; é o oposto de raiva e está associada à misericórdia.1
Para o homem que viveu continuamente longe dos requisitos de uma vida santa, é realmente uma boa notícia saber que Deus não fica facilmente irado com suas transgressões. Posso atestar o fato de que o Senhor é extremamente paciente. Ao longo dos anos, meus atos repetidos de rebelião e ilegalidade absoluta justi¬ficariam Sua ira e julgamento imediato. Porém, o que recebi em troca foi Seu amor, Sua compaixão e misericórdia. Embora Ele me tenha castigado muito (Sl 118.18) e tratado severamente por causa de minha natureza pecaminosa, o Senhor tem-me tolerado pacientemente o tempo todo. Ao descrever essa palavra, makrothumeo, Matthew Henry apreendeu a essência do coração de Deus:
Que pode suportar o mal e a provocação sem estar cheio de ressentimento ou vingança. Ele tolerará a negligência daquele a quem Ele ama e esperará muito tempo para ver os efeitos bondosos dessa paciência nele.2

E inquestionável que Deus mostra uma paciência tremenda para com o homem abertamente rebelde a Seus mandamentos. Não obstante, devemos entender que, embora Deus seja paciente, haverá um tempo de colher as imprudências do passado. A paciência de Deus nunca deve ser confundida com Sua graça. Embora trabalhem juntas, são dois aspectos diferentes de Seu caráter. O Dicionário teológico do Novo Testamento diz o seguinte sobre makrothumeo:

O Deus majestoso graciosamente retém Sua ira justa, como em Sua obra de salvação para Israel [...]. Ele faz isso não só em fidelidade à Aliança, mas também em consideração à fragilidade humana [...].
A paciência, claro, não é uma renúncia, mas o adiamento, com vistas ao arrependimento".3

Deus é paciente com respeito ao pecado de um homem, mas Sua paciência tem o propósito de dar um tempo para a pessoa arrepender-se. Referente à Segunda Vinda do Senhor, o apóstolo Pedro disse: O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o Dia do Senhor virá (2 Pe 3.9,10a). Ele, então, continua dizendo: Velo que, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor (2 Pe 3.14,15a).
É extremamente perigoso para um indivíduo envolvido em pecado habitual presumir que, por ele ainda não ter tido seu "dia de ajuste de contas" por sua má conduta, não haverá julga¬mento futuro para enfrentar. O povo de Israel cometeu esse erro. Eles, repetidamente, provocaram o Senhor por meio de sua desobediência e incredulidade ostensiva. Isaías transmitiu o pesar e frustração que o Senhor sentia pela desobediência de Seu povo:

Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha em um outeiro fértil. E a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito?E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede, para que seja pisada; e a tornarei em deserto; não será podada, nem cavada; mas crescerão nela sarças e espinheiros; e ás nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delidas; e esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor. Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem herdade a herdade, até que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores no meio da terra! Isaías 5.1-8

Jesus usou a mesma ilustração para descrever a experiência da salvação. Ele disse: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos (Jo 15.1,2,8). Novamente, Deus é extremamente paciente com Seu povo. Ele tolerará a negligência da pessoa que Ele ama e esperará muito tempo para ver os efeitos bondosos dessa paciência nele. Mas é importante entendermos que Ele tem uma vinha com o propósito expresso de dar uvas. Como qualquer viticultor experiente que levou anos cultivando a terra, Ele espera um dia colher uma safra frutífera. Que a ira de Deus para o pecado nunca seja esquecida nem minimizada.

GRAÇA NÃO É SINÔNIMO DE AMOR
Amor é um termo bíblico usado para descrever o Senhor e, freqüentemente, torna-se embaçado na mente dos cristãos. Deus é amor, e a profundidade, altura e largura de Seu amor são imensuráveis. Limitarei o que tenho a dizer sobre ele em uma gran¬de verdade dupla: Deus deseja ardentemente demonstrar Seu amor para conosco, e Ele espera que esse amor seja retribuído.* Jesus disse que o grande e primeiro mandamento que Deus deu ao ho¬mem foi que ele o amasse de todo o seu coração, de toda a sua alma e com todo o seu entendimento (Mt 22.37,38-ARA). A Bíblia inteira fundamenta-se nessa ordem divina.
Porém, amor não é o mesmo que graça. Eles são dois conceitos distintos. Deixe-me demonstrar a diferença entre amor e graça com uma história da vida de Jesus. Certo dia, Ele estava andando, quando um jovem muito rico lhe perguntou o que deveria fazer para ser salvo. Imagine os olhos de nosso Salvador penetrando no mais íntimo do ser desse jovem! O Evangelho de Marcos registra a história:

Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falsos testemunhos; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade. E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me. Mas ele, contrariado com essa palavra, retirou-se triste, por¬que possuía muitas propriedades. Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! Marcos 10.19-23

Muitos cristãos, inclusive eu mesmo, tiveram experiências im¬pressionantes, nas quais o amor de Deus tornou-se tão real que era quase tangível. Já participei de cultos de adoração que parecia que a presença de Deus pudesse ser sentida pela congregação como ondas suaves na praia. O Senhor sente um imenso amor por Seu povo. Contudo, deve-se tomar cuidado para não confundir Seu amor com Sua graça.
O amor de Deus pela humanidade é uma força poderosa. É fácil ser arrebatado pelos sentimentos produzidos por esse amor e corrompê-lo em algo para o qual ele não foi destinado. Seu amor não nega Seus mandamentos; simplesmente não negligencia o pecado. Na verdade, Seu amor exige que Lhe obedeçamos e nos desviemos do pecado. Depois do encontro com o jovem rico, Jesus disse aos Seus discípulos: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou (Jo 14.23,24).
O perigo de saborear o amor de Deus enquanto permanece em um estado sem se arrepender do pecado é que a pessoa pode realmente ser enganada, pensando estar em comunhão verda¬deira com o Senhor. Observe que, na história do jovem rico, o amor de Jesus não determinou a vida eterna para esse homem. Sim, Marcos nos diz que Jesus realmente o amou. Estou certo de que Seu amor manifestou-Se como um sentimento poderoso que emanou de dentro de Seu Ser. Todavia, a eternidade desse homem dependia de sua resposta àquele amor ardente. Ele iria obedecer às palavras de Jesus ou não? Como Jesus é fiel para fazer com todos aqueles que O seguem, Ele misericordiosamente trouxe esse homem a uma decisão: "Escolha hoje a quem servirá, a Deus ou a Mamom!" (Mt 6.24).
Essa história não tem o propósito de ordenar a todos que dêem todos os seus bens. Jesus viu a idolatria no coração daquele homem e, por conseguinte, levou-o a uma bifurcação na estrada: "Se você quiser ser Meu seguidor, deve abrir mão de seu ídolo". Eu pergunto a você: "O Senhor mudou?" Se Ele estipulou essa condição para um homem com relação ao dinheiro, muito mais para aqueles que fizeram do pecado o seu ídolo!
Você notará também que, depois que esse homem tomou sua decisão, Jesus não correu atrás dele (como tantos líderes cristãos fazem hoje em dia), tentando obter algum tipo de acordo: "Escute, eu não quis ser tão enfático assim. Você provavelmente só precisa de um tempo para pôr em prática esse tipo de compromisso. Por que você não me segue por algum tempo e espero que, mais tarde, você possa dar uma parte de seu dinheiro. Afinal de contas, ninguém é perfeito. Somos todos pecadores salvos pela graça. Deus entende".

GRAÇA NÃO É SINÔNIMO DE LICENCIOSIDADE
Jesus compeliu continuamente Seus seguidores a responderem às Suas palavras (isto é, tomar uma decisão). Ele não Se satisfazia em permitir que eles O seguissem aparentemente, enquanto não fizessem uma entrega real interiormente. O Senhor viu direta¬mente o âmago do coração dos homens e questionou-os sobre suas atitudes.
Jesus não somente desprezou o protocolo social que se encontra nas igrejas "não-agressivas" de hoje, como também era realmente uma pedra de tropeço para muitos "seguidores declarados". Veja, por exemplo, o grave "erro social" que Ele fez, conforme descrito no capítulo seis do Livro de João. O incidente começou com um sinal muito promissor. Jesus alimentou cinco mil pessoas com apenas dois peixes e cinco pães. O povo estava tão maravilhado que até exclamou: Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diriam: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo (Jo 6.14). Jesus reconheceu abertamente que muitos estavam receosos de dizer que Ele era o Messias.
Seguramente, era uma multidão pronta para um culto tremendo de reavivamento! Aquelas pessoas estavam (literalmente) comendo na Sua mão. No entanto, depois disso, era como se Ele não pudesse dizer qualquer coisa diretamente. Ele começou afirmando que era o Pão do Céu. Naquele momento, certamente, Ele podia perceber que aquelas pessoas precisavam ser gradualmente preparadas para uma grandiosa declaração como essa. Afinal de contas, alegar ser o Pão do Céu para uma multidão de simples camponeses era extre¬mamente arriscado. Então, para tornar as coisas piores, Ele prosseguiu dizendo-lhes que, se quisessem ter a vida eterna, eles teriam de comer Sua carne e beber Seu sangue! O Evangelho de João nos diz que, por causa disso, desde então, muitos dos seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com ele (Jo 6.66). O elemento interessante dessa história é o que aconteceu depois. Nem um pouco intimidado pela resposta da multidão, Jesus voltou-Se para os Seus 12 discípulos e perguntou-lhes: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus (Jo 6.67-69).
Ao contrário de muitos pregadores de hoje que são obcecados por ter uma congregação enorme, Jesus estava interessado naqueles que O seguiriam, não importando o custo. Ele entendeu que a maioria não O seguiria, contudo, nunca abrandou a verdade penetrante da Palavra de Deus. Jesus amou aquelas pessoas, mas recusou-Se a apresentar uma versão transigente do que Deus oferecia a todos os pecadores.
Essa posição intransigente foi mantida por Seus discípulos durante os 30 anos seguintes. Apesar disso, outros, cujos ensinos foram caracterizados por uma posição fraca sobre o pecado, foram proeminentes na Igreja. Judas, falando no ardor do Espírito de Deus, exortou o Corpo de Cristo a tomar cuidado com aqueles que convertem em dissolução a graça de Deus (Jd 4).
Estou convencido de que o que muitas pessoas hoje aceitam como graça realmente é nada além de uma licença presunçosa para pecar. Dietrich Bonhoeffer foi um homem de Deus que pôde ver essa tendência começando a se formar dentro da Igreja mesmo no passado, na década de 30. Ele viveu na Alemanha, e sua posição como líder religioso nacional poderia ser comparada a de Billy Graham em nossos dias. Ele era destemido em sua pregação, o que acabou custando-lhe a vida nas mãos dos nazistas. Antes do início da Segunda Guerra Mundial, ele escreveu as seguintes palavras imortais em um livro que se tornou um clássico — The cost of discipleship [O preço do discipulado]:

A graça barata é o inimigo mortal de nossa igreja. Lutamos hoje pela graça de grande valor.
Graça barata significa a vendida no mercado como mercadoria de mascate. Os sacramentos, o perdão do pecado e as consolações da religião são atirados a preços reduzidos. A graça é representada como um tesouro inesgotável da igreja, da qual chove bênçãos com mãos generosas, sem fazer perguntas ou fixar limites. Graça sem preço, sem custo! A essência da graça é, assim supomos, que a conta foi paga antecipadamente e, porque ela foi paga, pode-se ter tudo de graça. Uma vez que o custo foi infinito, as possibilidades de usá-la e gastá-la são infinitas. O que seria a graça se ela não fosse barata?
A graça barata é a pregação do perdão sem exigir arrependi¬mento, batismo sem disciplina da igreja, comunhão sem confissão, absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é graça sem discipulado, sem a cruz, sem Jesus Cristo, vivo e encarnado...
A graça de grande valor é o tesouro escondido no campo, pelo qual o homem vai alegremente e vende tudo o que tem. É a pérola de grande valor que, para comprá-la, o negociante vendeu tudo o que tinha [...].
Tal graça é de grande valor porque ela nos chama para seguir, e é graça porque nos chama para seguir Jesus Cristo. É de grande valor porque custa ao homem sua vida e é graça porque dá ao homem a única vida verdadeira.4

Em um livro escrito principalmente para aqueles que estão continuamente se afundando em um estilo de vida de pecado contínuo, flagrante, é muito importante mencionar o que a Bíblia ensina sobre esse assunto de graça. Posso assegurar-lhe que esta não é uma discussão envolvendo o antiqüíssimo argumento sobre a preservação dos santos. Diz respeito ao preceito bíblico claro sobre o que significa ser um verdadeiro seguidor de Cristo. John MacArthur, um defensor firme da doutrina conhecida como "garantia eterna", disse o seguinte:

A Igreja contemporânea tem a idéia de que a salvação é somente a concessão da vida eterna, não necessariamente a libertação de um pecador da escravidão de sua iniqüidade. Dizemos às pessoas que Deus as ama e tem um plano maravilhoso para a vida delas, mas essa é somente uma parte da verdade. Deus também repudia o pecado e castigará os pecadores não-arrependidos com tormento eterno. Nenhuma apresentação do Evangelho é completa, se ela se esquiva ou esconde esses fatos. Qualquer mensagem que não define e confronta a severidade do pecado pessoal é um evangelho deficiente. E qualquer "salvação" que não altera o estilo de vida do pecado e transforma o coração do pecador não é uma salvação genuína.5

Quer você acredite que os pecadores não-arrependidos nunca experimentaram uma conversão verdadeira, quer simplesmente acredite que são apóstatas, o que o Novo Testamento ensina sobre o destino eterno daqueles que morrem em pecado habitual é muitíssimo claro e absolutamente irrefutável. Para que você compreenda inteiramente o castigo para qualquer pecador que não se arrependa e não se desvie de seu pecado, vamos examinar as seguintes declarações feitas por Jesus e por outros escritores inspirados por Deus. Não tenho o objetivo de criar uma "tática do pânico", ao contrário, espero que sirva como uma advertência racional para todos nós, sobre como Deus vê o pecado e o julgamento que cairá sobre todos aqueles que morrerem em seus pecados.

Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escanda¬lizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. Mateus 5.28,29 (Palavras de Jesus no Sermão da Montanha)

Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas seme¬lhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. Gálatas 5.19-21 (Palavras de Paulo aos gálatas)

Não sabeis que os injustos não hão de herdar o Reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus. 1 Coríntios 6.9,10 (Paulo admoestando a Igreja de Corinto)

Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Hebreus 10.26-31

Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conheci¬mento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. 2 Pedro 2.20,21

Aquele que diz Eu conheço-o e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo. Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo. Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus. 1 João 2.4; 3.7-9

A despeito da evidência esmagadora ao contrário, existem aqueles que simplesmente não aceitarão o que a Bíblia ensina claramente. Motivados por uma falsa noção da misericórdia de Deus, esses mestres bem-intencionados desejam escancarar os portões do céu para qualquer um que mostrar o menor compromisso com o cristianismo. No entanto, não é simplesmente porque existem alguns que passam adiante esse Evangelho anêmico e desvirtuado que ele é assim. Quando um homem se apresenta diante de Deus com uma vida de carnalidade, egoísmo e pecado não-arrependido, suas opiniões doutrinárias não importam mais. Sua fé morta, que ele exercitou aqui na terra, será exposta pelo que ela é, e ele descobrirá, para seu pavor, que se condenou a um lugar de tormento perpétuo - o inferno! *
Um dos motivos chave pelos quais as pessoas permanecem em pecado é porque elas não têm o temor a Deus. Qualquer tentativa de ignorar a voz do Espírito Santo na vida de um pecador, convencendo-o do pecado, é perigosa. Salomão tinha muito a dizer sobre o temor do Senhor:
O temor do SENHOR é o princípio da ciência; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução (Pv 1.7); Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal (Pv 3.7); O temor do SENHOR aumenta os dias, mas os anos dos ímpios serão abreviados (Pv 10.27). No temor do SENHOR, há firme confiança, e ele será um refúgio para seus filhos. O temor do SENHOR é uma fonte de vida para preservar dos laços da morte (Pv 14.26,27); Vela misericórdia e pela verdade, se purifica a iniqüidade; e, pelo temor do SENHOR, os homens se desviam do mal (Pv 16.6). O temor do SENHOR encaminha para a vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e não o visitará mal nenhum (Pv 19.23). Não tenha o teu coração inveja dos pecadores; antes, se no temor do SENHOR todo o dia (Pv 23.17).

É justo temer o Senhor. Uma reverência saudável a Deus se coloca como uma fortaleza poderosa contra o ataque do inimigo por meio da tentação.

GRAÇA QUE SALVA DO PECADO
Uma das razões pelas quais saímos do caminho da doutrina neste século é porque tem ocorrido um declínio gradual, mas definido, da percepção da natureza maligna do pecado. Aqueles que têm uma compreensão superficial do horror do pecado tomarão uma posição fraca contra ele. Não tenho um grau de doutorado em Teologia, contudo, por muitos anos estudei os ensinos de homens de Deus dos últimos séculos, e há uma diferença acentuada em sua abordagem para o pecado do que aquilo que está genera¬lizado na Igreja hoje. Essa perda coletiva da vergonha do pecado foi promovida pelos ensinos de "hiper-graça", que floresceram em nossa época. O Dr. Michael Brown escreve o seguinte:

Existe um oceano de graça esperando por nós, convidando-nos para mergulharmos e nadarmos. Não existe fim para sua profundidade ou duração, e mesmo ao longo de eras infinitas de eternidade, reverencia¬remos a maravilha disso tudo. A tragédia é que muitos pregadores e mestres de hoje involuntariamente distorceram a graça de Deus, transformando-a praticamente em uma licença para pecar. E, ao fa¬zer isso, eles rebaixaram seu poder e aviltaram seu valor. Eles polu¬íram as águas santas que fluem do trono de Deus.
Posso ser inteiramente honesto com você? Creio que a graça é um dos assuntos mais mal-compreendidos da Igreja contemporânea. Por um lado, existem legalistas que parecem esquecer que a salvação é pela graça por meio da fé, e não por obras. Eles transformaram o cristianismo em uma religião morta, flagelada pela futilidade e marcada por um esforço humano sempre deficiente.
Por outro lado, existem líderes que parecem esquecer que a salvação pela graça inclui a libertação do pecado como também o perdão do pecado. Eles transformam o cristianismo em uma reli¬gião que "salva", mas não transforma. Ambas as posições estão erradas. Erradíssimas.6

Ao lidar com homens freqüentadores de igreja que não são salvos e/ou são apóstatas, é importante entender que a graça de Deus está ali para capacitar Seu povo a vencer o pecado. Na verdade, uma das profecias sobre Jesus é que Ele viria para salvar Seu povo dos seus pecados (Mt 1.21).
Ter uma compreensão bíblica adequada da graça de Deus não é um problema, a menos que a pessoa deseje continuar presa a seu pecado. Infelizmente, existem muitos que não querem ser salvos de seus pecados; eles só querem ser salvos do inferno. Nas palavras de um pastor batista dos tempos passados: "E como o ladrão não-arrependido que chegou perante o juiz suplicando para não ser enviado para a prisão. Ele não tinha a intenção de parar com o comportamento que o deixou em apuros. Ele só queria escapar de uma sentença".
Como já mencionei, Deus graciosamente revogou as exigências da Lei. Agora Ele apenas espera a confissão e o arrependimento sincero. Conforme declarado pelo apóstolo João: Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). Aqueles que imaginam que podem continuar sem arrependimento por seu pecado estão dizendo: "Não quero ser limpo, só quero ser perdoado".
William Barclay disse o seguinte:

A graça não é somente um dom, é uma séria responsabilidade. Um homem não pode continuar levando a vida que tinha antes de encontrar Jesus Cristo. Ele deve ser vestido com uma nova pureza, com uma nova santidade e com uma nova bondade. A porta está aberta ao pecador, mas não para vir e permanecer um pecador, mas para vir e tornar-se um santo.7

A GRAÇA FORNECE UMA ATMOSFERA DE ACEITAÇÃO
Um dos aspectos mais importantes da graça de Deus é que ela fornece um abrigo seguro para o pecador arrependido. Quando um pecador habitual se arrepende, não precisa castigar-se mais com a condenação. Ele não tem de merecer seu caminho de volta para as "boas graças" do Pai. Quando ele confessa a iniqüi¬dade de seus atos e desvia-se deles, ele é imediatamente restaurado. Uma das parábolas maravilhosas que Jesus contou foi a do filho pródigo. Para entender o contexto exato do que Ele estava expli¬cando, vamos incluir as duas parábolas menores que precedem a do filho pródigo:

E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e, chegando á sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.
Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. E disse: Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bo lotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e tracei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. Lucas 15.3-32

Essas histórias ilustram maravilhosamente a graça de Deus. Embora quase não necessitem de comentário, deixe-me fazer algumas observações. Primeira, elas foram contadas para um grupo de fariseus zangados, que se consideravam virtuosos, mas estavam descontentes com Jesus por Ele estar na companhia de publicanos e pecadores. Jesus enfatizava o quanto Deus Se regozija quando um pecador se arrepende. Essa questão foi habilmente inculcada na parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32) pelo sentimento contrastante do irmão mais velho, que não sentiu alegria alguma pelo arrependimento do próprio irmão. Ele só conseguia ver os erros passados e as decepções do seu irmão.
Em segundo lugar, observe a atmosfera de aceitação que o amor do pai criou. Um dos aspectos elementares da graça de Deus é que Ele sempre aceita o coração penitente - não im¬porta o quão horrendo seja o pecado! Dizem que Ted Bundy e Jeffrey Dahmer * se arrependeram e, portanto, estão no céu hoje. Quando um pecador se aproxima de Deus em arrependimento, não importa o que ele tenha feito, a lousa é apagada! Não há condenação; não há subterfúgios. Só há uma aceitação jubilosa de Deus, o Pai.
A terceira coisa que chamarei a atenção é que o pai não correu atrás de seu filho em uma tentativa de fazer algum acordo: "Escute, filho, vamos conversar sobre isso. Por que você não fica em casa? Você está mais seguro aqui. Sei que você está passando por um momento difícil agora. Não me meterei com seus assuntos pessoais. Eu o amo. Você pode ter seus vícios, mas, por favor, venha para casa". Em vez disso, o pai deixou-o ir e deu-lhe o que ele queria. Porém, quando o filho estava voltando, o pai correu para abraçá-lo e recebê-lo em casa, aonde ele pertencia. Depois de imediata¬mente restaurá-lo em seu legítimo lugar, o pai explicou ao seu confuso e impiedoso filho mais velho: Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado (v. 32).

A GRAÇA DÁ O PODER DE LIBERTAR-SE DO PECADO
Quando o apóstolo Paulo preparava-se para proferir seu tratado magnífico sobre justiça, ele fez a seguinte declaração: Mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça (Rm 5.20b). É muito impor¬tante para o homem cuja vida seja caracterizada por atos lascivos saber que, tanto quanto ele se entregou ao pecado, Deus tem uma medida muito maior de graça para vencer essa transgressão. Como já vimos, a razão da vinda de Jesus foi para destruir o poder do pecado sobre a vida do cristão. Paulo disse isso desse modo: Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente (Tt 2.11,12 NVI).
Sim, é verdade, a graça é o meio pelo qual a salvação está disponível para toda a humanidade. No entanto, é muito mais que isso. A graça é também um mestre, e sua matéria principal é ensinar a ter uma vida agradável a Deus. Quando aquela tentação surgir por meio de algo pecaminoso, a graça estará lá para nos ensinar a dizer: "Não". Quando surgir uma oportunidade para nos entregar a alguma paixão mundana, a graça nos instrui a renunciá-la. A graça diária de Deus não somente nos ajuda durante aqueles momentos de tentação, mas também é uma força ativa na vida do crente para "ter vida sóbria, justa e piedosa neste presente século".
É exatamente a que Paulo se referia quando disse: Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar (1 Co 10.13). É a graça de Deus que nos capacita a resistir ao desejo assolador pelo pecado. Em outras palavras, a atmosfera que fornece aceitação e perdão quando nos arrependemos é a mesma atmosfera santa que fornece um caminho por meio de toda tenta¬ção do pecado.
É meu testemunho que, nos últimos 15 anos, foi a graça de Deus que me impediu de me entregar à concupiscência poderosa por mulheres que outrora dominou minha vida. Somente para dar um exemplo, contarei um incidente que me aconteceu em 1988. Naquela ocasião, eu estava apenas há três anos fora do pecado habitual. Estava no Texas, realizando uma conferência sobre o domínio do vício sexual. Estava presente uma médica atraente, que parecia estar muito interessada no Pure Life Ministries. Ela estava fazendo várias perguntas e parecia relutante em ir embora depois da conferência.
O homem com quem eu estava viajando tinha outros com¬promissos e pediu a ela que me desse uma carona até a casa onde estávamos hospedados. Não pensei em coisa alguma naquele momento. Ela parecia estar interessada em se envolver com o Pure Life Ministries, então fiquei contente por ter a oportunidade de conversar com ela. Entretanto, durante o trajeto de volta, comecei a notá-la fisicamente. Quando chegamos a casa, senti um desejo assolador tomar conta de minha mente. Era a mesma nuvem negra e demoníaca que eu havia experimentado no carro, quando estava indo para Bakersfield anteriormente naquele mesmo ano. Como eu estava experimentando esse desejo inebriante por aquela mulher, ela deixou claro que estava disponível. Somente então, naquele momento crítico, até mais dominante que a concu¬piscência, veio o medo de ser pego, se cometesse adultério. Esse medo que me envolvia por completo era tudo o que eu precisava para sair daquela situação.
Que exemplo da graça maravilhosa, sustentadora de Deus! Se eu tivesse sido deixado por minha conta, teria jogado fora tudo o que o Senhor havia realizado em minha vida nos três anos anteriores. Teria abalado a confiança tão diligentemente restabelecida com minha esposa. Teria destruído o Pure Life Ministries antes mesmo de ele alçar vôo. Na verdade, teria mergulhado nas profundezas do pecado mais uma vez. Não obstante, não fui deixado por minha conta! A graça de Deus estava ali para me fornecer um escape.
Se a Sua graça está ali para o cristão, por que alguns homens cedem continuamente às suas tentações? Creio que a chave encontra-se no que examinamos no capítulo 15 *. Embora eu não entenda completamente, permanecer em Cristo possibilita a graça de Deus sustentar o cristão. Como João disse:

E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado. Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu. E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós:pelo Espírito que nos tem dado.
1 João 3.5,6,24

Deixe-me exemplificar como isso funciona de um modo prá¬tico. Já viajei muito. Certa vez, eu estava no aeroporto de Heathrow, fora de Londres; há uma passarela móvel que vai diretamente para o meio do terminal por provavelmente 800m. Existem várias lojas, restaurantes e bares delineando cada lado. Se uma pessoa deseja encontrar o pecado, está ali à mão.
Usando esse aeroporto como uma ilustração da jornada cristã da vida, a escada rolante seria o objeto que representaria a graça de Deus. Conforme permaneço em Cristo, ela, de alguma maneira, mantém-me protegido de todas as tentações e ciladas deste mundo. Minha responsabilidade é permanecer ligado à Videira; o trabalho de Deus é me capacitar a vencer as tentações da vida que aparecem. Manter um relacionamento dependente no Senhor todo dia, por meio de oração e estudo da Bíblia, mantém-me ligado com firmeza à Videira e espiritualmente nutrido. Esses são os meios que o Senhor usa para infundir Seu poder em minha vida. A passarela móvel é uma ilustração da graça de Deus que me transporta por meio de alguns lugares extremamente diabólicos. Não é meu esforço que me está transportando, é apenas o poder de Deus. Ele receberá toda a glória quando eu chegar ao céu, porque estou completamente ciente de que não tenho força em mim mesmo para resistir a essas tentações. Sim, se eu estivesse inclinado a cometer pecado, poderia segurar no corrimão da escada rolante em qualquer momento durante minha passagem e visitar alguma livraria que oferecesse pornografia. Contudo, existe um corrimão espiritual chamado temor do Senhor, que foi estabele¬cido em mim. É uma característica agregada, protetora, construída dentro de mim, que atua como uma barreira para me impedir de andar errante nos engodos sempre presentes, oferecidos pelo espírito do mundo. Aqueles cujo temor de Deus foi paralisado pelos ensinos da "graça aguada" não desfrutam essa proteção agregada. Em pior situação estão aqueles que andam errantes, livres da disciplina e da força espiritual resultantes de manter uma vida devocional diária.
Tenho uma compreensão melhor de Sua graça maravilhosa porque tenho sido mantido por ela há muito tempo. Eu a vi operando em meu favor muitas vezes ao longo dos anos. No início de meu caminhar com o Senhor, eu não entendia a graça tão bem. Na realidade, tão espantoso quanto possa parecer, considerando-se a profundidade do pecado que eu estava envolvido outrora, tomei-me um tanto fariseu logo que comecei a andar em vitória sobre o pecado sexual. Eu me dava um crédito muito imerecido por minha libertação. Eu me tornei extraordinariamente semelhante ao fariseu do capítulo 18 de Lucas quando disse: O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo (Lc 18.11,12). Eu estava continuamente me comparando favoravelmente com os outros. Da mesma maneira que esse fariseu, eu estava fazendo muitas coisas certas. Meu zelo pelo Senhor era intenso. Eu estava disposto a ter uma vida "totalmente dedicada" a Deus, sacrificando tudo o mais para servir-Lhe. Minha vida devocional estava firmemente estabelecida, mas havia-me esque¬cido do homem perverso que fui e de tudo o que o Senhor tinha feito por mim. Eu me tornei muito orgulhoso e farisaico.
Deus continuou a tratar comigo. Ele não estava disposto a me deixar nesse estado terrível. Um dia, em 1991, o Senhor me ajudou de uma maneira bastante inesperada. Eu deveria aparecer no Focus on the family na semana seguinte. Eu estava preparando meu teste¬munho para compartilhar nesse programa, sabendo que talvez milhões de pessoas o ouviriam. Em meu íntimo, estava ansioso para compartilhar com o mundo como eu tinha vencido o pecado sexual. Todavia, Deus não divide Sua glória com outrem.
Durante aquela ocasião, eu estava pregando em várias igrejas pelo país. Naquele fim de semana em particular, eu havia sido convidado para realizar os cultos em uma igreja em Michigan. Moramos em Kentucky e normalmente minha esposa viaja comigo nesse trajeto, mas ela estava com uma dor lombar e decidiu ficar em casa. Eu teria de fazer o trajeto de seis horas sozinho. Não existia falta de confiança em mim.
Eu fiz o longo trajeto naquele dia, lutando, às vezes, com a tentação de entrar em alguma cidade e procurar por pornografia, ou pior. Mas consegui subjugar esses pensamentos incessantes e cheguei a Michigan. Depois de abastecer meu carro em um posto de gasolina, entrei na loja para usar o banheiro. Passando por dentro da loja (para compreender melhor o que aconteceu em seguida, seria útil imaginar-me passando com minha aparência farisaica!), notei um homem parado na prateleira de revistas, olhando uma revista de mulheres seminuas. Eu passei por ele, espiando por cima dos seus ombros esperando ver um corpo nu. Sem dúvida, a revista estava aberta com a foto pornográfica de alguma beldade escolhida para aquele mês.
Aquele único vislumbre de carne me perseguiu o fim de semana inteiro. De alguma maneira, realizei os cultos de domingo e, na segunda-feira de manhã, comecei minha viagem de volta para Kentucky. Assim que saí da casa pastoral, minha mente rapidamente se voltou para aquele posto de gasolina. "Não! Eu não vou parar e olhar para aquela revista!", exclamei para mim mesmo. Não importava o quão forte fosse a postura que tentasse tomar, a imagem da mulher continuava a me atormentar. Por fim, atingi a placa, indicando a saída a 1,6 km de distância. "Não vou parar! Vou continuar com Deus!", gritei. "Glória a Deus, aleluia".
Quando o desvio apareceu, saí da auto-estrada, dirigi-me dire¬tamente para aquele posto de gasolina, entrei e saturei minha mente com as imagens daquela revista. Meu coração batia freneticamente conforme eu virava as páginas. Somente, então, uma voz sussurrante dentro de mim gritou: "Fuja!"
Sabendo que era o Espírito Santo, saí imediatamente da loja e fiz o longo trajeto, cheio de culpa, para Kentucky. Durante os dias seguintes, eu me repreendia severamente e continuamente. Uma manhã, minha autocondenação atingiu o ponto máximo. "Como você pode ser tão estúpido! Aqui está você, prestes a falar em uma rádio nacional e você olhou para a pornografia! Seu imbecil!" O longo discurso continuou.
Antes de terminar a história, devo contar um incidente que me aconteceu dez anos antes disso. Eu era um cadete do depar¬tamento do xerife de Los Angeles. O treinamento de 18 semanas estava chegando ao fim. Eu era um dos afortunados que haviam suportado os rigores da Academia. Um terço da classe de 150 cadetes havia desistido. Aqueles que continuaram viviam um certo grau de medo de fazer qualquer coisa que pudesse levar à desqualificação.
Naquele dia em particular, os cadetes estavam viajando para o Pomona Fair Grounds, a fim de participar de um curso intensivo de dois dias em uma auto-escola. Havia uma pista de alta velocidade, montada com cones de estacionamento alaranjados na vasta área de asfalto. Finalmente chegou minha vez. A primeira coisa que notei no carro de radiopatrulha foi que ele estava equipado com um santo Antônio. Havia um capacete no banco de direção aguardando-me. "Entre, coloque seu capacete e tome seu assento", disse o instrutor destemido no banco de passageiro.
Fiz exatamente o que ele me mandou. Eu estava dirigindo muito rápido quando, para minha surpresa, o instrutor gritou: "Mais rápido!" Eu imediatamente respondi, aumentando minha velocidade ainda mais. Eu estava voando pelas curvas e acelerando nas retas. Ao chegar a uma curva particularmente difícil, perdi o controle por um segundo e fui forçado a dirigir fora da pista. Imediatamente, topei com os cones novamente, voltando para a estrada e terminando o trajeto. Fiquei sentado em silêncio enquanto o instrutor preenchia sua papelada. Sabendo que eu havia saído da pista, lamentei: "Acho que fui reprovado". Eu estava aflito pen¬sando em como aquilo prejudicaria minha graduação na academia.
— Reprovado? Por que você acha que foi reprovado? -ele perguntou.
— Perdi o controle naquela curva e saí da pista — lamentei.
— Sim, mas você voltou rapidamente! Você se saiu muito bem! — ele exclamou.
Dez anos depois, quando eu estava em minha caminhada de oração matutina, agredindo-me por ter visto a pornografia no posto de gasolina, Deus falou comigo (mesmo depois de todos esses anos, meus olhos ainda se enchem de lágrimas quando me recordo desse incidente). Em um daqueles momentos revigorantes, eternos, revivi o incidente que aconteceu uma déca¬da antes, no carro de radiopatrulha. Agora era o Senhor falando. "Steve, você cometeu um pequeno erro. Mas você se saiu muito bem! Você ora todos os dias. Você persevera Comigo. Você é fiel à Palavra. Sim, você saiu do caminho por um momento, mas voltou rapidamente para ele!"
Recebi uma revelação verdadeira sobre a graça de Deus. A partir daquele dia, entendi que a minha vitória sobre o pecado não era por causa dos meus esforços, mas por causa da graça maravilhosa de Deus!
* * *

Nenhum comentário: