terça-feira, 11 de agosto de 2009

O PODER DO ESPÍRITO SANTO

O PODER DO ESPÍRITO SANTO

PREFÁCIO

Uma velha lenda indígena conta de um índio que desceu das montanhas e pela primeira vez viu o oceano. Maravilhado com o que via, ele pediu um balde. Depois entrou um pouco mar a dentro e encheu o balde. Quando lhe perguntaram o que estava fazendo, ele respondeu:
– Lá nas montanhas meu povo nunca viu as Grandes Águas. Vou levar este balde cheio para eles, para que possam ver com que elas se parecem.
Pouco antes de morrer o papa João XXIII, perguntaram-lhe qual a doutrina da igreja que mais precisava ser reenfatizada hoje em dia. Ele respondeu: – A doutrina do Espírito Santo.
Alguns anos atrás minha esposa e eu tivemos o privilégio de passar alguns dias na Suíça, hóspedes do Dr. Karl Barth, o eminente teólogo suíço. Em uma das nossas conversas eu lhe perguntei qual seria a próxima ênfase da teologia. Ele respondeu sem hesitação: – O Espírito Santo.
Tentar escrever um livro sobre um assunto tão vasto como é a Espírito Santo é como tentar pôr o oceano em um balde. O assunto não tem limites – e as nossas mentes são tão limitadas.
Na verdade este livro teve início como parte da minha peregrinação espiritual. Durante o meu ministério de evangelista fui tendo uma compreensão crescente do ministério do Espírito Santo. Em anos recentes minha atenção se prendeu de maneira nova pelo ministério da Espírito Santo, devida ao renovado interesse em Sua obra que está se manifestando em muitos lugares no mundo. Sentindo que eu mesmo precisava saber mais, comecei um estudo sistemático do que a Bíblia ensina sabre a pessoa e a obra do Espírito Santo. No começo eu não tinha a intenção de escrever um livro, mas quanto mais eu me aprofundava na assunto, mais eu notava idéias erradas e mesmo desconhecimento em relação à Terceira Pessoa da Trindade em muitos círculos cristãos.
Em parte eu estava hesitando para escrever este livro. Mas, escrevendo-o, eu tive uma nova visão do ministério do Espírito Santo; ajudou-me também a compreender a atuação do Espírito Santo na nosso mundo de hoje em dia. Meu desejo e oração é que este livro possa servir de informação e esclarecimento para muitos cristãos. E que seja um livro unificador. O Espírito Santo não veio para dividir os cristãos mas, entre outras razões, Ele veio para nos unificar.
Minha única preocupação foi visualizar o que a Bíblia tem a dizer sobre o Espírito Santo. A Bíblia – inspirada pelo Espírito Santo – é nossa única fonte de informação digna de confiança, e toda análise bem fundamentada da pessoa e da obra do Espírito santo tem de ser buscada biblicamente. Entendi, como nunca antes, que há algumas com que nunca compreenderemos totalmente, e que alguns assuntos permitem interpretações diferentes por cristãos sinceros. Em áreas onde há diferenças honestas entre cristãos eu temei não ser dogmático.
Estou muito agradecido que o Espírito Santo está operando em nossa geração, tanto no despertamento da Igreja como no evangelismo. Que Deus use este livro para renovar e desafiar a muitos.
Devo muito a diversas pessoas que me ajudaram enquanto escrevia este livro. Sou grato a meu colega Roy Gustafson, que foi o primeiro a sugerir que eu escrevesse sobre este assunto. Algumas pessoas foram especialmente úteis lendo os primeiros esboços do manuscrito, em partes ou na todo, e fazendo sugestões construtivas – inclusive o Dr. Harold Lindsell (ex-editor do revista Christianity Today), Paul Fromer (do Wheaton College), Canon Houghton (ex-diretor do British Keswick), Dr. Thomas Zimmermann (superintendente Geral das Assembléias de Deus nos EUA), Dr. Merrill C. Tenney (Deão emérito da Wheaton Graduate School) e Dr. Donald Hoke (Secretário do Comitê de Lausanne para Evangelização Mundial). Sou grato também pela bondade do Sr. e da Sra. Bill Mead, que generosamente permitiram que minha esposa Ruth e eu os visitássemos diversas vezes para trabalhar na livro. Nunca vou esquecer-me dos dias em que estivemos sentados em agradável círculo com os Meads, a família de Cliff Barrow, de Fred Dienert e de Grady Wilson, discutindo diversos capítulos do livro. Agradeço também pelas sugestões do meu amigo Dr. John Akens, pela ajuda do Rev. Ralph Williams do nosso escritório em Minneapolis, e pela de Sally Wilson, em Montreat, que deu sugestões de ilustrações e textos bíblicos acrescentados às minhas anotações originais. Minha secretária, Stephanie Wills, datilografou pacientemente o manuscrita em seus diferentes esboços.



O ANELO DO HOMEM – O PRESENTE DE DEUS

O ser humano tem dois grandes anelos. Um é por perdão. O outro é por bondade. Consciente ou inconscientemente seu ser interior anseia pelos dois. Há momentos em que até grita por eles, apesar de, em sua agitação, confusão, solidão, medo e pressões às vezes não saber pelo que ele está gritando.
Deus respondeu este primeiro pedido de ajuda, por perdão, no Calvário. Deus enviou seu único Filho a este mundo para morrer por nossos pecados, para que possamos obter perdão. Isto é um presente – o presente da salvação. Este presente está sempre à disposição de todos que admitem com sinceridade que erraram, que pecaram, Ele é dado a todos que estendem a mão e aceitam o presente de Deus, recebendo Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Paulo a chama de a dádiva "indescritível" de Deus (2 Cor. 9:15, NTV).
Mas Deus também ouviu o nosso segundo anseio, aquele anelo por bondade, e o respondeu no dia de Pentecostes. Deus não quer que venhamos a Cristo pela fé para depois viver derrotados, desencorajados, frustrados. Pelo contrário, Ele quer "cumprir com poder todo propósito de bondade (fazer o bem, BLH) e obra de fé; a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja glorificado em vós" (2 Tess. l :11, 12). À grande dádiva do perdão Deus acrescenta a grande dádiva do Espírito Santo. Ele é a fonte do poder que satisfaz a nossa necessidade de escapar da fraqueza miserável que nos prende. Ele nos faz capaz de sermos realmente bons.
Se quisermos viver uma vida sensata neste mundo moderno, se quisermos ser homens e mulheres que possam viver de maneira vitoriosa, precisamos deste presente duplo que Deus nos oferece: primeiro, a obra do Filho de Deus por nós; segundo, a abra do Espírito de Deus em nós. Este foi o meio de Deus satisfazer os dois maiores desejos da humanidade: obter perdão, e ser bom.
Um amigo me disse certa vez: – Eu preciso de Jesus Cristo para minha vida eterna, e o Espírito soma para minha vida interna.
Se você crê em Jesus Cristo, está à Sua disposição um poder que pare modificar a Sua vida, mesmo em áreas tão íntimas como Seu casamento, seu relacionamento com a família e com outras pessoas. Deus, também, oferece poder que pode mudar uma igreja cansada em um corpo vivo e que cresce, um poder que pode revitalizar a cristandade.
Infelizmente este poder tem sido ignorado, mal-entendido, mal-usado. Com nossa ignorância nós causamos um curto-circuito no poder do Espírito Santo.
Muitos livros foram escritos sobre este poder, muitas orações foram feitas por este poder. Multidões de cristãos gostariam de tê-lo, mas não sabem direito o que ele é.
Quando o mundo olha para um cristão, tem em mente alguns clichês: vê o crente como uma pessoa obstinada, séria e sem senso de humor; alguém que não consegue fazer as coisas por si e por isso um "Deus como muleta"; alguém que esqueceu seu cérebro no jardim de infância.
Bem, se este clichê se aplica mesmo a nós ou à Igreja, de alguma maneira, então precisamos conhecer o poder maravilhoso e revolucionário que está exclusivamente à disposição dos que crêem em Cristo. Ninguém pode comprá-lo, ganhá-lo, exigi-lo ou usá-lo sem conhecer ames a Sua origem.

O Espírito Santo foi Prometido

Quando Jesus estava ensinando Seus discípulos, preparando-os para o que Ele sabia ser o fim, Seu coração estava preocupado com eles, porque sabia que eles estavam confusos e tristes. Posso imaginá-Lo indo de um em um, pondo seu braço ao redor do ombro deles. A cada um ele explicava em palavras simples, assim como nós o fazemos com nossas crianças, as verdades importantes que queria que eles entendessem. A certa altura Ele disse: "Agora vou para junto daquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais? Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração. Mas eu vos digo e verdade: Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei" (João 16:5-7).
Isto é uma promessa! A vinda do Espírito estava baseada sobre a palavra do Senhor Jesus Cristo. Não foram estabelecidas condições, Jesus me disse que enviaria o Consolador (ou "Ajudador") a alguns crentes, e não a outros. Nem disse que deveríamos pertencer a alguma organização especial ou estar mais alto na escala de espiritualidade do que outros. Ele disse especialmente: "Se eu for, eu vo-lo enviarei."
Quando Jesus faz uma promessa, ele não a quebra nem a esquece. Podemos duvidar da promessa de algum amigo ou de alguém da família; podemos até duvidar das nossas promessas feitas a outros. Mas Jesus nunca nos deu uma promessa que tenha alguma sombra de dúvida.
Algumas pessoas rebaixam Jesus Cristo, chamando-O de um "grande líder" ou um dos maiores líderes religiosos do mundo, Entretanto, no tocante a promessas, é interessante contrastar suas palavras com as de outros grandes líderes religiosos ou filosóficos. Por exemplo, quando o fundador do budismo estava se despedindo dos seus seguidores, disse: "Vocês têm de ser sua própria luz!" Ou quando Sócrates estava para tomar aquele copo fatal, um dos discípulos lamentou-se, dizendo que ele os estava deixando órfãos. Os líderes das religiões e filosofias do mundo não eram capazes de prometer que nunca deixariam os seus seguidores.
Os discípulos de Jesus Cristo, no entanto, não foram deixados sós. Ele disse: "Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros" (João 14:18). É interessante notar que a palavra grega para "órfãos" é a mesma que o discípulo de Sócrates usou quando compreendeu que seu mestre o deixaria sozinho.

A Promessa Cumprida

Jesus disse que deixaria Seus discípulos por algum tempo, o que de fato fez. Durante os horas terríveis da crucificação, morte e sepultamento, dúvidas cruéis tomaram conta das mentes dos que O amavam, Ele ainda não havia sido "glorificado", e por isso a promessa do Seu Espírito ainda não tinha se concretizado.
Mas nós sabemos o que aconteceu. Deus O levantou dos mortos e Lhe deu glória. Falando a cristãos, as Escrituras dizem que Cristo veio "por amor de vós, que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus" (I Pedro 1:20, 21).
Deus tinha mandado "esperar" pelo Espírito que deveria vir. Jesus ressuscitou dos mortos e foi visto pelos Seus discípulos. Incapazes de compreender o que estava acontecendo, eles não O reconheceram a princípio, e ficaram assustados porque pensavam estar vendo um fantasma. Para confirmar sua realidade física Jesus lhes disse que tocassem nEle, e até pediu algo para comer, Um fantasma não tem carne e ossos, não é? Nem poderia comer, não é verdade?
Então, este era Jesus, não o Espírito que Ele havia prometido. Mesmo assim, Ele disse que continuassem esperando! Ainda não chegara a hora.
A promessa foi cumprida 50 dias depois, no dia de Pentecostes. Que dia! Para nós, com nossa mentalidade prática, terrena, científica, é difícil imaginar os acontecimentos impressionantes daquele dia.
"Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidas na mesmo lugar; de repente veio do céu um som, corno de um vento impetuoso, e encheu toda a usa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem" (Atos 2:1-4).
Tinha chegado aquele que eles deveriam "esperar"!

Que diferença faz a ênfase de uma palavra na descrição de um acontecimento de tão abaladora importância! Antes de Pentecostes a ênfase estava na palavra "pedir". "Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito santo àqueles que lhe pedirem?" (Lucas11:13, grifo meu).
Depois de Pentecostes a ênfase estava na palavra "receber". Pedro, em seu Sermão cheio de poder, naquele mesmo dia, disse: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos 2:38, grifo meu).
Estas são as boas novas: não estamos mais esperando pelo Espírito Santo – Ele está esperando por nós. Não estamos mais vivendo em tempo de promessa, mas em dias de cumprimento.
Os que faziam parte da Igreja Primitiva, aqueles homens, mulheres e crianças que conheciam a realidade do poder do Espírita Santo, foram totalmente transformados. O ímpeto de poder que eles experimentaram no dia de Pentecostes é característico da época que nos deu o Novo Testamento. O Espírito Santo foi prometido, a promessa foi cumprida, os discípulos foram transformados, e a glória disto tudo para nós é que Ele está presente em todo crente verdadeiro hoje em dia. Assim, o Seu poder também está à disposição de nós hoje.
Quem é esta Pessoa que Cristo prometeu enviar à terra em Seu lugar? Quem é esta Pessoa que Ele usa para transformar a natureza humana? Quem é esta Pessoa que para dar a você poderes sobrenaturais para enfrentar qualquer dificuldade? E como você e eu podemos experimentar Seu poder em nossas vidas todas os dias?
Descobriremos.

QUEM É O ESPÍRITO SANTO ?

Alguns anos atrás um professor de quinto ano perguntou aos alunos de sua classe se alguém poderia explicar o eletricidade. Um rapaz levantou a mão. O professor, perguntou: – Como você poderia explicar, Jimmy?
Jimmy coçou a cabeça, pensou, e respondeu: – Ontem à noite eu ainda sabia, mas agora esqueci!
O professor sacudiu tristemente a cabeça e disse para a classe: – Que tragédia! A única pessoa no mundo que já entendeu a eletricidade, e ele esqueceu!
Este professor está na mesma situação que você e eu quando estudamos a doutrina da Trindade. Aceitamos o fato de que a Espírito Santo é Deus, assim como o Pai e o Filho são Deus. Mas quando temos de explicar, estamos num beco sem saída. Nos últimos anos foi falado e escrito sobre a Espírito Santo possivelmente mais do que sobre qualquer outro terna religioso, excetuando o ocultismo. Isto aconteceu principalmente por causa da influência do movimento carismático, que tem sido chamado de "a terceira força" do cristianismo, ao lado do catolicismo e protestantismo. O movimento carismático mais recente, que tem algumas de suas origens no pentecostalismo histórico e dá ênfase ao Espírito Santo, este atualmente permeando profundamente a maioria das principais denominações, bem como o catolicismo. Podemos sentir como o assunto é vasto, e como sabemos pouco sobre ele. Mesmo assim, Deus revelou em Sua Palavra tudo que devermos saber.
Surgirão neste livro muitas perguntas que crentes confusos e às vezes incultos tentaram responder. De fato, milhões de cristãos em todos os continentes estão fazendo estas perguntas. Estão procurando e merecem respostas bíblicas.
Por exemplo: O que é o batismo da Espírito santo? Quando ocorre? Falar em línguas é possível ou necessário hoje em dia? Existe urna experiência chamada "segunda bênção"?
Para iniciar nosso estudo, temos de colocar bem no começo uma pergunta crítica: Quem é o Espírito santo?

O Espírito Santo é uma Pessoa

A Bíblia ensina que o Espírito Santo é uma pessoa. Jesus nunca chamou o Espírito Santo de "isto" quando falava dEle. Em João 14, 15 e 16, por exemplo, Jesus falou do Espírito Santo como "Ele", porque Ele não é uma força ou uma coisa, mas uma pessoa. Falta instrução ou mesmo discernimento a alguém que trata o Espírito Santo como "isto".
Na Bíblia vermos que o Espírito Santo tem intelecto, emoções e vontade. Além disto, a Bíblia diz que Ele faz coisas que uma força não faria, somente uma pessoa real.
Ele fala: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas, Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus" (Apoc. 2:7).
"E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (Atos 13:2).
Ele intercede: "Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havermos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis" (Rom. 8:26, IBB).
Ele testifica: "Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei do parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim" (João 15:26).
Ele guia: "Então disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro, acompanha-o" (Atos 8:29).
"Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." (Rom, 8:14).
Ele ordena: "E percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas a Espírita de Jesus não o permitiu" (Atos 16:6, 7).
Ele conduz: "Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir" (João 16:13).
Ele nomeia: "Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho. Pois o Espírito Santo os pôs como guardiães do rebanho, para pastorear a Igreja de Deus, que ele comprou por meio do sangue do Seu própria Filho" (Atos 20:28, BLH).
Pode-se mentir para Ele: "Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus" (Atos 5:3, 4).
Pode-se insultá-Lo: "De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos rés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?" (Heb. 10:29).
Pode-se blasfemar contra Ele: "Por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra a Espírito Santo não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á isto perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isto perdoado, nem neste mundo, nem no porvir" (Mat. 12:31, 32).
Pode-se entristecê-Lo: "E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes seladas para o dia da redenção" (Efés. 4:30).
Cada uma das emoções e atitudes que alistarmos são características de uma pessoa. O Espírito Santo não é uma força impessoal, como a gravidade e o magnetismo. Ele é uma Pessoa, com todos os atributos de uma personalidade. Mas não é só Pessoa; também é divino.

O Espírito Santo é uma Pessoa Divina: Ele é Deus

Em toda a Bíblia poremos ver claramente que o Espírito Santo é o próprio Deus. Isto poremos deduzir dos atributos que a Escritura Lhe confere. Estes atributos, sem exceção, são os da próprio Deus.
Ele é eterno: Isto significa que nunca houve um momento em que Ele não existiu. "Muito mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!" (Heb. 9:14).
Ele é Todo-Poderoso: "Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamada Filho de Deus" (Lucas 1:35).
Ele é Onipresente (está em todo lugar ao mesmo tempo): "Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença?" (Salmo 139:7, IBB).
Ele sabe tudo (é onisciente): "Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; parque o Espírito a todas estas coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus" (I Cor. 2:10, 11).
Ele é chamado Deus: "Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus" (Atos 5:3, 4, grifo meu).
"E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito" (2 Cor. 3:18).
Ele é o Criador: A primeira referência bíblica ao Espírito Santo está em Gênesis 1:2, onde lemos: "O Espírito de Deus pairava por sobre as águas". No entanto, Gên. 1:1 diz: "No princípio criou Deus os céus e a terra". E em Colossenses 1, escrevendo à Igreja de Colossos sobre o Senhor Jesus Cristo, no meio de outras grandes verdades Paulo nos diz. "Nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste" (é conservado em ordem e harmonia, BLH) (Col. 1:16, 17).
Assim, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo estavam juntos criando o mundo. É da máxima importância para todos os cristãos compreender e aceitar estes fatos, tanto na teologia como na prática.
Certa vez eu fiz algumas destas afirmações diante de seminaristas. Um deles perguntou: "Geralmente Ele é mencionado por último. Isto não implica em inferioridade?" Só que em Romanos 15:20 Ele não é mencionado por último: "Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor." E em Efésios 4:4 Paulo diz: "Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação".
Mais que isto, a colocação usual das três pessoas da Trindade no Novo Testamento tem a ver com sua seqüência e função. Dizemos, por exemplo, que oramos ao Pai, através do Filho, no poder do Espírito Santo. Eu já mostrei antes que, em termos de função, o Pai veio primeiro, depois a Filho se encarnou, morreu e ressuscitou. Agora, o Espírito atua nesta era do Espírito. A seqüência não prejudica a igualdade, só tem a ver com função e cronologia.

A Trindade

Quando comecei a estudar a Bíblia, anos atrás, a doutrina da Trindade foi um dos problemas mais complexos que encontrei, Nunca cheguei a uma conclusão satisfatória, porque parte dela é mistério. Apesar de não entendê-la totalmente até hoje, aceito-a como revelação de Deus.
A Bíblia me ensina que o Espírito Santo é um ser vivo. É uma das três pessoas da Trindade. Explicar e ilustrar a Trindade é uma das tarefas mais difíceis que se pode dar a um cristão. O Dr. David McKenna contou-me certa vez que Doug, seu pequeno filho, lhe perguntou: – Deus Pai é Deus? Ele respondeu: – Sim. – Jesus Cristo é Deus? – Sim. – O Espírito Santo é Deus? – Sim. – Então como Jesus pode ser Seu próprio Pai? David pensou rápido. Eles estavam naquele momento sentados em um velho Chevrolet 1958. – Escute, filho, ele respondeu. – Ali debaixo do capô está a bateria. Eu posso usá-la para acender as luzes, tocar a buzina e dar partida no carro. Como isto acontece é um mistério – mas acontece! concluiu.
A Bíblia nos ensina a realidade da Trindade, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Estudemos algumas passagens.
Deus revela a Si mesmo na Bíblia progressivamente. Mas há indicações desde a começo do livro de Gênesis de que Deus existe em três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – e que estas três pessoas constituem o único Deus. O cristianismo é trinitário, não unitário. Ao mesmo tempo há um só Deus e não três, deixando claro que o cristianismo não é politeísta.
A Bíblia começa com uma afirmação majestosa: "No princípio criou Deus os céus e a terra" (Gên. 1:1).
Estudiosos de hebraico me disseram que na língua hebraica há três graus de número: Singular – um; dual – dois; plural – mais de dois. A palavra traduzida por "Deus" em Gênesis 1:1 é plural, indicando mais de dois. A palavra hebraica é Elohim. Matthew Henry diz que ela significa "a pluralidade de pessoas na deidade: Pai, Filho e Espírito Santo. Este nome de Deus m plural.. . (confirma) nossa fé na doutrina da Trindade, que é claramente revelada m Novo Testamento, apesar de só levemente sugerida no Antigo".1
Vemos no relato da criação que Deus desde o início nos fornece algumas indicações da verdade de que a Deidade se compõe de mais de uma pessoa. Eu grifei algumas palavras. Em Gênesis 1:26 Deus diz: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sabre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra."
Mais adiante, em Gênesis 3:22, o Senhor Deus disse: "Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal." E em Gênesis 11:6, 7 o Senhor disse: "Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo: agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não enteada a linguagem do outro." Quando Isaías ouviu a voz do Senhor, dizendo: "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?", ele respondeu: "Eis-me aqui. Envia-me a mim!" (Isaías 6:8).
A doutrina da Trindade está bem mais desenvolvida no Novo do que no Antigo Testamento. Já que a revelação é progressiva, mais luz foi lançada sobre o assunto que estamos estudando. Quando Deus Se revelou totalmente no tempo de Cristo e dos apóstolos.
Em Mateus 28:18-20 está registrada a última ordem de Jesus antes da Sua ascensão. Ele diz aos Seus seguidores: "Fazei discípulos de todas as nações", batizando os convertidos "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século." Jesus ensinou aqui que Seus seguidores deveriam levar a mensagem do Seu Evangelho a todas as nações, depois de Ele deixá-los. O Espírito Santo iria usá-los para convocar um povo para a Seu nome. Esta comissão trinitária para batizar associa o Espírito Santo com Deus Pai e Deus Filho como igual a Eles. Ele é Deus Espírito Santo.
É emocionante notar que Jesus diz que não deixará os crentes sozinhos. Através do Espírito Santo que Ele e o Pai enviaram, Ele nunca nos deixará nem nos abandonará (Heb. 13:5). Ele permanecerá com cada crente até o última instante. Este pensamento me tem encorajado centenas de vezes nestes dias sombrios, em que as forças satânicas estão operando em tantos lugares diferentes do mundo.
Dentro desta mesma linha de pensamento, o apóstolo Paulo afirmou: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós" (2 Cor. 13:14). Esta bênção não deixa dúvidas de que o Espírito Santo é um com o Pai e um com a Filho na Deidade. Não é um mais um mais um igual a três. É um vezes um vezes um igual a um. O Espírito Santo é um com o Pai e com o Filho. Se o Pai é Deus, e Jesus é Deus, então o Espírito Santo também é Deus.
O principal problema da doutrina da Trindade é que o cristianismo diz ser monoteísta. Rejeita o politeísmo, a crença em mais de um Deus. A resposta é que a Trindade preserva a unidade da Deidade, reconhecendo ao mesmo tempo que nela há três pessoas, que não deixam de ser uma em essência. Deus é um, mas esta unidade não é simples – é complexa.
Isto é um assunto terrivelmente difícil – muito além da capacidade de compreensão das nossas mentes limitadas. Mesmo assim é extremamente importante declarar a posição bíblica, e ficar em silêncio onde a Bíblia não diz nada. Deus Pai é plenamente Deus. Deus Filho e Deus Espírito também. A Bíblia apresento isto como um fato. Não o explica. Apesar disto muitas explicações têm sido sugeridas, algumas parecendo ser bem lógicas, mas nenhuma consegue preservar a verdade do que a Escritura ensina.
O "modalismo" foi uma heresia dos primeiros tempos do cristianismo. Ensinava que Deus apareceu em diferentes épocas sob três modos ou formas diferentes – primeiro como Pai, mais tarde como Filho, e por último como Filho. Os que defendiam este ponto de vista pensavam que ele preservava a unidade do monoteísmo. Mas significava também que quando Jesus orava, Ele tinha de falar consigo mesmo. Além disto um texto como o de Atos 2, que diz que o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo, faz pouco sentido m modalismo. Acima de tudo, esta posição violava a mais clara apresentação da Trindade em unidade, expressada na Grande Comissão de Jesus, registrada por Mateus. Jesus disse claramente que Seus discípulos deveriam batizar os convertidos "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". A construção da frase no grego deixa claro que Jesus está se referindo a três pessoas diferentes. Ele ensinou, sem margem de dúvida, a doutrina da Trindade.
Vimos até aqui que o Espírito Santo é uma pessoa, é Deus, e faz parte da Trindade. Quem não reconhecer isto não terá a Sua alegria e poder. De fato, uma compreensão deficiente de qualquer pessoa da Trindade trará a mesma conseqüência, porque Deus é importante em todos os sentidos. Mas isto vale especialmente para o Espírito Santo, porque apesar de o Pai ser a fonte de todas as bênçãos, e o Filho o canal de todas as bênçãos, é pela ação do Espírito Santo em nós que toda a verdade se torna viva e operante em nossas vidas.
Para resumir tudo isto, a afirmação mais importante que eu posso fazer é esta: não há nada que o Pai Seja e o Espírito santo não seja. O Espírito Santo tem todos os aspectos essenciais da deidade. Podemos dizer dEle a mesma coisa que o antigo Credo Niceno disse de Jesus Cristo: Ele é verdadeiro Deus de verdadeiro Deus! Assim, nós dobramos as joelhos diante dEle, nós O adoramos, e O tratamos em tudo como a Escritura exige que tratemos o Deus Todo-Poderoso.

Quem é o Espírito Santo? Ele é Deus!





QUANDO O ESPÍRITO SANTO VEIO

Escrevi este capítulo sentado na varanda da casa, porque o sol de verão estava quente. Minha esposa e eu estávamos comentando sobre o vento refrescante que surgiu quando começou a escurecer, Falamos principalmente do poder e do mistério do verão.
É interessante notar que na Escritura, tanta no hebraico como no grego, as línguas originais, a palavra usada para o Espírito também pode ser traduzida por "vento". De maneira semelhante, o Espírito Santo opera de diferentes maneiras em nossas vidas, e em épocas diferentes da história.
Eu já vi furacões em Texas e Oklahoma, e até no meu estado natal da Carolina do Norte, quando menino. Eu vi o poder do vento. Eu vi os freios do ar, que usam o vento, ou o ar, para fazer parar os enormes caminhões que descem pela rodovia. A mesma força pare erguer no ar um avião de dezenas metros de comprimento.
O diretor de uma pedreira de granito na Carolina do Norte disse: "Nós suprimos o granito para a prefeitura de Nova Iorque. Nós podemos erguer um bloco de granito de três metros de espessura a quase qualquer altura que precisemos para movê-lo. Nós usamos o ar para isto. Para nós isto é tão fácil como erguer uma folha de papel.
"O ar! O ar – este invólucro invisível em que vivemos e nos movemos, esta substância tão imaterial que podemos mover nossas mãos através dela como se ela não fosse real. Mas que poder! Imenso, terrível!"1
Vimos no capítulo anterior algo da natureza e da personalidade do Espírito Santo. Agora procuraremos ter uma visão da Sua obra distinta em cada grande época. Mas em primeiro lugar, para termos uma visão global, temos de ver como o Deus Triúno atua em cada época.
Neste intento, nos deparamos com elementos de mistério que dificultam uma compreensão plena à mente humana. O Pai, o Filho e o Espírito Santo, ao mesmo tempo, têm funções diferentes, inerentes a cada um. Por exemplo, nem o Pai nem o Espírito Santo morreram na cruz da Calvário. Foi Deus Filho. Temos de entender estes fatos, especialmente quando pensamos nesta época e como Deus age hoje.
Estudando a Bíblia, constatarmos que o Antigo Testamento enfatiza principalmente a atuação de Deus Pai. Os evangelhos enfatizam a obra de Deus Filho. E do dia de Pentecostes até hoje a ênfase é na atuação de Deus Espírito Santo. Ao mesmo tempo a Bíblia nos diz que Deus Espírito Santo já agiu desde o principio, e através de toda a História. Por isso iniciaremos nosso estudo da obra do Espírito Santo examinando rapidamente sua atividade nas épocas antes de Pentecostes, antes de nos concentrarmos no Seu ministério singular daquele dia em diante.

A Atuação do Espírito Desde a Criação até Belém

No capítulo anterior analisamos alguns versículos que mostram como o Espírito Santo estava atuando na criação. De acordo com Gênesis1:2, "a terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo". Logo em seguida lemos que "o Espírito de Deus pairava por sobre as águas".
Algumas versões trazem "mover-se", mas a palavra hebraica é "estar sobre", assim como uma galinha fica sobre seus ovos para chocá-los e trazer nova vida ao mundo; da mesma forma o Espírito Santo pairou sobre a criação original de Deus para encher seu vazio com as várias formas de vida, de onde resultou o relato de Gênesis 1 e 2. Assim, desde o princípio o Espírito Santo estava ativo na criação, junto com o Pai e o Filho.
Quando Deus "formou o homem do pó da terra" (Gên. 2:7), o Espírito Santo estava envolvido. Isto poremos concluir indiretamente de Jó 33:4: "O Espírito de Deus me fez; e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida." Um jogo de palavras aqui mostra como o Espirito de Deus e a nossa respiração estão intimamente relacionados: "Espírito" e "sopro" no hebraico são a mesma palavra.
Também lemos em Gênesis 2:7 que o Senhor Deus "lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente". Embora a palavra "fôlego" não seja aqui a mesma que significa Espírito, é claro, de acordo com esta passagem, que o homem deve sua vida a Deus. E o sopro de Deus que "deu partida" no homem para sua peregrinação terrena foi de fato o Espírito Santo, como Jó 33:4 deixa claro.
O Salmo 104:30 nos leva um passo adiante na compreensão do papel do Espírito na criação. O Espírito não só colaborou na formação da terra e do primeiro ser humano, mas Ele é sempre o criador da vida. "Envias (Deus) o teu Espírito, eles são criados, e assim renovas a face da terra." Quem do os "eles" que o Espírito cria? Todo o Salmo o explica, mas nos versículos 18-26 vemos que estão incluídos cabras selvagens e coelhos do mato (V. 18, BLH), animais selvagens como leõezinhos (Vs. 20, 21), o homem (V. 23) e tudo que vive sobre a terra ou no mar (Vs. 24, 25).
No Antigo Testamento, uma mulher casada que não conseguia ter filhos, sabendo que quem dá a vida é o Espírito, ia ao tabernáculo ou ao templo. Lá, ou ela orava ou o sacerdote pedia a Deus que abrisse o seu ventre. Bem, uma mulher assim conhecia as realidades básicas da vida como nós também, mesmo não tendo um conhecimento científico do processo de gestação como nós hoje. Mesmo para nós ainda é um mistério da natureza que um espermatozóide possa penetrar num óvulo e iniciar urna nova vida. Esta é simplesmente urna maneira médica ou biológica para descrever o toque da mão de Deus na criação de uma nova vida.
Ana é urna ilustração clássica para isto. Ela foi para o tabernáculo para orar por um filho. O sumo sacerdote Eli a princípio pensou que ela estivesse bêbada, mas ela lhe disse que era uma mulher atribulada que tinha derramado seu coração diante do Senhor. Eli respondeu: "Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste" (I Sam. 1:17). Mais tarde ela deu à luz ao profeta Samuel. Apesar de o Espírito não ser mencionado na história, a nossa compreensão das suas funções, de acordo com o Salmo 104 (e Jó 33:4) nos mostra que cabia ao Espírito de Deus conceder vida.
O Salmo 104:30 diz mais do que isto, que devermos nossa criação ao Espírito. Ele também renova a face da terra. Deus alimento o que cria.
Os crentes do Antigo Testamento tinham a convicção, e com razão, de que Deus tinha algo a ver com plantação e colheita. Uma boa colheita era atribuída a Ele. "Fazes crescer a relva para os animais, e as plantas para o serviço do homem, de sorte que da terra tire o seu pão" (Salmo 104.14). Em Deuteronômio 28 são relacionadas as condições para bênção ou maldição da terra prometida. Se Israel obedecesse a Deus, tinha a promessa: "Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra", e "o Senhor te dará abundância . . . no fruto do teu solo" (Deut. 28:4, 11). A Festa das Primícias que Israel comemorava reconhecia formalmente que Deus era responsável pela abundância. Hoje, curvando nossas cabeças à mesa para agradecer a Deus pelos alimentos, continuamos reconhecendo Deus como Aquele que nos sustenta.
Todavia, Deus abençoa e amaldiçoa, liberta e castiga. Diversas vezes o Antigo Testamento atribui a salvação de Israel ao Espírito de Deus. Ele agiu nas pessoas antes do dilúvio (Gên. 6:3). Eu creio que Ele está agindo nas pessoas hoje exatamente corno antes do dilúvio. Jesus disse: "Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem" (Lucas 17:26). As mesmas perversões doentias, a mesma decadência e corrupção moral predominam hoje em dia. O Espírito Santo está agindo poderosamente, mas a grande maioria da raça humana não quer ouvir.
Depois, de tempo em tempo o Espírito Santo tomou posse de diversas pessoas para libertar o povo de Deus. Por exemplo somente no livro de Juízes Ele veia sobre Otniel (Juí. 13:10), Gideão (16:34), Jefté (11:29) e Sansão (13:25).
Há no Antigo Testamento três expressões principais para a atuação do Espírito Santo nas pessoas:
1) Ele vinha sobre alguém: "O Espírito de Deus se apoderou de Zacarias (2 Crôn. 24:20).
2) Ele repousava sobre alguém: "O Espírito repousou sobre eles" (Núm. 11:25).
3) Ele enchia alguém: "Eu o enchi do Espírito de Deus" (Êxodo 31:3).
O Espírito não só usou juízes e profetas para libertar Israel, mas também reis. Estes eram ungidos com óleo, símbolo de que eles estavam sendo revestidos com o poder do Espírito Santo, como podemos ver na unção de Davi por Samuel, em 1 Sam. 16:13: ". . . daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apossou de Davi."
No versículo seguinte nos deparamos com uma afirmação solene. No livro de Juizes geralmente o Espírito Se retirava depois de a pessoa escolhida concluir a sua obra. Aqui vemos que Ele poria retirar-se também quando esta pessoa desobedecia. l Sam. 16:14 diz isto de Saul, e comparando Juízes 14:19 com 16:14 vemos que aconteceu a mesma coisa a Sansão. No uso de Davi, vemos até em suas orações como ele se preocupava com a retirada do Espírito: "Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito." (Salmo 51:11).
A grande libertação que Deus providenciou, é claro, não veio com um rei ungido por homens, mas com o Messias, título que significa "Ungido". Isaías escreveu profeticamente que o Messias diria: "O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu" (Isa. 61:1). Jesus, lendo esta passagem 800 anos depois na sinagoga, disse: "Hoje Se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir" (Lucas 4:21).
Nem sempre é fácil separar o papel do Pai, do Filho e do Espírito Santo no Antigo Testamento. Mas sabemos que Jesus apareceu de tempo em tempo em "teofanias", que são aparições do nosso Senhor antes da sua encarnação. Sabemos também que o nome de Deus no Antigo Testamento pode estar Se referindo a diferentes pessoas da Trindade.
Em resumo, vimos que o Espírito Santo estava agindo antes de o mundo começar. Depois Ele renovava e alimentava Sua criação. Estava ativo em todo o Antigo Testamento, tanto na natureza como no meio do Seu povo, guiando-o e libertando-o através de juízes, profetas, reis e outras pessoas. E falou daquele dia em que viria o Ungido.

A Atuação do Espírito de Belém até Pentecostes

Durante o período de tempo abrangido pelos quatro evangelhos a atuação do Espírito Santo estava centralizada na pessoa de Jesus Cristo. O Homem-Deus foi concebido pelo Espírito (Lucas 1:35), batizado pelo Espírito (João 1:32, 33), guiado pelo Espírito (Lucas 4:1), ungido pelo Espírito (Lucas 4:18; Atos10:38), revestido com poder pelo Espírito (Mat. 12:27, 28). Ofereceu a Si mesmo como expiação pelo pecado, pelo Espírito (Heb. 9:14), foi ressuscitado pelo Espírito (Rom. 8:11) e deu mandamentos por intermédio do Espírito (Atos 1:2).
Sem sombra de dúvida uma das passagens bíblicas que inspiram mais admiração é a que relata o que o anjo disse a Maria: "Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:35). Pessoas excessivamente céticas e outras com uma visão muito limitada da ciência zombarão em total descrença, mas o anjo desfez qualquer dúvida quando disse: "Porque para Deus nada é impossível" (Lucas1:37, BJ).
Para os cristãos qualquer sugestão de que Deus Espírito Santo não seria capaz de concretizar o nascimento virginal é absurda. Se crermos que Deus é Deus – e que Ele governa Seu universo – não há nada difícil demais para Seu poder ilimitado. E Deus sempre faz o que quer. Quando planejou o nascimento do Messias, fez um milagre. Pulou um degrau na seqüência fisiológica normal da concepção: nenhum ser humano masculino participou. A vida formada no ventre da virgem não era outra que a vida de Deus Filho encarnada em um corpo humano. O nascimento virginal foi um milagre tão extraordinário, que era óbvio que Deus estava operando a encarnação, e não o homem. Há hoje em dia alguns assim chamados teólogos que negam a encarnação – rejeitam a divindade de Jesus Cristo. Com isto estão muito perto de blasfemarem contra o Espírito Santo!
O Espírito Santo também estava agindo nos discípulos de Jesus antes do Pentecostes. Sabemos isto porque Jesus disse deles: "Ele (o Espírito Santo) habita convosco" (João 14:17). Jesus também disse a Nicodemos: "Quem não nascer da água e da Espírito, não pode entrar no reino de Deus" (João 3:5). Logo depois repetiu: "Importa-vos nascer de nova" (João 3:7).
No entanto, a atuação do Espírito nos homens no tempo de Jesus era diferente da Sua atuação hoje. Em João 7:39 o apóstolo João nos diz das palavras de Jesus: "Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até este momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado."
A Bíblia não revela claramente qual era a diferença. Mas sabemos que a vinda do Espírito no dia de Pentecostes foi algo muito mais extasiante que qualquer outra experiência anterior que eles tinham tido. De qualquer forma, vimos que o Espírito Santo estava atuando de diversas maneiras no nascimento e na vida do nosso Senhor Jesus Cristo e nas vidas e no ministério dos Seus discípulos.

A Atuação do Espírito de Pentecostes até Hoje

Em Atos Lucas relata a ascensão de Jesus ao céu (Atos 1:9-11). No capítulo 2 ele destaca a descida do Espírito Santo à terra (Atos 2:1-4). Jesus tinha dito: "Se eu não for, o Consolador (Espírito Santo) não virá para vós outros; se, porém eu for, eu vo-lo enviarei" (João 16:7). Foi em cumprimento desta promessa que Pedro disse a respeito do Cristo glorificado: "Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis" (Atos 2:33).
Há muitos anos um famoso explorador do Ártico partiu com uma expedição para o Polo Norte. Depois de caminhar dois anos por aquela região desolada ele escreveu uma curta mensagem, amarrou-a no pé de um pombo-correio, e preparou-se para soltá-lo, para que fizesse a longa viagem de mais de três mil quilômetros até a Noruega. O explorador olhou para a solidão ao Seu redor. Nenhum ser vivo, até onde seus olhos podiam alcançar. Nada além de gelo, neve e um frio incrível. Segurou a ave trêmula em suas mãos por alguns instantes e depois soltou-a na atmosfera gelada. O pombo deu três voltas, e depois partiu em direção ao Sul, sobrevoando centenas de quilômetros de gelo e mar, até descer junto à esposa do explorador. Com a chegada do pombo-correio, esta sabia que estava tudo bem com seu marido na longa noite do Ártico.
Da mesma forma a vinda do Espírito Santo, a Pomba Celeste, provou aos discípulos que Cristo tinha entrado no santuário celestial. Tinha se assentado à direita de Deus Pai, porque Sua obra redentora estava concluída. A chegada do Espírito Santo cumpriu a promessa que Cristo tinha feito; também testemunhou que a justiça de Deus tinha sido feita. Tinha-se iniciado a era do Espírito Santo, que não podia começar antes que Cristo fosse glorificado.
Sem dúvida a vinda do Espírito Santo em Pentecostes marcou uma mudança crucial na maneira de Deus se relacionar com a raça humana. É um dos cinco acontecimentos passados, todos eles componentes básicos do evangelho cristão: a encarnação, a redenção, a ressurreição, a ascensão e Pentecostes. O sexto componente ainda está para ser realizado: a Segunda Vinda de Jesus.
O primeiro acontecimento básico, a encarnação, marcou a entrada redentora de Deus na vida humana, como verdadeiro homem. O segundo acontecimento foi a maneira de Deus permanecer justo e mesmo assim justificar homens culpados – a redenção. O terceiro, a ressurreição, demonstrou que os três grandes inimigos do ser humano – a morte, Satanás e o inferno tinham recebido o golpe de misericórdia. O quarto – a ascensão – mostrou que o Pai tinha aceito a obra redentora do Filho, e que as exigências da Sua justiça tinham sido cumpridas. O quinto evento, o Pentecostes, nos assegura que o Espírito de Deus veio para realizar Seus propósitos no mundo, na Igreja e no crente individual!
O calendário judaico estava orientado em diversas festas durante o ano. As três mais importantes eram as em que todos do sexo masculino deveriam comparecer perante o Senhor (Deut. 16:16). Estas três festas eram a Páscoa, o Festa dos Tabernáculos e Pentecostes.
"A Festa da Páscoa" comemorava o dia em que os israelitas foram libertados milagrosamente de um longo período de escravidão no Egito. Depois de matarem um cordeiro "sem defeito" (Êxodo 12:5) os israelitas passaram o sangue nas portas de todas as suas casas, e assaram e comeram os cordeiros. O sangue do cordeiro livrou-os do julgamento de Deus. A páscoa do Antigo Testamento teve Seu cumprimento final na marte de Cristo no Calvário, "pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado" (1 Cor. 5:7). O livro aos Hebreus nos ensina que devido a isto não há mais necessidade de sacrificar o sangue de novilhos e bodes. Jesus Cristo, de uma vez por todas, ofereceu a Si mesmo pela salvação de todos os homens, derramando Seu sangue.
"A Festa dos Tabernáculos" (a palavra que nós usaríamos hoje seria "cabana" ou "tenda") lembrava Israel dos dias do êxodo do Egito, quando as pessoas não viviam em casas mas em cabanas feitas de ramos de árvores. A festa era celebrada depois da colheita, por isso é chamada de "Festa da Colheita" em Êxodo 23:16. Talvez a comemoração da libertação do Egito tenha sido cumprida na libertação e bênção muito mais ampla que veio com a redenção em Cristo. João 7:38 sugere que a vinda do Espírito Santo mata mais a sede que a água no deserto e a chuva necessária para a colheita.
Pentecostes ficou conhecida como "A Festa das Semanas", porque era comemorada no dia seguinte ao sétimo sábado depois da Páscoa – uma semana de semanas. Como isto perfaz 50 dias, o nome passou a ser "Pentecostes", a palavra grega para "qüinquagésimo". A Festa de Pentecostes era celebrada no início da colheita; em Números 28:26 é chamada de "dia das primícias (primeiros frutos)". E é verdade que o dia de Pentecostes, quando veio o Espírito Santo, no Novo Testamento, foi um dia de "primeiros frutos" o início da colheita de Deus neste mundo, que será completada quando Cristo vier de novo. Pentecostes no Novo Testamento marcou o início da presente era do Espírito santo. Os crentes estão sob Sua direção assim como os discípulos eram guiados por Jesus. Jesus ainda exerce Seu senhorio sobre nós do céu, mas como Ele não pode estar conosco fisicamente, Ele transmite Suas instruções através do Espírito Santo, que faz Cristo ser uma realidade em nós. Desde Pentecostes o Espírito Santo é o elo de ligação entre a primeira e a Segunda Vinda de Jesus. Ele aplica a obra de Jesus Cristo aos homens da nossa época, como veremos nas próximas páginas.
Pouco depois de me tornar cristão, quando comecei a pesquisar sobre o Espírito Santo, uma das primeiras perguntas que eu me fiz foi esta: Por que o Espírito Santo teve de vir? Não demorei a achar a resposta. Ele veio porque tinha uma obra a fazer no mundo, na Igreja e no cristão individual, como descobriremos juntos agora.

A Presente Obra do Espírito Santo no Mundo

A obra do Espírito no mundo é dupla. Em primeiro lugar, Ele veio para convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo (João 16:7-11). A Bíblia ensina, todos nós sabemos isto de experiência própria, que todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus (Rom. 3:23, BLH). Um pecador não pode herdar a vida eterna. Todos que nasceram neste mundo revivem a queda de Adão. Todos nascem com a semente do pecado dentro de si, e ao chegarem à idade responsável não tardam a ser culpados de multidão de pecados. Há diferença entre pecado e pecados. O pecado é a raiz, os pecados são os frutos.
Pode ser que alguém não esteja consciente de que seu maior problema é o pecado, ou que o pecado o separou da comunhão com Deus. Por isso é tarefa do Espírito Santo perturbá-lo e convencê-lo do seu pecado. Ele não pode experimentar a salvação sem que isto aconteça. Nas concentrações das nossas cruzadas eu tenho visto pessoas erguerem seu punho para mim enquanto eu pregava. Eles não estavam hostilizando a mim, tenho certeza, mas o Espírito Santo os tinha convencido. Muitas vezes estas pessoas depois vêm para aceitar a Cristo.
O Espírito Santo não só convence de pecado, Ele convence as pessoas também que Jesus é a justiça de Deus. Ele mostra aos pecadores que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, e que ninguém vem ao Pai a não ser por Ele.
O Espírito Santo também convence o mundo do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado, e todos os que recusarem a oferta de vida eterna que Deus faz também serão julgados. Quando o apóstolo Paulo falando do que Cristo tinha feita em sua vida, diante de Agripa, disse que na estrada para Damasco, na hora da sua conversão, Deus lhe tinha revelado o tipo do seu ministério. Seria entre os gentios, para "lhes abrir os olhos a fim de que se convertam das trevas à luz, e do poder de Satanás a Deus, para que recebam remissão de pecados..." (Atos 26:18, IBB).
No momento em que Jesus Cristo morreu na cruz Satanás sofreu uma derrota catastrófica. Pode ser que a derrota não seja evidente, quando lemos os jornais e ligamos a televisão, mas Satanás é um inimigo vencido em princípio. Ele ainda arrisca sua guerra de pecado, mas sua destruição total e afastamento da terra estão próximos. Até lá ele vai intensificar suas atividades. Cristãos em todo o mundo podem notar que há novos demônios agindo. Perversões, permissividade, violência e centenas de outras tendências sinistras se manifestam em todo o mundo com uma intensidade que houve provavelmente só nos dias de Noé. O Espírito santo veio para nas mostrar estas coisas, porque Ele tem muito a ver com as profecias bíblicas, como veremos mais tarde.
O ministério do Espírito Santo no mundo não se limita a convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo. Seu segundo objetivo no mundo é impedir o crescimento da iniqüidade, ou seja, engajar-se no ministério de preservação. O apóstolo Paulo disse: "Com efeito o mistério da iniqüidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém" (2 Tess. 2:7). A Escritura deixa claro que este planeta já seria literalmente um inferno na terra se a Espírito Santo não estivesse presente no mundo. O mundo descrente mal sabe o quanto deve ao poder controlador do Espírito Santo.
Conversei recentemente com diversos teólogos, na Europa e nos EUA, que são da opinião de que o Espírito Santo está sendo retirado lentamente do mundo, à medida que entramos no que pode ser os momentos culminantes do fim desta época. Quando tiver ido totalmente "o diabo estará à solta". Haverá guerras, violência, revoluções, perversões, ódio, medo – no mundo hoje em dia temos só uma amostra do que vai acontecer. A raça humana se encontrará num inferno que ela mesma criou. Livre do que o detém o Espírito Santo – o Anticristo reinará com poderes supremos por um curta período de tempo, até ser esmagado pela vinda do Senhor Jesus Cristo com Seus exércitos!
O Espírito Santo também age através do povo de Deus, que é chamado por Jesus no sermão do Monte de sal da terra e luz do mundo (Mat. 5:13,14). Estas figuras cabem muito bem, porque o sal e a luz da forças que agem em silêncio, discretamente, mas com grande eficiência. O sal e a luz falam da influência para o bem que os cristãos podem exercer na sociedade. Nós que somos crentes às vezes temos dificuldade para compreender que influência nós, uma minoria, divididos e às vezes desobedientes, podemos ter. Mas pelo poder do Espírito nós podemos reter o mal e fazer o bem!
Aplicando mais estas metáforas, sabemos que o sal e a luz são essenciais em casa: a luz dissipa a escuridão, e o sal conserva os alimentos. A Bíblia nos diz que o mundo estará cada vez mais em trevas, quanto mais perto do fim. O mundo não tem luz própria – e está em acelerado processo de decadência. Jesus nos ensinou que nós, Seus seguidores, poucos e fracos, somos o sal que pode retardar o processo de declínio. Cristãos ativos no mundo são a única verdadeira luz espiritual no meio de grande escuridão espiritual. Se estudarmos os profetas do Antigo Testamento, descobriremos que uma parte do julgamento dos condenados é a destruição dos justos.
Isto coloca uma responsabilidade enorme sobre os nossos ombros. O mundo só vê urna luz brilhando quando olha para as nossas boas obras. O mundo só nota o sal quando sente a nossa presença moral. Foi por causa disto que Jesus advertiu sobre o sal que perde o seu sabor e a luz que fica obscura. Ele disse: "Brilhe a vossa luz" (Mat. 5:16). Se você e eu cumpríssemos fielmente o nosso papel, haveria uma revolução dramática mas pacifica no mundo, da noite para o dia. Os cristãos não estão sem poder. Temos à nossa disposição, através do Deus Espírito Santo, o ilimitado poder de Deus, já neste mundo.

A Atuação do Espírito Santo na Igreja

O Espírito Santo age não só no mundo, mas também na Igreja. Quando eu falo de Igreja, não estou falando da Igreja Presbiteriana, Batista, Metodista, Anglicana, Luterana, Pentecostal ou Católica, mas de todos os crentes. A palavra "Igreja" vem de uma palavra no grego que significa "os que foram reunidas".
A Igreja estava coberta de mistério no Antigo Testamento, mas mesmo assim Isaías proclamou: "Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que ponho em Sião como alicerce uma pedra, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, de firme fundamento" (Isa. 28:16, IBB). O Novo Testamento diz que Cristo é este "firme fundamento" da Sua Igreja, e que todos os crentes são pequenas pedras edificadas formando o santo templo do Senhor (1 Pedro 2:51. Cristo também é a cabeça do Seu corpo, a Igreja universal. E é a cabeça de cada congregação de crentes local. Cada pessoa que se arrependeu de seu pecado e recebeu a Cristo como Salvador e Senhor faz parte deste corpo chamado de Igreja. Por isso a Igreja é mais que uma organização religiosa. É um corpo vivo, com Cristo como cabeça, vivo porque a vida de Cristo deu vida a todos que creram.

Qual é o papel do Espírito Santo neste quadro?
Em primeiro lugar a Bíblia nos diz numa sentença muito bonita que foi Ele que deu início à Igreja: "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nó foi dado beber de um só Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos" (1 Cor. 12:13,14).

Em segundo lugar, pelo Espírito Deus vive na Igreja. "Assim também vocês, em união com Cristo, são construídos, junto com os outros, para se tornarem uma casa, casa onde Deus vive por meio do Seu Espírito" (Efés. 2:22, BLH). Hoje em dia Deus não vive em templos feitos por mãos humanas. Mas Se reconhecermos que Deus está mesmo, pessoalmente, em nosso meio quando estamos reunidos na igreja, nossa adoração será mais profunda.
É preciso esclarecer uma questão sobre o relacionamento entre o Espírito Santo e Jesus. A Escritura fala de "Cristo em nós", e alguns cristãos não compreendem completamente o que isto significa. Jesus, Homem-Deus, tem agora um corpo glorificado. Onde quer que Ele esteja, Seu corpo tem de estar também. Neste sentido Jesus está agora à direita do Pai, no céu, em sua função como Segunda pessoa da Trindade.
Vejamos, por exemplo, Romanos 8:10: "Se Cristo está em vós, o corpo está morto por causa do pecado." E Gálatas 2:20: "Cristo vive em mim". Nestes versículos está claro que se o Espírito está em nós, Cristo está em nós. Cristo mora em nossos corações pela fé. Mas na verdade o Espírito Santo é a pessoa da Trindade que mora em nós; foi enviado pelo Filho, que partiu mas voltará pessoalmente, quando nossos olhos físicos O verão.
Os crentes são de fato a casa onde mora o Espírito. Mas, infelizmente, muitas vezes lhes falta o fruto do Espírito. Precisam ser avivados, receber nova vida. Quem me fez ver isto com toda a clareza foi o bispo Festo Kivengere. Em um artigo sobre reavivamentos de grande alcance que percorreram a África Oriental, ele disse: "Quero contar-lhes ... da gloriosa atuação do Espírito Santo, trazendo vida nova a uma igreja morta... Podem chamá-lo de reavivamento, regeneração ou o que quiserem ... O Senhor Jesus, ressurreto em poder, começou, através do poder do Espírito Santo, a visitar uma igreja que estava dispersa como ossos ... Isto pode soar surpreendente para alguns de vocês, mas vocês podem ser evangélicos e secos mesmo assim. E então veio Jesus Cristo. ... O grande poder que nos atraiu veio pela simples apresentação do Novo Testamento, e o Espírito Santo tirou homens e mulheres do seu isolamento e nos trouxe para o centro, a cruz. O tema do reavivamento da África Oriental foi a cruz, e nós precisávamos dela. ... O Espírito Santo arrancou homens e mulheres do seu isolamento, e nos transformou. Sob o olhar penetrante do amor de Deus pecados eram pecados, e os corações foram quebramados."2
Eu tenho, por exemplo, um amigo na Flórida que é pastor. Ele obteve seus vários títulos em uma das mais famosas universidades do Leste dos EUA. Pastoreou uma igreja na Nova Inglaterra. Por causa do seu conhecimento vasto ele se tornou quase um "agnóstico", apesar de ainda crer, lá no fundo do seu coração. Ele me disse que viu sua igreja diminuir cada vez mais. Não havia autoridade ou poder em seu ministério. Depois de uma série de acontecimentos ele aceitou a Bíblia como a infalível Palavra de Deus. Começou a viver e a pregar com poder. O fruto do Espírito se mostrou em sua vida, e o poder em seu ministério. Sua igreja desabrochou como uma rosa. As pessoas vinham de todos os lugares para ouvi-lo pregar.

Em terceiro lugar o Espírito Santo concede dons a pessoas específicas na Igreja. "Para o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do Seu Serviço, para a deificação do corpo de Cristo" (Efés. 4:12). Já que estudaremos estes dons em próximos capítulos, é suficiente dizer aqui que o Espírito Santo dá a cada cristão um dom, no momento em que este recebe a Cristo. Nenhum cristão pare dizer: "Eu não tenho nenhum dom." Cada um tem pelo menos um dom do Espírito. Uma das fraquezas das igrejas de nossos dias é não reconhecer, desenvolver e usar os dons que Deus deu às pessoas nos bancos.
Eu tenho um amigo que é pastor na costa ocidental dos EUA. Certo domingo ele distribuiu pedaços de papel em branco às pessoas que vieram ao culto, dizendo: "Eu quero que vocês estudem, pensem e orem durante uma semana sobre que dom vocês têm do Espírito Santo. Escrevam-no neste papel, e devolvam-no domingo que vem." No domingo seguinte foram recolhidos 400 pedaços de papel. Em alguns estava escrito só um dom, em outros dois ou três, e alguns tinham escrito que não tinham certeza sobre qual seria o seu dom. Mas o resultado foi que toda a congregação foi posta em movimento. Todos os dons foram sendo colocados em prática. A igreja começou a crescer, e os membros foram revitalizados espiritualmente. Até aquele dia os membros estavam esperando que a pastor tivesse todos os dons e fizesse todo o trabalho. Eles eram simples espectadores. Agora tinham compreendido que eles tinham tanta responsabilidade de usar os dons como o pastor tinha de usar os dele.

A Atuação do Espírito Santo na Vida do Crente

Depois de considerar a atuação do Espírito Santo no mundo e na igreja, temos de considerar agora cada crente.

Em primeiro lugar, o Espírito Santo ilumina a mente do cristão: "Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus" (l Cor. 2:10); "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente" (Rom. 12:2, IBB); "... e vos renoveis no espírito do vosso entendimento" (Efés. 4:23).
John R. W. Stott diz em um pequem livro que sublinha a importância de deixar Deus desenvolver e usar as nossas mentes convertidas: "Ninguém quer um cristianismo frio, intelectual, sem alegria. Isto, porém, significa que devamos evitar o "intelectualismo" a todo custo? ... Que as céus não permitam que conhecimento sem zelo substituam zelo sem conhecimento! Ambos fazem parte do propósito de Deus: zelo dirigido pelo conhecimento, conhecimento animada pela zelo. Uma vez ouvi Dr. John MacKay, naquele tempo diretor do Seminário Princeton, dizer: 'Entrega sem reflexão é fanatismo em ação. Mas reflexão sem entrega é a paralisia de qualquer ação.' "3
Dr. Stott enfatiza como os que dizem que o que importa no fim "não é doutrina, mas experiência" estão errados: " Isto é a mesma coisa que colocar a nossa experiência subjetiva acima da verdade de Deus revelada."4 É tarefa do Espírito Santo tirar o véu que Satanás pôs sobre as nossas mentes, e iluminá-las para que possamos entender as coisas de Deus. Ele faz isto especialmente quando lemos a Palavra de Deus, que o Espírito Santo inspirou.
Em segundo lugar, o Espírito Santo, além de iluminar a mente do cristão, também mora em seu corpo. "Vocês não sabem que o corpo é o templo do Espírito santo que vive em vocês e foi dado por Deus? Vocês não pertencem a vocês mesmos" (1 Cor. 6:19, BLH).
Se nós compreendêssemos que o próprio Deus, na pessoa do Espírito Santo, realmente mora em nossos corpos, teríamos mais cuidado com o que comemos, bebemos, olhamos ou lemos. Não é de se admirar que Paulo tenha dão: "Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tenda pregado a outros, não venha eu mesmo a Ser desqualificado" (1 Cor. 9:27). Paulo disciplinava o seu corpo, para não cair no desagrado de Deus. Isto deveria nos colocar de joelhos para confessar.
Não preciso estender-me sobre como o Espírito Santo age na vida dos crentes. Por exemplo: Ele os conforta (Atos 9:31), Ele os guia (João 16:13). Ele os santifica (Rom. 15:16), Ele diz aos Seus servos o que devem pregar (1 Cor. 2:13), Ele diz a missionários para onde devem ir (Atos 13:2), Ele nos ajuda em nossas fraquezas (Rom. 8:26), e Ele até diz aos cremes onde eles não devem ir (Atos 16:6, 7).

Resumindo em poucas palavras, a atuação do Espírito Santo entre os homens nos três períodos da história humana pode ser definida com três palavras: "sobre" "com" e "em".
§ No Antigo Testamento Ele veio sobre algumas pessoas à Sua escolha, permanecendo por um tempo determinado (Juízes 14:19).
§ Os evangelhos mostram como Ele mora com os discípulos, na pessoa de Cristo (João 14:17).
§ Do segundo capítulo de Atos em diante a Bíblia diz que Ele está no povo de Deus (1 Cor. 6:19).


















O ESPÍRITO SANTO E A BÍBLIA

"Certa vez um homem trouxe seu Novo Testamento, gasto pelo uso, para uma encadernadora, para que fosse novamente encadernado, com fino couro de Marrocos, onde deveria ser escrito com letras douradas no canto inferior esquerdo: The New Testament (O Novo Testamento).
Voltando no dia marcado, ele recebeu seu Novo Testamento com uma linda roupagem nova. Mas tinha um senão: o encadernador não tivera letras minúsculas suficientes pera imprimir todas as palavras no canto do livro, e as tinha abreviado: T.N.T. – Não tem problema? – perguntou.
– Não, está ótimo assim! Isto aqui é mesmo a dinamite de Deus!1

O apóstolo Paulo diz no Novo Testamento que toda Escritura vem de Deus: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2 Tim. 3:16). A palavra grega traduzida como "inspirada" significa literalmente "soprada por Deus". Da mesma forma como Deus soprou nas narinas do homem a vida, fazendo dele um ser vivo, assim Ele sopra vida e sabedoria para dentro da Palavra escrita de Deus. Ele faz da Bíblia o livro mais importante do mundo, especialmente para todos que acreditam em Cristo. A Bíblia é fonte constante de fé, conduta, inspiração, da qual bebemos diariamente.

O Espírito Santo Inspirou a Escritura

Há centenas de passagens bíblicas que indicam, direta ou indiretamente, que o Espírito Santo inspirou os autores da Bíblia. Não sabemos com exatidão como Ele imprimiu Sua mensagem nas mentes dos que escolheu para escrever Sua Palavra, mas sabemos como Ele os dirigiu para que escrevessem o que Ele queria. "Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1:21).
Parece que cada livro da Bíblia surgiu de uma necessidade específica da época. Só que além de satisfazer uma necessidade local, Deus estava também olhando para o futuro mais distante. Ele fez com que a Bíblia servisse a todas as pessoas, em todas as épocas. Por isso os autores bíblicos escreviam às vezes sobre acontecimentos futuros que não entendiam muito bem, que discerniam só difusamente. Talvez Isaías não tenha compreendido muito bem o capítulo 53 de seu livro, dando detalhes do sofrimento de Jesus Cristo setecentos anos antes de Ele nascer. "Foi a respeito dessa salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando atentamente qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo, e sobre as glórias que os seguiriam" (1 Pedro 1:10, 11).

Através tanto do Antigo como do Novo Testamentos encontramos referências freqüentes ao Espírito de Deus, inspirando os que escreviam as Escrituras.
A Bíblia ensina, por exemplo, que o Espírito falou através de DAVI, que escreveu muitos dos Salmos: "O Espírito do Senhor fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua" (2 Sam. 23:2).
Ele falou também através do grande profeta JEREMIAS: "Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as Suas iniqüidades, e dos Seus pecados jamais me lembrarei" (Jer. 31:33, 34).
EZEQUIEL disse: "Então entrou em mim o Espírito, e me pôs em pé, falou comigo e me disse: Vai, encerra-te dentro da tua casa" (Ezeq. 3:24).
O apóstolo PEDRO falou de "todas as coisas, de que Deu falou por boca dos seus santos profetas desde a antigüidade" (Atos 3:21).
O livro aos HEBREUS cita a Lei (Heb. 9:6-8), os Profetas (Heb. 10:15-17) e os Salmos (Heb. 3:7-10), atribuindo a cada um destes grupos de livros a autora do Espírito Santo.

JESUS assegurou aos Seus discípulos de antemão que o Espírito Santo inspiraria os autores do Novo Testamento: "O Espírito Santo... vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito" (João 14:26). Isto abrange os quatro evangelhos, de Mateus a João. A afirmação de Jesus: "Ele vos guiará a toda a verdade" (João 16:13) se refere aos livros de Atos até Judas. "Vos anunciará as coisas que hão de vir" (João 16:13) inclui o Apocalipse e muitas outras passagens em todo o Novo Testamento. De forma que, como disse alguém, o Espírito de Deus literalmente habita na Escritura.
O Espírito Santo não só inspirou os autores das Escrituras, mas também esteve por trás da solução dos 66 livros que o cânon da Bíblia compreende. Os livros que foram incluídos na Bíblia, ao contrário do que muitos pensam, não foram escolhidos simplesmente por homens, em algum concílio eclesiástico. O Espírito Santo agiu através de crentes cheios dEle, que selecionaram os 66 livros que temos em nossas Bíblias. Depois de anos, e até séculos, de discussão, oração, procura sincera, o cânon foi fechado. O Espírito Santo, enquanto atuava, não passou por cima dos processos humanos de seleção, mas agiu por meio deles.

Definindo "Inspiração pelo Espírito"

Quando falamos da inspiração da Bíblia, nos depararmos imediatamente com uma das questões mais controvertidas de todas as épocas. Desde que Satanás pôs Eva em dúvida, no Jardim do Éden, perguntando: "É assim que Deus disse.. .?" os homens têm atacado a Palavra de Deus. Mas sempre que duvidaram dela, no decurso da História, sofreram tristes conseqüências na vida pessoal, na nação (o Israel antigo) ou da Igreja. Sem exceção, as pessoas, a nação e a Igreja entravam em declínio espiritual, seguido muitas vezes de idolatria e imoralidade.
Estudiosos competentes concordam que o Espírito Santo não usou os autores bíblicos como meros secretários, aos quais Ele ditou as Escrituras, apesar de alguns crentes sinceros acreditarem que Ele o fez. A Bíblia não dá detalhes de como o Espírito Santo alcançou Seu objetivo: fazer com que a Bíblia fosse escrita. Sabemos, no entanto, que Ele usou mentes humanas e que guiou os pensamentos de acordo com Seus propósitos divinos. Além disto, para mim sempre foi claro que não poremos ter idéias inspiradas sem palavras inspiradas.
Seria de muita ajuda definir as palavras mais importantes relacionadas com Escritura soprada por Deus. A primeira é inspiração.
Quando falamos de inspiração total (ou plenária) da Bíblia, queremos dizer que toda a Bíblia foi inspirada, não só partes dela.

O Dr. B. H. Carroll, fundador do maior seminário teológico do mundo (Seminário Teológico Batista do Sudoeste, de Fort Worth, no Texas), falou e escreveu extensamente sabre este assunto:
"... a Bíblia é chamada de santa porque é infalível, theopneustos (soprada por Deus), produzida pelo Espírito Santo... Muitas pessoas dizem: 'Eu acho que a Palavra de Deus está na Bíblia, mas não acredito que toda a Bíblia seja Palavra de Deus; ela contém a Palavra de Deus, mas não é a Palavra de Deus'
"Minha objeção a esta afirmação é que seria necessário inspiração para dizer quais as passagens que são inspiradas. Exigiria uma inspiração mais difícil de ter do que a que eu estou falando, para virar as páginas da Bíblia e dizer o que é Palavra de Deus ...
"Em outras palavras, a inspiração da Escritura é plenária, ou seja, total e completa. E agora eu pergunto a você: 'Você acredita em uma inspiração plenária da Bíblia?' Se a inspiração é completa, tem de ser plenária.
Minha pergunta seguinte é: "Você acredita em uma inspiração plenário-verbal?' Eu acredito, pela simples razão de que as palavras são meros sinais de idéias, e eu não saberia como chegar à idéia se não através de palavras. Se as palavras não me disserem a idéia, como chegarei a ela? Às vezes a Palavra é pequena, talvez só uma letra ou um sinal ortográfico, palavras de uma letra só – a menor letra até – mostram a inspiração do Antigo Testamento. O homem que as pôs ali era inspirado.
"Analise as palavras de Jesus: 'Nem um i ou um til jamais passará da Lei'. O "i" é a menor letra do alfabeto hebraico, e o "til" é um pequeno acento. Jesus disse que os céus passarão, mas nem um i ou um til da Lei passarão. Com isto Ele está dizendo que nenhuma parte da Escritura perderá a validade. O que não perderá a validade? Tudo que tiver sido escrito e for theopneustos. E a Palavra não é inspirada se não for theopneustos, que significa soprada por Deus, inspirada por Deus.2

Poderíamos dizer muito mais sabre a completa confiabilidade da Bíblia. Só para ilustrar: A Bíblia usa centenas de vezes frases como "Diz o Senhor", "Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo", etc. Também é interessante que Jesus nunca disse que devêssemos duvidar das passagens difíceis do Antigo Testamento. Por exemplo: Ele aceitava como fato, não como ficção, as histórias de Jonas e do grande peixe, de Noé e da arca, da criação de Adão e Eva. Se estas histórias não fossem literalmente verdadeiras, com certeza Ele teria nos avisado disto. Mas sempre de novo Jesus (e os autores do Novo Testamento) citava as Escrituras como tendo autoridade e como verdadeira Palavra de Deus.
Sem dúvida a inspiração pelo Espírito Santo não se refere às muitas traduções em português, mas às línguas originais. Nenhuma língua moderna, seja português, inglês ou francês, tem equivalentes exatos para cada palavra grega ou hebraica. Não obstante, muitos estudiosos concordam que a maioria das traduções, com todas as suas variações, não alteram nem distorcem os ensinos teológicos básicos das Escrituras – principalmente os que tratam da salvação e da vida cristã.
Minha esposa possui mais de vinte traduções diferentes da Bíblia. Depois de comparar todas elas sobre alguma passagem da Escritura, ela pode ter certeza de que tem uma boa idéia do que o Espírito quis exatamente dizer.
Também é interessante que algumas palavras não puderam ser traduzidas para outras línguas, de modo que foi necessário mantê-las na língua original. A palavra grega para "batismo" não tinha equivalente em português, por isto tornou-se uma palavra da nossa língua. O Espírito Santo tomou providências para que a Bíblia não fosse um livro morto, mas um meio vivo que Ele pudesse usar como quisesse.
Há outra palavra que temos de abordar quando falamos sobre a Bíblia. A Bíblia não é só inspirada, mas é também autoritativa. Quando falamos em autoritativa, querermos dizer que ela é a revelação de Deus, exigindo de nós um posicionamento. Nós nos submetemos a ela porque ela veio de Deus. Digamos que alguém pergunte: Qual é a fonte do nosso conhecimento religioso? A resposta é: A Bíblia, e ela é autoritativa.
O Dr. R. W. Stott escreveu assim:
"Rejeitar a autoridade do Antigo ou do Novo Testamento é o mesmo que rejeitar a autoridade de Cristo. Principalmente porque estamos decididos a nos submeter à autoridade de Jesus Cristo como Senhor é que nos submetemos à autoridade da Escritura ... submeter-se à Escritura é fundamental para a vida diária do cristão, porque sem isto o discipulado, a integridade, a liberdade e o testemunho do cristão estarão seriamente prejudicados, se não totalmente destruídos."3
Sim, cada área das nossas vidas deve estar sob o Senhorio de Jesus Cristo. E isto significa que a luz da Palavra de Deus deve penetrar em cada canto da nossa existência. Não temos a liberdade de escolher e separar as passagens da Bíblia em que queremos acreditar ou obedecer. Deus a deu como um todo, e nós temos de obedecer a toda ela.
Agora que eu disse o que eu enteado por autoridade, inspiração e infalibilidade da Bíblia, tenho de responder ainda a uma pergunta. Com base em quê eu creio em tudo isto? Há várias razões para confiar na Bíblia como Palavra de Deus, mas é neste ponto que a atuação do Espírito Santo Se manifesta mais claramente. A verdade é que o Espírito Santo, que foi o autor das Escrituras usando personalidades humanas, também atua sobre cada um de nós, para nos convencer de que a Bíblia é a palavra de Deus, e que devemos confiar nela em tudo.
João Calvino, em suas Instituições da Religião Cristã, escreveu um parágrafo sobre a atuação do Espírito Santo que eu gosto muito:
"Por isso, o mesmo Espírito que falou pela boca dos profetas tem de entrar em nossos corações para nos convencer de que eles disseram fielmente o que lhes fora divinamente ordenado... Se ele não iluminasse as suas mentes, eles estariam vogando entre muitas dúvidas! ... Daí a certeza: Os que o Espírito ensinou interiormente se apoiam firmemente sobre a Escritura, que dá autoridade a si mesma, não sendo portanto direito sujeitá-la a provas e raciocínios. E a autoridade a que ela tem direito lhe é dada pela atuação do Espírito. Parque mesmo se ela granjeia reverência a si por sua própria majestade, só nos afeta seriamente quando selada sobre nosso coração pelo Espírito."
Calvino continua: "Por isso, iluminados por seu poder, cremos que a Escritura vem de Deus, e não por decisão de quem quer que seja; sem que a mente humana o possa compreender, afirmamos com absoluta certeza (como se estivéssemos olhando para a majestade do próprio Deus) que ela fluiu a nós da boca de Deus, através do ministério de homens. Não buscamos provas, nem indicações de autenticidade sobre as quais apoiar nossa decisão; submetemos a ela nossa opinião e nosso raciocínio, como a algo muito além de qualquer suposição! Fazemos isto não como pessoas acostumadas a opinar sobre alguma coisa desconhecida que, sob análise mais acurada, lhes desagrada, mas plenamente conscientes de que possuímos a verdade incontestàvel!"4

A Iluminação do Espírito

Que os autores do Antigo e do Novo Testamento foram inspirados pelo Espírito Santo é uma parte da história, apenas. Além disto, Ele ilumina as mentes e abre os corações dos leitores. Achamos as mais diversas reações espirituais à Palavra de Deus. Jeremias disse: "Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor, Deus dos Exércitos" (Jer. 15:16). Isaías disse: "Seca-se a erva e cai a sua flor, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente" (Isa. 40:8).
Jesus advertiu os saduceus de quase dois mil anos atrás de que havia muitos erros em seus ensinos porque não conheciam as Escrituras e o poder de Deus (Mat. 22:29). Isto relaciona as Escrituras com o poder do Espírito Santo, que opera transformações através da Bíblia. E João registra as palavras de Jesus: "A Escritura não pode falhar" (João 10:35). Jesus disse também: "Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado" (João 15:3).
Constatamos que o Espírito Santo, através da Bíblia, não só nos transmite verdades doutrinarias ou históricas, Ele também a usa como meio de falar aos nossos corações. É por isso que insisto com as pessoas que estudem as Escrituras - entendam ou não completamente o que estão lendo. A leitura da Escritura em si possibilita a iluminação do Espírito e sua atuação em nós. Enquanto lemos a Palavra, sua mensagem enche os nossos corações, estando nós conscientes disto ou não. A Palavra, com todo o seu poder misterioso, toca em nossas vidas e nos dá do Seu poder.
Podemos ver isto, por exemplo, na afirmação de Paulo: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparada para aqueles que o amam; mas Deus no-lo revelou pelo Espírito. .." (1 Cor. 2:9, 10).
Observe que Paulo não diz que Deus nos revela estas coisas por Sua Palavra (apesar de ser o lugar de as acharmos), mas Ele o faz pelo Espírito, através da Sua Palavra. "Nós não temos recebido o espírito deste mundo, mas o Espírito mandado por Deus, que nos faz entender tudo o que Deus nos tem dado" (1 Cor. 2:12, BLH).
O Rev. Gotttried Osei-Mensah, do Quênia, disse no Congresso de Evangelização de Lausanne em 1974: "Revelar verdades antes escoradas da busca e da compreensão humanas, iluminar as mentes das pessoas para que as conheçam e entendam (1 Cor. 2:9, 10) é obra do Espírito Santo." Se ensinar é função do Espírito, nossa obrigação é ser estudantes Sinceros da Palavra."5
Eu experimentei isto, estudando as Escrituras. Coisas que talvez eu já conhecesse intelectualmente há anos se tornaram vivas para mim em todo o seu significado espiritual quase milagrosamente. Enquanto estudava as Escrituras aprendi também que o Espírito deixa brilhar cada vez mais a luz da Palavra. Quase cada vez que eu leio uma passagem que me é familiar há muito tempo descubro alguma coisa nova. Isto acontece porque a Palavra escrita de Deus é Palavra viva. Eu sempre me aproximo das Escrituras com a oração do salmista: "Abre os meus olhos para que eu posa ver as verdades maravilhosas da tua lei" (Salmo 119:18, BLH).

A Unidade do Espírito e da Palavra

Existe uma unidade gloriosa entre o Espírito Santo e a Palavra de Deus. Pedro ilustrou isto no dia de Pentecostes, citando o Antigo Testamento: "O que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel" (Atos 2:16). Este "o que ocorre" se refere ao Espírito prometido. "o que foi dito" se refere à Palavra escrita. "O que ocorre é o que foi dito" mostra a unidade maravilhosa que existe entre o Espírito e a Pa lavra.
"Porque a palavra do rei tem autoridade suprema" (Ecles. 8:4), e "onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2 Cor. 3:17). Estas duas coisas – poder e liberdade – caracterizarão as afirmações de quem proclama a Palavra de Deus cheio do Espírito.
James Hervey fala da mudança que foi visível em Wesley quando passou a ser controlado pelo Espírito. Ele diz: "Antigamente a pregação de Wesley era como o disparo de uma flecha – toda a sua velocidade e força dependem da força do braço que retesa o arco; agora passou a ser como o disparo de um rifle – sua força estava no poder, precisando apenas de um leve toque do dedo para ser liberada."
Eu tenho certeza que a pregação para ser eficiente tem de ser bíblica. Pode ser a exposição de uma só palavra da Bíblia, de um parágrafo ou um capítulo. O Espírito usa a Palavra. Por isso, o mais importante é que a Palavra de Deus seja proclamada. Milhares de pastores, professores de escola dominical e obreiros cristãos não têm poder porque não usam a Palavra corno fonte para seu ensino e pregação. Quando pregamos ou ensinamos das Escrituras, abrimos a porta para que o Espírito Santo possa agir. Deus não prometeu abençoar eloqüência ou inteligência na pregação; prometeu abençoar Sua Palavra. Disse que ela não voltaria a Ele "vazia" (Isa. 55:11).
Também é a Palavra de Deus que muda nossas vidas. Lembre-se, Deus nos deu Sua Palavra para "o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça; a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra" (2 Tim. 3:16,17). Estas coisas estão acontecendo em nossas vidas? Estamos aprendendo a verdade de Deus? Jesus disse: "A tua palavra é a verdade" (João 17:17). Estamos sendo convencidos dos pecados em nossas vidas, da nossa necessidade de correção de Deus e justiça de Deus, ao lermos a Bíblia? A Bíblia diz: "Porque a Sua palavra é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas" (Heb. 4:12, 13). Deixe o estudo da Bíblia Se tornar central em Sua vida – você não só a conhecerá, mas lhe obedecerá. Diga como Jó: "Do mandamento de seus lábios nunca me apartei, escondi no meu íntimo as palavras da sua boca" (Jó 23:12).
George Müller (o grande fundador do Orfanato Bristol no século passado) disse certa vez: "O vigor da nossa vida espiritual estará na proporção exata do lugar que a Bíblia ocupar em nossa vida e em nossos pensamentos ... Eu li a Bíblia de capa a capa mais de cem vezes, cada vez com mais prazer. A cada leitura me parece ser um livro novo. A bênção de um estudo seguido, dedicado e diário tem sido muito grande. O dia me parece perdido quando não gastei um tempo proveitoso curvado sobre a Palavra de Deus."6

O Espírito Está Usando a Palavra Hoje

O Espírito tem poder para transformar e inspirar vidas também hoje, através da Bíblia. Trago aqui algumas situações em que Ele falou com pessoas recentemente:
Um ex-cirurgião-geral português estava voltando certo dia para casa, sob forte chuva. Chegando em casa, ele notou que um pedaço de papel tinha grudado em seu sapato. Tirando-o, viu que era um folheto, que apresentava o evangelho usando passagens bíblicas. Lendo-o, ele foi convertido a Jesus Cristo.
O Dr. J. B. Phillips escreve no prefácio às suas Cartas às Igrejas Novas que ele foi "continuamente enlevado pela qualidade viva do material" com que trabalhava; muitas vezes se sentir como "um eletricista trocando a instalação elétrica de uma casa velha sem poder desligar a chave geral"7
Muitos prisioneiros no "Hanói Hilton" durante a guerra do Vietnã foram gloriosamente sustentados pelo Espírito, através da Palavra de Deus. Estes homens falaram da força que receberam da Palavra de Deus.
Howard Rutledge, no seu livro Na Presença dos Meus Adversários, conta como os prisioneiros desenvolveram um sistema de código que o inimigo nunca foi capaz de desvendar. Através dele se comunicavam uns com os outros, dizendo seus nomes e números. Passavam também outras mensagens, inclusive versículos bíblicos que lembravam de cor.
Geoffrey Bull, missionário na fronteira do Tibete, disse em seu livro Quando Portões de Ferro se Abrem que durante seus três anos de prisão ele foi submetido a uma impiedosa lavagem cerebral, e teria sucumbido, se não fossem os versículos bíblicos que tinha decorado. Repetia-os sempre de novo para si quando estava na solitária, e através deles Deus lhe deu forças para enfrentar a tortura que deveria acabar com ele.
Escrevi até aqui principalmente de pessoas que estiveram presas ou em situações desesperadoras. Mas poderia dizer muito sobre o alimento e fortalecimento da fé que todos nó recebermos diariamente, estudando a Palavra de Deus, e a sabedoria com que ela nos equipa para a vida diária.
Lembro-me de Hebreus 11:32: "E que mais direi ainda? Certamente me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté..." Dezenas de milhares de santos e sofredores de Deus, em todos os tempos, viram suas noites escuras sendo iluminadas, suas almas torturadas fortalecidas, porque obtiveram ajuda do Espírito, na Palavra de Deus.
À medida que nos aproximamos do fim dos tempos, a perseguição se intensifica. Já vemos evidências disto em muitas partes do mundo. Os versículos que você memoriza agora e os ensinos da Palavra de Deus que você aprende agora o sustentarão naquela hora! – se você for chamado para sofrer fisicamente e intelectualmente por causa do nome de Cristo!





O ESPÍRITO SANTO E A SALVAÇÃO

Em uma das nossas cruzadas, em Londres, um barão russo veio a uma reunião noturna. Ele não falava inglês, mas quando foi feito o convite para aceitar a Cristo, ele veio à freme. O experiente conselheiro russo que foi falar com ele perguntou-lhe como tinha entendido o suficiente da mensagem para compreendê-la tão inteligentemente, sem saber falar inglês. O barão disse: "Quando entrei neste lugar, um profundo desejo de encontrar a Deus tornou conta do meu coração. Diga-me, como posso achá-Lo?
Esta é uma de centenas de histórias semelhantes que me aconteceram durante estes anos de ministério. Em nossas cruzadas temos conselheiros que falam diversas línguas. Por exemplo, em nossa última cruzada em Toronto tínhamos conselheiros capazes em 28 línguas. É impressionante que em quase cada evangelização há pessoas aceitando o "convite" que entendem muito pouco ou nada do idioma em que foi proferida a mensagem. Eu vejo nisto claramente a atuação do Espírito Santo, trazendo pessoas ao Salvador sem levar em conta a barreira da língua.
Quando alguém vem a Cristo, a Bíblia nos diz que o Espírito Santo esteve atuando das mais diversas maneiras. Talvez algumas destas fujam à nossa compreensão, mas isto não altera o fato de que o Espírito Santo está profundamente envolvido em nassa salvação. Neste capítulo abordaremos alguns dos meios que o Espírito Santo usa para nos trazer a Cristo.

O Novo Nascimento é indispensável

Nós vivemos em um mundo revolucionário, em constante mudança. A capacidade moral das pessoas está muito aquém do seu conhecimento tecnológico e das suas descobertas. Isto pode levar a raça humana a um desastre. À luz deste fato, a maior necessidade do mundo é conseguir transformar a natureza humana. Muitos cientistas estão dizendo que o mundo precisa urgentemente de uma nova geração de homens e mulheres, renovada. Mesmo políticos radicais e humanistas falam de "um novo homem". Isto evidencia que eles sabem que o ser humano não é suficientemente bom do jeito que está. E esperam pelo advento do novo ser humano que, dizem, surgirá quando a sociedade estiver mudada a um ponto tal que permita a sua formação.
Existe também alguns tecnocratas que acreditam em um avanço tão rápido da tecnologia que em breve estaremos em condições de criar uma raça humana totalmente nova. Temos engenheiros genéticos que acreditam serem capazes, antes do fim deste século, de criar qualquer tipo de pessoa que quiserem.
Mas isto é somente uma resposta para a necessidade de mudanças do ser humano. Ciência e tecnologia não podem mudar a natureza humana assim. Reestruturação econômica não pode mudar a natureza humana básica. Nenhum tipo de boa vontade ou raciocínio sincero pode mudar a natureza humana básica. somente Deus – Aquele que nos criou – pode nos recriar. E é precisamente isto que Ele faz quando nós nos damos a Jesus Cristo. A Bíblia diz: "E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Cor. 5:17). Que afirmação impressionante!
A Bíblia fala de diversas maneiras desta transformação. Um dos termos mais significativos é "nascer de novo". Da mesma forma que fomos nascidos fisicamente podemos nascer de novo – espiritualmente. "Pois fostes regenerados [nascidos de novo] não de semente corruptível [mortal], mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pedro 1:23).
Certamente, poucas passagens do Novo Testamento falam tão diretamente sobre o papel do Espírito Santo na nossa salvação como o terceiro capítulo de João. Nele João nos relata uma conversa que Jesus teve com um líder religioso muito influente chamado Nicodemos. Nicodemos era rico e fazia parte do sinédrio, o conselho de governo da nação judaica. Provavelmente jejuava diversas vezes por semana, e passava todos os dias algum tempo no templo em oração. Dava o dízimo do que ganhava e, ao que parece, era um mestre religioso de destaque, Em certos círculos hoje ele seria considerado um cristão exemplar. Mas Jesus lhe disse que tudo de bom que ele fazia não era suficiente. Jesus lhe disse: "Todos vocês precisem nascer de novo" (João 3:7, BLH).
Jesus continuou, explicando que este novo nascimento – esta regeneração espiritual – é efetuado pelo Espírito Santo. "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito" (João 3:8). Há um quê misterioso nisto; nós não podemos compreender como o novo nascimento acontece. Ele vem de cima, não da terra ou da nossa natureza humana, Vem por causa do amor e da graça de Deus. Vem por causa da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. Vem por musa da ação do Espírito Santo.
A Bíblia Aberta, em seu comentário sobre João 3, descreve nestes termos o encontro de Jesus com Nicodemos: "Que choque deve ter sido (para Nicodemos) ficar sabendo que sua religião não era suficiente! E nunca o é. Ele veio a Jesus, dirigindo-se a Ele como "um mestre vindo de Deus". Jesus conhecia Nicodemos, assim como conhece todas as pessoas (João 2:24, 25), e Jesus sabia que ele precisava mais que de um mestre, um professor – precisava de um Salvador. Precisava mais que de religião – precisava de regeneração. Precisava mais que de lei – precisava de vida. Jesus foi direto ao assunto: 'Todos vocês precisam nascer de novo." Nicodemos perguntou: "Como pode um homem nascer, sendo velho?" (foi muito natural Nicodemos ter feito esta pergunta.) E Jesus esclareceu a diferença entre os dois nascimentos: "O que é nascido da carne, é carne" (a carne nunca muda); e "o que é nascido do Espírito, é espírito" (o Espírito nunca muda) (João 3:6)."1
Jesus sabe o que está no coração de todas as pessoas – a doença fatal que causa mentiras, roubos, ódio, preconceitos, ganância, desejos imorais. Ele disse: "Do coração procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsas testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem" (Mat. 15:19, 20). Os psicólogos sabem que alguma coisa está errada com a raça humana, mas não são da mesma opinião quanto ao que é. A Bíblia diz que o problema da humanidade é resultado direto da sua decisão, como raça inteligente, moral e responsável, de se revoltar contra a vontade de Quem a criou. A Bíblia chama a doença do ser humano de P-E-C-A-D-O.
Pecado é desobediência à lei (I João 3:4). É deixar de fazer a nossa obrigação, não fazer o que sabemos que deveríamos fazer, do ponto de vista de Deus. É chamado de iniqüidade – desviar-se de um caminho reto. Isaías disse: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho" (Isa. 53:6). A Bíblia ensina que o pecador está "morto" em relação a Deus: "Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram" (Rom. 5:12). Por isso, uma mudança radical no interior do ser humano é indispensável. O homem não consegue realizar esta mudança, nem merecê-la. É uma mudança que a ciência não pode efetuar; é algo que somente Deus pode e deve fazer.

O Espírito Santo nos Convence e nos Chama

Um dos efeitos mais devastadores do pecado é que ele nos cegou para não o reconhecermos em nós mesmos. "O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus" (2 Cor. 4:4). Só o Espírito Santo pode abrir os nossos olhos. Só Ele pode nos convencer da profundidade do nosso pecado, e somente Ele pode nos convencer da veracidade do evangelho. Esta é uma das razões de o Espírito Santo ser chamado de "Espírito da verdade" em João 14:17. Jesus, falando do Espírito Santo, disse: "Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado" (João 16:8-11).
J. Gresham Machen escreveu: "A atuação misteriosa do Espírito de Deus é indispensável no novo nascimento. Sem isto, todos os nossos argumentos são inúteis... O Espírito Santo no novo nascimento não transforma uma pessoa num cristão passando por cima das evidências mas, pelo contrário, tira a neblina de diante dos seus olhos, para que ele possa ver as evidências."2
Temos de nos lembrar também que o Espírito Santo usa a verdade contida na Palavra de Deus para convencer nosso coração. A Bíblia nos diz: "A fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo" (Rom. 10:17). E em outro trecho: "A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao pomo de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Heb. 4:12). Deus Espírito Santo pode transformar a nossa mais humilde pregação e nossas mais covardes palavras sobre Cristo, por Seu poder, em palavra de persuasão na vida de outras pessoas.
Sem a atuação do Espírito Santo nunca veríamos com clareza a verdade divina sobre o nosso pecado, ou a respeito do nosso Salvador. Isto é o que eu acho que Jesus quis dizer em João 6:44: "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia."
A Bíblia nos faz urna advertência solene de não resistirmos ao chamado do Espírito Santo. Lemos em Gênesis 6:3: "O meu Espírito não agirá para sempre no homem." Sem a "ação" do Espírito Santo é impossível chegar a Cristo. Mas há o perigo de passarmos do último "retorno", e de nossos corações se tornarem tão insensíveis e endurecidos pelo pecado que não ouvimos mais a voz do Espírito.
Digo novamente que há muitas coisas que não entendemos completamente, e não cabe a nós dizer quando uma outra pessoa chegou a este ponto. Não poderia, aparentemente, haver homem mais endurecido que o rei Manassés, no Antigo Testamento, e mesmo assim ele no fim se arrependeu do seu pecado, e Deus em Sua graça o perdoou (2 Crôn. 33). Mas não devemos menosprezar a advertência que a Bíblia nos faz: "Esta é a hora de receber o socorro de Deus! Hoje é o dia de ser alvo!" (2 Cor. 6:2, BLH). O autor do livro de Provérbios diz: "O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz (teima em não se corrigir, BLH), será quebrantado de repente sem que haja cura" (Prov. 29:1).

O Espírito Santo nos Regenera

Junto com arrependimento e fé, o Espírito santo opera a regeneração do coração das pessoas. "Regeneração" é sinônimo de renovação ou novo nascimento. "Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo " (Tito 3:5). De fato a palavra grega traduzida por "regeneração" nesta passagem é composta de duas palavras: significa literalmente "nascimento de novo" ou novo nascimento.
Esta mudança é de uma vez por todas, e tem efeitos inevitáveis. Em João 3:3 a Bíblia fala de "nascer de novo". O pecador, antes de renascido, está morto em transgressões e pecados. A regeneração dá vida ao que está morto. A pessoa é purificada por Deus da culpa de ter quebrado a lei, recebe dEle o perdão por cada pecado. Além disto, pelo novo nascimento o pecador justificado se torna uma nova criação – uma nova criatura (2 Cor. 5:17, Gál. 6:15). E a regeneração, ainda, como a justificação, é imediata, constitui um ato instantâneo do Espírito Santo, apesar de a pessoa que "nasce de novo" talvez não saber a hora exata. Os teólogos já discutiram muito sobre quando acontece a regeneração na vida de uma pessoa. Com poucas vozes discordantes, o ponto central está claro: é o Espírito Santo que regenera o nosso interior.
O presente de vida nova ou divina vem de Cristo para a pessoa regenerada, através do Espírito Santo. Jesus disse que o novo nascimento é "um mistério". Como ilustração Ele usa o vento: sentimos seus efeitos, mas não podemos ver de onde vem nem para onde vai. Da mesma forma a regeneração é um acontecimento oculto neste mesmo sentido: é algo que ocorre no coração do indivíduo que talvez nem seja percebido por ele – e muitas vezes nem as pessoas ao Seu redor o notam imediatamente. Os resultados no novo nascimento São tão incalculavelmente significativos que merecem ser chamados de "milagre" – o maior de todos os milagres! Da mesma forma como os incrédulos não reconheceram Jesus quando Ele esteve na terra, é possível que a "nova pessoa" em Cristo passe despercebida, pelo menos por algum tempo. Mas a nova pessoa existe interiormente, visível e não para o mundo. Mais cedo ou mais tarde a nova vida se manifestará por seu procedimento orientado em Deus. A vida divina, que existirá para sempre, está ali, e a "nova pessoa" que possui o reino de Deus está ali (2 Cor. 5:17) – uma nova criatura.
Não quero diminuir a importância da decisão e da fé pessoal. Não podemos nos acomodar passivamente e esperar que o Espírito atue, antes de chegarmos a Cristo. Nós recebemos uma ordem: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á" (Mat. 7:7). Temos a promessa de Deus: "Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração" (Jer. 29:13). E a Escritura ainda nos diz que mesmo a fé é um presente de Deus: "Devido à sua bondade é que vocês foram salvos, mediante a confiança em Cristo; e até a própria confiança não vem de vocês mesmos; é uma dádiva de Deus também" (Efés. 2:8, NTV). Por isso, nós temos tudo que precisamos para nos decidirmos por Cristo, mas ainda temos a responsabilidade de responder ao chamado do Espírito Santo.
O processo do novo nascimento, do ponto de vista divino, não é complicado. O Espírito de Deus, tornando da Palavra de Deus, faz um filho de Deus. Nós nascemos de novo pela atuação do Espírito Santo, que, por sua vez, usa a Palavra de Deus divinamente inspirada. O Espírito de Deus dá vida às pessoas. A partir do momento em que nascemos de novo, o Espírito passa a morar em nós para toda a vida. Recebemos vida eterna.
Evangelizando há mais de 35 anos, já vi centenas de milhares de pessoas descer pelos corredores de auditórios, estádios, igrejas, tendas e parques, para fazer o que é comumente chamado de uma "decisão" por Cristo. Há alguns anos eu tentei mudar esta terminologia para "interessados". Vir à frente em uma reunião evangelística não significa necessariamente que a pessoa foi ou será regenerada. Descer por um corredor, uma espécie de compromisso público com Cristo, é só um ato visível, apesar de importante. Pode ou não refletir o que está acontecendo ou já aconteceu no coração da pessoa. A regeneração não é mérito do evangelista; é o Espirito de Deus que faz isto. Condição indispensável para um novo nascimento são arrependimento e fé, mas só estes dois não bastam. Fé genuína é um presente de Deus – como eu já disse, Ele até nos ajuda a nos arrependermos. Quando uma pessoa evidencia este tipo de arrependimento e fé, podemos estar certos que Deus Espírito Santo acrescenta a regeneração. Nisto vemos o amor e a graça de Deus derramados sobre pecadores sujeitos a julgamento, através de Jesus Cristo.
Assim, nascer de novo significa "Como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem ele quer" (João 5:21). Em Atos Pedro chama isto de "arrependimento" ou "ser convertido". Paulo, em Romanos 6:13, falou de "ressurretos dentre os mortos". Aos Colossenses Paulo disse: "Vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" (Col. 3:10).
Você e eu não podemos herdar a regeneração: "A todos quantos o receberam (a Jesus), deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome" (João 1:12). As pessoas podem ter sido batizadas, corno Hitler e Stalin o foram, mas isto não é garantia de que foram regeneradas. Simão, o mágico, foi batizado por Filipe depois de ter "acreditado" em algum vago sentido mental, mas Pedro lhe disse: "O teu coração não é reto diante de Deus" (Atos 8:21).
Alguém pode ter sido confirmado em uma ou mais igrejas litúrgicas, mas isto não significa necessariamente que ele foi regenerado. Lemos no livro de Atos: "O Senhor acrescentava-lhes, dia a dia, os que iam sendo salvos" (Atos 2:47). A única condição, indispensável, para admissão na igreja primitiva, era a regeneração.
E também ninguém pode ser regenerado fazendo boas obras: "Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tito 3:5). Alguém pode se tornar sócio de qualquer clube na cidade, envolver-se em todas as atividades beneficentes e ser durante toda a vida uma pessoa "boa", "moral", e mesmo assim nem mesmo saber o que quer dizer ser regenerado.
Outros tentam regenerar-se tornando bons propósitos. Fazem o melhor possível para melhorar a Si mesmos, tornando sempre novas resoluções. Mas a Bíblia diz: "Todas as nossas justiças são como trapo de imundícia" (Isa. 64:6).
Algumas pessoas bem intencionadas tentam mesmo alcançar a salvação imitando a Cristo em Suas vidas. Mas Deus não aceita isto, porque ninguém pode realmente imitar a Cristo. Cristo era puro. As pessoas são pecadoras, mortas em pecado. Precisam de vida, que só o Espírito Santo pare prover, através da regeneração.
Você foi regenerado pelo poder do Espírito de Deus? Não há nenhuma outra coisa que pode trazer um renascimento espiritual à sua vida. Mas Deus enviou Seu Filho a este mundo para dar-nos vida nova. Deus nos deu Sua Palavra, e o poder do Espírito Santo pare usá-la e trazer-nos regeneração, renascimento espiritual.
O novo nascimento trará consigo urna mudança em seu relacionamento com Deus, uma mudança em seu relacionamento com a sua família, uma mudança em seu relacionamento com você mesmo, uma mudança em seu relacionamento com Seus vizinhos. Se você for um crente obediente, ele trará gradualmente uma mudança de disposição, afeição, objetivos, princípios e visão.

O Espírito Santo nos Dá Certeza

Às vezes nós nos sentimos confusos, depois de aceitar a Cristo como Salvador, porque muitas das velhas tentações não desapareceram. Ainda pecamos. Às vezes "explodimos". Orgulho e inveja ainda tomam conta de nós de vez em quando. Isto não só nos deixa confusos, mas nos desencoraja, e pode nos deixar deprimidos espiritualmente. Talvez até tenhamos algum pecado "insistente", que nos assedia, e que parece que não somos capazes de vencer.
Mas no momento em que você e eu recebermos a Cristo e fomos regenerados pelo Espírito Santo, você e eu recebemos uma nova natureza, de forma que agora temos duas naturezas. A velha natureza é do nosso primeiro nascimento; a nova natureza é do novo nascimento. Pela velha, somos filhos da carne; pela nova, filhos de Deus. É por isto que Jesus disse a Nicodemos que "Vocês precisam nascer de novo".
Seja qual for o problema, sempre que a natureza velha se manifesta em nós, um crente novo pode duvidar se realmente foi regenerado. Satanás quer que nós duvidemos da realidade da nossa salvação – o que na verdade é duvidar da Palavra de Deus. Falarei mais extensamente sobre a certeza da nossa salvação em outro capítulo, mas a esta altura precisamos nos lembrar que o Espírito Santo também nos dá a certeza de que nascemos de novo e nos tornarmos membros da família de Deus. "E o Espírito Santo também nos dá testemunho" (Heb. 10:15). Sabermos, pela Palavra escrita de Deus e pela atuação silenciosa do Espírito em nossos corações, que nascemos de novo – apesar das acusações de Satanás. "O própria Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rom. 8:16).


Como Nascer de Novo

Em primeiro lugar, compreenda que você, aos olhos de Deus, é pecador. Talvez você ache que não é má pessoa, porque sabe que viveu uma vida decente. Por outro lado, talvez você esteja carregando consigo uma culpa por alguns pecados cometidos no passado. Seja qual for o seu passado, a Bíblia nos diz que "não há justo, nem sequer um" (Rom. 3:10). Todos nós quebramos a Lei de Deus, e não merecemos nada a não ser a ira e o julgamento de Deus.
Em segundo lugar, compreenda que Deus o ama, e que enviou Seu Filho para morrer em Seu lugar. Você merece morrer por seus pecados, mas Cristo morreu em Seu lugar. "Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus" (1 Pedro 3:18). Isto é o maravilhoso no evangelho – que Deus nos ama! Ele ama você, apesar de você ser um pecador.
Em terceiro lugar, arrependa-se dos seus pecados. A palavra arrependimento no grego significa "mudança de atitude". Quer dizer que eu admito ser um pecador, e estou triste por ter pecado. Mas arrependimento também significa que eu volto as costas para os meus pecados – rejeito-os – e decido viver, pela graça de Deus, como Ele quer que eu viva. Jesus disse: "Se não vos arrependerdes, todas igualmente perecereis" (Lucas 13:3). Arrependimento envolve uma disposição de abandonar o pecado e entregar a vida a Jesus Cristo, que agora é o Senhor dela. Vemo-nos agora como Deus nos vê, e oramos: "Deus, tem misericórdia de mim, um pecador!" (Lucas 18:13, NTV).
Em quarto lugar, venha a Cristo, em fé e confiança. A Bíblia nos diz que a salvação é um presente. Deus fez tudo para que a salvação esteja à nossa disposição, mas nó temos de estender a mão e receber este presente. "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rom. 6:23).
Como você aceita este presente? Por um simples ato de fé, dizendo "sim" a Cristo. Se você nunca aceitou a Cristo em Sua vida, eu o convido a fazê-lo imediatamente, antes que passe mais um minuto. Diga simplesmente a Deus que você sabe que é um pecador, e que está triste por seus pecados. Diga-Lhe que você acredita que Jesus Cristo morreu por você, e que você quer dar Sua vida a Ele neste exato momento, segui-Lo como Seu Senhor por toda a sua vida. "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).
Se você fez isto, Deus perdoou todos os Seus pecados, Que coisa maravilhosa saber que todos os pecados que você cometeu – mesmo as coisas que você não sabia que eram pecado – foram lavados pelo sangue de Jesus Cristo, "no qual temos a redenção, a remissão dos pecados" (Col. 1:14). Mais que isto – você pode agora aceitar pela fé que é nova criação em Cristo.
Jesus lembrou a Nicodemos, durante a conversa que tiveram, de um incidente na viagem dos amigos israelitas pelo deserto. Deus tinha julgado Seu povo pecador, enviando cobras cuja picada era fatal. Muitos israelitas estavam morrendo. Então Deus ordenou a Moisés que fizesse uma cobra de bronze e a erguesse bem alto com uma vara. Todos os que olhassem para aquela cobra pela fé, depois de picados, seriam salvos. Isto soava como um insulto à sua inteligência. O bronze não tem qualidades medicinais. E eles sabiam que remédio nas picadas não os curaria. Não havia condições de lutar contra as cobras. Tampouco ajudaria trazer sacrifícios para a serpente de bronze. Orar para esta cobra também não os livraria da morte. Nem Moisés, o profeta de Deus, podia ajudá-los.
Tudo que eles precisavam fazer era olhar para a cobra de bronze crendo como uma criança de que Deus os salvaria por completo, por Sua graça. Olhando para a cobra de bronze, estavam olhando para além dela, para o próprio Deus. A mesma coisa aconteceu muitos séculos mais tarde: Jesus disse: "Eu serei levantado – olhem para mim, e serão salvos". Ele de fato foi "levantado" quando morreu na cruz. Ninguém pode vir a Cristo se o Espírito Santo não o levar para a cruz, onde Jesus, com Seu sangue, limpa cada pessoa que confiar nEle dos seus pecados.
Deus não quer insultar nossa inteligência, como não quis insultar a dos israelitas no deserto. Mas se você não crê em Cristo, sua mente foi afetada pelo pecado, cegada espiritualmente pelo mal. Por isto o apóstolo Paulo disse: "Porque Deus, em sua sabedoria, não deixou que os homens o conhecessem pela sabedoria humana. Ao contrário, resolveu salvar aqueles que crêem, e fez isto através da menagem 'louca' que anunciamos" (1 Cor. 1:21, BLH).
À primeira vista parece loucura acreditar que Jesus Cristo, que morreu em uma cruz e ressuscitou há dois mil anos atrás, possa transformar radicalmente sua vida, pelo Espírito Santo, hoje. Mas neste instante milhões de cristãos em todos os continentes podem erguer-se e confirmar que Ele transformou Suas vidas. Aconteceu a mim, há muitos anos. Pode acontecer a você – hoje!

















O BATISMO COM O ESPÍRITO

Há muitos anos, quando eu estava freqüentando urna pequena escola bíblica na Flórida, fui a uma "reunião de avivamento ao ar livre". O discursante era um pregador de avivamento sulista à antiga, e o espaço ao Seu redor estava totalmente tomado por umas 200 pessoas. O pregador complementava com trovões o que lhe faltava em lógica, o que agradava muito ao povo.
– Vocês foram batizadas com o Espírito Santo? – ele perguntou aos ouvintes durante o sermão.
Aparentemente ele conhecia diversas pessoas ali, porque apontou para um homem e perguntou:
– Irmão, você foi batizado com o Espírito Santo? – E o homem respondeu:
– Sim, graças a Deus!
– Meu jovem – ele disse, apontando o dedo para mim, – você foi batizado com o Espírito Santo?
– Sim, Senhor – eu respondi.
– Quando você foi batizado com o Espírito Santo? – ele continuou. Ele não tinha perguntado isto aos outros.
– No momento em que recebi a Jesus Cristo como meu Salvador – eu respondi. Ele olhou para mim com uma expressão surpresa, mas antes de passar para outra pessoa, ele disse:
– Isto não pode ser.
Mas podia! E era.
Não duvido da sinceridade deste pregador. No entanto, durante os anos, estudando a Bíblia, cheguei à conclusão que só há um batismo com o Espírito Santo durante a vida de cada crente, e que ocorre no momento da conversão. Este batismo com o Espírito Santo começou no dia de Pentecostes, e todos que conhecem a Jesus Cristo como Salvador experimentaram isto, foram batizados com o Espírito no momento em que foram regenerados. Além do mais, podem ser enchidos com o Espírito Santo; se não são, precisem ser.
A maneira com que as Escrituras usam a palavra batismo mostra que ele é algo inicial, tanto no uso do batismo com água como com o Espírito, e que não se repete. Não achei nenhum versículo bíblico que indicasse uma repetição do batismo com o Espírito.
"Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo" (I Cor. 12:13). O original grego deixa claro nesta passagem que este batismo do Espírito Santo é uma ação completa, no passado.
Duas coisas se destacam neste versículo: primeiro, que o batismo com o Espírito é uma ação coletiva do Espírito de Deus; segundo, que inclui todos os crentes.
O Dr. W. Graham Scroggie disse urna vez em Keswick: "Observem com cuidado a quem o apóstolo está escrevendo e de quem ele está falando." Ele usa a palavra "todos" – "Paulo não está escrevendo aos fiéis tessalonicenses, nem aos generosos filipenses, nem aos espirituais efésios, mas aos coríntios, carnais (1 Cor. 3:1)". Scroggie continua. A indicação clara é que o batismo com o Espírito está ligado a como estamos diante de Deus, não a nossa situação espiritual momentânea; a nossa posição, e não a nossa experiência.
Isto se torna ainda mais claro se examinarmos as experiências dos israelitas descritas em 1 Coríntios 10:1-5. A palavra todos aparece cinco vezes nestes versículos. "Todos sob a nuvem", "todos passaram pelo mar", "todos foram batizados", "todos comeram" e "todos beberam". Foi depois que todas estas coisas aconteceram com todas as pessoas que surgiram as diferenças: "Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles" (1 Cor. 10:5).
Em outras Palavras, todos faziam parte do povo de Deus. Mas isto não significa que todos levaram uma vida de acorda com o chamado de Deus para serem um povo santo. De modo semelhante todos os crentes foram batizados com o Espírito Santo. Só que isto não quer dizer que estão cheios ou controlados pelo Espírito. O que importa é a grande verdade central – quando eu venho a Cristo, Deus me dá o Seu Espírito.

Diferenças que nos Dividem

Eu sei que o batismo com o Espírito Santo foi entendido de maneiras diferentes por alguns dos meus irmãos crentes. Não devemos evitar definir diferenças de opinião específicas. Mas também devemos tentar entender uns aos outros, estar dispostos a aprender uns dos outros enquanto procuramos saber o que a Bíblia ensina. As diferenças de opinião sobre este assunto do semelhantes às diferenças de opinião sobre o batismo com água ou o governo da igreja. Alguns batizam crianças; outros não. Alguns aspergem ou derramam; outros só imergem. Alguns têm uma forma de governo congregacional; outros têm uma democracia presbiteriana ou representativa; ainda outros têm uma forma de governo episcopal. De maneira nenhuma estas diferenças deveriam nos dividir. Eu me sinto maravilhosamente unido, especialmente na área da evangelização, com cristãos de outros pontos de vista.
Por outro lado, acho eu, a questão do batismo com o Espírito Santo é muitas vezes mais importante que estes outros assuntos, especialmente quando a doutrina sobre o batismo com o Espírito Santo é distorcida. Alguns cristãos, por exemplo, defendem que o batismo com o Espírito Santo só vem algum tempo depois da conversão. Outros dizem que este batismo posterior com o Espírito é indispensável para que a pessoa possa ser realmente usada por Deus. Ainda outros acham que o batismo com o Espírito Santo sempre vem acompanhada com o sinal externo de um dom especial, e se este sinal não se evidenciar a pessoa não foi batizada com o Espírito.
Tenho de admitir que houve ocasiões em que eu estava realmente disposto a crer neste ensino. Eu também queria ter uma "experiência". Mas eu quero que todas as experiências tenham base bíblica. E me parece que a verdade bíblica é que nós somos batizados no corpo de Cristo pelo Espírito na hora da conversão. Este é o único batismo com o Espírito Santo. Neste exato momento nós podemos e deveríamos ser enchidos pelo Espírito, e mais tarde mais cheios ainda, até a borda. Diz-se às vezes: "Batismo, uma vez; cheio, muitas." Eu não vejo na Escritura que este estar cheio do Espírito Santo é um segundo batismo, nem que falar em1ínguas é indispensável para ser cheio do Espírito.
Às vezes estas diferenças de opinião nada mais são que diferenças de expressão. Como veremos no próximo capítulo, o que algumas pessoas chamam de batismo do Espírito pode ser na verdade o que a Escritura chama de ser cheio do Espírito, o que pode acontecer muitas vezes em nossa vida, depois da conversão.
Casualmente há só sete passagens no Novo Testamento que falam diretamente do batismo com o Espírito. Cinco destas passagens se referem ao batismo com o Espírito como acometimento futuro; quatro são palavras de João Batista (Mat. 3:11, Mar. 1:7,8; Luc. 3:16 e João 1:33) e uma é de Jesus, depois da Sua ressurreição (Atos 1 :4,5). Uma sexta passagem recapitula os acontecimentos e experiências do dia de Pentecostes (Atos 11:15-17), mostrando que são cumprimento das promessas de João Batista e Jesus. Somente uma passagem – 1 Cor. 12:13 – fala da experiência mais ampla de todos os crentes.
Em meu ministério já conheci muitos cristãos que agonizavam, trabalhavam, lutavam e oravam para "receber o Espírito". Eu costumava perguntar-me se eu estava errado em pensar que já que fui batizado pelo Espírito no corpo de Cristo no dia da minha conversão, não precisava de outro batismo. Mas quanto mais estudava as Escrituras, mais ficava convicto de que estava certo. Acompanhe comigo o que Deus fez na Semana da paixão de Cristo e cinqüenta dias depois em Pentecostes, para ver que nós não precisamos procurar o que Deus já deu a cada crente.

Calvário e Pentecostes

Quando Jesus morreu na cruz, levou sobre Si nossos pecados: "Deus condenou o pecado na natureza humana, enviando seu próprio Filho, que veio na forma da nossa natureza pecaminosa para acabar com o pecado" (Rom, 8:3, BLH).
Isaías profetizou: "O Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós" (Isa. 53:6). Paulo disse: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós" (2 Cor. 5:21). Isto fez com que no santo Jesus estivesse o pecado de todo o mundo.
Jesus disse com muita clareza que Sua morte na cruz não seria o fim do Seu ministério. Na noite antes da Sua morte Ele disse repetidamente aos discípulos que enviaria o Espírito Santo.
Naquela noite Jesus disse aos Seus discípulos: "Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei" (João16:7). Antes de poder enviar o Espírito, que é o Confortador, Jesus teve de ir: primeiro, para a morte na cruz; depois, para a ressurreição; por último, para a direita do Pai. Só então pôde mandar o Espírito Santo, no dia de Pentecostes. Depois da Sua morte e ressurreição, Ele lhes ordenou que ficassem em Jerusalém, esperando o dom do Espirito: "Permanecei, pois, na cidade. . . até que do alto sejais revestidos de poder" (Lucas 24:49). Antes de subir aos céus Ele lhes disse que ficassem em Jerusalém até que fossem "batizados com o Espírito Santo, não muito depois destas dias" (Atos 1:5).
Por esta razão é que João Batista tinha proclamado a missão dupla de Cristo: proclamou primeiro o ministério de Cristo como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29); depois predisse que o ministério de Cristo no Calvário seria seguida do seu ministério batizando com o Espírito Santo (João 1:33).
Quando Jesus ressuscitou dos mortos, este batismo com o Espírito, que indicaria a nova época, ainda estava por vir; acorreu cinqüenta dias depois da ressurreição. Dez dias depois da ascensão veio Pentecostes. A promessa foi cumprida. O Espírito Santo veio sobre 120 discípulos. Pouco depois, falando a uma multidão bem maior, Pedro referiu-se ao "dom do Espírito Santo". Ele insistiu com seus ouvintes: "Arrependei-vos, e cada um seja batizado. . . e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos 2:38).
John Stott destaca que "não parece que os 3.000 experimentaram o mesmo fenômeno milagroso (o vento impetuoso, as línguas de fogo, o falar em línguas estranhas). Nada é dito sobre estas coisas. Mas pela promessa de Deus, feita através de Pedro, eles devem ter herdado a mesma promessa e recebido o mesmo dom (versículos 33 e 39). Mesmo assim, havia a diferença: os 120 já estavam regenerados, recebendo o Espírito Santo depois de esperarem em Deus por dez dias. Os 3.000, incrédulos, receberam o perdão dos seus pecados e o dom do Espírito ao mesmo tempo – e isto aconteceu no mesmo instante em que se arrependeram e creram, sem necessidade de esperar.
"É de grande importância esta distinção entre os dois grupos, de 120 e 3.000 pessoas, porque a regra para hoje com certeza deve ser o segundo grupo, de 3.000 pessoas, e não o primeiro (como muitos pensam). O fato de a experiência dos 120 se dar em duas etapas distintas deve-se simplesmente a circunstâncias históricas. Eles não poderiam ter recebido o dom de Pentecostes antes de Pentecostes. Mas estas circunstâncias históricas deixaram de existir há muito. Nós vivemos depois de Pentecostes, como estes 3.000. Assim como eles, nós recebemos o perdão dos pecados e o "dom" ou "batismo" do Espírito ao mesmo tempo."1
Daquele dia em diante o Espírito Santo esteve habitando no coração de todos os verdadeiros crentes, a começar com os 120 discípulos que O receberam no dia de Pentecostes. Quando eles receberam o Espírito Santo, Ele os uniu em um corpo com Sua presença – o corpo místico de Cristo, que é a Igreja. É por isto que eu, quando ouço termos como "ecumenismo" ou "movimento ecumênico", digo comigo mesmo: Se nós nascemos de novo, o ecumenismo já existe. Estamos todos unidos pelo Espírito Santo, que mora em nossos corações, sejamos presbiterianos, metodistas, batistas, pentecostais, luteranos ou anglicanos.
É verdade que houve diversas outras ocasiões, mencionadas pelo livro de Atos, semelhantes a Pentecostes: o assim chamado "Pentecostes Samaritano" (Atos 8:14-17) e a conversão de Cornélio (Atos 10:44-48). No entanto, os dois acontecimentos marcaram o início de um novo estágio na expansão da Igreja. Os samaritanos eram urna raça mista, desprezada por muitos como indigna do amor de Deus. O batismo deles com o Espírito foi um sinal claro de que também eles podiam ser do povo de Deus, pela fé em Jesus Cristo. Cornélio era gentio, e sua conversão foi outro passo de destaque na divulgação do Evangelho. O batismo do Espírito que ele e seus familiares receberam mostra que o amor de Deus era também para os gentios.
Tendo em vista tudo isso, nenhum cristão precisa esforçar-se, esperar ou "orar até receber o Espírito". Ele já O recebeu, não com trabalho e lutas, sofrimento e oração, mas como presente da graça, imerecido e não conquistado.
W. Graham Scroggie certa vez falou em Keswick algo assim: "No dia de Pentecostes foi formado o corpo de Cristo, pelo batismo do Espírito, e desde então cada crente individual, cada pessoa que aceita a Cristo pela fé simples, no mesmo momento e por este mesmo ato se torna participante da bênção do batismo. Por isso, esta bênção não precisa ser procurada para ser recebida depois da hora da conversão."

Explicação de Três Possíveis Exceções

Eu dei agora a impressão que todos os crentes têm o Espírito santo, que na hora da conversão e regeneração vem morar neles. No entanto, alguns têm insistido que o livro de Atos nos dá diversos exemplos de pessoas que não receberam o Espírito santo quando creram pela primeira vez. Em vez disto, dizem, estes incidentes indicam que o batismo com o Espírito acorre depois de sermos incorporados no corpo de Cristo. Três passagens nos interessam principalmente, quanto a este assumo. Eu pessoalmente, quando crente jovem, achei difícil entender estas passagens (até certo ponto ainda acho), e sei que muitas pessoas têm esta mesma impressão. Não quero afirmar Ter todas as respostas para as perguntas levantadas por estas passagens, mas meu estudo do assunto me fez observar certos fatos que podem ser de boa ajuda.
A primeira passagem achamos em Atos 8, onde é relatada a viagem de Filipe a Samaria. Ele pregou a Cristo e fez diversos milagres. Os samaritanos foram emocionalmente estimulados, muitos fizeram profissão de fé e foram balizados. Os apóstolos, em Jerusalém, estavam tão preocupados com o que estava acontecendo em Samaria, que enviaram para lá dois de seus líderes, Pedro e João, para investigar. Eles se depararam com uma grande agitação, com muitas pessoas prontas para receberem o Espírito. "Então lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo" (Atos 8:17).
Comparando versículo com versículo, logo descobriremos um aspecto extraordinário desta passagem: quando Filipe foi pregar em Samaria, era a primeira vez que o evangelho era pregado fora de Jerusalém, evidentemente porque judeus e samaritanos sempre tinham sido ferrenhos inimigos. Isto nos fornece a chave do mistério por que o Espírito foi retido até que chegassem Pedro e João: para que eles virem pessoalmente que Deus recebia até samaritanos odiados que cressem em Cristo. Depois disto não poderiam mais duvidar.
Observe também o que aconteceu quando o Espírito do Senhor subitamente tomou Filipe e o transportou até a estrada de Gaza, onde ele falou de Cristo ao eunuco etíope. Quando o etíope creu e recebeu a Cristo, ele foi batizado com água. Mas Filipe não fez nenhuma menção de impor-lhe as mãos e orar para que ele recebesse o Espírito Santo, e nada foi dito sobre um segundo batismo. De forma que a situação de Samaria, relatada em Atos 8, foi única, e não combina com outras passagens da Escritura, comparando versículo com versículo.
Outra passagem que traz para alguns certa dificuldade é a que trata da conversão de Saulo na estrada de Damasco, como está registrada em Atos 9. Algumas Pessoas dizem que quando ele foi enchido com o Espírito Santo na presença de Ananias, mais tarde (v. 17), ele experimentou um segunda batismo do Espírito.
Novamente temos urna situação única, em que Deus escolheu este perseguidor dos cristãos "para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel" (v. 15). Quando Saulo chamou Jesus de "Senhor", ele usou um termo que pode significar "meu próprio Senhor", demonstrando que se convertera, ou simplesmente "senhor", um título de respeito e não uma profissão de fé. Sabemos que mais tarde Ananias chamou Paulo de "irmão" (v. 17), mas muitos judeus daquele tempo chamavam-se de "irmãos". Ele pode ter chamado Saulo de irmão no sentido mais amplo, como em muitas regiões do nosso país as pessoas chamam umas às outras de "irmão".
Em outras palavras, quando ocorreu a regeneração de Saulo? Na estrada de Damasco, ou durante aqueles três dias em que Ananias falou com ele (pode ter sido durante toda a cegueira de Saulo)? Eu tenho certeza que muitas vezes o novo nascimento é como o nascimento físico: a concepção, nove meses de gestação, e depois o nascimento. Às vezes o Espírito Santo leva semanas para convencer uma pessoa. Eu vi pessoas virem mais de uma vez à frente em nossas cruzadas, e só experimentarem a certeza da sua salvação na terceira ou quarta vez. Quando estes foram regenerados? Só Deus Espírito Santo sabe; pode ter sido quando foram batizados ou confirmados, e eles vieram à frente para terem certeza. Pode ser que alguns venham (como eu costumo dizer) para "reconfirmar sua confirmação".
Atos 9:17 diz ainda que Paulo ficou cheio do Espírito Santo. A palavra batismo não aparece no versículo, e não é dito que falou em outras línguas quando ficou cheio. A minha opinião é que mesmo se Paulo foi regenerado na estrada de Damasco, quando mais tarde ficou cheio de Espírito isto não foi um segundo batismo. Possivelmente Sua regeneração só ocorreu quando Ananias o visitou. De forma que esta passagem não ensina que Paulo foi duas vezes batizado com o Espírito.
O terceiro texto que deu motivos para alguma controvérsia encontramos em Atos 19:1-7. Paulo passou por Éfeso e encontrou doze discípulos que não tinham recebido o Espírito Santo. Lendo esta passagem, imediatamente surge a pergunta: estes doze eram cristãos verdadeiros antes de se encontrarem com Paulo? Pareciam não saber nada sobre o Espírito Santo e sobre Jesus. Também falavam do batismo de João. Sem dúvida Paulo não viu no seu primeiro batismo argumento suficiente para chamá-los de crentes. Submeteu-os a novo batismo na água, no nome de Cristo.
Milhares de pessoas tinham ouvido João ou Jesus durante os primeiros anos. Elas ficaram profundamente impressionadas com o batismo de João, mas provavelmente perderam todo o contato com os ensinos de João e Jesus nos anos intermediários. Assim, novamente temos uma situação única. Só o fato de o apóstolo ter feito perguntas tão precisas indica que ele duvidava que a conversão deles tenha sido uma experiência genuína.
Mesmo assim temos de analisar Atos 19:6 mais de perto: "E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam".
O Dr. Merrill Tenney os chama de "crentes retardatários". O interessante é que todas estas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Não sabemos se estas línguas são do tipo que Paulo aborda em 1 Coríntios 14 ou Lucas em Atos 2. A palavra "profetizavam" inclui a idéia de testemunho e proclamação. Ao que parece, eles saíram para dizer aos seus amigos de que forma tinham chegado a crer em Cristo. Na minha maneira de pensar, isto não é prova de um segundo batismo com o Espírito, posterior ao batismo com o Espírito na hora da regeneração. Parece-me antes que eles foram regenerados e batizados com o Espírito ao mesmo tempo.
Em resumo, eu creio que o dia de Pentecostes deu início à Igreja. Tudo o que restava por fazer era integrar com destaque na Igreja samaritanos, gentios e "crentes retardatários". Isto aconteceu em Atos 8 com os samaritanos, em Atos 10 com os gentios (de acordo com Atos 11:15), e em Atos 19 com crentes que sobraram do batismo de João. Uma vez ocorrido este batismo representativo com o Espírito, aplica-se o padrão normal – batismo com o Espírito cada vez que uma pessoa crê em Cristo (sejam quais forem seus antecedentes).

A Nossa Participação em Pentecostes

Pentecostes inclui em seus efeitos não só os que estiveram presentes naquele momento, mas também os que participaram nos séculos por vir. Talvez possamos usar aqui a redenção como analogia. Cristo morreu uma vez, por todos; morreu por membros do Seu corpo que ainda não tinham nascido ou sido regenerados. Desta forma você e eu nos tornamos membros do Seu carpo, pela regeneração, através do derramamento do Seu sangue que aconteceu só uma vez. De modo que você e eu participamos de maneira similar desta nova realidade que é a Igreja. Nós entramos no corpo, que foi formado com o batismo com o Espírito no dia de Pentecostes, quando "nos foi dado beber de um só Espírito" (1 Cor. 12:13), e cada crente se torna participante dos benefícios do corpo no momento da regeneração, da mesma forma que usufrui a justificação, pelo sangue de Jesus derramado por ele. Assim o Senhor acrescenta à Igreja os que vão sendo salvos (Atos 2:47).
Pode parecer estranho dizer que os crentes de hoje participam de um acontecimento de dois mil anos atrás. No entanto, a Bíblia traz muitos exemplos parecidos com a redenção e o batismo com o Espírito Santo. Em Amós 2:10 Deus disse ao Seu povo pecador: "Eu vos fiz subir da terra do Egito, e quarenta anos vos conduzi pelo deserto" (grifo meu), apesar de o povo do tempo do Profeta Amós viver centenas de anos depois do Êxodo. Fato é que a nação é toda como uma e contínua; o mesmo acontece com a Igreja.

Uma só Regeneração, um só Batismo

Já que o batismo com o Espírito acorre no momento da regeneração, a Bíblia nunca nos diz que devemos procurar por ele. Estou convencido que muitas coisas que alguns teólogos e pregadores adicionaram ao batismo com o Espírito Santo na verdade pertencem à plenitude do Espírito. A finalidade do batismo com o Espírito Santo é fazer o novo cristão adentrar no corpo de Cristo. Não há intervalo de tempo entre a regeneração e o batismo com o Espírito. No momento em que recebemos Jesus Cristo como Senhor e Salvador, recebemos também o Espírito Santo. Ele veio para morar em nossos corações. Paulo diz em Romanos 8:9: "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele." Não é uma segunda bênção, nem terceira, nem quarta. Há, haverá e deve haver mais momentos de plenitude mas não mais batismos.
Em nenhuma passagem do Novo Testamento nós recebemos alguma ordem para sermos batizados com o Espírito Santo. Se o batismo com o Espírito fosse urna etapa necessária à nossa vida cristã, com certeza o Novo Testamento estaria cheio dele. O próprio Cristo o teria ordenado. Nós, cristãos, em nenhum lugar recebemos a ordem de procurar o que na verdade já aconteceu. Por isso, quando eu era ainda um jovem seminarista na Flórida e aquele pregador me perguntou se eu já tinha recebido o batismo com o Espírito, eu estava certo ao dizer que o tinha recebido no momento da minha conversão.

A Unidade do Espírito

Em 1 Coríntios 12:13 o apóstolo Paulo escreve: "Pois, em um só Espírito, somos todos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito".
Paulo estava falando da necessidade de unidade na desobediente e carnal igreja de Corinto.
David Howard diz: "Observem a ênfase nestas frases: 'o mesmo Espírito' (vv. 4, 8, 9); 'um Espírito' (v. 13...): 'um só e o mesmo Espírito' (v. 11); 'o Senhor é o mesmo' (v. 5): ... 'o corpo é um' (v. 12); 'um só corpo' (vv. 12, 13); 'há muitos membros, mas um só corpo' (v. 20); 'para que não haja divisão no corpo' (v. 25)."2
Howard continua mais adiante: "Neste contexto de unidade, Paulo diz: 'Pois, em um só Espírito, somos todos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito' John R. W. Stott (em seu livro Batismo e Plenitude do Espírito Santo, pág. 20) conclui neste sentido: 'De modo que, neste versículo, longe de ser um fator divisor, o batismo do Espírito ... é o grande fator de união.'"3

Conclusão deste Assunto

Nisto todos os cristãos concordam: cada verdadeiro crente tem de ser batizado pelo Espírito no corpo de Cristo. No entanto, deste ponto em diante as opiniões diferem significativamente. Mesmo assim, nunca devemos nos esquecer de uma área crucial em que concordamos.
Para visualizá-la, relembremo-nos primeiro que a salvação é passada, presente e futura: nós fomos salvos (justificação), nós estamos sendo salvos (santificação), e nós seremos salvos (glorificação). Começando com o momento da nossa justificação e terminando na hora da nossa glorificação, a nossa peregrinação nós chamamos de santificação.
Isto está relacionado com santidade. E a santidade é fruto da atuação do Espírito em nossos corações. Sejam quais forem as nossas diferenças quanto a segundo batismo do Espírito, línguas e plenitude do Espírito, todos os cristãos concordam que devermos procurar por santidade – sem a qual ninguém verá o Senhor. Por isso, busquemos ardentemente o tipo de vida que reflete a beleza de Jesus e mostra que nós somos o que santos (no melhor sentido da palavra) devem ser!
Como podemos ter este tipo de vida? Sendo enchidos do Espírito Santo – à medida que Ele atua em e através de nós, na proporção em que nós nos submetemos a Deus e à Sua vontade. É este assunto – ser cheio do Espírito – que temos de estudar no próximo capítulo.




























O SELO, O PENHOR E O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO

Um missionário inglês morreu na Índia no começo deste século. Assim que ele estava morto, seus vizinhos arrombaram sua casa e começaram a levar tudo que era dele. O cônsul inglês foi comunicado, e como não havia fechadura na porta da casa do missionário, ele colou sobre ela uma grande falha de papel, que carimbou com a selo, o lacre da Inglaterra. Os saqueadores não se arriscaram a quebrar o lacre, porque a nação mais poderosa do mundo o garantia.
O selo do Espírito Santo é um de uma série de acontecimentos simultâneos ao nosso arrependimento e recebimento do Senhor como Salvador, sem nós o percebermos. Em primeiro lugar, é claro, Deus nos regenerou e justificou. Em segundo lugar, o Espírito nos batizou no corpo de Cristo. Em terceiro lugar, o Espírito imediatamente se instalou nos nossos corações. Neste e nos próximos capítulos enfocaremos outras coisas que acompanham nossa salvação, além da Sua atuação contínua em nós.

O Selo

O quarto acontecimento a Bíblia chama de "Selo". Esta palavra traduz um termo grego que quer dizer confirmar ou imprimir. Três vezes a palavra é usada no Novo Testamento em relação aos crentes. É também mencionada na vida de Jesus. João diz: "Neste (Jesus), Deus, o Pai, imprimiu o seu selo" (João 6:27, IBB). Aqui vemos que o Pai selou o Filho.
No momento da conversão os crentes são selados com o Espírito para o dia da redenção: "Tendo nele (no evangelho) também crido, fostes selados com o santo Espírito da promessa" (Efés. 1:13; cf. 4:30).
Parece-me que Paulo tinha duas idéias em mente quando fala de nós sermos Selados com o Espírito Santo. Uma é segurança, a outra propriedade. Ser Selado, no sentido de segurança, é ilustrado no Antigo Testamento, quando o rei Dario colocou Daniel na cova dos leões, pôs uma pedra sobre a entrada e a lacrou com seu selo (Dan. 6:17) para que Daniel não saísse. Nos tempos antigos, como por exemplo no tempo da rainha Ester (Ester 8:8), os reis também costumavam colocar com um anel sua marca ou selo em cartas e documentos escritos em seu nome. Depois de feito isto, ninguém podia reverter o que estava escrito ou dar ordens em contrário.
Pilatos fez a mesma coisa quando deu ordens aos soldados para guardarem o túmulo de Jesus. Ele disse aos sacerdotes: "Aí tendes uma escolta; ide e guardai o sepulcro como bem vos parecer. Indo eles, montaram guarda ao sepulcro, selando a pedra e deixando ali a escolta" (Mat. 27:65, 66). A palavra "selo" usada nesta passagem é a mesma, no grego, usada em passagens que falam do selo do Espírito Santo.
A. T. Robertson diz que o selo na pedra do sepulcro era "provavelmente uma corda presa sobre a pedra e lacrada em cada ponta à rocha da caverna, como em Daniel 6:17. Isto foi feito na presença da guarda romana, encarregada de proteger esta marca de autoridade e poder de Roma".1 Quando o Espírito Santo nos sela ou põe em nós Sua marca, nós estamos seguros em Cristo de uma maneira muito mais significativa.
Um dos pensamentos mais eletrizantes que já passou por minha mente foi a consciência de que o Espírito Santo me selou. E ele selou você também – se você for um crente.
Nada pode tocar em você. "Porque estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rom. 8:38, 39).
Mas este selo do Espírito significa mais que segurança, Significa também propriedade. Lemos no Antigo Testamento que Jeremias comprou uma propriedade, pagou por ela diante de testemunhas e selou o documento de acordo com a Lei e os costumes (Jer. 32:10). Agora ele era o proprietário.
A alusão ao selo como prova de compra deve ter sido especialmente significativa para os efésios. Éfeso era um porto marítimo, e havia intenso comércio de madeira com os portos vizinhas. O método usado na compra era este: o mercador, depois de escolher a madeira, carimbava-a com seu anel, seu sinete – uma prova reconhecida de propriedade. No tempo devido, o mercador enviava um encarregado de confiança, com o sinete; este localizava todos os troncos que tinham a mesma marca e os levava.
Matthew Henry resume a idéia assim: "Os crentes são selados por Ele (o Espírito Santo), ou seja, separados para Deus, colocados à parte, distinguidos com a Sua marca, pois pertencem a Ele."2
Você e eu somos propriedade de Deus para Sempre!

O Penhor

Quando confiamos em Cristo, Deus não nos dá o Espírito somente como selo. Ele é também o penhor (algumas traduções trazem "garantia") de acordo com passagens como 2 Cor. 1:22 e Efésios 1:14.
"Porque é o Próprio Deus que nos dá a certeza, com vocês, de nossa vida em Cristo. E foi Deus quem nos separou para si mesmo. Como dono, pôs sua marca (selo) em nós, e colocou o Espírito Santo em nossos corações como garantia de tudo o que ele tem para nós" (2 Cor. 1:21, 22).
Nos tempos do apóstolo Paulo os comerciantes usavam penhores com três finalidades: como pagamento adiantado, "entrada" que fechava um negócio; representava um compromisso de pagamento, e era uma amostra do que haveria de vir.
Imagine que você esteja querendo comprar um carro. O penhor seria a entrada que você paga, fechando o negócio. Representaria também o compromisso de pagar o carro. E seria urna amostra do que seguiria – as parcelas restantes do dinheiro. De maneira semelhante o Espírito Santo é o penhor de que Deus nos comprou, a garantia. Sua presença mostra o compromisso que Deus assumiu de nos redimir completamente. Talvez o melhor de tudo, a presença do Espírito Santo, vivendo em união conosco, nos dá um gosto antecipado, uma amostra de nossa herança, da nossa vida futura na presença de Deus.
Em Números 13, quando os espias de Israel partiram para olhar a terra de Canaã, era a época das primeiras uvas maduras. "Vieram até ao vale de Escol, e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas" (Núm. 13:23). Este eles levaram consigo para mostrar ao povo de Israel. O cacho de uvas era o penhor da sua herança. Era um pequeno antegosto do que os esperava na Terra Prometida. Era a garantia de Deus de que se eles marchassem adiante em fé, receberiam completamente o que agora tinham só em parte.
Recentemente uma das maiores lojas de mantimentos de Nova Iorque expôs um cesto de belíssimas uvas na vitrine. Sobre o cesto havia um cartaz: "Esperamos para os próximos dias um caminhão de uvas como estas." As uvas eram um "penhor" do que haveria de vir. As primícias, comparadas com a colheita toda, são somente um punhado; assim, concluindo do conhecido para o desconhecido, perguntamos com o poeta : "O que Tua presença há de ser,
Seja na terra um tal prazer
Coroa a vida em Ti?"
O Novo Testamento fala três vezes do penhor do Espírito:
1) "(Deus) também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações" (2 Cor. 1:22). A presença do Espírito em nossa vida é a garantia de que Deus vai cumprir Sua promessa.
2) "Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito" (2 Cor. 5:5). Aqui o contexto dá a idéia de que o Espírito em nós é a garantia de que Deus nos dará corpos espirituais quando Jesus vier.
3) "(O Espírito Santo) é o penhor da nossa herança até ao resgate da Sua propriedade, em louvor da Sua glória" (Efés. 1:14). Nesta passagem o Espírito é a prova de que Deus garante a nossa herança até que o futuro traga a redenção total dos que são propriedade de Deus.
Em resumo, podemos dizer que quando somos batizados no corpo de Cristo, o Espírito entra em nossas vidas e nos sela através da Sua presença. Ele é a garantia de Deus, dando-nos certeza de que nossa herança virá.
A conclusão sobre este assunto nos é fornecida por Matthew Henry: "A garantia (esta é a palavra usada pelo Novo Testamento na Linguagem de Hoje para penhor) é parte de pagamento, que assegura o pagamento integral. A mesma coisa acontece com o dom do Espírito Santo; toda a sua influência e atuação, santificando e confortando, tem sua origem no céu e é glória em semente e botão. A iluminação do Espírito é garantia (penhor) de luz eterna; a santificação é garantia de santidade perfeita; Seu conforto é garantia de alegrias eternas. Ele é a garantia até a redenção da propriedade que foi comprada. Já podemos falar de propriedade, porque a garantia dá tanta certeza aos herdeiros como se já a tivessem; foi comprada para eles pelo sangue de Cristo. Fala-se de redenção, de resgate, porque ela foi confiscada e hipotecada pelo pecado; Cristo a devolve a nós. É resgate em alusão à lei da redenção."3

O Testemunho do Espírito

O Espírito Santo não é somente nosso selo e penhor, mas também é o testemunho dentro de nós, dando-nos certeza da realidade da nossa salvação em Jesus Cristo. Jesus falava pessoalmente com Seus discípulos e lhes transmitia segurança enquanto estava com eles. De maneira semelhante o Espírito Santo testemunha aos e nos corações de todos os crentes verdadeiros. Diversas passagens do Novo Testamento tocam neste assunto.
Em 1º lugar a Escritura ensina que o Espírito Santo é testemunha do caráter decisivo e da suficiência da expiação de Jesus Cristo. Lemos isto em Hebreus 10:15-17, onde o autor bíblico contrasta a ineficácia dos sacrifícios levíticos que sempre se repetiam com o sacrifício de Cristo, que foi oferecido um por todos e de uma vez por todas. Nunca a nossa consciência receberia alívio completo do peso do pecado por sacrifícios de animais, Por outro lado, "com uma única oferta (Jesus Cristo) aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo" (Heb. 10:14,15). Este testemunho está ligada a Jeremias 31: "Perdoarei as suas iniqüidades e dos Seus pecados jamais me lembrarei" (v. 34). Já que este testemunho está impresso na Palavra escrita de Deus que nunca muda, o conforto que ele nos dá nos liberta do medo através de cada mudança dos tempos.
Em segundo lugar a Escritura ensina que o Espírito Santo nos dá testemunho de que nós nos tornamos filhos de Deus, pela fé em Jesus Cristo e no que Ele fez na cruz. "O próprio Espírito testifica com o nosso Espírito que somos filhos de Deus" (Rom. 8:16). Nós não só fomos salvos e batizados no corpo de Cristo, mas também fomos adotados na família de Deus. "E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus" (Gál. 4:6, 7). Nós podemos exclamar: Aba, Pai, porque o Espírito testifica que nós somos filhos de Deus. Esta é a Carta Magna da libertação do cristão do poder do pecado para os privilégios e a riqueza de Cristo. A declaração de que nós somos filhos é repetida muitas vezes. Você e eu deveríamos untar todo dia : "Eu sou filho do Rei".
C. S. Lewis escreveu sobre o relacionamento pessoal entre o cristão e Deus nestes termos: "Colocar-nos num nível pessoal com Deus, sem autorização, é em si nada mais que presunção e ilusão. Mas a Bíblia nos ensina que é Deus que nos coloca nesta posição. Porque é pelo Espírito Santo que nós clamamos 'Pai'. Descobrindo e confessando nossos pecados e 'fazendo conhecidos' os nossos pedidos, nós assumimos a alta posição de pessoas diante dEle. E Ele, descendo, Se torna Pessoa para nós."4
Assim, o cristão tem no Espírito Santo uma testemunha dentro dele. "Aquele que crê no Filho de Deus tem em si o testemunho" (1 João 5:10). Ninguém mais se lembrará dos nossos pecados. A família celestial nos adotou, O Espírito dá testemunho de que como crentes no Senhor Jesus Cristo nós temos vida eterna.
Por último, a Escritura ensina que o Espírito Santo dá testemunho da verdade de cada promessa que Deus nos faz em Sua Palavra. O Espírito, que inspirou a Palavra escrita de Deus, também atua em nossos corações para nos dar a certeza de que as promessas são verdadeiras e que valem para nós. Nós sabemos que Cristo é nosso Salvador porque a Bíblia o diz e o Espírito o confirma. Nós sabemos que nos tornarmos filhos de Deus porque a Bíblia o diz e o Espírito novamente é quem nos dá a certeza disto. "Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade" (João 16:13). "A tua palavra é a verdade" (João 17:17).
Às vezes converso com pessoas que me dizem não ter certeza da sua salvação, Quando lhes faço mais perguntas, geralmente eu descubro que não estiveram dando tempo à Palavra de Deus. "E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus" (1 João 5:11-13, grifo meu).
O Espírito dá testemunho a nossos corações, convencendo-nos da verdade da presença e segurança de Deus. Isto é muitas vezes difícil de explicar a um descrente, mas crentes sem conta sabem da certeza que o Espírito dá a Seus corações.
John Wesley, o fundador da Igreja Metodista, certa vez fez esta observação: "É difícil achar palavras na língua humana para explicar as profundas coisas de Deus. Na verdade não há ninguém que possa expressar adequadamente o que o Espírito de Deus opera em seus filhos. Mas... pelo testemunho do Espírito, quero dizer, por uma impressão interior, o Espírito de Deus fala ao meu espírito imediata e diretamente que eu sou filho de Deus; que Jesus Cristo me amou e deu a Si mesmo por mim; que todos os meus pecados foram apagados e eu, até mesmo eu, estou reconciliado com Deus."5
Podemos ver, então, que Deus nos lacra com Seu selo quando nós recebemos a Cristo. Este selo é uma Pessoa – o Espírito Santo. Pela presença do Espírito Deus nos dá segurança e nos marca como Sua propriedade. Além disto o Espírito é o penhor divino. Além de selar o contrato, ele representa o compromisso voluntário de Deus de não nos iludir. E união com o Espírito é uma amostra do que podemos esperar quando recebermos nossa herança no céu.
E o Espírito nos dá testemunho, através da Sua Palavra e dentro dos nossos corações, que Cristo morreu por nós e que pela fé nEle nós nos tornamos filhos de Deus. Que coisa maravilhosa saber que nós temos o Espírito como selo – penhor – e testemunho! Que cada um destes três nos dê nova certeza do amor de Deus por nós, e confiança na tentativa de viver por Cristo. E que digamos com o apóstolo Paulo: "Graças a Deus pelo seu dom incomparável" (2 Cor. 9:15, BLH).














A LUTA INTERIOR DO CRISTÃO

Um pescador esquimó vinha cada sábado à tarde à cidade. Sempre trazia consigo seus dois cachorros, um branco e um preto. Ele os tinha ensinado a lutar quando ele ordenasse. Cada sábado, na praça da cidade, o povo Se ajuntava e o pescador fazia apostas, enquanto os dois cachorros brigavam. Às vezes ganhava o cachorro branco, às vezes o preto – mas o pescador sempre ganhava as apostas! Seus amigos começaram a perguntar-lhe como ele fazia isto. Ele disse:
– Eu deixo um passar fome durante a semana, e só dou comida para o que eu quero que ganhe. O cachorro que está bem alimentado ganha porque está mais forte.

Uma Natureza ou Duas?

Esta história dos dois cachorros é muito apropriada para nos ensinar algo sobre a luta que se desenvolve no interior da pessoa que nasceu de novo.
Nós ternos dentro de nós duas naturezas, que lutam para ter o domínio. Qual delas vai vencer? Depende de qual nós alimentamos. Se nós alimentamos nossa vida espiritual e damos permissão ao Espírito de nos revestir com poder, Ele nos dirigirá. Se nós matamos nossa natureza espiritual de fome e em Seu lugar alimentamos a natureza velha, pecaminosa, a carne dominará.
Cada cristão pode se identificar com o apóstolo Paulo, quando ele diz: "Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim, o que detesto. ... Então encontro a lei de que a mal reside em mim ... mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros" (Rom. 7:15, 21, 23).
De tempo em tempo algum crente jovem me diz: "Desde que me tornei cristão tenho tido lutas internas como nunca antes! Eu não sabia que era um pecador tão grande. E antigamente eu não tinha tanta vontade de pecar. Eu pensei que Deus me tinha salvo dos meus pecados!"
De certa forma nós devemos ser gratos por esta situação, por estranho que isto possa parecer. Porque isto é uma prova de que o Espírito Santo entrou em nossa vida e está trazendo luz às trevas do pecado, está fazendo nossa consciência ficar sensível ao pecado, está despertando em nós um desejo novo de ser puros e livres de pecado diante de Deus. Os velhos pecados estavam lá também antes. As velhas tentações tinham a mesma força antes também, mas não nos pareciam tão más. Agora o Espírito Santo entrou em nossa vida. Somos uma pessoa nova, regenerada por este mesmo Espírito. E agora tudo tem outra aparência.

A Luta Interna

Agora você sabe do problema principal na vida do cristão, a luta contra o pecado. No Novo Testamento o apóstolo Paulo diz que todos os cristãos estão envolvidos em uma intensa batalha espiritual: "Porque a nossa luta não é contra a carne e o sangue (seres humanos, BLH), e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Efés. 6:12). Forças espirituais externas estão agindo neste mundo, tentando nos manter longe de Deus e da Sua vontade. Mas nós não precisamos culpar Satanás por tudo que não dá certo ou por cada pecado que cometemos. Muitas vezes a nossa própria natureza pecaminosa está agindo dentro de nós. "Porque a carne milita contra o Espírito, e a Espírito contra a carne, porque são opostos entre Si; para que não façais o que porventura Seja do vosso querer" (Gál. 5:17).
Isto não está acontecendo somente ao nosso redor, mas esta batalha está dentro de nós. Este é o tema de Romanas 7, principalmente de 7 a 25. Leia, por exemplo, Romanos 7:7 e 8 (em uma boa tradução moderna). Deixe-me fazer uma paráfrase do que Paulo está dizendo:
Antes de ouvir falar da lei de Deus e das boas novas da salvação, eu não sabia que cobiça era pecado. Mas então eu ouvi o décimo mandamento, "não cobice": a lei de Deus me mostrou este pecado em meu coração, e de repente eu me tornei consciente de quanta cobiça havia em mim, quanta maldade em minha vida. Compreendi quão grande pecador eu era, condenado à morte – mas por Cristo! Como cristão comecei a combater estes maus desejos dentro de mim. E que luta! Tentei parar de cobiçar e invejar, mas não consegui.
Tenho certeza que você também já se sentiu muitas vezes como Paulo. Talvez o seu pecado sejam desejos sexuais errados, orgulho, glutonaria, preguiça ou raiva ou qualquer outro "pecado que tenazmente nos assedia" (Heb. 12:1). A luta interna é a mesma. Às vezes você chega à mesma conclusão que Paulo em Romanos 7:22-24, que eu citei acima.
Mas não pare aqui! Observe a última frase de Paulo (v. 25) e Rom. 8:2 (na carta original de Paulo não havia divisões de capítulos!): "Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor! ... Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte." Um grande santo disse há muitos anos: "O pecado não reina mais, mas ainda luta!"
Horatius Bonar foi um teólogo brilhante, um grande santo, um pastor cheio de bondade. Morreu com a idade de 33 anos, mas não sem que antes um grande avivamento irrompesse em sua igreja na Escócia. Seus Sermões e livros têm abençoado o povo de Deus durante os últimos 150 anos. Honestamente ele fala por todos nós quando diz: "Enquanto a conversão acalma um tipo de tempestade, ela faz surgir outra, que durará a vida toda."1
Durante séculos os teólogos já tentaram explicar esta luta. Alguns usaram das palavras de Paulo, falando de "duas naturezas" do cristão – o "velho homem" e o "novo homem". Estes termos achamos em Efésios 4:22-24, onde Paulo diz: "No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano,...e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade" (grifo meu).
Na nota de rodapé a esta passagem a Nova Bíblia Scofield de Referências observa: "O 'novo homem' é o regenerada, distinto do velho homem ... é novo porque se tornou participante da natureza e da vida divinas ... não é o velho homem melhorado, em nenhum sentido."2 Scofield continua, na nota de rodapé a Romanos 7:15: "O apóstolo personifica a luta entre as duas naturezas dentro do crente: a velha natureza adâmica, e a natureza divina recebida através do novo nascimento."3
Como podemos entender e visualizar o que está acontecendo dentro de nós? Acho que a melhor descrição está em Romanos 8:1-13. Tentarei fazer uma paráfrase do que Paulo está dizendo neste trecho, e na primeira pessoa – porque se aplica a mim:
Eu nasci em pecado. Durante anos o pecado me controlou e eu não o sabia. Eu estava literalmente "morto em delitos e pecados" (Efés. 2:1). E então eu ouvi a Palavra de Deus, a lei e o Evangelho. Vi meus pecados pela primeira vez, e senti que estava condenado. Aceitei a Cristo. Agora a lei de Deus fala a mim cada dia, através da Palavra de Deus. Tornei-me consciente de pecados que eu não sabia que tinha. Às vezes eu me desespero (como Paulo em Romanos 7:24: "miserável homem que sou!"), mas, louvado seja o Senhor, eu sei agora que ninguém pode apresentar qualquer acusação contra mim porque eu estou em Cristo (Rom. 8:1). Cristo me libertou da lei do pecado e da morte (Rom. 8:2). Eu ainda sou a mesma pessoa – com a velha personalidade e natureza pecaminosas, hábitos nefastos que ficaram fortes nos tantos anos em que ainda não era creme. Mas agora o Espírito Santo entrou em minha vida. Ele me mostra meu pecado. Ele até condena o pecado em mim (Rom. 8:3). E com Seu poder Ele me ajuda a cumprir as exigências da lei de Deus (Rom. 8:4).
Se eu continuar pensando em minha vida anterior com seus pecados, eu voltarei a ela. O velho "eu" continuará pecando. Mas se eu me concentrar em Cristo e tentar ouvir e obedecer o Espírito Santo (Rom. 8:5), o Espírito Santo me dará vida e paz (Rom. 8:6). Quem é cristão tem o Espírito Santo (Rom. 8:9). Seu espírito foi vivificado (Rom. 8:10). O Espírito Santo dá vida ao Seu corpo, afastando-o da morte que o pecado causa (Rom. 8:11) e trazendo vida plena em Cristo.

As Duas Naturezas

Deus um muitas figuras de linguagem para descrever, na Bíblia, o que o Espírito Santo faz por nós. Já constatamos isto em João 3, onde Ele diz que nós "nascermos de novo" pelo Espírito Santo. Isto é claramente uma ilustração para descrever em termos físicos uma grande verdade espiritual. Em Romanos 7 e 8 e Efésios 4 Deus usa termos psicológicos com referência à nossa vida cristã: "nova natureza – velha natureza" ou "novo homem – velho homem", para tentar fazer-nos entender a mudança radical que ocorre em nossa vida de cristão quando esta é controlada pelo Espírito Santo.
Na verdade nós sabemos que somos apenas urna pessoa. Quando eu pequei, lá no fundo eu sei que o fiz. Eu senti a atração da tentação. Correspondi, e a certa altura consenti em pecar. Em um momento eu disse "sim" ao diabo quando ele estava me tentando através dos meus velhos hábitos, meus velhos desejos, minhas amigas motivações, ou estava estimulando meus antigos objetivos de vida. É isto que Paulo quer dizer quando fala da "velha natureza" ou da lei do pecado. Na verdade sou eu. Eu sou um só diante de Deus. Sou responsável por meus pecados. Não posso culpar a lei do pecado que ainda está em mim. Eu tenho a possibilidade de escolher entre me submeter ao Espírito – o novo impulso em minha vida – ou à velha força do pecado.
Só que agora o Espírito Santo está em meu coração. Ele me deu vida – a vida eterna que Deus dá. Ele mesmo está em mim para acabar com os velhos hábitos, purificar minhas motivações, dirigir minha atenção para novos objetivos, entre os quais o mais importante é o de se tornar semelhante ao Senhor Jesus Cristo (Rom. 8:29).
Pelo resto da minha vida, até que Cristo venha e me chame para casa, eu estarei sendo santificado (crescendo mais e mais em direção à maturidade espiritual) pelo Espírito Santo, através da Palavra de Deus. O melhor de tudo é que o Espírito Santo, diariamente, em silêncio, está me fazendo ficar mais parecido com o Senhor Jesus Cristo, se eu estiver cooperando com Ele: "E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória da Senhor, somos transformados de glória em glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito" (2 Cor. 3:18).
Mas nunca se esqueça de que sempre haverá lutas, internas e externas. O diabo é um inimigo implacável, que nunca desiste. Ele apela à velha força dentro de mim, através do "mundo" e da carne, para que ela se reafirme. Ele apela para meus desejos, minha cobiça e meu orgulho, da mesma maneira como fez com Eva e Adão (Gên. 3). Sempre sentirei a pressão da tentação. Minhas velhas tendências estarão despertas e quererão pecar. Mas eu tenho dentro de mim o Espírito Santo, uma lei ou força mais poderosa: "Maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo" (1 João 4:4). Se eu colaborar com Ele e Lhe pedir ajuda, Ele me dará condições de resistir à tentação. O resultado de cada teste será que eu estarei mais forte.
Talvez na próxima vez o diabo apele para uma outra fraqueza da "carne". Eu tenha diversas coisas em que sou tentado. Mas o Espírito Santo está sempre em meu coração para me dar a vitória na nova luta, e de vitória em vitória eu vou ficando mais forte. O Dr. Bonar diz que para Deus o conflito interno dos santos é "um processo indispensável de disciplina, em que se desenvolve o contraste entre a luz e a escuridão, e se mostra a maneira de Deus ser glorificado pelas fraquezas dos seus santos, em sua luta contra os poderes do mal."4
Em Romanos 7 Paulo não está dizendo que não pode deixar de pecar por causa da sua velha natureza que ele não consegue controlar. Ele está descrevendo a luta que todos nós temos de travar, e dizendo-nos que podemos obter a vitória em Cristo, pelo poder do Seu Santo Espírito que vive em nós (Rom. 8:4).

Santificação

A palavra santificação vem de um termo grego que significa "estar separado" ou "ser posto à parte com um propósito". Paulo diz que o crente fui "santificado pelo Espírito Santo" (Rom. 15:16). Escreveu aos coríntios que eles, santificados, são "chamados para ser santos" (1 Cor.1:2). Nós cristãos devemos ser "progressivamente santificados" ou "justificados" em santidade, à medida que permanecemos diariamente em Cristo – e obedecemos a Sua Palavra. Permanecer e obedecer são as chaves para uma vida dominada com sucesso pelo Espírito. Tanto quanto somos do Espírito Santo, somo santificados. A questão nunca é quanto você ou eu temos do Espírito, mas quanto Ele tem de nós.
As Escrituras ensinam que a "santificação" é composta de três etapas. Primeiro: no momento em que recebemos a Cristo há uma santificação imediata. A segunda etapa: à medida que progredimos na vida cristã, somos santificados progressivamente. A terceira: quando formos para o céu a santificação será total e "completa", que chamamos de "glorificação".
Um amigo nosso, que mora em uma das ilhas do Caribe comprou as ruínas de uma velha mansão. Aos seus olhos ela já é o que um dia será: bonita, restaurada, perfeita. É "santificada". Enquanto este dia não chaga, ele vai trabalhando nela, com seus recursos limitados, sua ingenuidade e seu amor. Para o transeunte em geral ela pode parecer parte de um filme de terror, com suas venezianas caídas, suas grades de ferro retorcidas, seu telhado de madeira remendado, seu assoalho liso de cerâmica. Mas para o nosso amigo ela é especial. Amada. Ele a vê como será um dia. Talvez o mundo esteja vendo o corpo de Cristo (a verdadeira Igreja) como outros vêem este mundo. Mas Deus o vê como será no fim. Perfeito, completo. Ele está sendo santificado. Aos olhos do nosso amigo a mansão já é bonita, porque sua mente a vê como já terminada. Trabalhando nela, ele a está restaurando, e quando algum dia terminar seu trabalho, a mansão será na realidade o que ele sempre esperava que ela seria.
De uma maneira muito mais profunda Deus olha para nós em Jesus Cristo. Ele já nos vê como se estivéssemos completamente santificados, porque Ele sabe como um dia seremos. Ele também está trabalhando na nessa restauração – estamos sendo santificados. Algum dia este processo estará concluído, quando formos para estar com Ele por toda a eternidade. Estaremos totalmente santificados.
J. B. Phillips diz que Deus nos predestina para "sermos familiarmente parecidos com Seu Filho" (Rom. 8:19). É o que está acontecendo a nós crentes agora. Estamos sendo santificados progressivamente – em direção à maturidade espiritual – para sermos parecidos com Jesus como irmãos Seus. Lembre-se que Jesus Cristo foi perfeito – e nós devemos esforçar-nos para obter a perfeição. Mesmo que receberemos só no céu completamente, ela já deve ser nossa meta agora. É isto que a Bíblia quer dizer quando ordena: "Como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo" (1 Pedro 1:15,16). Nós crescemos espiritualmente a cada conflito, turbulência, dificuldade, tentação, prova, etc., que afligem a cada cristão, lenta ou rapidamente, conscientes disto ou não. Mas chegará o dia em que tudo isto será coisa do passado, e nós estaremos completamente santificados: "Sabemos que, quando ele se manifestar seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é" (1 João 3:2).
Enquanto este dia não chega, os cristãos, dia a dia, semana após semana, mês após mês, devem andar no Espírito. Andar no Espírito significa ser dirigido e guiado pelo Espírito Santo. Isto acontece à medida que submetemos cada vez mais áreas da nossa vida ao controle da Espírito. Paulo disse: "Andai no Espírito, e jamais satisfareis à concupiscência da carne (os desejos da natureza humana, BLH)" (Gál. 5:16). O desejo em si mesmo não é errado; errado é o que desejamos ou cobiçamos – e quando cedemos.

A Velha Vida Egocêntrica

Quando Eva ficou com vontade de "saber" (mas com base no "eu") Satanás transformou um desejo sadio em um desejo prejudicial. E Eva desobedeceu a Deus. Carne é a palavra que a Bíblia usa para a natureza humana imperfeita. Carne é vida egocêntrica: é o nosso estado quando abandonados aos nossos próprios planos. Às vezes o nosso "eu" se comporta muito bem. Pode fazer coisas boas, ter moral, ter padrões éticos extremamente elevados. Mas cedo ou tarde o seu e o meu "eu" provarão que são egoístas.
Nós tentamos educar o "eu", treiná-lo e discipliná-lo. Estabelecemos leis para obrigá-lo a se comportar. Paulo disse que o "eu" tem mente autônoma e que a "mente natural" não está sujeita à lei de Deus. Deus diz claramente que não confia em nossa carne. Paulo declarou: "Eu Sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum" (Rom 7:18). No momento em que compreendermos isto e nos submetermos às orientações do Espírito Santo em nossa vida, vitórias maiores, maturidade espiritual maior, maior alegria, amor, paz e outros frutos se manifestarão.
Recentemente um amigo nosso se converteu a Cristo. Sua vida anterior fora bastante devassa. Um de seus antigos amigos lhe disse: "Sinto pena de você. Agora você está o tempo todo ou indo à igreja, ou orando, ou lendo a Bíblia. Você não vai mais às boates, não se embebeda mais, não se alegra mais com suas mulheres bonitas." Nosso amigo deu uma resposta estranha. Ele disse: "Eu me embebedo quando quiser. Vou às boates quando quiser, saio com as garotas quando quiser." O amigo mundano olhou perplexo para ele. Nosso amigo riu e disse: "Jim, veja, o Senhor tirou o querer quando eu me converti, e fez de mim uma nova pessoa em Cristo Jesus."
Santo Agostinho disse certa vez: "Ame a Deus e viva como quiser". Se nós amarmos de fato a Deus, também quereremos fazer o que Lhe agrada. É como diz o salmista no Salmo 37: "Deleita-te no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração" (v. 4, IBB). Deleitar-se no Senhor altera os desejos.

A Guerra Contra a Carne

Se nós como cristãos, tentarmos ser melhores, ou bons, ou até mesmo aceitáveis a Deus, por algum esforço humano, falharemos. Tudo que somos e temos vem através do Espírito Santo. O Espírito Santo veio morar em nós, e Deus atua em nós pelo Espírito santo. Somente temos de nos submeter ao Espírito de Deus de maneira que Ele possa nos dar poder para tirar o velho e pôr o novo.
Paulo esclarece isto em Gálatas 5:17: "Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si." Isto dá uma idéia do verdadeiro conflito no coração de cada crente genuíno. A carne quer uma coisa e o Espírito outra. O cachorro branco e o preto estão brigando com freqüência. Enquanto não houver uma rendição diária da mente e do corpo, a natureza velha se manifestará.
Sabendo da minha própria fraqueza, às vezes, ao levantar de manhã, eu tenho orado: "Senhor, eu não vou permitir que isto ou aquilo aconteça em minha vida hoje." Então o diabo manda algo inesperado para me tentar, ou Deus permite que eu seja testado exatamente neste ponto. Muitas vezes em minha vida, algo que na mente eu pretendia nunca fazer eu fazia na carne. Chorei muitas lágrimas amargas, confessando o pecado e pedindo que Deus Espírito Santo me desse força nesta área. Mas isto é para me lembrar que todo dia eu estou envolvido na luta espiritual. Nunca posso baixar a guarda – tenho de ficar armado.
Muitos dos jovens que eu encontro vivem derrotados, desiludidos, desapontados, mesmo depois de virem a Cristo. Estão andando de acordo com a carne porque não foram adequadamente ensinados sobre este ponto. O velho homem, o velho "eu", a velha lei, a velha força ainda não está morta ou totalmente renovada: ainda está ai. Combate por cada centímetro do caminho contra o novo homem, a nova força em que Deus nos transformou quando recebemos a Cristo. Somente quando nos submetemos e obedecemos à nova lei em Cristo é que obtemos a vitória.
"Submeter" é o segredo! Paulo disse: "Rogo-vos, pois, irmãos, peço pelas misericórdias de Deus que apresenteis decididamente os vossos corpos – entregando todas os seus membros e capacidades – por sacrifício vivo, santo (dedicado, consagrado) e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (inteligente) e adoração espiritual" (Rom. 12:1, amplificado). Na hora da entrega total temos uma nova "experiência". Para muitos cristãos não é exatamente uma segunda experiência – mas acontece muitas vezes durante a nossa vida.

As Obras da Carne

Temos visto que em cada um de nós há um conflito contínuo entre a carne, de um lado, e o Espírito, do outro. Quando Paulo usa a palavra "carne", ele na verdade está falando da natureza humana com todas as suas fraquezas, sua incapacidade, seu desamparo. A carne é o lado baixo da natureza humana. A carne é tudo aquilo que é sem Deus e sem Cristo. Paulo alista as obras da carne em Gálatas 5:19-21. Paralelamente a esta lista terrível deveríamos ler também Romanos 1:17-32. Estas passagens retratam a depravação da natureza humana; nós podemos vê-la como ela é.
Todos os dias podemos ler em nossos jornais sobre esta depravação. Ouvimos dela pelo rádio, e a vemos na televisão. Em qualquer lugar a natureza humana não regenerada evidencia os sinais e produz as coisas que Gálatas 5 chama de "obras da carne". Os pecados da carne são exibidos desavergonhadamente. São cometidos espalhafatosamente e sem remorsos por pessoas não regeneradas. No entanto, o cristão pode ser subjugado temporariamente por uma ou mais destas coisas terríveis. O Espírito o convence imediatamente do erro e ele logo se arrepende e recebe perdão.
Em Gálatas 5 temos uma lista de quinze obras da carne que vão desde pecados sexuais até bebedeiras, passando por idolatria e feitiçaria. O que aterroriza qualquer cristão é o fato de que estes pecados podem se introduzir facilmente em nossos corações, se não formos vigilantes e fortes espiritualmente. "Aquele, pois, que pense estar em pé, veja que não caia" (1 Cor. 10:12). Tendo isto em mente, examinemos a lista de pecados que Paulo enumerou em Gálatas 5, para estarmos melhor preparados para lutar contra a carne.
Algumas pessoas sugeriram que podemos dividir estes quinze em três categorias ou grupos. O primeira grupo seria composto de prostituição (imoralidade, BLH), impureza e lascívia (ações indecentes, BLH, sensualidade) (Gál. 5:19).
1) Imoralidade. A palavra grega usada aqui é suficientemente abrangente para incluir todos os tipos de perversidade sexual e é, por acaso, a palavra porneia da qual vem nossa palavra "pornografia". Sexo antes do casamento, fora do momento, sexo anormal, incesto, prostituição, e com certeza também os pecados sexuais no coração é o que o apóstolo tem em mente aqui.
2) Impureza. A palavra grega sugere qualquer tipo de impureza, em pensamentos ou ações. Pode até incluir desejos não naturais, a que Paulo alude em Rom. 1:24. Sem dúvida abrange alguns dos filmes da atualidade, literatura pornográfica e "imaginações más". William Barclay a compara com o pus de uma ferida aberta, uma árvore que nunca foi podada, areia que nunca foi peneirada.
3) Lascívia. Podemos traduzir esta palavra do grego como devassidão ou libertinagem. Pode significar mais que isto. Traz em si a idéia de despreocupada ausência de vergonha, ou mesmo de descarada impureza ou vício. A mesma palavra aparece em 2 Pedro 2:7, quando o apóstolo fala da licenciosidade de Sodoma e Gomorra. Significa pelo menos desejos e ações indecentes.
O segundo grupo de obras da carne enumeradas por Paulo é este:
1) Idolatria. O termo grego para idolatria significa adoração de deuses falsos, dos quais hoje em dia há muitos. Por implicação nós incluímos nesta idéia tudo que se põe entre nós e Deus. Dinheiro pode se tornar um ídolo se nós o adoramos mais que a Deus. Prazer pode se tornar um ídolo, mesmo o relacionamento com alguma pessoa pode se tornar um ídolo, se tomar o lugar de Deus.
2) Feitiçarias. A palavra grega aqui pode ser traduzida por bruxaria; a idéia principalmente é a do uso de poções e drogas mágicas. A palavra é pharmakia, de onde vem nossa palavra "farmácia". Toda a Escritura condena feitiçarias e bruxarias. E este mal está se alastrando rapidamente pelas sociedades ocidentais, a taxas alarmantes.
3) Inimizades. A palavra usada aqui está muito relacionada com ódio. O ódio contém a idéia de algo oculto, como um animal pronto para saltar sobre sua presa. Sinônimos para esta palavra traduzida por ódio são: hostilidade, antipatia, antagonismo, rancor, aversão e forte repugnância.
4) Porfias. A palavra grega significa desarmonia, contendas, brigas, discussões, discórdia, lutas e disputas, Muitas igrejas são vítimas de discórdia interna, que divide leigos de pastores e leigos de leigos. Quando membros da mesma congregação não se falam ou brigam é este o pecado que está agindo, e o Espírito de Deus é sufocado. Muitas famílias estão infeccionadas Por este espírito. Muitos pensamentos, mesmo de crentes, estão sendo destruídos por este pecado.
5) Ciúmes – um pecado muito comum. Implica em inveja quando alguém recebe a honra que nós queríamos, ou pode minar o relacionamento de um casal quando um marido ou uma esposa tem ciúmes de seu companheiro. Lemos de assassinatos cometidos por ciúmes, de amigos que não se falam durante anos. Do outro lado temos o bonito exemplo de Jônatas que não tinha ciúmes de Davi (2 Sam. 20).
6) Iras. A palavra grega para ira significa assomos injustos de raiva, explosões impetuosas de cólera, sentimentos hostis. João usa o mesmo radical quando fala da ira justa de Deus, no Apocalipse. A ira dos homens pode ser justa ou injusta, mas a ira de Deus é sempre justa, porque Ele não pare pecar. Existe ira justa, mas isto não é a mesma coisa que cólera. Neste caso ira ou raiva é um pecado que deve ser expulso de nossas vidas. Alguém disse muito bem que "indignação justa é geralmente 10% justa e 90% indignação".
7) Discórdias. Esta palavra grega, usada para discussões e disputas, significa ambição pessoal, interesseira, e egoísmo. Isto viola as duas partes dos dez mandamentos (Êxodo 20). Por um lado, quando ambições egoístas estão no lugar da vontade de Deus para nossas vidas, estamos pecando contra Deus; por outro lado estamos violando o mandamento de amar o nosso próximo, porque ações interesseiras sempre são cometidas às custas de alguém.
8) Dissenções. A palavra original significa separações, discussões, divisões. Os crentes devem viver em harmonia. O Livro de Orações (Prayer Book) traduz assim o Salmo 68:6: "Ele é o Deus que faz uma família viver em harmonia." Sem princípios firmes ou respeito à Palavra de Deus, discordâncias podem ser pecaminosas. Devemos lutar pela fé, mas mesmo nisto não devemos ser contenciosos. A verdade freqüentemente divide, mas quando a verdade não está em questão o povo de Deus deveria ser capaz de conviver em amor, pela graça do Espírito Santo.
9) Facções. A palavra grega, também traduzida por heresias, tem a ver com seitas e sectarismo. Significa escolher o mal, ou ter opinião contrária à revelação de Deus na Escritura. A mesma palavra encontrarmos em 2 Pedro 2:1: "Assim como no meio da povo surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberana Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição." Por isso este pecado é sério. Alexandre disse: "O erro muitas vezes está plausivelmente vestido com a aparência externa da verdade."
10) Invejas. O termo grego significa ressentimento pelo mérito ou pela boa Sorte do outro: um espírito invejoso. Podemos invejar alguém por sua voz bonita, sua riqueza, sua posição superior ou sua capacidade atlética. Podemos invejar uma moça por sua beleza, ou a posição de alguém num cargo público, A inveja já causou a queda de muitos cristãos. Geralmente a inveja também envolve cobiça.
11) Bebedices. O tema grego quer dizer muita tolerância quanto a bebidas alcóolicas. O álcool tem sua utilidade medicinal, mas pode também tornar-se uma terrível droga. A maneira com que é usado em nosso mundo faz dele provavelmente um dos maiores males dos nossos dias. Nós mesmos nos causamos este mal, pois "um homem toma um gole, um gole leva a outro gole, e o gole toma a homem". Nos tempos bíblicos não havia todos estes licores que conhecemos hoje. As bebidas alcoólicas atuais são muito mais perigosas que o vinho, que já era condenável quando tomado em excesso. Não podemos provar a abstinência ou a não-abstinência pela Bíblia; mas tudo que fazemos, devemos fazer para a glória de Deus (1 Cor. 10:31).
Muitos anos atrás eu tive um amigo cristão maravilhoso na Inglaterra, Era um homem de Deus, que tinha um conhecimento bíblico profundo e andava sinceramente com Deus. Certa vez, almoçando em sua casa com alguns amigos, ele se levantou e disse: "Eu sirvo vinho à minha mesa para a glória de Deus. Eu sei que vocês não bebem vinho, para a glória de Deus, por isso aqui há suco para vocês". E continuou: "Somos ensinados a respeitar a liberdade e a consciência dos outros."
12) Glutonarias. No grego isto quer dizer orgias. Em Rom. 13:13 e 1 Pedro 4:3 está associado a sexo ilícito, embriaguez e outros males que nenhum cristão deve tolerar.

Alguns de vocês que estão lendo estes parágrafos talvez estejam culpados de um destes pecados, ou talvez até de todos. Então nunca poderão entrar no reino do céu, a porta está fechada para sempre para vocês? Claro que não. A Bíblia diz que qualquer que se arrepende e crê recebe perdão (1 João 1:9).
Gálatas 5:21, no entanto, é uma das advertências mais sérias aos que acham que podem pecar, para que a graça seja mais abundante. O apóstolo diz com firmeza: "Não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam (isto é, as coisas relacionadas acima)." Pessoas que praticam alguma coisa contida nesta lista estão violando a vontade de Deus para eles. Deus odeia tanto estas coisas que julgará os que as praticam. Pessoas que têm suas vidas caracterizadas por desvios da vontade de Deus como estes, serão separados dEle e ficarão perdidos na escuridão exterior. Eu pus mui estas coisas uma por uma porque milhões de ditos cristãos são exatamente somente isto – "ditos". Nunca possuíram a Cristo. Suas vidas são caracterizadas pela carne. Dezenas de milhares nunca nasceram de novo. Entrarão na eternidade perdidos pensando que estão vivos parque pertencem a uma igreja, ou foram batizados, etc.
Mas há outra verdade aqui que não devemos esquecer. Hoje em dia as pessoas fazem muitas destas coisas proibidas em nome da liberdade. O que não vêem é que estas atividades na verdade escravizam os que se envolvem com elas. E quando a liberdade se transforma em licença, ela não está só mal interpretada – os que a interpretam mal estão amarrados, perdendo a liberdade de que a Escritura fala. A verdadeira liberdade não é liberdade para pecar, mas liberdade para não pecar.
Outra verdade é que os que vivem na carne somente podem ser mudados pelo Espírito de Deus. É por isto que estamos precisando tão desesperadamente de um avivamento espiritual profundo hoje em dia, Não podemos fazer leis contra estes problemas. Não importa quantas leis são feitas ou quantas boas intenções há: a velha natureza controla as pessoas que não estão em Cristo. Às vezes ela é dominada, às vezes controlada por disciplina rígida; mas cedo ou tarde as obras da carne se manifestarão, transbordando em conflitos e guerra total por fim.
Mas o cristão é nova criatura. Ele pode ser controlado pelo Espírito Santo e produzir o fruto do Espírito, que é todo um grupo de princípios que formam a nova pessoa e poderiam, no fim das contas, produzir uma sociedade nova.
Paulo diz: "Os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a natureza humana deles, junto com todas as suas paixões e desejos" (Gál, 5:24, BLH). Enquanto estava aqui na Terra, nosso Senhor Jesus Cristo viveu como ser humano, foi tentado como todos os seres humanos, mas cumpriu toda a lei de Deus e obteve a vitória sobre a carne. Os que estão ligados com Ele pela fé não estão mais sujeitos à carne, pelo menos em princípio. Paulo reconhece que estas velhas tendências carnais ainda querem nos fazer tropeçar, e temos de nos colocar sob a proteção do Espírito Santo quase a cada hora, para obtermos vitória total e completa.
A Escritura não diz: "Os que são cristãos deveriam crucificar a carne." Isto acorreu, para todos os efeitos, quando Cristo Jesus estava pendurado na cruz. Gálatas 2:20 diz: "Eu fui morto com Cristo na cruz" (BLH, grifo meu). Romanos 6:6 diz: "Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem" (grifo meu). É ação completa, concluída, Já que nós crentes já fomos crucificados, assim como já fomos salvos, agora se exige de nós que executemos esta crucificação na carne, não a alimentando. Fomos sepultadas com Cristo, e agora fomos ressuscitados para a nova vida nEle.

Muitas pessoas dizem: "Eu não posso viver uma vida nova como esta. Eu não vou agüentar." Se dependesse de você e de mim, não poderíamos mesmo. O apóstolo Paulo diz : "Considerai-vos mortos para o pecado" (Rom. 6:11). Disse também que o pecado não deve mais reinar em nossos corpos mortais.
Isto significa que nós aceitamos "pela fé" o que Jesus Cristo fez por nós na cruz. Pela fé nós entregamos nossas vidas total, completamente e sem reservas ao Espírito Santo. Cristo governa em nossos corações. Ninguém nem nada o poderá tirar de lá. O Espírito Santo produz o "fruto do Espírito". Mesmo querendo muitas vezes se manifestar – às vezes conseguem – as obras da carne não governam, não nos controlam mais. Não são mais hábito, não são mais costume: nós fomos transformados por Sua graça e agora vivermos a vida nova em Cristo. Isto só é possível se estivermos cheios do Espírito Santo. E é cara este ponto importante que nos voltamos agora.




























A PLENITUDE DO ESPÍRITO

Em nossa casa temos um reservatório que recebe água de duas fontes das montanhas através da casa. As pessoas que moravam ali antes de nós diziam que a quantidade de água destas duas fontes nunca varia. Sempre é a mesma, em tempos de seca ou de chuva. Nós usamos a água que precisamos, mas pela água corrente das fontes o reservatório está sempre transbordando. Literalmente é isto que quer dizer "ser cheio do Espírito".
Todos os cristãos devem ser cheios do Espírito. Qualquer coisa menos que isto é só parte do plano de Deus para nossa vida.
O que a Bíblia quer dizer quando fala da plenitude do Espírito Santo? Vamos definir o termo: Ser cheio do Espírito é ser controlado ou dominado pela presença e pelo poder do Espírito. Em Efésios 5:18 Paulo diz: "E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito." Ele está contrastando duas coisas. Alguém cheio de álcool é controlado ou dominada por este. A Presença e o poder do álcool sobrepujaram suas capacidades e atitudes normais.
É interessante que nós dizemos às vezes que alguém está "sob a influência" do álcool. Isto de certa forma traduz o que é ser cheia do Espírito. Estamos "sob a influência" do Espírito. Ao invés de fazermos as coisas baseadas somente em nossa força ou habilidade, Ele nos dá poder. Ao invés de fazermos somente o que nós queremos fazer, somos agora guiados por Ele. Infelizmente milhões de filhos de Deus não se alegram da riqueza espiritual ilimitada que está à sua disposição, porque não estão cheios do Espírito Santo.
Eu me lembro de uma grande professora de Bíblia de nome Ruth Paxson, que eu ouvi falar muitas vezes sobre este assunto. Ela foi hóspede em nossa casa, e eu ainda tenho algumas anotações que fiz durante suas palestras.
Ela nos mostrou com clareza que a vida de muitos cristãos reflete os hábitos e os padrões deste mundo. Sem dúvida eles foram batizados com o Espírito Santo no corpo de Cristo, e vão para o céu, mas estão perdendo tantas coisas que Deus quer que eles tenham nesta vida. Consciente ou inconscientemente eles estão mais interessados em imitar o sistema deste mundo dominado por Satanás que imitar a Cristo. Na verdade não querem sofrer a desonra com Cristo fora do acampamento (Heb. 13:13). Os dons que receberam não são usados, sua vida não apresenta o fruto do Espírito. Também não têm vontade de evangelizar os espiritualmente necessitados do seu círculo de conhecidos. Seu zelo em viver em obediência aos mandamentos de Cristo é fraco. Sua vida devocional é irregular, quando não cessou de todo, e eles preferem ler os jornais antes e mais que a Palavra de Deus. Quando oram, isto é para eles uma obrigação ou tarefa enfadonha, e não uma alegria. O pecado perdeu para eles um pouco da sua pecaminosidade, como para Ló em Sodoma; não têm mais tanta sensibilidade para o pecado, e sua consciência perdeu a eficácia. Sabem que pecaram, mas não se apressam a confessar.
Atualmente os cristãos têm mais equipamento e tecnologia para evangelizar o mundo que nunca antes. Têm pessoal mais qualificado. Mas a grande tragédia é esta: falta aos cristãos freqüentemente a plenitude do Espírito, ou seja, a verdadeira dependência do poder de Deus para seu ministério. No primeiro século temos abundância de ilustrações do tipo de poder que eles precisam e não têm. Em uma cidade as pessoas disseram dos cristãos: "Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui" (Atos 17:6). De tempos em tempos, nos séculos seguintes, o mesmo poder do Espírito Santo foi derramado sobre o mundo. Exemplos isolados temos ainda hoje. Mas como seria se todo o poder do Espírito fosse liberado em todos os crentes verdadeiros? O mundo seria de novo transtornado, "virado de pernas para o ar".

A Base Bíblica para a Plenitude do Espírito

Acho que é apropriado dizer que todo cristão não cheio do Espírito é incompleto. A ordem de Paulo aos cristãos de Éfeso, "enchei-vos do Espírito", é válida para todos os cristãos, em qualquer época, em qualquer lugar. Não há exceções. A conclusão lógica é que se nós recebemos a ordem de ser cheios do Espírito, estaremos pecando se não o formos. E o fato de que nós não estarmos cheios é um dos maiores pecados contra o Espírito Santo.
É interessante observar que, na língua grega original que Paulo está usando, a ordem "enchei-vos do Espirito" na verdade transmite a idéia de ser continuamente enchido. Uma vez não é suficiente, como se nós fôssemos um balde. Devemos nos encher constantemente. Poderíamos traduzir: "Encham-se e continuem se enchendo do Espírito de Deus", ou "Estejam sendo cheios".
Literalmente, Efésios 5:18 quer dizer: "Continuem se enchendo do Espirito". Dr. Merrill C. Tenney comparou isto com uma antiga cozinha de fazenda. Em um canto havia um tanque; acima dele um cano trazia continuamente água de uma fonte, mantendo o tanque sempre completamente cheio de água boa. O que sobrava saia por outro cano. Assim como este tanque, o cristão não deve esperar até estar vazio do Espírito, para se encher de novo; deve estar aceitando constantemente a orientação e a energia do Espírito, e estar sempre transbordando.
Rios transbordantes e vida abundante são bênçãos à disposição de todos os cristãos. Se em nossas vidas não correm rios de água viva, não é porque Deus os esteja negando, mas porque nós não os queremos ou nos recusemos a cumprir as condições para tê-los.
Em João 4, falando com a mulher samaritana no poço de Jacó, Jesus também estava ensinando este ser continuamente cheio do Espírito: "Quem beber desta água, tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna" (João 4:13, 14).
Jesus falou do Espírito Santo nos mesmos termos em João 7:38: "Quem crer em mim, como diz a Escritura, do Seu interior fluirão rios de água viva." A fonte que transborda e o rio que não seca são figuras das inesgotáveis bênçãos do Espírito Santo disponíveis a todos os cristãos. Se nós não temos esta água viva que Jesus fala – este ser constantemente cheio do Espírito Santo – não é porque Deus não nos queira concedê-la, mas porque não a queremos ou não queremos nos enquadrar nas condições que Deus estabeleceu para recebê-la.
Uma vez, lendo João 7:38, de repente fiquei dominado de temor ao compreender a grandeza das palavras de Jesus. Ele não estava falando de gotas de bênçãos, poucas e a intervalos, como uma chuva leve num dia de primavera. Estava falando de rios de água viva. Pense no Amazonas, no Mississipi, no Danúbio, no Iangtsé: não importa quanta água tiremos deles, eles não secarão, mas continuarão o seu caminho cheios. As fontes que lhes dão origem continuam enviando água generosamente. Estes rios ilustram a vida de um cristão cheio do Espírito. Nunca há falta de suprimento, porque o Espírito Santo é fonte inesgotável.
O bispo Moule disse certa vez: "Nunca esquecerei do que eu ganhei em termos de fé consciente e paz em minha alma logo depois que vi pela primeira vez de maneira decisiva e apropriada o Senhor crucificado como o sacrifício para a paz do pecador." Porque ele ganhou isto? Ele diz que foi por causa de "uma compreensão mais inteligente e consciente da personalidade viva e mais bondosa do Espírito; por Sua misericórdia a alma tinha tido a visão. Foi um novo contato com a atuação interna e eterna da redenção, em bondade e poder. Foi uma descoberta nova do que Deus tem para nós".
Uma das orações do grande reavivamento do País de Gales foi esta:
"Enche-me, Espírito,
Mais que cheio quero estar;
Eu, o menor dos Teus vasos,
Posso muito transbordar."1
Nós temos de nos colocar à disposição do Espírito Santo, para que nos tornemos recipientes de bênçãos para o mundo quando Ele nos encher, não importa se grandes e bonitos em posição de destaque ou pequenos e sem chamar a atenção. Na minha opinião a igreja de Corinto foi uma das mais tristes e trágica do Novo Testamento. Seus membros tinham sido batizados com o Espírito; tinham recebido muitos dons do Espírito; poderiam ter sido muito elogiados. Mas Paulo diz que eles eram carnais e não espirituais. "Irmãos, eu não vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a carnais, como a crianças em Cristo. ... não é assim que sois carnais?" (1 Cor. 3:1, 3). Isto quer dizer que você e eu podemos ter um ou mais dons do Espírito e mesmo assim não ser espirituais, não ter "a plenitude do Espírito". É um engano dizer que ter o dom de evangelismo, ou o dom de pastor, ou de professor, ou o dom de línguas, ou o dom de curar (ou qualquer outro dom) é prova de que ternas a plenitude do Espírito. Além disto, qualquer dom que tenhamos não será usado por Deus em todo o seu potencial se não for colocado sob o controle do Espírito e equipado com o seu poder. Não há nada mais trágico que um dom de Deus mal usado para propósitos egoístas ou não espirituais.
Portanto é de suma importância ser cheio do Espírito. Mas não devemos nos confundir com a terminologia, Alguns cristãos usam termos como "o segundo batismo", "a segunda bênção" ou "a segunda graça"; não encontramos nenhum destes termos na Bíblia, mas eu entendo que para muitas pessoas eles são apenas equivalentes para a plenitude do Espírito. O nome que darmos ao fato é menos importante que sermos mesmo cheios do Espírito.
Eu não gosto de usar estes termos porque podem fazer confusão na mente de algumas pessoas. Eu pessoalmente estou convicto de que a Bíblia ensina que somos batizados uma vez com o Espírito – quando crermos em Cristo pela primeira vez. A Bíblia ensina que podemos ser enchidos muitas vezes – na verdade, devermos estar sempre cheios do Espírito. Batismo, uma vez – cheio, muitas! Eu não acho nada na Escritura que indique que deve haver um "batismo do Espírito" em nossas vidas depois da conversão. Ele já está em nós, e nós devemos nos entregar a Ele continuamente; mas eu não condeno os que têm um ponto de vista diferente. Muitos dos que têm outro ponto de vista são amigos íntimos meus. Diferenças sobre este assunto não são razão para dividir os cristãos.
Talvez tenhamos de reverter a figura que estamos usando. Quando estamos cheios do Espírito, a questão não é termos mais dEle, apesar de Sua atuação em nós ser quantitativa; a questão não é quanto do Espírito nós temos, mas quanto o Espírito tem de nós. Ele está em nós em toda a Sua plenitude, esteja isto visível em nossas vidas ou não. Quando nós recebemos a Cristo como Salvador e Senhor, você e eu estamos recebendo-O todo, não em parte. À medida que vamos entendendo mais do Seu senhorio vamos nos entregando e submetendo mais a Ele. Da mesma maneira, procurando ser cheios do Espírito, receberemos Sua plenitude e nos alegraremos mais e mais com ela. No momento em que recebemos a Cristo como Salvador nossa capacidade espiritual é muito pequena. Nós nos entregamos a Ele como Senhor e Salvador da melhor maneira que sabemos. Podemos até dizer que somos enchidos com o Espírito naquele momento no sentido de que estamos sob Sua influência e sob Seu controle. Mas ainda há muitas áreas de nossa vida que precisam ser colocadas sob Seu controle. Naquele momento talvez nem saibamos isto ainda. À medida que crescemos na graça e no conhecimento de Cristo, aumenta nossa capacidade espiritual. Logo descobrimos que nossa vida cristã não é "perfeita" ainda, tropeçamos e pecamos freqüentemente – o que às vezes nem notamos. Também existem muitos pecados por omissão – coisas que deveríamos estar fazendo e atitudes que deveríamos estar tendo, a que ainda não nos acostumamos. Parte da função do Espírito Santo é nos convencer destes pecados e nos levar a um verdadeiro arrependimento. Nestas horas precisamos ser enchidos de maneira nova pelo Espírito Santo, para que Ele nos controle e domine. Podem ainda surgir novas tarefas e desafios da parte de Deus, e estes sempre nos devem levar a procurar de maneira nova o poder e a presença – a plenitude – do Espírito Santo.
Um cristão jovem também costuma pensar que ele deve combater o pecado em sua vida com sua própria força e sabedoria, ou cumprir alguma tarefa que Deus lhe tenha dado. Uma pessoa assim compreendeu que sua salvação está baseada totalmente no que Deus fez em Cristo, mas não sabe que depende da mesma maneira de Deus Espírito Santo para seu crescimento como cristão. Ele luta com bravura contra as tentações, procura falar de Cristo com entusiasmo, mas vê pouco ou nenhum progresso. Por quê? Porque ele está fazendo tudo com a energia da carne, não com o poder do Espírito. Uma pessoa assim precisa entender por que Deus enviou o Espírito Santo, e submeter-se a seu controle. Precisa ser cheio Espírito.
Às vezes, em situações como esta, o Espírito pode encher uma pessoa de maneira especial e inesquecível. Outros cristãos que são mais maduros ainda podem ter uma experiência espiritual maravilhosa, sentindo como o Espírito os enche de uma maneira nova e indescritível, Algumas pessoas chamam isto de "batismo do Espírito", mas eu acho que é mais bíblico falar de uma nova "plenitude do Espírito Santo". Podemos ter esta experiência em um momento critico da nossa vida, quando estamos enfrentando uma decisão crucial ou algum problema ou desafio especialmente difícil. Esta experiência também pode vir bem de mansinho. Pode haver ocasiões em que sentimos muito claramente que o Espírito nos está enchendo, e outras em que nem nos apercebemos disto.
Eu já experimentei ambos em minha vida. Tive momentos de profunda consciência da presença do Espírito Santo. Tive outros em que me sentia fraco e incapaz, mas olhando para trás vejo como o Espírito Santo estava controlando minha vida. Também experimentei momentos em que sentia o Espírito me enchendo, acrescentando forças para eu poder cumprir alguma tarefa especial.
Em 1954 nós viajamos para a Inglaterra, para uma cruzada que deveria durar três meses. Enquanto estava no navio eu tive um sentimento definido de opressão. Parecia que Satanás tinha reunido contra mim um exército inteiro de sua artilharia, Além de me sentir oprimida, uma profunda depressão tomou conta de mim, e um sentimento de incapacidade para a tarefa que tinha à frente. Orei quase dia e noite. Entendi de maneira nova a que Paulo se referia quando disse: "Orai sem cessar". E então, um dia, reunido com minha esposa e alguns amigos para orar, veio a vitória. Enquanto eu chorava diante do Senhor, enchia-me uma certeza profunda de que a Deus pertencia todo o poder, e que Ele era fiel. Eu tinha sido batizado com o Espírito no corpo de Cristo quando fui salvo, mas eu creio que Deus me deu uma confirmação especial naquela viagem à Inglaterra. Daquele momento em diante eu tinha confiança de que Deus Espírito Santo estava controlando a cruzada de 1954 em Londres.
O que se confirmou.
Eu já tinha tido antes experiências como esta, e as tive ainda muitas vezes depois. Às vezes não há derramamento de lágrimas. Outras vezes a certeza de que eu estava sendo enchido do Espírito para a tarefa que iria enfrentar vinha durante a noite, enquanto estava deitado acordado em minha cama.
Mas houve muito mais ocasiões em que eu tinha de dizer como o apóstolo Paulo: "Foi em fraqueza, temor e grande temor que eu estive entre vós" (1 Cor. 2:3). Freqüentemente diversos integrantes da minha equipe vinham me dizer que quando eu tinha sentido menos liberdade para pregar ou o maior sentimento de fracasso o poder de Deus se tinha manifestado mais.
Em outras palavras, o que Paulo escreveu adiante em sua carta à Igreja em Corinto ainda é verdade: "A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus" (1 Cor. 2:4,5).
Observe que os que ouviram a palavra sentiram o poder, não necessariamente o que a pronunciou. Encher não implica necessariamente em "sentir".

Ser Cheio e Ficar Cheio

Duas expressões empregadas no Novo Testamento às vezes intrigam os cristãos: ser cheio e ficar cheio. Algumas pessoas fazem distinção entre as duas. Eu concordo que possa haver urna distinção, se bem que mínima. Por exemplo, ser cheio do Espírito se refere, parece-me, ao "estado" do crente. Eu acho que João Batista e o apóstolo Paulo estavam sempre cheios do Espírito; era um estado contínuo. Para eles, no entanto, "ficar cheio do Espírito" também podia se referir a uma capacitação ou "confirmação" particular e ocasional para um propósito e uma tarefa especial. Alguns dos santos do Novo Testamento que Deus usou para tarefas especiais "ficaram cheios do Espírito". Talvez não fossem capazes de suportar esta sobrecarga de poder sempre; mas em momentos de grande necessidade eles a recebiam por tempo determinado.
Eu tenho certeza que Deus nos dá força do Espírito Santo na proporção dos tarefas a nós confiadas.
Nós temos um amigo que é pastor presbiteriano aposentado. Seu pai operava um bate-estacas. Ele contou que uma vez observou os enormes bate-estacas levando estacas para o leito do rio Mississipi, porque iam fazer uma ponte. Cada estaca era erguida no lugar determinado e, com uma enorme roncada do bate-estacas, fixada com firmeza no fundo do rio. À tarde o menino, Grier Davis, estava brincando em sua cancha de areia, tentando imitar o que tinha visto de manhã. Mas com todo o esforço ele não conseguia enfiar seus pedaços de madeira na areia como tinha visto os bate-estacas fazerem com os pilares no rio. Então teve uma idéia brilhante. Correndo para Seu pai, pediu-lhe permissão para emprestar um dos bate-estacas. Com uma risada o pai lhe explicou que o bate-estacas era muito grande para o pequeno trabalho que ele queria fazer, e que um martelo seria mais útil.
Assim é com o poder do Espírito Santo. Quando Deus nos incumbe de algo, Ele também dá o poder para realizá-lo. Por isso ser cheio do Espírito deveria ser a condição normal do cristão, porque estamos sempre sendo enchidas. Mas, então, o que fazer das diversas ocasiões específicas em que pessoas ficaram cheias do Espirito, mencionadas no livro de Atos?
Dr. Merrill C. Tenney ilustra isto com uma casa de cidade: A maioria das casas estão ligadas à rede de água da cidade. Esta supre a casa com a água suficiente para a vida normal. Mas se ocorrer um incêndio, os bombeiros usarão um hidrante da rua para terem mais água paro enfrentar o fogo. "Ser cheio" do Espírito é como esta casa que sempre tem água. "Ficar cheio", como os apóstolos em Atos 4:31, é receber energia e poder extra para um serviço especial. "Tendo eles orado . . . todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus" (Atos 4:31). Para esta tarefa especial de persistir na evangelização mesmo contra a violenta oposição da liderança religiosa, os discípulos precisavam ficar especialmente cheios do poder de Deus. Eles tinham "estado cheios do Espírito" o tempo todo; agora precisavam "ficar especialmente cheios" para estar à altura das exigências especiais que lhes eram feitas.

Cheios com um Propósito

É claro que Deus tem um propósito em querer que nós fiquemos cheios do Espírito. Vemos isto em Atos 4:31: "Todos ficaram cheios do Espírito, e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus." Em outras palavras, os discípulos ficaram cheios com um propósito – anunciar a palavra de Deus. "Qual a minha motivação cara querer ficar cheio do Espírito? O meu desejo é meramente de interesse próprio, para autoglorificação e auto-satisfação, ou é para glorificar a Cristo?" são perguntas a que cada cristão deve responder.
Um cristão pode estar procurando sinceramente ficar cheio do Espírito, mas – por ignorância ou de propósito – ter a motivação errada. Alguns querem ter algum tipo de experiência emocional, desejam ficar cheios do Espírito simplesmente para terem uma experiência nova (e mesmo espetacular). Alguns querem sentir algo diferente porque viram outros cristãos que tiveram uma experiência que eles acham que veio do Espírito Santo. Outros procuram a plenitude do Espírito talvez por terem um desejo mal orientado de serem espirituais como os outros, ou até mais. Outros até querem ficar cheios do Espirito porque estão enfrentando um problema específico e acham que podem sair da dificuldade tendo uma experiência com o poder do Espírito. Para abreviar: as pessoas podem querer o poder do Espírito por todo tipo de razões.
É verdade que o Espírito pode realizar algumas destas coisas em nossa vida. Ele pode nos proporcionar ocasionalmente um profundo sentimento emocional da Sua presença, ou nos fazer especialmente felizes, ou ajudar-nos a passar por uma dificuldade problemática. Mas devemos tomar todo o cuidado para não querer Sua plenitude por motivas egoístas. Ele veio para glorificar a Cristo.
O propósito da plenitude é que os que ficam cheios glorifiquem a Cristo. O Espírito Santo veio com este objetivo. Jesus disse: "Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar" (João 16:14). Ou seja, o Espírito Santo não chama a atenção sobre Si mesmo, mas sobre Cristo. Jesus disse: "O Auxiliador vai chegar – o Espírito da verdade, que vem do Pai. Eu o mandarei a vocês da parte do Pai, e ele falará a respeito de mim" (João 15 :26, BLH). Este é um dos testes para saber se uma vida está cheia do Espírito. Cristo está se tornando mais evidente em minha vida? As pessoas estão vendo mais dEle e menos de mim?
Esta foi a razão que me fez hesitar em escrever um livro como este, Pessoas que falam do Espírito como se Ele fosse um amuleto são suspeitas para mim: "O Espírito Santo . . . isto" e "o Espírito Santo . . , aquilo". O Espírito Santo não veio para glorificar a Si mesmo; Ele veio para glorificar a Cristo.
Outro ponto: uma pessoa cheia do Espirito pode não estar consciente disto. Nenhuma personagem bíblica disse: "Eu estou cheio do Espírito". Outros disseram que eles estavam. Algumas das pessoas mais dedicadas a Deus que eu conheci não estavam conscientes de que estavam cheias do Espírito. Alguém disse que quanto mais perto do céu chegamos, mais conscientes do inferno nos tornamos.
Estivemos falando do poder usado com propósito; mas, e os abusos? E as pessoas que querem o poder do Espírito com motivação errada? Um exemplo, no Novo Testamento, de uma pessoa que queria o poder do Espírito por razões egoístas achamos em Atos 8. Simão, o mágico, "creu", foi batizado, e ficou impressionado com os sinais e milagres que os apóstolos faziam. Ficou interessado mais ainda quando viu como os convertidos recebiam o Espírito Santo. Oferecendo dinheiro a Pedro e a seus companheiros, ele disse: "Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo" (Atos 8:19). Pedro o repreendeu imediatamente (v. 21): "Teu coração não é reto diante de Deus." O poder do Espírito é concedido com um propósito – sempre para a glória de Deus, não para vantagem ou promoção pessoal.

Poder para uma Vida Santa

No final das contas precisamos ser cheios do Espírito Santo para glorificar a Cristo. Mas como é que nós glorificamos a Cristo? Nós glorificamos a Cristo vivendo para Deus – confiando, amando e obedecendo a Ele, Jesus disse: "A luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem, e louvem o Pai que está no céu" (Mat. 5:16, BLH). Paulo disse: "Se vocês comem, ou bebem, ou fazem qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus" (I Cor. 10:31, BLH). Que conceito – tudo que fazemos deve glorificar a Deus!
E é isto mesmo que nos leva ao centro do problema. Por que precisamos da plenitude do Espirito santo? Porque somente com o poder do Espírito nós podemos viver uma vida que glorifique a Deus. Não podemos glorificar a Deus com a força da carne. Este era o desespero de Paulo em Romanos 7: "Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim, o que detesto. . . . o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, este faço" (Rom, 7:15,18,19). Mas no poder do Espírito Santo nós podemos viver de uma maneira que glorifique a Deus cada vez mais. Deus Espírito Santo nos dá poder com um propósito – poder para nos ajudar a glorificar a Deus em cada dimensão da nossa vida.
Na vida cristã, poder está relacionado com uma Pessoa, de maneira dinâmica. Esta Pessoa é o próprio Espírito Santo, habitando dentro do cristão e enchendo-o com a plenitude do Seu poder. Corno já disse antes, Ele dá poder com um propósito; deve ser usado. Apesar de colocar à nossa disposição recursos ilimitados, em cada situação Ele só libertará o poder que usaremos ou necessitamos. Infelizmente muitos cristãos são desobedientes, orando por poder sem a intenção de usá-lo, ou não persistindo obedientemente até o fim.
Eu acho que para nós cristãos é perda de tempo procurar poder que não tencionamos usar: poder de oração, sem orar; força para falar de Cristo, sem fazê-lo; poder para ter santidade, sem tentar viver uma vida santa; graça para sofrer, sem querer tomar sobre si a cruz; poder para o serviço, sem servir. Alguém disse: "Deus dá graça de morrer somente aos que estão morrendo."

Poder para o Serviço

Nós glorificamos a Deus vivendo de maneira a honrá-Lo, e isto só podemos no poder do Espírito Santo. Mas nós também glorificamos a Deus servindo-O, o que também só podemos fazer no poder do Espírito Santo. Nós somos cheios do Espírito para servir.
Pedro estava tão cheia do Espírito Santo que, quando estava pregando, 3.000 pessoas foram salvas, no dia de Pentecostes. Um fato interessante na Bíblia é que ela é cheia de estatísticas; esta é uma delas. Alguém deve ter contado os que se converteram naquele dia, e Lucas anotou o número, inspirado pelo Espírito Santo. Em Atos 4:4 ele diz que o número dos que creram (fora mulheres e crianças) subiu para quase cinco mil. O mesmo Espírito que inspirou estas estatísticas conferiu a Sua exatidão.
Em Atos 4:8 Pedro e João foram trazidos à presença dos líderes religiosos. Tinham sido presas por pregarem. E a Escritura diz que Pedro, "cheio do Espírito Santo", proclamou sem medo a morte e a ressurreição de Cristo. Este mesmo Pedro, agora cheio do Espírito Santo, ficou tão corajoso que se dispunha a morrer por Cristo. Apenas algumas Semanas antes ele O tinha negado, com juramento. A plenitude do Espírito Santo fez a diferença.
Pouco depois Pedro e seus companheiros se encontraram para orar. Como já lemos há pouco, quando eles estavam orando "todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus" (Atos 4:31). Eles ficaram cheios para que servissem a Cristo, anunciando o evangelho com coragem. Para mim é significativo que Pedro ficou cheio duas vezes. Ficou cheio antes de pregar (v. 8), e ficou cheio de novo depois que ele e seus companheiros oraram (v. 31).
Mas eles não ficavam cheios do poder do Espírito somente para pregar. Os apóstolos tinham ficado tão ocupados com os problemas normais dos milhares de crentes novos, que não lhes sobrava tempo para se dedicarem de tempo integral à pregação da Palavra. E eles pediram que fossem escolhidos sete homens para uma função prática – uma função administrativa. Eles estabeleceram três condições para estes encarregados: deveriam ser "de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria" (Atos 6:3).
Isto tem importantes lições para nós. Se todos os crentes fossem "de boa reputação, cheios de Espírito e de sabedoria", então esta exigência dos apóstolos não teria sentido. A algumas pessoas deve ter faltado um dos três. Mas o cargo exigia os três: boa reputação, plenitude do Espírito e sabedoria.
Ninguém deve ser oficial de igreja hoje em dia sem possuir estas três qualificações. E quantos membros de igreja hoje em dia têm "boa reputação, plenitude do Espírito e sabedoria"? E estas exigências eram para o serviço prático, não espiritual.
Isto não nos prova que, para executar o serviço mais prático para a glória de Deus (operário, administrador, empregado caseiro, secretário), nós precisamos ficar cheios do Espírito Santo de Deus – além de ter boa reputação e sabedoria?
Nós poderíamos tirar muito mais conclusões ainda, porque a Igreja Primitiva, cheia do Espírito Santo, tinha poder para qualquer tipo de serviço.
Eu tenho certeza que não é opcional ficar cheio do Espírito, mas é uma necessidade. É indispensável a uma vida abundante ou a um serviço que deva ter êxito. Uma vida cheia do Espírito não é anormal; é a vida normal do cristão. 90% é abaixo do normal; é menos que Deus quer dar e pode prover para seus filhos. Por isso nunca devemos pensar que ficar cheio do Espírito é uma experiência incomum ou singular, conhecida só por alguns poucos escolhidos. É destinada a todos, todos a precisam, e todos a podem Ter. É por isto que a Escritura nos ordena: "Enchei-vos (todos) do Espírito".












COMO FICAR CHEIO DO ESPÍRITO SANTO

Freqüentemente pessoas me perguntam: "Como posso ficar cheio do Espírito?" Nós recebemos a ordem de ficar cheios, mas como vamos obedecer? Como a presença e o poder do Espírito Santo podem se tornar reais em nossa vida? Este é o ponto-chave do problema. Tudo que eu disse até aqui sobre ficar cheio do Espírito será somente um artigo interessante, sem relação direta com nossa vida, se não fizermos nós mesmos a experiência: ficar cheio do Espírito.
É interessante que em nenhum lugar a Bíblia nos dá uma fórmula clara e concisa de como ficar cheio do Espírito. Eu creio que isto é assim porque a maioria dos crentes do primeiro século não precisavam que alguém lhes dissesse isto. Eles sabem que a vida normal do cristão é uma vida cheia do Espírito. O fato de nós estarmos tão confusos sobre este assunto hoje em dia é uma prova triste do baixo nível espiritual da nossa vida.
Apesar de a Bíblia não dizer muita coisa sobre este assunto, quando tomamos o Novo Testamento como um todo sobrarão poucas dúvidas em nossa mente sobre o que significa ter uma vida cheia do Espírito, ou como ela pode se tornar real em nós. Eu creio que o ensino do Novo Testamento sobre como ficar cheio do Espírito Santo pode ser resumido em três expressões: compreensão, submissão e andar pela fé.

Compreensão

O primeiro passo para ficar cheio do Espírito é compreensão; há certas coisas que nós precisamos saber e compreender – verdades que Deus revelou em Sua Palavra, a Bíblia. Algumas destas verdades já foram mencionadas, mas vamos recapitulá-las para ter certeza de que as sabemos bem. Quais são elas?
A primeira verdade que precisamos compreender é que Deus nos deu o Seu Espírito Santo, e que Ele mora em nós. Se eu aceitei a Cristo como meu Salvador, o Espírito de Deus habita em mim. Lembre-se – eu não preciso necessariamente sentir Sua presença, mas isto não quer dizer que Ele esteja ausente. Precisamos compreender que Sua presença é um fato. Deus prometeu que o Espírito viveria em todos os que pertencem a Cristo, e Deus não pode mentir. Nós aceitamos este fato pela fé.
Também devemos compreender que Deus ordena que nós fiquemos cheios do Espírito. Isto significa que é Sua vontade que você fique cheio – e recusar-se a ser cheio é agir contra a vontade de Deus. É uma ordem Sua, e por isso é Sua vontade. Talvez assim fique ainda mais claro: Deus quer nos encher com Seu Espírito. Isto é algo maravilhoso para mim. Deus não nos dá uma medida cheia do Espírito resmungando ou de má vontade. Não, Ele quer que nossas vidas sejam controladas e guiadas pelo Espírito Santo. "Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem" (Lucas11:13). Se você não está cheio do Espírito, tenha certeza de que não é porque Deus não quer. A culpa é totalmente sua.
Isto nos leva a outro ponto que devemos compreender, que é a presença do pecado em nossa vida. O que é que bloqueia a atuação do Espírito em nossa vida? É o pecado. Antes de podermos ficar cheios do Espírito Santo, temos de resolver honesta e completamente todos os pecados conhecidos em nossa vida. Isto pode ser doloroso, quando nos dispomos a encarar coisas que temas escondido ou nem mesmo reconhecido em nossa vida. Mas sem uma purificação dos pecados não podemos ficar cheios do Espírito, e o primeiro passo para a limpeza é reconhecer a presença do pecado.
A maioria de nós deve, uma vez ou outra, ter feito a experiência de ter canos entupidos em casa, de modo que a água só saía a conta-gotas, ou cessava de todo. Onde eu moro, no norte da Califórnia, raramente fica bem frio, mas eu me lembro de uma vez em que a temperatura desceu abaixo de zero. Apesar de os anos que trazem a água da fonte na montanha estarem bem fundo abaixo da terra, eles congelaram totalmente. Tivemos de cavar a terra dura e esquentar uma junta do cano com um maçarico, para derreter o gelo. O pecado em nossa vida é como este gelo – nossa vida espiritual foi "congelada" por um mundo hostil. Só há uma solução: arrepender-se, para abrir o bloqueio e restaurar a fluência do Espírito.
Todos nós sabemos que o "endurecimento das artérias" (arteriosclerose) é uma das doenças perigosas que matam grande parte das pessoas. As artérias vão ficando entupidas com substâncias que ainda confundem os especialistas. Eles ainda não sabem como desentupir estas artérias, de maneira que o sangue possa fluir livremente de novo. A solução mais comum é "fazer um desvio", mas as opiniões dos médicos divergem sobre este método. Em muitos países são gastas grandes somas todo ano em pesquisa médica, para descobrir uma substância química que desobstrua as artérias e livre da morte milhões de pessoas.
Nossa vida, da mesma forma, precisa da substância que é o sangue de Cristo para desentupir canos ou artérias em nó, para que a seiva vital possa fluir por eles. O pecado é o grande obstáculo, e o sangue de Cristo é o potente agente de limpeza, quando aplicado em arrependimento e fé.
Às vezes novos crentes ficam confundidos ao descobrir que ainda são pecadores e que não só continuam sendo tentados, mas até cedem à tentação. Na verdade isto não deveria nos surpreender, porque a velha natureza de pecado ainda está em nós. Antes de alguém vir a Cristo, só uma força está atuando dentro dele, a velha natureza carnal. Quando aceitamos a Cristo, o Espírito Santo vem morar em nossa vida, e agora há duas naturezas atuando em nós: a natureza pecaminosa que quer que nós vivamos para o "eu", e a nova natureza espiritual que quer que nós vivamos para Deus. A questão é: Qual destas naturezas decidirá nossas ações? É por isto que é tão importante ser cheio do Espírito. Se o Espírito não controlar nossa vida, a velha natureza pecaminosa nos dominará. A atuação do Espírito estará bloqueada enquanto permitirmos ao pecado que fique.
Portanto, temos de acabar com o pecado em nossa vida para saber como é ser cheio do Espírito. Isto não é fácil, por diversas razões. Uma, que pode ser muito penoso encarar o pendo. Geralmente a raiz dos nossos pecados é o orgulho, e nosso orgulho fica profundamente ferido quando admitimos honestamente, diante de Deus e diante dos homens, que não somos tão bons como pensávamos que fôssemos.
Também é difícil acabar com o pecado porque (como veremos adiante) não é suficiente conhecer o pecado, mas temos de nos arrepender dele. Alguns de nós possivelmente estão escondendo pecados, tolerando-os, não querendo deixar deles. Como o jovem rico legalista, em Marcos 10, nós queremos o que Jesus nos oferece, mas queremos ainda mais nos apegar a nosso pecado.
Ainda há outra razão que dificulta a extirpação do pecado do nosso coração, que é muito simples: o pecado nos cega espiritualmente, e ficamos cegos principalmente quanto ao horror do pecado. Não vemos o quanto ele penetrou em cada área do nosso ser, e como infeccionou tudo que dizemos, fazemos e pensamos. É muito fácil confessar os pecados que podemos ver claramente, mas pode haver muitos outros pecados, que não estamos veado, e que nos impedem até mais diretamente de andar com o Senhor.
Esta é a razão de a Bíblia ser tão inflexível neste assunto. Não devemos nos contentar com um exame superficial, achando que só os pecados que mais nos incomodam devem ser confessados. O Espírito Santo nos convencerá de outras áreas de pecado que precisamos confessar a Deus, à medida que estudamos a Palavra de Deus em oração – lembre-se que Ele é o Autor da Bíblia. Temos de confessar não só o que nós acharmos que é pecado, mas também o que o Espírito Santo indica ser pecado, quando de fato ouvirmos Sua voz pela Palavra de Deus. "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2 Tim. 3:16).
A confissão deve abranger todos os pecados. Os Cantares de Salomão nos advertem das "raposinhas, que devastam os vinhedos" (2:15). Isto é um exemplo de como "pecadinhos" porem destruir nosso fruto para o Senhor. Pode haver orgulho, inveja ou amargura em nós. Pode ser fofoca, impaciência, indelicadeza ou um temperamento não controlado – tudo que faça a vida dos que vivem ao nosso redor mais difícil. Talvez você deva trazer pensamentos impuros ao Senhor, para que Ele o limpe deles. Glutonaria ou preguiça devem ser enfrentadas.
Talvez o Espírito Santo esteja nos chamando à atenção pelo uso do nosso tempo, ou do nosso dinheiro, ou sobre o nosso estilo de vida, ou sobre o uso (ou abuso) de algum dom que Ele nos deu. Pode ser que estejamos tratando com frieza e indiferença uma pessoa chegada a nós. Em outras palavras, devemos trazer a Deus qualquer pecado que consigamos identificar, para que seja confessado. O pecado existe sob qualquer forma, e o Espírito deve nos guiar quando examinamos nossa vida em oração.
Recentemente um jovem veio falar comigo, dizendo que tinha perdido o Espírito Santo. Eu lhe respondi que ele não tinha perdido o Espírito Santo, mas talvez O tenha entristecido com algum pecado específico. Ele disse que não Se lembrava de nenhuma coisinha que pudesse estar entre ele e Deus. Eu lhe perguntei: "Como está seu relacionamento com seus pais?" "Bem, não é dos melhores", foi sua resposta. Eu cavei mais fundo e perguntei: "Você honra seu pai?" Ele concordou que tinha pecado nesta área. Eu disse a ele: "Por que você não vai e tem uma conversa franca e direta com ele, confessando seu pecado, caso você esteja errado?" Ele fez isto, e alguns dias depois voltou com um grande sorriso, dizendo: "Relacionamento restabelecido".
Há ainda outra afirmação a ser feita sobre confissão de pecados. Temos de ser honestas quanto aos vários pecados que cometemos, mas o maior de todas é – que não deixamos Cristo governar nossa vida. A pergunta mais básica que um cristão pode fazer é esta: Quem está dirigindo minha vida, eu ou Cristo?
Enquanto tentarmos manter o "eu" no centro das nossas vidas, o pecado será sempre um problema sem solução, e nossa vida será marcada por derrotas e desânimo. É impressionante quantos cristãos não querem se submeter ao senhorio de Cristo, e o Novo Testamento está cheio de afirmações de Cristo exigindo nossa entrega total. "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz, e siga-me" (Lucas 9:23). Como é fácil para nós fixar nossos próprios objetivos, agir conforme nossos próprios objetivos, agir conforme nossos próprios motivos, satisfazer nassas próprios desejos, sem sequer perguntar a Deus qual é Sua vontade. Ele nos diz que devemos renunciar a nossos planos e hábitos, e seguir a Ele. Ele nos diz que devemos abdicar do governo da nossa vida, e deixá-Lo governar tudo que somos e fazemos. "Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Cor. 5:15). Você reconheceu a maneira completa – e trágica – com que o pecado dominou sua vida, e está disposto a submeter tudo à autoridade e à direção de Cristo?
Temos de compreender também que o Espírito Santo está em nós, e que Deus quer que nossa vida seja controlada por Ele. Antes temos de compreender nosso pecado em toda sua dimensão. E o que mais precisamos é responder à pergunta crucial: Quem está controlando nossa vida – nós ou Cristo? Só quando compreendermos tudo isto poderemos passar para o segundo passo.

Submissão

O segundo passo para ser cheio do Espírito Santo é o que nós podemos chamar de submissão. O que eu quero dizer com isto? Com submissão eu me refiro à renúncia aos nossos métodos, procurando acima de tudo submeter-nos a Cristo como Senhor, ser governados por Ele em todas as áreas da nossa vida.
Vemos a importância disto no que foi dito antes sobre a maneira com que o pecado bloqueia o controle do Espírito Santo. A essência do pecado é a vontade própria – egocentrismo, ao invés de Cristocentrismo. Para sermos cheios do Espírito, controlados e dominados por Ele, temos de colocar a Cristo no centro da nossa vida, e tirar de lá o "eu", ou seja, submeter-nos a Ele – permitir que Ele Se torne Senhor em nossa vida.
Como concretizar isto? Há duas etapas para conseguir isto, a meu ver.
Em primeiro lugar, arrepender-se e confessar. Acabamos de constatar que uma das coisas que temos de compreender é a profundeza do nosso pecado. Mas só compreender não é suficiente. Temos de confessar o pecado a Deus, e nos arrepender dele. Muitas pessoas sabem que são pecadoras, podem até fazer uma lista dos pecados que são um problema para elas. Às vezes ficam tristes com a situação e gostariam que as coisas fossem diferentes, mas nunca mudam. Por quê? Porque nunca confessaram os pecados a Deus, arrependendo-se deles.
Há uma diferença entre confessar e se arrepender, embora a Bíblia veja as duas coisas muito próximas uma da outra, como dois lados de uma moeda. Confessar é reconhecer o pecado. É admitir diante de Deus que eu sei que sou pendor, porque há certos pecados que eu sei que cometi. O maravilhoso da questão é que Deus prometeu nos perdoar quando formos a Ele em humilde confissão. Uma das grandes promessas da Bíblia está em 1 João 1:9: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça".
Arrepender quer dizer renunciar ao pecado. No grego (a língua em que o original do Novo Testamento foi escrito) a palavra "arrepender-se" implica em uma mudança completa e radical de atitude. É mais do que ficar sentido com o que fez, mais que confessar: arrepender-me dos meus pecados é voltar as costas a eles e olhar para Cristo e Sua vontade.
Se eu estou culpado de pensamentos maus, eu renuncio a eles quando me arrependo deles, e decido, pela graça de Deus, encher minha mente com coisas que O honrem. Se eu maltratei alguém ou o tratei de maneira pouco amorosa, eu decido fazer tudo o que for necessário para substituir minha indelicadeza por atitudes amáveis. Se meu estilo de vida não está agradando o Deus, eu vou mudá-lo para encaixá-lo mais na vontade de Deus. Arrependimento é conscientemente voltar as costas para os pecados. "Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te" (Apoc. 2:5).
Depois de confessar cada pecado conhecido e se arrepender dele, a segunda etapa da submissão é sujeitar-se a Deus e à Sua vontade. A confissão e o arrependimento podem ser chamados de o lado negativo da submissão; implicam em livrar-se de tudo que impede que Deus controle a nossa vida. Sujeitar-se a Deus podemos chamar de o lado positivo: envolve colocarmo-nos total e completamente (da melhor maneira que podemos) nas mãos de Deus, em completa submissão à Sua vontade para nossa vida.
No capítulo 6 de Romanos esta etapa de sujeição é apresentada com clareza. Paulo fala primeiro de como o pecado nos governou no passado. Mas agora nós pertencemos a Cristo – não vivemos mais para nosso antigo dono, o pecado – vivemos agora para Cristo, nosso novo Dono. Por isso não devemos ceder ao pecado, mas nos sujeitar a Deus. "Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros como instrumentos de justiça" (Rom. 6:13). Paulo continua, dizendo-nos que nós fomos libertados da escravidão ao pecado – não pertencemos mais ao pecado. Mudamos de dono. No primeiro século um escravo podia sem comprado a qualquer momento e assim ser propriedade de outro; da mesma maneira nós fomos comprados pelo sangue de Cristo, e agora pertencemos a Deus. "Uma vez libertados do pendo, fostes feitos servos da justiça" (Rom. 6:18).
As palavras traduzidas por "oferecei-vos a Deus" têm um significado muito bonito na língua grega original. Outras versões as traduziram de diversas maneiras: "Ponham-se nas mãos de Deus" (Phillips); "Entreguem-se a Deus" (BLH); "Apresentai-vos a Deus" (IBB). O significado mais exato da palavra "oferecer-se" é "colocar-se à disposição de alguém". Em outras palavras, quando nós nos entregamos a Cristo não simplesmente nos sentamos e esperamos que Deus faça alguma coisa através de nós. Não, nós nos colocamos à Sua disposição – dizemos, com efeito: "Senhor, eu sou Teu, para ser usado da maneira que Tu quiseres. Estou à Tua disposição, Tu podes fazer comigo o que Te aprouver. Eu quero a Tua vontade para minha vida, não a minha vontade." "Ponham-se à disposição de Deus!" (Rom. 6:13 em outra versão).
O mesmo termo é usado em Romanos 12:1: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus." Isto inclui todas as áreas do nosso ser. Nossas capacidades, nossos dons, nossos bens, nossa família – mente, vontade, emoções. Nada está excluída, não podemos reter nada. Por princípio Ele deve dominar sobre nós no todo e em parte. Este versículo nos recorda os sacrifícios do Antigo Testamento, aqueles que o israelita apresentava totalmente a Deus. Ele não podia ficar com nenhuma parte, tudo era consumido no altar. Nossa submissão deve ser exatamente assim – sujeição, entrega total. É uma rendição incondicional.
Eu estou reconhecendo cada vez mais que esta sujeição é uma ação nossa definida e consciente, em obediência à Palavra de Deus. Na verdade isto deveria acontecer na hora da nossa conversão, quando nos arrependemos e recebemos a Cristo não somente como Salvador, mas como Senhor. Mas para muitas pessoas a sujeição só vem num momento de crise, depois da conversão.
No começo talvez não compreendamos inteiramente o que significa seguir a Cristo como Senhor. Mas mais tarde começamos a ver que o chamado de Jesus Cristo não é simplesmente para crer nEle, mas para segui-Lo sem reservas, como Seus discípulos. Quando estamos confusos quanto ao senhorio de Cristo, devemos partir imediatamente à ação. Nossa intenção deve ser de submissão completa e definitiva, em princípio, mesmo se o Espírito Santo, nos meses seguintes, nos mostrar outras áreas em nossa vida que devem ser entregues. Na verdade esta é uma das provas de que nos submetemos – colocando-nos à disposição de Deus, Ele nos dirige a novas áreas que devem Ser entregues.
O Espírito Santo vai nos testar muitas vezes, para ver se estamos mesmo falando sério. Ele pode até nos pedir que entreguemos algo em princípio, que realmente Ele não quer que entreguemos, mas que estejamos dispostos a entregar. Nós devemos Lhe dar liberdade para fazer o que quiser em e através de nossa vida.
Algumas ilustrações nos ajudarão a compreender melhor esta questão de entrega à vontade de Deus. Em Romanos 6 (como vimos acima), Paulo usa a ilustração de um escravo que agora pertence a um novo dono. O prof. William Barclay nos traz á mente o significado real da analogia de Paulo:
"Quando nós ouvimos a palavra servo, ou empregado, logo imaginamos um homem que dá uma parte do seu tempo a um empregador, contra uma remuneração combinada. Durante este tempo ele está à disposição e sob as ordens do seu empregador. Passado o tempo, ele pode fazer o que quiser. No tempo de Paulo, um "servo" tinha um status bem diferente. Ele não tinha, literalmente, nenhum tempo para si. Ele não era livre por nenhum momento. Cada minuto de sua vida pertencia ao seu dono. Ele era propriedade exclusiva de seu dono, não tinha nenhuma oportunidade em toda sua vida para fazer o que quisesse, No tempo de Paulo um escravo nunca poderia fazer o que quisesse; era-lhe impossível servir a dois senhores, porque era propriedade exclusiva de um só. Este é o quadro que Paulo tem em meme."1
O paralelo entre o escravo do tempo de Paulo e o cristão não é bem exato, como o próprio Paulo diz, porque em um sentido o cristão é a pessoa mais livre do mundo, desde que conheça a liberdade espiritual que Cristo traz. Por outro lado, você e eu somos convocados para pertencer a Deus e a Seu povo. Somos chamados para estar à Sua disposição, prontos e dispostos para fazer Sua vontade. Paulo disse a Tito que Cristo "deu a si mesmo por nós, para nos livrar de toda maldade e fazer de nós um povo puro, que pertence somente a ele, e que Se dedica a fazer o bem" (Tito 2:14, BLH).
Uma outra ilustração talvez nos ajude a compreender completamente o que estou querendo dizer. O princípio da entrega a Cristo é como o compromisso que noivo e noiva assumem quando se unem no casamento. É criada uma situação nova, que se torna realidade duradoura. Em princípio é uma ação completa e definitiva, a partir do momento em que repetiram os votos e consumaram o casamento. Estão casados, de fato e em princípio, mas – e isto é crucial – na prática marido e esposa descobrem que têm de entregar constantemente suas vidas um ao outro, além do compromisso inicial que assumiram ao casar.
Duas pessoas não deixam de estar casadas só porque suas vidas não são perfeitas e aparecem problemas no dia-a-dia. Ambos vão ficando mais maduros, aprendendo sempre mais o que significa amar e ajustar-se um ao outro, em conseqüência deste amor. De maneira semelhante, em nossa peregrinação terrestre descobrimos pecados que minam o nosso relacionamento com Deus, mas existe um compromisso de alcançar um padrão mais elevado, baseado em uma entrega a Deus de todo o coração.
Você já submeteu Sua vida a Deus? Já confessou alguma vez seu pecado a Ele, arrependendo-se dele da melhor maneira que você sabe? Você está ciente de pecados específicos que são obstáculo para uma entrega completa? Será que em Sua vida há outros pecados que você ainda nem admitiu que o sejam? E, mais importante que tudo, você já disse uma vez a Deus – da maneira mais simples e completa que você sabe – que você deseja Sua vontade para sua vida, qualquer que seja?
Existem pessoas que sugerem que nós devemos orar a Deus para que Ele nos encha com Seu Santo Espírito. Isto pode ser válido, mas eu vejo pouco ou nada disto no Novo Testamento. Eu acho que, ao invés disto, nós devemos orar que Deus tome total e completamente conta da nossa vida. Devemos orar que o "eu" seja tirado do nosso coração – amor próprio, vontade própria, auto-ambição – e que nós estejamos completamente à Sua disposição.
Se você nunca deu este passo de submissão a Deus e à Sua vontade, eu acho indispensável que você se ponha de joelhos antes de passar para a próxima página, e entregue sem reservas sua vida a seu Senhor e Dono. "Sê, pois, zeloso (abandona a tua indiferença, NTV), e arrepende-te." Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3:19, 20).



Chegamos agora à última etapa do ficar cheio do Espírito Santo, que eu gosto de chamar "andar pela fé". Primeiro temos de compreender certas coisas, depois temos de nos submeter e entregar a Deus – e então temos de aprender o segredo de andar pela fé.
O ponto central é este: quando estamos entregues a Deus e à Sua vontade, nós estamos cheias do Espírito Santo. O Espírito Santo nos controla e domina. Agora, a partir desta verdade, temos de agir, e andar ou viver na certeza plena de que Deus já nos encheu e que estarmos sob Seu controle.
O apóstolo Paulo põe isto nestes termos: "Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus" (Rom. 6:11). O termo grego traduzido por "considerar" era às vezes usado no comércio e na matemática. Depois de uma transação comercial, por exemplo, a soma em dinheiro era registrada nos livros contábeis. Este ato era evidência de que o negócio estava concluído e que o pagamento havia sido feito. Quando nós nos entregamos a Cristo e O seguimos como Senhor de nossa vida, nós sabemos que alguma coisa aconteceu. O Espírito Santo tomou conta de nós para nos guiar e dar poder. Vivemos agora pela fé, considerando-nos mortos para o pecado e vivos para Deus. Nós estamos cheios do Espírito Santo; agora devemos viver à luz desta verdade. Não é fazer de conta; é agir com base na promessa de Deus.
O Dr. John Stott explica isto assim: "Considerar não é fazer crer. Não é forçar nossa fé a crer em algo que nós não cremos. Não devemos fazer de conta que nossa velha natureza está morta, quando sabemos perfeitamente que ela não está. ... Nós só devemos "considerá-la" assim – não fazer de conta, mas compreender isto, porque é um fato. Temos de nos agarrar a isto. Temos de pensar e meditar nisto até que esta realidade se fixe em nossa mente."
Dr. Stott continua: "Uma mulher casada pode viver como se ainda fosse menina? Bem, pode ser que sim. Não é impossível. Mas deixe-a sentir aquele anel no quarto dedo de sua mão esquerda, o símbolo da sua vida nova, o símbolo da sua identificação com seu marido, deixe-a lembrar o que ela é, e viver de acordo... Da mesma forma a nossa mente deve compreender o fato e o significado da nossa morte e ressurreição com Cristo, e que uma volta à vida antiga é impensável. Um cristão renascido deve ter tanta vontade de voltar à vida amiga quanto uma pessoa adulta tem de voltar à infância, um homem casado à vida de solteiro ou um prisioneiro libertado à sua cela na prisão."2
Se você preencheu os requisitos bíblicos para ficar cheio do Espírito – especialmente arrependimento e confissão, de que nós falamos – então você pode dizer para si mesmo: "Pela fé eu sei que eu estou cheio do Espírito Santo." Eu nunca vi alguém que eu considerava cheio do Espírito Santo fazer alarde disto, tentando chamar a atenção para si. As outras pessoas logo notarão se nós estamos cheios do Espírito, porque quem está cheio do Espírito produz o fruto do Espírito. Nós talvez nem nos demos conta disto. Alguns dos maiores homens de Deus confidenciaram que quanta mais perto de Cristo estavam, mais pecadores se sentiam.
Roy Gustafson, meu amigo e sócio, disse uma vez: "O Espírito Santo não veio para nos fazer conscientes do Espírito Santo, mas conscientes de Cristo." Assim, quando dizemos a nós mesmos que estarmos cheios do Espírito, isto significa que coda pecado e obstáculo conhecido está fora do caminho; depois podemos dizer, pela fé, que estarmos cheios.
A esta altura há diversas coisas que devemos relembrar, a meu ver.
Em primeiro lugar temos de nos lembrar que a plenitude do Espírito não é questão de sentimento, mas de fé. Podemos ou não sentir fortemente a presença de Deus quando estamos cheios do Espírito. Não devemos confiar em nossos sentidos, mas nas promessas de Deus. Temos de nos considerar cheios do Seu Espírito.
James McConkey põe isto nestes termos: "Nada é mais doloroso do que inspecionar constantemente nosso interior para verificar se Deus está cumprindo Sua promessa, ou se nós a estamos experimentando. É como aquela criança que todo dia cava no canteiro para ver se a semente já está brotando. A questão de experimentar a plenitude do Espírito compete a Deus."3
Temos de nos lembrar também que a plenitude do Espírito não garante que sejamos perfeitos e sem pecado. Significa que estarmos sendo controlados pelo Espírito, mas o pecado continua sendo real, espiando atrás da esquina para dar o bote na primeira oportunidade. Podemos ser irrepreensíveis em nosso desejo de servir a Cristo, mas isto não faz com que não erremos.
Um pregador escocês, tempos atrás, explicou isto assim: "Aqui ao meu lado, sobre a mesa, está uma carta que ilustrara o que quero dizer. Eu a recebi quando estava em viagem missionária à Nova Zelândia, em 1891, da minha filha mais velha, que então tinha cinco anos de idade. Diz assim: 'Querido pai, eu mesma escrevi tudo isto. Elsinha manda um beijo'. Na verdade isto não é escrever, mas uma tentativa, com grandes letras de imprensa, todas desproporcionais; em toda a página não há uma linha reta. ... Bem, esta carta que eu gosto tanto não é algo "sem defeito"; tem tantos defeitos como tem letras. Mas ela é, sem dúvida, 'irrepreensível'. Eu não repreendi minha filha por seus riscos tortos, nem ralhei com ela, porque julguei seu trabalho pelos motivos. Sabia que ela tinha feito o melhor que podia, com todo o amor de seu pequeno coração. Queria fazer algo que me agradasse, e conseguiu. Pela graça do Cristo que esta em nós ... assim é que nossa vida diária com seus afazeres deve ser: irrepreensivel."4
Isto nos leva á última verdade sobre a plenitude do Espirito: ficar cheio do Espírito não deve ser um acontecimento único, uma vez, mas um fato real e contínuo, cada dia da nossa vida. É um processo. Temos de nos entregar a Ele todo dia, diariamente temos de decidir ficar submissos. Em cada situação de conflito entre o "eu" e a vontade de Deus temos de tomar nossas decisões com base na nossa submissão contínua a Cristo.
Como já disse, o verbo grego que Paulo usa em seu mandamento de Efésios 5:18 - "enchei-vos do Espírito" – traz em si a idéia de que devemos continuar nos enchendo do Espírito. Já somos o templo de Deus, o Espírito Santo já habita em nós, mas Ele quer nos encher dEle. Isto só é possível naqueles que se esvaziam do "eu" e se entregam a Ele. Esta é a razão de a entrega ter de ser diária, tanto das coisas pequenas como das mais importantes. Quando pecamos, temos de nos arrepender para que Ele possa nos encher novamente. Quando estivermos expostos ocasionalmente a uma pressão incomum, temos de orar pedindo sua ajuda adicional.
Concluindo, as quatro etapas abordadas até aqui não são só o começo, mas são um processo. Cada dia devemos nos empenhar para compreender mais da Palavra de Deus. Devemos orar a Deus que nos ajude a reconhecer nosso pecado. Devermos confessar e nos arrepender todo dia. Submeter nossa vontade à Sua todo dia. Andar pela fé de uma maneira que Ele esteja nos enchendo continuamente, à medida que nos submetemos a Ele. E devemos passar cada dia na obediência à Sua Palavra.
Eu pessoalmente acho que ajuda muito começar cada dia entregando-o silenciosamente nas mãos de Deus. Eu Lhe agradeço que sou Seu, e por Ele saber o que o dia trará para mim. Eu Lhe peço que tome minha vida neste dia nas Suas mãos e a use para Sua glória. Peço-Lhe que me limpe de qualquer coisa que impeça a Sua atuação em mim neste dia. E depois inicio as atividades do dia pela fé, sabendo que Seu Santo Espírito me está enchendo continuamente, enquanto eu confiar nEle e obedecer à Sua Palavra. Durante o dia às vezes eu não estou consciente da Sua presença; outras vezes estou. Mas no fim do dia eu posso olhar para trás e Lhe agradecer, porque vejo Sua mão atuando. Ele prometera estar comigo neste dá – e esteve!
Você pode experimentar a mesma coisa, submetendo-se diariamente ao senhorio de Jesus Cristo. Entreguem cada dia a Ele! E que você possa no fim de cada dia olhar para trás e reconhecer que Seu Santo Espírito tem sido seu guia e Sua força, estando você sujeito a Ele.





















PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO

Um dos temas mais solenes em toda a Escritura são os pecados contra a Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito santo. Tanto crentes como descrentes podem pecar contra Ele. Como são estes pecados, e como podemos evitar cometê-los?

A Blasfêmia contra o Espírito Santo

O pior pecado que um ser humano pode cometer contra o Espírito Santo é blasfemar contra Ele. A razão disto é clara: para este pecado não há perdão. Todos os outros pecados contra o Espírito Santo são cometidos por crentes. Podemos nos arrepender deles, receber perdão, e fazer um novo começo.
Com a blasfêmia contra o Espírito Santo é diferente. Este pecado, chamado de "o pecado imperdoável", é cometido por descrentes Os inimigos de Jesus, quando O acusaram de expulsar demônios pelo poder de Satanás apesar de Ele ter dito antes que os expulsava pela poder do "Espírito de Deus", cometeram este pecado. Então Jesus continuou: "Por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á isto perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isto perdoado, nem neste mundo nem no porvir" (Mat. 12:31, 32).
Quando meu pai era jovem ele foi a uma reunião de avivamento na Carolina do Norte, e um sermão sobre este assunto o convenceu de que ele tinha comendo o pecado imperdoável. Ele conviveu com esta idéia horrível durante vários anos. Sentia-se torturado, cheio de medo, pensando que era um homem maldito que nunca poderia se arrepender do seu pecado. Felizmente ele descobriu a tempo que o seu pecado não era do tipo que o excluísse da misericórdia e da graça de Deus. Veio a saber que o Espírito Santo não estaria lutando com ele, tentando convencê-lo e levá-lo a Cristo, se ele tivesse mesmo cometido este pecado imperdoável.
Talvez eu possa aventurar aqui uma definição do que eu entendo por pecado imperdoável. Negativamente, parece-me que ninguém que ainda está sob o poder perturbador, persuasivo e atraidor do Espírito Santo cometeu este pecado. Enquanto o Espírito estiver se ocupando de uma pessoa, esta não cometeu o pecado imperdoável. Mas quando alguém tanto se opõe ao Espírito Santo que Este o deixa de lado, então esta pessoa está em perigo. Em outras palavras, o pecado imperdoável implica na rejeição total e irrevogável de Jesus Cristo.
Eu creio que é sobre isto que Estêvão estava falando no sermão que pregou pouco antes de ser martirizado. "Homens de dura cerviz [teimosos, BLH] . . . vós sempre resistis ao Espírito Santo" (Atos 7:51).
Pelo contexto vemos que Estêvão estava dizendo, em primeiro lugar, aos seus ouvintes que eles eram culpados dos mesmos pecados que seus pais, que se tinham recuado a levar a sério as mensagens dos profetas e dos mensageiros de Deus, ou acreditar neles. No Antigo Testamento vemos corno as pessoas se opunham, maldiziam, perseguiam e ridicularizavam os profetas. Como estes eram inspirados pelo Espírito Santo, na verdade estas pessoas estavam resistindo ao Espírito. Da mesma forma Estêvão diz que os seus ouvintes que se recusavam a dar ouvidos aos apóstolos e escolhidos de Cristo, que falavam movidos pelo Espírito Santo, na verdade estavam resistindo ao Espírito.
Acontece que o pecado infeccionou tanto o coração das pessoas não regeneradas que elas estarão sempre resistindo ao Espirito Santo. A carne e a mente perversa sempre O combatem. Estas pessoas não darão acolhida à Palavra de Deus enquanto o Espírito Santo não obtiver a vitória sobre eles.
Estêvão estava dizendo algo mais: da mesma maneira como o Espírito tinha lutado em vão com muitas pessoas no Antigo Testamento, que depois foram condenadas, também seus ouvintes, naquela época e hoje, seriam condenados se não prestassem atenção à atuação do Espírito em Seu coração. Somente descrentes cometem o pecado de resistir ao Espírito. E este pecado, quando praticado por muito tempo, leva à condenação eterna. O julgamento é certo para os que resistem ao Espírito. A única maneira de o pecador receber o perdão por este pecado é deixar de resistir ao Espírito Santo e abrir o coração para Jesus, de quem o Espírito dá testemunho. Somente o arrependimento nos dá esperança, deixando o Espírito atuar em nós.
Na minha opinião pastores, professores, evangelistas e todos os cristãos devem tomar neste assunto com muito cuidado. Devem hesitar muito para tomar dogmaticamente suas decisões próprias sobre se alguém cometeu o pecado imperdoável. Deixe esta decisão com o Espírito Santo e com Deus Pai. Nossa parte é instar sempre com as pessoas para que se arrependam e se voltem para Jesus, porque nós não sabemos se o Espírito já cessou de atuar neles ou não. E oremos para que aqueles sobre quem nós não temos certeza ainda abram seu coração às boas novas de que Jesus salva.
Será que você também está preocupado se cometeu ou não o pecado imperdoável? Então você deve examinar com cuidado o que a Bíblia diz sobre isto, não o que outras pessoas disseram. O pecado imperdoável é rejeitar as verdades sobre Cristo. É rejeitar de maneira completa e definitiva o que o Espírito Santo diz sobre Jesus Cristo: que Ele é o Filho de Deus, o único que pode nos salvar dos nossos pecados.
Você rejeitou a Cristo, e disse em seu coração que o que a Bíblia diz sabre Ele é mentira? Se for este o caso, então eu lhe digo da maneira mais solene e sincera possível que você está em uma situação perigosa, Você tem de aceitar as verdades sobre Cristo o mais rápido possível, e achegar-se a Ele em confissão humilde, arrependimento e fé. Persistir na descrença poderá ser trágico, levando-o no final a uma eternidade sem esperança e sem Deus.
Por outro lado, você pode ser crente, mas cometeu algum pecado o qual você até agora pensou que o impedisse de ser salvo. Não interessa o que é: lembre-se que Deus o ama, e que quer perdoar este pecado. Você só precise, agora mesmo, confessar este pecado a Ele e pedir-Lhe perdão. Você precisa ficar livre do peso da culpa e da dúvida que o oprime. Cristo morreu para libertar você. Se você já veio a Cristo, você sabe, com base na Palavra de Deus, que este pecado – o que quer que Seja – não é o pecado imperdoável. Não fará que você vá para o inferno, porque você está salvo pelo sangue de Cristo, derramado por você. Só que você tem de fazê-lo sair de sua vida. Traga-o a Cristo. Lembre-se das palavras do salmista: "Quanto o oriente está longe do ocidente, tanto tem ele afastado de nós as nossas transgressões" (Salmo 103:12, IBB).

Entristecer o Espírito

Chegamos agora a dois pecados contra o Espírito Santo que podem ser cometidos por cristãos: entristecer o Espírito Santo, e apagar o Espírito. Quase tudo o que nós fazemos de errado pode ser incluído em um destes dois termos. Vejamos primeiro o que é entristecer o Espírito.
Paulo adverte os Seus leitores, em Efésios 4:30: "Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção." É importante e consolador ouvir Paulo dizer que nós fomos "selados para o dá da redenção". Isto deixa claro que nós somos e não deixamos de ser cristãos. Ele não está falando de julgamento, no sentido de que o que estamos fazendo aqui está nos separando do amor de Deus e nos fará ir para o inferno. Está, isto sim, falando de coisas que não combinam com a natureza do Espírito Santo e por isso O ferem em Seu ser e entristecem Seu coração. Com o que nós fazemos podemos fazer o Espírito sofrer.
"Tristeza" é uma palavra do "amar". O Espírito Santo nos ama tanto quanto Cristo: "Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor" (Rom 15:30). Podemos magoar ou irar alguém que não nos tem afeição, mas entristecer podemos só quem nos ama.
Uma vez eu ouvi um pai dizendo a seu filho: "Se você não se comportar, eu não vou mais amar você". Isto foi urna frase infeliz. Ele tinha o direito de exigir bom comportamento do filho, mas não tinha o direito de dizer que não o amaria mais. Um pai tem de amar seu filho sempre – quer ele se comporte bem ou mal. Quando o filho é mau, então o amor do pai por ele está misturado com sofrimento, tristeza e até angústia.
Como um cristão pode entristecer o Espírito Santo? Em Efésios 4:20-32 Paulo diz que tudo que não combina com Cristo, em ações, palavras e pensamento, entristece o Espírito da graça. Ruth Paxson diz em um de seus livros que nós podemos saber o que entristece o Espírito analisando nossa conduta à luz das palavras que a Escritura usa para caracterizar o Espírito. O Espírito Santo é o Espírito da:
1) Verdade (João 14:17): assim, tudo que ê falsa, enganoso e hipócrita O entristece.
2) Fé (2 Cor. 4:13); por isso dúvidas, desconfiança, ansiedades e preocupações O entristecem.
3) Graça (Heb. 10:29); assim, tudo em nós que é duro, amargo, malicioso, indelicado e indisposto para perdoar e amar O entristece.
4) Santidade (Rom. 1:4); por isso tudo que é impuro, sujo ou degradante O entristece.
O que acontece quando nós entristecemos o Espírito Santo? Normalmente Ele gosta de nos revelar o que é de Cristo. Ele também nos proporciona alegria, paz e um coração satisfeito. Mas quando nós O entristecemos, Seu ministério fica interrompido.
Eu venho de urna região nos Estados Unidos onde predomina a indústria têxtil. Há alguns anos eu visitei uma fábrica muito grande, onde centenas de teares estavam tecendo tecidos com finíssimos fios de linha. O gerente da fábrica me explicou: "Estas máquinas são tão delicadas que se um só fio dos trinta mil que estão passando pelas máquinas neste momento se rompesse, todas elas parariam no mesmo instante". Para provar, ele foi a uma máquina e cortou um fio. Imediatamente todas as máquinas pararam até que o fio fosse recolocado; depois continuaram automaticamente.
Este milagre mecânico é uma analogia rude "do que é espiritual". Quando eu peco, desobedeço ou me desvio do caminho claro da vontade e do temor de Deus, então o ministério do Espírito em minha vida está prejudicado. Sua atuação é interrompida, mas Ele continua presente, Ele não é afastado, somente Sua atuação é prejudicada. Assim que o fio partido é restaurado, Seu ministério pleno recomeça e Ele ilumina de novo o meu coração, satisfaz as necessidades do meu coração e faz eficaz em mim o ministério de Cristo.
Mas isto tudo tem um lado glorioso: entristecer o Espírito Santo não implica em perdê-Lo. Eu continuo selado por Ele; Ele não deixa de morar em mim. Nenhum crente pare entristecê-Lo a ponto de Ele o deixar totalmente. Os hinos de William Cowper, sócio de John Newton, me têm abençoado muito, mas estas linhas têm-me perturbado:
Retorna, santa Pomba! vem,
Ó Tu que dás a paz!
Odeio o que Te dá pesar
E abandonar-me faz.1
Eu tenho a incômoda impressão de que estas palavras querem dizer mais que isto: que o trabalho do Espírito foi somente interrompido. Elas implicam em que eu O perdi. Se foi isto que Cowper quis dizer, creio que ele estava errado.
Deus pode fazer com que não sintamos mais a presença do Espírito Santo. Podemos ver isto no Salmo 51, onde Davi diz: "Não retires de mimo teu Santo Espírito" (v. 11). Mas não se esqueça que o Espírito Santo selou todos os crentes para o dia da redenção, isto é, a redenção dos nossos corpos (Efés. 1:13, 4:30; Rom. 8:23). Você e eu podemos escorregar, mas isto é bem diferente de cair da graça ou perder o Espírito Santo totalmente.
Se o Espírito Se retirasse de um creme selado por Ele, não estaria negando todo o plano da salvação? Mas quando nós O entristecemos, Ele retira de nós a alegria e o poder até que renunciemos e confessemos o pecado. Mesmo parecendo contentes externamente, no interior nos sentimos infelizes, porque não estamos em comunhão com o Espírito. Não que o Espírito nos tenha abandonado, mas porque Ele nos faz sentir assim até que voltemos a Cristo humildes, contritos, prontos para confessar. O Salmo 32 – muitos acham que ele foi escrito por Davi depois de pecar com Bate-Seba – é um ótimo exemplo disto: "Enquanto não confessei os meus pecados, eu chorava o dia todo, até cansar. De dia e de noite me castigaste, ó Deus, e as minhas forças se acabaram como sereno que seca no calor do verão. Então eu te confessei os meus pecados, e não escondi a minha maldade. Resolvi confessar tudo a ti, e tu perdoaste as minhas faltas. . .. Todos vocês que são corretos alegrem-se e fiquem contentes pelo que Deus tem feito! Cantem de alegria todos vocês que são honestos de coração!" (Sal. 32:3-5, 11, BLH).
Eu estou convencido que, uma vez batizados no corpo de Cristo, tendo o Espírito Santo em nós, nunca mais seremos abandonados por Ele. Estamos selados para sempre. Ele é a garantia, o penhor do que virá. Sei que muitos dos meus irmãos na fé têm outro pomo de vista, mas até onde posso ver hoje, tenho certeza que o Espírito Santo nos sustém.
Por um lado o Espírito Santo que mora em nós nos guarda para Deus. Isto Ele faz através do sangue de Cristo, em que nós confiamos e sabemos que fomos redimidos. Por outro lado Ele nos concede alegria contínua por sabermos que somos de Deus; esta alegria só cessa quando alguma obra da carne entristece Aquele que nos selou. "Ele anseia por nós com ciúme" (Tiago 4:5). Eu duvido que neste lado da eternidade alguma vez cheguemos a saber que grande força poderíamos ter utilizado: o poder do Espírito Santo, do qual tomamos pequenas amostras, através da oração.
Quando nós nos entregarmos a Cristo, o Senhor, totalmente, cada momento de cada dia, não será possível descrever o poder (capaz de fazer milagres) e o testemunho do Espírito Santo que estarão em nós. O segredo de pureza, paz e poder está neste momento de entrega. E eu acho que também inclui o que George Cutting costumava chamar de segurança, certeza e contentamento. Engloba também a idéia de realização externa e satisfação interna.
Sim, quando nós pecamos o Espírito Santo, Espírito de amor, é entristecido, porque Ele nos ama.

Apagar o Espírito

Blasfemar contra o Espírito é um pecado cometido por descrentes. Entristecer e apagar o Espírito são pecados cometidos por crentes. Veremos agora o que quer dizer apagar o Espírito.
Esta é a breve advertência de Paulo: "Não apagueis o Espírito" (I Tess. 5:19). A palavra entristecer dá a idéia de mágoa, de sofrimento. Tem a ver com a maneira com que nós ferimos o coração do Espírito em nossa vida particular. A palavra apagar significa "abafar, extinguir", e nos lembra do conceito bíblico de que o Espírito é um fogo. Quando nós apagamos o Espírito, nós extinguimos o fogo. Não quer dizer que O expulsamos, mas que abafamos o amor e o poder do Espírito enquanto Ele está tentando executar através de nós o propósito divino. Podemos apagá-Lo de diversas maneiras, mas a idéia de fogo sugere dois aspectos, à guisa de advertência.
Um fogo se apaga quando lhe tiramos o combustível. O fogo do Espírito fica bloqueado quando nós deixamos a alma adormecida, quando deixarmos de usar o que a graça põe à nossa disposição, quando deixamos de orar, falar de Cristo ou ler a Palavra de Deus. Estas coisas são veículos que Deus usa para nos dar o combustível para manter o fogo. O Espírito Santo quer que nós usemos estas coisas para mantê-Lo aceso em nossa vida.
A outra maneira de apagar um fogo é jogar água ou terra sobre ele, ou sufocá-lo com um cobertor. De maneira semelhante um pecado intencional apaga o Espírito. Quando nós criticamos, somos grosseiros, rebaixamos o trabalho dos outros com palavras impensadas ou depreciativas, estamos sufocando e apagando o fogo. Isto acontece muito em movimentos do Espírito novos ou diferentes – que talvez não use os métodos tradicionais de evangelização ou culto. Alguns cristãos, por exemplo, tentam bloquear o que Deus está fazendo de maneira diferente.
Eu quero ser bem claro neste pomo: nenhum cristão tem de pecar. Por outro lado, ele não foi redimido a ponto de ser incapaz de pecar. Eu creio que um cristão pode pecar, mas não tem de pecar. É possível manter o fogo aceso; é possível evitar entristecer o Espírito. Deus nunca teria exigido que nós rejeitemos as ações más se nós não pudéssemos deixar de fazê-las. Graças a Deus que não precisamos pecar, mesmo se podemos pecar!
Eu não sei quem pronunciou estas palavras pela primeira vez, mas elas têm sido uma ajuda para mim: "Não resista a Ele quando Ele entra; não O entristeça quando Ele está em você; não O apague quando Se manifesta. Abra-Lhe, pois Ele é o que entra; agrade-O pois Ele é o que mora em você; obedeça-Lhe quando Ele Se manifesta testemunhando de Cristo, seja através de você ou de outros."
Você já entristeceu ou apagou o Espírito em você, qualquer que seja o meio? Este assumo é sério, exige de nós todo o cuidado. Se este foi o caso, saiba que o momento de confessar isto a Deus é exatamente este; arrependa-se. E depois viva cada dia na plenitude do Espírito, sensível à Sua orientação e ao Seu poder em sua vida.











OS DONS DO ESPÍRITO

Quando nossas crianças eram menores, na manhã do Natal sempre havia muitos presentes para eles debaixo do pinheirinho. Nós os tínhamos escolhido com carinho, de acordo com o que cada criança ansiava e precisava. Cada pacote era aberto com ansiedade e expectativa – aceito com expressões de alegria e contentamento – e usado com amor todos os dias (dependendo da idade). Às vezes (também dependendo da idade) à noite a inveja e as brigas já tinham começado.
Com os dons espirituais não acontece a mesma coisa (com a diferença que os dons espirituais foram dados para o serviço, não para satisfação pessoal)? Os espiritualmente imaturos olham com um pouco de inveja por dons que eles não receberam. Os que os receberam às vezes mostram um pouco de presunção e orgulho. Mas o espírito com que os dons foram dados não pode ser julgado pela atitude dos recebedores.
Em três passagens o Novo Testamento faz uma lista dos "dons do Espírito": Rom. 12:6-8; 1 Cor. 12:8-10 e Efés. 4:11
(Há outra lista em 1 Pedro 4:10,11, mas parece que está repetindo o que já consta das outras listas).

Os Dons e o Corpo

A Bíblia ensina que cada pessoa redimida recebeu pelo menos um dom do Espírito Santo: "Ora, os dons são diversos . . . mas a manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso" (1 Cor. 12:4,7). Nós somos responsáveis diante de Deus pela maneira com que usarmos nossos dons.
O apóstolo Paulo compara a Igreja aos nossos corpos físicos, onde cada membro tem uma função especial, mas todos trabalham juntos. Ele diz: "O corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de Ser do corpo. . . . Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, corno lhe aprouve". Paulo continua: "Há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós" (1 Cor. 12:14-21). Paulo ainda acrescenta que até os membros do corpo que parecem ser os mais fracos ou os menos úteis são necessários para que o corpo seja perfeito. São essenciais ao funcionamento apropriado do corpo.
Assim como o corpo humano o corpo de Cristo é um organismo completo feito por Deus. Cada membro do corpo é único. Não existe nenhum outro "você" ou "eu". Em certo sentido o seu dom e o meu são únicos. Deus dá dons semelhantes a pessoas diferentes, mas há algo de especial nisto que nos faz diferentes de qualquer pessoa que já viveu na Terra. Se qualquer de nós estiver faltando, o corpo está incompleto.

O que significa cárisma

O Novo Testamento usa a palavra grega cárisma (plural carísmata) para designar os diversos dons que Deus deu aos cristãos através do Espírito Santo. A palavra "carisma" entrou na língua portuguesa para descrever alguém que tem uma certa qualidade indefinível que atrai as pessoas à sua personalidade. Nós dizemos que algumas pessoas famosas têm carisma. Uma ilustração bíblia pode ser Apolo (Atos 18:24-28). Este evangelista e ensinador neotestamentário parece que tinha carisma neste sentido atual. O apóstolo Paulo não tinha. Mas ambos tinham dom espirituais definidos – carísmata – que Deus lhes tinha dado de maneira sobrenatural. No sentido secular carisma é uma influência que ninguém pode alterar. Mas a palavra cárisma, em seu sentido bíblico, significa "dom da graça". Por isso a palavra cárisma na Bíblia tem um sentido diferente daquilo que o mundo imagina quando diz que alguém tem "carisma".
A palavra carísmata, plural de carisma, acha-se somente nos escritos de Paulo, a não ser uma vez em 1 Pedro. Uma definição precisa seria "manifestações da graça", que traduzido é "dons". A palavra é usada paro identificar os diversos dons espirituais que os cristãos recebem para o beneficio da Igreja, e estes dons são o assunto deste capítula. Em Efésios 4 Paulo usa duas outras palavras traduzidas por "dons" ou "dádivas", dorea e doma. São semelhantes a carísmata e ainda a uma quarta palavra para "dons", pneumática, que significa "as coisas do Espírito". Todas estas palavras gregas são traduzidas por "dons", e significam mais ou menos a mesma coisa.

A Origem dos Dons Espirituais

Antes de falar especificamente dos dons do Espírito, quero enfatizar uma questão. Estes dons nos vêm do Espírito Santo. É Ele quem decide quem recebe e que dons. Ele os distribui como quer. Nós temos de dar contas do uso de qualquer dom que recebemos, mas não somos responsáveis pelos que não recebemos. E também não devemos cobiçar dons que outros tenham, nem ter inveja deles. Podemos desejar outros dons e até pedir por eles, mas se não for a vontade do Espírito Santo, não obteremos o que pedimos. E se não estivermos satisfeitos porque o Espírito não nos dá o que pedimos, estamos pecando. No meu uso eu creio que Deus me deu o dom de evangelismo, mas eu não o pedi.
Se eu tivesse o dom de evangelismo e deixasse de usá-lo, eu estaria pecando. Por outro lado, se alguém não tem o dom de evangelismo e está descontente com isto, também está pecando. Há muitas coisas que eu não sei fazer muito bem, mas isto é porque não tenho os dons para isto, e não devo ficar descontente por isso. Os dons que você e eu temos são os que Deus achou que serviriam para nós, e nós temos de nos empenhar para descobri-los e usá-los para Sua glória.
Ainda outro ponto deve ser abordado. Nós já falamos do fruto do Espírito (teremos ainda três capítulos sobre ele), vendo que cada um daqueles frutos deve ser característico de cada cristão. Com os dons do Espírito é diferente. Todos os crentes devem ter o mesmo fruto, mas nem todos os crentes terão o mesmo dom. O Espírito Santo distribui os dons de uma maneira que cada crente tenha pelo menos um que é só seu. Deus pode ter dado um determinado dom a você, mas seria errado dizer que todos devem ter o mesmo dom que você.

Dons Espirituais e Talentos

Nas três passagens que falam dos dons achamos mais ou menos vinte. O Antigo Testamento ainda enumera alguns dons que não estão no Novo. Muitos destes se parecem com habilidades ou talentos naturais que as pessoas podem ter; outros são claramente espirituais.
Muitos de nós com certeza conhecem alguém que tem o dom específico de "música", que não está entre estes vinte. E muitas pessoas gostariam de saber que diferença há entre dons espirituais e talentos naturais. Alguém pode ter a habilidade natural de fazer artesanato muito bonito: outros podem ter talento para a música. A maioria das pessoas tem talento para alguma coisa, o que também provém do Criador.
Parece que Deus pare tomar um talento, transformá-lo, pelo poder do Espírito Santo, e usa-lo como dom espiritual. De fato muitas pessoas com freqüência especulam sobre a diferença entre dom espiritual e talento natural. Não sei com certeza se podemos sempre traçar uma linha precisa entre ambos – não se esqueça que os dois vêm de Deus, afinal das contas. Às vezes nem é necessário fazer uma distinção clara. Mas no contexto que nós estamos estudando na maioria das vezes os dons que eu tenho em mente são sobrenaturais, que o Espírito dá a alguém para o proveito da Igreja.
Podemos também chamar um dom de um "instrumento" que deve ser usado, e não uma jóia ou objeto de decoração, ou uma caixa de bombons para nós nos alegrarmos. Podemos imaginar as diferentes ferramentas que por exemplo um carpinteiro usa, ou os diferentes instrumentos que um médico precise. Estas "ferramentas" as pessoas devem usar para o bom funcionamento do Corpo de Cristo.
Em Êxodo 31 há uma passagem interessante sobre Bezalel. A Bíblia diz: "Eu o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência, e de conhecimento, em todo artifício, para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, para lapidação de pedras de engaste, para entalha de madeira, para toda sorte de lavores" (vv. 3-5). Isto mostra que muitas das capacidades e das coisas para as quais as pessoas têm talento são dadas por Deus.
Esta capacidade especial de Bezalel, que o Espírito lhe tinha dado, incluía além da habilidade manual também a sabedoria e o entendimento intelectual essenciais a toda a arte. Talento artístico de qualquer tipo é um dom de Deus. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pare existir variação, ou sombra de mudança" (Tiago 1:17). Deus deu à humanidade também aptidões estéticas, que foram corrompidas pela rebelião do homem contra Deus no Jardim do Éden, como todas as aptidões humanas – mas ainda existem!

O Propósito dos Dons

Paulo diz que o propósito destes dons espirituais é "o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Efés. 4:12). Em outras palavras, Deus deu a cada um de nós um serviço, e dons sobrenaturais para executá-lo. Se não executarmos nossa tarefa, seremos repreendidos diante do trono do julgamento.
A Escritura ensina que cada crente estará um dia diante de Cristo para o julgamento, para prestar contas da fidelidade com que usou os seus dons e de toda a sua vida diante de Deus e dos homens. Este é o "bema" ou tribunal de Cristo: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou mal que tiver feito por meio do corpo" (2 Cor. 5:10). Este não é o mesmo julgamento dos incrédulos, que é chamado de o julgamento do Grande Trono Branco. Será um julgamento especial, só para cristãos. Cristo expiou os nossos pecados na cruz, mas tudo que fazemos depois de salvos tem de ser avaliado, resultando em ganho ou perda (1 Cor. 3:11-15); "mas esse mesmo (o crente) será salvo".
Em 1 Cor. 12:7 o apóstolo Paulo diz que os dons são concedidos "visando a um fim proveitoso (para o proveito comum, IBB)"; então não podem ser usados com propósitos egoístas. Devemos através deles ajudar uns aos outros, como Paulo diz em Filipenses 2:3, 4: "Não façam nada por interesse pessoal, ou por desejos tolos de receber elogios; mas sejam humildes, e cada um considere os outros superiores a si mesmo. Que cada um procure os interesses dos outros, e não somente os seus próprios interesses" (BLH).
Deus concedeu os dons também para ajudar a "unir" o corpo de Cristo. Antes de alistar os dons em Efés. 4:11, o apóstolo Paulo nos incentiva a (vv. 3-7) esforçarmo-nos "diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. E a graça (um dom especial) foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo". Observe como Paulo enfatiza a unidade repetindo a palavra "um".
Então, os dons do Espírito nunca devem dividir o corpo de Cristo; devem mantê-lo unido.

Como Reconhecer Seu Dom

Muitas vezes perguntam-me: "Como possa saber qual o meu dom?" ou "Como posso usar meu dom da melhor maneira?" Eu faço as seguintes sugestões:
Em primeiro lugar, tenha certeza de que Deus lhe deu pelo menos um dom espiritual, e quer que você saiba qual é e o use para Sua glória. Paulo escreveu assim ao jovem Timóteo: "Reaviva o dom de Deus que há em ti" (2 Tim. 1:6). Da mesma maneira como o primeiro passo para sermos cheios é reconhecermos que Deus já nos deu o Espírito, para descobrirmos nossos dons espirituais temos de compreender que Deus já os deu.
Em segundo lugar, eu acho que devemos nos pôr a orar com discernimento e objetivo. Orar que Deus nos leve a vermos os nossos dons. Também temos de ter certeza se realmente queremos usar os dons espirituais de uma maneira que honre a Deus. Se Deus, por exemplo, lhe mostrar que você tem o dom de ensinar outros, você estaria disposto a colocar Seu dom em prática em uma classe de escola dominical? Se descobrimos que relutamos em saber quais são os dons que Deus nos deu porque tememos que Ele nos chame para usá-los, temos de enfrentar isto e confessar a Deus.
Junto com estas duas coisas há uma terceira, que é uma compreensão inteligente do que a Bíblia diz sobre dons espirituais. Estou orando para que este livro seja guia de confiança. Mas não há substituto para o estudo direto do que a Bíblia ensina sobre os dons do Espírito.
Em quarto lugar, para descobrir seus dons espirituais você precisa conhecer a você mesmo e suas capacidades. Pode haver certas experiências em seu passado que lhe indicarão uma ou outra direção. Podemos notar que gostamos de fazer certas coisas, e que as fazemos bem. Quase não há maneiras de sabermos mais rápido: temos de descobrir de que maneiras os nossos dons se manifestam. Geralmente ajuda nós tentarmos diversas situações – por exemplo, tarefas diferentes na igreja. Outras pessoas podem nos ajudar. Nós, por exemplo, podemos não estar notando a capacidade que temos de ouvir e aconselhar pessoas. Mas com o passar do tempo veremos que cada vez mais pessoas vêm conversar conosco sobre seus problemas; também outros cristãos nos dirão que temos certos dons nesta área.
O processo de descobrir os dons espirituais pode ser longo, e mais dons podem se manifestar com o passar dos anos, quando somos confrontados com novas oportunidade e desafios. Mas isto não nos deve desencorajar. Deus quer nos usar, e enquanto não descobrirmos os nossos dons e os colocarmos à Sua disposição não poderemos ser usados por Ele de maneira total. Eu acho que alguém que é cheio do Espírito – submetendo-se constantemente ao senhorio de Cristo – descobrirá seus dons com mais rapidez. Quererá que Deus guie Sua vida, e é este tipo de pessoa que Deus abençoa com mais prontidão, mostrando-lhe os dons com que o Espírito Santo o proveu.
Aceite com humildade e gratidão a dom que Deus parece lhe ter dado e use-o o mais possível. Devemos nos aceitar como somos e usar os dons que temos. Pode ser que nosso dom nos leve a servir em uma posição de destaque, com suas dificuldades e perigos. Mas também pode ser que devamos servir em uma posição mais humilde.
Eu gosto muito da observação de David Howard: "Deus não chamou uma elite espiritual para executar o serviço, passando por cima do crente médio na igreja. Não, 'a cada um é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum' (1 Cor. 12:7, IBB)".1
Isto não acaba com o cargo de ancião ou bispo, nem com o de diáconos. Simplesmente quer dizer que os leigos têm tarefas e obrigações na congregação tanto quanto anciãos e diáconos.
O que foi dito até aqui já nos dá uma base para estudar cada um dos dons que Paulo cita. Logo descobrimos que Paulo não agrupa os dons em categorias, e nenhum agrupamento feito até hoje é satisfatório. No restante deste capítulo estudaremos os cinco dons que encontramos em Efés. 4:11 (apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mostre); alguns destes estão também em 1 Cor. 12:28. No capítulo seguinte abordaremos outros dons mencionados em 1 Cor. 12 e Rom. 12. Depois falaremos dos dons de sinais.

Apóstolo

O termo grego significa "alguém enviado com uma missão".
John R. W. Stott diz: "O Novo Testamento provavelmente usa a palavra 'apóstolo' com três sentidos diferentes. ... (Em primeiro lugar) no sentido geral que todos nós somos por Cristo enviados ao mundo, participando assim da missão apostólica da igreja (João 17:18, 20:21); neste sentido amplo todas nós somos 'apóstolos'. ... (Em segundo lugar) a palavra é usada pelo menos duas vezes para descrever 'apóstolos das igrejas' (2 Cor. 8:23; Filip. 2:25), mensageiros enviados de uma igreja a outra com incumbências especiais. . . . (Em terceiro lugar) o dom do apostolado, tão em destaque, deve se referir por isso a este grupo pequeno e especial que eram os apóstolos de Cristo': os doze (Lucas 6:12,13) e Paulo (Por ex.: Gál. 1:1). ... Eles eram diferentes porque tinham sido testemunhas oculares do Jesus histórico, principalmente da Senhor ressurreto. ... Neste sentido primário com que eles aparecem nas listas eles não têm sucessores, apesar de haver, sem dúvida, 'apóstolos' hoje em dia, no sentido secundário de 'missionários'"2 (grifo meu).
Dr. Merrill C. Tenney sugeriu que um missionário atual pode ter este dom em seu sentido secundário, se ele for um implantador de igrejas. Para isto ele precisa 1) ser enviado com uma mensagem, 2) ser responsável pela implantação de uma igreja e 3) exercer autoridade para introduzir e fortalecer novas maneiras de agir. Um amigo meu passou sua vida no Caribe indo de um povoado a outro, constituindo igrejas, Fundou mais de cinqüenta igrejas. No mundo todo há hoje centenas, talvez até milhares, de homens e mulheres de Deus que fazem exatamente isto, mesmo se a igreja tem de se reunir em escritórios ou casas.

Profeta

A nossa palavra profecia vem do termo grego que significa "expositor público". Nos tempos apostólicos este dom tinha duas facetas. Uma era a transmissão de palavras de Deus para os homens, através de um profeta. Isto era um dom sobrenatural. Para que as pessoas pudessem discernir entre profetas falsos e verdadeiros o Espírito dava a outros o dom do "discernimento de espíritos". Só o fato de existirem profetas que falavam por revelação implicava na existência de falsos profetas, como podemos verificar no Antigo e no Novo Testamentos. Os cristãos neotestamentários não deviam desprezar a profecia, mas também tinham de testar todas as coisas.
De acordo com 1 Cor. 14:3 a segunda faceta da função do profeta era de edificar, instruir, consolar e exortar os crentes nas congregações locais. O profeta, geralmente forasteiro, tinha precedência sobre o ministro local. Mas com o passar do tempo os ministros locais também passaram a exercer o dom da profecia, pregando a Palavra de Deus para edificação dos cristãos sob seus cuidados.
O dom da profecia no primeiro sentido, de predição, não existe mais tanto quanto no primeira século do cristianismo.
Eu sei de ocasiões raras em que cristãos tiveram precognição de eventos futuros. Diz-se que Hans Egede (1686-1758), missionário pioneiro da Groenlândia, predisse a chegada de um navio cheio de alimentos quando a fome estava ameaçando o povo. E o navio veio como tinha sido predito. Mas ocasiões como esta são raras e não normais e freqüentes. Eu não quero dizer que coisas como esta são impossíveis a um Deus soberano, mas elas não são determinantes para os crentes como é a profecia bíblica. E acho que sua função é distinta do dom de profecia atual, que é a capacidade de compreender e de empenhar-se na exposição da Palavra de Deus.
Deus não revela mais "verdade nova" diretamente; a Bíblia tem uma capa posterior. O cânon da Escritura está encerrado. Na minha concepção o dom de profecia deve ser usado "na sentido ampliado de apresentar ao povo de Deus verdades recebidas não por revelação direta mas do estudo cuidadoso da Palavra de Deus, completa e infalível".3
A função do Espírito é iluminar a mente dos que foram chamados para cargos proféticos para que compreendam a Palavra de Deus e a apliquem com uma profundidade que os que não têm o dom de profecia não possuem. Talvez soe como verdade recém-revelada – mas para ser bíblica precisa ser baseada na Palavra de Deus. Existe diferença entre doutrina e orientação. Na doutrina não há nada de novo, mas Deus dá orientação nova, que às vezes é confundida com profecia.
Quando profecia é mencionada junto com falar em línguas, temos outra dimensão. Se compreendo bem alguns dos meus irmãos, algumas pessoas na congregação podem profetizar em línguas, para depois serem interpretadas por outras que tenham este último dom. Não duvido desta possibilidade, com a ressalva de que não envolve revelação nova, mas algo que o Espírito Santo está fazendo, relacionado dinamicamente com a Palavra escrita de Deus. O dom de profecia merece talvez uma ênfase maior que o de pastor ou evangelista. Ao que parece, os profetas do Novo Testamento instruíam, exortavam, repreendiam e advertiam do julgamento.
Algum tempo atrás ouvi uma fita gravada que se dizia ser uma nova profecia, por um líder carismático de destaque. Mas observei que quase tudo o que ele dizia era baseado na Bíblia. Nada era novo – somente sua ênfase. Ele repetira verdades bíblicas de uma maneira dramática, aplicando-as a nosso mundo.
Em minhas pregações também já fiz tudo isto. E já encontrei evangelistas a meu ver profetas/evangelistas/mestres/pastores; tinham todos estes dons, sobrepostos. Os profetas do Antigo Testamento prediziam o futuro, principalmente o futuro relacionado com julgamento sobre cidades ou nações, ou a vinda do Messias. Os profetas do Novo Testamento tinham um ministério mais parecido com o de evangelistas. Proclamavam a Palavra de Deus, instando com as pessoas que se arrependessem dos seus pecados. Perturbavam as pessoas em Seus pecados. O apóstolo Paulo dedica grande parte de 1 Cor. 14 à profecia. Os crentes de Corinto estavam tão ocupados com os dons de sinais que Paulo decidiu enfatizar a importância da profecia.
Uma palavra de advertência. As Escrituras ensinam claramente que devemos exercer a dom de discernimento – porque aparecerão muitos profetas falsos. Não há como deixar de ver as muitas advertências de Jesus e dos apóstolos quanto aos falsos profetas que viriam, principalmente no fim dos tempos. Muitos serão como lobos em pele de ovelha. Enganarão muitas vezes o povo de Deus. Por isso entre as cristãos deve haver os que sabem distinguir entre profetas falsos e verdadeiros. Paulo estava preocupado com os coríntios porque eles pareciam ter pouco discernimento, recebendo a qualquer um como verdadeiro profeta de Cristo. "Porque vocês suportam com alegria qualquer um que chega e anuncia um Jesus diferente, que não é o Jesus que nós anunciamos. E acenam um espírito e um evangelho completamente diferentes do Espírito de Deus e do Evangelho que receberam de nós. ... Aqueles homens são apóstolos falsos, e não verdadeiros. Eles mentem a respeito de seus trabalhos, e se disfarçam em verdadeiros apóstolos de Cristo" (2 Cor. 11:4, 13, BLH).
Em certo sentido cada cristão deve discernir, verificar verdade e engano; porque cada cristão deve estar enraizado na Bíblia, sabendo o que ela ensina. Mas a Bíblia também indica que alguns cristãos têm o dom de discernimento em medida especial.
E as pessoas que dizem saber predizer o futuro? Muitas pessoas já me fizeram esta pergunta. O que se exige na Bíblia (teste que se faz) de um verdadeiro profeta (predizente) é que ele seja cem por cento exato. Não cinqüenta por cento. Também não setenta e cinco por cento. Nem sequer noventa e nove por cento. Cem por cento exato!

Evangelista

O termo "evangelista" vem de uma palavra grega que significa "aquele que anuncia boas notícias".
Leighton Ford, em seu excelente livro Good New is for Sharing (Boas Notícias Devem Ser Compartilhadas), aponta para algo que Soará surpreendente para alguns estudiosos da Bíblia. A palavra traduzida por "evangelista" aparece somente três vezes no Novo Testamento: 1) Lucas chamou Filipe de evangelista (Atos 21:8); 2) Paulo disse que Deus deu evangelistas às igrejas (Efés. 4:11), e 3) ele disse a Timóteo que fizesse "o trabalho de evangelista" (2 Tim. 4:5). Então o dom de evangelizar é simplesmente uma capacidade maior para transmitir o evangelho.
A mensagem do evangelista quase tem de girar em volta do "conteúdo" do evangelho. O evangelista é primeiramente um "mensageiro"; ele dá as "boas novas". Em sua atuação o evangelista pode incidentalmente ensinar e ser pastor, mas sua mensagem principal gira ao redor da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, Sua segunda vinda, e que todas as pessoas precisam se arrepender e crer.
O evangelista é um anunciador especial das boas notícias de que Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo. A Igreja, no curso da história, deixou de receber grandes bênçãos porque algumas denominações não reconheceram com tanta clareza o dom de evangelista como o de mestre ou pastor. E algumas vezes os evangelistas foram ignorados ou receberam oposição de sua igreja, como é o caso de John Wesley: sua própria igreja rejeitou seu trabalho. Apesar disto quase em cada geração Deus levantou evangelistas, que muitas vezes tiveram de seguir ao chamado fora da igreja organizada.
Existem muitas caricaturas de evangelistas porque os falsos, à maneira de Elmer Gantry, difamaram as centenas de verdadeiros em todo o mundo. Mas a mesma coisa pode ser dita de alguns pastores ou mestres que acabam desmascarados como falsos. Um pastor, mestre ou evangelista conhecido geralmente é alvo de ataques especiais de Satanás. Quanto mais visível, melhor o alvo. É por isso que o povo de Deus tem de cercar constantemente com suas orações os que são famosos por causa dos seus dons.
O verdadeiro evangelista fala ao intelecto, pode ou não envolver as emoções, mas sua tarefa principal é mesmo falar à vontade. Às vezes a mesma pessoa recebe os dons de ensino e evangelização. Alguns dos evangelistas mais eficientes que eu conheci no fundo eram mestres que informavam as mentes das pessoas até mesmo quando atormentavam suas consciências, através do seu uso da Palavra de Deus. Conheci muitos mestres e pregadores expositivos que diziam não ser evangelistas – mas na verdade tinham o dom de evangelizar! Por exemplo: apesar de o falecido Dr. Donald Grey Barnhouse ser um pastor/mestre, eu encontrei muitas pessoas que receberam a Cristo por Sua atuação.
Infelizmente alguns evangelistas gastam tempo demais pensando e até planejando como alcançar mais resultados visíveis. Esta é uma armadilha em que é fácil cair. O evangelista tem razão em desejar ver resultados, mas a dom não é garantia de que estes serão imediatos.
O Rev. James R. Graham Sr., missionário pioneiro na China, pregou o evangelho por três anos sem ver resultados. Quando lhe perguntaram se tinha ficado desanimado, ele respondeu: "Não. A batalha é do Senhor, e Ele a entregará em nossas mãos."
As Escrituras nunca nos dizem que devemos procurar resultados, e também nunca repreendem um evangelista se obtém pouco fruto. Sempre que o evangelho é pregado homens e mulheres tomam decisões; em silêncio ou em público alguns dizem sim, outros não, e outros decidem adiar a decisão. Nunca alguém ouve o evangelho sem tomar alguma decisão!
Nunca devemos nos esquecer que Noé era um pregador da justiça. Mas depois de 120 anos de atuação profética e evangelística, somente os que eram da sua família imediata creram e entraram na arca (Heb. 11:7). Por outro lado alguns que sem dúvida tinham o dom de evangelizar reprimiram seu dom porque têm medo de ser acusados de não intelectualismo, emocionalismo, comércio ou preocupação com estatísticas. Isto são alguns dos meus sutis que Satanás usa para evitar que quem tem o dom de evangelizar o use.
Para dar um exemplo, eu me lembro de uma época em meu ministério em que paramos de fazer estatísticas (devida às críticas). Descobrimos quase imediatamente que a imprensa exagerava o que acontecia, usando muitas vezes termos errados. Estivemos em uma cidade, e no dia seguinte o jornal publicou: "Mil salvos na Cruzada Billy Graham." Tinha duas coisas erradas nesta manchete: uma, que só Deus sabia quantos foram salvos ou não – é por isso que falamos de pessoas interessadas, e não de decisões; outra, não eram mil, mas menos de quinhentos (mais que a metade dos que foram à frente eram conselheiros treinadas). Por isso voltamos a fazer estatísticas.
Evangelizar não é só para os profissionais, isto é, para os que gastam sou tempo integral em sua vocação. O dom de evangelizar também é dado a muitos leigos. Filipe foi o único chamado de evangelista na Bíblia, e ele era diácono! Em certo sentido cada cristão, mesmo não tendo a vocação para ser evangelista, deve sempre fazer o trabalho do evangelista.
Freqüentemente as pessoas entendem mal os métodos de evangelizar. Podemos usar centenas de métodos diferentes; o que conta é a mensagem. Há, no entanto, algumas coisas que um evangelista não pode fazer. Ele não pode convencer do pecado, da justiça e do juízo; isto é função da Espírito. O evangelista pode convidar as pessoas a aceitarem a Cristo, e exortá-las. Mas o trabalho efetivo é feito pelo Espírito Santo, atuando na mente, no coração e na vontade dos incrédulos. Nós devemos nos encarregar do possível, e deixar o impossível para Deus.
Há ainda mais. Se o evangelista quer ter um ministério eficiente, para a glória do Senhor, atrás da mensagem tem de estar uma vida cheia do Espírito, produzindo fruto. Jesus prometeu: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens" (Marcos 1:17). Ele dá a força necessária, através do Espírito. Todos as cristãos devem fazer o trabalho do evangelista trabalhando nisto de tempo integral ou não! Eu creio que não há opção. É uma ordem do nosso Senhor Jesus Cristo, e a pressuposição geral da Escritura. "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século" (Mat. 28:19, 20).
Pastor

A Bíblia não usa muito a palavra pastor. No Antigo Testamento ela aparece mais, no sentido de pastorear ovelhas. No Novo Testamento aparece uma só vez com a idéia de "pastor de ovelhas" (Efés. 4:11), ligada intimamente com a tradução veterotestamentária desta palavra. A palavra também está relacionada muito com o termo para mestre. Outras formas desta palavra grega também aparecem em duas outras passagens.
Entre as cristãos a palavra pastor é a geralmente preferida para designar ministros ordenados. O uso do termo é compatível com o ministério do nosso Senhor, que aplica o termo "pastor de ovelhas" a Si mesmo. Assim, os que o Espírito Santo chama para o ministério pastoral são sub-pastores de ovelhas.
Jesus é chamada de "o bom pastor" (João 10:11) e "o grande Pastor das ovelhas" (Heb. 13:20). Pedro fala do "Supremo Pastor" que virá um dia (1 Pedro 5:4). Se Jesus é o Supremo Pastor, é evidente que existem pastores-assistentes; estes são os ministros do evangelho ordenados e santos não ordenadas, na congregação, que têm dons de aconselhar, orientar, advertir e guardar o rebanho. Diversas pessoas foram meus pastores espirituais durante minha vida, sem serem ordenados ao ministério.
Muitos conselheiros de jovens, professores de escola dominical, dirigentes de estudos bíblicos em casas e de grupos de crescimento espiritual na verdade exercem funções que fazem parte do dom de pastor. Três cartas de Paulo, 1 e 2 Timóteo e Tito, são chamadas de cartas pastorais, porque dizem ao pastor como cuidar do rebanho. Em nossas cruzadas nós usamos um "plano pastor": cada interessado que vem à frente fala com um conselheiro (ou pastor de ovelhas). Este não precisa ser pastor ordenado; pode ser leigo. Nós pedimos ao conselheiro que não perca de vista o interessado, escrevendo-lhe, telefonando-lhe, visitando-o até que a interessado ache uma atmosfera cristã agradável, faça contatos com outros cristãos, ou se junte a um grupo de estudo bíblico ou de oração. Se o interessado se encontra em solidão forçada (prisão), o pastor o ensina como estudar a Bíblia sozinho.
Eu tenho certeza que milhares de cristãos no mundo todo, que nunca serão pastores de igreja, têm o dom de pastor, que pode ser unido para ajudar o pastor da igreja em seu serviço. Os que têm o dom devem usá-lo o máximo possível, lembrando-se que se não o fizerem estarão entristecendo o Espírito Santo. Muitos pastores de igrejas estão sobrecarregados; seria ótimo se alguém os ajudasse. Cada um de nós poderia uma vez perguntar de novo ao seu pastor em que pode ajudá-lo.

Mestre

A palavra grega usada em Efésios 4:11 significa "instrutor". Depois de a mensagem do evangelho ter resultado em conversões, os novos cristãos têm de ser ensinados. Na Grande Comissão (Mat. 28:18-20) logo depois da ordem para discipular vem: "ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado".
Uma das coisas que a Igreja mais precisa na atualidade é mais mestres em Bíblia. Mas isto também está nas mãos soberanas de Deus. Ensinar é simplesmente uma capacidade, dada pelo Espírito, de firmar na vida de cristãos o conhecimento da Palavra de Deus e a sua aplicação em seu pensar e agir. O objetivo do ensino é que os cristãos sejam conformes à imagem de Jesus. Isto pode e deveria ser feita com simplicidade, amor e profundidade. Há muitos anos atrás eu tive dois professores de doutrina. Ambos tinham alcançado o grau de doutor, e eram professores universitários por direito adquirido. Tinham urna coisa em comum: quando ensinavam suas classes, faziam-no com tanta humildade e amor que às vezes lhes vinham lágrimas aos olhos. Eu já esqueci há muito grande parte do que ensinaram, mas ainda me lembro daquelas "lágrimas".
Fiquei sabendo que a maneira que Paulo pôs as palavras em Efésios 4:11 dá tanta proximidade aos dons de pastor e de mestre, que quase poderiam ser traduzidos como se fossem um só dom, "pastor-mestre". Isto reforça a idéia de que o ensinador espiritual deve ter uma sensibilidade amorosa quanto às necessidades dos seus alunos.
Alguns dos melhores ensinadores da Palavra que eu ouvi não tiveram muita instrução formal. E, em contraste, alguns dos ensinadores mais fracos tinham Ph.D., em diversas disciplinas bíblicas e correlatas, mas faltava-lhes o dom do ensino, para comunicar seu conhecimento. Infelizmente alguns seminários se enquadram no conceito secular de ensinar, e alguns dos melhores ensinadores bíblicos não têm diplomas, e por isso são impedidos de ensinar em um seminário moderno. Eu temo que, se esta prática for levada ao extremo, isto possa ser perigoso para a Igreja. Não estou querendo dizer que Deus não usa nossa capacidade intelectual quando nos entregamos a Ele, mas o dom espiritual do ensino, como todos os outros dons, é uma capacitação sobrenatural do Espírito Santo e não um diploma universitário.
Nos últimos anos eu mudei um pouco de ênfase: comecei a destacar mais, em minha pregação, o que custa o discipulado, e a necessidade de aprender. Como resultado da nossa ênfase no preparo de conselheiros para nossas cruzadas Deus fez surgir milhares de classes bíblicas, e centenas de institutos bíblicos e seminários evangélicos no mundo todo. Mas a Igreja ainda precisa de mais ensinadores. Eu tenho certeza que o Espírito deu a centenas, talvez milhares, o dom do ensino, que ou não o sabem ou não querem usá-lo!
O dom do ensino pode ser unido em qualquer contexto – seminário teológico, instituto bíblico, classe de escola dominical, estudo bíblico em casa. O que importa é que quem tem este Dom o use onde e quando Deus orientar.
Um dos primeiros versículos da Escritura que Dawson Trotman, o fundador dos Navegadores, me fez memorizar foi: "Tome as palavras que você me ouviu anunciar na presença de muitas testemunhas, e entregue-as aos cuidados de homens de confiança, que sejam capazes de ensinar os outros" (2 Tim. 2:2, BLH). Isto se parece com uma fórmula matemática para anunciar o evangelho e aumentar a Igreja. Paulo ensinou a Timóteo; Timóteo transmitiu o que sabia a homens de confiança; estes homens capazes também ensinariam a outros. E assim o processo nunca é interrompida. Se cada crente seguisse este método, a Igreja poderia alcançar o mundo todo com o evangelho em uma geração! Evangelização de massas, nas quais eu tenho confiança e a que entreguei a minha vida, nunca cumprirão a Grande Comissão; somente um ministério um-a-um fará isto.
Apóstolo – profeta – evangelista – pastor – mestre: cinco dons do Espírito Santo. Mas talvez você esteja dizendo: "Eu não sou nem pastor nem evangelista; outros têm estes dons, eu não. O que eu tenho a ver com isto?" Muito!
Em primeiro lugar, pode ser que Deus lhe tenha dado algum destes dons. Pode ser que Deus o esteja convocando para ser pastor, evangelista ou ensinador da Bíblia. Talvez você seja um jovem que Deus está chamando para o campo missionário. Talvez você já não seja tão jovem, mas Deus quer usá-lo como professor de escola dominical ou em um grupo de estudo bíblico em casa.
Em segundo lugar, a Bíblia nos ordena que sustentemos os que foram chamadas para liderar a Igreja. Você deve, por exemplo, orar regularmente por seu pastor, por missionários e outros envolvidos na obra de Deus. "Orem por mim", disse o apóstolo Paulo (Efés. 6:19). Diga a estas pessoas que você está orando por elas e que está interessado no que Deus está fazendo através delas.
Em terceiro lugar, aprenda dos que Deus colocou em posição de liderança. "Lembrai-vos dos vossos guias . .. imitai a fé que tiveram. . . obedecei aos vossos guias" (Heb. 13:7, 17). Agradeça a Deus pelos dons que deu a estes guias, "com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Efés. 4:12).


OUTROS DONS DO ESPÍRITO

No capítulo anterior estudamos os dons que Paulo cita em Efésios 4. Neste capítulo traçaremos algumas considerações sobre outros que ele menciona em 1 Coríntios 12 (alguns destes também aparecem em Romanos 12), a primeira lista de dons, talvez a mais conhecida. Por causa da controvérsia que há em torno dos dons de sinais (como o dom de línguas) veremos estes no próximo capítulo.
Observemos em primeiro lugar que Paulo diz: "Ora, os dons do diversos, mas o Espírito é o mesmo" (v. 4). Tudo que eu digo sobre os dons está baseado em uma pressuposição decisiva: estes dons são sobrenaturais, dados pelo Espírito. O cristão não pode produzi-los de nenhuma maneira. Isto não quer dizer que devemos compreender os dons isolados da Palavra escrita de Deus, é claro. Devemos estudar a Palavra e aplicá-la.
O Espírito concede a algumas pessoas sabedoria, conhecimento, fé, etc., especiais, mas isto não quer dizer que outros cristãos são infrutíferos. Não, estes dons espirituais são geralmente formas mais elevadas das capacidades rudimentares que Deus dá a todos os cristãos. O dom de sabedoria ilustra isto. Todos nós temos alguma sabedoria espiritual, mas alguém com este dom tem sabedoria em um grau especial. Por outro lado, eu creio que o dom de milagres ou de cura é do tipo que o crente tem ou não tem. E Deus os dá a poucas pessoas, atitude que Ele teve, pelo que me parece, através de toda a história da Igreja. De qualquer maneira temos de ver de mais perto estes dois dons espirituais que Paulo menciona em 1 Coríntios 12.
Nós podemos ter três tipos de sabedoria. O primeiro tipo nós temos naturalmente. O segundo tipo vem pelo aprendizado, por isso pode ser ensinado. Mas o tipo mais alto de sabedoria vem diretamente de Deus e está ligado à atuação especial do Espírito Santo. Ele é o manancial de toda a verdade, seja qual for a origem, mas Ele dá aos crentes sabedoria de uma maneira singular – pela Escritura. E ainda dá um dom ou capacidade especial de sabedoria para alguns.
Dr. Merrill C. Tenney, do Wheaton College, define este dom como "a capacidade de tomar decisões corretas com base no próprio conhecimento".
Isto nos leva ao segundo dom, o dom de conhecimento, ou seja, familiaridade com informação espiritual. Todos nós conhecemos crentes que sabem muitas coisas sobre Deus e doutrina, mas que não sabem como aplicar a que sabem a situações práticas. Eu tenho um amigo que tem a cabeça abarrotada de conhecimento bíblico, mas os erros trágicos que ele comete quase destruíram seu ministério. Por isso os dons de sabedoria e conhecimento devem andar juntos, ou seja, eles ilustram o fato de que os que têm dons diversos devem colaborar uns com os outros.
Jesus cita um caso em que um crente precisa dos dois dons. Ele diz: "Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis como que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isto falai; Porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo" (Marcos 13:11). Constantemente os discípulos de Jesus tinham de se defender diante de multidões enfurecidas, governadores, príncipes e reis; talvez o apóstolo Paulo tenha estado diante do próprio César. Este conhecimento, dom do Espírito, esta baseado em longas horas de estudo disciplinado, em que Deus nos ensina. Mas a capacidade de aplicar o que aprendemos em situações de fato ultrapassa o estudo e vem diretamente do Espírito Santo. Sabedoria é o dom do Espírito que nos mostra como usar o conhecimento. Paulo se defendia usando os dois. Assim fazendo, ilustrava o que Pedro diz: "... estanco sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor" (1 Pedro 3:15, 16).
Interessante é que Pedro também disse que temos de "crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2 Pedro 3:18). Pela comunhão com Deus nós adquirimos conhecimento e sabedoria mais altos da que os que o mundo tem. E crentes que os tenham em grau maior podem ter certeza de que têm o dom de conhecimento ou de sabedoria.
Todos nas enfrentamos pressões, dúvidas e problemas para os quais não temos resposta, humanamente falando. Uma equipe de 26 homens e mulheres capazes, pretos e brancos, administra as finanças e o pessoal da nossa associação evangelística. Desde o começo sempre tentamos ser muito escrupulosos com a nossa administração. Sempre quando chegamos a um impasse em nossas reuniões de diretoria quanto a prioridades, ou quando enfrentamos dificuldades financeiras críticas, ou algum ataque injusto de alguém, então nos colocamos de joelhos e pedimos por sabedoria. Repetidas vezes Ele nos deu respostas imediatas. Cada grupo de crente precisa pelo menos de uma pessoa com este dom, para ajudar em decisões práticas. Geralmente esta pessoa era a que tinha a orientação para a decisão certa a tomar, depois de nós orarmos.



Fé vem de uma palavra grega que significa fidelidade ou firmeza: "A outro, na mesmo Espírito, fé" (1 Cor. 12:9). Nesta passagem o apóstolo Paulo admite a existência de fé salvadora. A Escritura diz: "Pela graça sois salvos, mediante a fé" (Efés. 2:8). Diz também que "andamos por fé, e não pelo que vemos" (2 Cor. 5:7). Mas fé em 1 Cor. 12 é um dom especial que o Espírito Santo dá como Lhe apraz.
Temos de distinguir entre a graça da fé e o dom da fé. A graça da fé é quando nas cremos que Deus fará tudo que prometeu em Sua Palavra. Todos os cristãos têm esta fé. Quando não temos fé nas promessas da Bíblia estamos pecando. Mas em nossa vida há muitas coisas para as quais não há promessa específica na Palavra. Por isso acrescentamos "se for da Tua vontade" quando oramos. Às vezes o Espírito Santo nos concede o dom de fé para crermos em coisas sobre as quais a Bíblia silencia. Se não temos este dom especial de fé não estamos pecando.
A vida de George Muller, de Bristol, na Inglaterra, é um exemplo clássico do dom de fé. Durante muitos anos ele cuidou de milhares de órfãos, mas se recusava a pedir um único centavo, a quem quer que fosse. Ele orava até o dinheiro chegar. Este é o dom de fé de que Jesus está falando em Mat. 17:20: "Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível."
Houve ocasiões em meu ministério em que me parecia que eu era um homem de pouca fé, mas muitas outras vezes o Espírito Santo me deu o dom especial de fé e me forçou a entrar em situações aparentemente impossíveis, para as quais não havia promessas específicas na Palavra de Deus.
Em 1957, por exemplo, na nossa cruzada em Nova Iorque, o Madison Square Garden estava lotado todas as noites durante seis semanas, e milhares se entregaram a Cristo. Mas apesar de estar planejado encerrarmos no dia 20 de julho no Yankee Stadium, alguns de nós começaram a sentir que a cruzada deveria continuar. Alguns sentiram que votar ao Madison Square Garden depois de estarmos no Yankee Stadium seria negativo; as pessoas perderiam o interesse, ainda mais que as férias estavam começando.
Isto me pesou tanto sobre o espírito que eu não conseguia dormir. Eu sabia que a decisão final estava comigo e com meu companheiro de longa data, Cliff Barrows, diante de Deus. Por fim, diante de Deus de joelhos certa noite, eu disse: "Senhor, eu não sei o que é certo, mas pela fé eu vou dizer amanhã ao comitê organizador que nós vamos continuar aqui". Telefonei para Cliff e ele disse que Parecia que Deus estava lhe dizendo a mesma coisa.
Continuamos por mais dez semanas, e encerramos com uma reunião ao ar livre no Times Square, com 75000 pessoas enchendo até as ruas. O culto foi transmitido ao vivo, por rádio e televisão, a toda a nação, no horário nobre da noite. Se esta decisão não tivesse sido tomada com base no dom de fé do Espírito Santo, centenas de pessoas que hoje conhecem a Cristo talvez não O tivessem conhecido.
Eu tenho plena certeza que há ocasiões em nossa vida em que tomamos decisões com base na vontade de Deus, e o Espírito nos concede fé para fazermos o que Deus quer independente das conseqüências.

Discernimento de Espíritos

A palavra discernimento em 1 Coríntios 12:10 vem de um termo grego que compreende diversas idéias: ver, considerar, examinar, compreender, ouvir, julgar de perto.
No capítulo anterior eu disse que a Bíblia ensina que muitos falsos profetas e enganadores surgiriam dentro e fora da Igreja, mas que no fim dos tempos eles intensificariam suas atividades. Paulo disse: "O próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros da justiça" (2 Cor. 11:14, 15). Eu sei que centenas de líderes religiosos em todo o mundo não são Servos de Deus, mas do Anticristo. São lobos em pele de ovelha; são joio, e não trigo.
Espiritismo, ocultismo, adoração a Satanás e as atividades dos demônios têm aumentado rapidamente no mundo ocidental. Ensinos falsos (Paulo os chama de "ensinos de demônios" em 1 Tim. 4:1) acompanharam seu surgimento.
A grande pergunta é esta: Como podemos saber quais são verdadeiros e quais não são? É por isto que os crentes precisam do dom de discernimento, ou pelo menos respeito pela opinião dos que o têm. O apóstolo João disse: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1 João 4:1). Em outras palavras, os crentes devem testar os vários espíritos e doutrinas que existem hoje em dia, principalmente comparando-os com o padrão da Palavra de Deus, a Bíblia. Mas Deus dá a algumas pessoas capacidade extraordinária para discernir a verdade. Lemos em 1 Coríntios 12:10: "A outro (é dado) discernimento de espíritos."
Um homem chamado Joe Evans tinha este dom, na minha opinião. Eu sempre o chamava de "tio" Joe. Ele foi provavelmente o amigo mais íntimo de Dr. V. Raymond Edman, falecido presidente do Wheaton College. Muitas vezes nós três (às vezes com mais alguns integrantes da minha equipe) nos ajoelhamos por longos e gloriosos períodos de oração, quando éramos confrontados com desafios, oportunidades e problemas. Algumas vezes eu fui tentado em minha vida a mudar da evangelização para outra campo. Muitas vezes vieram ofertas através de um "anjo de luz". Eu precisava de discernimento. Como nem sempre eu mesmo o tinha, "tio" Joe era uma das pessoas a quem eu ia para me beneficiar do seu dom especial de discernimento. Eu procurava seu conselho e sua oração. É importante que compreendamos que uma pessoa com o dom do discernimento muitas vezes pode dizer a diferença entre o que é de Deus e o que não é. Pode reconhecer ensinos e mestres falsos – tem uma capacidade quase misteriosa para perceber hipocrisia, superficialidade, engano ou mentira.
Com certeza este foi o dom que fez com que Pedro reconhecesse a hipocrisia de Ananias e Safira. Viu também o que se passava no interior de Simão de Samaria, que dizia ser convertido e batizado no Espírito mas que se revelou como impostor (Atos 8:8 em diante). Paulo advertiu que "nos últimas tempos alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios" (1 Tim. 4:1).
A Escritura nos alerta constantemente que tudo que é religioso tem de ser avaliado com muito cuidado; até as igrejas às quais vamos têm de ser examinadas se são sadias na fé.

Socorros

O dom de "socorros" mencionado em 1 Coríntios 12:28 vem da palavra grega para auxiliar, ajudar.
Um exemplo do uso deste dom temos quando os apóstolos decidiram escolher diáconos para assumir os assuntos administrativos da igreja (Atos 6). Sua função principal era servir ás mesas e distribuir os auxílios aos pobres. Este dom possibilita a milhares de leigos ajudar a propagar o reino de Deus, aconselhando, orando, exercendo funções administrativas na igreja e em organizações paraeclesiásticas e testemunhando. Mas "socorros" também é serviço social, como ajudar os que são oprimidos por injustiça social, e cuidar de órfãos e viúvas. Significa preparar uma refeição para um vizinho doente, escrever uma carta de ânimo ou dividir o que temos com alguém que não tenha. Socorros é o dom de mostrar misericórdia. Inclui também a idéia de ajudar em algumas das atividades normais do serviço cristão, para que outros com outros dons posam estar livres para usá-los mais. "Se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que em todas as coisas seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo" (1 Pedro 4:11).
Durante as minhas primeiras cruzadas eu tinha uma tendência de me envolver praticamente em todos os aspectos do ministério evangelístico. Ida obviamente exigia tanto de mim que eu quase sempre estava exausto. Eu me lembro da ocasião em que Dawson Trotman, a quem eu tinha pedido que fosse o organizador dos conselheiros, veio a mim uma noite. "Billy", ele disse, "você está se desgastando. Por que nós não trabalhamos como equipe? Deixe Cliff Barrows dirigir a parte de música, você prega, e confie o aconselhamento a mim e aos que eu treinei." Eu concordei em tentar. Esta foi uma das decisões mais significativas e proveitosas da minha vida. Comecei a entender pela primeira vez que Deus pode usar e usa outros para tomar conta de certos aspectos da evangelização tão eficientemente como poderia usar a mim, Cliff Barrows ou algum outro líder da nossa equipe. Isto mostra como Deus pode usar todos os dons para ajudar um ao outro; mas o dom de "socorros" é especial nisto.
Com o passar dos anos, estudando a Escritura, descobri que até nosso Senhor reuniu pessoas ao redor de Si, e uma vez os enviou a trabalhar de dois em dois. Marcos foi o ajudante de Paulo e Barnabé (Atos 12:25). Paulo viajava sempre com uma equipe, sem a qual nunca poderia ter feito seu trabalho com tanta eficiência. Geralmente no fim das cartas Paulo mencionava alguns destes ajudantes fiéis. Em Romanos a lista contém mais de vinte nomes, muitos de mulheres. Quando Paulo escreveu aos Filipenses, mencionou Epafrodito, "auxiliar nas minhas necessidades" (Filip. 2:25).
Enquanto eu escrevia este capítulo minha esposa Ruth e eu, junto com Grady e Wilma Wilson, éramos hóspedes do Sr. e Sra. Bill Mead, de Dallas, no Texas. Cada manhã tínhamos um estudo bíblico. Um dia Grady Wilson sugeriu que interrompêssemos nosso estudo e passássemos para o livro de Filemom. Eu achei isto estranho, mas nós fizemos sua vontade. Depois do estudo eu orei: "Obrigado, Senhor, por me dar uma ilustração perfeita de alguém que tinha o dom de socorros". O exemplo era Onésimo, o escravo. Paulo escreveu a Filemom, seu dono, e disse que Onésimo era "útil ... a mim" (Filem. 11).
Você tem este dom especial de "socorros"? Você pode ser um homem de negócios servindo fielmente na diretoria de alguma organização paraeclesiástica ou sociedade missionária. Ou trabalhar com alguma sociedade bíblica, ou ser administrador ou diácono de alguma igreja. Ou ser uma ocupada dona de casa e mãe. Ou ser um estudante.
Um parente meu, tio Bo, costumava gastar o sábado à tarde para limpar a pequena igreja de que era membro, no centro de Charlotte. Cortava a grama do jardim e aparava a sebe. Poucos notaram a ajuda que ele dava com tanto carinho. Isto era tudo que ele podia fazer. Não sabia pregar; não sabia ensinar; tinha dificuldade para orar em público; mas tinha o dom de socorros. E Deus o usou.



O Dom de Governos

Este dom tem seu nome de uma palavra grega que traz em si a idéia de guiar, pilotar, dirigir. Algumas traduções trazem "administrar" (1 Cor. 12:28). Algumas pessoas receberam o dom de liderança, que a Igreja reconhece. A Escritura ensina que as igrejas devem ser organizadas; precisam de uma liderança, seja ela profissional ou não. Cristo gastou mais que metade de seu temo com doze homens, fazendo deles líderes que continuassem Seu trabalho depois de Ele subir ao céu. Onde quer que os apóstolos fossem eles escolhiam líderes para as igrejas que fundavam. A Bíblia diz que Paulo e Barnabé "promovam em cada igreja a eleição de presbíteros" (Atos 14:23). Em I Timóteo 3:1-7 Paulo relaciona as qualificações que o "bispo" deve ter. Muitos acham que a palavra "bispo" seja equivalente a "pastor", com a idéia de supervisor, superintendente ou governador.
Algumas igrejas e assembléias tentam conduzir a obra do Senhor sem uma liderança fixa, mas eu acho que isto é praticamente impossível. Alguns grupos de cristãos não têm um líder ordenado, mas as reuniões são dirigidas com decência e ordem, e os outros trabalhos são executados. Existem os que exercem liderança, mesmo sem os títulos oficiais. Se este dom não é reconhecido o resultado é contusão, e isto me parece ser antibíblico, porque impede a atuação do Espírito Santo que deu a alguns o dom de governo. O autor do livro aos Hebreus foi a ponta de dizer: "Obedecei aos vossos guias, e sede submissos para com eles" (Heb. 13:17). Sem dúvida ele estava falando dos que tinham autoridade na Igreja.
Diversas vezes o Novo Testamento fala das qualificações que um líder deve ter. Ele não deve ser ditatorial, egoísta ou dogmático; tudo menos isto. Deve ser, isto sim, humilde, delicado, gentil, carinhoso e cheio de amor; às vezes deve agir com firmeza. Para isto ele precisa do dom de conhecimento, junto com o de sabedoria. Além disto tudo a idéia de liderança no Novo Testamento está decisivamente contra a noção de grande pompa e ostentação; pelo contrário, enfatiza as virtudes da humildade e do serviço.
O Senhor Jesus Cristo é o exemplo mais perfeito de governador ou líder. "Pais o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10:45). Ele se humilhou e foi servo (Filip. 2:7); lavou os pés dos discípulos e disse: "O servo não é maior do que seu senhor" (João 13:16). Dando o exemplo, Jesus nos diz que todo verdadeiro líder deve ser um auxiliador, um servo, até escravo. Somos exortados a sermos "servos uns dos outros, pelo amor" (Gál. 5:13). Isto é uma ordem, não uma sugestão, e se aplica com intensidade especial aos líderes.

Encerrando o Assunto

Deus não disse que a Igreja deveria navegar à deriva nos mares da incerteza, sem bússola, capitão ou tripulação. Pelo Seu Espírito Ele tomou providências quanto à atuação da Igreja na história, através dos dons do Espírito, e nos disse que devemos "procurar, com zelo, os melhores dons" (1 Cor. 12:31). Quer o Espírito nos dê um dom ou mais, o que importa são duas coisas: uma, reconhecer o ou os dons que Deus nos concedeu; outra, desenvolver estes dons e fazer tudo, humanamente falando, para aperfeiçoá-los enquanto os usamos. Quem tem o dom de profecia a cada ano de sua vida deverá saber melhor o seu papel. Quem temo dom de sabedoria ser no fim mais sábio que no começo.
Algum dia todos nós teremos de dar contas da maneira com que usamos os dons que Deus nos deu. De quem muito recebeu muito se exigirá. Usemos os nossos dons o mais possível, aguardando com expectativa o "muito bem, servo bom e fiel" ( Mat. 25:21) do Senhor, no julgamento dos santos.



OS DONS DE SINAIS

Acho que seria útil uma palavra de explicação e advertência em relação aos assim-chamados dons de sinais mencionados em 1 Coríntios 12:9 e 10.
Por "dons de sinais" eu entendo os dons do Espírito Santo que muitas vezes são manifestações ou sinais externos da atuação de Deus. Estes dons são de curas, milagres e línguas. Parece que eles são os que mais estão chamando a atenção da Igreja em nossos tempos, estimulando a imaginação e produzindo manifestações visíveis que atraem multidões.
Um líder cristão disse que se ele ouvisse um pastor pregando na esquina mais próxima, simplesmente voltaria ao seu aparelho de TV para não perder seu programa favorito. Mas se lhe dissessem que na esquina está alguém fazendo milagres, ele deixaria tudo para ver o que estava acontecendo. Por que isto? Simplesmente porque parece que nós ficamos fascinados pelo que é espetacular e foge ao normal. Este tipo de curiosidade não é necessariamente bom ou proveitoso, mas mesmo assim é muito comum.
Uma coisa interessante é que nas quatro passagens bíblicas em que aparecem os dons espirituais (Rom. 12:6-8, 1 Cor.12:8-10, Efés. 4:11 e 1 Pedro 4:10, 11) os dons de sinais aparecem juntos somente em 1 Coríntios, uma igreja que abusava de pelo menos um destes dons. Os cristãos não devem esquecer que o Espírito Santo não quis que os dons fossem usados de maneira errada, a ponto de dividir ou romper um grupo. Quando isto ocorre a maior de todas as manifestações do Espírito, o amar, é diminuída.

Curas

O Espírito Santo também concede o dom de curar. Já no Antigo Testamento aparecem muitos casos de curas, e todos nos sabemos que o Novo Testamento está cheia de exemplos de Jesus e seus discípulos curando os doentes. E através da história da Igreja Cristã houve muitos outros casos de curas físicas.
O dom de cura física por meios espirituais às vezes é associado às curas de fé. Muitos dos que as praticam dizem ter o dom de curar, ou pelo menos algum poder especial. Dezenas de milhares de pessoas acorrem a eles. Muitos mais do convidados a escrever a pregadores de rádio ou televisão que garantem ter este dom de curar. De fato, nos últimas anos a atenção da massa foi atraída à fé cristã e às curas físicas.
Doenças e fraqueza são parte da vida: no fundo, ninguém pode escapar delas. Todas as pessoas, também os mais famosos curandeiros pela fé, adoecem, e um dia morrem. Kathryn Kuhlman, famosa por suas curas pala fé, morreu em começos de 1976. Durante anos ela sofreu de um problema cardíaco, e no fim de 1975 submeteu-se a uma operação da qual não se recuperou mais. Ela curou outras pessoas, mas no fim sucumbiu à doença pessoalmente.
Temos de distinguir entre o que a Bíblia chama de dom de curar e um outro método de curar. Alguns colocam a sua ênfase na fé do que precisa ser curado – dizendo-lhe que será curado se crer. Com isto eles estão indo mais longe do que os que crêem que a expiação de Cristo na cruz lhes traz perdão, pureza e aceitação diante de Deus. Eles acham que qualquer cristão que adoecer pode querer ser curado pela fé. Observe que isto não tem nada a ver com o dom de curar em si. Estas pessoas crêem, por exemplo, que a expiação de Jesus inclui a cura física de doenças. Para eles, a morte de Cristo na cruz não só nos oferece o perdão dos nossos pecados, mas também a cura física do nosso corpo. Eles crêem que pela fé nós recebemos ambos.
Este tipo de cura tem mais a ver com fé que com o dom de curar.
Para sustentar esta posição toma-se o que o Antigo Testamento predisse sobre a vinda do Messias: "E pelas suas pisaduras fomos sarados" (Isa. 53:5). Eu pessoalmente não acredito que a Escritura diga que a obra de Cristo na cruz incluía a cura física. O Novo Testamento cita somente uma vez Isaías 53:5, em 1 Pedro 2:24: "Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados." Daí podemos ver claramente que a "cura" do Salvador é primeiramente de natureza espiritual, e não física.
Alguns cristãos, indiferentes se eles acreditam que Deus cura pelo dom espiritual ou só pelo exercício da fé, acham que não é necessário consultar um médico quando estão doentes, a não ser em último caso. Estes têm diversas alternativas: podem estar crendo que Deus os curará: neste caso não está envolvido o dom de curar, mas só o dom de fé. Ou podem ir a alguém que eles acham que tem o dom de curar. Isto significa que esta pessoa pode fazer exatamente o que Jesus fazia: pelo poder que ele recebe pelo dom do Espírito Santo, ele pode fazer com que o doente fique bom imediatamente e permanentemente: um braço quebrado emendado instantaneamente, um câncer que desaparece, uma pneumonia que é erradicada, deixando os pulmões restabelecidos.
Eu sinto que temos de considerar a cura de doenças de uma perspectiva mais ampla. Tiago ensina que todas as dádivas boas vêm de cima. Eu acredito que a cura pode vir de Deus pelo dom de curar ou de fé, mas também vem dEle por meios medicinais. Paulo disse a Timóteo que tomasse um pouco de vinho para seus problemas estomacais (1 Tim. 5:23). Não devemos esquecer também que Lucas era médico e acompanhou Paulo em muitas de suas vagens, provavelmente ajudando-o com seus conhecimentos médicos.
Eu sei que o senhor usou médicos e remédios para curar doenças que eu tive. Também temos de estar receptivos à idéia de que talvez não seja a vontade de Deus que nós sejamos curados de todas as nossas doenças, o que também era verdade para o apóstolo Paulo (veja 2 Cor. 12:7-10). Na minha opinião, um cristão deve usar a sabedoria que Deus dá para determinar se deve recorrer aos meios naturais, confiar somente na oração ou nos que têm o verdadeira dom de curar.
Se não é possível receber ajuda médica, ou se os médicos declararam o caso incurável, e Deus nos põe no coração que devemos esperar dEle o impossível, em simples fé, então temos de seguir Sua orientação. Mas esta orientação deve vir de Deus, não pela pressão de outros cristãos. Mas se há ajuda médica disponível, ignorá-la e pedir que Deus cure parece-me beirar a presunção.
Eu tive um amigo que foi acometido de uma doença mortal. Os médicos sabiam que não havia esperança, e ele também. Então mandou chamar alguém que ele sabia que tinha o dom de curar. Depois de orar e aconselhar meu amigo espiritualmente, esta pessoa pôs suas mãos sobre meu amigo. No mesmo instante ele sentiu como que um choque elétrico, e estava instantaneamente curado. Os médicos o analisaram, e não havia mais nenhum sinal da doença.
Não cabendo em si de alegria, só pensava ainda nos dons de sinais: curas, milagres, línguas e interpretação. Pessoa e obra de Cristo estavam esquecidas. Não havia fruto do Espírito. Três anos depois a doença voltou como vingança. Por três vezes o Senhor decidiu não curá-lo. Morreu lentamente, em amarga desilusão, como se não estivesse indo para o próprio Senhor em toda Sua glória.
Prudência não é a mesma coisa que presunção, e nós não devemos tentar a Deus. Se um cristão doente recorre à fé para ser curado, ele deve ter certeza de que Deus lhe deu esta fé. Se não, deve procurar um médico. A meu ver o caminho normal para o cristão é usar a ajuda médica que Deus provê. A medicina e os médicos (como Lucas) também são de Deus.
Algum tempo atrás eu conversei com um psiquiatra de qualificações impecáveis. Durante a conversa ele tocou num fato muito conhecido: que as pessoas sofrem de doenças orgânicas e funcionais. Nesta última categoria os livros de medicina incluem muitas doenças que não têm base orgânica, mas psicossomática. Elas produzem indisposições físicas externas que não podem ser curadas com tratamento médico normal; só podem ser curadas depois de tratada a mente. Quando a mente está bem, desaparecem as manifestações físicas provenientes da situação funcional. Os romanos tinham um provérbio famoso, mens sana in corpore sano, mente sã em corpo são. Uma mente doente pode produzir doenças no corpo. Uma mente sã evitará que o corpo tenha doenças provenientes de situações da mente.
Dito isto, eu sei que Deus cura, de acordo com Sua vontade, em certas circunstâncias. Minha própria cunhada é exemplo disto. Ela tinha tuberculose, e estava à morte. Os raios X mostraram como sua situação era grave, mas ela pediu permissão a seu pai, também médico, para que o tratamento fosse interrompido, porque acreditava que Deus iria curá-la. Recebeu permissão, e alguns homens e mulheres de Deus ungiram-na com óleo e oraram a oração da fé. Depois novos exames com raios X foram feitos, e, para surpresa dos médicos do sanatório, não havia mais sinais de tuberculose ativa. Começou a aumentar de peso, e agora, trinta e cinco anos depois, ela é uma pessoa sã, excelente professora de Bíblia. Não resta dúvida de que ela foi curada. Mas observe que a cura não veio através de alguém que tivesse o dom de curar, mas pela fé.
Um fato interessante é que Jesus não curava as pessoas sempre da mesma maneira. Às vezes Ele só pronunciava uma palavra, e a pessoa estava curada. Outras vezes Ele usou o que podemos chamar de meios. Jesus tomou a sogra de Simão Pedro pela mão, e ela foi curada no mesmo instante (Mat. 8:15). Quando ressuscitou Lázaro dos mortos, ele clamou em alta voz "Lázaro, venha para fora" (João 11:43, BLH). Mas o homem que nascera cego Jesus curou de maneira bem diferente: misturou lama com saliva, colocou a mistura sobre os olhos do homem, e lhe disse que fosse se lavar no tanque de Siloé (João 9:1 ss.). No caso do servo do centurião, quem estava doente não estava nem perto de Jesus quando foi curado (Mat. 8:18 ss.). E a mulher com hemorragia foi curada só por tocar na vestimenta do Senhor (Mat. 9:18 ss.).
Impor as mãos ou ungir com óleo tem significação espiritual e psicológica. O que está doente e os que vêm impor as mãos ou ungi-lo não devem pensar que a cura se deve a estas atitudes, à sua fé pessoal ou às suas orações. A cura é de Deus e vem de Deus. "O Senhor o levantará" (Tiago 5:15, grifo meu).
Mas nem sempre Deus decide nos curar. Como já disse, não acho na Escritura provas de que é da vontade de Deus curar todas as pessoas de todas as doenças. Se o Espírito Santo dá a uma pessoa doente ou a alguém que está orando por ela o dom da fé de que será curada, podemos ter certeza de que esta pessoa será curada. Mas nem sempre dá o dom da fé. Isto quer dizer que sem dúvida a pessoa que está doente e os que a amam devem orar por ela, mas se ninguém recebe o dom de fé, sua oração deve ser "se for da Tua vontade". Eu creio que a verdadeira fé implica em uma entrega completa da nossa vida à vontade de Deus, seja qual for, mesmo quando Deus decide não nos curar. Isto significa que estamos dispostos a sermos curados, dispostos a permanecer afligidos ou dispostos a morrer – dispostos para tudo que Deus queira!
Temos o exemplo clássico de Jó, que foi acometido de feridas dos pés à cabeça. Satanás foi responsável por isto, mas é interessante observar que Satanás teve primeiro de pedir a permissão de Deus para tocar nos bens de Jó, quanto mais para tocar nele. O livro de Jó é o resultado daquela situação. E o que os crentes teriam feito durante os séculos sem este tremendo relato?
Temos também o exemplo de Amy Carmichael, da Índia, que trabalhou com crianças durante mais de cinqüenta anos. Os últimos vinte anos da sua vida ela passou na cama com dores quase incessantes, conseqüência de um acidente muito grave. Mas foi durante estes anos que ela escreveu todos os seus livros – poesias, livros devocionais, relatos de seu trabalho na Associação Dohnavur. Seus livros continuam ajudando milhares no mundo todo, apesar de ela já estar há muita com o Senhor. Se ela não tivesse estado presa à cama, nunca teria tido tempo para escrever.
Já estive em diversas reuniões de curas. Algumas me davam repulsa, por causa da histeria emocional que predominava. Em outras o culto era dirigido com decência e ordem. Nestas eu presenciei a atuação silenciosa do Espírito de Deus, de maneira que não ofenderia a ninguém. O Espírito usava os servos de Deus com dons especiais para fazer a Sua vontade.
Cada doença, cada debilidade e cada coisa errada em nossa vida pode ser relacionada com o pecado original. Isto não quer dizer que os que passam por dificuldades estão culpados de outros pecados evidentes. Em alguns caos nós sofremos de doenças que são resultado direto ou indireto de algum mal que cometemos. Mas não sempre. Uma vez Jesus encontrou um homem que era cego de nascença. Foram seus discípulos que fizeram esta pergunta, e não os fariseus ou os saduceus: "Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" (João 9:2). Nem mesmo os discípulos podiam entender a cegueira que não fosse resultado direto de pecado. Jesus lhes disse: "Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus" (v. 3).
Quando vemos alguém doente, devemos ser cuidadosos e não dizer logo que ele está doente por causa de pecado. As pessoas podem ficar doentes por acidente ou hereditariedade. Não foi o pecado de um bebê retardado, nem o de seus pais, que o fez ficar assim, apesar de toda doença vir do pecado original. Deus nunca quis que nós ficássemos doentes e morrêssemos, mas a rebelião do homem contra Deus no Jardim do Éden mudou tudo isto. Lembremo-nos também que o maligno maldosamente tenta usar cada doença para prejudicar nossa comunhão com Deus, fazer com que tenhamos um sentimento de culpa neurótico ou mesmo que acusemos Deus de injusto, falta de amor ou crueldade.
Ao mesmo tempo temos a promessa de Deus que algum dia todos os efeitos do pecado na criação serão destruídos, inclusive a doença. "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas já passaram" (Apoc. 21:4).
Muitas cristãos de vez em quando sofrem de doenças físicas, mentais e até mesmo espirituais. Limitações físicas crônicas, mentes com disposição para períodos de depressão, espíritos fracos sujeitos a dúvidas, tudo causa sofrimento. A ajuda de Deus sempre está disponível, Sua simpatia e Sua compreensão sempre presentes. Podemos ter certeza de que o Espírito Santo está conosco e atua em nossa vida. "O Espírito ... nos assiste em nossa fraqueza" (Rom. 8:26), e em Hebreus 4:16 Deus nos promete ajuda: "Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna."
O Espírito Santo se encarrega destas situações. Ele é chamado de "o intercessor divino". A palavra grega parakletos (intercessor) ocorre cinco vezes no Novo Testamento. Quatro vezes é traduzida por "Consolador" (João 14:16, 26; 15:26, 16:7), e uma vez por "advogado" (1 João 2:1). Significa "alguém que anda ao nosso lado como nosso conselheiro, auxiliador, defensor e guia".
O Espírito Santo nos ajuda mesmo no meio das nossas doenças e fraquezas. Às vezes exatamente estas doenças são prova de que nós estamos cheios do Espírito. Por três vezes o apóstolo Paulo pediu que Deus tirasse o "espinho" que lhe trazia grandes dificuldades, mas Deus respondeu: "Não". Disse também: "A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Cor. 12:9). Paulo respondeu rapidamente: "De boa vontade, pois, me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo" (2 Cor. 12:9). E foi além: "Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando sou fraco, então é que sou forte" (2 Cor. 12:10). Mesmo enquanto cheio do Espírito Paulo tinha uma doença em si que Deus permitia que sofresse para Sua glória.
Por isso, se Deus permite que fiquemos doentes e não quer nos curar, devemos aceitar isto com gratidão. E devemos pedir-Lhe que nos ensine tudo o que Ele quer que aprendamos através da experiência, inclusive como glorificá-Lo.
A experiência de Paulo nos ensina uma lição quanta à relação entre curas e a expiação de nosso Senhor. Mateus diz que "Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças" (Mat. 8:17). Isto é totalmente verdade. Por Sua morte no Calvário nós temos a certeza de que seremos libertados de todas as fraquezas e doenças. Mas Deus permite que alguns de nós sofram com doenças e fraquezas agora. Daí sabemos que Seu propósito nunca foi de libertar todo o povo de Deus de todas elas, em todos os tempos. Também não hoje.
Cada vez mais igrejas programam cultos esporádicos de curas. Eu fiz perguntas sobre estes cultos, e recebi a resposta de que poucas curas eram de doenças físicas – a maioria tratava de problemas de relacionamento, de memória, de comportamento, de sentimentos de culpa. Como resultado casamentos foram curados, pais reconciliados com filhos e empregadores com empregados.
Em resumo, eu não tenho dúvidas de que existe o dom de curar que pessoas podem ser curadas em resposta de oração de fé – e que há outros tipos de curas, de relacionamento. Mas também aqui uma palavra de advertência se faz necessária. Há muita fraude e charlatanice tanto na medicina como nas curas pela fé. Também nisto precisamos de discernimento espiritual.

Milagres

O significado da palavra "milagres", no grego, é "poderes" (2 Cor. 12:12). Um milagre é um acontecimento que o poder de nenhuma lei física pode produzir; é uma ocorrência espiritual, produzida pelo poder de Deus; uma maravilha, um prodígio. Na maioria das versões do Antigo Testamento a palavra "milagre" geralmente é traduzida por "prodígio" ou "feito poderoso". As versões do Novo Testamento geralmente falam dos milagres como "sinais" (João 2:11) ou "sinais e prodígios" (João 4:48; Atos 5:12; 15:12).
Os sinais feitos por Jesus Cristo e pelos apóstolos claramente confirmavam sua autoridade e davam certeza à sua mensagem. Lembremo-nos que as pessoas faziam esta pergunta a Jesus e aos apóstolos: "Como podemos saber que vocês são o que dizem ser, e que suas palavras são verdadeiras?" Esta pergunta não era sem propósito. E em momentos estratégicos Deus sempre de novo Se manifestava às pessoas por milagres, para que tivessem evidências externas que confirmassem as palavras que Seus servos diziam.
Um acontecimento notável que ilustra este princípio é o de Elias no Monte Carmelo. Ele estava travando uma batalha terrível, em que o povo de Israel tinha de se decidir entre Deus e Baal. Elias desafiou os profetas de Baal que fizessem um altar e colocassem um animal como sacrifício sobre ele. Disse ao povo de Israel que aguardasse um sinal que os convencesse quem era o verdadeiro Deus, Baal ou o Senhor. Os sacerdotes de Baal gritavam em desespero a seu deus, mas nada aconteceu. Depois Elias derramou água sobre o animal sacrificado em seu altar, e Deus enviou fogo do céu, que consumiu o sacrifício apesar da água. Isto foi um milagre!
Paulo garante que as pessoas podiam saber que ele era um apóstolo: "As credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos" (2 Cor. 12:12). O Espírito Santo deu aos primeiros apóstolos o poder de fazer milagres, como prova de que eles eram os mensageiros de Cristo com uma tarefa especial: anunciar uma nova época na história da humanidade.
Algo que sempre me interessou foi que muitos dos grandes homens do Antigo Testamento não fizeram milagres. Um exemplo é João Batista: "E muitos foram ter com ele (Jesus), a diziam: Realmente João não fez nenhum sinal, porém tudo quanto disse a respeito deste era verdade. E muitos ali creram nele" (João 10:41,42). Apesar de não fazer milagres João exaltou o Senhor Jesus Cristo, em Quem muitos creram por isso. E Jesus disse de João: "Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher ninguém apareceu maior do que João Batista" (Mat. 11:11).
Por que hoje em dia não vemos milagres espetaculares como os que estão na Bíblia? Há tão poucos milagres porque nossa fé é tão pequena ou será que Deus não intenta nada de espetacular para o momento? Será que sinais e milagres eram dons especialmente dados à Igreja Primitiva, por causa de sua situação especial? Eu acho que sim. E hoje em dia, quando o evangelho é pregado em situações semelhantes às do primeiro século, milagres às vezes ainda o acompanham. Os profetas Oséias e Joel indicam que, à medida que nos aproximamos do fim dos tempos, os milagres aumentarão.
Mas Jesus, referindo-Se aos milagres, disse aos discípulos que eles fariam "maiores obras do que estas" (João 14:12). O que pode ser maior do que Ele fez: curar os doentes, restaurar a vista aos cegos, ressuscitar os mortos, expulsar demônios? Alguém disse: "Jesus não veio pregar o evangelho, mas para que houvesse um evangelho para ser pregado."
Por causa da Sua morte e ressurreição nós temos agora um evangelho que traz perdão de pecados e transformação de vidas. Uma vida transformada é o maior de todos os milagres. Cada vez que alguém "nasce de novo" arrependendo-se dos seus pecados e crendo em Jesus Cristo, acontece o milagre da regeneração.
Não digo isto para rejeitar a outra verdade que em alguns lugares do mundo o Espírito Santo soberanamente chamou algumas pessoas para efetuar milagres. Só constatei que quanto mais nos aproximamos do fim dos tempos eu acho que veremos um aumento dramático de sinais e milagres, que demonstrarão o poder de Deus a um mundo cético. Assim como os poderes de Satanás estão sendo manifestados com maior intensidade eu creio que Deus permitirá que sejam efetuados sinais e milagres.

Línguas

Um dos principais pastores da Igreja da Escócia estava internada na unidade de tratamento intensivo de um hospital de Glasgow. Ele sabia que sua vida estava por um fio – a qualquer minuto poderia estar face a face com seu Senhor. Por isso começou a falar com Ele. E de repente notou que estava falando em uma 1íngua que nunca ouvira antes. Contou o fato a um amigo, mas nunca mais tocou no assunto com ninguém. Recuperou a saúde e serviu a seu Senhor por mais alguns anos.
Uma jovem esposa e mãe estava sentada furiosa em sua cama certa noite, literalmente "com raiva de Deus", porque tudo tinha dado errado naquele dia.
"Você já ouviu uma vez falar de alguém que orou em línguas?" ela perguntou a minha esposa, contando-lhe o incidente. Ruth fez que sim com a cabeça. "Bem, eu não. Nunca ouvi. Nunca tinha me interessado por estas coisas. Eu nem compreendi o que estava acontecendo. De repente eu me senti como se estivesse em órbita da terra em uma nave espacial; enquanto sobrevoava os continentes eu pensava nos cristãos que haveria ali, mencionando pelo nome os missionários que eu conhecia. Desta maneira eu dei a volta em toda a terra. Então olhei para o relógio, supondo ter orado por uns trinta minutos. Mas já estava amanhecendo. E eu me sentia revigorada. O peso tinha sido erguido de meus ombros. A frustração, a raiva, a lamentação – tudo desaparecera. E me senti como se tivesse dormido a noite inteira."
Uma classe de escola dominical estava estudando a pessoa e a atuação do Espírito Santo em um bairro em que falar em 1ínguas tinha se tornado quase obrigatória para os crentes. Depois de uma reunião especialmente empolgante pediram ao professor que falasse sabre o Espírito Santo. Depois cada um dos alunos contou suas experiências com o dom de línguas. O professor, relembrando aquele dia alguns meses depois, mencionou três pessoas que permaneciam em sua memória. O primeiro jovem, cujo testemunho soara verdadeiro, alguns meses depois de sua experiência passou a se preocupar somente com línguas, quase não falando de outra coisa, fazendo o que podia para que outros crentes tivessem a mesma experiência que ele. Por fim, no entanto, seu zelo diminuiu, e ele reconheceu que nós recebemos o Espírito Santo para que possamos glorificar o Senhor Jesus de diferentes maneiras. Hoje ele é um ministro do evangelho com muitos dons.
Um outro membro da classe que dizia ter falado em línguas foi expulsa poucas semanas depois da sua universidade por imoralidade aberta, repetida e sem arrependimento.
Um terceiro na memória do professor era um bandido da periferia de uma cidade grande, recém-convertido. Depois da reunião ele chamou o professor a um canto e lhe contou que estivera na mesma reunião e tinha reconhecido a língua. Quando o professor lhe perguntou que língua era, ele replicou: "A mesma língua que eu ouvia quando assistia às sessões da minha vó, que era médium espirita." O professor me contou este caso porque pensava que ilustrava três origens para o que nós chamamos de línguas: 1) o Espírito Santo; 2) influência psicológica; e 3) influência satânica.
Apesar de eu não ser um especialista no assunto línguas, minhas opiniões se formaram pelo estudo da Bíblia e por experiências e conversas com muitas pessoas. De uma coisa eu tenho certeza: nem o Espírito Santo nem qualquer dos Seus dons são dados para dividir os crentes. Isto não quer dizer que não podemos ter nossas opiniões próprias sobre o que a Bíblia ensina sobre línguas. Ou que não devemos ter congregações locais que dão proeminência a línguas, ou outras que não dão. Disto eu tenho certeza: quando alguém abusa do dom de línguas e ele começa a dividir, então alga está errado. Há pecado no corpo de Cristo.

Fundo Histórico

Já por quase um século falar em línguas está tendo uma posição importante entre muitos cristãos e algumas igrejas. Para eles falar em línguas faz parte da vida do cristão a partir da conversão.
É verdade, no entanto, que milhares dos assim chamados crentes "carismáticos" nunca falaram em línguas. E são aceitos como verdadeiros crentes no Senhor Jesus. Por isso em muitas igrejas que se consideram carismáticas falar em 1ínguas não é mais tido como sinal essencial do novo nascimento. Elas concordam que crentes regenerados foram batizados no corpo de Cristo pelo Espírito; disto o batismo na água é um sinal externo. Na hora da regeneração o Espírito passou a habitar em Seu coração. Mas para eles o batismo no Espírito é algo que ocorre depois da regeneração.
Mais recentemente surgiu o movimento neopentecostal ou carismático. Muitas destas pessoas continuam membros em suas igrejas anteriores, alguns são até católicos romanos. Concordam com as igrejas pentecostais em sua ênfase na cura, e freqüentemente aceitam o falar em línguas como sinal do batismo com o Espírito Santo, uma experiência subseqüente à conversão. Mas as igrejas pentecostais mais antigas estão preocupadas parque nem sempre é possível ver uma mudança no estilo de vida entre os neopentecostais, o que eles têm por intrínseco a uma vida dirigida pela Espírito.
Ninguém pode escapar ao fato de que a ênfase carismática tem aproximado protestantes e católicos romanos em algumas partes do mundo, não nivelando suas diferenças teológicas em assuntos como a justificação pela fé, o sacrifício da missa ou a infalibilidade papal, mas na base de falar em línguas e do batismo com o Espírito Santo. Mesmo assim eu conheça muitos católicos romanos que, como os protestantes, se consideram carismáticos mas nunca falaram em línguas. Fizeram, isto sim, uma descoberta de um relacionamento pessoal com Cristo.

Dados Bíblicos sobre Línguas

Falar em línguas ("glossolalia", palavra formada dos termos gregos equivalentes) é mencionado somente em dois livros do Novo Testamento: Atos e a primeira carta de Paulo aos Coríntios (aparece também em Marcos 16:17), que muitos eruditos acreditam não pertencer ao manuscrito original). Parece que a palavra era usada com dois sentidos diferentes. Um aparece nos acontecimentos de Pentecostes, quando ocorreu a prometida vinda do Espírito Santo. Um estudo cuidadoso da passagem em Atos 2 indica que as "línguas" eram idiomas conhecidos, compreendidos pelos estrangeiros que estavam em Jerusalém, O pequeno grupo de cristãos recebera urna capacidade sobrenatural de falar em outras 1ínguas.
O que aconteceu no dia de Pentecostes? O segundo capítulo de Atos nos diz que aconteceram quatro coisas que indicaram o começo da nova era. Em primeiro lugar, um som como de um vento impetuoso encheu a casa. Em segundo lugar, algo que se parecia com línguas de fogo apareceu sobre a cabeça de cada um dos que estavam reunidos. Em terceiro lugar, todos ficaram cheios do Espírito Santo. Em quarto lugar, todos eles falaram em línguas quando o Espírito lhes deu capacidade para tanto. Estas línguas eram idiomas conhecidos às pessoas que tinham vindo de todo o Império Romano para Jerusalém, no dia de Pentecostes. Algumas pessoas acham que o milagre aconteceu no ouvido dos ouvintes. Outras acham que os apóstolos receberam um dom sobrenatural de falar em um idioma estrangeiro que eles não conheciam. Seja qual for a nossa opinião, houve um "milagre"!
A mesma palavra "cheios" aparece em Atos 4:8 quando Pedro, "cheio do Espírito Santo" (não se menciona falar em línguas), pregou seu curto sermão ao sumo sacerdote e aos líderes dos judeus. A mesma palavra é usada em Lucas 1:15 para João Batista, onde a Escritura diz: "Ele será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno". Mas não há registro de que João tenha falado em línguas. Depois da experiência de conversão de Paulo, Ananias foi vê-lo "para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo" (Atos 9:17). Sua visão voltou, ele foi batizado e "logo pregava nas sinagogas a Jesus, afirmando que este é o filho de Deus" (Atos 9:20). Novamente não são mencionadas línguas.
Atos 19 conta a história de Paulo em Éfeso. Ele encontrou alguns crentes que não sabiam nada da vinda do Espírito. Lemos que "impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam" (Atos 19:6). Aqui a Bíblia não diz que eles ficaram cheios do Espírito. De qualquer maneira, eles falaram em línguas e profetizaram, apesar de não aparecerem línguas de fogo nem um vento impetuoso como em Pentecostes. O relato de Atos 19 também não diz se as línguas eram compreensíveis ao povo daquele lugar, e não menciona intérpretes. Podemos concluir que devam ter falado em línguas faladas em algum lugar do mundo.
Quando eu vou a algum outro país, eu falo em inglês. Para a maioria dos meus ouvintes esta língua é desconhecida. No nordeste da Índia, por exemplo, eu preguei a diversos milhares de pessoas cada reunião; dezessete intérpretes diferentes traduziam minha pregação para dezessete dialetos, para que as pessoas pudessem compreender minha "língua desconhecida". Na minha opinião foi isto o que aconteceu em Pentecostes, com a diferença da que naquela ocasião foi um milagre divino. Ou cada pregador falava em uma língua que um grupo de ouvintes conhecia, ou o Espírito Santo interpretava o que estava sendo dito para a língua de cada ouvinte; neste caso o milagre estava na capacidade deste de compreender.

Línguas "Desconhecidas" em 1 Coríntios

Em 1 Coríntios falar em línguas parece ser um pouco diferente das ocorrências de Atos, apesar de a mesma palavra grega para "línguas" ser usada.
No dia de Pentecostes os discípulos falaram em línguas conhecidas dos que visitavam Jerusalém. Os pregadores, falando no poder do Espírito, não conheciam estas línguas, só os seus ouvintes. Mas em 1 Coríntios os ouvintes não conheciam a língua que ouviam, por isso precisavam de intérpretes. A pergunta é se as línguas de 1 Coríntios eram conhecidas ou não. Alguns estudiosos da Bíblia acham que sim, enquanto outros afirmam que eram alguma forma de expressão extática, sem relação com qualquer língua humana. Eu pessoalmente sou simpático à segunda opinião. Na verdade, no entanto, provavelmente pouca diferença faz se compreendermos ou não esta passagem, apesar de algumas pessoas dizerem que se o dom de línguas de Corinto era de idiomas conhecidos, então ele nada tem a ver com o que se qualifica como "línguas" hoje em dia. O fato de a "interpretação" ser considerada um dom espiritual me faz crer que o dom de línguas mencionado em 1 Coríntios não era de idiomas conhecidos, que pudesse ser entendido por alguém que falasse algum idioma em questão.
l Coríntios 13 apresenta um outro quebra-cabeça. Paulo menciona línguas de homens e de anjos. À primeira vista nos parece claro que ninguém de nós saberia falar a língua dos anjos, mas a passagem implica em que alguém poderia falar nesta língua. E se em 1 Coríntios Paulo diz que o dom de línguas é dado pelo Espírito Santo, pode ser que Ele dê a alguém a capacidade de falar uma língua angélica. É claro que Paulo deixa manifesto que este dom não é concedido a qualquer um. Esta é a razão de eu ter dificuldade para relacionar a plenitude do Espírito com um segundo batismo ou um sinal obrigatório, falar em línguas. Eu não acho na Bíblia base sólida para a posição de que o dom de línguas é dada como sinal a todos que são batizados com o Espírito, porque este dom só é concedido a alguns.
Além disto, às vezes fico pensando que o uso moderno do termo "carismático" não pode estar correto. A palavra grega usada em 1 Coríntios para os dons que Deus concede aos crentes é carísmata. Ninguém pode adquirir um destes dons por si. De acordo com Paulo, os dons vêm pela atuação soberana do Espírito de Deus, como veremos daqui a pouco, "distribuindo, como lhe apraz, a cada um, individualmente" (1 Cor. 12:11). Paulo diz: "Por um só Espírito nós (é isto que o grego diz) todos fomos batizados em um corpo" (l Cor. 12:13). Além disto o Espírito distribui dons a cada membro do corpo. Cada crente recebe algum dom. Por isso cada crente é um carismático!
E ainda, Paulo não garante que todos os crentes receberão um certo dom. Ele só diz que cada um receberá "algum" dom. Ele diz, isto sim, aos coríntios que eles devem "procurar" (que a concordância de Cruden define como "desejar sinceramente") os melhores dons. E insiste em 1 Coríntios 13 que qualquer dom, sem amor, não tem valor.

Observações sabre o Dom de Línguas

Temos de observar diversas coisas sobre o dom de línguas mencionado em 1 Coríntios 12:30 e no discurso mais longo de 1 Coríntios 14:
Em primeiro lugar, este dom de línguas aparentemente é diferente do expressado em Pentecostes, onde não se precisou de intérpretes. Este também era acompanhado de outros sinais: as línguas de fogo e o vento impetuoso. Estas coisas não são mencionadas junto com os dons do Espírito em 1 Coríntios. Apesar de haver discordância honesta entre os cristãos quanto à validade do dom de línguas para hoje, eu pessoalmente não posso achar qualquer justificativa bíblica para dizer que o dom de línguas era só para tempos neotestamentários. Ele facilmente se torna um assunto mal entendido e até divisor; o fato de Paulo achar necessário gastar três capítulos (1 Cor. 12-14) no assunto dá provas disto (apesar de este ser o último dos dons, Paulo falou mais tempo sobre ele que sobre qualquer outro). Por isso, quando ele ocorre hoje em dia, o dom deve ser cercado com muito cuidado com as salvaguardas que Paulo estabelece.
Também mesmo que o dom de línguas ocorra atualmente como dom espiritual válido, isto não quer dizer que cada manifestação de línguas é da vontade de Deus, devendo ser aceita por nós sem restrições.
Em segundo lugar, temos de destacar que o dom de 1ínguas é um dom do Espírito Santo, não um fruto do Espírito; 1 Coríntios 12-14 deixa isto bem claro. Veremos no próximo capítulo que o fruto do Espírito mencionado em Gálatas 5:22, 23 deve caracterizar cada cristão que anda no Espírito. Por outro lado, os dons são distribuídos entre os crentes pela vontade soberana de Deus, e por isto alguns podem ter este dom e outros não. Eu simplesmente não encontro nenhum argumento na Bíblia para afirmar que línguas é um dom que Deus quer dar a todos os crentes. Alguns o receberão, enquanto muitos outros não. Seria um erro alguém que não tem o dom de línguas pensar que ele é um cristão de "segunda classe", ou procurar com zelo este dom se Deus decidiu não concedê-lo a ela. Também é errado alguém que tem este dom tentar obrigar outros a tê-lo, ou ensinar que todos devem experimentá-lo.
Em terceiro lugar, o dom de línguas mencionado em 1 Coríntios 12-14 é realmente um dos dons do Espírito menos importantes – parece até mesmo ser o último de todos. A razão disto é que muitas vezes ele não traz nenhum benefício espiritual a outros crentes. Os outros dons são exercidos claramente para edificar e fortalecer o corpo de Cristo. O dom de línguas talvez faça isto em um culto público (se houver um intérprete presente), mas os outros dons estão envolvidos mais diretamente no fortalecimento mútuo dos crentes.
É por isto que não devemos considerar o dom de línguas como o ponto alto da maturidade do cristão. Milhões de cristãos maduros nunca falaram em línguas, e muitos dos que falaram em línguas não são maduros espiritualmente.
Em quarto lugar, o dom de línguas não é necessariamente um sinal de que o crente foi batizado pelo Espírito Santo no corpo de Cristo. Isto fica claro em 1 Coríntios, porque estas pessoas já tinham sido incorporadas de uma vez por todas no corpo de Cristo. Eu não acho em nenhum lugar da Bíblia que o dom de línguas é uma evidência necessária do batismo com o Espírito Santo no corpo de Cristo, a Igreja. Mesmo quando falar em línguas é mencionado em Atos nada é dito de isto ser uma evidência do batismo com o Espírito Santo.
Da mesma forma não podemos equiparar o dom de línguas com ficar cheio do Espírito. Nós podemos ser cheios do Espírito e nunca falar em línguas. A plenitude do Espírito pode trazer muitas experiências diferentes à nossa vida, das quais línguas pode ser uma, ocasionalmente. Alguns dos cristãos mais cheios do Espírito que eu conheci nunca tinham experimentada o dom de línguas, e não eram menos cheios do Espírito por musa disto.
Em quinto lugar, a Bíblia e a experiência nos advertem que facilmente pode haver abuso do dom de línguas, que ele pode até ser perigoso. Ele muitas vezes tem levado, por exemplo, a orgulho espiritual. Alguém pode experimentar o dom de línguas e logo achar que é melhor ou mais espiritual que outros crentes que não têm este dom. Uma atitude assim é totalmente contrária à maneira de ser de alguém que é cheio do Espírito.
Podemos mencionar outros perigos. Línguas podem provocar divisões (como eu já disse diversas vezes). Isto se deve ou a orgulho ou porque um crente que tenha este dom tenta abrigar outros a tê-lo. Também é possível orgulhar-se por não falar em línguas, o que também é errado!
Um dos maiores perigos do assunto de línguas é a desproporção. Quero dizer que às vezes uma pessoa que experimentou este dom passa a ficar quase completamente absorvida e preocupada com línguas. Esquece os outros dons do Espírito (a não ser, talvez, os outros dons de sinais, que também são espetaculares e impressionam), e apresenta pouco interesse por uma vida santa e o fruto do Espírito. Alguns dos que insistem em passar seu tampo pressionando outros a procurar este dom deixam de mostrar qualquer interesse por evangelização, uma ênfase que o Espírito gostaria de dar. Imagine um pequeno grupo de pessoas que falam em línguas, por exemplo, a raramente ganham outros para Cristo. Eles esperam até que alguém outro faça isto, e depois se aproximam do rocém-convertido para convencê-lo de que ele deve falar em línguas se quiser crescer no Senhor.
Outro perigo é que alguns podem pensar que a experiência de falar em línguas é um atalho para o poder espiritual e a maturidade. Um integrante da minha equipe tinha no seminário um colega que ia constantemente a reuniões onde poderia receber o dom de línguas. Quando lhe perguntaram por que queria tanto este dom, disse que era porque sentia uma grande falta de poder e comunhão com Deus, e pensava que isto lhe daria o poder espiritual e o sentimento da presença de Deus. Perguntaram-lhe se orava com alguma freqüência ou lia a Bíblia regularmente ou gastava tempo em comunhão com outros crentes, e ele admitiu não fazer nada disto. Deus já lhe tinha dado os meios para crescer espiritualmente – oração, Bíblia, comunhão – mas ele não queria se submeter a disciplina. Achava que línguas seria um atalho para chegar à maturidade espiritual. Provavelmente não foi de estranhar que pouco depois disto ela saiu do seminário e abandonou seus planos de ser pastor.
Ainda outro perigo deve ser mencionado: é que o dom pode facilmente ser falsificado. Isto pode advir de decepção, ou porque o "dom" às vezes não se origina de Deus mas da nossa excitação psicológica. Pode ainda ser resultado de atuação demoníaca.
Pode ser útil mencionar aqui que o antigo oráculo grego em Delfos falava o que podemos chamar de "línguas", como também os sacerdotes e sacerdotisas do grande templo de Corinto. Dr. Akbar Abdul-Haqq me disse que o fenômeno não é incomum entre as religiões não cristãs da Índia atualmente.
Existem também exemplos concretos de pessoas possessas de demônios que falam línguas conhecidas com que não tinham tida nenhum contato enquanto com a mente sã. A Bíblia conta como os magos do faraó eram capazes de repetir até certo ponto os milagres de Deus.
Não é de se admirar que João diga: "Não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus" (1 João 4:1). Já entramos neste assunto quando falamos do dom de discernimento, no capítulo 12.
Até mesmo cristãos têm imitado este dom. Uma moça que freqüentava reuniões carismáticas queria desesperadamente receber este dom, porque muitos dos seus amigos o tinham. Como tinha nascido em outro país, ela começou a orar naquela língua, fazendo de conta que tinha recebido o dom de línguas. Seus amigos acreditaram, e ela conseguiu assim ser aceita no grupo em que falar em línguas era tão importante!
Nenhuma experiência deve suplantar a Palavra de Deus em nossa vida – não importa o quanto ela signifique para nós ou quanto possa impressionar os outros. Nossas experiências sempre têm de ser julgadas à luz da Bíblia, e não a Bíblia à luz das nossas experiências. Deus Espírito Santo nos deu a Bíblia, e nenhum dom que venha mesmo do Espírito Santo contradirá a Bíblia.
Em sexto lugar, que dizer do uso do dom de línguas particular, devocional, para louvar a Deus e ter comunhão com Ele? Diversos amigos meus me contaram que depois de ter orado por longo tempo, de repente estavam falando em alguma língua desconhecida. A maioria deles não espalhou o assunto e não disse a ninguém que devesse ter a mesma experiência. Não disseram que todos os cristãos devem falar em línguas como sinal de maturidade espiritual. Todos Sabiam que Corrie ten Boom tinha falado em línguas, mas ela nunca tocou no assunto e repreendia os que falavam muito disto.
A Bíblia tem pouco a dizer sobre este aspecto. Paulo deixa claro que falava em línguas em particular: "Falo em outras línguas mais do que todos vós. Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua" (I Cor. 14:18, 19). Alguns acham que a ardem de Paulo, que devemos "orar sempre no Espírito" (Efés. 6:18) envolve falar em línguas, mas a ênfase em alvos de oração específicos (com a mente claramente se concentrando nos assuntos de oração) na passagem dá antes a entender que Paulo não está querendo dizer isto.
Concluindo, tenho de dizer que não posso deixar de ficar impressionado com as grandes diferenças de opinião sobre línguas por parte dos que se chamam de carismáticos. Muitos têm a impressão que é muito errado dizer que o dom de línguas é essencial para o batismo com o Espírito Santo ou para ser cheio do Espírito. Um grande grupo de evangélicos nem sequer considera línguas um dom do Espírito que deva ser procurado atualmente, da mesma forma como o apostolado.
Eu conheço uma organização que promove conferências bíblicas e já foi muito usada por Deus que não convida ninguém para subir na plataforma que diz falar em línguas, não importa se ele é um ótimo conferencista ou bem aceito entre os evangélicos. Há quem não vá concordar com esta atitude, mas os líderes desta organização são sinceros em suas convicções, e seu ponto de vista deve ser respeitado.
Por outro lado, muitos evangelistas que propriamente não falam em línguas atualmente se colocam em uma posição de neutralidade. Eles viram como o movimento carismático penetrou profundamente em todas as denominações, com renovação e grandes bênçãos. De forma que eles estão preparados para aceitar que todas os dons sobrenaturais de 1 Coríntios 12 podem se manifestar hoje em dia, e que devem ser recebidas como dons do Espírito.
Para ser justo com meus amigos carismáticos, devo acrescentar aqui que apesar de eu discordar deles quanto ao "batismo com o Espírito" que deve ser acompanhado do dom de línguas, eu sei e ensino que os crentes precisam ficar cheios do Espírito. Pondo de lado línguas como sinal necessário, nós estaremos falando da mesma experiência. A meu ver a Bíblia diz que qualquer crente pode ficar cheio do Espírito e experimentar Seu poder, mesmo se não se apresenta nenhum sinal, como o falar em línguas. Em um momento de plenitude especial Deus pode dar o dom de línguas a alguns como sinal, mas eu não creio que Ele o dê a todos. O que importa é que se permanecemos em nossa opinião o façamos sem rancor e sem romper os laços de união em Jesus Cristo. Nós adoramos o mesmo Senhor, e por isto somos agradecidos.
Em 1 Coríntios 14 Paulo diz que profetizar é mais válido que falar em línguas. Mas diz também: "Não proibais o falar em outras línguas" (1 Cor. 14:9). Parece que Paulo falava muitas línguas diferentes, mas ele não enfatizava isto indevidamente. Temos de tomar cuidado para não pôr o Espírito Santo em uma posição na qual Ele tem de agir a nosso modo. O Espírito Santo é soberano; Ele dá Seus dons como quer!
Peter Wagner diz: 'Temos de nos lembrar que o corpo de Cristo é universal, com muitas manifestações locais. Os dons espirituais são dados ao corpo universal, e por isso alguns podem não aparecer ou aparecer mais em algum grupo local em particular. Isto explica por que alguma igreja local ou até uma denominação inteira não recebeu o dom de línguas, ao passo que outras partes do corpo o têm".1
Em resumo: Primeiro, existe um dom de línguas real, em contraste com um que é imitação. Muitos dos que receberam o dom foram transformados espiritualmente – alguns por pouco tempo e outros permanentemente!
Segundo, Deus usa línguas em certos momentos, em certos lugares, especialmente nos campos missionários pioneiros, para promover o reino de Deus e edificar os crentes.
Terceiro, muitos estão convictas que nas estamos vivendo na época que a Bíblia chama de "os últimos dás". Joel e Oséias profetizam que nestes dás reaparecerão as grandes manifestações do Espírito e muitos dos dons de sinais. Podemos estar vivendo nesta época, e não devemos fechar os olhos para o fato de que muitos dos dons de sinais que são mencionados na Escritura estão se manifestando entre nós.
Muitos anos atrás, em uma discussão em classe no Instituto Bíblico da Flórida, um professor disse algo sobre línguas que eu não esqueci mais: "Não procurem; não proíbam".
Línguas é de fato um dom do Espírito. Existe hoje em dia presbiterianos, batistas, anglicanos, luteranos, metodistas, além dos pentecostais, que falam ou já falaram em 1ínguas – ou não, nem esperam fazê-lo.
Mas se línguas é dom do Espírito Santo, ele não pode dividir. Se os que falam em línguas usam mal este dom, provocando divisões, falta-lhes amor. Os que o proíbem fazem um desserviço à Igreja, porque contradizem o ensino do apóstolo Paulo. Os crentes que falam em línguas e os que não falam devem se amar mutuamente e trabalhar na evangelização do mundo.
Para maior glória a Deus, não se esquecendo disto: os que falam em línguas e os que não falam viverão juntos na Nova Jerusalém.
Deus quis lhe dar este dom? Não deixe que ele o faça ficar orgulhoso ou preocupado só com ele. Firme-se sobre toda a Palavra de Deus. E acima de tudo aprenda o que significa amar os outros, inclusive os crentes que não concordam com sua ênfase.
Você não tem este dom? Não se preocupe com isto, e não faça disto causa de divisões entre você e outros crentes. Outros que dão outra ênfase não deixam de ser seus irmãos em Cristo.
Acima de tudo, devemos andar no Espírito, e não satisfazer a concupiscência da carne (Gál. 5:16).
Provavelmente os dons de sinais – curas, milagres e línguas – no primeiro século atraíram tanta atenção como hoje em dia. Também causaram confusão e abusos como hoje. Mesmo assim Deus Espírito Santo os concedeu a alguns na Igreja, para serem usados para sua glória. Eles nunca devem ser explorados com motivos egoístas nem se tornar razão para orgulho ou divisões.
Não devemos ficar preocupados ou obcecados com eles e, acima de tudo, quando estes dons são concedidos eles devem ser usados estritamente de acordo com os princípios que Deus estabeleceu na Bíblia. E isto deve contribuir para a unidade do Espírito. Se Deus decide conceder estes dons a algumas pessoas hoje em dia, devemos sempre orar para que eles sejam usados "para o proveito comum" (1 Cor. 12:7, IBB), e para espalhar o reino de Deus.












O FRUTO DO ESPÍRITO

Um grupo de homens estava esperando em uma doca do rio Tâmisa em Londres desde as cinco da manhã, em uma manhã de inverno terrivelmente fria. Juntos com outros grupos eles tinham sido escolhidos para descarregar um cargueiro atracado ali. Faziam isto equilibrando um carrinho da mão sobre tábuas que iam da doca até um barco menor e dali até o cargueiro. Entre os homens estava um pastor, mas os outras não sabiam disto. Ele estava muito interessada no pessoal daquela área da cidade, e chegou à conclusão que a única maneira de fazer contato com eles seria trabalhar entre eles. Vestido como eles, ele se recusava até a beber uma xícara de chá quente antes de sair de casa, porque sabia que a maioria dos homens que estariam na doca aquele dia à procura de trabalho não teriam tido este conforto, nem estariam adequadamente vestidos. Saiu até sem casaco.
Antes de conseguir trabalho experimentou o que significa ser tratado como estranho. Ficou sabendo o que é ficar o dia todo de pé no frio e na neblina, para receber a informação de que não havia emprego. Aqueles homens voltavam para o que chamavam de casa sem ter um pedaço de pão a oferecer às suas famílias famintas.
Aquele dia ele tinha tido sorte e foi contratado. Quando passava pela décima segunda vez pelas tábuas com seu carrinho de mão carregado, ele escorregou e perdeu o equilíbrio, caindo no Tâmisa em meio a gargalhadas que vinham de todo lado.
Lutando contra seu temperamento, conseguiu ficar de pé depois de alguma dificuldade, sorrindo. Um dos homens (o que tinha balançada a tábua, fazendo-o cair) tinha gritado "homem ao mar", e estava parado ali, rindo. Vendo o pastor disfarçado tentando de bom humor se livrar da lama, algum impulso melhor fez com que ele jogasse algumas caixas vazias no lodo, pulando nelas para ajudar o homem a sair. A primeira observação sua confirmou a atitude do pastor que o Espírito Santo tinha causado:
– Você não levou a mal, não é? – ele disse enquanto ajudava o pastar a subir nas caixas. Ele não tinha falado no dialeto dos que moram nos bairros pobres de Londres, de modo que não deveria ser um estivador comum.
– Você não parece estar muito tempo neste ramo, respondeu o pastor.
– Nem você – retrucou o que antes o tinha jogado na lama e agora estava ajudando-o a sair. O pastor concordou, e convidou o outro para ir com ele até a sua pensão.
Durante a conversa o pastor descobriu surpreso que aquele homem tinha sido um médico de sucesso, mas que perdeu sua clínica e sua família por beber demais. O fim da história foi que o pastar pôde levar este homem a Cristo e também vê-lo novamente junto dos seus amados.
Isto talvez ilustre o que é o fruto do Espírito. Se a vida fosse sempre um mar de rosas, as pessoas sempre amáveis e gentis, se nunca tivéssemos dores de cabeça nem sofrêssemos de cansaço ou sob pressões terríveis talvez o fruto do Espírito nem aparecesse.
Mas a vida não é assim. No meio das dificuldades e do sofrimento é que mais precisamos do fruto do Espírito, e é nestas ocasiões que Deus pode atuar através de nós de maneira especial para levar outras pessoas a Cristo. Quando temos em nós o fruto do Espírito outros verão em nós "a imagem de seu Filho" (Rom. 8:29) e serão atraídos para o Salvador.
Não é por acaso que a Escritura chama a Terceira Pessoa da Trindade de Espírito Santo. Uma das funções principais do Espírito Santo é repartir conosco a santidade de Deus, o que Ele faz desenvolvendo em nós um caráter semelhante a Cristo – um caráter marcado pelo fruto do Espírito. O propósito de Deus é que nós nos tornemos "pessoas maduras, crescendo até alcançarmos a altura espiritual de Cristo" (Efés. 4:13, BLH).

Fruto: é o que Deus Espera de Nós

Deus Espírito Santo usa freqüentemente na Escritura a palavra fruto para indicar o que Ele espera do Seu povo quanto ao caráter. Nos capítulos sobre os dons do Espírito Santo constatamos que os crentes receberam vários dons. Eu posso ter algum dom que outras não têm, e eles terão dons que eu não tenho. Mas quando chegamos ao que a Bíblia ensina sobre o fruto do Espírito vemos que esta é a diferença entre os dons do Espírito e o fruto do Espírito.
O fruto do Espírito não é dividido entre os crentes, como os dons do Espírito. Todos os cristãos devem ter todo o fruto do Espírito. Deus espera isto de nós; podemos ver isto claramente em diversas passagens da Escritura. Em Mateus 13 encontramos a conhecida parábola do semeador. Seu trabalho parece ser o de alguém que anuncia a Palavra de Deus – pastor, mestre, evangelista ou qualquer outro crente. Um pouco da semente cai na beira do caminho, onde os pássaros a comem; um pouco cai entre pedras e seca ao Sol; alguns grãos crescem entre os espinhos, e estes os sufocam. O restante cai em terra boa, cresce e produz em abundância. Da mesma forma você e eu devemos produzir fruto, à medida que a Palavra de Deus começa a atuar em nós no poder do Espírito.
Fato interessante é que a Bíblia fala do fruto do Espírito, e não de frutos. Uma macieira pode produzir muitas maçãs, mas todas vêm da mesma árvore. Semelhantemente o Espírito Santo é a origem de todo fruto em nossa vida.
Em termos mais simples podemos dizer assim: a Bíblia ensina que nas precisamos que o Espírito Santo traga fruto em nosso vida, porque não podemos nos tornar parecidos com Jesus sem o Espírito. Nós estamos cheios de desejos egocêntricos e egoístas, opostos à vontade de Deus para nossa vida. Em outras palavras, duas coisas precisam acontecer em nossa vida: uma, que o pecado tem de ser expulso da nossa vida; outra, que o Espírito Santo precisa entrar e nos encher, e produzir o fruto do Espírito. "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: ... revesti-vos, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade" (Col. 3:5, 12, grifo meu).
Deixe-me usar uma ilustração. Muitas pessoas têm uma cerca ao redor da sua usa, com um portão para entrar e sair. O portão tem utilidade dupla: serve para deixar alguém entrar, ou para manter alguém fora.
A nossa vida é espiritualmente como este portão. Em nós há todo tipo de coisas erradas e que desagradam a Deus. Precisamos pôr estas coisas para fora e deixar o Espírito Santo entrar para controlar o centro da nossa vida. Nós não temos força nem para abrir o portão. Só o Espírito Santo pode fazê-lo, e quando Ele o faz – quando nos entregamos a Ele e pedimos que Ele nos encha – Ele não só entra mas também ajuda a jogar fora todas as coisas más. Ele controla o portão, e à medida que vai purificando o coração da sua maldade. Ele pode introduzir novas atitudes, nova motivação, devoção e amor. Ele também reforça o portão, Para que o mal não possa arrombá-lo. Assim, as obras da carne vão embora e o fruto do Espírito entra. A Escritura diz que o Espírito Santo quer que demos fruto – mais fruto, muito fruto até.
Manford George Gutzke, em seu livro The Fruit of the Spirit (O Fruto do Espírito) compara o fruto do Espírito à luz: "Em cada raio de luz solar temos todas as cores do arco-íris. Elas estão sempre presentes, mesmo quando não as vemos separadamente. Não precisamos imaginar uma por uma quando vemos a luz. Da mesma forma que as cores do arco-íris estão no raio de luz, estes traços de conduta pessoal estão na atuação do Espírito Santo."1

Como Cresce o Fruto

Como o Espírito Santo faz para que nossa vida produza o fruto do Espírito? Duas passagens da Escritura nos ajudarão a responder a esta pergunta.
A primeira passagem é o Salmo 1, que compara o homem de Deus com uma árvore plantada às margens de um rio: "O seu prazer está na lei de Deus, e nesta lei ele medita dia e noite. Esse homem é como uma árvore que cresce na beira de um riacho; ela dá frutas no tempo certo, e suas folhas não murcham. E tudo o que esse homem faz dá certo" (Salmo1:2, 3, BLH). Nesta passagem, dar fruto está relacionado diretamente à importância que a Palavra de Deus tem para nós (observe que não está escrito lê, mas medita). À medida que lemos e meditamos na Bíblia, o Espírito Santo – que inspirou a Bíblia, como sabemos – vai nos convencendo de pecados que precisam ser erradicados e nos dirige ao padrão de vida que Deus quer para nós. Sem a Palavra de Deus não pode haver crescimento espiritual duradouro nem produção de frutos em nossa vida.
A segunda passagem encontrarmos em João 15, onde Jesus compara nosso relacionamento com Ele com os ramos de uma videira. "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (João 15:4, 5).
Esta passagem abriga muitas verdades maravilhosas, mas há algumas coisas que devemos destacar. A primeira é uma ordem para cada crente: "Permanecei em mim." Isto quer dizer que devemos ter o relacionamento mais próximo e íntimo possível com Cristo, sem nada entre Ele e nós. Por isso oração, estudo bíblico e comunhão com outros crentes devem ser tão importantes.
Diz-nos também que só podemos produzir fruto se permanecermos em Cristo: "Sem mim nada podeis fazer". Pode ser que usemos os dons do Espírito mesmo sem estar em comunhão com o Senhor. Mas não podemos dispor do fruto do Espírito quando nossa união com Cristo foi interrompida pelo pecado. Vemos daí como é crucial ser cheio do Espírito, e nós estamos cheios quando permanecemos em Cristo, a videira. O segredo para permanecer é obediência. Se nós permanecemos em Cristo, vivendo de maneira obediente, a vida de Cristo flui para dentro de nós (como a seiva da árvore, que dá vida aos ramos), produzindo fruto para a glória do Pai, e para alimentar e abençoar outros.
Eu creio que há algo neste relacionamento que não podemos entender de todo. Se nós perguntássemos a um ramo de uva branca:
– Como você faz para ter frutos tão deliciosos? – provavelmente o ramo responderia:
– Eu não sei. Eu não fiz crescer nenhum deles. Eu só os carrego. Se você me cortar do pé de uvas eu secarei e não terei mais utilidade.
Sem a videira o ramo não pode fazer nada. Assim também acontece conosco. Enquanto eu me esforçar e trabalhar para conseguir produzir o fruto do Espírito, ficarei frustrado e sem fruto. Mas se eu permaneço em Cristo mantendo um relacionamento íntimo, obediente e dependente com Ele Deus Espírito Santo atua em minha vida, produzindo em mim o fruto do Espírito. Isto não quer dizer que vamos ficar maduros instantaneamente, imediatamente cheios do fruto do Espírito. Qualquer fruto precisa de tempo para amadurecer, talvez até alguma poda se faça necessária, antes de aparecerem frutos em quantidade.
Minha esposa e eu gostamos muito das árvores bonitas que há ao redor da nossa casa na Carolina do Norte. No outono quase todas as folhas caem e são levadas pela vento, mas milhares das velhas folhas ficam presas nos galhos durante todo o inverno. Quando a seiva começa novamente a correr novas folhas surgem – e vida e poder pulsam em cada galho. E ninguém percebe que todas as folhas velhas caem. Este é o quadro do cristão! "As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Cor. 5:17).
Além disto a cada verão nós cortamos algumas árvores que impedem a visão ou bloqueiam a luz do Sol. Outras foram muito prejudicadas pelas tempestades de inverno. Em nossa vida também temos árvores que precisam do machado – que estão apodrecendo ou estragando o panorama. Jesus disse: "Toda planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada" (Mat. 15:13). Em nosso terreno temos poucas árvores frutíferas. Das que trazem os melhores frutos nós cuidamos mais – podando-as, adubando-as, pulverizando-as com inseticida no tempo certo. Uma árvore boa continua dando bons frutos, e deve ser mantida. Mas cortar ou não uma árvore depende da distinção que Jesus fez. Ele disse: "Pelos seus frutos os conhecereis" (Mat. 7:20).
Temos também alguns pés de uva. Em alguns anos colhemos somente algumas uvas pequenas, para nas. Mas nem por isto cortamos as videiras. Pelo contrário, cuidamos bem delas. E no próximo ano elas trarão mais e melhores frutos. De maneira semelhante, à medida que o Espírito Santo vai podando o que não presta em nassa vida, os ramos da videira, espiritualmente falando, vão ficando mais úteis na produção de mais fruto espiritual.
Na figura de João 15 o Senhor Jesus é a videira, nós os ramos e Deus o agricultor, ou jardineiro.
No versículo três lemos: "Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado", ou, como J. B. Phillips traduz: "Agora vocês já foram podados pelas minhas palavras". Não há melhor maneira de o filho de Deus ser podado que pelo estudo e pela aplicação da Bíblia em sua própria vida e sua situação. Deus pode nos corrigir, nos dizer onde nós nos enganamos e nos perdemos, sem nos desencorajar.
Em Atos lemos de Apolo, que cativou o coração de Áquila e Priscila com seu zelo, seu amor e seu dom de oratória, Mas ele era imaturo e despreparado para levar outros a uma vida cristã mais profunda. Seu progresso não tinha passado dos ensinos de João Batista. E este casal, ao invés de rir da sua ignorância e desprezar sua falta de compreensão da verdadeira ortodoxia bíblica, levou-o para casa e, com amor, lhe expuseram melhor o caminho do Senhor (Atos 18:26). Depois ele começou a usar seus dons para a glória de Deus, ganhando almas. Deixou uma impressão indelével na Igreja Primitiva, e ajudou a espalhar o reino de Deus no primeira século.
Você permanece em Cristo? Esta é a correição básica que Deus estabelece para podermos produzir o fruto do Espírito. Há em Sua vida algum pecado inconfesso que o impede de andar mais perto de Cristo? Falta-lhe disciplina? Há algum relacionamento prejudicado com alguém, que precisa ser posto em ordem? Seja qual for a causa, traga-a a Cristo, confessando-a arrependido. E então experimente o que quer dizer "permanecei em mim" cada dia.

























O FRUTO DO ESPÍRITO: AMOR, ALEGRIA, PAZ

De todas as passagens bíblicas que esboçam o caráter de Cristo e o fruto que o Espírito produz em nossa vida, a mais compacta e desafiadora é Gálatas 5:22, 23. "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio". Nos próximos três capítulos estudaremos detalhadamente cada um destes. Para facilitar o estudo, podemos dividir estas nove palavras em três "cachos" de frutas. Amor, alegria e paz são o primeiro cacho; têm a ver principalmente com nossa relacionamento com Deus. O segundo "cacho" – longanimidade, benignidade e bondade – tratam mais do nosso relacionamento com outras pessoas. O terceiro "cacho", fidelidade, mansidão e domínio próprio, fala mais do nosso relacionamento com nosso interior – as atitudes e ações do nosso "eu".
Ao mesmo tempo, é claro, estes três "cachos" estão todos relacionados entre si, e todos devem ser visíveis em nosso ser. E todos estarão visíveis se nós permanecermos em Cristo e permitirmos que o Espírito Santo atue em nós.

O Fruto do Espírito – Amor

Não deveria haver nada mais característico no cristão do que o amor. "Nisto conhecerão todas que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (João 13:35). "Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos" (1 João 3:14). "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros: pois quem ama ao próximo, tem cumprido a lei" (Rom. 13:8).
Não importa de que maneira nós damos testemunho de Cristo; sem amor, tudo fica anulado. Amor é maior que qualquer coisa que possamos dizer com palavras, qualquer coisa que possamos possuir ou dar. "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou corno o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disto me aproveitará" (1 Cor. 13:1-3).
O capítulo da Bíblia que mais fala do amor é 1 Coríntios 13. Sua descrição do amor deveria estar inscrito com letras de ouro no coração de cada cristão. Se outro capítulo da Bíblia deve ser decorado, além de João 3, este é 1 Coríntios 13. Quando meditamos sobre o significado do amor, vemos que ele é para o coração o que o verão é para o agricultor: ele faz com que todas as flores da alma dêem fruto. Ele é, de fato, a flor mais bonita do jardim da graça de Deus. Se não houver amor em nossa vida, estaremos vazios. Pedro disse: "Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados" (1 Pedro 4:8).
C. S. Lewis, em seu pequeno livro The Four Loves (Os Quatro Tipos de Amor), faz um estudo das quatro palavras gregas diferentes que nós traduzimos por "amor". Quando a Bíblia fala do amor que Deus tem por nós e que gostaria que nas tivéssemos, geralmente um a palavra grega agape (pronuncia-se agápe). O amor agape aparece em todo o Novo Testamento. Quando Jesus disse: "Amem seus inimigos", Mateus usou a palavra agape em seu evangelho. Quando Jesus disse que devemos nos amar uns aos outros, João usou a palavra agape. Quando Jesus disse "Ame seu vizinho" Marcos usou a palavra agape. Quando a Escritura diz que "Deus é amor", ela um a palavra agape.
O Novo Dicionário da Bíblia define o amor agape no grego como "a forma mais elevada e nobre de amor, que vê no objeto do amor algo infinitamente precioso".1
A maior demonstração de amor agape que Deus deu foi na cruz, quando Ele enviou Seu Filho Jesus Cristo para morrer por nossos pecados. E já que nós devemos amar como Deus amou, todos os crentes devem ter este amor agape. Nós não o temos naturalmente, nem podemos desenvolvê-lo porque as obras da carne não podem produzi-lo; só o Espírito Santo pode concedê-lo, sobrenaturalmente. Ele o faz quando nos submetemos à vontade de Deus.
Devemos saber de uma coisa sobre o amar agape. Vezes demais hoje em dia o amor parece somente ser uma emoção ou um sentimento. É claro que o amor envolve sentimentos, estejamos amando a Deus ou a outrem. Mas amor é mais que emoções. Amor não é um sentimento – amor é ação. O verdadeiro amor age. Deus nos amou assim: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito" (João 3:16, grifo meu). "Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade" (1 João 3:18, IBB).
Por isso o amor é um ato da vontade – e esta é a razão de nossa vontade tem de ser primeiro submetida a Cristo antes que possamos produzir o fruto do amor.
O bispo Stephen Neill definiu o amor como "uma direção constante da vontade para o bem permanente de outrem".2 Ele comenta que muito amor humano na verdade é egoísta, enquanto que o amor agape renuncia a si mesmo. Neill diz:
"O primeiro amor (humano) diz: – Eu quero para mim algo que o outro tem e que ele pode me dar.
"O segundo amor (de Deus) diz: – Eu quero dar alguma coisa para este aqui, porque eu o amo.
"O primeiro amor quer se enriquecer recebendo presente que os outros podem dar.
"O segundo amor quer enriquecer os outros dando tudo que tem.
"O primeiro amor é sentimento e desejo. Vem e vai quando quer; não podemos forçá-lo a ficar com nenhum esforço próprio.
"O segundo amor é muito mais questão de vontade, porque somos nós que decidimos dar ou não dar."3
Nós devemos amar como o bom samaritano (Lucas 10:25-38), que na verdade é amor se expressando em ações. Este amor alcança todos – esposa, marido, filhos, vizinhos, até mesmo pessoas que nunca vimos, no outro lado do mundo. Inclui os que são fáceis de amar, porque são parecidos conosco, e os que são difíceis de amar, porque são tão diferentes. Estende-se até a pessoas que nos prejudicaram ou magoaram.
Uma jovem esposa e mãe estava cheia de amargura e ressentimento porque seu marido se tornara infiel e a tinha deixado para viver com outra mulher. Mas, refletindo sobre o amor que Cristo teve por nós, ela descobriu que um novo tipo de amar pelas outras pessoas começou a brotar dentro dela – inclusive pela mulher que tinha levado seu marido. Perto do Natal ela enviou àquela mulher uma rosa vermelha com um bilhete: "Por causa do amor de Cristo em mim e através de mim, eu posso amar você!" Este é o amor agape, fruto do Espírito.
A ordem de amar não é opcional; devemos amar, estejamos com vontade ou não. De fato, podemos dizer que o amor pelos outros é o primeiro sinal de que nascemos de novo e que o Espírito Santo está atuando em nós.
Antes de qualquer outra coisa o amor deve ser a característica marcante de qualquer congregação local.
Dr. Sherwood Wirt escreveu assim: "Descobri que não vem ao caso falar de igrejas fortes ou igrejas fracas, grandes ou pequenas, mornas ou frias. Estas classificações não são realísticas e estão fora da questão. A única distinção que podemos fazer é esta: igrejas que amam ou igrejas que não amam."4
Às vezes é muito fácil dizer que amamos alguém, honesta e sinceramente. Mas quantas vezes não vemos o solitário na multidão, o doente e o necessitado, homens ou mulheres, cuja única esperança talvez seja o amor que podemos lhe dar em Cristo. O amor que Deus nos mostrou alcança todas as pessoas.
Um amigo nosso é um famoso cantor. Eu notei que quando ele entra em uma sala cheia de pessoas ele não fica olhando ao redor para encontrar pessoas que ele conheça. Ele olha para uma pessoa inexpressiva, desconhecida, deslocada, desajeitada, vai direto para ela, estende a mão, com o rosto enrugado brilhando em um sorriso gentil, enquanto se apresenta: "Olá, eu sou . . ."
Allan Emery, amigo meu por longa data, morava em Boston quando era ainda garoto, e teve uma experiência que deixou nele profunda impressão. Seu pai recebeu um telefonema dizendo que um cristão conhecido tinha se encontrado bêbado no banco de uma certa praça. Seu pai imediatamente mandou seu motorista com a limusine buscar o homem, enquanto sua mãe preparava o melhor quarto de hóspedes. Meu amigo ficava olhando com os olhos arregalados os lindos cobertores sendo colocados sobre a velha cama com marquise, mostrando os monogramas.
– Mas, mãe! – ele protestou, – ele está bêbado. Pode até estar doente!
– Eu sei, – disse sua mãe gentilmente, – mas este homem escorregou e ruiu. Quando voltar a si estará tão envergonhado que precisará de todo o carinho e ânimo que nós lhe possamos transmitir.
Foi uma lição que ele nunca esqueceu.
Jesus olhou para as multidões e ficou cheio de compaixão por cada um deles. Ele amou como nenhum ser humano é capaz de amar. Seu amor abraçava todo o mundo, toda a raça humana, do princípio ao fim dos tempos. Seu amor não conhecia barreiras, nem limites, ninguém era excluído. Desde o mendigo mais insignificante até o mais alto monarca, desde o maior pecador até o mais pura santo – Seu amor foi para todos. Somente o Espírito de Deus atuando em nós pode produzir este fruto, que se manifestará em nossa vida pública e privada.

O Fruto do Espírito: Alegria

Voltando do túmulo do seu jovem filho na China, meu sogro escreveu a sua mãe: "Há lágrimas em nossos olhos, mas alegria em nosso coração". A alegria que o Espírito põe em nosso coração está acima das circunstâncias. Podemos ter alegria mesmo nas situações mais difíceis.
A palavra grega usada no Novo Testamento para alegria repetidamente é usada para indicar alegria de origem espiritual, como "a alegria do Espírito Santo" (1 Tess. 1:6). Também o Antigo Testamento usa frases como "a alegria do Senhor" (Neem. 8:10), para indicar que Deus é a fonte da alegria.
Pouco antes de ser preso nosso Senhor se reuniu com seus discípulos para a Ceia. Jesus lhes disse que tinha falado tudo aquilo "para que o meu gozo esteja em vós, e vosso gozo seja completo" (João 15:11).
O bispo Stephen Neill fez esta observação: "Os primeiros cristãos conseguiram conquistar o mundo porque eram um povo alegre."5
O mundo de hoje não tem alegria; está cheio de sombras, desilusões, medo. A liberdade está desaparecendo da face da terra. Além da liberdade, também muitas das alegrias e prazeres superficiais da vida estão desaparecerão, mas isto não deve nos alarmar. A Escritura ensina que nossa alegra espiritual não depende das circunstâncias. O sistema mundial não consegue achar a fonte da alegria. Deus dirige Sua alegria, através do Espírito Santo, para nossas vidas tristes e cheias de problemas, possibilitando-nos que fiquemos cheios da alegria apesar das circunstâncias.
A Declaração de Independência dos EUA fala de "perseguir a felicidade", mas a Bíblia em nenhum lugar diz que devemos fazer isto. A felicidade é enganosa, e nós não a acharemos procurando-a. Quando as condições externas são favoráveis nós a temos; mas a alegria vai muito além. Alegre também é diferente dos prazeres. Os prazeres do momentâneos, mas a alegria é permanente e firme, desprezando as circunstâncias adversas da vida.
Além de nós recebermos a fonte da alegria, que é a pessoa de Cristo, nós temos a certeza de que ela está sempre à disposição de qualquer cristão, não importa as circunstâncias.
Eu visitei uma vez a cidade de Dohnavur, no sul da Índia, onde Amy Carmichael viveu por cinqüenta anos, cuidando de centenas de meninas antes destinadas ao serviço do templo. Como já citei antes ela estava presa à uma durante os últimos vinte anos de sua vida, e durante este tempo escreveu muitas livros que abençoaram milhões de pessoas. A alegria preenchia o seu quarto de doente, e todos que a visitavam saíam louvando a Deus.
Em Seu livro Gold by Moonlight (Ouro ao Luar) ela diz: "Se nosso objetivo é querer o que Deus quer, aceitar as coisas é a escolha feliz, da mente e do coração, das coisas que Ele traz, porque (para o presente) elas são Sua vontade boa, aceitável e perfeita."6
Visitei aquele quarto mais de uma vez depois da sua morte, onde ela tinha servido ao Senhor durante vinte anos, escrevendo na cama, e sua enfermeira me pediu que eu fizesse uma oração. Eu comecei, mas eu fiquei tão emocionado com um sentimento da presença de Deus que não consegui continuar. Minha voz falhou, o que raras vezes me aconteceu. Pedi ao meu companheiro que continuasse, mas a mesma coisa aconteceu com ele. Quando deixamos o quarto, eu senti a alegria do Senhor encher o meu coração. Eu tenho visitado muitos doentes para lhes transmitir ânimo, alguns com doenças incuráveis. Por estranho que pareça, muitas vezes eu saí abençoado com sua alegria contagiante.
O testemunho final de Paulo estava coroado de profunda alegria, quando escreveu sua última carta a Timóteo, pouco antes de morrer. Apesar dos sofrimentos por que passou, dos horrores da prisão e das freqüentes ameaças de morte, a alegria do Senhor enchia o Seu coração.
Charles Allen explica isto nestas palavras: "Da mesma forma que toda a água do mundo não pode apagar o fogo do Espírito, todos os problemas e tragédias do mundo não podem vencer a alegria que o Espírito traz ao coração humano."7
Alguém disse que "a alegria é a bandeira que tremula na torre do palácio quando o Rei está presente".

O Fruto do Espírito: Paz

Paz traz em si a idéia de unidade, satisfação, descanso, segurança e tranqüilidade. No Antigo Testamento a palavra é shalom. Quando eu encontro algum amigo judeu eu o cumprimento com shalom. E quando cumprimento um dos meus amigos árabes eu uso um termo semelhante que em sua língua significa paz, shalom.
Recentemente eu vi na televisão uma reportagem sobre o desembarque de passageiros de um avião seqüestrado: seus rostos traziam expressão de terror, horror, medo. Mas uma mulher tinha em seus braços uma criança, dormindo calmamente com tudo aquilo. Paz no meio do tumulto.
Isaías disse: "Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti" (Isa. 26:3). Esta é a descrição de todo cristão que está sozinho no campo de batalha, protegido ao redor com as armas santas de Deus, e no comando da situação. Ele não está preocupado com o futuro, porque sabe quem tem o futuro em suas mãos. Ele não treme sobre a rocha, porque sabe quem fez a rocha. Ele não duvida, porque conhece Aquele que tira todas as dúvidas.
Quando nós nos entregamos às preocupações estamos tirando do nosso Guia o direito de nos dirigir em confiança e paz. Somente o Espírito Santo pode nos dar paz no meio de tempestades, agitação e desespero. Não devemos entristecer nosso Guia tolerando as preocupações ou dando muita atenção a nós mesmos.
Há diferentes tipos de paz: a paz de um cemitério, a paz trazida por tranqüilizantes. Mas para o cristão paz não é simplesmente ausência de conflito ou qualquer outro estado artificial que o mundo pode oferecer. É a paz profunda e permanente que Jesus Cristo traz ao nosso coração. Ele a descreve em João 14:27: "– Deixo com vocês a minha paz; a minha paz lhes dou, não como o mundo costuma dar" (BLH). Esta paz pode vir somente pelo Espírito Santo.
A paz de Deus que pode reinar em nossos corações sempre é precedida pela paz com Deus, que é o ponto de partida. Quando esta existe, a paz de Deus pode segui-la. Deste ponto de vista a obra salvadora de Cristo tem dais estágios: Primeira, Ele foi capaz de terminar a guerra que havia entre o homem pecador e o Deus justo. Deus estava mesmo aborrecido com a humanidade por causa do seu pecado. Jesus, com Seu Sangue, proveu a paz. A guerra terminou; a paz veio. Deus estava satisfeito, a dívida cancelada, a contabilidade em ordem. Com Seus débitos pagos o homem estava livre, se estivesse disposto a se arrepender e se voltar em fé para Cristo, para receber a salvação. Agora Deus pode olhar com prazer para ele.
Mas Jesus não só nos libertou da escravidão e da guerra. Há um segundo estágio, graças a Ele – agora e aqui podemos ter a paz de Deus em nosso coração. A paz com Deus não é Somente uma trégua; a guerra terminou para sempre, e agora os corações redimidos dos antigos inimigos da cruz estão munidos de uma paz que está além de qualquer conhecimento humano, e mais alto que qualquer vôo de águia que possamos imaginar.
Spurgeon disse sobre a paz de Deus: "Olhei para Cristo, e a pomba da paz voou para dentro do meu coração; olhei para a pomba, e ela voou embora." Não devemos olhar para o fruto, mas para a origem de toda a paz, porque Cristo, pelo Espírito Santo, cultiva nossa vida com sabedoria para produzirmos paz. A terapia psiquiátrica mais eficiente do mundo é apropriar-se da promessa de Jesus: "Eu lhes darei descanso" – ou paz (Mat. 11:28). O rei Davi é uma prova viva da terapia espiritual para a alma que o Espírito Santo aplica, quando diz: "Deitar-me faz" (Sal. 23:2, IBB). Isto é descansar em paz. Mas Davi continua: "Ele refrigera a minha alma." Isto é receber novas forças, cheio de paz. Mesmo procurando paz sem parar, os homens não a acharão enquanto não chegarem a esta simples conclusão: "Cristo é paz."
Uma mulher cheia de desespero e frustração me escreveu, dizendo que não havia esperança para ela porque Deus não poderia perdoar todos os seus pecados, de tão grandes que eram. Eu lhes respondi que mesmo parecendo que Deus e todo mundo a tinham esquecido, Ele não a esquecera, só permitira que aflição e desespero enchessem a sua alma para que ela compreendesse o quanto precisa do perdão e da paz de Deus. Mais tarde ela me escreveu dizendo que tinha pulado de alegria quando compreendeu que podia ter e paz de Deus. Jesus disse que o que faz a diferença não é a nossa paz, mas a dEle: "A minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo" (João 14:27).
Em Romanos Paulo nos deixou estas palavras tão maravilhosas: "E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo " (15:13). Como descrever melhor alegria e paz? Paz é fruto do Espírito, sim.
Você a tem em Seu coração?






















O FRUTO DO ESPÍRITO:
LONGANIMIDADE, BENIGNIDADE, BONDADE

O primeiro cacho de frutos do Espírito era de relacionamento com Deus que outras pessoas podem ver. Por isso falamos do amor de Deus, da alegria do Senhor e da paz de Deus. O segundo cacho – longanimidade, benignidade e bondade – traz em si a idéia de que tipo de cristãos somos em nosso relacionamento com outras pessoas. Se nós perdemos facilmente as estribeiras, somos indelicados ou grosseiros, então nos falta o segundo cacho do fruto do Espírito. Mas quando o Espírito tem controle sobre nós, Ele age em nós até que os botões de longanimidade, benignidade e bondade comecem a florir em nós e depois dar fruto.

O Fruto do Espírito: Longanimidade

A palavra longanimidade (paciência, na Bíblia na Linguagem de Hoje) vem de uma palavra grega que tem a idéia de imperturbabilidade diante de provocações. O conceito de paciência sob maus tratos, sem ficar com raiva nem nutrir pensamentos de vingança ou retribuição, também é inerente à palavra. Esta parte do fruto do Espírito se evidencia assim no relacionamento com nossos vizinhos. É a paciência personificada – a paciência do amor. Se nós somos irritadiças, vingativos, ressentidos ou maldosos com nossos vizinhos, então temos "curtanimidade", e não longanimidade. Neste caso não estamos sob o controle do Espírito Santo.
A paciência é o brilho transcendente de um coração amoroso e meigo que é gentil e delicado quando trata os que vivem ao seu redor. A paciência julga os erros dos outros com delicadeza, carinho e compreensão, sem criticismo injusto. Paciência também é perseverança – a capacidade de suportar fadiga, pressão e perseguição enquanto faz o trabalho do Senhor.
Paciência faz parte da imagem de Cristo, que nós admiramos tanta em outros sem exigi-la de nós mesmos. Paulo nos ensina que nós podemos ser "fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria" (Sal. 1:11). A paciência provém do poder de Deus, baseado na nossa disposição de aprendê-la. Se nós somos egoístas, se raiva ou má vontade se manifestam, se a impaciência ou a frustração querem nos dominar, temos de reconhecer que a causa dos problemas somos nós, e não Deus. Devemos recusar, renunciar e repudiar a situação imediatamente. Isto vem da nossa natureza pecaminosa.

Paciência e Provas

A paciência está relacionada na Bíblia bem de perto com provas e tentações, o que é lógico. Ser paciente na vida normal é fácil, mas e quando vêm as dificuldades? Nestas horas é que nós mais precisamos do fruto do Espírito – paciência. A Bíblia diz que esta é uma das vantagens das dificuldades: porque nos fazem mais fortes, deixando que o Espírito desenvolva a paciência em nós. "Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança" (Tiago 1:2, 3).
Se isto é verdade, então nós devemos dizer bem-vindo às provações e dificuldades, quando elas vêm, porque nos obrigam a recorrer cada vez mais à fonte de toda força, produzindo mais paciência, que é fruto do Espírito. Exercitando paciência e longanimidade nas pequenas frustrações e irritações diárias, estaremos preparados para resistir nas grandes batalhas.
A erosão do coração nos faz vulneráveis aos ataques astutos a muitas vezes disfarçados de Satanás. Mas o coração que aprendeu a recorrer imediatamente ao Espírito Santo, pela oração, ao primeiro sinal da tentação não terá razão para temer esta erosão, esta derrota. Em pouco tempo a oração será tão automática e espontânea que a teremos pronunciado antes de vermos a necessidade. A Bíblia diz que devemos ser "pacientes na tribulação, na oração perseverantes" (Rom. 12:12). Na minha opinião, a melhor hora para orar é no momento em que somos ameaçados por uma situação tensa ou uma atitude não espiritual. Deus Espírito Santo está sempre presente, pronto para me ajudar a vencer as batalhas espirituais, grandes ou pequenas. Mas para a oração se tornar uma reação involuntária ou subconsciente ao problema eu tenho de praticá-la, voluntária e conscientemente, cada dia, até que ela se torne uma parte integrante do meu ser.
Um amigo e conselheiro uma vez me disse que muitas vezes o maior teste que enfrentamos, a maior provação é quando perguntamos a Deus: "Por quê?"
Charles Hambree afirmou que "no meio da aflição é difícil ver um sentido nas coisas que nos acontecem, e ficamos com vontade de questionar a justiça de um Deus fiel. E exatamente estes momentos rodem ser os mais significativos de nosso vida".1
Paul Little, um dos maiores servos de Deus, morreu em um acidente automobilístico em 1975. Eu logo perguntei a Deus: "Por quê?" Paul era um dos melhores homens de Deus para trabalhar com jovens, e para ensinar a Bíblia. Era professor em faculdade teológica, um dos líderes da Aliança Bíblica Universitária e ex-membro da nossa equipe. Tenho certeza que sua esposa, Marie, fez esta mesma pergunta na agonia do seu coração. Mas quando ela participou alguns meses depois de um retiro espiritual da nossa equipe, ela evidenciou um espírito maravilhoso, contando sua vitória às mulheres da nossa equipe. Ao invés de nós a confortarmos, ela é que estava nos confortando.
Nós sofremos aflições ou disciplina, mas o salmista diz: "Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Sal. 30:5). Nenhum cristão cheio do Espírito deixará de ser longânimo e paciente se perseverou fielmente na "comunhão dos seus sofrimentos"(Filip. 3:10).
Deus permite que passamos por purificação, disciplina, aflições e até perseguições, para que o fruto apareça em nossa vida. Se os irmãos de José, que o odiavam, não o tivessem vendido como escravo, se Potifar não o tivesse acusado injustamente, colocando-o na prisão, ele não teria desenvolvido o fruto de paciência e longanimidade que seria sua característica pessoal por toda a vida. Mesmo depois de dizer ao copeiro do faraó que voltaria à corte real e pedir-lhe que falasse a faraó da sua prisão injusta, teve de permanecer mais dois anos na prisão.
Às vezes parece que Deus demora muito para nos atender, pois nós confiamos nEle, mas Ele nunca vem tarde demais. Paulo escreveu: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação" (2 Cor. 4:17). Jesus disse a Seus discípulos: "Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas" (Lucas 21:19, IBB). Esta é a longanimidade e a paciência que o Espírito Santo usa para abençoar outros.
Falando sobre longanimidade temos de tomar cuidada em relação a um perigo. Às vezes nós a usamos como desculpa por não termos tomado uma atitude que se esperava de nós. Às vezes nos contentamos com um tipo de auto-flagelação neurótica por não querermos enfrentar a verdade, que erradamente chamamos de longanimidade. Mas Jesus, com violência, "expulsou todos os que venciam e compravam no templo; também derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas" (Mat. 21:12). Também castigou com furor os escribas e fariseus (Mat. 21:13 ss.). O cristão cheio do Espírito sabe quando arder em "ira santa" e quando ser paciente, e sabe também quando a longanimidade se transformou em desculpa da inatividade ou uma muleta para disfarçar um defeito de caráter.

O Fruto do Espírito: Benignidade

Benignidade, ou ternura, ou delicadeza, é o segundo gomo do fruto que aparece externamente. Este termo vem de uma palavra grega que entende toda a nossa natureza permeada de gentileza. Delicadeza acaba tudo que é rude e grosseiro. Podemos até chamá-la de amor que permanece.
Jesus era uma pessoa gentil. Quando Ele nasceu havia poucas instituições de caridade no mundo. Havia poucos hospitais ou clínicas psiquiátricas, poucos albergues para os pobres, poucos orfanatos e poucos abrigos para os desamparados. Comparando com a nossa, aquela era uma época cruel. Cristo mudou isto. E a todos os lugares onde o cristianismo chegou seus seguidores praticaram ações de benignidade e delicadeza.
A palavra aparece poucas vezes em nosso Bíblia em português, mas há versículos que a creditam às três pessoas da Trindade. Salmo 18:35 fala da clemência ou benignidade de Deus; 2 Coríntios 10:1 da benignidade de Cristo; e Gálatas 5:22 da benignidade do Espírito Santo.
Charles Allen faz a seguinte observação: "No nosso desprezo pelo pecado podemos nos tornar rudes e grosseiros com o pecador. ... Algumas pessoas parecem ser tão apaixonadas pela justiça que não têm mais lugar para a compaixão pelos que caíram".2
Como é fácil ser impaciente ou indelicado com os que falharam na vida! Quando começou o movimento hippie nos EUA, muitas pessoas reagiram com uma atitude crítica e sem amor diante dos hippies em si. A Bíblia nos ensina outra coisa. Jesus os teria tratado com "benignidade" carinhosa. As únicas pessoas que Ele tratou com rudeza foram os líderes religiosos hipócritas, mas com todas os outros Ele era maravilhosamente gentil. Muitos pecadores à beira do arrependimento foram desiludidos por um cristianismo farisaico e friamente rígido, preso a um código religioso legalista que não inclui a compaixão. Jesus agia com ternura, gentileza e carinho. Mesmo crianças pequenas experimentaram isto, e se aproximavam dEle ansiosas e sem medo.
Paulo disse a seu jovem amigo Timóteo: "O servo do senhor não deve brigar. Mas deve ser delicado para com todos" (2 Tim. 2:24, BLH). Tiago disse: "A sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; e é também pacífica, bondosa e amigável" (Tiago 3:17, BLH).
Alguns dizem que delicadeza é um sinal de fraqueza, mas eles estão errados! Abraham Lincoln era famoso por sua humildade e delicadeza, e nunca poderemos dizer que ele era fraco. Pelo contrário, o grande homem que ele foi resultou da combinação da sua grande força de caráter com seu espírito gentil e compassivo.
Em Fruits of the Spirit (Frutos do Espírito) Hembree diz assim: "Nesta época de mísseis teleguiadas e pessoas mal-guiadas precisamos desesperadamente aprender a sermos gentis. Parece estranho que em uma era em que alcançamos a lua, enviamos sinais a planetas distantes e recebemos fotografias tiradas de satélites em órbita seja tão difícil comunicar ternura com os que estão ao nosso redor."3
O lugar mais óbvio para buscar orientação e instrução para estes usos do Espírito é o ministro no púlpito, e a grande necessidade desta geração tem de ser tratada em sermões com autoridade. Mas não importa quão eloqüente, bem preparado e dotado um pastor seja; se não tiver carinho e delicadeza em sua maneira de tratar as pessoas ele será incapaz de levar muitas pessoas a Cristo. Um coração gentil é um coração contrito – um coração que chora pelos pecados dos maus e pelos sacrifícios dos bons.


O Fruto do Espírito: Bondade

O terceiro elemento deste trio é bondade. Esta palavra é derivada de um termo grego que se refere à qualidade das pessoas que são dirigidas e desejam o que é bom, que representa os mais elevados valores éticos e morais. Paulo escreve: "Porque o fruto da luz consiste em toda a bondade, e justiça, e verdade" (Efés. 5:9). Diz também: "Por isso também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação, e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé; a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós" (2 Tess. 1:11,12). Paulo diz ainda, elogiando a igreja em Roma: "Certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros" ( Rom. 15:14).
Eu já disse em outro capítulo que no terreno atrás da nossa casa nós temos algumas fontes de água. De uma delas jarra a água que supre o nosso reservatório, pura e que nunca cessa de correr. O homem que analisou a água elogiou-a, dizendo que era a água mais pura que já tinha achado. Assim como a boa fonte, um bom coração nunca cessa de jorrar bondade.
A palavra "bom" no entender da Escritura significa literalmente "ser como Deus", porque Ele é o único que é perfeitamente bom. Uma coisa é ter padrões éticos elevados, outra coisa é a bondade que o Espírito Santo produz, que tem suas raízes em Deus. O significado deste fruto é mais amplo do que simplesmente "fazer o bem". Bondade é mais que isto. Bondade é amor em ação. Não somente traz em si a idéia de justiça, mas demonstra esta justiça, este "fazer o que é certo" vivendo diariamente no Espírito Santo. É fazer o bem a partir de um coração bom, é agradar a Deus sem esperar medalhas ou recompensas. Cristo quer que este tipo de bondade seja o normal em cada cristão. Os homens não podem achar substituto para a bondade, e nenhum artista em retoques espirituais pode imitá-la.
Thoreau escreveu o seguinte: "Se alguém não mantém o passo com seus companheiros, é talvez porque ele esteja ouvindo um outro tambor. Deixe-o andar de acordo com a música que ele ouve, mas comedido, ou longe dos outros."4 Como cristãos nós não temos outra alternativa a não ser marchar no ritmo dos tambores do Espírito Santo, nos passos comedidos da bondade, o que agrada a Deus.
Nós podemos fazer boas obras e dar testemunho aos que vivem ao nosso redor de que temos algo "diferente" em nosso vida, praticando os princípios da bondade – algo diferente que talvez eles mesmos também queiram ter. Talvez até sejamos capazes de mostrar a outros como praticar os princípios da bondade. Mas a Bíblia diz: "O vosso amor é como a nuvem da manhã, e como o orvalho da madrugada, que cedo passa" (Oséias 6:4). A verdadeira bondade é "fruto do Espírito", e nunca teremos sucesso tentando consegui-la com força e esforço próprios.
Devemos tomar cuidado: qualquer traço de bondade que o mundo vê em nós deve ser genuíno fruto do Espírito, e não um substituto falsificado, para que não levemos ninguém inconscientemente para um caminho errado.
Nunca devemos esquecer que Satanás pode se aproveitar de qualquer esforço humano e torcê-lo para que sirva para seus propósitos; mas ele não pode nem tocar o espírito que está coberto do sangue de Cristo, e firmado profundamente no Espírito Santo. Somente o Espírito pode produzir a bondade que é a toda prova.
A bondade nunca se manifesta sozinha neste grupo de facetas externas do fruto do Espírito, mas é sempre acompanhada por paciência e delicadeza. Estes três andam juntos e estavam maravilhosamente visíveis nAquele que é o exemplo perfeito do que você e eu devemos ser. Pelo poder do Espírito Santo estes traços de caráter se tornam parte da nossa vida, para que possamos lembrar outros dEle.

















O FRUTO DO ESPÍRITO:
FIDELIDADE, MANSIDÃO, DOMÍNIO PRÓPRIO

A vida cristã autêntica tem sua própria escala de prioridades: Primeiro Deus, depois os outros, por último nós mesmos. Por isto ao falarmos do terceiro cacho do fruto do Espírito focalizaremos nossa atenção no homem interior. O Espírito Santo atua em nós para poder atuar através de nós. "Ser" é mais importante que "fazer". Mas quando somos interiormente o que devemos ser, então produziremos fruto, mais fruto, muito fruto. Este é o objetivo final do apóstolo Paulo ao escrever: "É Deus quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, Segundo a sua boa vontade" (Filip. 2:13). Ele diz também: "Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus" (Filip. 1:6).
O terceiro cacho do fruto espiritual trata do homem interior. Inclui fidelidade, mansidão e domínio próprio.

O Fruto do Espírito: Fidelidade

A fidelidade de que se fala aqui não é uma referência à fé do crente, mas à fidelidade que o Espírito Santo produz em uma vida cristã entregue a Ele.
A mesma palavra aparece em Tito 2:10; a Escritura elogia muito este traço de caráter. Fidelidade nas coisas pequenas é um dos teste de caráter mais seguros, como num Senhor mostra na parábola dos talentos: "Foste "fiel no pouco, sobre o muito te colocarei" (Mat. 25:21). Moralidade não é tanto questão de grandeza, mas de qualidade. Certo é certo, errado é errado, tanto nas coisas pequenas como nas grandes.
Pedro contrasta os que arcam fielmente com Deus com os que se emaranham de novo com a sujeira do mundo. Ele escreve: "Melhor lhes fora que nunca tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal!" (2 Pedro 2:21, 22).
A terceira epístola de João conta só catorze versículos. Demétrio e Diótrefes são as personagens principais. Demétrio era o discípulo fiel: "Todos falam bem de Demétrio, e a própria verdade fala bem dele" (v. 12, BLH). Ele é elogiado porque seguiu o Senhor fielmente, em palavra, em verdade, na prática e no princípio.
Uma expressão familiar na indústria é "prazo de entrega", o tempo entre o recebimento do pedida de fabricação e o dia em que ele é entregue. Muitos cristãos um dia se arrependerão do tempo que gastaram depois de Deus lhes mostrar Seu plano para eles e antes de começar a agir. Os israelitas poderiam ter feito a sua viagem do Egito até Canaã em poucos meses; mas, por causa da sua infidelidade e falta de fé (a palavra é a mesma, no grego), a viagem foi feita em não menos que 40 anos, e toda uma geração morreu.
Falta de fidelidade é um sinal de imaturidade espiritual. Um sinal de imaturidade emocional é a recusa em aceitar responsabilidade. Os jovens querem ter todos os privilégios dos adultos, mas não querem assumir responsabilidades. O mesmo princípio vale espiritualmente. Deus nos deu certas responsabilidades, como cristãos adultos. Quando somos desobedientes e nos recusamos a assumir estas responsabilidades, então somos infiéis. Por outro lado, quando somos fiéis é porque assumimos as responsabilidades que Deus nos deu. Isto é um sinal de maturidade espiritual, e é um dos frutos importantes que Espírito produz em nós.
Sem dúvida muitos de nas crescem mais lentamente do que deveriam porque não querem permitir que o Espírito Santo controle todas as áreas da sua vida. Nossa obediência, permitindo que Deus Espírito Santo remova todos os maus hábitos que se desenvolvem, deveria ser imediata. Às vezes somos impacientes, porque demora tanto para sermos como Ele é, mas devemos ser pacientes e fiéis, porque vale a pena esperar até sermos como Ele é. E eu tenho certeza de que não vamos saber que somos maduros, quando o formos. Quem de nós pode dizer que já é perfeito? Sabemos que quando estivermos diante dEle na eternidade, então seremos glorificados com Ele. O Espírito Santo começará a aperfeiçoar e executar o plano de Deus em nossa vida sempre que estivermos dispostos a dizer "sim" à Sua vontade!
A Escritura está repleta com histórias de homens como Abraão (Heb. 11:8-10) que andaram fielmente com Deus. Todo o capitulo onze de Hebreus fala de homens e mulheres que Deus considerou fiéis.
É perigoso tentar Deus, como alguns homens "infiéis" fizeram nos dias de Amós. Deus disse a eles: "Eis que vêm dias. . . em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor" (Amós 8:11).
Devemos prestar atenção, isto sim, à advertência de Tiago: "Bem--aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovada, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam" (1:12). Mais adiante Tiago diz: "Mas aquele que considera atentamente na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar" (1:25).
Sempre de novo nós somos exortados a sermos fiéis. Eu já disse algumas vezes que no fim desta era haverá diversos julgamentos. Um destes julgamentos é chamado de o trono da justiça de Cristo. Algum dia todos os cristãos estarão diante de Jesus Cristo para prestarem contas do que fizeram depois da conversão. Nós seremos julgados não com base no quanto fomos bem sucedidos aos olhos do mundo mas no quanto fomos fiéis no lugar em que Deus nos colocou. O apóstolo Paulo indica isto em 1 Coríntios 3:9-16: a fidelidade será a base na qual Deus fará o julgamento.
O maior teste para nossa fidelidade pode ser quanto tempo nas dedicamos à leitura da Bíblia, à oração, vivendo de acordo com os princípios de justiça quando abençoados com prosperidade.
Um cristão devoto me surpreendeu recentemente, quando disse: "É tão difícil ser um cristão nos dias atuais." É tão fácil esquecer e abandonar o nosso Deus em meio à prosperidade, principalmente onde o materialismo domina. É por isto que Jesus disse que é tão difícil para os ricos entrar no reino de Deus. Os ricos podem ser salvos – mas a Bíblia fala da "fascinação das riquezas" (Mat. 13:22).
As preocupações e ocupações deste mundo muitas vezes interferem na nossa vida fiel na presença de Deus. No meio da prosperidade nós devemos nos cuidar para não cairmos na mesma armadilha que a gente de Laodicéia, que incorreu no desagrado e na ira de Deus porque pensava que não precisava de nada, já que era materialmente rica (Apoc. 3:17). "Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências (desejos) insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todas os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmo se atormentaram com muitas dores" (1 Tim. 6:9, 10).
Se nós pudéssemos gravar um epitáfio no túmulo do apóstolo Paulo, poderia ser este: "Fiel até à morte." Já à espera da execução Paulo escreveu sem hesitação: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia" (2 Tim. 4:7, 8). Sejam quais forem os fracassos de Paulo e quanto lhe faltava para a perfeição, ele sabia que tinha sido fiel ao Senhor até o fim.
Este gomo maravilhoso do cacho do fruto do Espírito – fidelidade inclui fidelidade no falar de Cristo, fidelidade na nossa entrega e no nosso chamado, e fidelidade aos mandamentos de Cristo. A recompensa final para a fidelidade está em Apocalipse 2:10: "Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida."

O Fruto do Espírito: Mansidão

A palavra mansidão (humildade, na Bíblia na Linguagem de Hoje) vem de uma palavra grega que significa "brando; ser suave no trato com outros". Jesus disse: "Felizes os humildes, porque receberão o que Deus tem prometido" (Mat. 5:5). Em nenhum lugar da Escritura esta palavra implica em desânimo ou timidez. Nos templos bíblicos mansidão ou humildade significava muito mais do que na nossa língua hoje em dia. Continha a idéia de ser domesticado, como um cavalo selvagem que foi controlado.
Antes de Ser chamado pelo Espírito Santo Pedro era rude e explosivo. Depois toda a sua energia passou a ser usada para a glória de Deus. Moisés foi chamado de o mais manso dos homens, mas antes de Deus o chamar ele era altivo e independente, e levou quarenta anos no deserto até se submeter completamente ao controle de Deus. Um rio sob controle pode ser usado para gerar energia elétrica. Fogo sob controle pode servir para cozinhar alimentos. Mansidão é poder, força, temperamento e violência sob controle.
Em outro sentido podemos comparar mansidão a modéstia, porque é o oposto de arrogância e comodismo. Pelo contrário, ela dá atenção aos outros e torna cuidado para nunca deixar de perceber os direitos dos outros.
Mansidão abriga uma força silenciosa que confunde os que a consideram fraqueza. Esta foi a reação de Jesus depois de preso – durante as acusações, as torturas e a crucificação Ele suportou as dores físicas e emocionais que Seus algozes espectadores escarnecedores o faziam sofrer sem misericórdia. "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca" (Isa. 53:7).
Mansidão também é chamada de amar sob disciplina. Charles Allan diz: "Deus nunca espera de nós que sejamos menos do que realmente somos .. . Autodiminuição é um insulto ao Deus que nos fez. Mansidão adquirimos por outros meios ... O orgulho vem quando nós olhamos para nós mesmos; a mansidão vem quando nós olhamos para Deus."1
Como todo o crescimento do cristão a mansidão também se desenvolve em atmosfera pesada de hostilidade. Esta estabilidade espiritual e força interior, produzida pelo Espírito Santo, não a adquirimos em um parque de diversões mas no campo de batalha espiritual.
David Hubbard dá ainda outra definição de mansidão, dizendo que ela nos faz estarmos sempre à disposição dos que contam conosco; estamos em paz com nossa força, e por isso não a usamos com arrogância ou ofendendo outros. E Dewitt Talmadge diz: "Assim como profeticamente os céus são tomados de violência a terra é tomada de mansidão, e Deus, como proprietário, não quer outros inquilinos ou não arrenda a ninguém mais que aos meigos de coração e espírito."
Dr. V. R. Edman, falando de Andrew Murray, o grande pregador de Keswick, diz assim em seu livro They Found the Secret (Eles Acharam o Segredo): "De fato este é o tipo de vida submissa que tira sua força e seu sustento da Videira. Com esta seiva refrescante e avivante do Espírito Santo percorrendo o íntimo, a oração è eficaz, a pregação é com poder, o amor é contagiante, a alegria transborda e há paz maior do que podemos compreender. É a adoração que é silêncio para conhecer Deus só para nas. É a obediência que faz o que o Senhor ordena à luz da Palavra. É a fertilidade espontânea porque permanece na Videira."2
Outra ilustração que me ajudou a compreender a mansidão é o icebergue. Quando cruzei o Atlântico vi alguns do navio. Mesmo sendo alto acima da superfície, a maior parte do icebergue está debaixo da água. Eles podem ser formidavelmente destrutivos quando entram na rota dos navios. Mas a maior ameaça aos icebergues é algo muito bom, o sol. O sol traz calor à vida e morte aos icebergues. Assim como a mansidão é uma força poderosa o sol é mais poderoso que qualquer icebergue. A mansidão ou humildade de Deus em nós permite que os solares do Espírito Santo de Deus trabalhem em nossos corações gelados, fazendo deles instrumentos para o bem e para Deus. Espiritualmente, o cristão manso e humilde, cheio do Espírito, é um prisma que dirige o espectro dos raios do Sol sobre os icebergues da nossa carnalidade.
Como você e eu podemos aplicar a mansidão a nós? Jesus pôs diante de nós o Seu próprio exemplo, dizendo-nos para sermos "mansos e humildes de coração" (Mat. 11:29).
Em primeiro lugar, não devemos reagir defensivamente quando nossos sentidos são perturbados, como Pedro fez quando cortou a orelha do soldado que foi junto para prender Jesus no jardim; ele só recebeu uma repreensão do Senhor (Mat. 26:51, 52).
Em segundo lugar, não devemos querer ter a preeminência, como Diótrefes (3 João 9). Nosso desejo é que em tudo Jesus Cristo tenha a primazia (Col. 1:18).
Em terceiro lugar, não devemos procurar reconhecimento e recompensa, ou ser considerado a voz da autoridade, como Janes e Jambres (2 Tim. 3:8). Estes magos do Egito rejeitaram a autoridade do Senhor em Moisés e se opuseram a ele pouco antes do êxodo. "Cada um de vós não pense de si mesmo além do que convém, antes, pense com moderação. . . Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Rom. 12:3, 10).
Quando Jesus Cristo governa a nossa vida a mansidão pode se tornar uma das nossas virtudes. A humildade pode ser o sinal mais visível da grandeza que há em nós. Talvez você e eu nunca seremos respeitados como voz de autoridade; talvez nunca recebamos os aplausos do mundo; pode ser que nunca governemos ou tenhamos em mãos o bastão do poder. Mas um dia os mansos hão de herdar a Terra (Mat. 5:5), porque ninguém pode nos tirar a parte que nos cabe de direito da herança divina e cheia de alegria que Deus preparou para nós.

O Fruto do Espírito: Domínio Próprio

Domínio próprio (ou temperança, em algumas versões) é a terceira parte deste cacho. A palavra grega significa senhorio forte e pesado, capaz de controlar nossos pensamentos e ações.
A mãe de John Wesley escreveu uma vez para ele, enquanto ele ainda era estudante em Oxford, assim: "Tudo que aumenta a autoridade do corpo sobre a mente é mau." Esta definição me ajudou a compreender "domínio próprio".
A falta de domínio próprio já derrubou reis e tiranos. A história ilustra isto. Alguém disse uma vez: "Existem homens que podem comandar exércitos, mas não podem comandar a si mesmos. Existem homens que com suas palavras inflamadas podem cativar multidões, que não conseguem ficar quietos diante de provocações ou insultos. O maior sinal de nobreza é o domínio próprio. Ele é mais sinal de realeza do que coroa e púrpura."
Alguém mais disse também:
"Não nos aplausos de uma multidão,
Não no clamor que entra lá de fora;
Está em nós derrota ou vitória."3
Esta história passada e presente ilustra como os excessos de um apetite incontrolado e dos desejos carnais trazem desgraça à nossa vida.
Duas são as causas do pecado da intemperança, da falta de domínio próprio : uma é o apetite físico; a outra são os hábitos da mente.
Quando alguém fala em temperança ou moderação, logo pensamos em bebidas alcoólicas. Isto se deve aos grandes defensores da moderação que durante muitos anos tentaram erradicar este veneno que prejudica tantas pessoas no mundo. Mas por alguma razão nós aprovamos a glutonaria, que a Bíblia condena tanto quanto a embriaguez. Também temos a tendência de fechar um olho diante de indelicadeza, fofocas, orgulho e inveja. Em todas estas áreas também precisamos ter domínio próprio. A Escritura diz: "Porque os que se inclinam para a carne cogitam (têm suas mentes presas em) das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito" (Rom. 8:5). Moderação ou domínio próprio, fruto do Espírito, é a vida normal do cristão na prática.
Domínio próprio em coisas de comida é moderação. Domínio próprio com respeito ao álcool é sobriedade. Domínio próprio em assuntos de sexo é abstinência para os que não são casados. Mesmo nós que estamos unidos às vezes precisamos de domínio próprio, quando nós nos abstemos da atividade sexual lícita, por mútuo consentimento, para nos dedicarmos melhor ao estudo da Palavra de Deus, à oração e às boas obras (veja 1 Cor. 7:5).
Temperança quanto ao nosso temperamento é domínio sobre ele.
Há poucos dias eu estava junto com um homem que estacionou em uma área proibida no aeroporto. Um funcionário lhe pediu gentilmente que estacionasse um pouco adiante, onde fosse permitido. Ele respondeu com nervosismo: "Se você não tem farda de policial, então cale a boca." Este cristão estava tão nervoso e tenso por causa das responsabilidades que pesavam sobre ele que tinha perdido quase todo o controle sobre seu temperamento. Ele não tinha mais temperança. O seu pecado era tão grande como se estivesse bêbado.
Domínio próprio quanto a roupas é modéstia apropriada. Domínio próprio na derrota é esperança. Domínio próprio em relação aos prazeres pecaminosos é nada menos que abstinência completa.
Salomão escreveu: "Vale mais ter paciência do que ser valente; é melhor saber se controlar do que conquistar cidades inteiras" (Prov. 16:32, BLH). A Bíblia Viva faz uma paráfrase da última parte do versículo: "É melhor ter domínio próprio do que comandar um exército." O autor de Provérbios disse ainda: "Quem não sabe se controlar é tão sem defesa como uma cidade sem muralhas" (25:28, BLH).
Paulo ensinou a importância do domínio próprio. Qualquer atleta que queira ganhar uma corrida deve treinar até controlar totalmente o seu corpo, diz ele aos seus leitores. E enfatiza que o prêmio não é uma coroa perecível, mas uma que dura para sempre: "Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. ... Eu esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado" (1 Cor. 9:25, 27).
Na lista que Pedro faz das virtudes do cristão, ele diz: "Associai... com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança" (2 Pedro 1:5, 6). Todos estes andam juntos. E não resta dúvida que se deixarmos nossas paixões nos governarem o resultado final será bem menos desejável do que imaginamos no momento do prazer.
Quem pode dizer onde termina o domínio próprio e começa a intemperança? Alguns cristãos têm uma consciência bem elástica quando se trata dos seus pontos fracos – e uma consciência de ferro quando se trata das fraquezas dos outros. Talvez seja esta a razão de ser tão fácil para muitos cristãos condenar alguém que toma um copo de vinho ocasionalmente, mas nunca se repreendem por comer demais, que é pecado da mesma forma. Comer demais é um dos pecados mais aceitos e praticados entre os modernos cristãos ocidentais. É fácil condenar um adúltero, mas como o que condena tem direita para tanto, se ele mesmo é culpado de alguma outra forma de intemperança? Não deveríamos todos ter as mãos limpas e o coração puro em tudo? Um tipo de escravidão é mais errado do que outro, em princípio? Não estamos igualmente amarrados, se o que nos prende são cordas ou cabos de aço?
Os desejos que controlam uma pessoa podem ser diferentes dos que controlam outra. Alguém que deseja ardentemente possuir coisas é tão diferente de alguém que deseja sexo, jogos, ouro, comida, bebida ou drogas?
Nunca foi tão necessário ter domínio próprio em todas os aspectos da vida como hoje. É imperativo que os cristãos sejam o exemplo em uma época em que violência, egoísmo, apatia e vida indisciplinada tentam destruir este planeta. O mundo precisa deste exemplo – algo firme em que possa segurar, uma âncora em mar bravio.
Durante séculos os cristãos pregaram que Cristo é a âncora. Se nós, que temos o Espírito Santo vivendo e atuando em nós, falhamos e caímos, que esperança resta para o mundo?

Espaço para o Fruto Crescer

Demos uma rápida olhada em cada uma destas nove facetas que perfazem o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, e domínio próprio. Eu peço a Deus que todas elas sejam parte da sua vida, e da minha.
O Espírito Santo já está no coração de cada cristão, e Ele quer produzir o fruto do Espírito em nós. Mas é preciso que haja uma mudança. Um barco não afunda quando está na água, mas afunda quando a água está nele. Se nós não temos o fruto do Espírito não é por vivermos em um mar de corrupção, mas por o mar de corrupção estar em nós.
O maior inimigo da combustão interna da máquina é o carvão que se fixa no cilindro. Ele reduz a potência e a eficiência do motor. O óleo melhorará a máquina, mas não removerá o carvão, para que o motor possa funcionar novamente com eficiência. Tem de ser feita uma "cirurgia mecânica", para tirar o carvão e deixar o óleo cumprir sua tarefa de ajudar o motor a fazer o que se espera dele. De modo semelhante, nós temos de eliminar do nosso interior as obras da carne, para que o carvão e resíduos não prejudiquem nosso rendimento espiritual. Um produtor de óleo anunciou: "Mais potência Para melhor retraimento." Espiritualmente só podemos conseguir isto submetendo-nos ao controle do Espírito Santo. Temos de deixar o holofote da Palavra de Deus nos revistar, para detectar algum pecado que permanece e qualidades infrutíferas que prejudicam nosso crescimento pessoal e nossos frutos.
Conta-se a história de um homem que estava lendo a coluna de falecimentos do jornal da sua cidade. Ficou surpreso ao ver ali o seu nome, dizendo que ele tinha morrido. Primeiro teve de rir. Mas logo o telefone começou a tocar. Amigos e parentes queriam saber o que houve e dar condolências. Irritado ele telefonou para o jornal reclamando por ter sido declarado morto apesar de estar muito vivo. O editor pediu desculpas, com embaraço, e então disse num lampejo de inspiração: "Não se preocupe, amigo, amanhã eu vou pôr tudo em ordem, colocando seu nome na coluna de nascimentos."
Isto pode parecer somente uma anedota humorística, mas é também uma parábola espiritual. Enquanto o nosso "eu" não estiver crucificado com Cristo, o novo ser em nós não pode dar o maravilhoso fruto que é característico da vida de Jesus Cristo.
Só o Espírito pode fazer com que o Cristo em nós seja visível por fora também. Nenhum esforço humano pode produzir o tipo de pessoa que Deus quer que nós sejamos. Mas quando o Espírito nos enche, Ele produz Seu fruto em pessoas cada vez mais semelhantes com Cristo, o protótipo do que nós seremos um dia.























A NECESSIDADE DA PRESENTE HORA

A década de 1850 foi marcara por um acentuado declínio religioso nos Estados Unidos. A descoberta de ouro na Califórnia, além de outras coisas, tinha desviado a atenção das pessoas da religião para as coisas materiais. A instabilidade política por causa da escravidão e a desintegração que ameaçava a nação preocupavam a população. Um pânico financeiro no fim daquela década trouxe uma maior preocupação com as coisas materiais.
Em Setembro de 1857 um comerciante chamado Jeremiah Lanphier decidiu convidar outros comerciantes para orarem com ele uma vez por semana ao meio dia pela atuação renovadora do Espírito Santo. Ele distribuiu centenas de folhetos convidando para o encontro, mas no primeiro dia só meia dúzia apareceu, encontrando-se nos fundos de uma igreja na Fulton Street. Duas semanas depois já eram quarenta, e em seis meses uns dez mil se reuniam diariamente para orar, somente em Nova Iorque. Um avivamento passou pelo país, e em dois anos mais ou menos um milhão de pessoas tinha se decidido por Cristo.
Os efeitos deste avivamento, em vidas particulares e na sociedade, foram profundos, mas tragicamente o avivamento veio tarde demais para evitar a Guerra Civil que ameaçou a própria existência da nação americana. Mas ele trouxe incontáveis benefícios, incluindo muitos movimentos evangelísticos e de melhoria social.

A Necessidade de Avivamento Espiritual

Atualmente o mundo precisa de novo, desesperadamente, de um avivamento espiritual. Esta é a única esperança para a sobrevivência da raça humana.
Em meio aos problemas sem fim que o mundo enfrenta, os cristãos estão estranhamente silenciosos e impotentes, quase vencidos pelas ondas do secularismo. Mas os cristãos devem ser o "sal da terra" (Mat. 5:13), protegendo o mundo em decadência de mais podridão. Eles devem ser a "luz do mundo" (Mat. 5:14), iluminando a escuridão que o pecado produz, servindo de guia para um mundo que se perdeu do caminho. Nós devemos ser: "Filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo" (Filip. 2:15).
Por que não somos "sal" e "luz", como deveríamos? Por que não estamos fazendo muito mais para levar o reino de Deus aos corações e às vidas das pessoas? Sem dúvida temos muitos exemplos de cristãos que foram tocados por Deus e estão, por sua vez, tocando a vida de outros para levá-los a Cristo. Mas para cada exemplo destes há muito mais cristãos que vivem derrotados e sem alegria. Não têm vitória sobre o pecado nem sucesso no testemunhar. Causam pouco impacto sobre os que vivem ao seu redor, quanto ao Evangelho.
Então, se a maior necessidade no nosso mundo é sentir os efeitos de um avivamento, a maior necessidade da Igreja de Cristo no mundo todo hoje é experimentar o toque do Espírito Santo, trazendo "reavivamento" e "renovação" verdadeiros à vida de incontáveis cristãos.
Há muitos séculos atrás Deus fez com que Ezequiel, o profeta, tivesse uma visão marcante, em que Israel como nação estava disperso entre os povos. Muitos ossos secos representavam Israel. Parecia que não havia mais esperança para o futuro. Pela palavra do profeta, Israel poderia ter sido enterrado quanto ao mundo secular. Mas Ezequiel ficou aturdido quando Deus lhe perguntou: "Estas ossos poderão reviver?" (Ezeq. 37:3). O profeta respondeu: "Tu o sabes." Então o homem de Deus recebeu a ordem de falar a palavra de Deus, e os ossos se levantaram, revestindo-se de carne: uma grande multidão. Mas eles ainda estavam estranhamente apáticos. Faltava-lhes sopro, ou espírito. Então o Espírito de Deus lhes deu sopro, e todos aqueles homens se transformaram num poderoso exército.
Nós estamos novamente enfrentando uma época negra na história do povo de Deus. Apesar de alguns sinais encorajadores, as forças do mal parece que estão se agrupando para desfechar um ataque total à obra de Deus no mundo. Satanás está usando seu poder como talvez nunca antes na história da Igreja. Precisamos mais do que nunca de um reavivamento. Só Deus pode impedir a execução dos planos de Satanás com suas legiões, porque só Deus é Todo-Poderoso. Somente Seu Espírito Santo pode trazer avivamento espiritual que pare o curso do mal e inverta a tendência. Mesmo na hora mais escura Deus pode reavivar Seu povo, e soprar novo vigor e poder no corpo de Cristo através do Espírito Santo.
Nosso mundo precisa ser temperado por cristãos que sejam cheios do Espírito, guiados pelo Espírito e revestidos de poder pelo Espírito. Você é um cristão assim? Ou você precisa de que o Espírito Santo toque novamente em sua vida? Você está precisando de um avivamento em sua própria vida? Pois saiba que Deus Espírito Santo quer lhe conceder isto agora mesmo.

O Tempo é Agora

Agora é o tempo certo para o avivamento espiritual. Não devemos adiar mais esta hora. Dr. Samuel Johnson usava um relógio em que estavam inscritas as palavras de João 9:4: "A noite vem". Nós cristãos deveríamos ter inscrito em nossos corações a solene verdade de quão curta é nossa oportunidade de falar de Cristo e viver por Ele. Não sabemos – ninguém de nós – quanto tempo nos resta nesta terra. A morte pode pôr um fim à nossa vida a qualquer momento. Cristo pode vir a qualquer momento.
Eu li uma vez sobre um relógio de Sol que continha esta inscrição misteriosa: "É mais tarde do que você pensa." Quem viaja deve parar às vezes para refletir sobre o significado desta frase. Nós cristãos temos um relógio de Sol – a Palavra de Deus. Desde o Gênesis até o Apocalipse ela adverte: "É mais tarde do que você pensa." Escrevendo aos cristãos da sua época, Paulo disse: "Chegou a hora de vocês acordarem. Porque o momento de sermos salvos está mais perto agora do que quando começamos a crer. A noite está terminando, e o dia vem chegando. Por isso paremos de fazer o que pertence à escuridão, e peguemos as armas para lutar na luz" (Rom.13:11,12, BLH).
Billy Bray, um homem de Deus de outra geração, estava visitando um cristão que tinha sido muito tímido durante a sua vida quanto a falar de Cristo, e agora estava no leito de morte. O moribundo disse: "Se eu tivesse forças eu daria glória a Deus". Billy Bray respondeu: "É uma pena que você não deu glória a Deus enquanto tinha a força." Eu nem quero saber quantos de nós vão olhar para trás, para as oportunidades desperdiçadas da sua vida e seu testemunho ineficiente e chorar porque não deixaram que Deus os usasse como Ele queria. "A noite vem, quando ninguém pode trabalhar" (João 9:4).
Se quisermos estudar a Escritura, Se quisermos dedicar tempo à oração, se quisermos ganhar pessoas para Cristo, se quisermos investir nosso dinheiro no seu reino – tem de ser agora. "Sabendo que tudo isto vai ser destruído assim, então que tipo de gente vocês precisam ser? Suas vidas devem ser santas e dedicadas a Deus. Esperem a vinda do Dia de Deus, e façam o possível para que venha logo mesmo. Naquele dia os céus serão destruídos com fogo, e tudo o que há no universo ficará derretido. Porém Deus prometeu, e nós estamos esperando um novo céu e uma nova terra, ande mora a justiça. Por isso, meus queridos amigos, enquanto vocês esperam aquele Dia, façam o possível para serem puros e perfeitos diante de Deus, e estarem em paz com ele" (2 Ped. 3:11-14, BLH).

Os Efeitos de um Avivamento

O que aconteceria se o avivamento irrompesse em nossa vida e em nossas igrejas hoje? Eu creio que há pelo menos oito características de tal derramamento do Espírito Santo.
1) Haverá uma nova maneira de ver a majestade de Deus. Temos de entender que o Senhor não é somente carinhoso e misericordioso e cheio de compaixão, mas Ele é também o Deus de justiça, santidade e ira. Muitos cristãos têm em sua mente uma caricatura de Deus. Não vêem Deus como Ele é, mas só uma parte. Nós citamos João 3:16 de cor, mas esquecemos do versículo que vem logo depois: "O que não crê já está julgado" (v. 18). A compaixão não é completa em si mesma, mas ela tem de ser acompanhada de justiça inflexível e ira contra o pecado, além de um desejo por santidade.
O que mais mexe com Deus não é sofrimento físico, mas pecado. Nós temos muito mais medo de dor física do que de males morais. A cruz é evidência duradoura de que a santidade é para Deus um princípio pelo qual Ele está disposto a morrer. Deus não pode apagar a culpa sem que alguém tenha pago por ela. Nós precisamos alcançar misericórdia, e a obtemos aos pés da cruz.
2) Haverá uma nova maneira de encarar a pecaminosidade do pecado. Isaías viu o Senhor sobre um trono alto e Sublime, e as abas das Suas vestes enchiam o templo, e os serafins se curvavam diante dEle, exclamando: "Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória" (Isa. 6:3). Então Isaías reconheceu sua própria insignificância e sua profunda dependência de Deus. Quando Simão Pedro, no lago da Galiléia, viu que o próprio Senhor estava com ele no barco, ele disse: "Retira-te de mim, Senhor, porque sou pecador!" (Lucas 5:8). A consciência de que Jesus era o próprio Deus lembrou Pedro do seu próprio estado pecaminoso. Jó, na presença de Deus, disse: "Eu me abomino" (Jó 42:6).
Tiago nos diz que quando alguém é tentado suas próprias paixões é que o atraem e seduzem (Tiago 1:14, 15). E seja qual for o seu desejo, ele dá à luz ao pecado, e o pecado quando praticado leva à morte. Precisamos ver o pecado como ele realmente é. A maior visão de pecado que alguém pode ter é olhar para a cruz. Se Jesus Cristo teve de morrer pelos pecados, então o pecado era de fato negro e terrível aos olhos de Deus.
3) Haverá ênfase na necessidade de arrependimento, fé e novo nascimento. Jesus veio, pregando o arrependimento e dizendo que quem não nasce de cima não pode ver o reino de Deus. Ele disse que os pecadores amam as trevas, e não querem vir para onde há luz porque têm medo de que seus pecados sejam expostos e condenados. Os que têm Seus corações mudados são novas criaturas. Eles vêm para onde há luz porque amam a verdade e a Deus. Se alguém está em Cristo é nova criação, as coisas antigas já passaram e tudo ficou novo.
4) Haverá alegria na salvação. O salmista ora por avivamento, "para que em ti se regozije o teu povo" (Salmo 85:6). Davi desejava que a alegria da salvação fosse restaurada. O propósito declarado de Jesus era que "a alegria de vocês seja completa" (João 15:11, BLH). Quando Filipe foi a Samaria e provocou um grande avivamento, a Escritura diz que "houve grande alegria naquela cidade" (Atos 8:8). Jesus também nos diz que há alegria no céu, alegria dos anjos na presença de Deus por um pecador que se arrepende (Lucas 15:7). Uma revitalização verdadeira da Igreja traria consigo a salvação de dezenas de milhares de pecadores, o que por sua vez produziria alegria na terra tanto como no céu.
Mesmo se não houvesse céu e interno eu ainda quereria ser cristão, por causa do bem que isto traz ao nosso lar e à nossa família aqui nesta vida.
5) Haverá uma nova compreensão da nassa responsabilidade pela evangelização do mundo. João Batista mostrou aos Seus ouvintes o "Cordeiro de Deus", e dois dos Seus discípulos passaram a seguir a Jesus (João 1:36, 37). André achou primeiro o seu irmão Pedro e lhe disse que tinha achado o Cristo. Quando Filipe se decidiu por seguir a Jesus, ele foi procurar por Natanael (João 1:40-45). Os apóstolos deveriam ser testemunhas em qualquer lugar e em todos os lugares, mesmo nos confins da terra (Atos 1:8). E quando a perseguição dispersou os cristãos que moravam em Jerusalém eles foram por todos os lugares pregando Cristo e o evangelho glorioso (Atos 8:4). Uma das primeiras e mais seguras evidências de que alguém é um crente verdadeiro é a preocupação que sente por outras pessoas.
6) Haverá uma profunda preocupação social. Jesus disse em Mateus 22:37-39: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o, teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. ... Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Nossa fé não é só vertical, é também horizontal. Nós começaremos a nos importar com os problemas dos que vivem ao nosso redor e dos que estão longe. Mas eu tenho de dizer que um mundo que realmente quer ser salvo das conseqüências do seu próprio pecado e da sua insensatez só pode receber uma mensagem de uma cristandade reavivada: "Arrependam-se". Muitas pessoas hoje em dia querem um mundo fraternal em que elas possam permanecer infraternas. Muitas pessoas querem segurança econômica sem segurança espiritual. Mas o avivamento que desejamos deve ser bíblico. Se for cristão, será bibliocêntrico. Se for verdadeiro, então seus líderes terão de ter a coragem de Amós para condenar "os que compram os pobres por dinheiro e os necessitados por um par de sandálias" (Amós 8:6).
Devemos segurar bem alto os ensinos morais, éticos e sociais de Jesus, estando de acordo de que Ele oferece o único padrão para o caráter do indivíduo e da nação. O Sermão do Monte vale hoje e sempre. Não podemos edificar uma civilização nova sobre os fundamentos caóticos do ódio e da amargura.
7) Haverá cada vez mais manifestações dos dons e do fruto do Espírito. Quem traz o avivamento é o Espírito Santo, e quando Ele vem com todo Seu poder haverá claras evidências na Igreja dos Seus dons e do fruto do Espírito. Os crentes saberão o que significa servir uns aos outros e edificar-se mutuamente através dos dons que o Espírito Santo concebeu. Todos eles receberão uma nova medida de amor uns pelos outros e por um mundo perdido e em decadência. O mundo não dirá mais que a Igreja é silenciosa e sem poder. As nossos vidas não parecerão mais normais e indistinguíveis do resto do mundo. Nossas vidas serão marcadas pelos dons que o Espírito Santo pode dar. Serão marcadas pelo fruto que somente Ele pode produzir.
8) Haverá renovada dependência do Espírito Santo. Em diversos lugares no mundo já podemos ver isto acontecendo. Não pode haver revitalização espiritual sem Ele. O Espírito Santo repreende, convence, luta conosco, instrui, convida, incentiva, regenera, renova, fortalece e um. Ele não deve ser entristecido, tentado, receber resistência da nossa parte, ser apagado, insultado ou blasfemado. Ele dá liberdade ao cristão, objetivos ao que trabalha, discernimento ao que ensina, poder à Palavra e fruto para um trabalho fiel. Ele revela as coisas de Cristo. Ele nos ensina como usar a espada do Espírito que é a Palavra de Deus. Ele nos guia a toda a verdade. Ele nos orienta como podemos viver como Deus quer. Ele nos ensina como dar respostas aos inimigos de nosso Senhor. Ele possibilita o acesso ao Pai. Ele nos ajuda na oração.
Há coisas que o dinheiro não pode comprar, que a música não rode proporcionar, que nenhuma posição social pode garantir, que nenhuma influência pessoal pode conseguir e que nenhuma eloqüência pode ordenar. Por mais brilhante que seja um pastor, por mais eloqüente ou persuasivo que seja um evangelista, eles não podem trazer o avivamento de que precisamos. Só o Espírito Santo pode trazê-lo. Zacarias disse: "Não por força, nem por ceder, mas pelo meu Espírito" (Zac. 4:6).

Passos para um Avivamento

Se muitos cristãos precisam de um avivamento hoje em dia, como fazer para consegui-lo? Que passos temos de dar em nossa vida, que passos os outros têm de dar para serem avivados? Eu creio que a Bíblia exige três passos da nossa parte.
O primeiro passo é admitir nossa pobreza espiritual. Vezes demais nós nos parecemos com os cristãos de Laodicéia, que estavam cegos para as suas necessidades espirituais: "Dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu" (Apoc. 3:17).
Há algum pecado em nossa vida que está boqueando a atuação do Espírito Santo em e através de nós? Não devemos rapidamente dizer "não". Examinemo-nos à luz da Palavra de Deus, oremos para que o Espírito Santo nos revele todos os pecados que nos embaraçam. Talvez estejamos fazendo algo errado – um hábito, o relacionamento que temos com alguém, algum pensamento ou motivação má. Talvez estejamos negligenciando algo alguma responsabilidade de que estamos nos esquivando ou algum ato de amor que não praticamos. Seja o que for, deve ser reconhecida com honestidade e humildade diante de Deus.
O segundo passo para o reavivamento espiritual é confissão e arrependimento. Podemos saber que pecamos e mesmo assim não fazer nada. Precisamos confessar nossos pecados a Deus e nos arrepender deles, não só reconhecê-los diante dEle mas voltar as costas ao pecado de verdade e tentar ser obedientes a Ele. Uma das grandes promessas da Bíblia está em 1 João 19: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça." O profeta Isaías disse: "Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor" ( Isa. 55:6, 7).
Não é por acaso que alguns dos grandes reavivamentos da história começaram com oração. O primeiro movimenta missionário americano em grande escala começou em 1806, em uma reunião de oração debaixo de um monte de feno, no meio de uma tempestade. Em 1830 umas 30.000 pessoas se converteram em Rochester, estado de Nova Iorque, nas pregações de Charles Finney. Finney disse mais tarde que a causa foi a oração fiel de um homem que nunca vinha às reuniões, mas dedicava seu tempo à oração. Em 1872 o evangelista americano Dwight L. Moody iniciou uma campanha em Londres, na Inglaterra, que Deus usou para tocar vidas incontáveis. Moody mais tarde descobriu que uma menina humilde, presa à cama, estivera orando. Esta lista poderia ir longe.
Você está orando por reavivamento na sua vida e na de outros? Você está confessando seus pecados a Ele e procurando a Sua bênção para sua vida?
O terceiro passo é um compromisso renovado de nossa parte de procurar e fazer a vontade de Deus. Talvez já estejamos convencidos de que pecamos – já oramos e confessamos nosso pecado – já nos arrependemos mas a prova mesmo é nossa disposição de obedecer. Não é por acaso que verdadeiro reavivamento sempre é acompanhado por fome e sede de fazer o bem. Uma vida que o Espírito Santo tocou não tolera mais o pecado.
O que está impedindo o reavivamento espiritual em sua vida? No fundo, sem dúvida, é pecado. Às vezes é doloroso encarar a verdade sobre nossa falta de zelo e dedicação espiritual. Deus quer nos dar do Seu poder e fazer de nós servos úteis a Ele. "Desembaracemo-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus" (Heb, 12:1, 2).
James A. Stuart observou: "Uma igreja que precisa de reavivamento está vivendo abaixo do padrão do Novo Testamento. ... É trágico que a vasta maioria dos cristãos está vivendo uma vida cristã abaixo do normal ... a Igreja nunca voltará à normalidade enquanto não houver reavivamento."1
Você está vivendo uma vida cristã "abaixo do normal" – uma vida sem sucesso, indiferente, sem amor por Cristo e pelos outros? Deixe que o Espírito Santo o leve humildemente a Deus, confessando seus pecados e procurando a Sua face. Deixe que Ele ponha Sua mão sobre você enquanto você se entrega a Ele. O que o mundo mais precisa hoje em dia é de cristãos totalmente entregues a Cristo.
Há mais de 100 anos dois jovens estavam conversando, na Irlanda. Um deles disse: "O mundo ainda há de ver o que Deus pode fazer com alguém totalmente consagrado a Ele." O outro meditou sobre estas palavras durante semanas. Elas não o soltaram mais, até que um dia ele disse: "Pelo Espírito Santo eu serei este homem". Hoje os historiadores dizem que ele tocou dois continentes por Cristo. Seu nome: Dwight L. Moody.
Isto pode acontecer de novo, se abrirmos as nossas vidas para o poder criador do Espírito Santo. Ninguém pode querer sinceramente ser purificado e abençoado pelo Espírito Santo, e permanecer o mesmo. Nenhuma nação pode experimentar o toque do reavivamento e permanecer a mesma.
Vimos neste livro que Pentecostes foi o dia do poder do Espírito Santo. Foi o dia em que nasceu a Igreja de Cristo. Nós não esperamos que Pentecostes se repita, da mesma forma que sabemos que a morte de Jesus na cruz não se repetirá. Mas nós esperamos bênçãos pentecostais quando as condições para a atuação de Deus são cumpridas, especialmente à medida que nos aproximamos dos "últimos dias". Nós cristãos devemos preparar o caminho. Devemos estar prontos para o Espírito Santo nos encher e usar.






















NOTAS

Capítulo 1
1. Mathew Henry, Commentary on the Whole Bible, Vol. 1 (Old Tappan, N. J.: Fleming H. Revell Co.), p. 2.

Capítulo 2
1. W. A. Criswell, The Holly Spirit in Today's World (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1966), p. 87.
2. J. D. Douglas, ed., Let the Earth Hear His Voice (Minneapolis: World Wide Pub., 1975), p. 277.
3. John R. W. Stott, Your Mind Matters (Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1973), pp. 5, 7.
4. Ibid., p. 10.

Capítulo 3
1. Al Bryant, 1.000 New Illustrations (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1960), p. 30.
2. B. K H, Carroll, Inspiration of the Bible (Nova Iorque, Chicago, Londres, Edimburgo: Fleming Revell Co., 1930), p. 54ss.
3. John R. W. Stott, The Authority of the Bible (Downers Grove, Inter-Varsity Press, 1974), pp. 30, 40.
4. John Calvin (Trad. Ford Lewis Battles ed. John McNeill, Institute of the Christian Religion (Philadelphia: Westminster Press, 1960) Book One, chapter 7, Section 4 & 5, pp. 79, 80.
5. J. D. Douglas, ed., Let the Earth Hear His Voice (Minneapolis: World Wide Pub., 1975), p. 259.
6. Henry H. Halley, Manual Bíblico (São Paulo: Edições Vida Nova, 1978), p. 3.
7. J. B. Phillips, Cartas às Igrejas Novas (São Paulo: Edições Vida Nova, 1972), p. xi, xii.

Capítulo 4
1. The Open Bible (Nashville: Thomas Nelson, 1975), p. 988.
2. J. Gresham Machen, The Christian Faith in the Modern World (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Co., 1847), p. 63.

Capítulo 5
1. John R. W. Stott, O Batismo e Plenitude do Espírito Santo (São Paulo: Edições Vida Nova, 1963), p. 13s.
2. David Howard, By the Power of the Holy Spirit (Downers Grove, Inter-Varsity Press, 1973), p. 34.
3. Ibid.

Capítulo 6
1. A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament. Vol. 1 (Nashville: Broadman Press, 1930), p. 239.
2. Mathew Henry, Commentary on the Whole Bible, Vol. 6 (Old Tappan, N. J.: Fleming H. Revell Co.), p. 688s.
3. Ibid.
4. C. S. Lewis, Letters to Malcolm: Chiefly on Prayer (Londres e Glasgow: Collins Fontana Books, 1966), p. 22s.
5. John Wesley, A Compend of Wesley's Theology, eds. Burtner e Chiles (Nashville: Abingdon Press, 1954), p. 95.

Capítulo 7
1. Horatius Bonar, God's Way of Holiness (Chicago: Moody Press, 1970), p. 93.
2. C. l. Scofield, ed., The New Scofield Reference Bible (Nova Iorque, Oxford University Press, 1967), p. 1276.
3. Ibid. p. 1219.
4. Bonar, God's Way of Holiness, p. 91.

Capítulo 8
1. Keswick Week (Londres: Marshall Brothers, 1907), p. 105.

Capítulo 9
1. William Barclay. The Daily Study Bible: The Letter to the Romans (Philadelphia: Westminster Press, 1957), p. 90
2. John R. W. Stott, Men Made New (Londres: Inter-Varsity Fellowship, 1966), pp. 49-51.
3. James H. McConkey. The Threefold Secret of the Holy Spirit (Chicago: Moody Press, 1897), p. 65.
4. John MacNeil, The Spirit-filled Life (Chicago: Moody Press, s. d.). pp. 58-59.

Capítulo 10
1. "Oh For a Closer Walk," in Christian Praise (Londres: Tyndale Press, 1963), p. 337.

Capítulo 11
1. David Howard, By the Power of the Holy Spirit (Downers Grove, Inter-Varsity Press, 1973), p. 101.
2. John R. W. Stott, Baptism end Fullness, p. 99ss.
3. Merrill C. Tenney, ed. The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, Vol. 4 (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1977), p. 903.

Capítulo 13
1. Peter Wagner, Frontiers in Missionary Strategy (Chicago Moody Press, 1971), p. 71.

Capítulo 14
1. Manford George Gutzke, The Fruit of the Spirit (Atlanta: The Bible For You, s. d.), pp. 10, 11.

Capítulo 15
1. J. D. Douglas, ed., O Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo: Edições Vida Nova, 1979), p. 70.
2. Stephen Neill, The Christian Character (Nova Iorque: Association Press, 1955), p. 22.
3. Ibid., p. 21.
4. Sherwood Wirt, Afterglow (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1975). p. 82.
5. Neill, The Christian Character, p. 29.
6. Amy Carmichael, Gold by Moonlight (Fort Washington, PA: Christian Literature Crusade, s. d.), p. 31.
7. Charles Allen, The Miracle of the Holly Spirit (Old Tappan, N. J.: Fleming H. Revell Co., 1974), p. 56.

Capítulo 16
1. Charles Hembree, Fruits of the Spirit (Grand Rapids: Baker Book House, 1969), pp. 57, 58.
2. Charles Allen, The Miracle of the Holly Spirit (Old Tappan, N. J.: Fleming H. Revell Co., 1974), p. 60.
3. Hembree, Fruits of the Spirit, p. 74.
4. Henry David Thoreau, Walden (Boston: Houghton, Mifflin & Co., 1906), p. 358ss.

Capítulo 17
1. Charles Allen, The Miracle of the Holly Spirit (Old Tappan, N. J.: Fleming H. Revell Co., 1974), p. 63.
2. V. Raymond Edman, They Found the Secret (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1960), p. 98.
3. Henry Wadsworth Longfellow, The Poets, quoted from Bartlett's Familiar Quotations (Boston: Little, Brown, e Co., 1968), p. 624b.

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