sábado, 15 de agosto de 2009

O AGIR INVISÍVEL DE DEUS

INTRODUÇÃO

Tenho aprendido muito com Deus nos últimos anos acerca de sua
estranha forma de agir e sinto-me desafiado a compartilhar isto com tantos
quantos eu puder fazê-lo. A forma como tenho recebido a compreensão
deste assunto e os conflitos pelos quais passei à medida que Deus falava
comigo, dão-me a certeza que este ensino dará o que pensar e falar a muita
gente.
Sei que alguns debaterão o que digo simplesmente porque são
intransigentes; outros porque ainda não conheceram a dor de circunstâncias
aparentemente sem explicação e com cara de "abandono de Deus"; mas sei
que para a maioria dos leitores estas verdades serão recebidas como um
bálsamo divino. E oro para que sejam um instrumento de restauração e
edificação em sua vida.
Não escrevo defendendo e nem acusando ninguém. Só quero que as
muitas vítimas da injustiça de alguns cristãos (que criam explicações
simplistas e falam daquilo que não entendem e não viveram), possam ter
alento. O que compartilho neste livro não é, necessariamente, a resposta para
cada circunstância adversa; mas além de ser a resposta para muita delas, é
também uma tentativa de mostrar que nosso atual universo de raciocínios e
explicações dos fatos da vida cristã está longe de ser completo; é limitado,
pobre, cego, e deve nos lembrar de que carecemos buscar em Deus mais
revelação de sua Palavra.
Vivemos dias em que a fé evangélica tem crescido e se espalhado
grandemente. Graças a Deus por isto! Mas temos que reconhecer que este
crescimento numérico tem se dado numa velocidade e intensidade muito
maior do que a capacidade da Igreja de fazer crescer em maturidade. O
próprio crescimento gera inúmeros problemas e, na busca de uma melhor
acomodação dos novos convertidos para que não se perca a oportunidade de
crescer, uma nova geração de ministros está sendo formada.
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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Não com um embasamento forte na Palavra, mas com o estritamente
necessário para atender a demanda. E isto tem trazido ao arraial do povo de
Deus um evangelho diluído, simplista. Há uma diferença entre o evangelho
simples, que toca o homem diretamente nas suas necessidades e que dispensa
qualquer intelectualismo, de um evangelho simplista que tenta dar respostas
diferentes da Bíblia, e que ao tentar simplificar as questões esquece-se que
está lidando com gente que pensa, que tem emoções, sentimentos.
E assim estamos edificando uma geração confusa, machucada, cheia de
dúvidas e até de descrença - embora para se fugir do inferno as pessoas
aprendam a conviver e até mesmo conformar-se com elas.
Algo precisa sacudir-nos de nossa prepotência de acharmos que
podemos entender Deus e sua forma de agir e ditar sempre e até
antecipadamente como serão as coisas. Se algo acontece com alguém,
sabemos porquê aconteceu; se deixa de acontecer sabemos exatamente o
porquê não aconteceu; temos respostas para tudo!
Não posso negar que o reino espiritual é regido por princípios, e que
sempre tais princípios serão imutáveis; mas há uma grande diferença entre
vê-los funcionando e achar que são eles em operação!
Por exemplo, se alguém peca contra Deus, vai colher as conseqüências,
que variam em função do comportamento da pessoa, se ela se arrepende ou
não. Davi pecou adulterando e matando um amigo, foi perdoado por Deus
(o que remove a mancha da culpa) mas colheu as conseqüências que lhe
foram anunciadas pelo profeta Natã. Em uma outra situação (na carta à igreja
em Tiatira) vemos Jesus repreendendo o pecado de uma mulher chamada
Jezabel, e dizendo que no caso dela não se arrepender, seria julgada e
prostrada de cama, num leito de enfermidade.
O pecado sempre tem conseqüências. Se me arrependo sou perdoado
mas, ainda assim, colho as conseqüências. No caso de não me arrepender
serei julgado. São situações diferentes, mas sempre haverá conseqüência.
Pelo pecado de alguém podemos saber que haverá conseqüências e até
prevenir a pessoa disto, mas o que não posso aceitar é a análise inversa; pelas
circunstâncias que alguém está vivendo, tentar dizer se ela está ou não em
pecado. É um campo onde não podemos entrar, além de que não cabe a nós
julgar!
A Igreja do Senhor tem falhado muito nesta matéria nestes dias... São
respostas simplistas para tudo. Se alguém não recebeu a resposta à sua
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oração, é falta de fé. Se algo negativo aconteceu foi o diabo e é porque houve
brecha espiritual. Se as coisas não estão bem é porque a pessoa está em
pecado. E assim por diante. Muitas vezes o que está acontecendo PODE ser
uma destas coisas, mas não quer dizer que seja sempre só isto!
Não podemos nos considerar doutores na psicologia divina. Alguns são
assim, parece-nos que chegam ao ponto até mesmo de se antecipar ao que
Deus vai fazer. Neste caso Ele fará assim, no outro fará assado... mas os
caminhos de Deus são mais altos que os nossos e seus pensamentos também!
Paulo declarou aos coríntios: "Se alguém julga saber alguma cousa, com efeito
não aprendeu ainda como convém saber" (I Co.8:2). Ninguém pode agir
como um "sabe-tudo" em relação às coisas de Deus, principalmente em
relação ao seu agir que é personalizado.
Voltemos a confiar na soberania de Deus e a aceitar que nem sempre
teremos as respostas, mas sempre poderemos caminhar na certeza de que Ele
tem o melhor para nós, quer o entendamos, quer não.
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O Agir Invisível de Deus
Nossa reflexão bíblica começa com um texto escrito pelo homem que
foi considerado o mais sábio em toda história da humanidade: Salomão. Não
penso ser coincidência que Deus o tenha escolhido para escrever acerca
disto; na verdade não acredito em coincidência; a definição dela que aprendi
com outros irmãos em Cristo é que coincidência é a obra divina onde Deus
não reclama a autoria.
O fato é que o rei Salomão era a pessoa mais indicada para nos dar a
pista de que o agir de Deus nem sempre é visto e compreendido pelo
homem, não importando quão sábio ele seja. Observe:
"Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se
formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as
obras de Deus, que faz todas as coisas."
Eclesiastes 11:5.
Três coisas são mencionadas como algo que "não sabemos": o caminho
do vento, a formação dos ossos de uma criança ainda no ventre materno, e o
agir de Deus.
Na verdade, com a expressão "não sabes", entendemos que o escritor
falava de coisas que "não vemos". Podemos saber o caminho do vento através
do balançar das folhas de uma árvore, pelas evidências de que ele sopra, mas
nunca por ser visível aos nossos olhos. O caminho do vento em si é algo
oculto à nossa visão, ocorre fora do alcance da vista dos olhos.
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Semelhantemente, a formação óssea de um bebê ocorre fora da vista dos
nossos olhos; não podemos ver como ela se dá. Creio que a expressão "não
sabes" que o rei sábio usou estava apontando para "o que não vemos", senão
nem contemporânea seria esta afirmação, pois hoje a ciência tem trazido uma
perfeita explicação da formação óssea do feto; podemos "saber", mas
continuamos impedidos de ver.
Lembro-me que durante a gravidez de nosso primeiro filho minha
esposa e eu fizemos duas ecografias e pudemos ver a formação física do
Israel mesmo antes dele nascer. Contudo, mesmo com todos estes recursos
da ciência moderna, a formação óssea do feto – e não falo da certeza que isto
ocorre e nem de como ocorre, mas sim do processo – encontra-se fora da
vista de nossos olhos. É algo semelhante ao caminho do vento. Podemos
saber que ocorre e até ter evidências disto, mas é oculto aos nossos olhos; o
que nos leva a defini-lo como invisível.
Com o agir de Deus não é diferente. O texto bíblico diz que Deus age
em todas as coisas. Depois o versículo nos deixa claro que as duas menções
anteriores de coisas ocultas aos nossos olhos, eram apenas um paralelo que
ilustra o agir divino. Deus age sempre e em todas as coisas, porém, nem
sempre este agir será visível aos nossos olhos, pois o que o caracteriza é esta
sua definição bíblica de que é invisível.
Em nossos dias tenho visto o prejuízo da falta de conhecimento deste
princípio e também da falta de temor de Deus. Como pastor ouço pessoas
dizendo coisas absurdas com: "Ah, eu já coloquei Deus na parede; se em
tanto tempo Ele não me atender, eu...". Dá vontade de dizer para alguns: -
"Você o quê? Que ameaça é esta? Se Ele não fizer o que você quer, você faz o
quê? Dá as costas para o Senhor e vai para o inferno? Quais são suas
opções?"
É incrível a falta de respeito com a qual muitos se dirigem a Deus. Os
papéis andam trocados. Pelo comportamento destas pessoas parece até que
Deus já não é mais Senhor, mas simplesmente um secretário. Está errado;
quem está na condição de servo somos nós e não Ele!
Sabe, há o ensino bíblico da fé, e eu creio nele, pois afinal de contas o
que é bíblico é o conselho de Deus e ponto final. Creio no que Jesus ensinou
sobre falar à montanha; creio em dar ordens aos problemas e obstáculos para
que se movam de nossas vidas e sejam lançados no mar.
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Contudo, é um absurdo confundir as coisas e achar que podemos dar
ordens para Deus! Ninguém dá ordens a Deus. Diante dele todos devem se
calar. Ele é soberano. Ele é santo. Ele é Deus. Ele é todo suficiente. Faz o
que quer, como quer, quando quer. A Igreja precisa reaprender isto!
Sei que há promessas e princípios bíblicos que já são uma revelação da
vontade divina, e que em situações onde eles podem ser indiscutivelmente
aplicados, não precisamos orar para descobrir qual é a vontade do Senhor e o
quê Ele quer fazer. Mas mesmo quando já sabemos o quê Ele quer fazer, nem
sempre poderemos entender COMO Ele vai fazer o que quer, ou mesmo
QUANDO isto se dará.
A forma de agir de Deus nunca foi e nunca será previsível. O homem
não pode compreender o agir de Deus com sua mente e raciocínio, pois a
operação de Deus está muito acima do nosso entendimento.
Quando Salomão mencionou o agir invisível de Deus, não disse que o
Senhor deixa de agir nas circunstâncias onde pareça ausente, mas sim que nós
não podemos VER sua operação. Não se trata de Deus deixar de agir, mas
sim de fazê-lo de tal forma que nós não o vemos em ação.
Em lugar algum da Bíblia nos é apresentada uma ação divina
padronizada. Não vemos o Senhor lidando com as pessoas por atacado, mas
justamente o oposto. Cada pessoa e cada situação é tratada por Deus com
carinho e criatividade. Há um agir personalizado e isto é inegável. Mesmo
nas guerras e batalhas (acontecimentos muito comuns e repetidos nas
páginas do Velho Testamento), nunca vemos duas intervenções divinas que
sejam iguais.
Para cada situação houve uma intervenção diferente, embora os
resultados finais fossem similares. O que concluímos é que mesmo quando a
vontade expressa de Deus era livrar seu povo das mãos do inimigo, a forma
como Ele faria era sempre um mistério. Ou seja, mesmo quando sabemos o
quê Ele quer fazer, não podemos saber como irá fazê-lo.
O que necessitamos então, é parar de achar que Deus nos deva
satisfação do seu agir. Ele age sempre e em todas as coisas (circunstâncias).
A parte que nos cabe é crer e esperar sua manifestação, e não exigir que o
Senhor mostre qual a forma de operar que foi adotada.
Há muita gente cobrando de Deus uma explicação para o que eles não
entendem. Só que o Pai nunca prometeu que daria explicação de como Ele
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estaria operando. As únicas coisas das quais Ele falou foi que podíamos ter
como certo é que Ele agiria, e enquanto Ele trabalhasse de forma
INVISÍVEL aos nossos olhos, que nós crêssemos.
Um exercício contínuo de fé
Aliás, quero chamar sua atenção para a importância do fator confiança.
Deus espera que nosso coração repouse Nele em todo o tempo e
circunstância, e escolher um agir invisível aos nossos olhos é um belo
treinamento para a nossa fé! Talvez esta seja uma das razões porque o
Senhor tenha escolhido agir assim: exercitar continuamente nossa fé. E a
definição bíblica de fé é esta:
"Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos
que se não vêem."
Hebreus 11:1
Crer no agir de Deus é ter a convicção de algo que não se vê. Nosso
irmão Paulo disse aos coríntios que "andamos por fé e não por vista" (II
Co.5:7). A lição que o Senhor Jesus deu a Tomé após sua ressurreição é mais
um atestado disto. A fé nunca se baseia no que vê, mas na certeza de que o
que Deus prometeu é um fato e terá seu cumprimento.
Ora, estas coisas se aprendem logo no início da caminhada cristã e não
são difíceis de aceitar; tampouco geram discussões entre o povo de Deus,
pois são indiscutíveis. Mas na hora em que alguém está em aperto e não
consegue ver Deus agindo (pois Seu agir é oculto aos nossos olhos), esta
pessoa se esquece rapidamente disto!
Ninguém tem o direito de exigir do Senhor satisfação sobre sua maneira
de agir. Primeiro, porque Ele é Senhor e não está em posição de ser
questionado. Segundo, porque Ele nunca prometeu que alguém veria sua
forma de agir; pelo contrário, ensina-nos em sua Palavra que seu agir é
invisível aos nossos olhos e que nossa caminhada deve ser por fé e não por
vista.
Ou seja, não devemos esperar ver, mas somente crer na fidelidade
Daquele que prometeu agir em todas as coisas. Concluindo, Ele não tem
nenhum compromisso de ter que explicar como está agindo, embora nós
tenhamos a responsabilidade de permanecer em fé mesmo sem que haja
evidência visível da operação de Deus.
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Desde o início do relacionamento de Deus com os homens, vemos esta
dificuldade humana de crer no invisível e a insistência divina de que deve ser
assim. Quando Deus se manifestou de uma forma tão intensa a todo povo de
Israel que saíra do Egito, absteve-se de aparecer em alguma forma para que
não tentassem imitá-la depois na forma de ídolo:
"Então, o SENHOR vos falou do meio do fogo; a voz das palavras
ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma.
Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência
nenhuma vistes no dia em que o SENHOR, vosso Deus, vos falou em
Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais
alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou
de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de
algum volátil que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja
sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da
terra."
Deuteronômio 4:12, 15-18.
O que este episódio retrata é a dificuldade que todo ser humano tem de
confiar naquilo que não vê. O Senhor escolheu esta dimensão de
relacionamento baseada na fé e confiança. E cada vez que Ele age sem que
nossos olhos vejam ou nossa mente compreenda, está proporcionando-nos
um exercício de fé. Na verdade, como Ele age sempre assim, proporcionanos
um exercício contínuo de fé!
O homem tem dificuldade de aceitar isto; vive tentando criar atalhos e
se dá mal, pois quando entra num caminho que Deus não abriu, acaba indo
cada vez para mais longe d'Ele. A idolatria em todo o mundo é prova disto;
cada povo e cultura, em todos os períodos da história tem conhecido a
fabricação de ídolos.
É um meio de tornar a fé visível e palpável; acham mais fácil crer no que
se vê (ainda que seja um pedaço de pau ou de gesso) do que naquilo que é
invisível. Mas Deus tem se revelado assim e quem quer relacionar-se com Ele
tem que submeter-se a isto. E cada vez que nós, cristãos, murmuramos por
não termos evidências aos nossos olhos para o agir de Deus, estamos
incorrendo no mesmo erro dos idólatras! Parece mais ameno, mas a premissa
é a mesma e se não cuidarmos, entristeceremos ao Senhor e nos afastaremos
dele.
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O não sabermos COMO Deus agirá não é, em momento algum, uma
incerteza quanto ao fato de se Ele vai agir ou não; é somente a expectativa de
como Ele nos surpreenderá com os caminhos que escolheu ao intervir em
cada nova circunstância de nossa vida.
Devemos depender inteiramente do Senhor e aprender a exercitar
continuamente nossa fé. Nos dias do ministério terreno de Jesus houve
pessoas a quem Ele criticou por sua pequena fé e houve algumas a quem Ele
elogiou por sua grande fé. Mas houve uma pessoa, da qual Cristo disse não
ter achado fé semelhante a dele em todo Israel.
Era um centurião romano. Em Mateus 8:5-13 podemos ler sobre o
pedido dele para que Jesus curasse um criado seu, e no momento em que
Cristo se dispõe a ir a sua casa, este homem reconhece que isto nem era
preciso e diz que se Jesus dissesse apenas uma palavra seria suficiente para
que o milagre acontecesse, pois quando alguém está investido de autoridade
suas ordens tem que ser obedecidas. Este centurião não quis nenhuma
evidência visível; sua fé estava apoiada na Palavra de Cristo e isto bastava.
Jesus disse que este foi o mais alto nível de fé que Ele encontrou. É neste
nível que devemos nos sentir desafiados a nos mover quanto às coisas do
Senhor!
Não devemos e não podemos agir tentando nos apoiar no que é visível,
mas crer e depender inteiramente do que Deus tem dito em sua Palavra. E, à
medida em que procedemos assim, exercitamos nossa fé. De fato, confiar em
Deus sem depender de um testemunho visível é um exercício de fé. E repito:
como Deus age sempre assim, então, o que teremos será um exercício
contínuo de fé!
PENSAMENTOS MAIS ALTOS
Nossos olhos não alcançam a esfera da operação de Deus porque ela
está num plano superior. Uma outra razão bíblica - além do exercício da fé -
que encontramos para o fato de o Senhor agir num plano invisível aos nossos
olhos, é que seus pensamentos são mais elevados que os nossos. A mente de
Deus é infinitamente maior que a nossa e sua sabedoria é tão gigantesca que
não há como dimensioná-la.
Esperar que Ele aja de forma que nós entendamos é limitar e rebaixar
grotescamente seu agir. A maneira de nosso Senhor agir transcende o limite
humano de compreensão. Quando as Escrituras falam dos caminhos de Deus
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mais altos que os nossos, relaciona este fato com o de seus pensamentos
também serem mais altos que os nossos:
"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem
os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim
como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos
mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos
do que os vossos pensamentos."
Isaías 55:8,9
Podemos afirmar com toda certeza que o fato de Deus agir por
caminhos mais altos (e isto deriva-se do fato de que seus pensamentos
também são mais altos) deve-se à sua infinita capacidade de gerenciar todas
as coisas. Quando pensamos na resposta para o nosso problema nossa mente
limitada e egoísta só vê isto; mas quando Deus pensa na resposta do nosso
problema, não pensa só nisto, mas vai além, muito além...
Ele consegue propor respostas que não se limitem só ao momento e
conseqüência, mas que toquem a causa do problema e tenham também o
poder de continuar agindo em nós quando o que considerávamos problema já
não estiver mais presente. Também podemos sugerir que além de nos tocar
isoladamente, Ele ainda pode estar propondo soluções que não envolvam
somente a nós, mas também outras pessoas.
Deus pode ainda estar tocando não só uma área problemática, mas toda
uma rede de outros problemas interligados ao que nos incomodava mais. Ou
tocar valores e escolhas erradas que permitiram a entrada e instalação do tal
problema. E mais, muito mais!
Nossa mente pode fazer uma grande e abrangente lista, mas não
interessa o quão longe nossa perspicácia e raciocínio nos levem, jamais
chegaremos perto da forma de pensar de Deus que é muito mais elevada.
A sabedoria de Deus nos é apresentada na Bíblia como tendo muitas
formas. Em Efésios ela é denominada como a MULTIFORME sabedoria de
Deus. Isto fala de uma sabedoria que não é limitada, mas que se abre num
leque infinito de dimensões da operação divina. Esta ilimitada sabedoria
pluraliza a resposta de Deus para cada problema ou obstáculo que o ser
humano enfrenta; em vez de tocar de forma direta numa única questão, Deus
tem o poder de trazer várias intervenções nas situações em que jamais
enxergaríamos a necessidade disto.
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Considere também que o Senhor conhece o futuro, coisa que homem
algum e nem mesmo o diabo tem capacidade de conhecer; portanto a ação de
Deus não está voltada somente ao já e ao agora, mas ela se estende para o
futuro e sempre priorizará o nosso melhor sob uma visão global, mais
abrangente do que jamais nossa mente poderia alcançar. A atuação de Deus é
integrada e sinérgica.
Para o ser humano, o desvendar de mistérios parece ser algo de suma
importância. Deus, por outro lado, parece fazer questão de ocultar algumas
coisas, especialmente aquilo que diz respeito à sua ação em nossas vidas.
Salomão foi um homem sábio e inquiridor, mas enxergou em Deus esta
característica e a mencionou não apenas no livro de Eclesiastes, mas também
no de Provérbios:
"A glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é
esquadrinhá-las."
Provérbios 25:2.
Esquadrinhar não é coisa somente dos reis, mas de todo ser humano; só
que no caso dos reis da antigüidade, quanto mais conhecedores dos mistérios
eles eram, mais respeito ganhavam do povo. Mas esquadrinhar é algo que está
ligado ao homem de forma geral; todos queremos entender bem e saber
explicar as coisas, e diante disto, esta forma de Deus operar parece ser
inaceitável à nossa própria carne. Gera lutas, mas precisamos aprender a
superá-las e descansar em fé no Senhor.
É engraçado. Parece que quanto mais tentamos entender o agir de Deus,
menos conseguimos enxergá-lo. Vemos um acontecimento bíblico que
exemplifica isto. É o episódio da aparição de Jesus aos dois discípulos no
caminho de Emaús.
Este texto mostra que temos a tendência de traçar nossos próprios
planos para o agir de Deus. É como se, inconscientemente, estivéssemos
dizendo a Deus como Ele deveria agir. Nos fixamos tanto em esperar que Ele
aja de determinada maneira que, ao agir diferente do que esperávamos, não o
conseguimos ver. Precisamos aprender a esperar pelo agir de Deus sem nos
prendermos ao modo como Ele agirá.
ESPERÁVAMOS QUE FOSSE
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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Este episódio se deu após a morte e ressurreição de Jesus, quando dois
discípulos caminhavam tristes para Emaús, não sabendo que Cristo havia
ressuscitado, e o próprio Jesus aparece a eles, mas NÃO PUDERAM
reconhecê-lo, pois seus olhos estavam fechados:
"Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia
chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam
conversando a respeito de todas as coisas sucedidas.
Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus
se aproximou e ia com eles.
Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o
reconhecer."
Lucas 24:13-16.
Repare que o texto diz que os olhos deles estavam impedidos de
reconhecê-lo. Não sei se você já parou para pensar porque estavam
impedidos, mas eu já. Durante muito tempo eu achei que Jesus não quis que
eles o reconhecessem, ou que Ele talvez estivesse diferente depois da
ressurreição, mas o fato é que não ocorreu nem uma coisa e nem outra.
Diferente Jesus não estava, pois quando aparece ao restante dos
discípulos Ele mostra até mesmo as cicatrizes da ferida que lhe fizeram ao
lado como também as dos cravos nas mãos e nos pés; o corpo ressuscitado
era o mesmo em sua aparência.
A continuação do texto nos mostra porque eles não podiam ver que era
Jesus:
"Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que
ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.
Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único,
porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes
últimos dias?
Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o
Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de
Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas
autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.
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Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel;
mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas
sucederam."
Lucas 24:17-21.
Os dois discípulos estavam tristes e abatidos e Cristo se faz de alheio e
lhes pergunta porque estavam com o semblante daquele jeito; na resposta
que dão, percebemos que eles tinham uma expectativa com relação a Jesus e
que a crucificação tinha arrebentado com ela! Os judeus em geral esperavam
um Messias que se manifestaria como um general de guerra e que os livraria
do domínio dos romanos para estabelecer seu próprio reino.
É por isso que Tiago e João pediram, numa certa ocasião, que quando
Cristo se assentasse no trono de sua glória, que eles pudessem assentar-se
um à direita e outro à esquerda d'Ele; imaginavam um reino físico e, ao lado
do rei, queriam ser ministros da fazenda e do planejamento!
Cleopas e seu companheiro demonstram claramente sua frustração ao
concluírem com estas palavras: "esperávamos que fosse ele quem havia de
redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais
coisas sucederam".
O que eles estavam dizendo?
Que achavam que através dele viria a redenção (física) de Israel, mas já
fazia três dias que ele havia sido morto; ou seja, esperavam que fosse ele, mas
não foi... Era mais ou menos isto que davam a entender.
A expressão "esperávamos que fosse" é a chave aqui. Eles tinham uma
expectativa de como Deus iria agir, mas Deus agiu diferente do que eles
esperavam. Enquanto esperavam um reino físico só para Israel, Jesus estava
cuidando da redenção dos pecados de toda a humanidade e estabelecendo o
aspecto espiritual do reino. Em seu retorno a esta terra Ele vai estabelecer o
aspecto físico do reino, mas a primeira vinda não envolvia este aspecto.
Só que os discípulos estavam tão fixados nesta idéia que não conseguiam
ver Deus agindo de outra forma! Achavam que a morte de Jesus na cruz
tinha sido uma derrota e não conseguiam imaginar Deus no controle dela; e
porque só esperavam o agir de Deus de uma única maneira, não podiam ver o
que Deus estava fazendo de modo diferente do que haviam pensado.
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Assim também é conosco. Fantasiamos tanto o agir de Deus, criamos as
hipóteses de como faríamos se nós fôssemos Deus; fazemos nossos planos,
fixamo-nos em nossas idéias, e no fim das contas quando o Senhor acaba
agindo de modo diferente não conseguimos vê-lo em ação!
Quero desafiá-lo a parar de tentar ensinar Deus como fazer as coisas
quando você ora por algo. E mesmo quando você não o faz verbalmente,
acaba fazendo com os pensamentos. E por se fixar tanto na espera de uma
única forma de atuação divina, seus olhos não reconhecem quando Deus está
operando de maneira diferente.
Muitas vezes não podemos ver o agir de Deus porque realmente Deus o
ocultou, mas há momentos em que nós nos excluímos da possibilidade de
ver por ficarmos tão presos ao que esperávamos d'Ele. Foi só depois que
Jesus lhes explicou biblicamente o que devia acontecer com o Cristo, e
demonstrou pela sua conhecida forma de partir o pão que era Ele falando
com eles, que os olhos deles se abriram! Pois agora já não mais esperavam o
general de guerra, mas o Cristo crucificado e ressurreto; e quando
começaram a esperar que Deus agisse exatamente como estava agindo, já não
havia mais o que os impedisse de ver.
Eu senti o mesmo que estes dois discípulos sentiram. Eu nunca esperei
que Deus pudesse agir em circunstâncias aparentemente negativas; e em
momentos em que Ele estava operando em minha vida de forma diferente da
qual eu esperava, não podia ver que era Ele. Um impedimento estava sobre
os meus olhos e não me permitia ver Deus comigo.
Eram os conceitos errados e fantasiosos que eu mesmo criara de como
deveria ser a ação de Deus naquele momento. Mas assim que o Senhor
começou a me fazer entender a Palavra, e que havia maneiras diferentes d'Ele
agir, meus olhos se abriram e pude reconhecê-lo comigo nas horas em que
não parecia que Ele estivesse. E foi exatamente assim que se deu com os
discípulos:
"E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão,
abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e
o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles.
Lucas 24:30,31.
Em nossa ânsia de querer compreender tudo de forma racional, esta
forma de agir de Deus não parece ser algo assim tão bom. Contudo, à
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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medida em que trazemos mais luz da Palavra sobre esta forma divina de
trabalho, percebemos quão linda e inspiradora ela é!
O que inicialmente quero estabelecer (não explicar) é que isto é um
princípio. O agir de Deus é invisível, e está fora do alcance da nossa vista. E
isto se deve a várias razões. Mencionamos a necessidade de um andar pela fé.
Falamos sobre os pensamentos de Deus serem mais altos e não podermos
compreender sua multiforme sabedoria e a pluralidade das respostas que Ele
traz numa única circunstância.
E falamos, também, que muitas vezes somos tão limitados pela nossa
maneira de pensar, em como Deus deveria agir, que quando Ele trabalha de
modo diferente não o conseguimos ver. Mas em tudo isto o que mais quero
destacar é a enorme e indizível diferença que há entre a nossa forma de
pensar e a de Deus em sua multiforme e infinita sabedoria.
Só que esta vantagem divina de pensamentos mais altos não é só sobre o
homem mas, também, sobre Satanás e seus demônios...
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02
SATANÁS A SERVIÇO de Deus
Chovia na maior parte do percurso enquanto seguíamos pela Br-116
rumo a Curitiba. Embora o apelido da estrada fosse "Rodovia da Morte", ela
não nos amedrontava, talvez porque já havíamos feito várias vezes o trajeto
de São Paulo até a capital paranaense e vice-versa; e também pelo fato de
confiarmos na proteção de Deus.
A viagem seguia tranqüila e sem excessos e, como de costume,
gastávamos a maior parte do tempo em oração. Foi assim até a divisa de
Estados e outros quatro quilômetros e meio depois. Então, aconteceu o que
marcaria para sempre minha vida, não pelas implicações naturais do ocorrido,
mas pelo que Deus viria a me mostrar e ensinar, bem como pela nova direção
que tomaria a minha vida.
Estávamos somente em dois no carro, Harold McLaryea e eu. A equipe
ministerial contava com mais um integrante nas viagens, o Robert Ros, mas
neste dia ele não se encontrava conosco, pois tinha viajado antes de nós. A
razão disto é que mudávamos a base de nosso ministério de Campinas para
Curitiba e nesta viagem carregávamos tudo o que coubera no carro, uma
Parati.
O banco traseiro estava deitado e o carro estava cheio até o teto, além
de malas sob nossas pernas que repousavam no chão do automóvel. A
soberania divina fez com que a falta de espaço poupasse o Robert do
acidente e o levou tranqüilo à capital paranaense num ônibus da Viação
Cometa.
Foi no dia 23 de Agosto de 1993, uma segunda feira. Não tenho muitos
detalhes em minha memória, que apagou quase completamente o ocorrido e
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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que teima em permanecer "esquecida". Mas somei os relatos das pessoas que
se envolveram e consegui informações suficientes para entender o que
aconteceu.
Os pneus já estavam um tanto quanto gastos (para não chamá-los de
"carecas") e o carro não tinha seguro, pois além de tê-lo trocado
recentemente, estava meio "apertado" naqueles dias. Disto, o único culpado
era eu mesmo, embora durante vários meses quisesse transferir a
responsabilidade para Deus.
Quase cinco quilômetros depois de termos entrado no Paraná,
ultrapassei um caminhão, e isto fez com que eu elevasse a velocidade do
carro a um pouco mais do que a que vínhamos mantendo, cerca de cem
quilômetros por hora. O caminhão não queria perder seu embalo e eu forcei
um pouco a ultrapassagem, o que me fez terminá-la quando havíamos
entrado numa ponte e voltar para minha pista um pouco antes de um outro
caminhão que vinha no sentido contrário cruzar conosco.
Foi o tempo de voltar e andar uns duzentos metros apenas, então uma
aqüaplanagem aconteceu. Chovera toda a tarde, e nesta hora, umas cinco e
meia da tarde, caía uma garoa fina, mas a pista tinha muita água. Não sei o
tamanho da poça d'água, só me lembro do carro ter perdido a direção e saído
da pista para a esquerda. Não colidimos com ninguém, a coisa ocorreu só
conosco, e nos levou direto para um enorme declive com degraus com mais
ou menos uns quarenta a cinqüenta metros de desnível.
Ainda me lembro da hora em que o carro saiu da pista e o Harold
clamou pelo nome de Jesus. De repente o carro voou barranco abaixo e
depois do primeiro impacto deu-se um verdadeiro tobogã, que se
responsabilizou por fazer com que tudo o que estava no carro fosse jogado
fora, exceto o motorista e o passageiro, presos ao cinto de segurança.
Fomos parar a uns setenta metros da rodovia. Bati várias vezes a cabeça,
o que me fez perder a consciência. O caminhoneiro que eu havia
ultrapassado assistiu a cena e parou prestar socorro; Harold e ele me levaram
barranco acima e logo um carro parou, levando-nos até o posto da polícia
rodoviária mais próximo; e eles, por sua vez nos levaram até o hospital em
Campina Grande do Sul, próximo a Curitiba.
Tive traumatismo craniano, levei uns trinta pontos no rosto e na cabeça,
e devido à uma fratura mais séria na mão esquerda, precisei fazer uma
cirurgia e colocar dois pinos de platina. Por causa da intensidade das
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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pancadas na cabeça precisei passar dois dias em observação na U.T.I. Já o
Harold saiu ileso e sem nenhum arranhão.
Já no hospital descobri que havia perdido tudo. O carro dera perda
total. Nossas malas foram roubadas. Quanto ao resto da mudança, o que não
se estragou na queda e no barro, também foi roubado.
Mas a dor não era tanto a da perda, mas a de um sentimento estranho
que começou a brotar em minha alma. Era um misto de abandono com
rejeição; algo contra o qual eu lutava, mas que aos poucos parecia me engolir.
Porque Deus havia permitido aquilo? E as orações que lhe havíamos feito? E
suas promessas de proteção e cuidado? Porquê? Porquê? Porquê?
Entrei em crise. Os irmãos me visitavam e tentavam me animar
mostrando que o Senhor guardara nossas vidas. Afinal eu lhes havia contado
que o médico me mostrou o resultado da tomografia que acusava dificuldade
de distinguir massa branca e cinzenta e lesões nas partes moles do cérebro;
isto em si não era assim tão complicado, mas indicava a intensidade do
trauma; só que o médico havia me dito que considerando que este trauma
aconteceu numa parte delicada da cabeça, que é a fonte, eu poderia até
mesmo ter morrido.
Havia ainda a questão da minha vista; minha pálpebra esquerda foi
restaurada no centro cirúrgico pois havia se rasgado até um pouco mais da
metade, e os médicos ali disseram que meu globo ocular (e
consequentemente minha visão) foi poupado de forma milagrosa.
Vendo-me abatido, os irmãos em Cristo tentavam mostrar-me o lado da
intervenção de Deus. Só que algo dentro de mim doía muito; eu não ousava
dizer, mas pensava comigo mesmo que, intervenção milagrosa por
intervenção milagrosa, não teria sido mais fácil o Senhor colocar meu carro
de volta na pista na hora em que desgovernamos?
Porque Ele havia nos deixado cair barranco abaixo para então resolver
proteger? Onde Ele estava à hora em que precisei dele? Se eu dera minha
vida ao ministério e à obra do Senhor, cuidando das coisas d'Ele, porque Ele
não cuidara de mim e das minhas coisas?
Pensava como um insensato e sabia disto. Não tinha coragem de dizer
aquelas coisas, mas não conseguia parar de pensar. E uma dor profunda me
atravessava o peito, querendo me convencer de que Deus havia me
abandonado na hora em que eu mais precisei dele. Para minha razão não
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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havia a menor sombra de dúvida de que o Senhor é justo e fiel, mesmo
quando as circunstâncias insistem em fazer parecer que não; mas eu não
conseguia convencer minhas emoções.
Meus sentimentos diziam outra coisa e uma verdadeira batalha interior
começou, vindo a durar muitos meses. Em alguns momentos eu achava que
era muito drama interior para um rapaz de vinte anos e que eu podia estar
aumentando as coisas, mas não havia meios de me convencer e aplacar o
sentimento.
Eu pregava desde os dezoito anos e já fazia dois anos que viajávamos
por várias cidades e estados, levando o mover do Espírito a muitas igrejas
que não o conheciam. Tive o privilégio de ver muitos milagres e intervenções
poderosas de cura; o sobrenatural era freqüente nas reuniões; e ainda havia a
ênfase de uma vida vitoriosa que sempre dávamos, e na verdade, era isto o
que mais me incomodava, pois eu me sentia como que se tivesse sido
golpeado pelo inimigo. Aquele acidente não tinha nada a ver com a vida
vitoriosa que eu acreditava. E ele derrubou meus castelos espirituais que eu
havia construído com um pouco de fantasia.
Na época, tínhamos uma agenda de viagens bem cheia para o ano todo e
foi necessário dar uma parada, pelo menos para a minha recuperação. E de
repente os planos mudaram. Na verdade não apenas mudaram, mas
acabaram-se de vez! E comecei a deixar as coisas rolarem e pedir que Deus
estivesse no controle...
Foi neste período que acabei vindo para Guarapuava, no Paraná.
Tínhamos estado várias vezes na cidade, pregando numa igreja
denominacional que foi fortemente impactada pelo mover do Espírito. O
pastor começou um novo trabalho fora da denominação, mas não ficou
muito tempo; uns quatro meses após ter iniciado o trabalho, foi para outra
cidade, e o único contato que aquele grupo de irmãos tivera como nova igreja
fora conosco e com nossos pastores, da Comunidade Cristã de Curitiba.
Pediram-nos ajuda e começamos a estender auxílio ao trabalho, embora
com a intenção de não ficar em definitivo, pois não nos considerávamos
pastores, somente um ministério itinerante de apoio. Mas Deus falou ao
nosso coração e ao do grupo, e decidimos dar pelo menos uns tempos
investindo no trabalho local. Inicialmente pedimos reforço ao Luís Gomes,
amigo e companheiro de muitas viagens, que na época não compunha nossa
equipe, mas desempenhava seu próprio ministério.
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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Alguns meses depois, Harold e Dorilene, recém-casados se uniam
conosco na missão de pastorear a Comunidade Cristã de Guarapuava. Que
viravolta! Eu sempre havia declarado a muitos irmãos e amigos que a última
coisa que eu queria neste mundo era ser um pastor. E de repente aí estava eu!
Não sei o que pensei ao certo, mas recordo-me que não tinha planos de estar
aqui até hoje; mas tenho aprendido que "O coração do homem pode fazer
planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR." (Pv.16:1).
Passei muitas crises interiores com o acidente, mas cansei de brigar com
Deus e não ter resposta e acabei desistindo de insistir e engolindo minhas
interrogações até quando agüentasse. Um ano e três meses depois do
acidente, e com quase um ano em Guarapuava, fomos ordenados e
reconhecidos como presbitério local; nossos pastores vieram de Curitiba e
procederam como de costume, pedindo-nos que nos preparássemos para
uma ministração profética que ocorreria junto com a ordenação. Nesta época
eu já desconfiava que Deus tinha aproveitado tudo aquilo para nos trazer a
Guarapuava, mas tinha minhas dúvidas e o medo de estar sendo acomodado
demais ao transferir tudo ao controle divino.
Foi então que aconteceu; através dos pastores, Deus falou ao meu
coração sobre como ele havia quebrado algumas pontes para tratar comigo e
me guiar dentro de seu plano; que Ele havia me tirado daquele ministério
itinerante para me fazer crescer e que a seu tempo isto seria restituído.
O Senhor usou Miguel Piper, Thomas Wilkins, e Francisco Gonçalves,
cada um acrescentando algo; mas não foram só palavras, houve um
sentimento novo, uma testificação espiritual de que era aquilo mesmo, houve
uma vida nova que entrou em mim! Louvado seja Deus por aquele dia tão
especial, mas os detalhes do que eu precisava ouvir vieram quase um mês
depois, quando o pastor Francisco Gonçalves voltou para nos visitar e
ministrar. Numa conversa descontraída em casa falávamos sobre nossas
experiências com anjos, eu, Luís, e ele.
E acabei lhe perguntando qual fora a experiência mais recente que o
Senhor lhe tinha dado. Para minha surpresa, ele respondeu que havia sido na
nossa ordenação, e que a palavra profética que ele havia proferido, era, na
verdade, uma visão que Deus lhe dera e que ele havia conversado com um
anjo acerca do meu ministério, e apenas transmitiu o que ouviu na conversa!
Fiquei espantado e comecei a inquisição para arrancar cada detalhe do que
fora aquela experiência.
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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Não quero parecer sensacionalista ao contar a experiência em seus
detalhes. Justamente pela sua humildade verdadeira, Francisco nem havia me
dito o que acontecera, só dera a mensagem de Deus sem alardes. Mas Deus
sabe que eu jamais teria aceitado os detalhes se não tivessem vindo de uma
forma tão espetacular e por meio de alguém da minha mais alta confiança.
O QUE O ANJO REVELOU
Enquanto o pastor Francisco orava por mim, Deus lhe abriu os olhos
espirituais e ele viu um anjo em pé ao meu lado. O mensageiro celestial se
apresentou de maneira formal dizendo: - "Fui enviado da parte do Deus
Altíssimo para te fazer saber algumas coisas acerca destes ministérios (a
referência plural envolvia nós três). Você tem uma preocupação muito grande
por eles, mas Deus te faz saber que eles estão nas mãos do Senhor, e que estão no
lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa." Após esta referência ao nosso
ministério plural, a palavra passou a ser especificamente sobre a minha vida.
O anjo prosseguiu:
· "Quanto a este, é um guerreiro divertido; ele não pergunta se é o
tempo de Deus ou não para atravessar a ponte..." E então a mensagem
continuou, não apenas nas palavras que ele usava, mas em visões que
ilustravam o que ele estava falando. Neste momento em que o anjo
afirmava que eu não perguntava o tempo de Deus para atravessar uma
ponte, Francisco via a cena: eu estava diante de uma ponte e afirmava: -
"Ponte foi feita para passar", quase como que dizendo: - "Se ela está aí
eu não preciso esperar nenhuma hora específica, é só seguir em
frente".E era isto que o pastor me via fazer na visão; passei correndo
uma, duas, três, várias pontes! E ele simplesmente sabia, mesmo sem
lhe ser dito, que as pontes significavam o acesso de um nível
ministerial a outro; Deus comunicava-lhe isto ao espírito à medida em
que a revelação vinha. Eu passava as pontes bem depressa, e uma atrás
da outra! Até que o mesmo anjo foi e quebrou algumas pontes diante
de mim para que eu não as atravessasse; foram mostradas três pontes
específicas que ele destruiu para que eu não passasse. E então veio a
explicação pela boca do mensageiro celestial:
· "Ele estava avançando para níveis ministeriais sem que estivesse
pronto, tratado, para isto. Por isto foi necessário quebrar algumas pontes,
mas ele é rebelde e não aceita o tratamento de Deus. Quanto àquele
acidente do ano passado, diga-lhe que Satanás tentou tirar-lhe a vida,
mas diga por que Deus o permitiu, embora sem deixar que sua vida fosse
tocada. Seu ministério estava crescendo muito rápido sem que ele fosse
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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trabalhado no íntimo, e neste ritmo ele iria sucumbir debaixo do peso do
próprio ministério; era uma questão de tempo. Por isso Deus o parou;
mas também para trazê-lo a esta cidade e tratar com ele; e quando ele
estiver pronto, o Senhor lhe dará um ministério de proporções ainda
maiores."
O impacto desta mensagem foi e ainda é muito forte em minha vida. E
até hoje quando conto esta experiência me emociono e ao mesmo tempo me
envergonho. Eu questionei a justiça e fidelidade de Deus muitas vezes por
Ele ter permitido que aquele acidente ocorresse. Eu não falava isto, mas
repetidas vezes eu pensei. E enquanto eu o julgava assim no meu coração, Ele
estava cuidando de mim! O Senhor estava me protegendo de algo pior, não
me abandonando naquela hora.
Ele nunca nos abandona. Ele prometeu estar conosco todos os dias, até
a consumação dos séculos. Jamais haverá um dia sequer em nossas vidas no
qual o Senhor não esteja ao nosso lado! Nosso problema é tentar
compreender o agir de Deus em vez de confiar que Ele está no controle -
mesmo que de modo estranho aos nossos olhos e maneira de pensar.
Meu coração se quebrou quando entendi o que havia acontecido. Pedi
perdão ao Senhor por não confiar n'Ele de todo coração e ter interiormente
duvidado e murmurado contra Ele. Sei que Deus me perdoou, mas até hoje
tenho vergonha do papelão que fiz. Como fui idiota, insensato! E muitos
cristãos têm feito isto; ficam criticando Deus enquanto Ele os defende,
protege e provê o seu melhor para eles. Somos os únicos injustos (e
ingratos!) nesta história, e não Deus.
Mas sei que o Espírito Santo vai lhe revelar muitas coisas sobre sua vida
pessoal à medida em que você prossegue na leitura deste livro. Aconselho-o a
não oferecer resistência, mas quebrantar-se diante de Deus e permitir que
Ele o sare. Eu estava muito ferido e machucado por dentro devido às
mentiras que o diabo havia assoprado em minha mente, mas a compreensão
do que Deus estivera fazendo fora da vista dos meus olhos sarou-me por
completo e revelou-me uma nova dimensão do amor e do cuidado d'Ele por
mim. Muitas outras verdades bíblicas começariam a ser desvendadas diante
dos meus olhos a partir desta revelação.
Até então, se eu ouvisse alguém ensinar o que hoje estou ensinando, eu
discordaria e possivelmente até entraria em choque. A influência que recebi
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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do "ensino da fé", me fez ficar um pouco "triunfalista", numa fantasia de que
o que crente pode vir a ser intocável. Recebi uma grande influência dos
ensinos de Kenneth Hagin, Dave Roberson, e outros ensinadores da fé. E
louvo a Deus por suas vidas e ministérios, pois eles têm sido instrumentos de
Deus para resgatar a vida vitoriosa que há em Jesus e vivem o que pregam.
Mas o Senhor começou a me mostrar que eu havia criado uma
mentalidade errada a partir de princípios corretos. De fato Deus prometeu
vitória sobre o inimigo, mas isto não queria dizer que eu nunca sofreria um
acidente como o que sofri, pois foi uma vitória sobre Satanás! Como disse o
anjo, se isto não tivesse acontecido (e consequentemente me freado), eu
poderia até ter perdido o ministério; e isto sim, seria uma derrota. Mas o
acidente não foi derrota, foi vitória e a forma como Deus não apenas me
livrou de um ritmo perigoso, como também redirecionou o meu ministério e
começou a tratar com o meu caráter e alma de forma mais profunda.
O detalhe que eu não via nestes homens de Deus é que o que eles
pregavam era um alvo de vida cristã, não algo que ocorreria de forma
imediata ou instantânea com ninguém, pois nem em suas vidas foi assim.
Hoje, tendo passado a fase do tratamento de Deus, eles estão numa outra
dimensão, e creio que Deus realmente quer que avancemos para uma
dimensão mais profunda de vida cristã, se movendo mais intensamente no
sobrenatural e em grandes conquistas. Mas ninguém se iluda, pois isto não
acontecerá sem o tratamento de Deus em nossa alma!
O DIABO NÃO ENTENDE O AGIR DE DEUS
Agora quero chamar sua atenção para um outro fato: não somos os
únicos a não compreender a forma divina de operar; o diabo também não
entende o agir de Deus!
Algo que o anjo deixou bem claro no diálogo com o pastor Francisco,
foi que Satanás tentou me destruir naquele acidente, mas que Deus, em sua
soberania, deixou o diabo trabalhar só até certo ponto, e guardou-me a vida.
Não tenho a menor sombra de dúvida de que o plano maligno era parar um
ministério que estava incomodando o reino das trevas. A razão da investida
do adversário era esta: parar definitivamente o meu ministério.
Mas o diabo não conhece o futuro! Quando um espírito maligno faz
previsões que se cumprem, ele estava trabalhando com planos já conhecidos.
A razão porque não conseguem acertar sempre é porque o futuro só é
conhecido por Deus. Se Satanás conhecesse o futuro, não precisava ter
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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tentado me parar com aquele acidente, era só deixar tudo como estava, e com
o tempo a própria pressão de um ministério que cresceria demasiadamente
rápido me liquidaria!
Mas o diabo não conhece o futuro e também não entende o agir de
Deus, e o que ele me proporcionou através daquela investida em 1993
redundou numa grande benção! Este é o assunto de nosso capítulo; porque o
diabo também não entende o agir de Deus, ele muitas vezes acaba
trabalhando para Deus! No meu caso ele trabalhou para Deus, e o que quero
mostrar são vários textos e exemplos bíblicos que mostram que isto é um
fato.
Satanás tem uma forma de pensar semelhante à nossa. Logicamente na
condição de anjo - caído - ele é mais inteligente e astuto e tem uma mente
superior, mas a forma de pensar é parecida. A comparação é mais ou menos
como se fossem dois computadores, um bem mais potente que o outro, mas
ambos com o mesmo programa; embora um seja mais veloz que o outro, e
com maior capacidade de armazenar informações, o funcionamento é o
mesmo pois trata-se do mesmo programa. Jesus mencionou isto:
"E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem
compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá.
Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para
mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das
dos homens."
Mateus 16:22,23.
O Senhor falou a Pedro e aos discípulos que era necessário que ele
sofresse em Jerusalém, fosse morto e ao terceiro dia ressuscitasse. E Pedro
tenta persuadir Jesus a pensar de forma diferente, o que era totalmente
contrário ao plano de Deus. Não sei se Jesus se sentiu tentado a ter dó de si
mesmo, mas o fato é que ele reconhece que naquela hora Pedro estava sendo
influenciado em sua forma de pensar por outra pessoa, e repreende a Satanás.
Mas é a frase utilizada por Jesus que nos chama a atenção: "não cogitas das
coisas de Deus, mas dos homens". Cogitar é pensar.
O que o Mestre disse é que a forma de pensar de Satanás não se
assemelha à de Deus, mas à dos homens. Isto nos leva a concluir que não
interessa o quão astuto o adversário seja, ele também não pode entender a
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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forma de Deus agir! Os pensamentos de Deus são mais altos, muito mais
altos que os do diabo. Para o nosso inimigo, o agir de Deus também é
invisível e incompreensível.
E a revelação que o Senhor começou a me trazer de sua Palavra, após
aquela visão do Francisco, foi a de que Ele age desta forma imprevisível e
invisível para propositadamente confundir Satanás e seu exército e, ainda,
tirar proveito fazendo com que trabalhem para Ele. Foi isto que Deus fez
naquele meu acidente de carro; usou uma investida maligna para me guardar
de uma queda, levar-me de volta à direção ministerial que Ele tinha, e ainda
não só tratar comigo como também me ensinar claramente estas verdades.
Deus é soberano.
Ele não deixou o diabo tocar naquele carro à toa; na verdade o Senhor
pôs uma armadilha diante de Satanás. Ouvi, há uns anos atrás, a irmã Valnice
Milhomens ministrando, e ela usou na ocasião uma frase que nunca esqueci;
ela falou sobre Deus colocar "sataneiras" diante de Satanás. Então explicou:
Quando você quer pegar ratos em uma casa, põe uma ratoeira como
armadilha. E como Deus não pega ratos, não usa ratoeira; para pegar Satanás
Ele sempre usa as "sataneiras".
AS SATANEIRAS DE DEUS
Não estou baseando a ação de Deus na experiência que eu tive, mas nos
muitos exemplos bíblicos que encontramos. Ao narrar a minha experiência,
o faço como um ponto de partida que geraram estas descobertas e mudaram
minha forma de pensar. Examinaremos algumas passagens bíblicas que
mostram Deus agindo de forma que o diabo não entendeu; e a primeira delas
já nos revela que Deus usou tal ocorrido para mandar um recado ao reino das
trevas: sua multiforme sabedoria não pode ser compreendida.
"A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar
aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar
qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que
criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de
Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares
celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus,
nosso Senhor"
Efésios 3:8-11.
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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O texto fala sobre um mistério, um segredo, que desde os séculos estava
oculto, escondido em Deus. O contexto (os dois capítulos anteriores e o
começo deste) nos revela que tal segredo era a inclusão dos gentios (ou seja,
a Igreja) no plano de Deus para estabelecer seu reino na Terra. Embora o que
se esperava lendo o Velho Testamento era que Israel fosse quem cumpriria o
plano divino, Deus tinha um segredo prometido nas entrelinhas das
profecias acerca de Israel, e que apontava para a Igreja gentílica; isto só veio a
ser revelado nos dias do Novo Testamento (Mt.21:33-46 e Ef.3:2-5).
A revelação do mistério foi a manifestação da Igreja, e através dela o
apóstolo Paulo disse que Deus tornou sua multiforme sabedoria conhecida
dos principados e potestades nas regiões celestiais. Não que estes
principados não conhecessem antes a sabedoria de Deus; o livro de Tiago diz
que os demônios crêem em Deus e estremecem; eles conhecem o poder e a
grandeza de Deus. Só que quando a Igreja surgiu, isso foi algo totalmente
inesperado no reino das trevas; foi uma verdadeira "sataneira".
O diabo não esperava por esta! Havia uma expectativa tremenda nos
dias de Jesus pela vinda do Messias, que estabeleceria o reino de Deus,
conforme fora dito claramente pelo profeta Daniel. Os profetas apontavam a
vinda de um rei e seu reino, e era isto que os judeus esperavam; e foi contra
isto que Satanás se armou. Para que um reino se estabeleça, é preciso pelo
menos duas coisas básicas:
1) O povo do reino - os súditos;
2) O Rei do reino.
Se tirarmos qualquer um destes elementos, não há como haver um
reino. E os registros bíblicos nos revelam que Satanás fez destes elementos o
seu alvo para tentar impedir a manifestação do reino.
Alistei o povo antes do rei não por ordem de importância, mas de
chegada. Pelo menos aparentemente, já se sabia quem era o povo bem antes
de se saber quem era o rei. Digo aparentemente, pois embora Deus tenha
feito promessas à descendência de Abraão, o que nos levaria a interpretar
como sendo o Israel natural, a revelação que o Novo Testamento trouxe é
que os filhos de Abraão não são necessariamente os da carne, mas os da fé
(Rm.2:28,29; Gl.4:22-31).
Mas isto não ficou claro antes da vinda de Jesus, portanto, era de se
esperar que o povo do reino fosse o Israel natural, e o diabo tentou destruíO
AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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lo desde o princípio da aliança de Deus com Abraão. O livro de Ester, por
exemplo, é a narrativa de como o inimigo tentou exterminar esta nação e
como Deus estava sempre presente, guardando-os. E nos anos que
antecederam a vinda de Cristo, o diabo sufocou a nação israelita debaixo de
quatro grandes impérios: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e, por fim, Roma;
em todos eles ele tentou destruir a identidade da nação e, mesmo não
conseguindo, roubou-lhe a independência e a liberdade de se preparar para
ser um grande e forte reino.
Mas não adiantou, pois enquanto Satanás lutava para amarrar Israel
como nação, Deus levantou debaixo do nariz do diabo a Igreja gentílica! Era
algo impossível de se ver sem a revelação do Espírito; era um segredo de
Deus, ou seja, era parte do agir invisível de Deus. Ninguém imaginava que
Deus estivesse preparando isto, nem mesmo o diabo!
Portanto, quando a Igreja foi levantada, por meio dela Deus estava
mostrando sua multiforme sabedoria aos principados e potestades. Foi como
um recado que dizia: "Não adianta, vocês nunca entenderão e jamais
vencerão; Eu sou maior!" O livro de Salmos diz que o Senhor se rirá de seus
inimigos; creio que nesta hora Deus riu... Enquanto os demônios
observavam atônitos o mistério de Deus e reviam seu trabalho inútil de
tentar prender o povo do reino, creio que Deus riu. E a Igreja é um recado
eterno desta sabedoria de Deus e seu poder de armar sataneiras.
Quando o diabo se tocou que o povo do reino não era necessariamente
Israel, mas sim os que criam em Jesus e nasciam de novo (Jo.1:11,12), tentou
então destruir a Igreja. Observe o que diz a Bíblia:
"E Saulo consentia na sua morte. Naquele dia, levantou-se grande
perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos,
foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria.
Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando
homens e mulheres, encerrava-os no cárcere."
Atos 8:1,3.
Assim que veio a perseguição, a Igreja perdeu seu sossego e os crentes
começaram a ser presos e até martirizados. Então muita gente, devido à
intensidade da perseguição, começou a fugir para outras cidades. E a Igreja
que logo no início já tinha chegado à marca dos cinco mil membros,
dispersou-se, ficando apenas os apóstolos. Aparentemente Satanás conseguiu
O AGIR INVISÍVEL DE DEUS — LUCIANO SUBIRÁ
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o que queria e oprimiu o povo do reino, mas ele não sabia que esta era mais
uma sataneira!
Veja o outro lado da história: Jesus havia capacitado seu povo com o
poder do Espírito Santo com um único propósito:
"mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra."
Atos 1:8.
Eles não deviam permanecer só em Jerusalém, mas a responsabilidade de
serem testemunhas de Cristo envolvia o começarem lá seu trabalho, mas
depois espalharem-se progressivamente pelas outras cidades da Judéia, as de
Samaria e então não parar mais! Só que o povo de Deus se acomodou. O
tempo passou e eles estavam lá em Jerusalém ainda. Não estavam
obedecendo a Cristo. Não haviam se tornado ainda uma Igreja missionária.
Algo precisava ser feito.
E sabe quem ajudou?
O diabo. É, ele mesmo!
Até Satanás enviar aquela perseguição, ninguém tinha saído pregar nas
circunvizinhanças. Mas quando o diabo quis destruir a indestrutível Igreja de
Jesus, caiu em mais uma sataneira, e ajudou a espalhar o evangelho:
"Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a
palavra."
Atos 8:1,3-4.

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