Não existe casamento tão ruim que não possa ser consertado. Não existe casamento tão bom que não possa ser melhorado.
O casamento nasceu no Éden. Deus o instituiu e celebrou a primeira cerimonia. O noivo, eufórico e radiante, exclamou; "Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gênesis 2.23). A harmonia entre o casal era completa: os dois eram uma só carne!
Mas o pecado entrou na história do casal. Os dois foram expulsos do Éden. A harmonia acabou, a paz desapareceu, a felicidade evaporou... As acusações mútuas, os ressentimentos e outras formas de sofrimento se instalaram junto ao casal. E tão nefastas co:npanhias turvaram os horizontes de suas vidas. Cada manhã, em vez de trazer-lhes maviosa sinfonia de esperança, fazia ressoar em seus corações o estrépito da insegurança, do medo, do quase desespero. E entre nuvens carregadas de ameaças e breves aparições do sol da alegria - curtas e raras - os dois iam vivendo; vivendo não, vegetando.
A história de Adão e Eva tem muita coisa em comum com vários casais de nossa época. Muitos começam a vida conjugal no Éden, mas depois tudo fica pálido, insípido, sem sabor. Ou, o que é pior, turvo, ameaçador. Mas não existe casamento tão ruim, que não possa ser consertado.
Oficina de Casamentos pretende mostrar que a felicidade daqueles primeiros dias, meses ou anos pode ser reconquistada. O sonho não acabou!
Este livro é, também, uma obra de pesquisa. Aqui estão citações de dezenas de livros escritos por servos de Deus que pesquisaram, refletiram e ensinaram casais a viver melhor a vida conjugal. A obra mais citada, porém, é Começar de Novo, livro escrito pelo casal John e Betty Drescher. Esta obra é valiosa porque reflete a experiência de trinta anos de vida conjugal. Após três décadas de vida em comum, o casal resolveu colocar no papel o que fariam se fossem recomeçar o seu casamento. E da reflexão deles tiramos muitas lições, que estão aqui em Oficina de Casamentos.
Antes de transformar-se em livro, este material foi testado em vários cursos para casais. Muitos encontraram o caminho de volta ao Éden através destas reflexões. Um casal, que antes se decidira pelo divórcio, após fazer o curso reconquistou a harmonia, a paz e a felicidade. Outro casal, que vivia em harmonia mas queria aprender mais para se aperfeiçoar, fez o curso. E, após concluí-lo, declarou que nem na lua-de-mel sua vida conjugal tinha sido tão harmónica e feliz como estava sendo após fazer este curso.
Na Ia edição, este livro recebeu o título A Conquista do Éden. E centenas de casais foram abençoados com a sua leitura. Nesta 2a edição ele vem ampliado, com novos capítulos e com novo título. Mas o objetivo é o mesmo: ajudar os casais que enfrentam dificuldade no casamento a encontrar o caminho da felicidade conjugal, pois não existe casamento tão ruim que não possa ser consertado; e mostrar aos casais felizes que é possível ser mais feliz ainda, porque não existe casamento tão bom que não possa ser melhorado.
1
O COMPROMISSO
O casamento foi instituído por Deus, na criação. "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra esujeitai-a" (Gênesis 1.27,28). "Porissodeixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis 2.24).
O casamento foi instituído por Deus para a felicidade do ser humano. Por intermédio dele ocorre a "propagação da raça humana por uma sucessão legítima".1 Mas o seu principal objetivo é o companheirismo entre os cônjuges. A procriação é uma bênção adicional. Aliás, isso deve ficar bem claro. Nicolas Berdyaev, em seu livro The Destiny of Man (O Destino do Homem), afirma "que a união conjugal com o único propósito de procriação deve ser considerada imoral".2
O casamento é uma instituição divina, mas a forma como é feita a escolha dos cônjuges e a celebração da cerimónia nupcial não foi determinada na instituição. E, por isso, varia de um povo para outro, de uma época para outra. O primeiro processo de escolha de cônjuge registrado no Antigo Testamento resultou no casamento de Isaque e Rebeca. A história pode ser sintetizada assim: Abraão, já idoso, encarregou seu mais antigo servo da escolha de uma esposa para Isaque. "Tomou o servo dez camelos do seu senhor e, levando consigo de todos os bens dele, levantou-se e partiu, rumo da Mesopotâmia, para a cidade de Naor." (Gênesis 24.10). E foi parar na casa de Betuel, onde expôs o motivo da viagem, e conseguiu atrair Rebeca, com o consentimento do pai e do irmão, para dirigir-se a Canaã e ser a esposa de Isaque. "Saíra Isaque a meditar no campo, ao cair da tarde; erguendo os olhos, viu, e eis que vinham camelos. Também Rebeca levantou os olhos e, vendo a Isaque, apeou do camelo, e perguntou ao servo: Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? É o meu senhor, respondeu. Então tomou ela o véu e se cobriu. O servo contou a Isaque todos as cousas que havia feito. Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher." (Gênesis 24.63-67). Os dois nunca se tinham encontrado antes; talvez Isaque nem soubesse da existência de Rebeca. Não foi feita nenhuma cerimónia nupcial. Simplesmente foram viver juntos... Mas estavam casados, segundo os costumes da época.
Esse tipo de casamento tinha tudo para ser um grande fracasso... mas funcionava. E funcionava bem porque era protegido por um compromisso. O amor que unia os cônjuges era fruto desse compromisso.
O casamento de nossos dias é bem diferente. Os pretendentes têm amplas oportunidades de se conhecer antes da decisão final. Teoricamente suas possibilidades de fazer um bom casamento, de estabelecer uma união harmónica e duradoura são bem maiores. Mas isso não tem acontecido porque eles têm feito deste sentimento emocional subjetivo, denominado amor, a base do seu casamento. E um sentimento, sujeito a muitas vicissitudes, não pode garantir o êxito de uma instituição tão importante.
Para transformar o casamento que você tem no casamento que você quer, o ponto de partida é a conscientização de que o verdadeiro fundamento do matrimónio é o compromisso. O amor é importante, mas até ele deve estar baseado no compromisso. Pois, como disse Erich Fromm: "Amar alguém não é apenas um sentimento forte. É uma decisão, um julgamento, uma promessa".3
Casamento que tem como base o amor não tem futuro. Waylon Ward escreveu: "Um dos fatores mais significativos que afetam o casamento parece ser a ideia de que o amor se tornou o fundamento sobre o qual os casais tentam construir em lugar do compromisso. A maioria dos casais tem uma compreensão do amor emocional e superficial. Eles se apaixonam, se casam, deixam de amar e pedem divórcio".4
O Compromisso Estabelece Alvos a Serem Alcançados
John e Betty Drescher relatam o seguinte: "No último verão visitamos alguns amigos que estudaram conosco nos tempos do seminário. Discutimos a direção de nossas vidas desde aqueles primeiros dias juntos e falamos sobre os nossos casamentos e famílias. João e Helena nos contaram ter repetido seus votos conjugais um ao outro, pelo menos duas vezes por semana, desde que se casaram há trinta anos". E concluem: "Ao refletirmos se*;re a ideia de João e Helena e conversar sobre ela, pensamos ter descoberto o segredo do seu sucesso no casamento e na vida. É claro que ambos tiveram tempos difíceis, como acontece com todo casal, mas foi esse tipo de compromisso constante que os ajudou a superá-los e tornou a caminhada alegre e suportável".5
Ao fazermos os votos conjugais, assumimos o compromisso de amar, honrar, cuidar e defender o nosso cônjuge e ser-lhe fiel, na saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade, na alegria e na dor. Comprometemo-nos também a viver ao seu lado até que a morte nos separe. E estes compromissos se tornam a nossa meta, o nosso alvo. "Muitas experiências já demonstraram que é muito mais fácil fazer uma coisa quando se tem um objetivo em vista. Quanto mais você se aproxima de uma meta, maior é a força que esta meta exerce sobre você".6
Todo casamento está sujeito a enfrentar problemas, lutas e dificuldades. Mas quando o casal leva a sério o compromisso e o seu alvo é viver juntos até que a morte os separe, torna-se muito mais fácil superar as crises. Alguns missionários americanos que trabalhavam no interior de nosso país usavam veículos equipados com uma polia e um longo cabo de aço. Quando encontravam um atoleiro na estrada, eles amarravam o cabo de aço no outro lado do atoleiro, ligavam a polia e, à medida que ela rodava, ia enrolando o cabo de aço. Assim, o carro ia sendo puxado até atravessar o atoleiro. Isto ilustra o papel do compromisso no casamento. Todo casamento está sujeito a crises. Às vezes deparamo-nos com "atoleiros" que ameaçam a nossa "viagem". Mas o nosso alvo é "viver juntos até que a morte nos separe". Temos de vencer as crises. Temos de transpor os atoleiros. E o compromisso funciona como o cabo de aço que nos leva para o outro lado. Depois, tudo continua normalmente. E só nos lembramos das crises como águas que passaram.
O Compromisso Produz Segurança
O amor é algo sublime, mas só o compromisso produz segurança. Creio que todos os empresários gostariam de ter empregados que amam o que fazem, que amam a empresa onde trabalham. Contudo, é provável que eles não queiram ter como empregado uma pessoa que condicione o desempenho de suas funções ao seu amor por aquele trabalho. Pois tal pessoa não daria segurança à empresa. O amor é um sentimento emocional subjetivo, que está sujeito às nossas condições físicas, mentais e psíquicas. Ele poderá ser afetado por uma dor de cabeça, por uma discussão com alguém ou simplesmente por uma interpretação incorreta de algum fato. O empregado que trabalhasse só por amor poderia abandonar o trabalho a qualquer momento ou simplesmente se negar a executar alguma tarefa. Ele não daria segurança ao empregador. O mesmo pode ser dito em relação ao casamento. 'Todos os que estão casados, pelo menos há alguns anos, sabem que nenhuma união significativa ou duradoura pode ser construída sobre a filosofia: 'Viveremos juntos enquanto o amor durar'. Ao contrário, o casamento só irá durar sob o compromisso: 'Amaremos um ao outro enquanto vivermos'."7
Precisamos de segurança no casamento. E só o compromisso pode dar essa segurança. George Eliot, num belo poema, fala da beleza e da sublimidade da segurança conjugal, com as seguintes palavras:
Que coisa mais sublime pode haver para duas almas humanas Do que sentir que estão unidas para a vida inteira Fortalecendo uma à outra em todas as dificuldades. Descansando uma na outra em todos os sofrimentos, Unindo-se uma à outra nas lembranças silenciosas, indizíveis No momento do último adeus.
Só o compromisso é que pode dar esta segurança. Depois de trinta anos de vida conjugal, John e Betty Drescher escreveram: "Se estivéssemos, então, começando nosso casamento de novo, iríamos construir sobre o compromisso, um compromisso maior do que qualquer problema a ser enfrentado".8
Compromisso é Compromisso
Vamos voltar à história do casamento de Isaque e Rebeca. Os anos se passaram. Nasceram-lhes dois filhos: Esaú e Jacó. Isaque, velho e cego, chamou Esaú para lhe dar a bênção reservada ao primogénito. "Disse-lhe o pai: Estou velho e não sei o dia da minha morte. Agora, pois, toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, sai ao campo, e apanha para mim alguma caça, e faze-me uma comida saborosa, como eu aprecio, e traze-ma para que eu coma, e te abençoe antes que eu morra. Rebeca esteve escutando enquanto Isaque falava com Esaú, seu filho. E foi-se Esaú ao campo para apanhar a caça e trazê-la. Então disse Rebeca a Jacó, seu filho: Ouvi teu pai falar com Esaú, teu irmão, assim: Traze caça, e faze-me uma comida saborosa, para que eu coma e te abençoe diante do SENHOR, antes que eu morra. Agora, pois, meu filho, atende às minhas palavras com que te ordeno. Vai ao rebanho, e traze-me dois bons cabritos; deles farei uma saborosa comida para teu pai, como ele aprecia; levá-la-ás a teu pai, para que a coma, e te abençoe, antes que morra." (Gênesis 27.2-10). Jacó seguiu as instruções da mãe, enganou o pai e recebeu a bênção. Quando Esaú tomou conhecimento do que se havia passado, implorou ao pai: "Abençoa-me também a mim, meu pai! Respondeu-lhe o pai: Veio teu irmão astuciosamente, e tomou a tua bênção" (Gênesis 27.34,35). Mesmo tendo sido enganado, Isaque entendeu que a sua palavra não podia voltar atrás. Assim também é o nosso compromisso conjugal: ele é muito sério e não deve ser revogado, mesmo que o tenhamos feito sem tomar as devidas precauções. Compromisso é compromisso!
Deus abomina a atitude daqueles cônjuges que renegam seus compromissos. "Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão. E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. Porque o SI.NHOR Deus de Israel diz que odeia o repúdio; e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis." (Malaquias 2.13, 14 e 16).
Ninguém tem o direito de fugir ao compromisso assumido no casamento. O argumento de que o amor morreu não justifica a separação de um casal. Dietrich Bonhoeffer, no sermão pregado no casamento de sua sobrinha, afirmou: "Assim como é a posse da coroa, e não apenas a vontade de reinar, que faz um rei, da mesma forma, no casamento, não é somente o seu amor mútuo que os une perante Deus e os homens. Assim como Deus está acima do homem, assim também estão a santidade, os direitos e as promessas do casamento acima da santidade, dos direitos e das promessas do amor. Não é o seu amor que susterá o casamento, mas, doravante, é o casamento que susterá o seu amor."9
Conclusão
A base sobre a qual deve ser edificado o matrimónio é o compromisso. O amor é muito importante, mas ele também só subsistirá se estiver edificado sobre o compromisso.
O compromisso assumido diante do altar deve ser levado até as últimas consequências. Pois com Deus não se brinca. É melhor não assumir compromisso, do que, assumindo-o, não o cumprir. "Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem." (Mateus 19.6).
Para Refletir
"O cônjuge mais feliz não é aquele que se casou com a melhor
pessoa, mas aquele que consegue extrair o que há de melhor na
pessoa com quem se casou".1"
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1 Confissão de Fé de Westminster, capítulo XXIX, parágrafo II
2 Citado por E. Clinton Gardner, Fé Bíblica e Ética Social, p. 263
3 Citado por Jonh & Bctty Drescher, Começar de Novo, p. 8
4 Citado por John & Betty Drescher, op. cit., p. 9
5 John & Betty Drescher, op. cit, p. 7
6 Joyce Brothcr c Edward Eagan, Como Desenvolver a Memória, p. 113
7 John & Betty Drescher, op. cit, p.9
8 John & Betty Drescher, op. cit, p. 12
9 Citado por Larry Christenson, in A Família do Cristão, p. 28
10 John & Betty Drescher, op. cit, p. 17
2
O AMOR
O fundamento do matrimonio é o compromisso. Mas é o amor que lhe dá alegria, romantismo, sabor. O compromisso pode manter uma união conjugal, levando-a a superar todas as crises. Mas sem amor o casamento será frio, desinteressante, monótono. Por isso o casal deve cuidar do amor, alimentar o amor, investir no amor.
O apóstolo Paulo escreveu: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará" (1 Coríntios 13.1-3). Estas palavras do apóstolo foram dirigidas aos crentes de Corinto. Elas não são específicas para marido e mulher. Mas são para eles também. Aplicadas aos cônjuges, elas podem ser parafraseadas assim: "Ainda que eu fale as palavras mais belas e mais agradáveis de ouvir, se não tiver amor pelo meu cônjuge, serei com um som harmonioso que encanta o ouvido, mas logo cessa. Ainda que eu seja praticante da melhor religião; ainda que eu tenha grande conhecimento bíblico e muita fé, se não tiver amor pelo meu cônjuge, nada serei. Ainda que eu proporcione ao meu cônjuge todo conforto e comodidade, e ainda que a minha vida seja de constantes sacrifícios pela minha família, se não tiver amor pelo meu cônjuge, nada disso me aproveitará".
Para transformar o casamento que você tem no casamento que você quer, é necessário cultivar o amor.
Ficar Mais Tempo Juntos
Vamos lembrar a história do casamento de Adão e Eva. Quando Deus criou a mulher e a entregou ao homem, celebrando assim o primeiro casamento, Adão disse: "Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada" (Gênesis 2.23). Transbordava de alegria. Mais tarde, porém, quando foi interrogado por Deus sobre os motivos por que comera do fruto proibido, ele se justificou assim: "A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi" (Gênesis 3.12). Antes Eva era "osso dos meus ossos e carne da minha carne", mas agora era "a mulher que me deste por esposa". O que havia acontecido? Os primeiros versículos desse capítulo três nos dão uma chave para compreender o que acontecera. E não nos referimos à queda, mas à ausência do esposo. Quando a serpente abordou a mulher, ela estava só. E Adão, onde estava? Talvez, se ele estivesse ao lado da esposa, a história da humanidade seria outra.
"Um estudo feito por um sociólogo húngaro, Karoly Varge, que incluiu 30.000 pessoas em onze países, destaca que a estabilidade do casamento e do larjjjapende do tempo gasto em conversar. Quanto mais tempo gastamos um cojTi o outro, tanto mais desejamos a companhia recíproca."1
No capítulo anterior, observamos que o casamento de Isaque e Rebeca sobreviveu porque estava fundamentado no compromisso. Mas havia também amor entre eles. E esse amor era cultivado no dia-a-dia, mesmo em circunstâncias adversas. Um exemplo disso está registrado no capítulo 26 de Gênesis. O casal estava em Gerar, entre os filisteus. Isaque havia dito que Rebeca era sua irmã, por temer que os homens daquele lugar o matassem para tomar-lhe a esposa. O casal devia estar vivendo uma grande tensão, mas continuava cultivando o seu amor. Prova disso é que "Abimeleque, rei dos filisteus, olhando da janela, viu que Isaque acariciava a Rebeca" (Gênesis 26.8).
Marido e mulher precisam ficar juntos para cultivar o amor. "Aprendemos a nos conhecer mutuamente e a experimentar um sentimento de união quando tomamos tempo para compartilhar da alma um do outro, para ler a mente um do outro e para gostar da presença e daquilo que o outro gosta."2
Ficar mais tempo juntos é importante para cultivar o amor e, também, para resolver no nascedouro os problemas que possam surgir entre os cônjuges. John e Betty Drescher falam sobre isso contando a seguinte experiência: "Há várias semanas notamos que nosso carro não estava funcionando bem. Por estarmos muito ocupados, não o levamos ao mecânico. Fomos deixando o barco correr. Certa manhã o carro não pegou. Finalmente, depois de muito tempo e esforço, conseguimos levá-lo à oficina e consertá-lo. O problema no início era simples e poderia ser facilmente remediado, se tivéssemos tomado providências imediatas. Por não ter sido atendido, ele causou outros problemas mecânicos, além de exigir mais tempo e provocar mais prejuízos. O casamento também é assim. Quando deixamos passar as pequenas coisas por acharmos que não temos tempo para conversar e resolver a situação, elas se tornam sérias e afetam todo o nosso relacionamento. Por não tomarmos o tempo inicial necessário, reparos grandes são, algumas vezes, imprescindíveis".3
Marido e esposa precisam passar mais tempo juntos para cultivar o amor.
Reviver e Praticar Cortesias e Amabilidades
As cortesias, as amabilidades, o romantismo e o carinho do período de namoro não podem cessar após o casamento. John e Betty Drescher afirmam: "O amor que dura não é o que nos levou ao altar, mas aquele manifestado e experimentado todos os dias. Se a bondade, a cortesia, a consideração e as palavras e os atos amorosos foram necessários para a manutenção do amor no namoro, esses mesmos elementos de afeto são igualmente exigidos para a manutenção e preservação do amor no casamento. Além disso, sabemos hoje que, quando pomos em prática até mesmo algumas das pequenas cortesias e bondades que praticamos antes do casamento, este avança gloriosamente. Se os pequenos presentes escolhidos com cuidado, os beijos ao se encontrarem e se despedirem, e as palavras 'amo você' e 'gosto de você' passarem do namoro para o casamento, este não ficará monótono".'1
O apóstolo Paulo afirma que o amor é o dom supremo. E o descreve assim: "O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (1 Coríntios 13.4-7). Estas palavras mostram que o amor se manifesta em atos concretos. Marido e esposa cultivam o amor quando se empenham na busca do bem-estar um do outro.
Mas o amor deve manifestar-se também em palavras. O psicólogo Clyde M. Narramore afirma que "amar sem reafirmá-lo em palavras não basta". E acrescenta: "Precisamos de que os outros declarem que nos amam. Tanto as crianças como os adultos querem ser amados. A esposa bem pode perguntar ao marido: 'Querido, você gosta de mim?'. Pode ela estar mais do que certa de que ele a ama; porém, é grato ouvi-lo dizer isso de novo - uma e muitas vezes. É falta de consideração, e crueldade até, deixarmos nossos entes queridos em dúvida quanto ao afeto que lhes temos".5
Em Provérbios 5.18 está escrito: "Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade". Marido e esposa devem fazer do seu casamento uma união harmónica, agradável e feliz. O amor que sentem um pelo outro deve ser uma fonte de alegria e prazer.
O Amor Nasce, Cresce, Morre e Ressuscita
O amor nasce... cresce... pode morrer... mas também pode ressuscitar.
George E. Sweazey escreveu o seguinte: "O casamento não é o resultado do amor, é a oportunidade de amar. As pessoas se casam para descobrir o que é o amor. Não é o destino que torna a pessoa o nosso amor verdadeiro e único, mas a vida. São as dificuldades enfrentadas juntos, o inclinar-se diante de uma cama de doente e lutar para chegar ao fim do mês dentro do orçamento; é um milhão de beijos de boa-noite e sorrisos de bom-dia; são os dias de férias na praia e as conversas no escuro; é o respeito crescente e mútuo que nasce da afeição e do amor."6
O amor pode ser comparado a uma árvore. No princípio é apenas uma semente. Depois germina, nasce, cresce, floresce, frutifica. Mas em todas essas fases a planta necessita de cuidados especiais. Se não receber os cuidados necessários, o seu desenvolvimento fica prejudicado. Pois assim também é o amor. Do primeiro encontro ao último adeus, ele necessita de cuidados especiais. Se não receber o cuidado necessário, pode até morrer.
Os cônjuges devem cultivar o amor porque um casamento sem amor é como uma noite sem luar. Falta-lhe romantismo, luz e brilho. E o pior é que as trevas da falta de amor podem levar os cônjuges a caminhos que eles jamais devem trilhar. O ser humano sente uma inata necessidade de amar. E quando não encontra o amor dentro de casa, costuma buscá-lo lá fora. E lá fora não existe amor, existe paixão - que atrai, seduz, ilude e, por fim, machuca. O amor só pode viver à sombra da comunhão. E fora do casamento não há comunhão - há comprometimento.
"E quando não existe mais amor?", perguntam algumas pessoas.
John e Betty Drescher respondem:
Ao aconselhar casais, encontramos alguns que nos dizem que nada restou de sua união. Eíes não têm mais qualquer sentimento de amor um pelo outro - cada gota de amor esgotou-se, dizem. A única alternativa que lhes sobra é o divórcio. E querem nossa aprovação para separar-se. Dizemos simplesmente a esses casais:
"Vocês se amaram um ciia, não é?"
"Sim!", respondem. "Mas tudo acabou. Nosso amor está morto".
"Só há então uma coisa a fazer", replicamos. (O casal espera aqui uma confirmação de que o casamento acabou e a única resposta é o divórcio.) Imagine a surpresa deles quando dizemos: "A única coisa que podem fazer é aprender a amar de novo".7
Eles afirmam que "o amor não é como uma vacina que garante a felicidade para sempre, depois de recebida. Não é um raio caído do céu que nos atinge e fica conosco para sempre. Não é uma flecha atirada por Cupido, e de repente ficamos cheios dele. O amor é uma resposta aprendida".8
Cultivar o amor faz com que ele cresça e amadureça. E ressuscite, caso tenha morrido. Casais que deixaram de se amar não precisam de divórcio - precisam ressuscitar o amor, precisam amar de novo. Uma senhora que viveu esta experiência deu o seguinte testemunho: "Eu não amava mais Roberto. Então comecei a perguntar: Como eu agiria se amasse meu marido? Comecei a aprender conscientemente aquilo de que ele gostava ou não gostava. Preparei os seus pratos favoritos. Participei de seus passatempos. Comprei surpresas para colocar em sua lancheira. Demonstrei a ele o meu amor em todas as ocasiões possíveis. Eu, agora, o amo de todo o coração".9 Talvez você diga que isso é hipocrisia. Mas o Dr. Gary Chapman, conselheiro matrimonial de renome internacional, esclarece: "Se você afirmar ter sentimentos que não nutre, isso é hipocrisia. Porém, expressar um ato de amor em benefício, ou para o prazer de outra pessoa, é um ato de escolha".10
Conclusão
O compromisso sustenta a durabilidade do casamento. Muitos casais perderam por completo o amor que existia entre eles. E continuam juntos. E, por causa do compromisso, ficarão casados até que a morte os separe. Mas esse tipo de casamento está muito distante do sentido do matrimónio instituído por Deus. Casamento sem amor é como carne sem tempero: nutre mas não tem sabor. O convívio conjugal sem amor é frio, monótono, desinteressante... e perigoso. Por isso o casal precisa lutar para manter acesa a chama do amor. E se esta vier a se apagar, deve lutar para reacendê-la.
O ideal do casamento é que marido e esposa vivam juntos, com muito amor, felizes, até que a morte os separe.
Para Refletir
"Assim como um diamante não passa de pedaços de carvão negro
soldados no mesmo ponto sob uma pressão tremenda, o amor
conjuga] profundo é aquela possessão preciosa, que aumenta de
valor a cada dia e ano, de lutar e permanecer juntos".11
1 John & Bctty Dreschcr, Começar de Novo, p. 31
2 John & Betty Dresher, op. cit., p. 21
3 John & Betty Drescher, op. cit., p. 23
4 John & Betty Drescher, op. cit, p. 13
5Clydc M. Narramore, Como Ser Feliz, p. 20 c 21
6 George E. Sweazey, citado por John & Betty Drescher, in op. cit, p. 15
7 John & Betty Drescher, op. cit, p. 15
8 John & Betty Drescher, op. cit., p. 14
9 John & Betty Drescher, op. cit., p. 15
10 Gary Chapman, As Cinco Linguagens do Amor, p. 158
11John & Betty Drescher, op. cit, p. 10
3
A COMUNICAÇÃO DO AMOR
Sentir-se amado é uma das necessidades básicas do ser humano. Por isso, o amor tem grande importância no casamento. Um casamento sem amor é como uma noite sem luar. Falta-lhe romantismo, luz e brilho. No Cântico dos Cânticos, a esposa declara ao esposo: "Melhor é o teu amor do que o vinho" (Cântico 1.2). E o esposo faz este apelo à esposa: "Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte" (Cântico 8.6).
Mas, amar não é fácil. Difícil também é saber a forma correta de comunicar ao nosso cônjuge o nosso amor. A dificuldade se torna ainda maior por que as pessoas têm instrumentos diferentes para captar o amor de seu cônjuge. O Dr. Gary Chapman, conselheiro matrimonial, depois de estudos e pesquisas, reuniu em cinco grupos as formas como as pessoas expressam e recebem manifestações de amor. Ele classificou esses grupos e deu-lhes a denominação de As Cinco Linguagens do Amor}. São cias: (1) palavras de afirmação, (2) qualidade de tempo, (3) receber presentes, (4) formas de servir e (5) toque físico.
As Cinco Linguagens do Amor
Muitos maridos dizem: "Faço tudo por minha esposa, e ela continua insatisfeita". Geralmente tais maridos fazem "tudoj, menos o "essencial". Suponhamos que a esposa esteja com sede, e o marido lhe ofereça um copo do melhor vinho importado, ela se sentirá saciada? E se ele oferecer-lhe uma taça da_jnelhor champanhe do mundo, isso poderá matar-lhe a sede? Claro que não. 0 vinho e a champanhe podem ser o melhor que o marido quer oferecer-lhe, mas o "essencial" para ela é água. Muitos maridos proporcionam à esposa o que existe de melhor, mas não lhe dão o que ela realmente quer receber. Dessa forma expressam seu amor, mas numa linguagem que ela não entende. O mesmo pode ser dito também sobre as esposas. Todas as pessoas têm necessidades e expectativas que devem ser supridas no casamento. Essas necessidades e expectativas variam de uma pessoa para outra. Por isso, precisamos descobrir e satisfazer as necessidades e as expectativas de nosso cônjuge. Só assim 1 comunicar-lhe-emos corretamente o nosso amor.
1. Palavras de Afirmação
Algumas pessoas só se sentem amadas quando são alvo de palavras de afirmação. A mais profunda necessidade dessas pessoas é ser apreciadas. Por isso, elas precisam de elogios, de palavras de apreciação ou de palavras de encorajamento para elevar a sua áuto-estima e se sentir amadas e felizes. Isso significa que elogios, palavras de apreciação e palavras de encorajamento são os meios pelos quais elas captam a declaração e a afirmação de amor de seu cônjuge. Esses instrumentos criam intimidade, curam feridas e permitem a livre expansão do potencial dessas pessoas.
2. Qualidade de Tempo
Os elogios, as palavras de apreciação e as palavras de encorajamento não satisfazem as necessidades emocionais de todas as esposas, nem de todos os maridos. Algumas pessoas só captam a declaração e a afirmação de amor de seu cônjuge por meio da atenção dedicada a elas. Elas só se sentem amadas, aceitas e queridas quando seu cônjuge dedica-lhe tempo, compartilhando, ouvindo e participando de suas atividades. Essas pessoas necessitam da companhia atenciosa de seu cônjuge. Destacamos a expressão companhia atenciosa porque, para elas, o importante é a atenção do cônjuge. Elas têm necessidade emocional e psicológica de ser "curtidas" pelo cônjuge. Para elas, aproveitar a vida e o casamento significa estar ao lado do cônjuge e ter o cônjuge ao seu lado.
3. Receber Presentes
Existem, também, pessoas que só captam a declaração e a afirmação de amor de seu cônjuge através dos presentes que ele lhe dá. Para essas pessoas, os presentes - sejam eles comprados ou feitos pelo cônjuge, simples ou luxuosos - são símbolos visuais do amor. Por isso, elas têm necessidade emocional de receber presente. Mas, para elas, o valor monetário do presente é secundário. Tanto faz um presente caro, quanto um presente barato. A não ser "que haja uma enorme discrepância entre o que se deu e o que se poderia oferecer"^. Porque, para elas o importante é o presente e não o valor monetário do presente. Ao receber o presente, elas dizem para si mesmas: "Ele(a) se preocupa comigo; ele (a) me valoriza; ele (a) me ama!". Portanto, os elogios, as palavras de apreciação, as palavras de encorajamento ou a companhia atenciosa do cônjuge não são suficientes para levar essas pessoas a se sentir amadas. Pois a maior necessidade emocional delas é receber presente.
4. Formas de Servir
Outras pessoas só se sentem amadas quando seu cônjuge faz coisas que elas apreciam. Essas pessoas captam a declaração e a afirmação de amor de seu cônjuge por meio dos serviços que o cônjuge lhe presta, fazendo para elas aquilo que elas consideram importante. Para algumasjesposas que têm essa linguagem de amor, o importante é o marido ajudá-las a cuidar dos filhos; para outras, é ajudá-las nas tarefas domésticas. Para alguns maridos que têm essa linguagem de amor, o importante é a esposa preparar os pratos que eles apreciam; para outros, é dar-lhe tudo nas mãos. Para essas pessoas, os elogios, as palavras de apreciação, as palavras de encorajamento, a companhia atenciosa do cônjuge ou os presentes não são provas de amor. Elas só sentem-se amadas quando são servidas.
5. Toque Físico
Existem também pessoas que só captam a declaração e a afirmação de amor de seu cônjuge por meio de toque físico. O toque físico pode ser afago, abraço, beijo ou outras formas de toques amorosos. O tipo de toque varia de uma pessoa para outra. Mas todas têm isto em comum: emocionalmente anseiam pelo toque físico de seu cônjuge. No Cântico dos Cânticos, a esposa diz ao esposo: "Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho" (Cântico 1.2). Ela não diz "melhor é o teu beijo do que o vinho", mas. "melhor é o teu amor...", pois, para ela o beijo era o meio pelo qual o esposo transmitia-lhe o seu amor. Divagando sobre seus anseios, diz a esposa: "Tomara fosses como meu irmão, que mamou os seios de minha mãe! Quando te encontrasse na rua, beijar-te-ia, e não me desprezariam! Levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, ... A sua mão esquerda estaria debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abraçaria" (Cântico 8.1-3). E também confidencia: "O meu amado meteu a mão por uma fresta, e o meu coração se comoveu por amor dele" (Cântico 5.4). Essa esposa, à semelhança de muitos maridos e muitas esposas, tinha necessidade emocional e psicológica de toque físico. Os elogios, as palavras de apreciação, as palavras de encorajamento, a companhia atenciosa do cônjuge, os presentes ou as coisas que seu cônjuge faz para elas não satisfazem as necessidades emocionais e psicológicas dessas pessoas. Ainda que isso seja importante para elas, não será o suficiente para que se sintam realmente amadas.
Como Descobrir a Linguagem de Amor
O segredo para levar seu cônjuge a sentir-se amado ,9} e feliz é expressar-lhe seu amor por meio da linguagem
1. Preste atenção nas reclamações de seu cônjuge
"Seja pronto para ouvir” (Tiago 1.19) é o conselho inspirado de Tiago. Ele se aplica a todas as áreas de nossa vida, mas tem um lugar especial no casamento. Ouvir com atenção e respeito as reclamações do cônjuge é a melhor forma para descobrir a primeira linguagem de amor dele. Se alguém reclama de algo que gostaria de receber e não está recebendo, certamente é porque aquilo é importante para a pessoa. As empresas modernas gastam muito dinheiro para ouvir as reclamações de seus clientes. Elas usam as reclamações para aprimorar seus produtos e seus serviços. Assim também marido e mulher devem ouvir as reclamações do cônjuge e usar as informações obtida através dessas reclamações para melhorar a qualidade casamento.
2. Estimule seu cônjuge a revelar-lhe suas necessidades
Voltando ao comportamento das empresas modernas, elas também gastam muito dinheiro em pesquisas de mercado. O objetivo é detectar o tipo de produto e serviço que é o objeto de desejo do público. Ao fazer tal descoberta, a empresa investe maciçamente para oferecer ao público aquele produto ou aquele serviço. No casamento, o comportamento dos cônjuges deve ser idêntico, goxjsso, estimule seu cônjuge a revelar-he suas necessidades .e se esmere para satisfazê-las.
3. Três passos para descobrir sua primeira linguagem de amor
Nem sempre é possível obter do cônjuge a revelação de suas necessidades. Alguns reclamam tanto que é difícil detectar, através de suas reclamações, qual é a sua primeira linguagem de amor. As reclamações de outros são vagas e pouco revelam. E outros não revelam suas necessidades, talvez até por que eles mesmos não as conhecem com a precisão necessária. Se for essa a situação de seu cônjuge, você deve (1) descobrir sua própria linguagem de amor e (2) falar francamente ao seu cônjuge sobre a forma como você gostaria de ser "amado(a)". Assim ele não só toma conhecimento de sua primeira linguagem de amor mas também será estimulado a descobrir e a revelar a linguagem dele.
O primeiro passo para descobrir sua primeira linguagem de amor é fazer uma retrospectiva em seu relacionamento com seu relacionamento com seu cônjuge. O que seu cônjuge deixa de fazer lhe causa frustração, angústia, mágoa ou uma sensação de vazio em seu casamento? Respondendo a essas perguntas, você poderá descobrir quais são suas maiores necessidades emocionais a ser supridas no casamento.
O passo seguinte é rememorar suas cobranças zofz? seu cônjuge. O que você mais tem exigido de seu cônjuge? Possivelmente, suas exigências são formas que você usa para perguntar-lhe: "Você me ama?".
O terceiro passo é observar o que você faz e diz para expressar seu amor ao seu cônjuge. Geralmente,, procuramos fazer por nosso cônjuge aquilo que\ j* gostaríamos que ele fizesse por nós. Expressamos o nosso amor pelo cônjuge da forma como gostaríamos que ele expressasse seu amor por nós. Mas esse terceiro passo precisa ser visto com cuidado, porque nossa forma de expressar o amor pelo nosso cônjuge pode ter sido aprendida com nossos pais ou com alguém qud admiramos. Nesse caso ela não expressará nossa primeira linguagem de amor.
4. Recordando o passado
Caso não seja possível descobrir sua primeira linguagem de amor através dos três passos, volte ao passado. Lembra-se daquela "paixão" dos primeiros meses de namoro? O que ele (a) fazia ou dizia que levou você a "se amarrar" nele(a)? O que ele(a) fazia ou dizia que motivava você a querer estar sempre ao lado dele(a)? A resposta a essas perguntas poderá ajudá-lo(a) descobrir sua primeira linguagem de amor.
5. Sonhando com o ideal
Se ainda não descobriu sua primeira linguagem de amor, feche os olhos e sonhe... com o cônjuge ideal. Se pudesse "fabricar" alguém para ser seu cônjuge, como seria esse alguém? A imagem que você projetar do cônjuge ideal poderá apontar-lhe os instrumentos por meio dos quais você capta a declaração e a afirmação de amor de seu cônjuge.
6. Revendo as cinco linguagens de amor
Talvez o seu desejo é que seu cônjuge expresse seu amor por você das cinco formas descritas nas cinco linguagens de amor. Por isso, faça uma lista das cinco linguagens colocando-as na ordem de sua preferência. A primeira, portanto, será sua primeira linguagem de amor.
7. Converse francamente com seu cônjuge
Geralmente as pessoas estão interessadas na felicidade de seu cônjuge. E, na maioria das vezes, se não contribui para essa felicidade é por que não sabem como fazê-lo ou porque o fazem de forma equivocada. Por isso, você precisa conversar francamente com seu cônjuge sobre a sua primeira linguagem de amor, isto é, sobre o que você gostaria que ele fizesse e sobre a forma como você gostaria que fosse feito.
Ao conversar com seu cônjuge, você deve tomar alguns cuidados para alcançar seus objetivos.
Primeiro - Cuidado com as palavras. O seu objetivo é intensificar sua comunhão com seu cônjuge. Por isso, suas palavras precisam ser bondosas, cheias de ternura, repletas de amor. Fale para ser aceito (a), compreendido(a) e amado (a).
Segundo - Cuidado com a tonalidade de voz. Seu cônjuge interpretará sua mensagem com base mais em seu tom de voz do que em suas palavras. "Eu te amo" dito com ternura é uma declaração de amor; mas dito com sarcasmo é uma expressão de desprezo. Até mesmo quando tiver de fazer alguma reclamação ou censura, use um tom de voz que comunique amor e verdadeiro interesse pelo bem estar de seu cônjuge.
Terceiro - Cuidado com o momento certo para falar. Lembre-se de que há "tempo de estar calado e tempo de falar" (Eclesiastes 3.7). Procure falar no momento certo.
Conclusão
As perguntas aqui propostas devem ser respondidas, preferencialmente, por escrito. Quando escrevemos, aprofundamos e depuramos nosso pensamento. Respostas verbais podem ser superficiais e equivocadas. Quando escrevemos nossas respostas, nós as vemos com mais objetividade. Por isso, se queremos dar respostas corretas às nossas inquirições, devemos fazê-lo por escrito.
Lembre-se de que investir na felicidade de seu cônjuge é investir em sua própria felicidade. Um cônjuge satisfeito, realizado e feliz será um(a) companheiro(a) agradável, alguém com quem compensa viver. O inverso, infelizmente, também é verdadeiro.
Invista no seu cônjuge e no seu casamento, assim você estará investindo na sua felicidade.
Para Refletir
"Quando a necessidade emocional de ser amado é suprida, cria-se
um clima onde o casal consegue lidar com as outras áreas da vida
de forma muito mais produtiva".3
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1 As Cinco Linguagens do Amor, Gary Chapman, Tradução Iara Vasconcellos - NEXO Editorial - São Paulo, SP - 1997
2 Gary Chapman, op, cit, p. 77
3 Gary Chapman, op. cit., p. 178
4
O SEXO
A mais íntima comunicação entre um homem e uma mulher se dá por meio do sexo. O Antigo Testamento usa o termo "conhecer" quando se refere ao ato sexual, demonstrando que "o ato em si envolve a pessoa toda, o ego completo, a personalidade inteira", e que este é "o meio pelo qual o ser humano se revela mais completamente do que é possível em qualquer outra relação entre duas pessoas".1 E isso foi instituído por Deus na criação.
Quando Deus criou o homem, "homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse; Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gênesis 1.27,28). Deus já havia criado todos os animais, cada um segundo a sua espécie. E alguns eram hermafroditas, isto é, tinham os órgãos de reprodução masculinos e femininos. Se quisesse, ele poderia ter criado o ser humano andrógino, mas Deus preferiu criar homem e mulher. E no registro da formação da mulher está escrito: "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis 2.24). Mais tarde o apóstolo Paulo explicou que é por meio do ato sexual que homem e mulher se tornam uma só carne (1 Coríntios 6.16). Portanto, Deus nos criou seres sexuados e ordenou que marido e mulher vivam a sua sexualidade.
O ato sexual entre marido e esposa foi instituído por Deus e é aprovado por ele. O livro de Provérbios está repleto de expressões que incentivam o marido a ter relação sexual com a esposa. Veja, por exemplo, este conselho:" Alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias" (Provérbios 5.18,19). E o autor da Epístola aos Hebreus declara: "Digno de honra entre todos seja o matrimónio, bem como o leito sem mácula" (Hebreus 13.4).
Mas Deus não se limitou a criar o sexo; ele também estabeleceu as normas para a vida sexual dos seres humanos. Vejamos, agora, algumas dessas normas.
Ato Sexual Só no Casamento
"Deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis 2.24). A ordem dada na criação é muito clara: "Deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher", isto é, case-se, e só depois tornem-se os dois uma só carne. O Dr. Carlos "Catito" Grzybowski, em seu livro Macho e Fêmea os Criou, mostra que, na Bíblia, "o sexo está restrito ao casamento". E afirma: "O sexo precisa de uma relação duradoura e permanente para desenvolver-se na sua plenitude". E, a seguir, com a sua longa experiência de psicólogo bem-sucedido, fala das consequências desastrosas da desobediência a esse princípio, afirmando: "Quem faz violência a esse desígnio de Deus encontra no sexo uma fonte de insatisfação e desencanto".
Diante disso, muitas pessoas perguntam: E os servos de Deus, no Antigo Testamento, que se relacionaram com várias mulheres? Abraão, o pai da fé. enquanto casado com Sara teve um filho com Hagar (Gênesis 16.1-16). Jacó tinha duas esposas, Raquel e Lia, e ainda teve filhos com Bila e Zilpa (Gênesis 29.31-30.24). Elcana era um homem piedoso, que "subia da sua cidade de ano em ano a adorar e a sacrificar ao SENHOR dos Exércitos em Silo". Mas "tinha ele duas mulheres: uma se chamava Ana, e a outra, Penina" (1 Samuel 1.2,3). E Salomão foi mais longe do que todos os seus antepassados, chegando a ter "setecentas mulheres, princesas e trezentas concubinas" (1 Reis 11.3). Esses homens estavam cometendo adultério? No período do Antigo Testamento a poligamia era tolerada. Naquela época, um homem podia casar-se com mais de uma mulher. E a esposa podia oferecer sua serva ao marido, ordenando que ela coabitasse com ele. Esse costume tão estranho tem uma explicação: o valor da esposa era proporcional à quantidade de seus filhos. Quanto maior o número de filhos, melhor era a esposa. E como os filhos da serva com seu senhor eram considerados filhos de sua senhora, as esposas ordenavam às suas servas que coabitassem com seu marido para aumentar-lhes o número de filhos. E em relação às concubinas, elas também eram consideradas esposas, ainda que de segunda categoria. Geralmente, eram criadas ou escravas que passavam à categoria de esposa, com a aprovação das demais esposas. Portanto, Abraão, Jacó, Elcana, Salomão e outros que tiveram mais de uma esposa seguiram o costume de seus contemporâneos, vivendo um estilo de vida conjugal que era amparado pelas leis em vigência e aceito pela sociedade daquela época. Mas hoje a situação é bem diferente. Cada homem deve ter apenas uma esposa; e cada mulher, apenas um marido. Este é o ensino de Jesus: "Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo Que já não são dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem" (Mateus 19.4-6).
O Ato Sexual Entre Marido e Mulher É Recomendado Por Deus
"O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência" (1 Coríntios 7.3-5). O marido tem o dever de satisfazer as necessidades sexuais de sua esposa; e a esposa tem a obrigação de satisfazer as necessidades sexuais de seu marido. O Prof. Clinton Gardner, em seu livro Fé Bíblica e Ética Social, afirma: "De acordo com a Bíblia, o sexo é sagrado e deve ser aceito com gratidão e não com temor. O homem é unidade de carne e espírito, e cada uma dessas partes deve ser aceita como boa na sua ordem. Como carnal, os desejos humanos de alimento, água, descanso e relações sexuais pertencem à existência humana normal, e se baseiam na vontade do Criador. Naturalmente, cada um desses desejos está sujeito a abuso por causa da liberdade do homem, mas nenhum deve ser considerado mau por essa razão".3 É claro que o ato sexual é uma forma de declaração de amor, e não deve ser praticado simplesmente como cumprimento de um dever, mas o marido ou a esposa que priva seu cônjuge da relação sexual está expondo-o à tentação. E, infelizmente, muitos servos de Deus - tanto homem quanto mulher - têm caído em adultério por culpa de seu cônjuge. Um marido ou uma esposa abrasado pode ser presa fácil de Satanás.
"Feliz é a mulher que olha para o ato matrimonial como meio de demonstrar o seu amor ao marido, e ele por ela. Num sentido vital, esta pode ser a única experiência que ela e seu marido têm juntos, a qual não têm que dividir com outra pessoa. Se ela é uma boa cozinheira, seu marido pode ter que dividir a arte culinária dela com seus amigos. O mesmo se dá com a aparência, as maneiras, as cortesias, e, praticamente, com todas as demais áreas da vida. O ato matrimonial, contudo, é singular, por ser a experiência da qual excluem todo o resto do mundo.'"1
O Ato Sexual Exige Respeito
"Digno de honra entre todos seja o matrimónio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros" (Hebreus 13.4). O conceito mundano de que "entre quatro paredes vale tudo" deve ser exorcizado pelos cristãos. As chamadas práticas sexuais "liberadas" deterioram a qualidade do relacionamento do casal. Elas não são prova de amor. O casal que realmente se ama não precisa praticá-las. Além de absolutamente desnecessárias para o casal que realmente se ama, as práticas sexuais "liberadas", perversas, animalescas e degradantes são duramente condenadas por Deus. Na Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo declarou: "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens ... Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si;... Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza" (Romanos 1.18, 24, 26).
O leito matrimonial deve ser testemunha de um relacionamento amoroso, educado, gentil e respeitoso entre marido e mulher. "Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade" (1 Pedro 3.7).
Conclusão
Casamento não é só sexo. Mas por meio do sexo marido e mulher têm a mais íntima e completa comunicação. Por isso, o Antigo Testamento usa o termo "conhecer" para referir-se ao ato sexual. Isso significa "um entregar-se totalmente ao outro, mostrando-se vulnerável, desarmado perante o outro. ... Conhecer o outro na sua plenitude é aventurar-se também a revelar-se plenamente, ou seja, tal qual somos, com nossas belezas e nossas feiúras interiores".5 O ato sexual é íntimo e exclusivo: ele é a única experiência que pertence exclusivamente ao casal e que não é compartilhada com nenhuma outra pessoa.
Feliz é o homem e feliz é a mulher que olha para o ato sexual como meio de demonstrar o seu amor ao seu cônjuge.
Para Refíetir
"O mais importante é a aliança que tenho com meu cônjuge, que se
renova a cada dia nos pequenos gestos de ternura e de doação e
entrega ao outro; nos valores do perdão e de disposição de
perdoar; no deixar de pensar que meu umbigo é o centro do
universo e perceber no outro a maravilhosa criatura, imagem e
semelhança do Criador, que é capaz de me surpreender a cada dia
com novas e fascinantes maneiras de revelar-se a mim"6
(Carlos "Catito" Grzybowski).
_______________________________
1 E. Clinton Gardner, Fé Bíblica e Ética Social, p- 261
2 Carlos "Catito" Grzybowski, Macho e Fêmea os Criou, p. 40
3 E. Clinton Gardner, op. cit., p. 256
4 Tim LaHaye, Casados mas Felizes, p. 54
5 Carlos "Catito" Grzybowski, op. cit, p. 68
6 Carlos "Catito" Grzybowski, op. cit., p. 130
5
A TRANSPARÊNCIA
O compromisso garante a durabilidade do casamento. E o amor dá alegria, romantismo, beleza e sabor à vida conjugal.
Muitos casamentos fracassaram porque foram alicerçados no amor. E um sentimento sujeito a tantas vicissitudes não pode sustentar uma instituição tão importante. Outros casais vivem juntos até que a morte os separe, mas o seu casamento é frio, monótono e desinteressante, porque lhes falta o amor. Compromisso e amor devem andar juntos no casamento. O compromisso dando estabilidade ao casamento; e o amor dando beleza e alegria à convivência do casal.
O compromisso está ligado ao caráter do casal, o amor à comunhão. E o aperfeiçoamento do caráter, bem como o aprofundamento da comunhão, dependem muito de lealdade, franqueza, confiança mútua, enfim, de transparência no relacionamento do casal. John e Betty afirmam: "O fato de ocultar nossos pensamentos e sentimentos enfraquece a união básica da vida conjugal. S° quando há franqueza e sinceridade podemos experimentar cura, ajuda e felicidade. Só à medida que compartilhamos é que as alegrias se multiplicam e as tristezas diminuem".1
Amor e Aceitação
Todos nós costumamos avaliar os riscos antes de tomar qualquer deliberação. Isto se aplica também à transparência. Antes de abrir o nosso coração, procuramos avaliar se seremos compreendidos, se continuaremos sendo amados e aceitos. Por isso, marido e mulher só serão transparentes um com o outro se tiverem certeza de que continuarão sendo amados e aceitos.
A transparência é uma necessidade psicológica básica do ser humano. Esconder alguma coisa, dissimular, mentir, são práticas que enfraquecem o nosso caráter e destroem a nossa paz interior. Phillips Books disse: "Mantenhamo-nos livres das dissimulações e até mesmo da necessidade de dissimular. É horrível quando se tem que encobrir alguma coisa. Quando temos de evitar olhares, quando para nós existem assuntos que não podem ser mencionados, então nossa alegria de viver foi perdida'1.2 Para a nossa própria felicidade, precisamos agir com total transparência. E, para a felicidade de nosso cônjuge, devemos oferecer-lhe todas as condições para que ele seja transparente. E estas condições são: amor e aceitação. O nosso cônjuge só será transparente conosco se tiver certeza de que continuará sendo amado e aceito, mesmo nos revelando todos os seus defeitos, erros e mazelas.
Amor e aceitação não significam baixar o nosso padrão moral. Pelo contrário, significam dar ao nosso cônjuge a oportunidade de se aperfeiçoar, libertando-se do erro.
Um exemplo bíblico do significado de amor e aceitação pode ser encontrado em 1 João 1.5-10. Nos versículos 5 e 6 fica claro que Deus exige de nós um comportamento correto. "Ora, a mensagem que da parte dele temos ouvido e vos anunciamos, é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade". O versículo 8 nos confronta com as nossas imperfeições. "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós". Mas o versículo 9 mostra que Deus nos ama e nos aceita, apesar de nossas imperfeições. "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar o pecado e nos purificar de toda injustiça". Deus nos perdoa não para permanecermos no erro, mas para nos libertar do erro.
Amor e aceitação entre os cônjuges não significa rebaixar os padrões morais e aceitar que o cônjuge erre à vontade. Mas significa que o cônjuge que errar será amado e aceito, apesar do erro, para poder libertar-se do erro. Por mais que tenhamos de perdoar ao nosso cônjuge, ainda será pouco diante do muito que Deus nos perdoou. Por isso, a recomendação bíblica é esta: "Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou" (Efésios 4.32). Por outro lado, a falta de aceitação leva o cônjuge errado a se autojustificar e a prosseguir no erro.
A Comunicação
O instrumento básico da transparência é a comunicação. Sem comunicação não pode haver transparência.
A falta de comunicação, além de impossibilitar a transparência, cria inúmeros outros problemas para o casal. John e Betty afirmam que "em 90% de todas as dificuldades no casamento, a comunicação é o maior problema, e as dificuldades nos outros 10% são, direta ou indiretamente, causadas pela incapacidade de comunicar-se".3
Jaime Kemp, em seu livro Sua Família Pode Sei Melhor, menciona quatro níveis de comunicação.4 O nível mais elementar é aquele em que as pessoas se limitam a repetir expressões corriqueiras, tais como: "bom dia", "como vai você?", "gostou do jogo de domingo?", "será que vai chover hoje?". O nível um pouco menos superficial é aquele em que as pessoas comentam fatos ocorridos com outras pessoas ou coisas ditas por outros. Aprofundando um pouco mais o nível de comunicação, as pessoas compartilham entre si suas ideias e pensamentos. Ejio. nível mais profundo, as pessoas compartilham tudo: ideias, pensamentos, ações, omissões, erros, frustrações, etc. uste e o tipo de comunicação que deve existir entre manao e mulher. Entre os cônjuges nunca deve existir segredo, omissões, dissimulações. Cada um deve ser para o outro um livro aberto.
Além destes quatro níveis, existe uma comunicação que pode ser chamada comunicação do coração ou da alma. Esta comunicação ocorre entre as pessoas que estão ligadas por um profundo afeto. Elas não precisam de palavras para se comunicar - o silêncio já diz tudo. O Rev. James H. Jauncey conta que, certa vez, fez o casamento de um soldado norueguês e uma moça mexicana. Ela não sabia falar o norueguês nem ele o espanhol. Também não conheciam uma terceira língua em que se pudessem comunicar. Não conseguiam comunicar-se através de palavras. Mas afirma o pastor: "O meu casal de noivos conseguia enviar a sua mensagem de amor um para outro, e ambos pareciam notavelmente apaixonados".5 Marido e mulher devem se aprofundar na comunicação até que exista entre eles uma tal comunhão que dispense as palavras.
"A falta de comunicação torna a vida muito solitária. Quando deixamos de compartilhar nossos sentimentos, sentimo-nos solitários e tornamo-nos estranhos um para o outro, embora vivendo na mesma casa. Quando deixamos de compartilhar nossos sentimentos íntimos, a vida é vivida em relacionamentos superficiais que diminuem o verdadeiro amor."6
Os cônjuges precisam comunicar um ao outro suas ideias, opiniões, expectativas, desejos, ansiedades, enfim, tudo, para a mútua compreensão. Às vezes um deles reage de modo indelicado diante de uma situação bem simples, por estar muito cansado, triste, ansioso ou frustrado. Se o outro souber o que está acontecendo, será mais fácil compreender os motivos daquela reação, e perdoar.
Sendo um livro aberto um para o outro, os cônjuges terão melhores condições para se ajudar mutuamente. Além disso, cada um poderá também eliminar o que esteja fazendo e que possa estar desagradando ao outro.
Mas compartilhar tudo exige um forte senso de oportunidade: "Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavradita a seu tempo" (Provérbios 25.11). Requer também sensibilidade para usar as palavras adequadas ao momento: "Palavras agradáveis são como favo de mel, doces para a alma, e medicina para o corpo" (Provérbios 16.24). E quem ouve deve ter cuidado quanto ao que vai responder: "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira" (Provérbios 15.1). Aliás, para uma boa comunicação é necessário que haja sabedoria por parte de quem fala e, também, de quem escuta. Quem ouve deve ser "pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tiago 1.19).
O Respeito
Para que os cônjuges sejam transparentes um com o outro, é necessário, além de amor e aceitação, respeito.
Os cônjuges devem respeitar a privacidade um do outro. John e Betty dão o seguinte testemunho: "Não abrimos as cartas pessoais. Não ficamos escutando as conversas ao telefone. Não vasculhamos os bolsos ou bolsas um do outro".7 Investigação e interrogatório não devem existir entre marido e mulher. A curiosidade também deve ser contida. Cada um deve esperar que o outro lhe revele o que tiver de ser revelado na hora certa. Pois quando um invade a privacidade do outro, a vitima se sente agredida, desrespeitada, investigada, e se fecha.
Deve haver respeito também para comjasjdéias e opiniões do cônjuge. Os dois devem estar conscientes de que, entre os seres humanos, não existe o dono da verdade. O que é certo para você não é certo para todo mundo. Por isso, cada um deve ouvir as idéias, e opiniões do outro com um esforço sincero de compreensão. Jamais um deve menosprezar ou criticar as idéias e opiniões do outro. Isto não significa que um tem obrigação de sempre concordar com o outro. "Algumas vezes, uma ideia ou uma atitude proposta precisa ser desencorajada. A pessoa que propõe pode estar demasiadamente envolvida emocionalmente, não enxergando claramente as suas consequências. Mas esse desencorajamento deve ser feito mui gentilmente, se possível. Um pouco de cuidado e de consideração, da nossa parte, capacitará a pessoa a voltar atrás sem ser humilhada. E, o que é ainda mais importante, precisamos procurar a necessidade que se acha por trás da ideia proposta, e ajudar de maneira construtiva o nosso interlocutor, procurando encontrar uma solução adequada."8
O casal que não respeita a privacidade, as ideias e as opiniões um do outro não consegue ser transparente
Conclusão
Quando Deus fez o primeiro casamento, Adão e Eva "estavam nus" (Gênesis 2.25). Nada escondiam um do outro. Eram absolutamente transparentes. E "não se envergonhavam" porque nada tinham de que se envergonhar.
Marido e mulher devem ser absolutamente transparentes. E todas as dificuldades surgidas dessa transparência devem ser imediatamente resolvidas, com o respeito, a compreensão e o perdão. A roupa suja deve ser lavada imediatamente, para que nada tenham de que se envergonhar. E esta transparência levará o casal a viver como aquilo que realmente são: "uma só carne".
Para Refletir
"Há muitas pessoas neste mundo que não são compreendidas.
Mas, quando olhamos para elas mais atentamente, descobrimos
que elas sempre são responsáveis por isao, pelo menos em parte. Se
não são entendidas, é porque não se abriram" (Paul Tournier).
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1 John & Betty Drescher, Começar de Novo, p. 27
2 Citado por Charles L. Allcn, in A Psiquiatria de Deus, p. 72
3 John & Betty Drescher, op. cit., p. 26
4 Jaime Kemp, Sua Família Pode Ser Melhor, p. 78
5 James H. Jaunccy, in Felicidade no Lar, p. 95 6John & Betty Drescher, op. cit., p. 31
7 John & Betty Drescher, op. cit., p. 31
8 James H. Jaunccy, in op. cit., p. 101
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CARACTERÍSTICAS E DEFEITOS
A transparência é uma necessidade psicológica básica do ser humano. A dissimulação, a representação e a mentira enfraquecem o caráter e destroem a paz interior. Ser transparente é, portanto, condição básica para o nosso aperfeiçoamento como pessoa.
No casamento a transparência aprofunda a comunhão entre o casal e aperfeiçoa o seu caráter. E isto fortalece o compromisso e o amor que os une. Por isso, marido e mulher precisam ser - um para o outro - um livro aberto. Entre eles jamais deve existir segredos, omissões, dissimulações. Para isto, é necessário amor, aceitação e respeito mútuo. Pois o ser humano só é transparente quando sabe que continuará sendo amado e aceito, apesar de suas imperfeições.
Mas, quando somos transparentes, nós nos revelamos ao outro. Um passa a conhecer as opiniões, expectativas, ideias, bem como as fraquezas e os erros do outro. Daí surge a necessidade de saber distinguir características e defeitos.
Diferença Entre Características e Defeitos
Muitas vezes confundimos características e defeitos. Mas são duas coisas diferentes. Se recorrermos a um dicionário, encontraremos a informação de que característica é aquilo que caracteriza ou que distingue, o que faz diferente dos outros, qualidade individualizante; e defeito é deformidade, imperfeição, vício, desvio de caráter.
Vamos dar alguns exemplos: Jacó era homem pacato (Gênesis 25.27) e enganador (Gênesis 27.36). Pacato descreve uma característica de Jacó; e enganador, um defeito. Moisés era um homem sanguinário (Êxodo 2.11,12), que foi transformado por Deus em um varão mui manso (Números 12.3). Sanguinário descreve um defeito de Moisés; manso, uma característica.
A característica é uma qualidade da pessoa que a faz diferente das outras. No primeiro exemplo citado, pacato é a característica de Jacó que o fazia diferente de seu irmão Esaú. No segundo exemplo, manso é a característica que fazia Moisés diferente de todos os homens de sua época.
O defeito é uma imperfeição, um desvio de caráter, uma deformidade, um vício. Nos dois exemplos citados, enganador e sanguinário são defeitos de Jacó e Moisés. Por ser enganador, Jacó ludibriou seu pai e seu irmão. Por ser sanguinário, Moisés matou um egípcio.
Para facilitar a distinção entre características e defeitos podemos dizer que as características são qualidades positivas ou negativas com que nascemos ou que aprendemos no meio onde vivemos; e os defeitos são imperfeições ou vícios que adquirimos no meio onde vivemos. As características, mesmo quando negativas, não são maldosas; mas os defeitos são dolosos, isto é, eles têm um forte componente de maldade, de má-fé, mesmo que a pessoa não tenha nítida consciência disso.
A Valorização das Características
Um dos objetivos do casamento é complementar os cônjuges. John e Betty Drescher observaram o seguinte: "Decidimos casar com alguém em vista de quem e do que essa pessoa é. Escolhemos uma pessoa para casar com os traços que apreciamos e que complementam os nossos. Embora talvez nunca pensemos conscientemente nisso, temos a tendência de escolher um companheiro para a vida que tenha habilidades e temperamento oposto aos nossos porque precisamos exatamente daquilo que não possuímos. A pessoa falante se casa com um indivíduo calado; o extrovertido com o introvertido; o pontual com aquele que nunca chega a tempo a lugar algum; quem gosta de deitar-se e levantar-se cedo se casa com quem dorme tarde e acha difícil levantar cedo; a pessoa meticulosa quanto aos detalhes casa com quem se interessa por generalidades; a pessoa prática, com a sentimental; o realista se casa com um sonhador; aquele que gosta de analisar tudo se casa com quem se precipita nas coisas sem pensar antes. Poderíamos prosseguir dando exemplos de como escolhemos nossos cônjuges com traços completamente opostos. Por quê? Por sermos fracos onde o outro é forte. Escolhemos casar-nos com alguém que possua qualidades que nos faltam e que admiramos".1
Os problemas começam quando tentamos modificar a pessoa com quem nos casamos. E às vezes começamos a nossa tentativa de mudança exatamente nas características que mais nos atraíram naquela pessoa. E "toda vez que tentarmos mudar um ao outro vão surgir conflitos: hostilidade, ressentimento e reação".2
A verdade é que necessitamos de um cônjuge diferente de nós para nos complementar. Quando o servo de Abraão foi buscar esposa para o filho do seu senhor, ele parou junto a um poço, nas proximidades da cidade de Naor, e fez a seguinte oração: "Ó SENHOR, Deus de meu Senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: Inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com meu senhor" (Gênesis 24.12-14). O que o servo estava pedindo é que Deus lhe enviasse uma moça dinâmica, de bastante iniciativa, para ser a esposa de Isaque. Ele sabia muito bem que o filho do seu senhor Abraão era um homem pacato e, por isso, necessitava de uma esposa dinâmica para complementá-lo. Precisamos reconhecer que as diferenças entre os cônjuges os tornam maiores e melhores. E por isto devemos valorizar e incentivar as diferenças. John e Betty afirmam o seguinte: "Se estivéssemos começando novamente nosso casamento, nós nos comprometeríamos a fazer um esforço para reforçar as boas qualidades que nos fizeram escolher um ao outro" .3
A Correção dos Defeitos
Cada um de nós tem um lado melhor e um pior. Temos as nossas características que enriquecem o nosso casamento. Mas temos também os nossos defeitos. As características devem ser reconhecidas e valorizadas, mas os defeitos devem ser corrigidos.
No encerramento de um encontro para melhorar o casamento, uma senhora declarou: "... aprendi que não devo mais tentar fazer com que meu marido mude. Procurei modificá-lo durante 30 anos e de nada adiantou. Sei agora que preciso amá-lo e aceitá-lo como é".4 A conclusão a que chegou esta senhora tem verdades e equívocos. É verdade que precisamos aceitar o nosso cônjuge como ele é. É verdade que somos tentados a bancar o Criador e recriar o nosso cônjuge à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e isto não está correto. É verdade também que, ao tentar modificar o nosso cônjuge, nós o estamos rejeitando. Mas, por outro lado, é verdade também que um dos objetivos do casamento é a ajuda mutua. E isto implica também ajudar o nossocônjuge a corrigir os seus defeitos. Nenhum cônjuge pode mudar o outro. Mas pode e deve ajudá-lo a corrigir os seus defeitos.
Existem orientações que devemos seguir para ajudar o nosso cônjuge a corrigir seus defeitos. Algumas apontam o que não devemos fazer, outras o que devemos fazer. Aqui estão algumas dessas orientações:
1a) Não ser um caçador de defeitos - Se começarmos a procurar defeitos no nosso cônjuge, vamos encontrá-los em abundância, pois todos os seres humanos são imperfeitos. Em vez de procurá-los, devemos deixar que eles aflorem naturalmente.
2a) Não confrontar o cônjuge com os seus defeitos - Ninguém gosta de ser confrontado com os seus defeitos. E quando isto acontece, a tendência natural é a autodefesa. John e Betty contam o seguinte fato;
Depois da lua-de-mel, o recém-casado pergunta à esposa: "Querida, você se importa se lhe falar sobre alguns pequenos defeitos seus?".
"De modo algum", respondeu a jovem esposa. "Foram justamente esses defeitinhos que me impediram de conseguir um marido melhor, querido."5
3a) Não criticar o cônjuge - A crítica cria ressentimentos e mágoas. Quando criticado, o cônjuge se fecha ou responde asperamente. O preletor de um congresso contou - talvez a título de brincadeira, para tornar o ambiente menos tenso - que certo dia disse à esposa: "Querida, eu não entendo por que Deus fez você tão bonita, mas também tão burra". Ela respondeu: "Pois eu entendo muito bem: Deus me fez tão bonita para que você se casasse comigo; e tão burra para que eu me casasse com você". Esta brincadeira ilustra a maneira como as pessoas costumam reagir diante da crítica. Lembre-se que a crítica não conserta ninguém.
4a) Não ressaltar o defeito a ser corrigido - William James, psicólogo norte-americano, presbiteriano, afirmou que não se corrige um mau hábito falando sobre ele. "Quanto menos se fale nele, tanto melhor".6
5a) Procurar levar o cônjuge a se conscientizar das más consequências de seus defeitos - O ser humano só abandona um hábito quando se conscientiza de que aquele hábito vai lhe trazer consequências desagradáveis. Por isso, leve o seu cônjuge a se conscientizar das más consequências de seu defeito,
6a) Colocar um bom hábito para substituir o defeito - William James afirmou que "para poder eliminar um mau hábito, é preciso substituí-lo por um bom, concentrando-se em sua formação".7 Vamos a um exemplo prático: se o seu cônjuge tem o defeito de mentir, você pode propor-lhe o seguinte: "Vamos estabelecer a meta de falar sempre a verdade, custe o que custar?".
7a) Anime o seu cônjuge no processo de corrigir-se até que ele se liberte completamente de seus defeitos -O processo de corrigir os defeitos pode ter retrocessos. Por isso, o cônjuge precisa de votos de confiança e palavras de ânimo durante esse processo.
8a) O ponto de partida para ajudar o cônjuge a se corrigir é este: CORRIJA OS SEUS PRÓPRIOS DEFEITOS - Poucas coisas irritam tanto como a atitude de uma pessoa cheia de defeitos tentando levar outros a se corrigirem. "Por que é que você olha o cisco que está no olho do seu irmão e não vê o pedaço de madeira que está no seu próprio olho? Como pode dizer ao seu irmão: 'deixa-me tirar esse cisco do seu olho', quando você tem um pedaço de madeira no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro o pedaço de madeira que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão"8 (Mateus 7.3-5). A melhor maneira de ajudar o cônjuge a corrigir seus defeitos é VOCÊ CORRIGIR OS SEUS PRÓPRIOS DEFEITOS.
Conclusão
O casamento une duas pessoas com características diferentes. Uma tem o que falta na outra. Por isso, as características devem ser valorizadas e respeitadas. Mas as pessoas também têm defeitos. E estes devem ser identificados e corrigidos. Ninguém pode mudar o outro. Só a própria pessoa é que pode mudar-se a si mesma. Mas, para corrigir-se, o cônjuge necessita de ajuda. E esta deve ser dada com amor, compreensão e habilidade.
Quando há comunEão entre o casal, marido e mulher se tornam cada dia mais parecidos, porque um cede ao outro as qualidades de que necessita para ser melhor. E é assim que se modificam: não tirando, mas acrescentando, somando.
Para Refletir
"Quando o marido e mulher olham as coisas de pontos de vista
diferentes, isso pode ajudar muito, pois dá uma perspectiva
mais ampla".9
1 John & Betty Drescher, Começar de Novo, p. 46 e 47
2 John & Betty Drescher, op. cit., p. 46
3 John & Betty Drescher, op. cit, p. 34
4 John & Betty Drescher, op. cit., p. 45
5 John & Betty Drescher, op. cit, p. 45
6 António Vieira de Carvalho - Treinamento dos Recursos Humanos - IOB -Tomo 2 - p. 9
7 António Vieira de Carvalho, op. Cit,, p. 9
8 Bíblia na Linguagem de Hoje
9 John & Betty Drescher, op. cit., p. 36
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FEEDBACK NO CASAMENTO
O casamento une duas pessoas com características diferentes. Mas isso não é prejuízo; é lucro. "Quando marido e mulher olham as coisas de pontos de vista diferentes, isso pode ajudar muito, pois dá uma perspectiva mais ampla."1 Por isso, as características devem ser reconhecidas, respeitadas e valorizadas. Mas os cônjuges têm também defeitos que devem ser identificados e corrigidos.
Por serem duas pessoas diferentes, marido e mulher estão sempre dando e recebendo feedback.
Mas o que é feedback?
Feedback é uma palavra da língua inglesa que significa realiwentação. Quando um grupo está cantando ou executando instrumentos com auxílio de aparelhos eletrônicos de amplificação, algumas caixas de som são colocadas perto do grupo para dar o retorno. Ouvindo aquelas caixas, o grupo pode saber como o som está chegando ao auditório. Eles saberão se a tonalidade está mais grave ou mais aguda; se o volume está mais alto ou mais baixo; e assim por diante. Estas informações são o feedback.
Nas ciências sociais, feedback significa a comunicação a uma pessoa ou grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas. Essa comunicação resulta num processo de dar e receber ajuda para a manutenção ou para a mudança de comportamento. O feedback é aquele retorno que você consegue captar observando o efeito que as suas palavras, ações ou postura estão produzindo nas pessoas. "Fomos criados como seres comunicantes. E estamos sempre nos comunicando. Os cientistas calculam que entre 50 e 100 informações são trocadas a cada segundo entre indivíduos que se comunicam ativamente. Jackson e Lederer registram: Tudo o que uma pessoa faz em relação a outra é uma forma de mensagem. Não existe falta de comunicação. Até o silêncio representa comunicação. Por meio de palavras, gestos, toque, olhar, tom de voz, sobrancelhas levantadas, um sorriso e o silêncio, a comunicação é enviada e recebida".2
Marido e mulher estão sempre dando e recebendo feedback.
As Dificuldades de Dar Feedback
O nosso feedback às vezes não é bem recebido porque nós não o damos de forma correta. Entre as dificuldades que nos prejudicam ao darmos feedback, citaremos as seguintes:
1a) Pretensão de superioridade - Quando transmitimos ao nosso cônjuge a ideia de que nós nos sentimos mais inteligente, mais competente ou mais hábil do que ele, o feedback que lhe damos fica prejudicado. Paul Tournier, grande psiquiatra evangélico, dá como exemplo o que pode ocorrer com um marido que esteja enfrentando dificuldade em seu escritório.
Na primeira vez em que menciona o problema para sua mulher, ela, levada por excessivo zelo de ajudá-lo. replica mui apressadamente: "Você precisa livrar-se, de qualquer jeito, daquele funcionário ineficiente. Defenda-se de pé, senão ele passa por cima de você! Quantas vezes eu já lhe disse que você é muito fraco! Conte isso na gerência!...". Em outras palavras, ela faz chover sobre ele conselhos inaplicáveis. Tal mulher não reconhece a complexidade dos problemas que seu marido tem de enfrentar. Por sua vez, ele sente que ela o responsabiliza por todos os seus problemas, e o trata como se fosse um menino. O marido começa a desvendar as suas ansiedades, mas, em face de respostas engatilhadas como aquelas, se retrai. Sua esperança é destruída antes que possa mostrar à sua esposa todos os aspectos de um problema delicado. A intenção dela era excelente, mas estragou tudo, respondendo apressadamente demais.3
Neste exemplo, a esposa passou ao marido a ideia de que ela se sente mais competente do que ele. Quando isso acontece, o cônjuge se fecha, porque se sente humilhado e até ultrajado.
2a) Individualismo - Se o nosso cônjuge entender que estamos querendo que ele aja como nós agiríamos se estivéssemos em seu lugar, ele se sente desrespeitado em sua individualidade e não recebe o nosso feedback.
3a) Pressão - Se o nosso cônjuge não se mostrar receptivo, corremos o risco de partir para a pressão. As vezes falamos mais do que devíamos. Envolvemos outras pessoas em nossa conversa. E tudo isto só faz aumentar a resistência do nosso cônjuge.
4a) Polêmica - É muito comum o cônjuge assumir uma atitude defensiva diante do feedback que lhe damos. Isto pode nos levar a pressioná-lo com argumentos, gerando assim uma polémica radicalizada. E esta pode ir longe... "Como o abrir-se da represa, assim é o começo da contenda; desiste, pois, antes que haja rixas" (Provérbios 17.14).
As Dificuldades de Receber Feedback
Receber feedback também não é fácil. Podemos mencionar aqui os seguintes motivos:
1a) Falta de humildade - Não é fácil admitir nossos erros, ineficiência e incompetência. E isto nos dificulta receber o feedback.
2a) Falta de confiança - Às vezes não confiamos suficientemente na competência ou nas intenções de nosso cônjuge, e isto nos impede de receber corretamente o feedback que ele nos dá.
3a) Resistência a julgamento - Podemos entender o feedback como um julgamento dos nossos atos e sentir que nossa individualidade está sendo desrespeitada.
4a) "Síndrome de avestruz" - Para escapar de um predador, a avestruz costuma esconder a cabeça e deixar o resto à mostra. Algo semelhante pode nos acontecer quando percebemos a necessidade de mudança em nosso comportamento. Em vez de acatar o feedback, costumamos reagir defensivamente parando de ouvir, negando a validade do feedback, agredindo o nosso cônjuge, apontando também os seus defeitos.
Como Superar as Dificuldades de Dar e Receber Feedback
O feedback sempre existirá. As nossas palavras, ações e comportamento são sentidos pelo nosso cônjuge. E este naturalmente reage. Nós também reagimos diante da atuação do nosso cônjuge. Mas nem sempre o feedback produz resultados positivos. Algumas vezes isto acontece por falta de habilidade de quem dá o feedback; outras vezes, por falta de receptividade de quem é alvo do feedback.
Precisamos superar as dificuldades de dar e receber feedback. Para isto devemos observar as seguintes recomendações:
1a) Desenvolver o desejo de compreender - Paul Tournier afirma o seguinte: "A primeira condição para conseguir compreender é o desejo de compreender".4 A sabedoria popular diz a mesma coisa com palavras diferentes: "O pior cego é aquele que não quer ver; e o pior surdo é aquele que não quer ouvir". Às vezes não damos ou não recebemos feedback corretamente porque não temos o desejo sincero de compreender o nosso cônjuge. E todo ser humano anela ser compreendido.
2a) Avaliar corretamente a importância das coisas - Às vezes não damos ou não recebemos corretamente o feedback porque as nossas exigências são altas demais. John e Betty Drescher afirmam que "na geração passada, as expectativas para o casamento não eram muito mais do que estabelecer-se, manter uma vida económica, ter vários filhos e gozar a vida juntos". Mas hoje a situação é diferente. "Até os maneirismos ou hábitos que não se notam nos amigos e conhecidos casuais, em geral assumem uma importância desproporcional e provocam extremo aborrecimento quando praticados por nosso companheiro." Eles apontam a solução, dizendo: "O casal mais feliz é aquele que consegue manter um senso de proporção sobre a importância relativa dos acontecimentos e atos".5
3a) Dominar as reações emocionais defensivas -Algumas pessoas possuem um exagerado senso de autodefesa. Estão sempre numa posição defensiva. Parece que Caim tinha essa marca em seu caráter. Quando Deus lhe perguntou: "Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso sou eu tutor de meu irmão?" (Gênesis 4.9). Esse exagerado senso de autodefesa dificulta o recebimento do feedback. Ao receber o feedback, devemos examinar minuciosamente as nossas falhas, em vez de nos colocar na defensiva.
4a) Desenvolver a habilidade no trato com o cônjuge - A Bíblia ensina que "a morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto" (Provérbios 18.21). O feedback pode matar ou dar vida ao casamento. Quem não gosta de um elogio sincero? Quem gosta de ser criticado? Para dar corretamente o feedback, precisamos desenvolver a nossa habilidade no trato com o nosso cônjuge.
5a) Ser realista - Às vezes queremos transformar o nosso cônjuge em outra pessoa. Sonhamos com um tipo de esposa ou marido, e queremos que o nosso cônjuge seja a pessoa de nossos sonhos. Nesse caso, o feedback que damos ao nosso cônjuge terá uma forte dosagem de rejeição. John e Betty Drescher afirmam o seguinte: "Se estivéssemos começando de novo nosso casamento, tomaríamos a decisão de viver e amar o parceiro real que temos, e não o imaginário com que sonhamos".6
6a) Manter um relacionamento de confiança recíproca - A falta de confiança na competência ou nas intenções do cônjuge é um grande obstáculo à troca de feedback. Por isso, marido e mulher devem manter um relacionamento de confiança recíproca. Para isso é necessário que cada um tenha o cuidado de não emitir opinião apressada, especialmente sobre assuntos de que não entende o suficiente para opinar. É necessário também fazer uma purificação das intenções, pois temos uma extraordinária capacidade de comunicar até aquilo que não queremos. E o nosso cônjuge percebe logo se as nossas intenções não são as melhores. Quando há entre os cônjuges um relacionamento de confiança recíproca, o feedback será corretamente dado e corretamente recebido.
Conclusão
Existe uma constante intercomunicação entre as pessoas. Tudo aquilo que dizemos ou fazemos causa um efeito no nosso cônjuge. E este reage imediatamente. A reação pode ser de alegria ou tristeza, de dor ou prazer, de satisfação ou indignação. É este retorno que chamamos de feedback. Ele ajuda o nosso cônjuge a manter ou mudar o seu comportamento. Por isso precisamos estar atentos, para que o nosso feedback seja dado e recebido corretamente. "Se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?" (1 Coríntios 14.8).
Para Refletir
O cônjuge mais feliz é aquele que aprendeu a amar o parceiro real, e não aquele imaginário dos seus sonhos.
1 John & Bctty Drescher, Começar de Novo, p. 36
2 John & Betty Drescher, op. cit., p, 28
3 Paul Tournier, in Felicidade no Lar, p. 30
4 Paul Tournier, op. cit, p. 27
5 John & Betty Drescher, op. cit, p. 47 e 48
6 John & Betty Drescher, op. cit, p. 49
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LUCROS E PREJUÍZOS DAS PEQUENAS COISAS
Há alguns anos desabou um edifício residencial no Rio de Janeiro. A televisão mostrou, ao vivo, as cenas dramáticas do resgate dos sobreviventes e da retirada dos mortos. Alguns dias depois, foi divulgado o resultado da perícia. A conclusão dos peritos é que a causa básica do desabamento foram pequenas infiltrações de água que, durante meses, foram amolecendo o solo e diminuindo a sua resistência. A seguir, uma chuva forte, acompanhada de ventos impetuosos, derrubou o prédio. Outros edifícios estiveram debaixo da mesma chuva e sofreram a pressão da força dos mesmos ventos, mas não caíram porque os seus alicerces estavam em solo firme.
O que aconteceu com aquele edifício ilustra o que ocorre com muitos casamentos. O somatório de pequenos erros e pequenos aborrecimentos destrói as bases do casamento. A seguir surge uma crise mais grave e o casamento desaba. O maior perigo à segurança do casamento não são as grandes crises: são as pequenas coisas.
O edifício destruído pela ação silenciosa de pequenas infiltrações havia sido construído com o somatório de pequenas britas, pequenos tijolos... até as grandes lajes foram feitas com a superposição de pequenas quantidades de concreto. Pequenas coisas construíram o edifício; e pequenas coisas o derrubaram. Algo semelhante acontece com o casamento. Se pequenas coisas podem destruí-lo, pequenas coisas também podem enriquecê-lo. John e Betty Drescher, depois de trinta anos de casados, afirmaram: "Se fôssemos começar de novo nosso casamento, procuraríamos diplomar-nos nas pequenas coisas".1
Os Pequenos Erros
Marido e mulher costumam cometer pequenos erros, sem se dar conta dos grandes prejuízos que eles podem causar. Citaremos alguns destes pequenos erros, a seguir:
1o) Terminar o namoro - Alguns casais, logo após a lua-de-mel, esquecem o romantismo do período de namoro. E o resultado deste pequeno erro pode ser um grande fracasso. O casamento torna-se frio, desinteressante e monótono.
2o) Explorar o cônjuge - O que é explorar alguém? É exigir ou tirar da pessoa mais do que ela pode ou deve dar. No casamento, normalmente é o marido que mais comete esse erro. Alguns maridos - talvez a maioria -querem que a esposa seja cozinheira, garçonete, arrumadeira, faxineira, lavadeira, gerente de compras, enquanto eles se limitam a se assentar à mesa para desfrutar, apreciar ou criticar o que foi feito. Por que eles não compartilham com as esposa as atividades domésticas? Outras vezes é a esposa que explora o marido. A exploração pode atingir várias área, tais como: financeira, social e até física. A exploração do cônjuge pode parecer um pequeno erro, mas traz grandes prejuízos.
3o) Infidelidade mental - Jesus ensinou que a infidelidade conjugal pode ocorrer também na mente das pessoas: Ele disse: "Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela" (Mateus 5.27,28). O cônjuge encantado com outra pessoa está cometendo infidelidade mental. Isto pode ocorrer com o marido, que corre o risco de ficar encantado com as mulheres que encontra em seu local de trabalho, nos bancos, nas lojas comerciais ou em outros locais. Ou com a esposa, que pode ficar encantada com os artistas da televisão ou do cinema, com os cantores, com os atletas ou com qualquer outro homem. A afeição dividida mata o amor. Marido e esposa devem dedicar toda a sua afeição ao cônjuge; e não permitir que, em seu coração ou em sua mente, se desenvolva qualquer atração romântica por outra pessoa.
Os Pequenos Aborrecimentos
Os pequenos erros produzem pequenos aborrecimentos que, por sua vez, causam grandes prejuízos. Assim como pequenas infiltrações de água derrubaram um edifício aparentemente tão seguro, pequenos aborrecimentos podem destruir um casamento aparentemente tão sólido.
Para evitar os prejuízos dos pequenos aborrecimentos, o casal deve tomar os seguintes cuidados:
1o) Reconhecer que seu cônjuge é uma pessoa imperfeita - Jamais devemos esperar ou exigir perfeição de nosso cônjuge. Nós somos pessoas imperfeitas casadas com pessoas imperfeitas.
2o) Aceitar as falhas do cônjuge como parte normal do jogo da vida - Se tivéssemos total domínio sobre o sol
e a chuva, o frio e o calor, a nossa vida seria bem diferente. Mas não temos. Às vezes fazemos com tanto gosto - e até com grande sacrifício - roupa para uma ocasião especial e, no dia da festa, a temperatura está drasticamente mudada, e a roupa torna-se inadequada. Outras vezes programamos um passeio e a chuva nos obriga a cancelá-lo. Vamos ficar aborrecidos com isto? De modo nenhum - é o jogo da vida. Pois é assim também que devemos encarar os pequenos aborrecimentos provocados pelo nosso cônjuge - eles fazem parte do jogo da vida.
3o) Falar ao cônjuge sobre os aborrecimentos -Devemos falar ao nosso cônjuge sobre as coisas que nos estão aborrecendo. Ele poderá dar-nos uma explicação convincente. Ou mudar o seu comportamento.
4o) Resolver imediatamente os problemas que estejam causando aborrecimento - Os problemas não devem acumular-se. O apóstolo Paulo recomendou: "Não se ponha o sol sobre a vossa ira" (Efésios 4.26). Isto significa que os problemas do dia devem ser resolvidos no próprio dia.
As Pequenas Demonstrações de Amor e Respeito
Se pequenos erros e pequenos aborrecimentos trazem grandes prejuízos para o casamento, pequenas demonstrações de amor e respeito trazem grandes lucros. John e Betty Drescher escreveram: "Sabemos hoje que uma pequena palavra de apreciação faz com que qualquer dia se transforme em prazer. Sem um sentido de apreciação, até os nossos melhores esforços se tornam rotina. Sabemos hoje que um toque de ternura consegue transformar uma manhã sombria numa canção alegre. Sem ternura, a vida fica difícil. Sabemos hoje que uma pequena ajuda pode fazer com que a tarefa mais inexpressiva venha a ser uma manifestação de amor duradouro. Sem o espírito de colaboração, a vida se torna solitária e enfadonha".2
Veremos, a seguir, pequenas demonstrações de amor e respeito que podem enriquecer a vida conjugal.
1a) Solidariedade - O apóstolo Paulo fez a seguinte recomendação: "Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram" (Romanos 12.15). Isto é solidariedade. Todo cristão deve ser solidário. Marido e mulher, muito mais ainda. Os dois são uma só carne; logo, o que dói em um deve ser sentido também pelo outro, e as alegrias de um devem alegrar também o outro. John e Betty contam a experiência de um marido que tinha muitas dúvidas sobre o amor de sua esposa. "Certa noite, já bem tarde, ele se achava trabalhando no porão com um soldador. De repetente, o soldador bateu num fio elétrico, provocando muito ruído e um clarão. A seguir, a luz se apagou. No escuro, ele correu para a garagem a fim de verificar os fusíveis. Quando ele voltou, encontrou a mulher sentada nos degraus da escada, chorando desesperadamente. Ela havia corrido para o porão depois de ouvir o barulho, encontrou-o às escuras e chamou o marido - e ele não respondeu ao chamado."3 A esposa pensou que o marido estivesse morto ou gravemente ferido, e pôs-se a chorar. Esta pequena demonstração de amor foi suficiente para apagar todas as dúvidas, e o marido nunca mais se sentiu inseguro quanto ao amor de sua esposa. Isto é solidariedade.
2a) Elogios sinceros - No livro de Provérbios está escrito que a mulher virtuosa recebe elogios de seu esposo. "Seu marido a louva, dizendo: Muitas mulheres procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas" (Provérbios 31.28,29). Será que ela recebe elogio por ser virtuosa ou é virtuosa porque recebe elogios? Qualquer que seja a nossa resposta, ela será uma apologia do elogio. A verdade é que o elogio sincero é uniu pequena demonstração de amor e respeito que produz grandes lucros - para quem elogia e para quem é elogiado. Marido e mulher devem cultivar o hábito do elogio sincero. "Nós nos sentimos bem intimamente quando recebemos aprovação. Nossos relacionamentos nos fazem felizes quando confirmamos e elogiamos um ao outro."4
3a) Dar preferência ao cônjuge - A pessoa mais importante na vida do marido deve ser a esposa. A pessoa mais importante na vida da esposa deve ser o marido. Os pais são importantes, mas a recomendação bíblica é: "... deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher" (Gênesis 2.24). A Bíblia recomenda também: "Amai-vos cordialmente uns aos outros ... preferindo-vos em honra uns aos outros" (Romanos 12.10). A nossa maior atenção, a maior estima e os primeiros cuidados devem ser reservados para o nosso cônjuge. A prática desta preferência na convivência diária do casal pode parecer uma pequena coisa, mas trará excelentes resultados.
4a) Desenvolver uma intimidade espiritual -Marido e esposa devem cultivar o saudável costume de estudar a Bíblia e orar juntos. O Pastor Jaime Kemp, que tem uma longa experiência em trabalho com casais, dá o seguinte testemunho: "Eu nunca vi um casal que tenha desenvolvido intimidade na oração divorciar-se".5 Por meio da leitura diária da Bíblia, juntos, os cônjuges crescem espiritualmente; pela oração, juntos, eles colocam diante de Deus as suas necessidades. Isto pode parecer uma coisa muito pequena, mas só no céu é que sabemos a extensão dos benefícios que esta prática trará.
Conclusão
A razão do fracasso de muitos casamentos está nas pequenas coisas. O segredo do sucesso de muitos casamentos está também nas pequenas coisas. "Descobrimos que, ao falhar nas pequenas coisas da vida, perdemos as grandes oportunidades de provar que somos fiéis. Quando deixamos de mostrar amor nas pequenas coisas, descobrimos ser mais difícil celebrar as grandes ocasiões. Quando deixamos de expressar apreciação nas pequenas coisas e palavras, nosso esforço nas grandes coisas parece sem sentido."6
O casal que quer construir um grande casamento e viver um grande amor deve evitar os pequenos erros, contornar os pequenos aborrecimentos e não perder oportunidade de pequenas demonstrações de amor e respeito.
Para Refletir
"Os pequenos atos de bondade, de cortesia, as considerações
praticadas habitualmente em nosso relacionamento social, dão
maior atração ao caráter do que os grandes talentos e realizações"
(M. A. Kelty).
1 John & Betty Drescher, Começar de Novo, p. 54
2 John & Betty Drescher, op. cit., p. 53
3 John & Betty Drescher, op. cit., p. 17
4 John & Betty Drescher, op. cit., p. 18
5 Jaime Kemp, Sua Família Pode Ser Melhor, p. 100
6 John & Betty Drescher, op. cit., p. 53
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TEMPERAMENTO
Marido e esposa são duas pessoas bem diferentes. "O homem é um ser basicamente lógico, racional; já a mulher é basicamente uma criatura emotiva. O homem é mais ativo e mais agressivo. É mais estável, emocionalmente falando, como é também mais controlado acerca de questões importantes do que a mulher. Contudo, o homem é mais irritável, excitável e impaciente acerca das coisas pequenas."1 Existem ainda outras diferenças; tantas que encheriam este livro.
Além das diferenças próprias de homem e mulher, os cônjuges têm também personalidade diferente. Como o termo personalidade é muito abrangente e não existe consenso sobre a sua definição, vamos falar de temperamento.
Não existem duas pessoas iguais. Cada ser humano é único. Mas há certos traços comuns a várias pessoas. Hipócrates, médico grego que viveu de 460 a 377 a.C, dividia os indivíduos em alegres (sanguíneos) e melancólicos (deprimidos).2 Mais tarde, Galeno, também médico grego, que viveu por volta dos anos 131 a 200, desenvolveu a teoria de Hipócrates concluindo que existem quatro tipos de temperamentos: sanguíneo, melancólico, colérico e fleumático.3 Heymans desenvolveu ainda mais esta teoria, chegando a oito temperamentos, que ele chama de combinações caracteriais: nervosos, sentimentais, ativos exuberantes, apaixonados, realistas, fleumáticos, indolentes e inibidos frios ou apáticos.4 O psicólogo alemão Ernest Kretschmer divide os temperamentos em dois grupos: ciclotímicos e esquizotímicos. Os ciclotímicos dividem-se em: hipomaníacos, apáticos e sintônicos; e os esquizotímicos em hiperestésicos, intermediários e astênicos.5 Existem ainda outras teorias sobre os temperamentos.
Os Tipos de Temperamento
O temperamento pode ser caracterizado como a "soma de tendências inatas e relativamente permanentes do indivíduo".6 Vamos descrever os temperamentos segundo o quadro clássico de Heymans, analisado por André Le Gall e Suzanne Simon.
1) Nervosos - Os nervosos são pessoas sensíveis, que gostam de emoções. Para elas a vida é, em primeiro lugar, um múltiplo divertimento. Geralmente se interessam por coisas dramáticas, sensacionais ou picantes. São acomodados. Trabalham mais por impulso do que por gosto pelo trabalho. Só se dedicam a uma atividade se tiverem motivações muito fortes. Gostam mais de atividades que mexem com as suas emoções. Vivem voltados para o presente. Não são muito responsáveis com suas obrigações. Costumam gastar o seu dinheiro com muita facilidade. Os homens nervosos não demonstram muito interesse pelo casamento; consequentemente, casam-se mais tarde. Os nervosos têm a tendência de se casar com pessoas bem diferentes deles. Preferem os fleumáticos ou os apaixonados.
2) Sentimentais - Os sentimentais são parecidos com os nervosos. A grande diferença é que os sentimentais são mais subjetivos, mais voltados para dentro de si próprios. Normalmente são pessoas indecisas, tímidas, desconfiadas e de pouco sentido prático. Vivem mais o passado do que o presente. Tendem a ser pessimistas, lembrando-se mais das derrotas do que das vitórias. Gostam da solidão e de cultivar o seu interior. Procuram ser independentes. Valorizam mais a riqueza de caráter do que os bens materiais. No casamento buscam basicamente alguém que lhe dê compreensão, proteção e apoio. Tendem a casar-se em famílias já bem conhecidas, amigas. Ao contrário dos nervosos, têm muito interesse pelo casamento. Mas preferem ser escolhidos a escolher. "O casamento é em primeiro lugar para o sentimental uma solidão a dois, um refúgio contra as durezas da vida, uma segurança afetiva total."7
3) Ativos exuberantes - Os ativos exuberantes são pessoas cheias de entusiasmo, de confiança em si próprio, de vitalidade. "De todos os caracteres, o ativo exuberante é certamente aquele que tem mais alegria de viver/'8 Têm confiança na vida, nos outros, em si próprios. Mas são também ingénuos. Têm facilidade para fazer amizade. Encaram o casamento como o destino natural de toda pessoa. Por isso não são muito exigentes na escolha.
4) Apaixonados - Os apaixonados são parecidos com os ativos exuberantes. A diferença é que os apaixonados buscam basicamente o êxito, enquanto os ativos exuberantes querem gozar a vida. Outra diferença é que os ativos exuberantes conquistam amizade, enquanto os apaixonados conquistam mais a estima das pessoas. Os apaixonados encaram a vida como uma batalha que precisa ser vencida. Anne Frank era uma apaixonada. Ela escreveu em seu Diário: "Parece-me que nunca me deixarei vergar... Sinto-me tão forte, tão pronta a tomar sobre mim o que quer que seja".9 Estas palavras retratam a atitude dos apaixonados diante da vida. Para eles a vocação é mais importante do que a felicidade. Os apaixonados sentem necessidade de calor humano, de aprovação dos outros. Para o casamento, os ativos exuberantes procuram escolher quem eles julgam que vai fazê-los feliz; já os apaixonados procuram escolher alguém que vai ajudá-los. Tendem a escolher quem está mais próximo de si.
5) Realistas - Os realistas são sensatos, conciliadores, sociáveis, compreensivos, equilibrados, práticos e extrovertidos. São também pouco exigentes, tolerantes e indulgentes. Em vez de se adaptar, acomodam-se. Têm muita facilidade para definir o que querem e para fazer escolhas. Gostam de criar um ambiente agradável. Fogem instintivamente do sofrimento e das complicações. Aceitam as pessoas como são. No casamento buscam amizade e prazer.
6) Fleumáticos - Os fleumáticos são pouco comunicativos, frios, reservados, modestos, racionais, metódicos, possuem bastante autodomínio, sangue frio e tenacidade. Eles são bem voltados para si próprios, têm pouco interesse pelas "pessoas. Os fleumáticos normalmente têm poucos amigos, e todos mais ou menos de sua idade ou que se dedicam a atividades que eles também se dedicam. Os fleumáticos têm tendência para o celibato, pois temem que o casamento venha a complicar-lhes a vida, perturbando o equilíbrio que conseguiram e que os satisfaz. Outro fator que dificulta o casamento para os fleumáticos é que eles pensam muito antes de tomar uma decisão, o que cria uma certa indecisão.
7) Indolentes - Os indolentes são pessoas indecisas, pacatas, que se contentam em ser o que são. "Empregado atrás do seu guiché, assim irá ficar o resto da vida; comerciante, não aumentará o seu negócio; chefe de serviço, se as circunstâncias o levarem a isso, não visará mais alto."10 Não sonham. Não têm entusiasmo. Estão satisfeitos com a sua sorte. No casamento, eles não escolhem: são escolhidos.
8) Inibidos Frios - Os inibidos frios são chamados também de apáticos. Eles são parecidos com os indolentes. A principal diferença é que os indolentes são mais abertos, enquanto os inibidos frios são fechados.
Compatibilidade dos Temperamentos
Existem vários fatores que determinam a compatibilidade entre os temperamentos. O sexo é um desses fatores. Marido de um temperamento e esposa de outro podem combinar muito bem. Mas se fosse possível fazer uma inversão: o marido ficando com o temperamento da esposa, e esta com o temperamento do marido, a adaptação entre o casal poderia ser profundamente alterada. O nível intelectual de cada um dos cônjuges é outro fator. Por isso não se pode estabelecer um quadro definitivo de compatibilidade entre os temperamentos. É possível estabelecer um quadro aproximado, mas sempre tendo em vista que o sexo, o nível intelectual, a posição social e outros fatores poderão alterar essa compatibilidade. Os nervosos, por exemplo, adaptam-se melhor aos fleumáticos e aos apaixonados. Os sentimentais se dão melhor com os realistas e com os apaixonados.
Uma pergunta que é feita frequentemente é se existem temperamentos incompatíveis. O grande psiquiatra cristão Paul Tournier afirma que a "incompatibilidade de génios é apenas um mito". André Le Gall e Suzanne Simon, no livro Os Caracteres e a Felicidade Conjunta}, uma obra de 732 páginas na qual analisam cuidadosamente os temperamentos, afirmam que existem temperamentos incompatíveis. Creio que Le Gall e Simon estão mais corretos. Ainda que quiséssemos negar a incompatibilidade de temperamentos, a realidade da vivência de muitos casais mostraria o contrario.
Para identificar a incompatibilidade dos temperamentos, basta observar o casal. Existem casais que, de fato, não se entendem. Um é sol, o outro lua. Um é dia, o outro noite. Às vezes são pessoas boas, honestas, responsáveis, mas que têm grandes dificuldades de convivência.
O que fazer quando o casal descobre que têm temperamentos incompatíveis?
Se forem namorados ou noivos, devem imediatamente desistir da ideia de casamento. Duas pessoas que não se entendem no namoro ou no noivado, quando têm tão pouco a decidir em comum, não devem casar-se.
Quando só percebem a incompatibilidade depois do casamento, eles devem procurar adaptar o seu temperamento ao do seu cônjuge. Isto não é fácil. Exige muito esforço e muita renúncia. Mas é preferível sofrer com a adaptação do que sofrer com a separação.
Adaptação dos Temperamentos
Muitos psicólogos e psiquiatras afirmam que os temperamentos não mudam. Muda-se a moldura, mas o quadro continua. Isto é, mudam-se alguns aspectos do temperamento do indivíduo, mas os traços fundamentais permanecem.
A Bíblia, porém, mostra-nos vários exemplos de mudanças radicais. O apóstolo João era, inicialmente, um homem violento. Certa vez, ele e seu irmão Tiago queriam que Jesus lhes autorizasse queimar, com fogo do céu, uma aldeia de samaritanos simplesmente porque os habitantes negaram hospedagem a Jesus (Lucas 9.51-56). Jesus chegou a dar-lhe a alcunha de "filho do trovão" (Marcos 3.17). Masquem lê as Epístolas de João notam a profunda mudança no temperamento deste homem. O filho do trovão transformou-se no apóstolo do amor. Outra mudança radical ocorreu com o fariseu Saulo, que mais tarde veio a ser o apóstolo Paulo.
Ainda que mudanças radicais sejam raras, elas mostram a possibilidade de mudança de temperamento. Por isto, a incompatibilidade de temperamentos não é motivo para a separação do casal. Mas é um desafio para que eles lutem pela adaptação de seus temperamentos.
O que é necessário para que ocorra, entre o casal, a adaptação dos temperamentos?
1) Reconhecer as fraquezas do seu temperamento - A tendência de muitas pessoas é considerar como virtude as fraquezas do seu temperamento. E isto reforça a incompatibilidade. Para que ocorra a adaptação dos temperamentos, é necessário que marido e esposa reconheçam as fraquezas do seu temperamento. Na Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo dá um exemplo deste reconhecimento, quando diz: "Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e, sim, o que detesto. ... Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Romanos 7.15,19).
2) Conscientizar-se da necessidade de mudança -Apenas reconhecer as fraquezas não é suficiente para que ocorra a mudança. É preciso ter consciência da necessidade de mudança. Só muda quem está consciente da necessidade de mudança. Enquanto marido e esposa não tiverem esta consciência, eles continuarão sofrendo com a sua incompatibilidade de temperamentos.
3) Tomar a decisão de mudar - Para que ocorram as mudanças necessárias à adaptação dos temperamentos, é preciso que marido e mulher tomem a decisão de mudar. E lutem para levar avante a decisão. O apóstolo Paulo escreveu o seguinte: "Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras
considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor; por amor do qual, perdi todas as cousas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo" (Filipenses 3.7,8). Ele entendeu que estreitar a sua comunhão com Jesus valia muito mais do que os valores que ele vinha cultivando. E certamente decidiu mudar. Quando marido e mulher entendem que a harmonia entre eles vale muito mais do que as diferenças que os dividem, e decidem mudar, inicia-se o processo de adaptação de seus temperamentos.
4) Buscar o auxílio de Deus - Tentar a adaptação dos temperamentos sem a ajuda de Deus é trilhar um caminho que levará marido e esposa ao fracasso. Só Deus pode ajudar definitivamente os cônjuges nesse processo de adaptação. Pela atuação do Espírito Santo, ele produz em nós virtudes que facilitarão essa adaptação. "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gálatas 5.24,25). Quem tem estas virtudes terá facilidade para adaptar-se ao temperamento do cônjuge. E o segredo para adquiri-las é buscá-las em Deus. "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas cousas aos que lhe pedirem?" (Mateus 7.7-11).
Conclusão
Alguns casais ficam tão empolgadas no período de namoro e noivado que não percebem a incompatibilidade existente entre os seus temperamentos. Outros até percebem, mas por imaturidade, por falta de autodomínio
ou por outros interesses acabam casando. E passam a viver em crises constantes. Ficam cada dia mais infelizes. E julgam que a única solução para eles é o divórcio. Mas divórcio não é solução. O que eles precisam é de uma adaptação de seus temperamentos. "As diferenças entre os cônjuges não precisam ser fatais! Nenhuma discordância serve de ameaça a um casamento; aquilo que o cônjuge faz, no tocante aos desacordos, é que determina o êxito ou o fracasso no matrimónio. Muitos casamentos que hoje navegam em mar de rosas, já experimentaram grandes conflitos de temperamento."11
Com o reconhecimento de suas fraquezas, a consciência da necessidade de mudança, a decisão irrevogável e irretratável de mudança e, acima de tudo, com a ajuda de Deus, casais que vivem em crises e conflitos poderão encontrar a harmonia, a paz e a felicidade.
Para Refletir
"Muitos casamentos que hoje navegam em mar de rosas já experimentaram grandes conflitos de temperamento" (Tim LaHaye).
1 Julius A. Fritze, in Felicidade no Lar, p. 22
2 Verbete Personalidade, Enciclopédia Delta Universal, vol. 11, p. 6267
3 Verbete Personalidade, Enciclopédia Abril, vol. 9, p. 298
4 A. Le Gall e S. Simon, Os Caracteres e a Felicidade Conjugal, p. 144
5 António Vieira de Carvalho, Treinamento dos Recursos Humanos, tomo 2, p. 19-22
6 João de Souza Ferraz, Psicologia Humana, p. 305
7 A. Le Gall e S. Simon, op. c/7., p. 275
8 A. Lc Gall e S. Simon, op. cit., p. 340
9 Citado por A. Le Gall e S. Simon, op. cit, p. 411 1,1 A. Le Gall e S. Simon, op. cit., p. 619 " Tim LaHaye, in Felicidade no Lar, p. 41
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As FINANÇAS
O dinheiro tem sido motivo de atrito entre muitos casais. John e Betty Drescher afirmam: "Estudos mostram que 50% dos casais têm dificuldades graves com relação a finanças".1 Eles se referem à situação em seu país -Estados Unidos da América. Se dinheiro causa tantos problemas para os casais do Primeiro Mundo, onde o poder aquisitivo é muito maior do que o nosso e a economia é estável, o que dizer da situação em nosso país?
Jaime Kemp afirma que o dinheiro é "um dos fatores que mais contribui para brigas, frustrações e preocupações no lar".2
Como contornar tais problemas?
O Significado dos Bens Materiais
Para evitar problemas na área das finanças, marido e esposa devem, como ponto de partida, saber o que significam os bens materiais.
A Bíblia nos mostra que todos os bens pertencem a Deus. "Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém" (Salmo 24.1). Estes bens estão em poder dos homens. "Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra deu-a ele aos filhos dos homens" (Salmo 115.16). Alguns receberam os bens das mãos graciosas do Criador. Outros se apossaram deles de maneira desonesta, fraudulenta. Mas todos nós teremos de prestar contas a Deus da maneira como ganhamos e usamos os bens materiais.
A raiz dos problemas do casal na área das finanças geralmente está na deturpação do significado dos bens materiais. Jaime Kemp diz que "muitas vezes damos às coisas que possuímos um significado diferente do que elas realmente têm. Por exemplo: um carro é basicamente um meio de transportar pessoas de um lugar para o outro. Porém, ele tem simbolizado sucesso, prestígio, liberdade, independência e até masculinidade. Assim como o carro, as roupas e outras coisas, também o dinheiro tem significados variados".3
O Uso Correto dos Bens
Os bens têm como objetivo satisfazer nossas necessidades e proporcionar-nos alegria e prazer. João Calvino afirmou que a enorme variedade de cereais, verduras, frutas e demais ingredientes oferecidos para a nossa alimentação deixa claro que o Criador tinha em mente, além da nossa nutrição, o nosso prazer e satisfação.4 Isto se aplica também a todos os demais bens materiais.
Parte dos nossos bens deve ser usada para ajudar o próximo. O apóstolo João fez um questionamento sério: "Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?" (1 João 3.17). E Tiago, na sua pi aticidade, escreveu: "Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa, e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser:
Ide em paz, aquecei-vos, e fartai-vos, sem, contudo, lhes dardes o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?" (Tiago 2.15-16).
Não podemos esquecer, também, a nossa contribuição para a Igreja. Todas as instituições necessitam de recursos financeiros para cumprir sua tarefa. E a Igreja não é exceção. Ela necessita de dinheiro para construir e manter seus templos, para pagar o salário de seus funcionários e para executar seus projetos. Esse dinheiro não cai do céu. Ele vem da contribuição dos fiéis. Por isso, parte dos nossos bens deve ser dedicada à obra de Deus.
Os bens materiais, honestamente adquiridos, são bênçãos que Deus nos concede. Eles devem ser usados para a nossa manutenção, conforto, alegria e prazer, bem como para ajudar o próximo e sustentar a Igreja e suas instituições. Usá-los como forma de auto-afirmação, de ostentação, ou como instrumento de dominação e opressão, é deturpar os fins para os quais eles nos foram dados.
Algumas Recomendações Úteis
Cada casal é responsável pela forma como vai ganhar e gastar o seu dinheiro. Mas vamos dar aqui algumas recomendações úteis:
1a) O casal deve ter um orçamento - Este orçamento deve incluir todas as despesas ordinárias e uma reserva para as despesas extraordinárias. Dewitt L. Miller observa que é "digno de nota que o casal que mantém uma boa contabilidade quanto às suas despesas irá, em quase todos os casos, gastar menos e mais sensatamente do que aqueles que não fazem isto".5 O casal deve lutar para permanecer dentro do orçamento.
2a) O casal deve ter um acordo sobre finanças -Isto significa que tudo o que tiver de ser adquirido fora do orçamento deve ser feito com a aquiescência de ambos.
3a) As compras devem ser decididas segundo critérios racionais - Marido e esposa devem ser disciplinados sobre o uso do dinheiro. As compras devem ser decididas racionalmente, e não à base da emoção. Saber usar bem o dinheiro, fazer compras necessárias e em condições satisfatórias, é mais uma questão de atitude do que de técnica. Pessoas disciplinadas usam disciplinadamente o dinheiro; pessoas indisciplinadas usam o dinheiro indisciplinadamente.
4a) O casal só deve fazer dívida quando isto for absolutamente necessário - Dever tem uma série de inconvenientes. Os juros comem parte significativa da renda familiar, e o devedor acaba trabalhando para o credor. Além disso, o credor pode servir-se da situação para dominar aquele que lhe deve. "O rico domina sobre o pobre, e o que toma emprestado é servo do que empresta" (Provérbios 22.7). Soma-se a isto a insegurança do devedor, que acaba subtraindo parte de suas energias mentais e físicas, por causa de preocupações e noites mal dormidas.
5a) O casal precisa aprender a viver dentro de sua realidade socioeconómica - Vivemos num mundo onde poucos têm muito, e muitos têm pouco. E cada casal precisa aprender a viver dentro de sua realidade socioeconómica. Quanto a isto, o apóstolo Paulo nos dá uma grande lição. Ele afirma: "Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece" (Filipenses 4.11-13).
6a) O maior bem de um casal é ter um ao outro -Ter conforto é muito bom. Mas um bom casamento não depende dos bens materiais. Não é o tamanho da casa, nem o luxo dos móveis, nem o ano e modelo do automóvel que fará o casal mais feliz. O maior bem do esposo, aqui na terra, é sua esposa; o maior bem da esposa é o esposo. "Melhor é um prato de hortaliças, onde há amor, do que o boi cevado e com ele o ódio" (Provérbios 15.17).
Conclusão
Uma música popular diz que "tem que pagar para nascer, tem que pagar para viver, tem que pagar para morrer". E é verdade. Tudo na vida tem um preço. Quando você recebe alguma coisa sem pagar, é porque alguém está pagando por você. Por isso o dinheiro é importante, mas não a coisa mais importante da vida.
O dinheiro é um meio para chegar a um fim. Ele é um instrumento para adquirir coisas de que necessitamos. O dinheiro honestamente adquirido é bênção de Deus. Mas quando invertemos a ordem dos valores, quando abrimos mão de coisas mais importantes para nos apossar do dinheiro, ele se transforma em maldição. E quando o casal briga por causa de dinheiro - seja pelo excesso, seja pela escassez -, eles estão trocando o amor, a harmonia e a paz por bens materiais, estão trocando o essencial pelo secundário, o melhor pelo menos importante. Estão fazendo um péssimo negócio.
O dinheiro - que sobra ou que falta - deve unir ainda mais o casal. A sobra deve uni-los em ações de graças; a falta, em oração. E desta união o casamento sairá ainda mais fortalecido.
Para Refletir
"Quando o dinheiro se torna o foco das desavenças, os problemas
em nosso relacionamento estão provavelmente em outro ponto. O
dinheiro pode tornar-se simplesmente uma desculpa para ventilar
os ressentimentos acumulados."6
1 John & Betty Drescher, Começar de Novo, p. 57
2 Jaime Kemp, Sua Família Pode Ser Melhor, p. 113
3 Jaime Kemp, op. cit., p. 113
4 Juan Calvino - Institucion de la Religion Cristiana, p. 553
5 Citado por John & Betty Drescher, op. cit., p. 58
6 John & Betty Drescher, op. cit, p. 59
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Os FILHOS
Um dos objetivos do casamento é "a propagação da raça humana por uma sucessão legítima".1 Ou seja: gerar filhos. Quando Deus criou o homem e a mulher, o Criador os abençoou e lhes disse: "Sede fecundos, multiplicai-vos" (Gênesis 1.28). E Salomão escreveu que os filhos são herança do Senhor (Salmo 127.3). Está claro na Bíblia que o propósito de Deus para a família é que ela seja constituída de esposo, esposa e filhos.
Os filhos são bênçãos que Deus nos concede. Mas se o casal não tomar os devidos cuidados, os filhos lhes trarão mais tristezas do que alegrias.
O Lugar dos Filhos na Família
A relação familiar básica é esposo-esposa. Eles são "uma só carne" (Gênesis 2.24). Os filhos são bênçãos adicionais. Eles não ficam para sempre com os pais. Eles nascem, crescem e seguem o seu próprio caminho, formando a sua própria família. Marido e esposa começam a vida conjugal sozinhos e, geralmente, terminam sozinhos.
Em nossa época este princípio bíblico tem sido deturpado. Muitos casais estão vivendo como se a relação familiar básica fosse pais-filhos. Isto significa que muitos casais estão vivendo em função dos filhos. E isto não está certo. Casais que estruturam a sua vida familiar em torno de seus filhos são candidatos a sérios problemas no futuro. "Por terem vivido para seus filhos durante tantos anos, sua conversa, seus interesses, suas atividades, na verdade toda a estrutura de sua vida foi construída em torno dos filhos. Assim, quando estes saem de casa, os pais acordam de repente para o fato de que tudo que lhes resta é um ao outro. Terão de passar juntos o resto de seus dias e ficam apavorados diante dessa perspectiva. O que restou foram dois estranhos que pouco ou nada têm em comum, a não ser os filhos. Durante todos aqueles anos não conseguiram construir um casamento. O que mantinha o seu relacionamento eram os filhos. As únicas coisas significativas em seu casamento eram as que diziam respeito a seus filhos. Era nisso que se centralizavam conversas e atividades."2
O casal que vive em função dos filhos cria problema também para os próprios filhos. Quando estes tiverem de formar a sua própria família, eles estarão tão ligados aos pais que terão dificuldade em ser "uma só carne" com o seu cônjuge. Eles vão priorizar a relação pais-filhos, em vez de esposo-esposa. Os laços que os unem a seus pais serão mais fortes do que os que os unem ao seu cônjuge. Como resultado disso, temos maridos que reservam o melhor de sua atenção para a mãe, em detrimento da esposa. O almoço de domingo é na casa da mãe, o primeiro telefonema para comunicar a promoção é dado para a mãe. Sem perceber, tal marido está criando uma grande rivalidade entre nora e sogra. Resumindo: superpais geram péssimos cônjuges. Estes, por sua vez, serão também superpais e gerarão outros péssimos cônjuges.
Os filhos são bênçãos que Deus concede ao casal. Eles devem ser criados com todo amor e preparados para a vida. Mas eles nunca podem tomar o lugar da esposa no coração do pai nem o lugar do esposo no coração da mãe. Uma das tarefas dos pais é preparar seus filhos para formar sua própria família; por isso precisam mostrar aos filhos, no viver diário, como deve comportar-se um bom esposo e uma boa esposa. John e Betty Drescher escreveram: "Pequenos atos e palavras de amor demonstrados na vida cotidiana do casal falam mais alto sobre a natureza do amor verdadeiro a nossos filhos".3
O Dever dos Pais Para Com os Filhos
Alguns pais vão para o outro extremo e não cumprem seus deveres e obrigações para com seus filhos. Quem procede assim está sendo ingrato e infiel para com Deus, que lhe deu o grande privilégio de ter filhos. "Deus poderia ter trazido nossos filhos ao mundo de maneira completamente diferente. Poderia ter feito com que eles crescessem e se desenvolvessem em poucos meses, ou até em semanas. Os animais e os pássaros tornam-se maduros em poucos dias, poucas semanas ou, na pior das hipóteses, em poucos anos. Mas o desenvolvimento de uma criança leva longos anos até que ela se torne o que deve ser: amadurecida em Jesus Cristo. Os pais são dados à criança por estas razões: para suprir as suas necessidades e para guiá-la. Ambas são essenciais para que toda a personalidade da criança possa ser desenvolvida até atingir a sua plena riqueza."4
Os nossos deveres e obrigações para com nossos filhos incluem o cuidado com o seu desenvolvimento físico, mental, emocional e espiritual. Salomão escreveu que os filhos são como "flechas na mão do guerreiro" (Salmo 127.4). E esta é uma figura muito apropriada para descrever nossos deveres para com eles. A flecha era preparada com todo cuidado e perícia pelo guerreiro daquela época, para ser lançada em direção ao alvo. Assim também são os nossos filhos: devemos prepará-los com todo cuidado para a vida e, no momento próprio, lançá-los em direção ao alvo. Nós não somos donos deles. Somos apenas as pessoas às quais Deus concedeu o privilégio de gerar outras pessoas e prepará-las para a vida.
Para preparar bem os nossos filhos para a vida, além de cuidar do seu desenvolvimento físico e da sua formação intelectual e profissional, devemos:5
- Educá-los na crença do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que eles temam a Deus e O sirvam em espírito e em verdade;
- Encaminhá-los pelas santas veredas do viver cristão, sendo nós mesmos exemplo de piedade para eles;
- Envidar todos os esforços para livrá-los das más companhias e dos maus exemplos;
- Levá-los regularmente à Igreja, para que eles aprendam a adorar o Senhor com reverência;
- Aplicar-lhes a disciplina e a correção necessárias, para que eles cresçam dentro dos princípios de respeito e ordem, e aprendam a acatar as determinações daqueles que exercem autoridade sobre eles.
Como Cuidar dos Filhos Sem Sacrificar os Pais
Não é fácil para o casal cumprir fielmente seus deveres e obrigações para com seus filhos, sem priorizar a relação pais-filhos em detrimento da relação esposo-esposa. Para ajudá-los, damos as seguintes sugestões:
1a) Não adiar para o futuro o que pode ser feito hoje - Muitos casais que têm filhos pequenos ou adolescentes adiam, para quando os filhos estiverem grandes ou até casados, passeios, excursões, participação em congressos ou outras atividades que deveriam realizar juntos. E quando chega esse momento, às vezes já estão velhos e doentes, e não podem fazer o que adiaram. Outras vezes não podem fazê-lo porque não têm mais interesse ou disposição para aquele tipo de atividade. O futuro não nos pertence, por isso o casal deve viver o presente.
2a) Não confiar os filhos a pessoas erradas - Alguns casais, no afã de viver o presente, de não adiar para o futuro o que podem fazer agora, deixam os seus filhos aos cuidados de pessoas erradas. Alguns confiam os filhos às empregadas domésticas, algumas despreparadas, outras desinteressadas no bem-estar das crianças. Outros deixam os filhos com a avó, amorosa porém cansada e sem força para cuidar de modo adequado das crianças. Ou então com uma tia, desprovida de tempo e condições para cuidar bem das crianças. Os casais que procedem assim estão prejudicando os filhos e causando incómodo e até transtorno a outras pessoas.
3a) Não levar as crianças a passeios nos quais elas pouco aproveitam e muito atrapalham - Alguns casais estão sempre carregando os filhos para onde vão, sacrificando as crianças, expondo-as a riscos desnecessários, criando dificuldades para eles mesmos, causando aborrecimentos aos seus hospedeiros ou aos companheiros de viagem. As crianças só devem ser levadas a passeios ou viagens quando isso for absolutamente necessário.
4a) Estabelecer uma relação de troca de favores com casais que tenham filhos da mesma idade dos seus filhos - As melhores pessoas para cuidar de nossos filhos quando viajamos, ou participamos de uma programação à qual eles não devam ser levados, são casais que tenham filhos na mesma faixa etária dos nossos. Para isto devemos fazer amizade com um ou mais casais nessa situação, bem como levar os nossos filhos a serem amigos dos filhos deles, para que eles tomem conta de nossos filhos quando viajarmos; e nós, por outro lado, tomaremos conta dos filhos deles quando eles viajarem.
Conclusão
Nossos filhos são herança do Senhor. E que preciosa herança! Eles enchem de alegria o nosso lar e enriquecem nossa vida. Mas eles não são propriedade nossa. Apenas nos foram confiados por Deus, para a nossa alegria e para que os preparemos para a vida. Eles são como "flechas nas mãos do guerreiro" (Salmo 127.4). Devem ser preparados e, na hora certa, lançados em direção ao alvo.
Para Refletir
A melhor maneira de ser um bom pai é ser um bom marido para a
mãe de seus filhos. E a melhor maneira de ser uma boa mãe é ser
uma boa esposa para o pai de seus filhos. Bons maridos e boas
esposas criam filhos felizes e ajustados, que, por sua vez, serão
também bons maridos e boas esposas.
1 Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXIV, Parágrafo II
2 Jay E. Adams, A Vida Cristã no Lar, p. 55
3 John & Betty Drescher, Começar de Novo, p. 54
4 J. Allan Petersen (editor) — Filhos Precisam de Pais, p. 9
5 Manual de Culto da Igreja Presbiteriana do Brasil, p. 7-15
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O RELACIONAMENTO COM OS FAMILIARES
Quando um rapaz e uma moça se casam, eles rompem os laços que os uniam à sua família. A Bíblia ensina que eles devem deixar "pai e mãe" e unir-se um ao outro "tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis 2.24). Os dois formarão agora uma nova unidade familiar. A sua família será constituída por eles e pelos seus filhos que vierem. Seus pais e seus irmãos não serão mais a sua família, serão apenas os seus familiares.
"Este 'deixar é uma das responsabilidades mais difíceis para os pais. E não somente para os pais, mas tambémpara os filhos. Deixar pai e mãe pode ser uma das decisões mais difíceis e mais dolorosas de se tomar. De fato, em muitos casos, casais têm sido prejudicados no seu relacionamento porque os filhos nunca se desligaram emocionalmente da sua família."1
Deixar pai e mãe não significa romper com a família. Embora tenham deixad a família de sua "origem para formar a sua própria família, marido e esposa não devem olvidar a importância de um bom relacionamento com seus familiares.
O relacionamento com os membros da família de ambos pode ser agradável, construtivo; mas também pode ser tenso e difícil. Jacó teve um relacionamento tenso com seu irmão Esaú (Gênesis 27.41), com seu sogro Labão e com seus cunhados (Gênesis 31.1,2) e, mais tarde, com alguns filhos (Gênesis 34.30; 49.3-4). Mas Rute teve um relacionamento agradável e construtivo com sua sogra Noemi (Rute 1.15-17).
Alguns princípios precisam ser observados por marido e esposa para que o relacionamento com os familiares seja o melhor possível.
A Aprovação do Casamento
Quando nos casamos, estamos interessados apenas na pessoa amada. O nosso objetivo é tê-la ao nosso lado. Mas, ao adquirir um cônjuge, recebemos de troco um sogro, uma sogra, cunhados e cunhadas e, também, os avós e os tios de nossos filhos. E é muito importante que essas pessoas aprovem o casamento. Muitas pessoas perguntam se a ordem bíblica de obedecer pai e mãe inclui também obedecer-lhes quanto ao casamento. Alguns respondem que não, que o casamento é algo muito pessoal e íntimo; e. portanto, ninguém tem o direito de dar palpites. Outros pensam diferente. Entendem que a autoridade dos pais sobre os filhos está em vigor até que eles constituam a sua própria família. E, portanto, os filhos devem obedecer aos pais quanto ao casamento.
Independentemente da vigência ou não da autoridade dos pais sobre filhos adultos, a verdade é que é muito bom que o casamento seja feito com a aprovação da família. Quando há oposição da família e o casal resolve não levar em conta esta oposição, os namorados ou noivos não contam com a tranquilidade e a objetividade necessárias para conhecer melhor e decidir se realmente devem casar-se um com o outro. O casal sente-se psicologicamente acuado, desrespeitado e até agredido. Cada um passa a ver o outro como vítima. E a atenção que deviam concentrar um no outro, para se conhecer melhor, acaba sendo desviada para as pressões que estão sofrendo. Nesse caso, a decisão de se casar é quase sempre tomada com base em sentimentalismo.
É recomendável que os pais jamais façam pressão contra o casamento dos filhos. Principalmente porque tais pressões costumam reforçar nos filhos a decisão de se casar. E os filhos, diante da oposição ou desaprovação dos pais, devem analisar com mais profundidade os motivos apresentados. Afinal, os pais são mais velhos, mais experientes, e podem estar com a razão. Devem questionar também se a oposição dos pais representa ou não aexpressão da vontade de Deus.
A experiência tem mostrado que casamento contra a vontade dos pais costuma não dar certo. Não porque os pais sejam infalíveis. Mas porque ou eles têm razão quando fazem oposição ou a oposição impossibilita a análise mais objetiva por parte dos namorados ou noivos.
O casal deve contar com a aprovação e com a simpatia de seus familiares. Se isto não ocorrer espontaneamente, deve ser buscado com muito esforço.
A Independência do Casal
Outro fator muito importante para um bom relacionamento com os familiares é a independência do casal. Isto deve começar com a moradia. "Quem casa quer casa", diz a sabedoria popular. E realmente quem casa deve morar na sua própria casa. Morar com pais e sogros costuma trazer muitos problemas para o casal. Quando nascem os filhos, os problemas aumentam, porque surge o conflito de autoridade. Os avós julgam-se com o direito de determinar o que os netos devem ou não devem fazer, porque estão vivendo em sua casa. Às vezes chegam até a desautorizar a autoridade dos pais, anulando ordens dadas por estes.
Se por algum motivo o casal não tem condições de manter a sua própria casa, e os pais e sogros querem ajudá-los, é preferível que esta ajuda seja direcionada para mante-los em sua própria casa. Trazê-los para dentro de casa pode significar trazer também os seus problemas.
O casal deve evitar qualquer tipo de dependência financeira de seus pais e sogros. A ajuda financeira costuma abrir as portas para uma interferência que pode trazer grandes prejuízos para o casal.
Outra ajuda que deve ser evitada é na área de cuidado com os filhos. Pais e sogros não devem ser usados como babá.
O casal não deve levar para os seus pais as suas dificuldades conjugais. Marido e mulher são como criança: desentendem-se, mas logo fazem as pazes. Mas com os sogros é diferente. Eles costumam tomar as dores dos filhos e ficar magoados com genros e noras. Quando o casal necessitar de aconselhamento, é melhor procurar uma pessoa preparada para isto, que vá tratar o problema com objetividade, sem tomar partido. Os pais costumam ser passionais, e isto tira a objetividade de que necessitam para dar um bom conselho.
As visitas aos pais e sogros também devem ser bem dosadas. Visitas muito espaçadas podem dar uma ideia de falta de atenção, amor e consideração para com os genitores. Mas visitas excessivamente frequentes podem trazer aborrecimentos. Salomão recomendou: "Não sejas frequente na casa do teupróximo, para que não se enfade de ti, e te aborreça" (Provérbios 25.17)
O casal deve evitar também trazer irmãos ou cunhados para morar em sua casa, especialmente nos primeiros anos de casados. Muitos casamentos têm sido arruinados porque os pais ou sogros transformaram a casa dos filhos em república dos filhos solteiros.
Amor, Atenção e Amabilidade no Trato
As maiores dificuldades no relacionamento costumam ocorrer com os sogros. Isto não significa que nossos pais sejam melhores do que os pais de nosso cônjuge. Mas é mais fácil compreender os pais do que os sogros. "Muitas vezes as sugestões dos sogros parecem indicar desaprovação ou crítica, quando na verdade foram feitas com a melhor das intenções."2
Tim LaHaye dá aos cônjuges o seguinte conselho: "Você deve procurar tratar com respeito e consideração os pais do seu cônjuge. Afinal de contas, eles gastaram muitos anos e milhares de cruzeiros preparando o seu cônjuge. O mínimo que você pode fazer é tratá-los com dignidade. Evite uma atitude negativa para com eles; se for necessário dizer que eles estão interferindo demais na vida de vocês, deixe que o filho ou a filha faça isso. Talvez seja conveniente que os dois falem juntos, mas o parente consanguíneo deve expor a situação".3
No sermão do monte, Jesus fez, entre outras, a seguinte recomendação: "Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles" (Mateus 7.12). Esta recomendação aplica-se também à maneira como você deve tratar os parentes de seu cônjuge. Se você quer que o seu cônjuge trate bem os seus parentes, então trate os parentes dele como você quer que ele trate os seus. A sua sogra é a mãe do seu cônjuge, portanto deve ser considerada e tratada como sua própria mãe. O seu sogro é pai do seu cônjuge e deve ser considerado e tratado como seu próprio pai. Os irmãos do seu cônjuge devem ser considerados e tratados como seus próprios irmãos.
Conclusão
Uma das maiores fontes de alegria para marido e esposa é um bom relacionamento com seus familiares. Poucas coisas são tão agradáveis como uma reunião de família.
Uma das maiores fontes de ajuda com que o marido e a esposa podem contar são seus familiares. Eles costumam ser as únicas pessoas que permanecem ao nosso lado nos momentos difíceis. Podemos citar como exemplo que conseguir um empréstimo quando se pode dar garantia de pagamento é fácil. Mas um empréstimo sem garantia de quitação só poderá ser obtido com familiares.
Por tudo isso, marido e esposa devem construir um bom relacionamento com seus familiares.
Para Refletir
"Quando os filhotes estão em condições de voar, a águia desmancha o ninho para obrigá-los a voar. O lar paterno é o nosso
ninho, mas, a partir do momento em que constituímos a nossa própria família, ele deve ser considerado um ninho desmanchado."
1 Jaime Kemp, Sua Família Pode Ser Melhor, p. 126
2 Tim LaHaye, Casados Mas Felizes, p. 30 3Tim LaHaye, op. cit., p, 30
13
O ESPOSO NA CRISE DA MEIA-IDADE
Existia na igreja um casal que vivia na maior harmonia. Alguns amigos diziam que aquele era um casal vinte, isto é, um marido nota dez que tinha uma esposa também nota dez. Estavam sempre juntos. Eram um exemplo para todos. Mas... hoje estão separados.
Em outra igreja havia um senhor honesto, correto, verdadeiro exemplo de dignidade. Hoje ele não pertence mais à igreja. Está viciado em bebidas alcoólicas e envolvido em aventuras amorosas.
Você certamente conhece histórias parecidas com estas. É bem provável que conheça também a história de homens que abandonaram um emprego invejável, deixando uma carreira até então coroada de sucesso. E até a história de homens que, inexplicavelmente, colocaram fim à própria vida.
E se você se aprofundar um pouco mais nessas histórias, descobrirá que todos esses homens estavam na faixa etária dos quarenta anos - talvez um pouco mais, talvez um pouco menos.
Mas a história desses homens poderia ser bem diferente, se os problemas tivessem sido diagnosticados e tratados de maneira correta, na hora certa. Esses homens naufragaram na crise da meia-idade.
Conceituação e Causas da Crise da Meia-idade
INa meia-idade o homem entra num processo de alterações biológicas, psicológicas e sociais. O seu vigor físico diminui, o peso aumenta, a pele fica flácida e começam a aparecer as rugas, a capacidade visual é afetada, os cabelos começam a cair. Isso geralmente leva o homem a alimentar um sentimento de inferioridade e incapacidade. A sua auto-imagem fica negativa. E ele fica insatisfeito com tudo - com a profissão, com o trabalho, com a família, com a igreja e até com Deus. A essa altura a sociedade o despreza. Basta lembrar aqui que a maioria das ofertas de emprego vem acompanhada desta expressão: "Idade: até 35 anos". Os filhos estão na adolescência e julgam o pai ultrapassado. O somatório de tudo isto leva o homem a uma crise emocional e psicológica que pode provocar profundas mudanças no seu comportamento. E muitos acabam capotando nas curvas dessa crise, terminando no monturo de lixo.
A partir da década de 1930, psicólogos, psiquiatras, sociólogos e outros profissionais que atuam na área do comportamento humano passaram a estudar as mudanças que ocorrem na vida dos homens na meia-idade. Walter Pitkin foi o pioneiro. Ele escreveu o livro A Vida Começa aos Quarenta? onde, pela primeira vez, foram abordadas as mudanças que ocorrem na vida do homem por volta dos quarenta anos de idade. Na década de 1950, Edmund Bergler escreveu A Revolta do Homem de Meia-idade.2 Nesse livro, ele registra o seguinte comentário de uma esposa cujo marido estava vivendo a crise da meia-idade: "Eu creio que meu esposo ou está-se desintegrando ou está ficando louco. Meu marido sempre foi uma pessoa digna de confiança, satisfeita, segura, responsável e bem-humorada. Porém, subitamente, nos últimos meses, sua personalidade mudou. Tudo o que ele tem feito é rebelar-se e atacar. Ataca o nosso casamento, a mim mesma e até a sua profissão. Está exuberante, pretensioso, indisciplinado, praticamente impossível de se controlar. Não posso afirmar com certeza, mas suspeito de que tenha uma namorada. Seu mau humor e seus ataques constantes contra tudo e contra todos parecem esgotar suas energias. Não há nada que eu faça que o agrade ou com que ele se mostre de acordo".3
Creio que a maior contribuição para o estudo e o tratamento da crise da meia-idade foi dada por Jim Conway, que escreveu o livro Os Homens na Crise da Meia-idade,4 publicado nos Estados Unidos em 1978. Neste livro, Conway, com grande coragem, relata e analisa a sua própria crise. Ele se identifica assim: "Sou o pastor principal de uma grande igreja nas imediações de uma universidade. Passo grande parte de meu tempo aconselhando estudantes e famílias. Escrevo uma coluna mensal para uma revista, na qual respondo a perguntas emotivo-espirituais dos estudantes. Já pastoreei outras duas igrejas. Tenho dois cursos superiores e estou fazendo pós-graduação para obter o Ph. D. Estou casado com Sally, que me ama profundamente e faz por mim mais do que eu pensava que ela iria fazer. Temos três filhas - Bárbara e Brenda, na universidade, e Becky na escola secundária".5 Logo depois, ele escreveu: "Para mim, a crise da meia-idade não é simplesmente um problema académico. Não estou apenas escrevendo um novo livro. Venho lutando com a crise da meia-idade, que veio sobre mim como uma experiência traumatizante para a qual eu não estava preparado".6
As causas dessa crise variam de um homem para outro. Em alguns, estão na dificuldade de conciliar suas fantasias com a realidade. Não conseguiram realizar seus grandes sonhos e, por isso, entraram em crise. Em outros, as causas são os fracassos do passado e os temores do futuro. O medo de que tais fracassos se repitam leva-os a entrar em crise. Outros entram em crise por causa das pressões que sofrem. Na meia-idade o homem está vivendo o período de maior pressão de sua vida. Pressão no trabalho, onde ele é mais cobrado ou corre o risco de ser descartado. Pressão da família, que exige mais tempo, mais dedicação e mais dinheiro. Pressão da sociedade... Mas a principal causa parecem ser as insatisfações e os aborrecimentos não-absorvidos no dia-a-dia. Insatisfações e aborrecimentos com a profissão, com o trabalho, com o emprego, com o lugar onde mora, com a esposa, com os filhos... Estes problemas vão-se somando e estouram na meia-idade.
Os Perigos da Meia-idade
A crise da meia-idade pode ser de curta, média ou longa duração. A duração dependerá do modo como o homem enfrenta a sua crise. Se ele receber a ajuda necessária e agir de modo correto, a crise poderá passar em poucos meses. Mas se ele agir de modo incorreto, a crise poderá prolongar-se por quinze ou vinte anos.
Quanto à faixa etária em que pode ocorrer a crise, foi constatado que ela é mais frequente entre os trinta e cinco e quarenta e cinco anos, podendo aparecer um pouco antes ou um pouco depois.
Na meia-idade o homem está vivendo um dos períodos mais perigosos de sua vida. E muitos são praticamente destruídos pela crise. Muitos abandonam a carreira profissional construída com sacrifício, deixam o emprego conseguido com muita dificuldade, desentendem-se com a esposa e com os filhos, tornam-se solitários e partem para o alcoolismo e para a imoralidade. Depois que passa a crise, o homem se arrepende e tenta reaver o que perdeu. Poucos conseguem. E isto pode gerar uma nova crise.
O homem na crise da meia-idade sente-se como um menino perdido no meio da multidão, que olha numa direção e julga que lá está o seu pai. Mas quando chega lá, não encontra o pai. Corre em outra direção, e o resultado é o mesmo. As suas pernas doem e o seu desespero aumenta. Ele busca desesperadamente a solução, mas frequentemente acaba num beco sem saída.
Davi foi um homem que enfrentou uma crise da meia-idade bem intensa. A sua história e os seus salmos estão na Bíblia. À luz desses escritos, concluímos que a crise de Davi causou-lhe os seguintes problemas:
a) Depressão
Os conflitos da crise da meia-idade geram depressão. Davi fala da sua depressão assim:"... me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e a minha alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos em gemidos" (Salmo 31.9,10). O autor do Salmo 102, que provavelmente foi Davi, descreveu assim a sua depressão: "Porque os meus dias como fumo se desvanecem, e os meus ossos ardem como em fornalha. Ferido como a erva, secou-se o meu coração; até me esqueço de comer o meu pão. Os meus ossos já se apegam à pele, por causa do meu dolorido gemer. Sou como o pelicano em o deserto, como a coruja das ruínas. Não durmo, e sou como o passarinho solitário nos telhados" (vv. 3-7).
A depressão gera um sentimento de fuga. O homem deprimido julga que os seus problemas estão nas pessoas e nas coisas ao seu redor e que fugindo ele fugirá também dos seus problemas. Davi escreveu: "Então disse eu: Quem me dera asas como de pomba! Voaria, e acharia pouso. Eis que fugiria para longe, e ficaria no deserto. Dar-me-ia pressa em abrigar-me do vendaval e da procela" (Salmo 55.6-8).
b) Auto-imagem negativa
A auto-imagem negativa é um sentimento de inferioridade, de incapacidade e de falta de auto-estima que se enraíza no mais profundo de nosso ser. Veja a que ponto Davi chegou; "Mas eu sou verme, e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça" (Salmo 22.6,7).
c) Solidão
O homem na crise da meia-idade afasta-se dos amigos, dos familiares, e torna-se profundamente solitário. Isso aconteceu com Davi, pelo que escreveu uma oração de pedido de socorro: "Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito. Alivia-me as tribulações do coração; tira-me das minhas angústias. Considera as minhas aflições e o meu sofrimento, e perdoa todos os meus pecados" (Salmo 25.16-18).
d) Aventura amorosa
Para complicar ainda mais a situação de Davi, ele se envolveu com Bate-Seba, esposa de Urias (2 Samuel 11.1-5). O adultério trouxe sérias consequências para Davi, para sua família e para o reino.
O homem que, à semelhança de Davi, parte para a aventura amorosa, escolheu o pior caminho para solucionar a sua crise. Ele fica desmoralizado diante da sociedade, desacreditado diante da família e com a consciência carregada de culpa diante de Deus. Davi sofreu muito. Após tomar consciência do mal que fizera, ele escreveu o Salmo 51, onde diz: "Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Eis que te comprazes na verdade no íntimo, e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissôpo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste" (vv. 3,6-8).
A aventura amorosa é um risco sério para o homem na crise da meia-idade, por vários motivos. Entre eles podemos citar a sua possível insatisfação com sua esposa, a sua solidão, a sua sensação de não ser compreendido... Se aparecer uma mulher que o compreenda ou finja compreendê-lo, o risco de uma aventura amorosa é muito grande.
e) Abandono da profissão ou do emprego
O homem na crise da meia-idade pensa que a sua angústia é causada por coisas externas a ele. Assim, ele começa a inquirir quem ou o que está causando as suas crises emocionais. E muitos atribuem as suas causas à sua profissão ou ao seu emprego. E muitos abandonam uma boa profissão, uma carreira feita com muito sacrifício ou um emprego que muitos gostariam de ter.
f) Outros riscos
Outros riscos que correio homem na crise da meia-idade são o alcoolismo, a vadiagem e a apostasia da fé. Q alcoolismo como uma forma de escape, de fuga. A vadiagem pela sua falta de perspectiva de futuro. E a apostasia da fé por julgar que Deus está sendo injusto com ele.
Ajuda Para Enfrentar a Crise
Uma pergunta que me é feita, sempre que falo sobre este assunto, é se todos os homens passam pela crise da meia-idade. E a resposta dos especialistas é que todos os homens enfrentarão a crise da meia-idade. A diferença está na intensidade. Em alguns, a crise é muito forte; em outros, mais suave; e em outros tão suave que quase nem é percebida. A intensidade depende muito da preparação do homem para a crise e do tipo de ajuda que ele receber durante a crise.
a) A preparação para a crise da meia-idade
A igreja tem um papel muito importante na preparação do homem para a crise da meia-idade. Este assunto é quase totalmente desconhecido entre nós. Os pastores e os líderes precisam conhecer bem este assunto para instruir os membros da igreja e, também, para saber lidar com os homens que estão enfrentando a crise. Se o homem estiver consciente do que lhe está acontecendo, quando chegar a crise, terá melhores condições para enfrentá-la e vencê-la. Se as familias conhecerem vem o assunto, poderão compreender melhor e ajudar o homem a enfrentar a crise.
Mas a preparação mais importante é a do próprio homem. E esta preparação consiste não só no conhecimento deste assunto, mas principalmente em uma atitude correta diante dos pequenos aborrecimentos do dia-a-dia. O apóstolo Paulo recomendou: "Não se ponha o sol sobre a vossa ira" (Efésios 4.26). Isto significa que cada aborrecimento deve ser digerido no próprio dia. Quem fica acumulando aborrecimentos está preparando o caminho para um momento tenebroso quando chegar à crise da meia-idade. Acumular aborrecimentos com a esposa é preparar-se para a separação quando chegar a crise. Somar aborrecimentos com a carreira profissional é preparar-se para jogar tudo fora exatamente no momento em que o homem deve conservar o que conseguiu, pois não será mais um jovem para iniciar tudo de novo. O homem precisa estar consciente de que somos pessoas imperfeitas, convivendo com outras pessoas imperfeitas, num mundo que se tornou imperfeito por causa do pecado. Em todas as profissões, em todas as atividades, em todos os casamentos, os aborrecimentos são inevitáveis. Cabe ao homem aprender a conviver com tais aborrecimentos. E essa convivência será construtiva se nós tratarmos os aborrecimentos como tratamos as laranjas - chupando o caldo e jogando fora o bagaço. Em todos os aborrecimentos existem lições que devem ser aprendidas e maldades ou ma-entendidos que devem ser perdoados e esquecidos.
b) A ajuda na crise da meia-idade
O homem precisa de ajuda para vencer a crise da meia-idade.
A Igreja deve ajudá-lo com a compreensão. Assim como a Igreja releva as fraquezas dos adolescentes, deve ser paciente também com o homem na crise da meia-idade. A Igreja está acostumada a olhar as faltas de seus membros pelo ângulo da culpa, mas ela precisa aprendei a olhar pelo ângulo da necessidade. O homem na crise da meia-idade precisa de uma mão amiga e não de um dedo acusador. Às vezes, quando o membro mais precisa da compreensão e do amor da Igreja, ela o disciplina e o joga no olho da rua. Um homem em crise é um doente, e é como doente que ele deve ser visto e tratado.
A esposa deve ajudar o marido na crise da meia-idade. Ela deve estar consciente de que ele está passando por uma crise, compreendê-lo e tratá-lo com amor, em vez de julgá-lo e desprezá-lo. Ela não deve comportar-se como mãe, nem como conselheira, nem como juíza. Antes, deve transmitir-lhe uma palavra de esperança e de ânimo. Ela deve fazer suas as palavras do salmista: "Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Salmo 30.5). Mas ela deve, também, reconhecer que, provavelmente, tem parcela de culpa no aprofundamento daquela crise e aceitar a sua culpa sem tentar justificar-se.
A crise da meia-idade traz um risco muito sério de desestruturação do casamento. Por isso, a esposa deve proceder como uma namorada que tem consciência de estar correndo o risco de perder o namorado e que tudo faz para mantê-lo ao seu lado. Infelizmente, muitas esposas têm jogado o seu marido fora exatamente quando ele está enfrentando a crise da meia-idade. Depois se arrependem, mas já é tarde. E o prejuízo é muito grande para os dois!
Os filhos também devem ajudar o pai que está enfrentando a crise da meia-idade. Eles devem saber que o pai está passando por uma crise, compreendê-lo e tratá-lo com amor, em vez de julgá-lo e desprezá-lo.
Uma ajuda que jamais faltará é a de Deus. Jim Conway deu o seguinte depoimento: "No começo da minha crise me dei conta de que Deus era o meu aliado. Eu podia contar-lhe qualquer coisa, inclusive expressar-lhe os motivos contraditórios de minha própria personalidade, e Ele continuaria amando-me e aceitando-me. À medida que a crise se tornava mais aguda e eu entrava nas etapas de depressão e desejo de fuga, sabia intelectualmente que Deus continuava sendo meu amigo, embora não sentisse isto emocionalmente".7
Abaixo de Deus, quem mais pode ajudar o homem a vencer a crise da meia-idade é ele mesmo. Para isso, ele deve saber que está passando por um período de crise; não tomar decisões drásticas, tais como: abandonar sua carreira, deixar o emprego, romper com a família. Deve ser menos teimoso, menos rebelde, menos sentimentalista e mais racional. Enfim, deve deixar de ser menino e voltar a ser homem!
Conclusão
A crise da meia-idade é uma dura experiência que está reservada aos homens. Jim Conway descreve a sua crise em cores vivas, com tintas fortes. Ele conta: "Numa noite fria e de muito vento, fui fazer uma longa caminhada e tomei algumas decisões. Devia renunciar ao pastorado da igreja, escrever uma carta ao Seminário Fuller para dizer-lhes que ia abandonar o meu programa de doutorado, e outra à editora para dizer-lhe que não continuaria escrevendo. Transferiria tudo que possuo para
Sally, só ficaria com nosso automóvel e viajaria em direção ao sul. Para mim tudo estava terminado. Terminado com as pessoas, a responsabilidade, com a sociedade e até com Deus, que sempre tinha sido um grande amigo, mas que agora parecia muito distante e remoto, sem interessar-se pela agonia que eu estava passando".8 Mas Deus mudou a sua mente. Deu-lhe a vitória sobre a crise. E ele concluiu, dizendo: "Agora não sou o mesmo. Sou um novo homem - mais maduro, mais compreensivo, mais sensível".9
A crise da meia-idade tem como objetivo preparar o homem para viver melhor a última parte de sua vida terrena. Quem enfrentar esta crise de modo correto e receber a ajuda necessária, sairá dela mais forte, mais humano, mais seguro, mais gente, mais homem.
Para Refletir
O fracasso não está na crise, mas na maneira de tratá-la. Quem
enfrenta uma crise de modo correto, legítimo e honesto, sai dela
muito melhor. Sai mais fortalecido e mais amadurecido.
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1 Life Begins at Forty
2 The Revolt of The Middle-Age Man
3 Citada por Jim Conway, in Los Hombres en su Crisis de Mediavida, p. 17
4 Men in Mid Life Crisis
5 Jim Conway, op. ci., p. 29
6 Jim Conway, op. cit., p. 31
7 Jim Conway, op. cit., p. 243
8 Jim Conway, op. cit., p. 13
9 Jim Conway, op. cit., p. 247
14
A RESTAURAÇÃO DO CASAMENTO
O casamento estabelece entre esposo e esposa a mais profunda aliança que pode existir entre duas pessoas. Os dois se tornam "uma só carne". A partir daí, a união entre eles deveria ser a mais forte, a mais sólida e a mais resistente, capaz de suportar qualquer ataque interno ou externo. Mas infelizmente não é assim. Todo casamento tem as suas crises e está sujeito ao fracasso.
Alguns estudiosos da vida conjugal afirmam que a maioria dos casais passam por três ciclos: apaixonam-se e casam-se, entram em conflitos e perdem todo o amor que sentiam um pelo outro, solucionam os conflitos e voltam a sentir um pelo outro um amor muito maior. Muitos casais, infelizmente, não conseguem completar esse ciclo, porque se separam no meio do caminho. E assim perdem a oportunidade de desfrutar de uma união madura, sólida, construída em meio a lutas e fortificada pelo exercício de enfrentar e vencer os problemas. Na verdade, o que destrói o casamento não são as crises, mas a maneira como as crises são tratadas.
O seu casamento pode entrar em crise, pode chegar à beira do abismo, pode até parecer irremediavelmente fracassado, mas também pode ser restaurado.
A Vontade de Restaurar o Casamento
O ponto de partida para a restauração do casamento é a vontade de restaurá-lo. O fracasso na vida conjugal traz muito sofrimento, frustração e amargura. Mas nem sempre as pessoas querem restaurar o seu casamento. Algumas, por ressentimento. Outras, por autocomiseração. Tornaram-se doentes emocionais e usam a crise conjugal como muleta psicológica. Tais pessoas reclamam muito da sua situação, mas nada fazem para solucionar o seu problema. As suas reclamações não têm o objetivo de buscar ajuda, mas antes o de denegrir a imagem do seu cônjuge.
Os cônjuges em conflito devem abandonar as muletas da autocomiseração e buscar a solução para os seus problemas conjugais.
Uma questão séria surge quando um dos cônjuges quer restaurar o casamento, e o outro não quer. Jim Conway diz que, quando é procurado por um cônjuge em tal situação, ele responde: "Muito bem, trabalhemos com você e com seu crescimento espiritual e emocional, de modo que chegue a ser um cônjuge efetivo, eficaz, completo. Espero que seu crescimento produza uma mudança na atitude de seu cônjuge. Se isso não acontecer, você não terá perdido nada. Será uma pessoa mais feliz devido ao seu crescimento. Se seu casamento se desfizer, você estará mas bem preparado para enfrentar a separação, e terá melhorado grandemente seu potencial para relacionar-se com outras pessoas no futuro".1
Vale a pena lembrar aqui as palavras de Douglas Malock:
Se não puderes ser pinheiro no alto da colina Sê no vale algo de pequeno - mas sê a melhor coisa pequena na margem do regato. Sê um arbusto, se não puderes ser árvore. Se não puderes ser uma estrada, sê atalho. Se não puderes ser o sol, sê uma estrela;
- Pelo tamanho não te salvas nem te perdes.
- Sê o melhor do que quer que tu sejas.2
Quem deseja realmente restaurar o seu casamento e busca a ajuda apropriada, ainda que não consiga alcançar o seu objetivo, não perde o tempo, pois ganha amadurecimento emocional, crescimento no caráter e aperfeiçoamento como ser humano.
A Confissão e o Perdão
Outro ingrediente indispensável na restauração do casamento é a confissão e o perdão. Quando o casamento fracassa, cada um dos cônjuges tenta jogar a culpa sobre o outro. Mas a verdade é que ambos são responsáveis pelo fracasso. E é necessário que eles reconheçam isso e peçam perdão um ao outro.
Para o cristão, perdoar não é uma opção, é uma obrigação. "Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfémias, e bem assim toda a malícia. Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou" (Efésios 4.31,32).
Às vezes temos dificuldade em perdoar porque confundimos perdão com anistia. Julgamos que, se perdoarmos àqueles que nos ofenderam, eles ficarão impunes pelo que nos fizeram. Mas não é assim. Perdoar não é anistiar. Perdoar é confiar na justiça de Deus. E abrir mão de fazer justiça com as próprias mãos, na certeza de que a verdadeira justiça só poderá ser feita por Deus. O perdão é ato de obediência a Deus e confiança na justiça divina. Mas ele também remove o ódio e abre as portas para a restauração dos relacionamentos quebrados.
Além de refazer laços rompidos, o perdão é o melhor remédio para curar as feridas interiores. "Dentro de nós há um alívio quando perdoamos a alguém, quando deixamos sair o ódio e a hostilidade, pois experimentamos tranquilidade e felicidade."3 No livro de Jó temos um exemplo disso. Três amigos vieram trazer consolo, mas só causaram sofrimento a Jó. Zofar o acusou de iniquidade. Bildade, de falar demais. Elifaz, de impiedade e de grandes pecados. Mas Jó os perdoou. "Mudou o SENHOR a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra" (Jó 42.10).
A Redescoberta das Virtudes
Outro caminho que deve ser percorrido na restauração do casamento é a redescoberta das virtudes de cada cônjuge.
Os conflitos entre marido e esposa fazem submergir as virtudes e emergir os defeitos. Isto leva cada um a olhar para o outro e só ver defeitos. A partir daí, um passa a afirmar que o outro não é mais o mesmo. Outros acusam o cônjuge de hipócrita, afirmando que antes do casamento mostrava um tipo de comportamento que não era o seu, com o objetivo de laçá-lo. Na verdade, o que está acontecendo é que as mágoas não estão permitindo que um veja as virtudes do outro.
Conta-se que um marido procurou um conselheiro matrimonial para relatar as maldades de sua esposa. Dizia que queria separar-se porque ela não o merecia. E queria que a separação a fizesse sofrer muito, para pagar todo o mal que ela lhe havia feito. Após ouvi-lo, o conselheiro deu-lhe a seguinte orientação: "Se você separar-se dela neste momento, ela terá uma sensação de alívio, e não de perda. Vocês estão vivendo tão mal que ela não terá motivos para sofrer com a separação. Mas se você der a ela a impressão de que está apaixonado por ela, no dia em que você sair de casa ela ficará arrasada."
E o marido perguntou: "Mas o que devo fazer para que ela pense que estou apaixonado?". O conselheiro respondeu: "Volte para a sua casa, procure observar tudo de bom que a sua esposa fizer, e elogie tudo. Mas só elogios sinceros. Dentro de algum tempo ela se sentirá nas nuvens. Aí você pega a sua mala, e vai embora. Ela se sentirá arrasada".
O marido voltou para casa e passou a observar cuidadosamente a esposa. Tudo de bom que ela fazia, ele elogiava. Três meses depois o conselheiro o encontrou e lhe disse: "Agora chegou a hora de separar-se da sua esposa. Pegue a sua mala, e saia de casa". Mas ele respondeu: " Só se eu estivesse louco para fazer isso. Onde encontraria uma esposa como a que tenho?".
Aquele marido havia feito a redescoberta das virtudes da esposa.
A Reconciliação com Deus
A restauração do casamento tem de passar pelo caminho da reconciliação com Deus. As brigas, os desentendimentos, as mágoas e os ressentimentos causados pelos conflitos conjugais levam o casal a se afastar de Deus. E, para restaurar completamente o seu casamento, eles precisam restaurar também o seu relacionamento com o Criador.
Felizmente o nosso Deus é um Deus perdoador. Davi afundou espiritualmente em suas crises conjugais e existenciais. Adulterou, mentiu, adulou, tramou o mal, matou. Quando tomou consciência do abismo onde tinha caído, sentiu-se sujo, embrutecido, insensível, completamente arrasado. Mais tarde ele relatou a sua experiência em alguns salmos. Na oração registrada no Salmo 32 ele diz: "Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim; e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. ... E tu perdoaste a iniquidade do meu pecado" (Salmo 32.3-5).
O ser humano foi criado para viver em comunhão com o Criador. E sempre que ele se afasta deste propósito, entra num processo de degradação psicológica, moral e espiritual. Logo, não basta reconciliar-se com o cônjuge para restaurar o casamento. É necessário reconciliar-se também com Aquele que instituiu o casamento. A parábola do filho pródigo nos dá um roteiro do caminho a seguir para a reconciliação com Deus. Primeiro, ele reconheceu que estava errado. Depois lembrou-se de que seu pai tinha os recursos necessários para socorrê-lo. A seguir iniciou o caminho de volta. Chegou à casa paterna e foi recebido de braços abertos. Deus, corno pai amoroso, está de braços abertos para receber todos os filhos que voltarem para Ele.
Tentar restaurar um casamento sem restaurar a comunhão com Deus é candidatar-se ao fracasso. Poderão ocorrer mudanças, mas elas serão meramente paliativas. A solução definitiva só será alcançada se esposa e esposa estiverem de bem com Deus.
Conclusão
O casamento pode entrar em crise, mas não precisa desfazer-se por isso. Casamentos danificados podem ser totalmente restaurados. Duas pessoas que iniciaram a mais importante e agradável aventura humana, que é o casamento, não precisam desistir diante dos empecilhos. Basta querer sinceramente e buscar de modo correto a solução.
Para Refletir
"A concórdia não é uniformidade de opiniões, mas concordância de vontades"
(São Tomás de Aquino)
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1 Jim Conway, Los Hombres en su Crisis de Mediavida, p. 155
2 Citado por Martin Luthcr King Jr., in Força Para Amar, p. 127
Jim Conway, op. cit., p. 158
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A MANUTENÇÃO DO CASAMENTO
Deus instituiu o matrimónio para a felicidade do género humano. O seu propósito é que marido e esposa vivam juntos e felizes, até que a morte os separe.
Mas a felicidade conjugal não cai do céu, como chuva. Pelo contrário, ela deve ser cultivada no dia-a-dia, com muito cuidado, carinho e atenção. "O casal começa a vida conjugal com um amor profundo. Por causa das suas diferenças naturais, que aos poucos vão-se tornar mais e mais evidentes, entram conflitos em seu relacionamento. Se eles não aprenderem a resolver esses conflitos, seu amor será substituído por hostilidade e animosidade, reduzindo suas possibilidades de um casamento feliz".1
Casar-se é fácil, difícil é manter o casamento. Alguns casais pensam que, após o sim perante a autoridade competente, o seu casamento está pronto, como um edifício inaugurado. Mas "um casamento bem-sucedido é como um prédio que precisa ser reedificado todos os dias". John e Betty Drescher declaram: "Gostaríamos de dizer que o casamento é um edifício que vamos construindo dia a dia. Algumas vezes compreendemos que parte da estrutura está fraca e precisa ser reforçada. Outras vezes precisamos reformar a fim de que ela se torne mais útil, segura e aproveitável. Em certas ocasiões notamos a necessidade de reparos maiores para que a casa não desmorone. Todas essas providências são necessárias no casamento".2
O projeto do casamento foi feito por Deus. E esta é a garantia de que, se construirmos segundo a sua orientação, o edifício será belo, seguro, confortável, aconchegante - um verdadeiro paraíso.
O Mito do Casamento Perfeito
Mesmo construindo segundo a orientação de Deus, o casamento ainda não será perfeito. O único homem que podia ser um marido perfeito não se casou. Este homem é Jesus Cristo, e o casamento não fazia parte de sua missão neste mundo. A mulher que tinha maiores probabilidades de ser uma esposa perfeita era Eva, antes de pecar. Mas ela se deixou seduzir pela serpente, arrastou seu marido para o pecado e arruinou a humanidade.
Todos os maridos são imperfeitos. Todas as esposas são imperfeitas. Logo, não pode existir casamento perfeito.
Os cônjuges que encarnam o mito do casamento perfeito acabam na sarjeta da cobrança exagerada, da insatisfação ou da hipocrisia. Como são imperfeitos, cada um dos cônjuges faz cobranças exageradas de si mesmo ou do outro, com o objetivo de atingir a perfeição. Tal comportamento gera desarmonia e insatisfação. A qualidade do relacionamento se deteriora. E aqueles que já passaram para a família ou para a comunidade a imagem de casal perfeito correm o sério risco de assumir uma postura hipócrita para manter tal imagem.
Lute por um bom casamento, mas exorcize o mito do casamento perfeito.
O Marketing no Casamento
O marketing poderá ser uma excelente ferramenta para ajudar o casal a manter o seu casamento.
A maioria das pessoas têm ideias equivocadas a respeito do marketing. Para algumas, marketing é propaganda; e tem como objetivo levar-nos a comprar aquilo de que não necessitamos. Outras pensam que marketing é um conjunto de técnicas de manipulação que, usadas por pessoas habilidosas, "fazem a nossa cabeça", levando-nos a adotar ideias e atitudes de terceiros. Mas marketing não é nada disso; embora possa ser usado também para tais finalidades
"Marketing é uma expressão anglo-saxônica derivada da palavra mercari do latim, que significa comércio, ou ato de mercar, comercializar ou transacionar".3 Em 1969, Philip Kotler, reconhecido internacionalmente como autoridade em marketing, e Sidney Levy, sugeriram que o marketing devia abranger também as instituições não lucrativas. Hoje entende-se que o marketing se aplica a todas as áreas da atividade humana. Com esta amplitude, marketing pode ser definido como um conjunto orgânico de princípios e estratégias orientadas para detectar e atender às necessidades de indivíduos, de grupos de indivíduos ou de organizações.
Aplicar o marketing ao casamento significa desenvolver um conjunto de princípios e estratégias para detectar e atender às necessidades de seu cônjuge. Podemos exemplificar isto na área da alimentação. Que tipo de "prato" mais agrada ao seu cônjuge? Você sabe a resposta? Pois é importante descobrir e satisfazer esta necessidade de seu cônjuge. Se você é o marido, compre os ingredientes necessários para que sua esposa prepare o prato da predileção dela. Se você é a esposa, prepare o prato predileto de seu marido.
Este foi apenas um exemplo, e bem simples. Lembre-se de que seu cônjuge possui necessidades físicas, emocionais, psíquicas e espirituais. E você deve descobrir tais necessidades e supri-las. O apóstolo Paulo fez a seguinte recomendação: "Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também o que é dos outros" (Filipenses 2.4). Aplicando tal ensino ao casamento, isto significa que você, em vez de se ocupar apenas com as suas necessidades, deve atentar para as necessidades de seu cônjuge e satisfazê-las. Muitos casamentos têm fracassado porque os cônjuges se preocupam apenas com a satisfação de suas próprias necessidades. Com isto o outro estará sempre - ou quase sempre - insatisfeito. E cônjuge insatisfeito é cônjuge infeliz.
Lembre-se de que o êxito do seu casamento depende muito da satisfação do seu cônjuge. Marido e esposa satisfeitos e felizes são a garantia de um casamento estável.
A Disposição Para a Mudança
Uma das coisas que mais colaboram para a manutenção do casamento é a disposição para mudança. "O casamento feliz é feito por aqueles que acreditam na possibilidade contínua de mudança e em que a vida é sempre imprevisível. No casamento feliz existe a vontade de mudar e de expandir a percepção de nossas necessidades e sentimentos. No casamento feliz os cônjuges aprendem também a ajustar-se e a ceder a fim de criar os relacionamentos que acrescentam vitalidade e significado à vida."4
Ajustar e ceder são duas atitudes básicas para a manutenção do casamento. Ajustar significa adaptar-se a uma situação nova. Ceder significa andar a segunda milha, abrir mão de direitos inquestionáveis. Muitos casamentos fracassam porque cada cônjuge quer que o outro se ajuste ou ceda. Mas é você quem deve ajustar-se e ceder. "Quase todo o mundo conhece o tríplice axioma básico: Não se pode mudar a nenhuma outra pessoa por ação direta; só podemos mudar a nós mesmos. Mas, ao mudarmos, os outros tendem a mudar em relação a nós. Se você deseja um matrimónio melhor, é mister abandonar, de uma vez por todas, qualquer esperança de mudar o seu cônjuge por ação direta".5 Procure mudar a si mesmo, adaptar-se e ceder, e o seu cônjuge também mudará em relação a você.
Deus, o Patrono do Casamento
A Escritura Sagrada afirma: "Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam" (Salmo 127.1). Podemos entender casa também como casamento. Se o Senhor não edificar o casamento, todos os esforços humanos serão inúteis. "Um bom casamento não é apenas um contrato entre duas pessoas, mas uma aliança sagrada entre três - Deus, a esposa e o marido. Se não nos dedicarmos a dar honra a Deus, não há muito que possamos fazer para resistir à crescente degradação e destruição do laço conjugal hoje em dia."6
O fracasso de muitos casamentos tem uma única explicação: a ausência de Deus na vida do casal. Não que Deus se tenha ausentado dessas pessoas, mas elas se tornaram impermeáveis à atuação divina. Isto pode ser ilustrado com uma maneira rudimentar usada para proteger plantas da geada, em alguns lugares: as pessoas cobrem as plantas com um plástico; a geada cai sobre elas, mas o plástico não deixa que elas sejam atingidas. Muitos casais têm colocado plásticos espirituais sobre seu casamento, impedindo assim que ele seja atingido pelas bênçãos de Deus. Tais plásticos podem ser a indiferença, o desinteresse ou a incredulidade. E o resultado é o fracasso.
Martin Luther King Júnior afirmou que a maioria das pessoas pode ser considerada ateus práticos. E explica: "Não negam a existência de Deus nas palavras, mas a negam constantemente nas suas vidas. Vivem como se Deus não existisse. Talvez, ao riscar Deus das suas agendas, não tenham bem consciência disso. Muitos deles não terão dito abertamente: 'Adeus, Senhor, vou deixar-Te\ mas estão tão preocupados com as coisas deste mundo que, inconscientemente, se deixam arrastar pela maré impetuosa do materialismo".7
A vida conjugal pode ser comparada à travessia de um oceano. Nessa viagem há muita coisa linda para ser admirada, momentos de grande deslumbramento e alegria. Mas há também temporais longos e perigosos, rajadas de ventos impetuosos e ondas altas e ameaçadoras. E se o casal não se mantiver numa profunda comunhão com Deus, ficará sem defesa diante das dificuldades, das desilusões e dos perigos.
John e Betty Drescher escreveram: "Se estivéssemos começando outra vez nosso casamento, faríamos um compromisso mútuo, desde o início, a fim de colocar em prática aquelas atitudes e atos que colocam Deus no centro de nosso lar".8
Conclusão
Algumas pessoas têm afirmado que marido e esposa devem viver juntos, até que a morte os separe, mesmo que tenham de comer o pão que o diabo amaçou. Ou seja, mesmo que isto signifique sofrimento, humilhação, desrespeito, agressão e coisas dessa natureza. Mas isto não é verdade. O plano de Deus para os casais é que eles devem viver juntos, felizes, até que a morte os separe. Viver felizes é o objetivo; até que a morte os separe, a consequência. E o maior empenho de cada casal deve ser no sentido de alcançar este ideal divino.
O casamento nasceu no Éden, num jardim. E cada casal deve viver o seu próprio Éden. Mas isto não é fácil não cai do céu, não se recebe de graça. Cada casal precisa conquistar o seu próprio Éden.
Para Refletir
"Ninguém tem o direito de ser feliz sozinho"
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