Estamos vivendo num tempo em que muitas grandes mudanças de caráter estão ocorrendo em cada área. Certamente não é tempo de estagnação. Não apenas a aparência das coisas tem mudado grandemente na metade de uma vida, mas há nesses dias imediatos uma tremenda aceleração nesta mudança, de modo que não sabemos qual pode ser a situação do mundo de um dia para o outro.
O que se obtém no geral não é menos verdade -talvez até mesmo mais verdadeiro- no cristianismo. Tudo está num campo de dúvida e incerteza, isto é, no que diz respeito à moldura, à forma, à obra, à maneira e a perspectiva terrena. Podemos ir mais além e dizer que -muito provavelmente na soberania e na providência de Deus- as condições (já bastante avançadas no Leste) estão literalmente compelindo os cristãos a reconsiderarem os seus fundamentos, e levando pessoas responsáveis a enfrentar toda essa questão de reorientação exigida.
Se estamos próximos da consumação desta era, então, isto é exatamente o que podemos esperar. Somente a verdade em sua real essência irá suportar o teste que será forçadamente lançado sobre todas as coisas pelo próprio Deus, e este “julgamento deve começar pela casa de Deus”. Todos os acessórios, equipamentos, acompanhamentos, parafernálias e ‘etc’ do cristianismo será despojado, e somente a dura realidade permanecerá no final. A Escritura fala de uma "ardente prova que virá sobre todos os habitantes da terra, para provar os seus moradores”. A tragédia do nosso tempo é que muitos líderes responsáveis ou estão tão ocupados e preocupados com a obra, ou estão tão superficialmente otimistas que não estão conscientes da real emergência implícita no progresso do mundo.
Há uma necessidade crescente para tal suprimento em muitas conexões, mas não menos na questão do Evangelho em si. Apressemo-nos em deixar claro que não estamos implicando que há qualquer necessidade para uma reconsideração ou reorientação da essência do Evangelho. Não, enfaticamente não! Ele, em sua natureza e constituição essencial, permanece “O Evangelho Eterno”. Mas há uma necessidade real para uma apreensão fresca de qual é esta realidade do Evangelho. A própria palavra ou termo ‘Evangelho’ tem implicado algo menos do que “todo o conselho de Deus”, e tem sido aplicado quase que exclusivamente aos princípios da vida cristã.
Quando o apóstolo que escreveu a carta aos Hebreus demonstrou a grandeza transcendente de Cristo, o Filho de Deus, em cada área, seja dos patriarcas, profetas, anjos, ou qualquer outro, ele resumiu tudo -algo vasto- numa única frase: “tão grande salvação”; da qual salvação ele declarou que até mesmo negligenciá-la -não necessariamente se opor a ela, ou resisti-la- envolveria uma condenação inevitável.
Nas páginas deste pequeno volume, temos buscado suprir esta necessidade de recuperação, ou de re-apresentação, alguma coisa -somente alguma coisa- da grandeza do Evangelho, e mostrar que tudo para a vida, serviço, progresso, e vitória depende da real compreensão de sua grandeza.
CAPÍTULO 1 - EM SUA CARTA AOS ROMANOS
“...o evangelho que prego...”(Gl.2.2)
“Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado ... “ (1 Co. 15.1)
“Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens.” (Gl 1.11)
“O evangelho que prego”. “O evangelho que foi pregado por mim”.
Há no Novo Testamento quatro principais designações para o assunto básico com que ele trata, a verdade vital com que ele se ocupa, e essas quatro designações são O Evangelho, O Caminho, A Fé, e O Testemunho. Isto que agora tem se tornado conhecido como ‘cristianismo’ era, então, expresso por uma ou outra dessas designações. Dessas quatro, a mais usada é a primeira - O Evangelho. Este título, pela mensagem inclusiva do Novo Testamento, ocorre lá pelo menos cem vezes - isto é, na forma nominal, ‘O Evangelho’. Na forma verbal correspondente, ocorre muito mais vezes, porém, irreconhecíveis por nós, porque está traduzido por várias palavras inglesas diferentes, mas em grego isto é exatamente o que foi dito. Quando pregavam, concebiam a si mesmos como anunciando boas notícias a tudo e a todos. Pregar o evangelho era simplesmente anunciar boas novas.
É impressionante que esta palavra, pequena, para a fé cristã - ‘o evangelho’ - abunda em vinte dos vinte e sete livros do Novo Testamento. As exceções são: o Evangelho segundo João, onde você não irá encontrá-la, nem irá encontrá-la nas três cartas de João. Você não irá encontrá-la na segunda carta de Pedro, nem em Tiago, ou Judas. Mas estes escritores tinham os seus próprios títulos para a mesma coisa. Mencionamos entre quatro, ‘O Testemunho’: este é o título peculiar de João para a fé cristã - freqüentemente, com ele, ‘O Testemunho de Jesus’. Com Tiago é ‘A Fé’. Porém você vê quão preponderante é este título de ‘as boas novas’, ‘O Evangelho’.
A Extensão do Termo ‘O Evangelho’
Assim, temos que levar em consideração bem no início de um fato muito importante. É que este termo, as boas novas, cobre toda a extensão do Novo Testamento, e abrange todo o conjunto daquilo que contém o Novo Testamento. Não é apenas essas certas verdades que se referem ao início da vida cristã. O evangelho não está confinado a verdades ou doutrinas ligadas à conversão e, neste senso limitado, salvação - a questão inicial de se tornar um cristão. O evangelho vai muito mais além do que isto. Repito, ele abrange tudo aquilo que o Novo Testamento contém. Ele tanto é o evangelho nas profundas cartas aos Efésios e aos Colossenses, quanto é na carta aos Romanos - talvez um documento não menos profundo, mas geralmente tido como estando principalmente ligado com o princípio da vida cristã.
Não, este termo, as ‘boas novas’, cobre todo o terreno da vida cristã, do início ao fim. Possui um vasto e diversificado conteúdo, que toca cada aspecto e cada fase da vida cristã, do relacionamento do homem com Deus, e do relacionamento de Deus com o homem. Está tudo incluído nas boas novas. O não salvo precisa das boas novas, mas o salvo igualmente precisa delas, e eles constantemente precisam das boas novas. Os cristãos constantemente precisam de algumas boas novas. Eles precisam dela como sua mensagem, a substância de sua mensagem. Eles precisam dela para seu encorajamento, e suporte. Quão bastante os servos do Senhor precisam das boas novas, para encorajá-los na obra, e apoiá-los em todas as demandas e custos de suas labutas! A Igreja necessita das boas novas para a sua vida, para o seu crescimento, para a sua força, para o seu testemunho. E assim, o evangelho entra em cada ponto, toca cada fase.
Agora, quanto ao nosso presente método nas páginas que seguem. Pediria a você para me seguir cuidadosamente, e compreender aquilo que estou tentando dizer realmente sobre o fundamento desta palavra. Vamos perseguir o que irei chamar de o método ‘resultante’: isto é, extrair a conclusão da matéria toda, e não só o aspecto particular de cada porção do Novo Testamento.
Deixe-me ilustrar. Tome, por exemplo, a carta aos Romanos, que iremos considerar por um momento. Todos nós sabemos que esta carta é o grande tratado da justificação pela fé. Mas a justificação pela fé é mostrada como algo infinitamente maior do que muitos de nós já tem compreendido, ou entendido, e a justificação pela fé tem uma conotação e relação muito ampla. Tudo aquilo que está contido nesta carta aos Romanos se esclarece em apenas uma gloriosa questão, e isto é o porque ela começa com a afirmação de que aquilo que ela contém é ‘o evangelho’. “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus... a respeito de Seu Filho”. Agora, tudo o que segue é ‘o evangelho’ - mas que tremendo evangelho está ali! E nós temos que, de alguma forma, resumir tudo numa única conclusão. Temos que perguntar a nós mesmos: ‘Afinal de contas, qual a conseqüência de nossa leitura e de nossa consideração desta maravilhosa carta?’ Como você vê, a justificação não é o princípio das coisas, nem o fim delas, a justificação é o ponto de encontro de um vasto princípio e de um vasto fim. Isto é, é o ponto no qual toda a eternidade passada e toda a eternidade futura estão focadas. Isto é o que esta carta revela.
O Deus de Esperança
Vamos agora olhar para ela um pouquinho mais de perto, naquela luz em particular. Qual é o assunto, qual é o resultado? Este resultado está reunido em apenas uma única palavra. É algo muito grande quando você pega um grande documento como este e o coloca numa palavra. Qual é a palavra? Bem, Você irá achá-la se for para o final da carta. É significativo que ela venha no ponto onde o apóstolo está resumindo. Ele escreveu sua carta, e ele está agora a ponto de fechá-la. Aqui está.
“Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo.” (Rm 15.13).
Se a sua anotação de margem é boa, ela lhe dará referências a outras ocorrências desta palavra nesta mesma carta. Você irá achá-la já no capítulo 5, verso 4; você a encontra novamente no capítulo 8, versos 24 e 25; novamente no capítulo 12, verso 12; e, então, no capítulo quinze - primeiro no verso 4, e finalmente aqui em nossa passagem, verso 13. “O Deus de esperança”. Esta é a palavra na qual o apóstolo reúne o todo desta maravilhosa carta. Este, então, é o evangelho do Deus de esperança; mais literalmente, as ‘boas novas’, ou as ‘boas notícias’, do Deus de esperança. De modo que o que realmente está em vista nesta carta, do começo ao fim, é esperança.
Uma Situação Sem Esperança
Agora, muito obviamente, esperança não tem significado e não faz sentido, exceto à luz do contrário - exceto se o contrário existir. O método Divino nesta carta, portanto, em primeiro caso, é colocar as boas novas em contraste com uma situação desesperançosa, a fim de dar um relevo claro a esta grande palavra - esta última questão, esta conclusão, este resultado. Uma situação realmente sem esperança é estabelecida. Olhe para o método Divino nisto. A situação é estabelecida em duas conexões.
(a) Na Questão de Herança
Primeiramente, está exposta em relação à raça - a questão toda de hereditariedade. Se olharmos o capítulo 5, com o qual estamos tão familiarizados, vemos lá que a raça está ligada a Adão - ‘como por um homem...’ (verso 12). Toda raça humana está ligada à sua origem e fonte principal no primeiro Adão. O que está claro neste capítulo é isto. Houve um ato desobediente por meio da incredulidade, o que resultou em ruptura do relacionamento do homem com Deus. “Por meio da desobediência de um só homem” (verso 19), Paulo coloca isto - não apenas aqui, mas em sua carta aos Coríntios (1Co. 15.21,22). E, a partir de então, todos os homens descendentes daquele homem, Adão, tornaram-se envolvidos naquele ato de desobediência e suas conseqüências - principalmente a ruptura do relacionamento entre o homem e Deus.
Mas isto não é tudo. Aquilo que se seguiu imediatamente, como o efeito daquele ato, foi que o homem se tornou desobediente e incrédulo em sua natureza. Não foi apenas um ato isolado que ele cometeu, não apenas alguma coisa na qual ele tinha caído por um momento. Algo saiu dele, e algo também entrou nele, e o homem se tornou uma criatura desobediente e incrédula. Ele não apenas agiu daquela maneira, mas ele se tornou aquilo; e a partir daquele momento, a real natureza do homem é a incredulidade, a natureza do homem é a desobediência. É a sua constituição, e todos os homens herdaram isto.
Isto é algo que não pode ser ajustado, como você vê. Quando você tem se tornado um certo tipo de ser, faltando um certo fator, você não pode ajustar. Você não pode se ajustar a algo que não está lá. Nenhum homem pode crer, a menos que lhe seja dado por Deus a capacidade de crer. A fé ‘não é de nós mesmos, é dom de Deus’ (Ef. 2.8). Nenhum homem pode ser obediente a Deus separado de um poderoso agir de Deus nele, fazendo com que ele seja de uma natureza ou disposição obediente. Você não pode se ajustar a algo que não existe. Assim, a situação é bastante sem esperança, não é? Algo saiu, e alguma outra coisa que é lhe oposta entrou e tomou o seu lugar. Esta é a condição da raça humana aqui. Que quadro de desesperança desesperadora para toda a raça! Esta é a nossa herança. Estamos nesse aperto.
Você naturalmente irá concordar que em outras áreas, em outros departamentos da vida, a hereditariedade é algo sem qualquer esperança. Geralmente usamos a real desesperança como uma linha de argumento pela qual possamos nos escusar. Dizemos, ‘Eu sou assim: não adianta você tentar me fazer isto - eu não sou assim’. Você simplesmente está argumentando que possui em sua constituição algo que torna a situação completamente impossível. E deixe-me tomar esta oportunidade para enfatizar que é totalmente sem esperança para nós tentar achar em nós mesmos aquilo que Deus requer. Iremos nos despir, e no final, chegaremos a esta mesma posição que Deus tem colocado, afirmado e estabelecido - é sem esperança! Se você estiver lutando para ser um tipo diferente de pessoa daquela que você é por natureza, tentando se livrar daquilo que herdou - bem, você está condenado ao desespero: e ainda, quantos cristãos nunca aprenderam esta lição fundamental! Para toda a raça, a hereditariedade significa falta de esperança. Se isto precisa de atenção, absolutamente, temos apenas que considerar o conflito e a batalha que para se crer em Deus, para se ter fé em Deus. Você sabe que é uma obra profunda do Espírito de Deus em você que o leva, tanto inicialmente como progressivamente, a crer. É o ‘pecado que tão de perto nos rodeia’ - incredulidade - seguida, naturalmente, pela incapacidade de obedecer. Somos aleijados de berço; nascemos condenados nesta questão devido a nossa hereditariedade.
(b) Em Questão de Tradição Religiosa
Então o Senhor leva a coisa para um outro campo. Espero que você reconheça o significado do contexto, o escuro contexto, contra o qual esta palavra ‘esperança’ é colocada. O Espírito de Deus, através dos apóstolos, leva-a para o campo da tradição religiosa, como exemplificado pelos judeus. Tudo agora para eles está ligado a Abraão e a Moisés. Quanto o apóstolo tem a dizer sobre Abraão e sua fé - “Abraão creu” - e, então, sobre Moisés, e a lei que veio. E aqui há algo de tremendo significado e importância que devemos observar, pois aqui vemos a função particular que estava em vista na escolha soberana de Deus da nação judaica. Você alguma vez já pensou sobre isto desta maneira? Há muitas coisas que poderiam ser ditas sobre a nação judaica, seu passado, presente e futuro, mas o que se sobressai aqui tão definitivamente é a sua função na soberania de Deus. Era, e ainda é, sua função, no que diz respeito ao testemunho, isto é, o testemunho de sua história. Ela foi apenas para mostrar uma única coisa. Você pode ter um grande pai - eu realmente quero dizer um grande pai! - E você pode possuir a melhor tradição religiosa; porém, nada disto é aproveitado em sua hereditariedade, isto é, isto não é transmitido para a sua natureza.
Que pai foi Abraão! Que sorte ter “Abraão como o nosso pai!” Que espécie magnífica de fé e obediência tinha Abraão! Eles eram todos descendentes de Abraão; como nação, eles procediam de Abraão. E que sistema era a religião judaica, no que diz respeito ao padrão, um padrão ético, moral e religioso. Não há nada que possa ser aprimorada nela, baseando nas religiões do mundo. Que magnífico sistema de preceitos religiosos era a religião judaica, que veio por Moisés! - não apenas os dez mandamentos, mas todos os demais ensinamentos que compunham a lei, abrangendo cada aspecto da vida do homem. E eles eram os filhos daquilo: contudo, o que você encontra aqui? Você não encontra a fé de Abraão neles, e você não encontra o reflexo daquele grande sistema neles, em sua natureza. Estas mesmas pessoas, vindo de uma pessoa como Abraão, e sendo os herdeiros de todos aqueles oráculos do sistema de Moisés, em suas naturezas estão destituídos de tudo que está representado por Abraão e Moisés. Essas pessoas ainda são caracterizadas por - O quê? Incredulidade, apesar de Abraão; desobediência, apesar de Moisés! O que poderia ser mais sem esperança?
Algumas pessoas têm a idéia que, se eles têm um bom pai e uma boa mãe, isto os coloca numa posição muito segura, porém a natureza humana não sustenta tal testemunho. Pode haver vantagens em se ter tido bons pais - algumas vantagens; mas não há qualquer garantia de que você irá escapar de todas as dificuldades, e de todos os conflitos, e de todos os sofrimentos para conseguir sua própria fé. O fato é que os pais podem ser totalmente separados para Deus, podem ser os mais devotos, os mais piedosos, e, contudo os seus filhos os mais renegados. Uma coisa estranha, não é? A disposição à fé e à obediência não está no sangue. A tradição religiosa da melhor espécie não muda a nossa natureza, por melhores que tenham sido os nossos pais. Você pode ter orado desde o princípio por uma amável criança, desde o tempo que ela era um pequenino bebê; você pode ter procurado viver em função disso diante de Deus: e mesmo assim aqui está uma criança egoísta, desobediente - e tudo mais.
Esperança Numa Situação Desesperadora
Quão desesperadamente sem esperança esta situação é! Porém esta é a forma na qual o Senhor estabelece um cenário para esta coisa tremenda chamada esperança. E assim, chegamos à uma solução transcendente, e eu uso esta palavra cuidadosamente à esta altura, porque aqui está algo muito grande. Esta é uma imensa montanha, a montanha da hereditariedade: mas há algo que transcende tudo, está acima de tudo; uma solução que se levanta acima de toda falta de esperança e desespero da situação natural; e isto é o que é chamado de ‘evangelho’. Oh, isto deve ser boas novas! De fato este é o porque ele é chamado ‘boas novas’! Boas Novas! O que ele é? Há esperança na situação mais desesperadora.
O Evangelho No Passado Eterno
Agora, se olharmos para esta carta como um todo, encontraremos que, as boas notícias ou as boas novas, do evangelho não está apenas na cruz do Senhor Jesus - embora ela seja o ponto focal do evangelho, como veremos num instante. As boas novas, ou o evangelho, é algo muito, muito maior até que a cruz do Senhor Jesus! O que é isto? São “as boas novas de Deus... concernentes a Seu Filho...Jesus Cristo, nosso Senhor”. A cruz é apenas um fragmento da significação do próprio Jesus Cristo.
Assim, esta carta, o que ela faz? Ela nos leva diretamente para dentro da eternidade do Filho de Deus. Isto é maravilhoso, se você compreender. Se este evangelho não salvar você, eu não sei o que poderia salvar. Aqui somos levados diretamente para a eternidade passada do Filho. “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” Rom.8.29. Ele devia ter tido Seu Filho, o Modelo Mestre, em vista lá antes que qualquer homem fosse criado, o modelo eterno que o Filho era: antes que houvesse qualquer necessidade de redenção, expiação, a cruz, o Filho era o modelo eterno de Deus para o homem. E, observe, é tão positivo, tão definitivo. É naquele tempo que significa um ato definitivo, uma vez para sempre. “A quem dantes conheceu, também preordenou”. É algo que foi feito antes que houvesse tempo. É aí que começa o evangelho.
Sim, vemos o Filho em Sua eternidade como o modelo eterno de Deus; e, então, temos a eternidade da soberana redenção. A soberana redenção está incluída nele. ‘Ele preordenou, chamou, justificou, glorificou’. Agora, estas três últimas coisas não são subseqüentes. Todas elas pertencem ao mesmo tempo - que não é tempo propriamente dito; é eternidade. Não é dito que Ele conheceu de antemão e preordenou, e,então, no curso do tempo, Ele chamou, e justificou, e glorificou. Você vê no que está engajado se tomar isto em consideração. Muitos de nós temos sido chamados e justificados, mas não estamos glorificados ainda. Mas está dito ‘Ele glorificou’, no tempo de uma vez por todas (aoristo).
Isto deve significar, então, que quando Ele tomou esta matéria em mão, em relação a seu modelo eterno, o Senhor Jesus, Ele terminou tudo em propósito e intenção soberana. Foi consumado, então, de modo que o vaso estragado é um incidente no tempo; um terrível incidente, uma tragédia, que o vaso foi estragado na mão do oleiro; porém, por tudo isto, um incidente no tempo. O conselho de Deus transcende a tudo o que tem entrado no tempo. Caro amigo, quando o Senhor projetou todo o plano da redenção, não foi porque algo tinha acontecido, exigindo um movimento de emergência para tentar solucionar a situação. Ele já tinha antecipado a coisa toda, e tinha tudo na mão para satisfazer a contingência. O Cordeiro foi ‘morto antes da fundação do mundo’ (Ap. 13.8). A cruz retrocede acima do tempo, muito antes do pecado, antes da queda, antes de Adão - diretamente ao Filho eterno, antes dos tempos eternos. A cruz chega lá - ao ‘Cordeiro morto antes da fundação do mundo’.
Que grande esperança está aqui! Se isto é verdade, se pudermos compreender, isto é boa nova, não é? Nós causamos toda a situação em nós mesmos, que é tão sem esperança; Deus providencia tudo em Seu Filho para solucionar a nossa desesperança. E Deus não está experimentando porque algo saiu errado - ‘Precisamos encontrar algum tipo de remédio para isto, devemos encontrar algo com o qual possamos experimentar, a fim de ver se podemos satisfazer esta emergência; o homem ficou doente, e precisamos procurar um remédio’. Não; Deus já cobriu isto desde a eternidade, já satisfez isto desde a eternidade, em Seu Filho. É o evangelho, as boas novas, de Deus ‘concernente a Seu Filho’. Isto pode suscitar alguns problemas mentais, mas aqui está a declaração deste livro. A esperança, como você pode ver, não é destruída por causa da queda de Adão: a esperança retrocede muito aquém do pecado do homem.
Você diz, ‘Então, pra quê a cruz?’ Bem, a encarnação e a cruz estão apenas refletindo o que fora estabelecido na eternidade - trazendo da eternidade para o tempo numa forma prática, tornando efetivo para o homem em sua condição de necessidade desesperadora, aquele grande propósito, intenção, desígnio de Deus concernente a Seu Filho. A cruz é o instrumento que leva o vale, do pecado e da falta do homem, para o nível do eterno conselho de Deus, e restaura o curso daquilo que no fim das contas não é afetado por aquilo que aconteceu no tempo. Tremendas boas novas, esta, não é? A cruz se torna a ocasião de fé pela qual tudo isto transcende - naturalmente, ela provê o campo para a nossa fé - e, quando a fé age em relação a cruz, o que acontece? Somos levados para Cristo: não para o Jesus dos três anos e meio, ou até mesmo dos trinta anos, mas levados para Cristo como representando o eterno plano de Deus para o homem. A fé nos traz para isto. Esta é a boa nova, ‘as boas novas concernentes a Seu Filho’; o evangelho, as boas novas do ‘Deus de esperança’.
Como você vê, a esperança é encontrada na eterna provisão de Deus, fora do tempo: e esta é uma rocha muito segura sobre a qual pisar! Sim, achados na rocha eterna da filiação de Cristo, não sobre um plano posterior e uma medida de emergência, para solucionar algo que não saiu como o desejado. A esperança está fundada e ancorada fora do tempo. O apóstolo, escrevendo aos Hebreus, usa um quadro, uma metáfora. ‘A esperança... qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu.’ (Heb.6.18,19); levando você para fora do tempo, para fora desta vida, ancorando você lá na eternidade. Quão grande é a cruz! Quão grande é a mensagem de Romanos 6! Ela nos leva para muito antes de Moisés, Abraão e Adão. Ela nos leva para antes da queda e do pecado de Adão, e de toda condição sem esperança da raça humana. A cruz nos leva para antes de tudo isso, e lá, no passado eterno, nos liga com aquilo que Deus estabeleceu. A cruz garante isso. E, por outro lado, a cruz alcança a eternidade que está por vir, e diz: ‘A quem dantes conheceu...a este também glorificou’ (Rom.8.29,30). A cruz garante a glória da eternidade futura. Quão grande é a cruz!
Esperança, então, repousa sobre a imensidão da cruz. A esperança repousa sobre o fato de que Cristo trilhou este caminho, tornando-se o último Adão, fazendo-se pecado por nós, suportando tudo, agora, ressuscitado por Deus, está assentado à mão direita de Deus, é por isso que nós, como ‘em Cristo’, fomos colocados além de qualquer risco de uma outra queda. Sempre penso que isto é um dos fatores mais abençoados no evangelho - que Jesus, no céu agora, tendo trilhado este caminho, e o caminho da sua cruz, diz que este Adão jamais irá cair. Jamais irá haver uma outra queda. Esta herança é segura, firme, porque está ligada a Ele. Não há medo de sermos envolvidos em mais nenhuma queda deste tipo, não há medo absolutamente. É de fato uma maravilhosa esperança, este evangelho do Deus de esperança!
Você percebe quão vividamente o quadro de desesperança é desenhado? Tenho apenas dado a você o contorno, porém, você olha para os detalhes - o terrível quadro dos gentios e judeus desenhado nos primeiros capítulos desta carta, e a desesperança da situação para ambos. Sim, desespero realmente - e, então, acima de tudo o que foi escrito, esperança! As boas novas de esperança estão sobre tudo, apesar de tudo, porque a esperança repousa em Deus ter, antes de todas as coisas, determinado algo que Ele irá realizar, e que Ele tem demonstrado pela cruz de Seu Filho Jesus Cristo. Você e eu sabemos que, quando a fé age em relação a cruz do Senhor Jesus, algo começa em nós que inverte totalmente o curso natural das coisas. Agora a fé está crescendo, a fé está se desenvolvendo; estamos aprendendo o caminho da fé, estamos sendo capacitados a confiar em Deus mais e mais. Tudo mudou: a obediência agora é possível.
E há uma outra vida, uma outra natureza, um outro poder em nós, que foi posto para esperança. Uma contradição da fé cristã é um cristão desesperado, um cristão sem esperança; um que não é marcado por esta grande coisa que é preeminentemente característico de Deus - esperança. Ele é ‘o Deus de esperança’. O Senhor tornou isto verdadeiro, para que fossemos enchidos de esperança, ‘alegres na esperança’. ‘Paciente na tribulação’, mas ‘alegres na esperança’ (Rom.12.12).
CAPÍTULO 2 - EM SUA CARTA AOS CORÍNTIOS
Nós, agora, passamos para as cartas aos coríntios, e, novamente seguindo o nosso método, buscamos encontrar aquilo que irá resumir tudo o que essas cartas contêm. Após todos os detalhes, tudo aquilo que compõe essas cartas - e é bastante - perguntamos: ‘Isto resulta em que? Qual é o resultado disso?’ E uma vez mais encontraremos que é apenas o evangelho novamente - perdoe-me colocar desta forma - é apenas uma questão do evangelho novamente a partir de um outro ângulo, um outro ponto de vista.
Podemos ficar surpresos ao aprender que a palavra ‘evangelho’, ou, como seria no original, o termo ‘boas novas’, ocorre nessas duas cartas não menos do que vinte e duas vezes: de modo que não estamos apenas tomando um pequeno fragmento e atribuindo um peso indevido a ele. Precisamos de algum fundamento absolutamente sólido sobre o qual basear as nossas conclusões, e penso que vinte e duas ocorrências de uma palavra especial em tal espaço formam uma base bem sólida. Sejam sobre o que mais essas cartas possam ser, elas devem ser a respeito disto. Muito do que você lê nessas cartas podem levá-lo a pensar que não se trata disso absolutamente - parece tão ruim; porém, o que buscamos é pelo resultado da matéria.
A Síntese Das Cartas
Há uma sentença muito familiar que resume o todo das duas cartas. Ela aparece, naturalmente, no final da segunda carta.
‘A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, seja com todos’ (2 cor. 13.13).
Isto é algumas vezes chamado de ‘a ação de graças’ ou ‘a benção’. Isto é, naturalmente, o título humano para ela. Porém, ela não é apenas um apêndice de um discurso - uma forma convencional de terminar as coisas, um pensamento agradável. Nem era ela usada por Paulo como uma espécie de bom desejo ou recomendação derradeira com a qual terminar a reunião, como é normalmente usado hoje. Eu creio que existe uma benção nela, mas você tem que olhar muito mais profundamente do que apenas para essas frases. Realmente era uma oração, e uma oração na qual estava resumido o todo das duas cartas que o apóstolo escreveu. A maneira maravilhosa de Paulo em abranger muito em poucas palavras, tudo o que ele tinha escrito através dessas duas cartas é dessa forma reunida.
A Ordem da Síntese
É, talvez, importante observar a ordem dessas três orações. A graça do Senhor Jesus, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo. Esta não é a ordem das Pessoas Divinas. Se fosse, teria que ser mudada: ‘O amor de Deus, a graça do Senhor Jesus, e a comunhão do Espírito Santo’. Mas nós não temos necessidade de tentar colocar Deus primeiro - em tentar aperfeiçoar a Palavra de Deus e a ordem da ordem do Espírito Santo. Isto não é a ordem das Pessoas Divinas. É a ordem do processo Divino. Este é o caminho ao longo do qual Deus se move para alcançar a Sua meta, e isto é exatamente o resumo dessas duas cartas. Todo o caminho ao longo do qual Deus está se movendo rumo ao final, e esta oração de Paulo está de acordo com o princípio, a ordem, do movimento Divino.
Vamos agora chegar nas palavras em si, e ver se podemos encontrar um pouco do evangelho - as ‘boas novas’ dessas duas cartas - reunidas nessas três frases.
A Graça do Senhor Jesus
Qual foi a graça do Senhor Jesus? Bem, se você olhar de volta nesta segunda carta, para o capítulo 8, verso 9, você a tem:
‘Vós conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, embora sendo rico, contudo se fez pobre por vossa causa, para que por meio de sua pobreza vos torneis ricos’.
Há três elementos muito simples nesta declaração. O Senhor Jesus fez algo - Ele se tornou pobre; e o que Ele fez foi voluntário - porque a graça sempre carrega esta característica bem no seu início. É aquilo que é perfeitamente voluntário; não forçado, não exigido, sob obrigação, mas completamente livre. A graça de nosso Senhor Jesus significou primeiramente um ato voluntário. Isto é graça muito simplesmente, mas ela vai ao coração das coisas. Isto é o que Ele fez - Ele se tornou pobre. E, então, o motivo, do por que Ele fez: ‘para que nós, através de sua pobreza pudéssemos nos tornar ricos’.
Penso que esta é uma síntese simples e maravilhosa da graça. Ele se tornou pobre - Ele fez isto sem coação - e, em assim fazendo, Sua intenção era que pudéssemos nos tornar ricos.
Agora, você vê, você tem aqui no Senhor Jesus uma Pessoa e uma natureza completa e absolutamente, plena e finalmente, diferente de qualquer outro ser humano; uma natureza completamente contrária à natureza do homem, como conhecemos. A natureza humana, como sabemos, é ser rico, fazer tudo para ficar rico, e qualquer outra pessoa pode ser roubada se é para nos fazer ricos. E para isto não é necessário tomar uma pistola e colocá-la na cabeça das pessoas. Há outras formas de tirar vantagens para nós mesmos, à custa de outras pessoas, ou coisa do tipo. Não há realmente ‘graça’ no homem, como o conhecemos. Porém, o Senhor Jesus é tão diferente disto! Cristo é completamente diferente - uma natureza completamente diferente.
Agora toda a primeira carta aos coríntios está abarrotada de egoísmo. Estou presumindo que você esteja mais ou menos familiarizado com essas cartas. Eu não posso levar você através de página por página, verso por verso; mas estou dando o resultado de uma leitura mais próxima, e você pode verificar isto, se quiser. Repito: toda a primeira carta está simplesmente cheia de egoísmo - vindicação própria, de ir para a lei a fim de obter os seus próprios direitos, uma busca pelos seus próprios interesses, pelos seus próprios méritos, pelos seus próprios desejos - até mesmo à Mesa do Senhor - confiança própria, complacência própria, glória pessoal, amor próprio, seguro de si, e tudo mais. Você encontra todas essas coisas nesta primeira carta, e mais. ‘EU’ - um grande e imenso ‘EU’ permanece inscrito na primeira carta aos coríntios. Esta é a natureza, a velha natureza, que se mostra nos cristãos. Tudo o que é contrário à ‘graça do Senhor Jesus’ vem para a luz nesta carta, e o Senhor Jesus permanece em tal contraste forte, claro e terrível ao que encontramos aí.
Em nosso último capítulo procuramos mostrar isto, a fim de revelar a glória das boas novas do Deus de esperança, o método Divino foi pintar um quadro de desesperança como realmente era e é para a natureza humana. Agora, a fim de alcançar o objetivo Divino, o Espírito Santo não encobre as faltas, a fraqueza - até mesmo pecados, terríveis pecados - de cristãos. A graça de Deus é qualificada pela contexto contra o que ela se coloca. E assim, embora possamos sentir: ‘Oh, que pena que esta carta foi escrita! Que exposição, que revelação, de cristãos! Que pena falar sempre disso - Por que não esconder isto? - Ah, é justamente aí que as boas novas encontram sua ocasião e valor real.
Você vê, são as boas novas de ações de graça. As boas novas aqui são encontradas bem no início da carta. Deus sabe tudo sobre essas pessoas. Ele não está simplesmente decifrando - Ele conhece o pior. Caro amigo, o Senhor conhece o pior sobre você e eu; e Ele conhece tudo. Agora, Ele conhecia tudo sobre esses coríntios, e, contudo, sob Sua mão, este apóstolo tomou a caneta e começou a sua carta com - O quê? ‘À igreja em Corinto’, e, então: ‘santificados em Cristo Jesus, chamados santos’. Agora, é isto fingimento? É isto um jogo de faz de contas? Está ele colocando óculos especiais e dizendo coisas agradáveis sobre as pessoas? Nem um pouco! Repito: Deus sabia de tudo, porém mesmo assim disse: ‘santificados em Cristo Jesus... santos’.
Você diz, ‘Oh, não consigo entender tudo isto!’? Ah, mas isto é simplesmente a glória de Sua graça, porque a graça do Senhor Jesus é evidenciada aqui em chamar a tais pessoas de santas. Agora, você não chama tais pessoas de santas; você reserva esta palavra para pessoas de um tipo diferente. Dizemos, ‘Oh, Ele é santo’ - distinguindo-o, não das pessoas que não são salvas, mas entre pessoas boas. Agora, Deus chegou exatamente a essas pessoas, sabendo toda esta história negra, suja, e disse: ‘santos’; e esta outra palavra, ‘santificados em Cristo Jesus’ é apenas uma outra forma usada para ‘santos’. Significa ‘separados’ - separados em Cristo Jesus. Você vê, a primeira coisa é a posição na qual a graça do Senhor Jesus nos coloca. É uma graça posicional. Se estivermos em Cristo Jesus, todas essas coisas lamentáveis podem ser verdadeiras sobre nós, mas Deus nos vê em Cristo Jesus, e não em nós mesmos. Esta é a boa notícia, isto é o evangelho. A maravilhosa graça do Senhor Jesus! Somos vistos por Deus como separados, santificados em Cristo. É aí onde Deus começa Sua obra em nós, colocando-nos numa posição em Seu Filho onde Ele atribui a nós tudo aquilo que o Senhor Jesus é.
Agora, você pode registrar isto nesta carta: ‘Jesus Cristo, que foi feito por nós sabedoria de Deus, justiça, santificação e redenção’ (1Co 1.30). Ele foi feito por nós justiça, santificação e redenção. Temo que alguns cristãos tenha receio de se apropriar demais de sua graça posicional. Acham que será tirado algo de sua vida cristã se fizerem isso, porque eles dão uma ênfase tremenda em sua necessidade por santificação, na verdade, como condição; e ficam tão ocupados introspectivamente com esta questão do que eles são em si mesmos, tentando lidar com isso, que perdem toda a alegria de sua posição em Cristo através da graça.
Precisamos manter o equilíbrio nesta questão. O começo de tudo é que a graça do Senhor Jesus vem a nós - muito embora possamos ser como os coríntios - nos coloca e olha para nós como num lugar de santidade, ‘santificados em Cristo Jesus’. Você não pode descrevê-la. A graça vai além de nossa capacidade de descrever, porém lá está a maravilha da graça do Senhor Jesus. O fato em questão é que nós realmente somente descobrimos que terríveis criaturas somos, após estar em Cristo Jesus, e após ter estado Nele por um longo tempo. Penso que quanto mais tempo estamos em Cristo, mais horríveis nos tornamos aos nossos próprios olhos. Portanto, se estamos em Cristo Jesus, o que somos em nós mesmos não importa. A nossa posição não se apóia sobre se somos realmente, literalmente, verdadeiramente perfeitos. As boas novas, antes de tudo, têm a ver com a nossa posição em Cristo.
Ah, mas isto não para aí. Ela não introduz algum tipo de sombra, ou não deve introduzir. Graças a Deus, é uma boa notícia além até mesmo disso. A graça do Senhor Jesus pode fazer o estado ser diferente - pode fazer com que o nosso estado atual mude para um novo estado. Esta é a graça do Senhor Jesus. Ela pode fazer o nosso próprio estado atual corresponda à nossa posição. A graça não apenas recebe na posição de aceitação sem mérito: a graça é um poder que trabalha para nos fazer corresponder à posição na qual somos trazidos. A graça tem muitos aspectos. Graça é aceitação, mas graça é poder para operar. ‘A minha graça te basta’ (2 Co 12.9). Esta é a palavra mais poderosa na necessidade. A graça do Senhor Jesus é, de fato, boas novas - boas notícias para os cristãos.
O Amor De Deus
Após ‘a graça do Senhor Jesus’, ‘o Filho de Deus’, veja como Deus está se movendo para o Seu propósito final. Agora, a segunda carta aos coríntios está tão cheia do amor de Deus quanto a primeira está cheia da graça do Senhor Jesus. É uma carta maravilhosa do amor de Deus, e de Seu poderoso triunfo, Seu grandioso poder. O amor de Deus é o método presente de mostrar o Seu poder. Se isto não o fizer, nada mais o fará. O que Deus está fazendo nesta dispensação, Ele o faz por meio do Seu amor. Deixemos isto ficar bem estabelecido. Não por julgamento, não por condenação. O Senhor Jesus disse que Ele não veio para condenar, mas sim para salvar (Jo 12.47; cf 2.17). Sim, é o amor de Deus que é o método do Seu poder nesta dispensação. O método irá mudar, mas este é o dia do amor de Deus.
Agora, Paulo, ao final de sua primeira carta, já deu esta definição clássica e análise do amor de Deus - 1 Co 13. Não há nada comparado a isto em toda a Bíblia como uma análise - não é o seu amor, nem o meu amor; não estamos interessados nisto - mas o amor de Deus. ‘O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, ‘ e assim por diante. Aí está o amor de Deus estabelecido. Iremos perceber que não podemos resistir a ele. Nenhum homem pode resistir a isto plenamente. ‘O amor jamais falha’ - nunca desiste, é isto. Aqui está a qualidade do amor Divino.
Agora, traga-o para a segunda carta aos Coríntios, e veja o poderoso triunfo, o poder, do amor de Deus. Antes de tudo, veja-o como trabalhando triunfalmente no servo do Senhor. Olhe novamente para a carta. Paulo tem dado, em diferentes lugares em suas escritas, revelações muito maravilhosas, muito gloriosas da graça de Deus em sua própria vida; mas, considerando o cenário, não penso que haja algo em algum lugar no Novo Testamento que estabeleça tão maravilhosamente o triunfo do amor de Deus em um servo de Deus, como o faz esta segunda carta aos coríntios. Se por acaso um homem tivesse razão para desistir, para lavar as suas mãos, para se desesperar, para ficar furiosamente zangado, para ser qualquer outra coisa, menos amável, Paulo teria sido este homem, em relação aos coríntios. Ele poderia ter sido bem justificado em encerrar a situação em Corinto, e dizer: ‘Fiz tudo que podia por vocês, lavo as minhas mãos, vocês são irremediáveis. Quanto mais eu os amo, mais vocês me odeiam. Tudo bem, vão adiante com isso; eu desisto de vocês’. Olhe para a segunda carta: A emanação, o transbordamento, de amor por aquelas pessoas - por essas pessoas - superando aquela situação. Que triunfo de amor, o amor de Deus, em um servo de Deus! É assim que Deus alcança os Seus objetivos finais. Oh, Deus nos dá mais amor, como Seus servos, para suportar e ser indulgente, para ter paciência, e nunca perder a esperança.
Sim, mas isto não foi deixado lá. Você pode ver isto, mesmo se está apenas começando - e eu penso que é mais do que isto - nos próprios coríntios, como ele lhes fala sobre o resultado de seu forte discurso, sua súplica, sua reprovação, sua admoestação, sua correção. Os termos que Paulo usa sobre os coríntios é a tristeza deles, seu arrependimento, e assim por diante. Valeu a pena, o amor de Deus triunfando em um povo como aquele; e você sabe que isto é o que tornou possível as coisas maravilhosas que Paulo foi capaz de escrever a eles na segunda carta. Paulo jamais poderia ter se empenhado em escrever algumas das coisas que estão nesta segunda carta se não fosse por alguma mudança nessas pessoas, na atitude e na disposição deles; se não fosse o fato de ele ter esta base de amor triunfante.
Esta segunda carta tem a ver com ministério, com testemunho, e Paulo seria a última pessoa no mundo a sugerir que alguém pudesse ter um ministério e um testemunho sem conhecer o amor triunfante de Deus em sua própria vida. Paulo não era este tipo de homem. Infelizmente é possível pregar e ser um obreiro cristão sem conhecer nada da graça do Senhor Jesus em sua própria vida - o que é simplesmente uma contradição. Há muito mais sobre isso. Paulo jamais apoiaria qualquer coisa semelhante. Se ele vai falar sobre ministério e sobre testemunho no mundo, ele necessitará de uma base, a graça terá feito sua obra pelo menos em medida, para que desta forma o amor de Deus seja agora manifestado. Há agora humilhação: ‘Oh, que bendita tristeza’, ele diz, ‘que bendito arrependimento!’ Onde está o ‘EU’? Onde está o egoísmo? Alguma coisa se rompeu, algo foi embora; há algo agora da graça do Senhor Jesus, em esvaziamento próprio, em negação da vida própria. Sim, estas coisas acabaram, romperam-se. Este é o triunfo do amor Divino em tais pessoas.
Isto é evangelho, as boas novas! São boas novas, não são? O evangelho não é apenas alguma coisa para trazer o pecador ao Salvador. É isto - porém, o evangelho, as boas novas, é também isto, que pessoas, cristãos como os coríntios, podem ser transformados desta maneira por meio do amor de Deus. As boas notícias! “A glória do triunfo que se segue, em palavras que amamos muito: ‘Graças a Deus que sempre nos conduz em triunfo em Cristo” (2 Co 2.14), para celebrar Sua vitória sobre os inimigos de Cristo. Esta é a progressão de graça e amor. É um Paulo diferente, não é? - um Paulo diferente da primeira carta. Ele tem o vento a seu favor agora, ele corre a favor do vento, ele está em triunfo. Ele está falando sobre tudo ser um processo triunfal em Cristo, uma constante celebração de vitória. O que fez Paulo mudar? A mudança neles! Sim, sempre foi desta maneira com Paulo; sua vida estava atrelada ao estado dos cristãos. ‘Agora eu vivo, se estais firmes no Senhor’ (1 Te 3.8). ‘Isto é vida para mim’.
‘E o amor de Deus’. ‘Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.’ (2 Co 4.6,7). ‘Somos pobres criaturas, coríntios: Eu sou, vocês são; mas Deus brilhou em nossos corações. Algo foi feito em nossos corações. O amor de Deus entrou. Vasos frágeis é o que somos em nós mesmos, aquele amor se manifestou - a glória do amor de Deus.’
A Comunhão do Espírito Santo
‘A comunhão do Espírito Santo’. Algumas outras pessoas já tiveram a necessidade de conhecer o significado de comunhão mais do que os coríntios? Está Paulo tocando em um ponto que era muito sensível? Comunhão? Ele escreveu: ‘Cada um de vós diz: Eu sou de Paulo; e eu sou de Apolo, e eu sou de Cefas; e eu sou de Cristo’ (1 Co 1.12). Existe alguma irmandade nisto, alguma comunhão? Não. Quando vocês permanecem na carne, não há relacionamento, não há comunhão; vocês ficam todos em pedaços, digladiando-se uns contra os outros. E era desta forma. O que Deus deseja? A comunhão entre os cristãos; e deve ser a comunhão do Espírito Santo, isto é, uma comunhão constituída, estabelecida e enriquecida pelo Espírito Santo. Este é resultado da ‘graça do Senhor Jesus e do amor de Deus’ - unidade.
Vamos claramente reconhecer que esta é a obra mais profunda do Espírito Santo. Muito foi dito anteriormente, na primeira carta de Paulo, sobre o Espírito Santo. Eles tinham tido muito sucesso com os dons; dons espirituais os havia atraído. Eles estavam fascinados pelo poder para fazer coisas, sinais, maravilhas, etc. Os corações deles buscavam muito essas coisas; esses dons do Espírito Santo, e muito mais coisas apenas exteriores, traziam muita gratificação para as suas almas.
Mas quando você vem para a suprema e mais profunda obra do Espírito Santo, você encontra unidade entre os irmãos. É necessária a obra mais profunda do Espírito Santo para fazer isto acontecer, visto que nós ainda temos uma natureza que é uma velha natureza. Nós podemos ser cristãos, contudo, cristãos coríntios. Ainda há coisas escondidas - e nem sempre em cantos escondidos - o ‘Eu’, a vida egoísta de um forma ou de outra. Visto que estas coisas estão lá, é necessário uma obra poderosa do Espírito Santo para unir indissoluvelmente até mesmo dois cristãos; mas para unir uma igreja toda como aquela (de Corinto) é algo estupendo.
A comunhão do Espírito Santo é nada mais e nada menos do que isso. Algo disto parece ter acontecido em Corinto. Oh, maravilhas de maravilhas, a diferença entre essas duas cartas! Sim, isto aconteceu. É um triunfo interior sobre a natureza, e isto mostra um real progresso. Esta é a comunhão do Espírito Santo. Quando Paulo começou sua primeira carta, ele disse: ‘Quando cada um de vós diz, Eu, Eu, Eu, não sois crianças? Não necessitais de leite?’ (1 Co 3.1-4) Crianças estão sempre discordando e brigando. Assim eram os coríntios. Mas eles deixaram pra trás a fase de criança, através da ‘graça do Senhor Jesus e do amor de Deus’. As coisas mudaram; eles tinham crescido.
Leva tempo para que o Espírito Santo nos faça crescer espiritualmente desta maneira. A medida de nossa espiritualidade pode ser indicada muito rapidamente e claramente pela medida do nosso amor mútuo, da nossa comunhão. Seremos, afinal de contas, pessoas pequenas espiritualmente se formos sempre inconstantes. Somente grandes pessoas podem viver com outras grandes pessoas sem brigas. É necessária a graça do Senhor Jesus, e o amor de Deus’, para levar à comunhão do Espírito Santo’.
Esta comunhão do Espírito Santo, então, é essencialmente corporativa. Talvez você tenha pensado que esta última sentença, ‘a comunhão do Espírito Santo’, significa a sua comunhão com o Espírito Santo, e do Espírito Santo com você. Mas não significa isto, absolutamente. Paulo está, talvez, trazendo à memória a antiga situação, a antiga condição. ‘O que vocês coríntios precisavam mais do que qualquer outra coisa era de comunhão; não havia comunhão. Agora vocês progrediram pelo caminho da graça do Senhor Jesus e do amor de Deus “e a comunhão do Espírito Santo” é encontrada entre vós’. Este é o significado. É corporativo, e isto é uma obra poderosa do Espírito Santo. Esta comunhão tem que estar em todos nós. Agora você, naturalmente, pensa que ela tem que acontecer na outra pessoa! Não, ela tem que acontecer em todos nós, não apenas na outra pessoa. Tem que ser em você e em mim - tem que estar em todos os envolvidos. Bem, isto é evangelho: boas novas para um povo numa condição muito má! Que boas notícias!
Deixe-me finalizar com isto. Nunca chegaremos a algum lugar apenas reconhecendo o deplorável estado, porém continuar tratando as pessoas com violência, empunhando a espada ou a marreta e esmagar as coisas, trazer as pessoas sob condenação. Nunca chegaremos a algum lugar. Se Paulo tivesse agido desta maneira com os coríntios, ele teria esmagado tudo, porém isso seria o fim. Mas o amor encontrou um caminho, e, embora houvesse constrição, não foi o fim. Algo, ‘a beleza das cinzas’, surgiu dali - porque ‘a graça do Senhor Jesus, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo’, era o princípio sobre o qual o próprio Paulo vivia e pelo qual trabalhava.
Você e eu devemos ser pessoas de boas novas. Temos boas novas para qualquer situação, embora ela seja tão ruim quanto a dos coríntios. Creia nisto! Boas novas! Boas novas! Esta deve ser a nossa atitude em relação a tudo, pela graça de Deus; sem desesperar, sem desistir. Não, boas novas! O Senhor faça de nós pessoas do evangelho, as boas novas.
CAPÍTULO 3 - EM SUA CARTA AOS GÁLATAS
Passemos agora para a carta aos Gálatas, onde verdadeiramente temos a frase que é básica para esta consideração - ‘o evangelho que prego’. A frase é encontrada no segundo capítulo e no segundo verso, e em uma outra forma no capítulo um, versículo onze - ‘o evangelho que foi pregado por mim’. Percebemos quantas vezes esta palavra ‘evangelho’ ocorre nas cartas de Paulo. A palavra é disseminada através de suas cartas, indicando pela freqüência de sua ocorrência que é sobre isto, afinal de contas, que ele realmente está escrevendo. A mesma coisa é verdadeira nesta pequena carta aos Gálatas. Na forma nominal - isto é, onde todo o corpo de verdade cristã é chamado de ‘o evangelho’ - ocorre nesta carta oito vezes; e, então, na forma verbal - que não pode ser traduzida para o inglês corretamente, isto é, ‘evangelizar’, ou ‘anunciar as boas novas’, traduzido, para nossa conveniência, para o inglês como ‘pregar’, ‘pregar o evangelho’, ‘trazer as boas novas’, e assim por diante, porém, apenas uma palavra no original - na forma verbal é encontrada nesta carta seis vezes: de modo que temos aqui quatorze ocorrências numa carta bastante curta.
Agora, se pudéssemos reconstruir a situação apresentada por esta carta, ou se a descobríssemos numa realidade atual, o que poderíamos encontrar? Supondo que a situação representada aqui existisse em algum lugar hoje, e nós visitássemos aquele lugar onde isto estivesse se passando, o que poderíamos descobrir? Bem, poderíamos encontrar uma controvérsia tremenda em progresso, com três partes envolvidas. Por um lado, poderíamos encontrar um grupo de homens que são extrema e cruelmente anti-Paulo. Por outro lado, poderíamos encontrar Paulo agitado e inquieto no mais profundo de seu ser, como nós nunca o encontramos em nenhuma parte em seus escritos, ou em suas jornadas. E, entre essas duas partes, haveria os cristãos que são a causa imediata dessa tremenda batalha que está se travando. Questões muito maiores do que o local e o ocasional estão envolvidos, porque é uma questão do longo-alcance e da natureza permanente do evangelho. Agora Paulo, na batalha, engaja-se a si mesmo à uma re-afirmação do ‘evangelho que ele pregava’, contra aqueles que estavam buscando minar, neutralizar e destruir totalmente o seu ministério. Do que tudo isto se tratava?
Bem, antes de tudo, tome o partido anti-Paulo. Qual é o problema deles? O que é aquilo que eles estão procurando estabelecer? Em resumo, em uma palavra, o objetivo deles é estabelecer a antiga tradição religiosa judaica. Eles se posicionam veementemente a favor da permanência daquele sistema. Eles estão argumentando que ele veio diretamente de Deus, e o que vem diretamente de Deus não pode ser mudado ou deixado de lado. Esta coisa tem o apoio da antiguidade. É algo que se obteve e que tem existido por muitos séculos, e por isso, carrega o valor de ser algo que não é, como o ensino de Paulo, algo muito novo. Foi estabelecido nos tempos passados. Eles não iriam mais além, e dizer que Jesus não ab-rogou a lei de Moisés: Ele não disse nada sobre a lei de Moisés sendo posta de lado. Bem, há todo este argumento, e muitos outros além desse. A posição deles é que o judaísmo, a lei de Moisés, é obrigatório para os cristãos. ‘Seja cristão, se quiser, mas você deve adicionar à sua fé cristã a lei de Moisés, e você deve estar sob o governo de todos os ‘deve e não deve’ daquela tradição e daquele sistema; você deve se conformar aos ensinos e práticas do sistema judaico, da tradição de Moisés’. Esta é a posição deles em resumo.
Por outro lado, lá está Paulo. Ele não é estranho a Moisés, não é estranho ao sistema judaico. Nascido, criado, educado, treinado e completamente ensinado em tudo isso, contudo, aqui ele é encontrado direta e positivamente em oposição a posição deles. Ele argumenta que a lei foi dada por Deus, de fato, porém, somente foi dada por Deus para revelar a fraqueza do homem. O real valor e efeito da lei é mostrar como é o homem - que ele simplesmente não consegue guardá-la. Quão sem esperança o homem é perante a exigência de Deus! Quão inútil ele é diante de todo esse sistema de mandamentos - ‘deve e não deve’ ! E, embora Cristo não ab-rogasse a lei, colocou-a de lado, e disse, ‘Está tudo consumado’, Cristo em Si mesmo foi o único entre todos os seres humanos que já caminhou sobre esta terra, que pode guardá-la; e Ele realmente guardou-a. Ele satisfez a Deus em cada detalhe da Lei Divina; e, tendo satisfeito a Deus e cumprido a lei, Ele introduziu e constituiu uma outra base de relacionamento com Deus, e, assim a lei é desta forma colocada de lado. Um outro fundamento de vida com Deus é trazido por meio de Jesus Cristo.
Este é o argumento de Paulo, em resumo. Naturalmente, há muitos detalhes nele, porém, Paulo chega à uma conclusão oposta àquela a que esses judaizantes tinham chegado. A lei mosaica não mais é obrigatória aos cristãos da forma como ela era para os judeus. O argumento de Paulo é que em Cristo ficamos livres da lei. A grande palavra nesta carta é liberdade em relação a lei.
A partir dos fortes termos usados nesta carta, podemos concluir quão intensos são as impressões dessas coisas em questão. Naturalmente, esses judaizantes são muito, muito fortes. Eles perseguiam Paulo por onde quer que ele ia. Eles procuravam por todos os meios, por ataque pessoal e por argumento e persuasão, desfazer sua obra e desviar os seus convertidos dele, e trazê-los de volta para Moisés. Paulo é encontrado aqui, como já disse, num estado de perfeita veemência. Este Paulo, tão capaz de suportar, e sofrer, e ter paciência, como vimos em nosso último capítulo no caso dos coríntios, onde todo tipo de provocação à ira foi enfrentada por ele - a maravilhosa paciência e indulgência de Paulo com essas pessoas - contudo aqui o homem parece ter se tornado destituído de tal paciência: aqui ele está literalmente chamando essas pessoas de anátema. Duas vezes, com ênfase dupla, ele diz: ‘Seja anátema.. e de novo digo, seja anátema’ - amaldiçoado.
Agora, quando Paulo age desta maneira, deve haver alguma coisa em jogo. Para um homem como Paulo ficar alterado desta maneira, você deve concluir que há algo sério envolvido. E de fato há, e esta fúria do apóstolo indica quão séria era a diferença entre essas duas posições.
A Resposta para a Situação
Agora, na carta, podemos sentir que há muito material misterioso. Por exemplo, baseando-se em tipos do Velho Testamento, Paulo usa como uma alegoria o incidente de Agar e Ismael. Nós conhecemos os detalhes; não iremos entrar neste mérito, absolutamente. Parece haver muito material misterioso que Paulo usa como seu argumento. Mas, quando a lemos totalmente, e a consideramos, e sentimos o seu impacto, o que tudo isso quer dizer? Quando a estudamos e ficamos impressionados com sua seriedade, o que obtemos? Apenas uma conclusão sobre legalismo - que a Lei não mais nos mantém em servidão, e que estamos livres dela? Que uma dispensação de liberdade neste sentido foi introduzida, e que os princípios da lei não mais são obrigatórios a nós? É esta apenas a posição? Que o cristianismo é algo sem obrigações quanto à verdade e quanto à prática? Que a graça irá ignorar todas as nossas violações às leis e aos princípios? - Uma falsa interpretação da graça, realmente! - mas é isto? O que é?
Você vê, é possível compreender muito bem o valor de uma carta como esta, e ela permanecer, a final de contas, apenas uma questão teológica, uma mera questão de doutrina. Sim, a carta aos gálatas ensina que não estamos mais debaixo da lei de Moisés, e que estamos livres como filhos de Deus. Muito aprazível, maravilhoso! Mas aonde isto irá levar você? A que ela leva? Tudo isto é negativo.
Fico imaginando - e esta é toda a questão agora - fico imaginando quantos de nós estamos realmente vivendo no gozo do segredo e do coração do evangelho, como ele é apresentado nesta carta. Paulo está dizendo muito aqui sobre o evangelho, ou as boas novas. O que realmente é o evangelho, ou as boas novas, da forma como é encontrada aqui nesta carta, e nesta conexão particular? Afinal de contas, não é apenas que cristãos precisam ser ‘libertados’ - livres de todas as restrições, de toda servidão e todas as obrigações, para simplesmente poderem fazer o que bem quiserem, seguirem as suas próprias inclinações. Não é isto, absolutamente. Você e eu precisamos saber algo mais positivo do que isto. Não podemos ficar satisfeitos com meras coisas negativas.
Cristo Dentro
O que significa o evangelho aqui? Paulo diz: ‘Este é o evangelho’. Ele está resumido em um fragmento desta carta, uma passagem da Escritura muito bem conhecida, com a qual todos nos regozijamos - Gálatas 2.20: ‘Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim’. Este é o evangelho, as boas novas, do Cristo habitando dentro. Este é o coração de todo a matéria, esta é a resposta a todo argumento, isto responde a todas as perguntas, isto trata de todas as dificuldades - o evangelho, as boas novas, do Cristo habitando dentro.
E, quando você pensa a respeito, este é o fator mais vital e fundamental no cristianismo. Não é maravilha que Paulo tenha visto que, se isto fosse sacrificado, o cristianismo não serviria para nada: os judaizantes teriam acabado com tudo; o cristianismo teria se tornado absolutamente sem qualquer significado. Ele estava lutando, portanto, a favor do cristianismo em apenas um ponto - porém um que incluía o todo. O todo estava associado e ligado a isto: ‘Cristo vive em mim’. Se isto for verdade, você não precisa argumentar sobre absolutamente nada; todo o argumento está estabelecido.
‘Cristo vive em mim’ Cristo! O que é Cristo? Quem é Cristo? O que significa Cristo? O que Ele corporifica? Porque tudo que satisfaz a Deus é encontrado em Cristo! Em Seu Filho Jesus Cristo, Deus tem Sua plenitude, Seu final, resposta completa. Cristo pode satisfazer a toda exigência de Deus, e tem feito isto. Cristo pode trazer o pleno e completo favor de Deus. Oh, poderíamos nos estender bastante sobre isto - O que Cristo é, quão grande Cristo é, quão maravilhoso Cristo é! E ‘Cristo vive em mim’! Cristo, aquele Cristo da glória eterna, aquele Cristo do auto-esvaziamento, da humilhação, aquele Cristo da vida triunfante, aquele Cristo da poderosa cruz, da ressurreição, do retorno à glória, e que está no trono agora, está em você e em mim! O que mais necessitamos - o que mais poderíamos ter - Que coisa seria maior do que esta?
O Poder de Cristo No Interior
Agora Cristo é uma Pessoa real, que vive: não uma idéia abstrata, uma figura histórica, mas uma Pessoa real, que vive. ‘Cristo vive em mim’. Eu não uso um crucifixo de um Cristo morto pendurado. Tenho um Cristo vivo no interior, as boas novas de um Cristo que vive do lado de dentro. Você pode ler isto, ou ouvir isto ser dito, e você pode acenar com a cabeça e dizer, ‘Sim, Amém’: você concorda com isto! Porém, tenho conhecido pessoas que ouvem isto por anos, e concordam com todo coração, como você - e, então, um dia acordam realmente para isto. ‘Você sabe, a final de contas tenho ouvido sobre isto; acabei de perceber que isto é verdade, que Cristo realmente vive em mim!’. É algo mais do que a doutrina de Cristo no interior - é a minha experiência.
Paulo concentra toda a sua história como um cristão e como um servo de Deus sobre esta única coisa. ‘Deus brilhou em meu coração’ (2 Co 4.6). ‘Aprouve a Deus, que me separou desde o ventre, a fim de revelar o Seu Filho em mim’ (Gál 1.11,12). Como isto aconteceu? Não apenas objetivamente ou exteriormente, mas interiormente. ‘Deus brilhou em mim’. Cristo vive em mim’. A coisa mais surpreendente que já aconteceu a um homem no curso da história humana foi esta que aconteceu com Paulo de Tarso naquele meio-dia, quando ele percebeu que Jesus de Nazaré, que ele achava ter sido morto e enterrado, estava vivo, vivo, realmente vivo. Lembre-se de quão vivo Ele estava. E Paulo diz: ‘Ele vive - e não apenas na glória - Ele vive em mim, em mim!’ Uma Pessoa viva, um real poder vivo no interior, sim, um poder real dentro, é Cristo.
A Inteligência de Cristo Dentro
Além do mais, Ele é uma Inteligência real, que possui o pleno conhecimento de tudo aquilo que Deus quer, e, possuindo isto, habitando dentro de mim, é o repositório e o veículo da plena vontade de Deus para minha vida. Plena inteligência por Cristo no interior! Todo o conhecimento que Cristo possui está dentro, e, se isto é verdade, se Cristo está dentro - o apóstolo, naturalmente, está falando aqui não apenas de Cristo dentro, mas muito sobre o Espírito Santo, a que iremos chegar daqui a pouco, - se o Cristo que reside em nosso interior tiver o Seu caminho, então, aquilo que Ele é se torna real na vida do filho de Deus: o fato de que Ele é uma Pessoa viva, o fato de que Ele é o Todo Poderoso, o fato de que Ele é a plena Inteligência Divina.
Cristo Dentro, o Conhecimento Da Vontade de Deus
Gostaríamos de ter toda compreensão em nossa mente, todo conhecimento e inteligência em nossa razão. Nós não temos, porém, temos um outro tipo de inteligência. O verdadeiro filho de Deus tem um outro tipo de inteligência, totalmente diferente daquele que é da razão. Não sabemos como explicar e interpretá-la, mas, de algum modo, sabemos. Podemos apenas dizer, ‘sabemos’. Sabemos o que o Senhor não quer no que diz respeito a nós. Descobrimos ser impossível ficar confortáveis ao longo de um caminho que o Senhor não quer, e chegamos a esta posição muito freqüentemente. Nós a colocamos de diferentes maneiras, mas temos que dizer, ‘Eu sei que o Senhor não quer que eu faça isto, que eu siga por este caminho; isto é mais profundo dentro de mim do que qualquer outra coisa. Fazê-lo seria violar algo que se refere à minha própria vida com Deus’.
Este é o lado negativo. E, no lado positivo, se o Senhor realmente quer algo, nós o sabemos; apesar de tudo, sabemos. Se apenas esperássemos por isto, seria muito seguro. O problema é que nós não podemos esperar pelo Senhor; fazemos uma confusão sobre esses problemas de orientação. Porém, quando o tempo do Senhor chega, não há dúvida sobre a vontade do Senhor: nós a sabemos. Como sabemos? Isto é conhecimento espiritual, é inteligência espiritual. É Cristo habitando dentro, que possui toda a mente de Deus.
Agora, aqui estão esses pobres cristãos gálatas, divididos entre os judaizantes e Paulo. Eles não sabem o que fazer disto. Isto, por um lado, é tão forte sobre a linha de coisas deles; e, por outro lado, aqui está Paulo, dizendo que eles estão todos errados! O que devem eles fazer? A resposta chega: ’Se Cristo está em vocês, vocês saberão - vocês saberão o que devem fazer’. E esta é a única maneira real de saber o que você deve fazer - o que é certo, e o que é errado. Cristo em você. Mas você saberá.
Cristo Dentro, O Poder de Resistência
Agora você diz: ‘Não percebi isto, não sinto isto, não vejo isto; não tenho toda esta inteligência, não sinto todo este poder’. Você vê, como Paulo está sempre tentando salientar, há uma grande diferença entre o tipo humano de conhecimento e o conhecimento espiritual. Temos conhecimento deste tipo, não por informação, mas por experiência.
Alguns de nós temos estado no caminho cristão por muitos anos. Se isto tivesse sido tirado de nós, poderíamos ainda continuar com o Senhor? Se tivéssemos tido que continuar, esforçando-nos, lutando, com nossos próprios recursos, deveríamos nós ainda estar aqui? Penso que posso dizer para você e para mim mesmo, certamente não! Não estaríamos aqui hoje; não deveríamos estar nos alegrando no Senhor, seguindo com o Senhor. Se Satanás pudesse ter tido seu caminho, não deveríamos estar aqui, pois tanto em nós mesmos como em Satanás temos encontrado todas as coisas concebíveis como inimigas de Cristo, o que tornaria impossível para nós seguir com o Senhor. Tudo em nós mesmos é contra nós, espiritualmente. Tudo em Satanás é contra nós, e tudo que ele pode usar é lançado na batalha para nos destruir.
Porém estamos aqui, e esta é a prova de que Cristo em nós é um poder vivo, e isto é encontrado - embora não ainda em plenitude - na experiência, em fato, e não simplesmente senti-lo em nós. Gostaríamos de ter as sensações deste grande poder, para senti-lo; mas não, este poder está escondido, e somente se manifesta em fatos - geralmente em fatos de longo prazo.
A Disposição de Cristo Dentro
Poder, inteligência, conhecimento: e, então, disposição. Esta é uma das realidades da vida cristã. Quando Cristo está dentro, temos uma disposição completamente diferente. Estamos dispostos a coisas novas, dispostos em novos caminhos. Sim, nossa disposição mudou. As coisas que uma vez achávamos ser nossa vida não mais nos atraem a elas. Não mais estamos dispostos a elas. Este é o problema do mundo com o cristão: ‘Por que você não faz isto, aquilo e aquilo outro?’ E a única resposta que podemos dar, mas que nunca os satisfaz, é: ‘Perdi toda disposição por este tipo de coisa: Não mais estou disposto desta forma: Tenho uma disposição completamente numa outra direção’. É desta forma: uma outra disposição - Cristo dentro. Isto é cristianismo!
Você vê, Moisés diz: ‘Você tem que fazer isto, e você tem que fazer aquilo, e você não deve fazer isto, e você não deve fazer aquilo’; e a minha disposição é completamente contra Moisés. Moisés diz: ‘Você deve fazer isto’ - E eu não quero fazê-lo; aquilo pode ser totalmente correto, pode vir de Deus, mas simplesmente eu não encontro disposição em minha natureza para fazê-lo. Moisés diz: ‘Eu não devo fazer isto’, e minha disposição diz: ‘Eu quero fazer isto - isto é precisamente a coisa que eu quero fazer!’ De alguma forma ou de outra, em mim mesmo eu sou contra Deus em todo caminho.
Qual é a solução para a lei? Cristo em você. Se Cristo está em você, então você estará disposto para fazer o que Deus quer que você faça, e você irá cumprir a lei. Se Cristo está em você, você não terá disposição para nada que Deus não queira que você faça, e novamente você irá cumprir a lei. Porém, você vê, você cumpre a lei numa base completamente diferente. Você não a cumpre porque Moisés diz, mas porque Cristo está em você; não porque você deve, mas porque Cristo lhe dá uma outra disposição. Isto é evangelho, as boas novas, de Cristo morando dentro.
A Obra do Espírito Santo Dentro
Agora, quando você se volta para o ensino sobre o Espírito Santo nesta carta, você descobre que ele chega à mesma coisa. Cristo em você é o padrão do Espírito Santo e Ele está trabalhando em você na base do Cristo morando dentro, a fim de alinhar você com Cristo, de edificar você de acordo com o Cristo que está em você. O Espírito Santo é o poder de Cristo dentro, o poder de nos fazer parecidos com Cristo, de nos capacitar a sermos como Cristo, e, por isso, de sermos cumpridores de tudo aquilo que é correto à vista de Deus, e de evitarmos tudo aquilo que não é correto diante de Deus. Há um poder pelo Espírito Santo para fazer isto.
O apóstolo fala sobre o fruto do Espírito. ‘O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e domínio próprio’. (Gl. 5.22,23) O Espírito, você vê, está dentro, e Ele é o Espírito de Cristo dentro para fazer com que aqueles frutos de Cristo nasçam em nós, ou, vamos dizer, o fruto de Cristo que mostra em si mesmo em todas essas formas. O fruto de Cristo é ‘amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, domínio próprio’, o fruto do poder do Espírito de Cristo dentro.
E o que dizer a respeito da lei? Sim, o Espírito trabalha de acordo com a lei. O apóstolo diz uma coisa tremenda: ‘Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer: pois tudo o que o homem semear, isto ele também ceifará. Pois aquele que semeia em sua carne, da carne ceifará corrupção; mas aquele que semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna’. (Gl 6.7,8) A Lei do Espírito, você vê, é esta. Semeie, e você colherá; aquilo que você semear você irá colher. Semeie no Espírito, e você irá colher vida eterna. Se você semear no Espírito - isto é dito apenas em figura de linguagem, se você se conformar ao poder do Espírito, à Lei do Espírito, ao governo do Espírito, ou a Cristo dentro de você - irá colher Cristo, irá colher vida. Há uma lei aqui, e ‘livres da lei’ não significa que não precisamos mais reconhecer que Deus constituiu o Seu universo, os nossos corpos e almas, sobre princípios; mas significa que Cristo em nós nos torna possível obedecer aos princípios, ao passo que, por outro lado, estaríamos violando tais princípios o tempo todo.
‘O evangelho que eu prego’, diz Paulo: afinal de contas, isto quer dizer que - após todos os seus argumentos sobre legalismo e judaizantes, e o resto, significa que: -’Cristo vive em mim’. Estas são as boas novas, isto é esperança - tudo é possível!
CAPÍTULO 4 - EM SUA CARTA AOS EFÉSIOS
“...a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação...’ (Ef. 1.13)
‘...os gentios são co-herdeiros, de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder.’ (Ef.3.6,7)
‘...Tendo calçado os vossos pés com a preparação do evangelho da paz...’ (Ef 6.15)
‘...E por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar.’ (Ef.6.19,20).
Quando chegamos a considerar ‘o Evangelho de acordo com Paulo’ na carta aos Efésios, encontramos que temos a palavra ‘evangelho’ na forma nominal quatro vezes. Também a temos, em uma ou duas outras ocasiões, na forma verbal, como no capítulo 2.17
‘...E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto;’
Você percebe que a nota de margem diz ‘pregou as boas novas de paz’. Agora esta é apenas uma forma inglesa de manusear uma palavra grega. A palavra grega é o verbo do qual ‘o evangelho’ é o nome; e, como tentei salientar anteriormente, o que realmente é dito - que não pode ser traduzido literalmente para o inglês - é: “veio e ‘boas-novanciou’ paz”. Isto é impossível em inglês, porém, é apenas o verbo do nome ‘evangelho’. Isto ocorre novamente no capítulo 3, verso 8 “...para pregar aos gentios as riquezas insondáveis de Cristo...” - isto é, ‘boas-novanciou aos gentios’, “proclamar para os gentios as boas novas de ...” É o verbo novamente para ‘evangelho’. Penso que isto nos dá terreno para dizer que esta carta é sobre o evangelho.
Muitas pessoas têm a idéia de que quando você chega na carta aos Efésios, você tem deixado o evangelho para trás, você está mais adiante em relação ao evangelho, você deve realmente agora ter um longo caminho em direção ao evangelho. Não creio que possamos conseguir mais do que esta carta, no que diz respeito a Divina revelação: como iremos ver, ela nos leva por um longo caminho de fato em coisas Divinas; mas ainda é o evangelho. O evangelho é algo muito abrangente, muito distante de ser alcançado.
Uma Carta de Superlativos
Isto nos leva a perceber que a carta aos Efésios é uma carta de superlativos. Um adjetivo expressivo veio à voga em anos recentes, pelo qual as pessoas tentam propagar a idéia de que uma coisa é muito grande, ou de qualidade muito elevada. Elas dizem que a coisa é ‘super’. Agora aqui, nesta carta, tudo é - posso usar a palavra? - ‘super’! A carta toda é escrita em termos superlativos; e devo crer que você pode recordar de algo daquilo que está aqui. Os superlativos têm relação com quase tudo nesta carta.
Há o superlativo de tempo. O tempo está totalmente transcendido: somos levados para o terreno do eterno. Por meio desta carta somos levados de volta para a eternidade passada, antes da fundação do mundo, e para a eternidade futura, para os séculos dos séculos. É o superlativo de tempo - transcendendo o tempo.
Há o superlativo de espaço. Uma frase aparece através desta carta - ‘nos lugares celestiais’. Quando você entra nos lugares celestiais, você simplesmente fica espantado com a imensidão da extensão. No campo natural isto é verdade, não é, até mesmo do limitado ‘céu terreno’, representado pela atmosfera terrestre. Se você viajar bastante pelo ar, você passa pelos aeroportos e vê os aviões vindo e indo, vindo e indo, em todos os poucos minutos, o dia todo e a noite toda, e dia após dia - e, contudo, quando você sobe para o céu, raramente você vê um outro avião. É quase um evento passar por um outro avião no ar, tão vastos são os céus em sua expansão. E esta carta foi escrita no campo dos superlativos de espaço, nos lugares celestiais espirituais, completamente acima das limitações da terra.
Novamente, a carta foi escrita em termos de superlativo de poder. Há apenas uma sentença aqui, muito familiar a nós, que fala disso: ‘sobreexcelente grandeza de Seu poder sobre nós os que cremos’ (Ef.1.19). Há muito deste poder, poder superlativo, e sua operação, nesta carta.
Além disso, esta carta é a carta do superlativo em conteúdo. Como se aproximar e explicar isto é muito difícil. Você vê, alguns de nós temos falado, dado conferência, dado palestras, sobre esta carta aos Efésios - e ela é apenas uma pequena carta, no que se refere à quantidade de capítulos e palavras - por mais de quarenta anos, e nós ainda não chegamos perto dela. Eu desafio você a exaurir o conteúdo desta carta. Não importa quanto você tenha ido - sempre irá sentir: ‘Ainda não comecei a me aproximar dela’. Sei o que alguns de vocês pensam sobre mim em relação a esta carta. Tenho até receio de mencionar o próprio nome ‘Efésios’! Mesmo que eu tenha meditado mais uma vez sobre esta carta no tempo presente, tenho falado para mim mesmo: ‘Gostaria de começar agora a dar uma longa série de mensagens sobre a carta aos Efésios, e eu não deveria tocar muito no antigo terreno!’ É desta maneira. Porém, quando você olha para ela e a considera, você descobre que está num campo de superlativos, no que se refere ao conteúdo, e ela começa com ‘o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; ’ (Ef 1.3). Pode você ir acima ou fora disto? Você não pode!
Novamente, ela está no terreno do super-terreno. A terra se torna aqui uma coisa muito pequena, e tudo aquilo que nela se dá. Toda sua história e tudo o que está aqui se torna realmente muito pequeno. A terra é completamente transcendida. Ela é super-racial, como veremos num instante. Ela não está lidando apenas com uma raça ou duas. Nela tudo é uma raça só.
Ela é super-natural. Olhe novamente, e você descobre que tudo aqui está num plano que está totalmente acima do natural. Você não pode naturalmente compreendê-la, explicá-la. É Divina revelação. É pelo Espírito de sabedoria e revelação. ’ Isto é super-natural. O conhecimento que está aqui é obtido de modo super-natural.. E o que mais irei dizer sobre o ‘super’? A lista poderia ser facilmente estendida. Será que falei o suficiente? Posso eu continuar salientando em qual terreno isto está, em que âmbito? Você vê, há várias grandes palavras aqui. Dei a você três delas.
‘A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, ’ (Ef 3.8)
Esta carta foi escrita em termos incompreensíveis, insondáveis.
‘E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. ’ (Ef 3.19)
‘O amor de Cristo, que excede todo entendimento’. Aqui temos o incompreensível.
‘Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, ’ (Ef 3.20)
Aqui está o transcendental. Essas são grandes palavras, mas você precisa de grandes palavras para esta carta, e eu estou procurando impressioná-lo.
A Maior Crise da História Religiosa
Agora, vamos entrar mais para o lado de dentro disto. Esta carta, em seu conteúdo, representa talvez a maior crise na história religiosa. Isto é dizer muito. Tem havido muitas crises na história religiosa, e grandes crises, mas esta carta representa a maior de todas elas. Antes que o Senhor fosse levantado da morte, e fosse para o céu, e o Espírito Santo viesse no dia de Pentecoste, havia apenas duas classes de pessoas na terra. Toda a raça humana estava dividida em duas classes de pessoas, os gentios e os judeus. Quando o Espírito Santo veio, uma terceira classe passou a existir, a qual do ponto de vista de Deus não é nem gentio nem judeu: é a Igreja de Deus. Eles são tirados das nações dos gentios e do meio dos judeus, porém, no que diz respeito a Deus, não são nem judeus nem gentios, ou, como Paulo coloca: ‘nem judeu nem grego’ (Gal 3.28). ‘Grego’ era uma palavra representativa, que compreendia os gentios. Quando o Senhor Jesus vier novamente, como Ele está vindo, e levar a Igreja, as outras duas classes irão permanecer aqui. Haverá uma inversão na terra ao que era antes. O mundo todo ficará novamente dividido em gentios e judeus.
Assim, isto que aconteceu em Pentecoste, esta terceira classe de pessoas espiritualmente separada, chamada de Igreja, representa a maior de todas as crises na história humana pela seguinte razão, e na seguinte forma - que esta Igreja não é algo apenas de história terrena. O apóstolo deixa isto perfeitamente claro, bem no início desta carta aos Efésios, que esta Igreja teve a sua existência na presciência de Deus antes que o mundo existisse. Esta Igreja é uma coisa super-temporal, que transcende todo tempo e que transcende a terra. Esta Igreja, o apóstolo deixa claro, irá existir pelos séculos dos séculos, ainda super-temporal, super-terrena, quando os judeus e gentios se forem. Sim, haverá nações salvas na terra: porém esta outra continuará num relacionamento que é totalmente fora deste mundo e fora do tempo; e é em relação a esta classe particular, este povo, esta Igreja, que todas estas coisas são ditas nesta carta. É esta Igreja que leva a característica de todos esses superlativos. Isto é por si só algo superlativo, esta é a coisa suprema na economia de Deus, esta é a coisa suprema em todas as atividades soberanas de Deus de eternidade a eternidade. Vivemos na dispensação de algo absolutamente transcendente - Deus tirando das nações, tanto de judeus como gentios, este povo chamado de Igreja, que é ‘o corpo de Cristo’.
Um Vaso e um Chamado Superlativo
Agora, este vaso superlativo, ou instrumento, ou povo, tem uma chamada superlativa ou transcendente. Os judeus tiveram uma chamada terrena para servir a um propósito terreno, uma vocação de tempo sobre esta terra. Muitos crêem fortemente que eles ainda servem ao tal propósito. Há outros, e entre eles notáveis estudiosos da Bíblia, que crêem que o dia dos judeus acabou, como na economia de Deus, e que tudo foi transferido para a Igreja agora, devido ao fracasso dos judeus. Eu não vou discutir isto; isto não entra em nossa consideração absolutamente. O fato permanece que os judeus foram levantados para servir a um propósito terreno e temporal na economia de Deus. Porém, esta Igreja, salva eternamente - escolhida eternamente, como o apóstolo diz, em Cristo Jesus antes que o mundo existisse - ela tem uma chamada superlativa para servir aos propósitos de Deus no céu. É algo atemporal, superlativo em chamada, em vocação. É uma coisa tremenda que está aqui.
Geralmente colocamos isto desta forma, e de fato é o que a carta aos Efésios ensina - temos que abordar isto de outra maneira agora - que este mundo, quanto à sua conduta, está influenciado por toda uma hierarquia espiritual. Até mesmo os homens que não têm muito discernimento espiritual, homens dos quais dificilmente pensaríamos deles como cristãos, no sentido essencial de ser um filho de Deus nascido de novo, até mesmo estes homens têm que reconhecer e admitir isto: que por trás do comportamento deste mundo há alguma força sinistra, alguma força maligna, alguma inteligência perversa. Eles podem hesitar em nominá-la, chamá-la de Satanás, o Diabo, e assim por diante, porém a Bíblia a chama exatamente disto. Por trás do curso da história deste mundo, como a conhecemos - por trás das guerras, das rivalidades, do ódio, da amargura, da crueldade, todo o conflito e clamor de interesses, e tudo mais - há uma inteligência maligna, um poder em serviço, todo um sistema que procura destruir a glória de Deus em Sua criação. E todo este sistema é dito aqui estar no chamado ‘lugares celestiais’, isto é, alguma coisa acima da terra; no ar, se você preferir, na atmosfera. Algumas vezes você pode senti-lo: algumas vezes você pode quase ‘cortar a atmosfera com uma faca’, como dizemos; algumas vezes você sabe que há algo no ar que é perverso, maligno. Você não consegue mostrar isto para as pessoas; há algo por trás das pessoas, algo a respeito. É muito real - algumas vezes quase tangível, você pode quase sentir - algo maligno e perverso. É isto que está governando este sistema e ordem mundial.
Agora, o que está aqui nesta carta é isto, que a Igreja, concebida eternamente, conhecida de antemão, escolhida, e trazida à existência em seu começo no dia de Pentecoste, e crescendo espiritualmente através dos séculos - esta Igreja é para tomar o lugar deste governo maligno acima desta terra. É para destituí-lo e o lançar fora de seu domínio, e assumir aquele lugar, a fim de ser a influência que governa este mundo nos séculos que estão por vir. Este é o ensino aqui: um chamado superlativo, uma vocação superlativa, por causa de um povo superlativo em sua própria natureza. Há algo diferente sobre este povo em relação aos demais. Este é o segredo da verdadeira vida cristã - daqueles que verdadeiramente estão em Cristo: Há algo sobre eles que é diferente. Para este mundo, os cristãos são um problema e um enigma. Você não pode colocá-los em nenhuma classe terrena. Você não pode classificar um cristão. De uma forma ou outra, eles iludem você o tempo todo. Você não pode decifrá-lo.
Agora, nesta carta Paulo fala primeiramente desta chamada superlativa, e, então, diz que, por causa da grandeza desse chamado, esta Igreja deve se comportar de forma correspondente. ‘Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, ’ (Ef. 4.1). A conduta tem que ser ajustada à chamada. Oh, aquele povo cristão se comportou de acordo com a sua chamada - com a sua grande, eterna, celestial vocação! Porém, por causa deste chamado, este destino, esta vocação, esta posição, aquela hierarquia maligna está posicionada até a sua última medida, para destruir este vaso chamado de Igreja, e por isso, há um imenso e terrível conflito em curso no ar, e os cristãos enfrentam isto. Quanto mais você procura viver de acordo com o seu chamado, mais percebe quão difícil é, e o que está colocado contra você. É um terrível e acirrado conflito.
Recursos Superlativos
Agora, anote aí, isto é o que Paulo chama de evangelho - tudo isto é o evangelho! Você alguma vez já teve idéia do evangelho como este? Você já pensou sobre o evangelho nesses termos? Sim, ele ainda é o evangelho, o mesmo evangelho; não outro, o mesmo. Agora, porque tudo isto é verdade quanto ao evangelho, certamente as exigências são muito grandes. A reação de muitos, quando você diz coisas como esta, é: ‘Oh, eu não posso alcançar isto - isto está completamente distante de mim, isto é muito para mim, isto é esmagador, irresistível! Dê-me o evangelho simples!’ Mas eu me pergunto se nós percebemos no que nós mesmos estamos envolvidos quando falamos desta forma. Pois é simplesmente aí que a verdadeira natureza do evangelho entra, em toda esta carta. Sim, o chamado é grande, é imenso; a conduta deve estar à altura; o conflito é feroz e amargo. E isto faz exigências tremendas. Se isto é o evangelho, então, como devemos nos posicionar a ele, como vamos encará-lo, como vamos enfrentá-lo, como vamos nos mostrar à sua altura, como vamos receber aprovação?
Bem, voltamos à frase para qual estou juntando o todo desta carta. Está aqui: ‘para evangelizar as riquezas imensuráveis de Cristo’. Está traduzido ‘pregar’ em nossas Bíblias, porém, é a mesma palavra, como você sabe, na forma verbal. ‘Para evangelizar as riquezas imensuráveis de Cristo’. As boas novas são as riquezas imensuráveis! Oh, isto é algo para nós nos regozijarmos, quando pressionados; sentindo que nunca estaremos à altura, nunca iremos ser aprovados. As riquezas superlativas são para uma vocação superlativa e para um conflito superlativo, e para uma conduta superlativa.
‘Riquezas imensuráveis’. Agora, esta é uma palavra característica que você encontra espalhada por esta carta. Riquezas! Riquezas! No capítulo 1, verso 7, temos ‘as riquezas de Sua graça’. Esta frase é ampliada em 2.7 - ‘as abundantes riquezas de Sua graça’. E, então, e, 1.18 está a herança - ‘As riquezas da glória de Sua herança nos santos’. Isto simplesmente significa que os santos são a herança de Jesus Cristo, é Ele quem deve suprir a riqueza, e é ‘conforme as riquezas de Sua graça’ que Ele irá encontrar ‘as riquezas de Sua herança’ na Igreja. Há muito mais coisa dita sobre isto. Em 3.16 a palavra é usada novamente - ‘as riquezas de Sua glória’. Riquezas! Riquezas! Muito bem: se as exigências são grandes, há uma grande provisão. Se a necessidade é superlativa, os recursos são superlativos. Tudo isto estabelece e indica a base e os recursos da Igreja para a sua chamada, para sua conduta, e para o seu conflito.
Assim, o que é ‘o evangelho conforme Paulo’ na carta aos Efésios? É o evangelho das ‘riquezas insondáveis’ para exigências superlativas, e, quando você disse isto, você é deixado a nadar num imenso oceano. Vá para a carta novamente, leia-a cuidadosamente, observe. Sim, há um padrão elevado aqui, há grandes exigências aqui, há coisas tremendas em vista aqui; mas também há as riquezas de Sua graça, as riquezas insondáveis de Sua graça para tudo. Lá estão as riquezas de Sua glória: é colocada da seguinte forma - ‘de acordo com as riquezas insondáveis de Sua glória’. Agora, se você puder explorar, medir, exaurir, as riquezas de Deus em glória, então você coloca um certo limite sobre as possibilidades e potencialidades. Porém, se, após você ter dito tudo que você tentou dizer na linguagem humana, como o apóstolo fez aqui, você descobre que não conseguiu superlativos suficientes às suas ordens quando está falando sobre as riquezas que estão em Deus por meio de Jesus Cristo, então, tudo é possível - conforme as riquezas de Sua graça e de Sua glória.
Isto é evangelho, não é? Certamente estas são boas novas, boas notícias! E, caros amigos, nós iremos conseguir passar - e não devemos apenas passar de arranhão. Se for desta forma, devemos passar superlativamente. Que o Senhor nos traga para os superlativos do evangelho, das boas novas.
CAPÍTULO 5 - EM SUA CARTA AOS FILIPENSES
Continuando nossa investigação sobre o que o apóstolo quis significar com suas palavras ‘o evangelho que prego’, tomamos em nossas mãos a pequena carta escrita por Paulo aos Filipenses. Embora esta foi uma das últimas escritas de sua prisão em Roma, um pouco antes de sua execução, ao final de uma longa, plena vida de ministério e serviço - descobrimos que ele ainda está falando de tudo como ‘o evangelho’. Ele não deixou o evangelho, ele não foi para além do evangelho. De fato, ao final ele está mais do que nunca consciente das riquezas do evangelho que está muito além dele.
Aqui estão as referências que ele faz nesta carta em relação ao evangelho:
‘Dou graças ao meu Deus... Pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora.’ (Fl 1.3,5)
‘Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho.’ (1.7)
‘Uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.’ (1.16-18)
‘Mas bem sabeis qual a sua experiência, e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai.’ (2.22)
‘E peço-te também a ti, meu verdadeiro companheiro, que ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida.’ (4.3)
‘Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente;’ (4.13-15).
Você vê, há muito sobre o evangelho nesta carta. Digo ‘pequena’ carta. Esta carta é semelhante a uma linda jóia na coroa de Jesus Cristo, ou como uma pérola cujas cores são o resultado de excepcional dor e sofrimento. É algo muito caro e muito precioso. No que diz respeito aos presentes capítulos e versículos, é uma carta pequena. É uma das menores cartas de Paulo, porém, em seus valores intrínsecos, ela é imensa; e como uma real demonstração do que é o evangelho, há poucas coisas no Novo Testamento a ser comparado a ela. A que realmente chegamos nesta carta não é apenas uma demonstração do que o evangelho é em verdade, mas um exemplo do que o evangelho é em efeito. Olhe para ela novamente, discorra sobre ela com o coração aberto, e penso que o seu veredicto será - certamente deveria ser - ‘Bem, se isto é o evangelho, dê-me o evangelho! Se isto é o evangelho, é algo que vale a pena se ter!’ Este certamente é o efeito de se ler esta carta. Ela é um exemplo maravilhoso do evangelho em expressão.
A Carta do Regozijo de Triunfo
Mas na medida que a lemos, descobrimos que ela se reduz a isto: Ela é, talvez, mais do que qualquer outra carta no Novo Testamento, a carta do regozijo de triunfo. Regozijo flui através desta carta. O apóstolo está repleto de alegria. Parece que ele mal consegue se conter. No último capítulo, falávamos de seus superlativos em relação ao grande chamado da Igreja no evangelho. Aqui o apóstolo está encontrando dificuldade para expressar-se quanto à sua alegria. Olhe você para isto. Olhe apenas para as primeiras palavras, sua introdução, e veja. Mas isto flui por toda a carta até o final. Ela tem sido chamada de a carta do regozijo de Paulo em Cristo, mas é uma alegria de triunfo, e triunfo em três direções. O triunfo de Cristo; triunfo em Paulo; e triunfo nos cristãos em Filipos. Isto realmente resume toda a carta: o triunfo tripartite com seu regozijo e exultação transbordante.
O Triunfo De Cristo
Primeiramente, triunfo em Cristo e de Cristo. É nesta carta que Paulo nos dá aquela incomparável revelação do grande ciclo da redenção - o curso sublime tomado pelo Senhor Jesus em Sua obra Redentora. Nós O vemos, antes de tudo, na posição de igualdade com Deus: igual com Deus, e tudo o que isto significa - tudo o que isto significa para Deus ser Deus. Quão grande é isto! - quão pleno, quão elevado, quão majestoso, quão glorioso! Paulo aqui diz que Jesus existia em igualdade com Deus. E, então, ‘não tendo por usurpação ser igual a Deus, esvaziou-se a Si mesmo’. Ele se esvaziou de tudo aquilo, abriu mão, pôs de lado, desistiu daquilo. Apenas imagine sobre o que Ele iria ter em troca. Esses são pensamentos quase impossíveis de se imaginar: Deus, em toda a Sua infinita plenitude de poder e majestade, em Seu domínio de glória e plenitude eterna, permitindo que homens de Sua própria criação, até mesmo os mais desprezíveis deles, cuspissem Nele, zombassem e escarnecessem Dele. Ele colocou isto de lado; esvaziou-se a si mesmo, assumiu a forma de homem; e não apenas isto, mas ainda sem qualquer direitos pessoais; sem quaisquer privilégios, sem títulos. A Ele não foi permitido escolher por Si mesmo, seguir por seu próprio caminho, e muito mais. Paulo diz que Jesus assumiu a forma de servo.
E, então, ele continua e diz que ‘Ele Se humilhou a Si mesmo, tornou-se obediente até a morte’: e não uma morte gloriosa, não uma morte da qual as pessoas falassem em termos de elogio e admiração. ‘Sim’, diz o apóstolo, ‘morte de cruz’ - a morte mais vergonhosa e infame, com tudo que isto significa. Como você vê, o mundo judaico, o mundo religioso daquele tempo, tinha escrito em seu livro que maldito por Deus era aquele que fosse pendurado no madeiro. Jesus foi obediente a ponto de ser encontrado no lugar de alguém amaldiçoado por Deus. Foi assim que eles olharam para Ele - como um maldito de Deus. E, quanto ao resto do mundo, o mundo gentio, toda a sua concepção daquilo que devia ser adorado como alguém que jamais pudesse ser vencido, alguém que jamais pudesse ser achado numa situação que pudesse causá-lo vergonha, alguém que pudesse se apresentar ao mundo como um sucesso - esta era a sua idéia de um deus. Porém aqui está este Homem na cruz. É Ele um sucesso? Isto não é nenhum sinal de sucesso. Isto não é indicação de força humana. Isto é fraqueza. Não há nada honroso a respeito disso - É uma desgraça. Isto é humanidade no seu pior.
E, então, o ciclo muda, e o apóstolo irrompe aqui e diz: ‘Por isso também, Deus soberanamente o exaltou, e lhe deu um nome que está acima de todo nome; para que ao nome de Jesus todo joelho se dobre’ - mais cedo ou mais tarde; seja reconhecê-Lo com alegria como Senhor, seja reconhecê-Lo forçadamente; mais cedo ou mais tarde, no determinado conselho do Deus Altíssimo, isto acontecerá; ‘e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória do Pai’. Que ciclo! Que triunfo! Você não pode encontrar triunfo maior do que este: e Paulo chama isto de evangelho. São as boas novas do tremendo triunfo de Cristo. Ele triunfou neste ciclo, e tudo isto que está incluído no triunfo é evangelho. Nós não podemos discorrer longamente sobre isto, quanto ao porquê Ele fez isto, ou o que ele efetivou através disto, o que Ele assegurou com isto. Tudo isto é evangelho. Mas o fato é que desta forma Cristo realizou uma tremenda vitória. Em todo o ciclo do céu e da terra, das maiores alturas às maiores profundezas, Ele triunfou. Paulo descobre uma alegria indizível em contemplar isto. Isto é o que ele chama de boas novas, o evangelho - triunfo em Cristo.
Triunfo Na Própria História Espiritual De Paulo
Paulo, então, vem em si mesmo, e nos dá nesta carta quase uma autobiografia. Ele nos fala algo de sua própria história antes de sua conversão, quanto a quem e o que ele era, e onde ele estava, e o que ele tinha. Naturalmente, não foi nada comparado ao que o seu Senhor tinha tido e o que tinha renunciado. Mas o próprio Paulo, como Saulo de Tarso, tinha muita coisa por nascimento, por herança, por criação, por educação, por estatus, por prestígio, e tudo mais. Ele tinha muita coisa. Ele nos fala sobre isso aqui. Tudo de que o homem poderia se gabar - ele tinha. E, então, ele encontrou Jesus, ou Jesus lhe encontrou; e a coisa toda, ele disse - tudo o que ele tinha e possuía - tornou-se em suas mãos como cinza, como escória! ‘Reputei como perda’.
Muitas pessoas têm esta falsa idéia sobre o evangelho, que, se você abraçar o evangelho, se você se tornar um cristão, se você se converter, ou seja lá como você possa colocar isto, você irá ter que perder ou desistir de algo, você tem que desistir disso e de mais alguma coisa. Se você se tornar um cristão, isto será apenas uma longa história de renunciar, renunciar, renunciar, até que mais cedo ou mais tarde você esteja destituído de tudo. Ouça! Aqui está um homem que tinha muito mais do que você tem ou já teve. Não podemos nos comparar a este homem em sua vida natural, em tudo o que ele foi e em tudo o que ele tinha, e todas as perspectivas que estavam diante dele, como um homem jovem. Quase não há dúvida de que, se Paulo não tivesse sido um cristão, o seu nome teria sido esquecido na história, juntamente com alguns outros nomes muito famosos de sua época. Porém ele diz - não nessas palavras, mas em muitas outras além dessas: ‘Quando encontrei o Senhor Jesus, tudo para mim se tornou perda’. Renunciou? Quem irá achar qualquer sacrifício em desistir de uma vela quando encontrou o sol? Sacrifício em que? Oh, não! ‘Em comparação a Cristo, considero tudo como escória’.
Que vitória! Que triunfo! Como você vê, esta renúncia - bem, vamos colocar assim, se você quiser - porém, Paulo está muito feliz a respeito. Este é o ponto. É a alegria de Paulo, a alegria de uma vitória tremenda em si mesmo.
Triunfo No Ministério de Paulo
Porém mais, aqui está a história de uma grande vitória em seu ministério, em sua obra. Recordamos a história de como ele foi a Filipos. Ele tinha estabelecido ir à Ásia, para pregar o evangelho lá, e estava em seu caminho, quando, naquela misteriosa providência de Deus que somente se explica mais adiante, e nunca antes, ele foi proibido, impedido, barrado. O dia se encerrou com um caminho fechado, com uma viagem barrada. Ele estava perplexo quanto ao significado disso; ele não entendeu. Servindo ao Senhor durante aquela noite, ele teve uma visão. Ele viu um homem da Macedônia - Filipos fica na Macedônia - dizendo: ‘Passa à Macedônia, e ajuda-nos’ (At 16.9). E Paulo disse: ‘Procuramos ir...concluindo que o Senhor tinha nos chamado para pregar o evangelho a eles’. Assim, desviando-se da Ásia, voltou-se ele para a Europa, e foi para Filipos.
Algumas vezes, contratempos e mudanças de planos podem ser um bom terreno de uma grande vitória. Deus pode obter muito pondo de lado nossos queridos planos, e mudar tudo para nós. - Mas continuando. Paulo veio para Filipos. E o Diabo sabia que ele tinha vindo, e se pôs à obra e disse, em efeito: ‘Não se eu puder impedir, Paulo!’ Vou fazer este lugar muito quente para você ficar aqui!’ E ele se pôs a trabalhar, e, logo Paulo e seus companheiros foram parar numa masmorra, com seus pés amarrados, sangrando do açoite que tinham recebido. Bem, isto não parece muito com uma direção Divina! Onde está a vitória disto? Mas espere. O próprio carcereiro e sua família foram salvos naquela noite. Eles vieram para o Senhor e foram batizados. E quando, anos mais tarde, em outra prisão em Roma, Paulo escreveu esta carta para os santos que tinha deixado em Filipos, ele colocou numa frase como esta: ‘meus amados e mui queridos irmãos’. (Fp 4.1). Gostaria de pensar que o carcereiro e sua família estavam incluídos nisto. ‘Amados e mui queridos irmãos’. E na mesma carta ele diz: ‘E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho;’ (Fp 1.12). É um quadro de triunfo, não é? - o triunfo em sua vida e em seu ministério.
Triunfo Nos Sofrimentos De Paulo
E ele triunfou em seus sofrimentos. Ele fala algo sobre seus sofrimentos nesta carta, os sofrimentos que estavam sobre ele, como ele escreveu; porém, tudo isto está numa nota e espírito de triunfo. Ele diz: ‘Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte.’ (1.20) Não há qualquer traço de desespero aí, há? ‘Tanto agora, como sempre, Cristo deve ser engrandecido em meu corpo, seja pela vida ou pela morte’. Isto é triunfo. Sim, isto é triunfo, isto é alegria.
Porém mais: ele disse: ‘Cristo manifestado em minhas cadeias’. Uma coisa maravilhosa, esta! Trazido para Roma, algemado por um soldado da guarda romana, nunca permitido mais do que uma certa medida de liberdade - e, contudo, você não pode calar este homem! Ele tem uma coisa que ‘está livre’ o tempo todo, e que percorreu por toda guarda pretoriana (1.3). Se você soubesse algo sobre a guarda pretoriana, você diria: ‘Isto é triunfo!’ No próprio quartel general de César, e um César tal qual ele era, o evangelho é triunfante. Foi falado a respeito do evangelho por toda guarda pretoriana! Sim, há triunfo em seus sofrimentos, em suas cadeias, em suas aflições. Isto não é apenas palavra. É um triunfo glorioso; e isto é o evangelho em ação, o evangelho em expressão.
Triunfo Nos cristãos de Filipos
E este triunfo não se deu apenas em Cristo e em Paulo, mas nos filipenses. É uma linda carta de triunfo da graça Divina nesses filipenses. Você pode ver isto, primeiramente, em sua resposta; e você realmente precisa saber algo sobre Filipos naqueles dias. Você possui apenas uma pequena idéia do que aconteceu a Paulo. Você sabe sobre o templo pagão, com seu terrível sistema de mulheres escravas, e tudo isto está ligado com aquela coisa horrível. Assim que Paulo e seus companheiros saíram pelas ruas de Filipos, uma daquelas jovens mulheres, da qual se diz que tinha um espírito de pitonisa, um demônio de adivinhação, uma verdadeira possessão de Satanás, persistentemente seguia e gritava após eles.
Este é o tipo de cidade que Filipos era, e Paulo descobre que é possível escrever uma carta como esta para crentes numa cidade como aquela. Não é isto triunfo? Penso que haver uma igreja absolutamente em Filipos é uma coisa, porém, uma igreja como esta é algo mais. E não é somente na resposta deles ao evangelho, que tanto custou a eles. Olhe novamente para a carta, e veja o amor mútuo que eles tinham um pelo outro. Isto de fato é uma jóia na coroa de Cristo. Esta carta tem sido chamada de a carta do grande amor de Paulo. Todas as coisas fluem com amor, e isto é por causa do amor que eles tinham uns pelos outros. Amor deste tipo não é natural. Esta é a obra da Graça Divina nos corações humanos. Esta carta fala de um grande triunfo. Se há algo a acrescentar, podemos lembrar que, quando Paulo estava em necessidade, foram essas pessoas que se preocuparam com as suas necessidades e enviaram-lhe ajuda. Eles se preocuparam com o homem a quem eles deviam tanto pelo evangelho.
Bem, tudo isto constitui este tremendo triunfo. Esta é uma carta de triunfo, não é? Provamos o nosso ponto de vista, penso eu. Repito: Este é o evangelho! Mas Paulo diz que essas pessoas de Filipos, esses crentes, são modelo - são exemplo; e assim, o que temos que fazer ao final desta revisão é perguntar: ‘o que é o evangelho, no que diz respeito a esta carta? Quais são as boas novas aqui? As boas notícias? Como pode este tipo de coisa ser repetida e reproduzida?’
O Segredo do Triunfo
Nós não estamos lidando com pessoas de virtudes peculiares, um tipo especialmente fino de pessoa. É apenas homem, pobre, humanidade frágil: a partir disso pode tal coisa ser repetida, reproduzida? Podemos nós esperar por alguma coisa como essa hoje? Seriam boas novas se isto pudesse ser provado para nós que há um caminho de se reproduzir esta situação hoje, não seriam?
Como, então? Há nesta carta uma frase chave? Temos procurado em nossos estudos nessas cartas reunir tudo em alguma frase característica de cada. Há tal frase nesta carta que nos dê a chave para isto tudo, a chave para nós mesmos entrarmos na grande vitória de Cristo e em todo o valor disso? Podemos achar a chave para nos abrir a porta para a posição que Paulo ocupava - de modo que tudo o que este mundo possa oferecer e que possa ser colocado à nossa disposição seja sem gosto, insignificante, em comparação a Cristo? Há uma chave que possa nos abrir a porta para aquilo que os filipenses tinham alcançado?
Penso que há, e penso que você a encontra no primeiro capítulo, na primeira sentença do verso 21: ‘Pois para mim o viver é Cristo’. Esta é a boa notícia do fascinante Cristo. Quando Cristo realmente cativa, tudo acontece e tudo pode acontecer. Foi assim com Paulo e com aquelas pessoas. Cristo simplesmente tinha cativado a todos eles. Eles não tinham outro propósito na vida além de Cristo. Eles podem ter tido seus negócios, seus comércios, suas profissões, diferentes ocupações no mundo, porém eles tinham apenas um propósito, preocupação e interesse dominante - Cristo. Para eles Cristo estava acima de todas as coisas. Não há outra palavra para isto. Ele simplesmente os cativou.
E vejo, caros amigos, que isto - simples como possa soar - explica tudo. Explica Paulo, explica esta Igreja, explica esses crentes, explica o amor mútuo que tinham. Isto resolveu todos os seus problemas, removeu todas as suas dificuldades. Oh, isto é o que nós precisamos! Se tão somente você e eu fôssemos assim, se fôssemos, afinal de contas, cativados por Cristo! Não posso transmitir isto para você, porém, na medida que olhei para esta verdade - olhado para ela, lido, pensado a respeito - senti algo mover em mim, algo inexplicável. Afinal de contas, nove de cada dez de todos os nossos problemas podem ser ligados ao fato de que temos outros interesses pessoais nos influenciando, governando-nos, controlando-nos - outros aspectos da vida que não Cristo. Se apenas isto pudesse ser verdade, que Cristo nos capturasse, nos cativasse, nos governasse, e se tornasse - usarei a palavra - uma obsessão, uma gloriosa obsessão! Penso que isto é o que o escritor do hino quis significar quando escreveu: ‘Jesus, Amor da minha alma’, e quando mais adiante diz: ‘Mais do que tudo em Ti eu encontro’. Quando for desta maneira, estaremos cheios de alegria. Não há arrependimentos em ter desistido de tudo. Ficamos cheios de alegria, cheios de vitória. Não há espírito de derrota absolutamente. É a alegria de um grande triunfo. É o triunfo de Cristo sobre a vida. Sim, tem sido, e porque tem sido, pode ser novamente.
Porém isto precisa de algo mais do que apenas um tipo mental de apreciação. Podemos tão facilmente esquecer o ponto. Podemos admirar as palavras, as idéias; podemos cair nelas como uma bonita apresentação; mas, oh, precisamos que o nosso ego seja varrido - nossas reputações, tudo que esteja associado conosco e com a nossa própria glória - que Aquele que cativa possa ser o Único em vista, o único com reputação, e nós aos Seus pés. Este é o evangelho, as boas novas - quando Cristo realmente cativa, o tipo de coisa que está nesta carta acontece, realmente acontece. Vamos pedir ao Senhor por esta fascinação de vida de Seu Filho amado?
CAPÍTULO 6 - EM SUA CARTA AOS COLOSSENSES
Ao chegarmos a esta carta aos Colossenses, de modo a lançar uma fundação, leremos alguns versos do incomparável primeiro capítulo.
‘Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; Corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo; Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.’ (Cl 1.9-20)
Boas Notícias Numa Situação Emergencial
Agora, se alguma coisa é pra ser uma boa notícia, deve haver uma situação para a qual ela traga alívio, segurança, conforto ou gratificação. Se ela não interessa, então não é boa notícia. Por exemplo, suponha que alguém, com quem a sua vida e coração esteja intimamente ligada, seja acometido por uma séria e crítica doença, e você busca ajuda médica. Você está sob uma pesada carga de ansiedade: e é muito importante para você onde isto termina; e você espera pelo que parece ser uma eternidade para que o médico venha e lhe dê um relatório. Quando ele chega e diz: ‘Está tudo bem, não precisa se preocupar; as coisas estão tudo bem, dará tudo certo’, esta é de fato uma boa notícia. Se houver uma grande decisão posta na balança, que irá afetar de alguma maneira o seu futuro, sua carreira, sua vida, e uma comissão está analisando, e você espera do lado de fora com o coração na boca (como dizemos), sentindo-se muito ansioso quanto ao que está ocorrendo: quando alguém chega e diz: ‘Tudo bem, o emprego é seu, a nomeação’, isto é boa notícia. Isto lhe traz um sentimento imenso de alívio. Se houver uma batalha em curso, o assunto da maior importância, e alguém sai do cenário da luta e diz: ‘Está tudo bem, nós iremos ter êxito!’ - isto é um tremendo alívio. Isto é boa notícia. Aquilo nos toca, significa algo para nós. Tem que haver realmente algo na natureza de uma situação de emergência para dar lugar a boas notícias.
A Situação Emergencial Em Colossos
Agora, no caso de quase todas as cartas de Paulo, havia uma situação emergencial. Algo tinha se levantado na natureza de uma ameaça à vida cristã daqueles a quem o seu coração estava ligado; algo tinha se levantado que estava causando muita preocupação e ansiedade por aqueles cristãos. Eles estavam em real dificuldade; o futuro parecia incerto. Foi a fim de suprir a tais emergências que Paulo escreveu suas cartas, e em todas elas ele usa esta palavra ‘evangelho’, ou ‘boas novas’ - boas notícias para uma emergência, boa notícia para esta situação crítica.
Nesta carta aos Colossenses é peculiarmente assim. Havia uma emergência real entre os crentes de Colossos. Mas era a mesma emergência que toma formas diferentes em diferentes tempos - ela é presente hoje em sua própria forma. Ela se referia ao seguinte: que havia certas pessoas, que se consideravam a si mesmos como sendo muito conhecedores, sábios, inteligentes, pessoas estudadas, que tinham ido a fundo em coisas misteriosas, e que estavam trazendo as suas idéias e teorias sobre aqueles cristãos. Tudo tinha a ver com as grandes magnitudes da vida.
Primeiramente, o assunto em vista não era nada menos do que o real significado do universo criado. Agora, isto pode ser, naturalmente, um campo para especulação filosófica; mas você sabe que, de certa maneira, isto chega muito perto do coração do cristão. Há um desenho para tudo, ou todas as coisas simplesmente tomam um curso mecânico, ou são levadas por alguns poderes misteriosos que são inimigos do bem-estar humano? Há algum desenho real por trás deste universo criado? Para levar isto um passo mais adiante: Existe um propósito para tudo? Mais cedo ou mais tarde, os cristãos se deparam com estas questões. Sob ameaça, prova, pressão e sofrimento, algumas vezes não sabemos o que fazer com essas coisas. Este parece ser um universo caótico, cheio de enigmas e contradições, e paradoxos, e temos um mau tempo sobre isto. Existe um plano no universo - há realmente um controle Divino em tudo neste universo, na história da humanidade e em tudo o que acontece? Há, afinal de contas, para usar uma palavra que penso não apreciarmos muito, uma providência para tudo e em tudo? - Quer dizer, está tudo sendo feito para funcionar conforme um projeto e propósito, que resulte num grande, Divino, final vantajoso?
Agora, essas pessoas estavam argumentando sobre isto, e os cristãos de Colossos estavam sendo grandemente perturbados com tudo isto.
E, então, isto chegou mais próximo de sua existência cristã. Isto tocou em suas vidas como filhos de Deus. Agora, se alguma pessoa no mundo deve estar bem segura quanto a essas questões - de que há um plano Divino, e um padrão Divino e uma Providência Divina - é o cristão, no entanto, a vida de muitos deles é afetada por isto, se é ou não assim. A questão de nossa segurança, de nossa confiança, de nosso descanso, de nossa força, de nosso testemunho, depende de se ter uma resposta para essas questões. O significado de todo este universo, a ordem e o propósito nele, o desenho e o controle dele, a providência sobre todos os eventos e acontecimentos em curso na história da humanidade - essas são as coisas que chegam bem próximas dos cristãos. Se tivermos alguma dúvida sobre isso, o nosso cristianismo não serve para nada, os fundamentos são tirados de sob os nossos pés, não sabemos onde estamos.
Esta foi a emergência em Colossos. A própria vida dos cristãos, da Igreja, estava ameaçada. E, se esta vida está ameaçada, seu crescimento também está ameaçado. A questão toda do crescimento da Igreja e dos cristãos estão em jogo - crescimento, desenvolvimento e maturidade. Se isto estiver ameaçado, então algo mais estará ameaçado: a coisa toda irá se desintegrar, irá cair em pedaços; sua unidade e coesão irão entrar em colapso; a coisa toda será espalhada em fragmentos. E assim, a própria esperança da Igreja e dos cristãos estão em jogo; sua esperança e seu destino. Essas não são questões pequenas. Elas podem chegar muito próximo em algum momento ou outro, e exigem uma resposta.
A Resposta À Situação
Agora, foi para suprir toda esta situação, para responder todas essas sérias questões, que Paulo escreveu esta carta: para confirmar os cristãos, para fundamentá-los, sustentá-los, encorajá-los; e ele chama isto de ‘boas novas’, e realmente é. Se você puder responder a tudo isto, de fato são boas novas, não são? Isto de fato é ‘boas novas’! Como você vê, o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo toca as mais extremas fronteiras deste universo, e cobre tudo dentro delas, incluindo a história da humanidade, os acontecimentos humanos, os eventos do mundo, os cursos das coisas, o desenho das coisas, o fim das coisas. O evangelho toca todas as coisas em cada ponto.
Assim, Paulo responde, e ele responde tudo numa só palavra. Sua resposta é: Cristo. Cristo é a resposta. Esta resposta é encontrada inclusivamente naquelas palavras no capítulo 3, verso 11, a última oração: ‘Cristo é tudo em todos’ . E que imenso ‘tudo’ Cristo é se Ele cobre todas as áreas! Se Ele alcança e abrange todas aquelas grandes questões, que Cristo Ele é! O fato que compreende tudo é enfática e categoricamente afirmada pelo apóstolo nesta carta. Ele afirma isto em muitas sentenças, mas nesta ele resume tudo. A resposta para todas as coisas está em Cristo. Cristo é a explicação para todos os acontecimentos na história da humanidade. Cristo explica este universo, Cristo dá característica a este universo, Cristo está por trás de todos os eventos neste universo. Cristo é a Pessoa que integra tudo, Aquele em quem todas as coisas subsistem.
‘Cristo é o fim, porque Cristo foi o começo; Cristo é o começo, porque Cristo é o fim’.
A Evidência De Que A Resposta É Satisfatória
Mas talvez você possa dizer: ‘Está tudo muito bem para Paulo fazer uma declaração como esta, mas qual é a evidência?’ Bem, a evidência é muito real. E deve ser dito que, se estivermos pedindo evidência, algo está errado conosco! Nós devemos ser a resposta, devemos ser a evidência: pois o testemunho disto é primeiramente pessoal, experiência espiritual do filho de Deus. Você pode deixar o vasto universo por um instante, se quiser, e vir para o pequeno universo de sua própria vida - pois, afinal de contas, o que é verdade no micro cosmo é sempre um reflexo do que é verdade no grande campo cósmico. Deus traz para aqui Sua evidência do circunferencial para o exato centro da vida cristã individual, e a resposta está aí. Qual é a experiência de um filho de Deus verdadeiramente nascido de novo?
Agora você pode fazer um teste se você é nascido de novo através disto, e, graças a Deus, sei que muitos de vocês serão capazes de dizer: ‘Sim, isto é verdade em minha experiência’. Mas deixe-me perguntar a você: Qual é sua experiência como um filho de Deus verdadeiramente nascido de novo? Quando você realmente veio para o Senhor Jesus - não importa como você possa colocar isto: quando você permitiu a Jesus entrar em seu coração, ou em sua vida, ou quando você entregou a sua vida a Ele; quando houve uma troca com Ele, um novo nascimento, pelo qual você se tornou um filho de Deus - não por algum ‘sacramento’ aplicado a você, mas por uma operação interior de Seu Espírito: quando você se tornou um filho de Deus de forma viva, consciente, qual foi a primeira consciência que veio a você, e tem permanecido com você desde então?
Não foi, e, não é, isto: ‘Há agora um propósito na vida, que eu nunca conheci antes; há um propósito nas coisas. Agora eu tenho a compreensão - de fato eu sei - de que eu não nasci e cresci neste mundo por acaso, mas havia um propósito por trás de tudo. Há propósito nas coisas; uma compreensão - você pode não ser capaz de explicar tudo, o que tudo significa - mas você tem uma compreensão agora de que alcançou, ou pelo menos começou a perceber, o real propósito de sua existência. É isto verdade? Quando o Senhor Jesus finalmente tem o Seu lugar em nossos corações, a grande pergunta da vida é respondida - a grande questão como o ‘Por quê’ de nossa existência. Até então, você vagueava ao redor, você fazia todos os tipos de coisas, você preenchia o tempo, você aplicava seu coração e mente, e mãos, porém, você não sabia qual o objetivo de tudo. Você pode ter uma vida bem cheia, uma vida realmente ocupada, fora de Cristo, e, contudo, chegar no final sem ser capaz de responder a pergunta, ‘Pra que serve tudo?’
Um homem, que tinha gozado uma vida inteira, que tinha se tornado famoso nas escolas do saber, uma grande figura no campo intelectual, no momento em que estava morrendo disse: ‘Estou dando um terrível salto no escuro’. Ele não tinha resposta para a questão. Porém, um simples filho de Deus, imediatamente quando chega diante do Senhor, tem a resposta na consciência, se não em esclarecimento, em seu coração, é isto que é chamado de ‘descansar’. ‘Vinde a Mim’, disse Jesus, ‘e Eu vos darei descanso’ (Mt 11.28). O descanso está nisto: ‘Bem, eu fui um peregrino, mas agora cheguei ao lar; estive à procura - eu encontrei; estive à procura de algo - Não sabia o que era - mas agora eu consegui’. Há propósito em seu universo, e haverá propósito no universo de qualquer outra pessoa, se tão somente ela entrar por este caminho.
E não apenas propósito, porém mais - controle. O filho de Deus bem cedo começa a perceber que está debaixo de um controle, de um senhorio; que há uma lei de governo estabelecido na consciência, que é diretiva: que, por um lado, diz: ‘sim’, o glorioso ‘sim’ de muitas liberdades; e por outro lado, ‘não - cuidado, devagar, observe!’ Todos nós sabemos isto. Não ouvimos estas palavras, mas sabemos que é isto que está sendo dito aos nossos corações. O Espírito de Cristo dentro de nós está dizendo: ‘Olhe para os seus passos - seja cuidadoso, seja vigilante’. Temos caminhado sob controle. Isto é estendido de muitas formas ao longo de toda a vida, mas é uma grande realidade. Este universo está sob controle, está sob governo. A evidência disto é encontrada dentro de nossas próprias experiências quando Cristo assume o Seu lugar. E você pode estender isto para os tempos futuros, quando todo o universo ficará desta forma, sob o controle de Cristo.
E, então, novamente: ‘em quem todas as coisas subsistem’. A coisa maravilhosa sobre a vida cristã é a sua integração, ou, se você preferir uma outra palavra, sua unificação. Quão separados, quão divididos, estávamos antes que Cristo assumisse o Seu lugar! Estávamos ‘em vários lugares’, como dizemos - uma coisa após a outra, olhando este caminho e aquele outro; corações divididos, vidas divididas, um conflito dentro de nossas próprias pessoas. Quando o Senhor Jesus realmente assumiu o Seu lugar como Senhor em nosso interior, a vida se unificou. Fomos simplesmente reunidos, concentrados numa única coisa. Temos apenas uma coisa em vista. O que Paulo disse de si mesmo se torna verdade: ‘mas uma coisa faço...’ (Fp 3.13). Somos um povo de ‘uma coisa só’. Cristo unifica a vida.
Que tal a vida em si, a vida do filho de Deus? Quando o Senhor Jesus está em Seu próprio lugar, a vida do filho de Deus fica segura, realizada, confirmada, e cresce; há um crescimento e uma maturidade espiritual. É uma coisa maravilhosa. Se, na vida de alguns cristãos, isto não é percebido como um fato, é por algum bom motivo - ou por um mal motivo! - mas, se o Senhor realmente é ‘tudo em todos’, na vida, se Ele ‘em todas as coisas tem a preeminência’, é maravilhoso ver o crescimento espiritual. Aqueles que têm bastante associação com cristãos jovens, ou têm muita experiência em lidar com cristãos jovens, descobriram que esta é a coisa mais impressionante - como, onde o Senhor Jesus possui o Seu caminho, como eles avançam espiritualmente, como crescem. Eles alcançam uma compreensão e um conhecimento que muitos estudiosos parecem ter perdido. Eles alcançam um real conhecimento espiritual. Enquanto outras pessoas estão tentando prosseguir por outros caminhos - intelectualmente, e assim por diante - esses jovens, os quais muitos deles não têm um cabedal de treinamento intelectual ou escolar - são pessoas simples - estão simplesmente pulando na frente espiritualmente.
Este crescimento em inteligência e compreensão espiritual não se apóia em nada natural. Ele surge porque Jesus possui um lugar tão espaçoso, e ele é a fonte e o centro e o resumo de todo conhecimento espiritual. Em oposição a isto, é possível ter grandes aquisições e qualificações no campo acadêmico, estar fazendo grandes coisas neste campo, e, contudo, achar que as coisas simples do Senhor Jesus Cristo são para você como uma língua estrangeira. Você não sabe a respeito - você não pode acompanhar ou se juntar absolutamente. Isto é triste, mas é verdade. Há cristãos, sim, verdadeiros cristãos, que simplesmente não conseguem conversar sobre as coisas do Senhor. Se é pra haver crescimento, ele só pode vir através do dar plenamente a Jesus o Seu lugar, sem questionamento.
E, então, quanto ao destino. A afirmação é que o destino do universo está com o Senhor Jesus, e que este destino é a glória universal. Porém, esta é apenas uma linda idéia, um encantar de vista, não é? Como você irá provar isto? Em seu próprio coração! Será igualmente verdade com as outras questões que temos já considerado, que, quando o Senhor Jesus realmente recebe o Seu lugar, você tem um antegozo da glória? Ninguém pode entender o cristão que não tem a experiência cristã, mas ela está lá. Não é simplesmente que estamos fingindo que estamos bem. É algo que vem de dentro; é algo como um antegozo da glória que está por vir. Temos a resposta para todas essas imensas questões bem dentro de nossas próprias experiências espirituais.
O Testemunho da Igreja
Mas, então, o Apóstolo se volta para a Igreja e fala sobre ela: ‘E Ele é a cabeça de...da Igreja...o primogênito dentre os mortos’. (Cl 1.18). Como a Igreja dá testemunho do fato, este grande fato, de que Jesus é a resposta a essas imensas questões? Penso que a Igreja dá a resposta tanto positivamente como negativamente.
Ela dá a resposta positivamente - embora não positivamente como devia ser dado - porém, ela dá a resposta nisto, que, após tudo (e que ‘tudo’ desses dois mil anos!), a Igreja ainda está em existência. Pense no avalanche de forças antagônicas e ódio, e homicídios sobre a Igreja em sua infância, com a determinação do grande império que o mundo jamais conheceu para varrê-la do mapa. Após tudo, foi aquele império que se foi; a Igreja continua. Pense, também, em tudo o que se foi ajustado durante os séculos, para trazer a Igreja o fim, para destruí-la, e ainda se ajusta sobre isto. Oh, aqueles homens não estavam tão cegos de modo que leram mal a história! Se apenas aqueles poderes no mundo de hoje, grandes reinos, grandes impérios, lessem corretamente a real história, veriam que estão numa missão completamente vã, numa curta e tola jornada de fato, a fim de tentar destruir o testemunho de Jesus sobre a terra. Eles é que serão destruídos.
Sim, a própria continuação e persistência da Igreja é evidência de que isto é verdade - de que Jesus Cristo é a chave do universo, de que Ele é a resposta para todas as perguntas. Digo eu, a Igreja não dá a resposta tão claramente como devia. Se apenas ela tivesse seguido como no início, que resposta ela seria!
Mas ela dá a resposta negativamente, tanto quanto positivamente. Ela responde negativamente pelo fato de que, embora já tenha se mantido vitoriosamente no mundo, resistido às tempestades vitoriosamente, ela agora moveu-se de seu centro, o Senhor Jesus Cristo, e trouxe substitutos para o Seu absoluto senhorio. Ela tem feito com que outras coisas governem os seus interesses. O resultado tem sido desintegração, divisão, e tudo mais. Sim, a coisa é respondida no negativo, e será sempre assim.
Vamos ser bem claros: não é que a verdade tenha sido quebrada. Se estas coisas sempre se tornam uma questão para você, não será porque elas estão abertas à pergunta, mas porque algo tem estado errado com você como tem estado errado com a Igreja. Não é na verdade, mas naquilo que se supõe representar a verdade, que a questão permanece. Esses substitutos para o senhorio de Jesus Cristo, sejam eles homens ou instituições, ou interesses religiosos, ou atividades cristãs, seja lá o que forem, se eles tomarem o lugar do próprio Senhor Jesus, irá levar a lugar algum, apenas à desunião e divisão. Para colocar isto mais positivamente, se apenas os homens, líderes e todo resto, dissessem: ‘Olhe aqui, todas as nossas instituições, missões, organizações, todos os nossos interesses no cristianismo, deve ser subserviente ao absoluto senhorio de Jesus Cristo’, você encontraria uma unidade. Devemos todos fluir juntos neste campo. É a poderosa maré do Seu senhorio que irá curar tudo.
Caminhe pela praia. A maré está baixa, e todos os recifes estão expostos, dividindo toda linha costeira, como se ela estivesse em seções. Mas, na medida em que a maré sobe, os recifes, as coisas que dividem, começam a desaparecer. Você retorna à maré cheia, e você não vê mais, apesar daqueles recifes. A maré cheia enterrou todos eles. E, quando Cristo é tudo, e em todos, ‘em todas as coisas tendo a preeminência’, todas aquelas coisas que pertencem à maré baixa da vida espiritual, simplesmente desaparecerão. A prova está na Igreja.
Nós experimentamos um pouco disto durante a visita recente a este país do Dr. Graham. Houve uma única paixão consumidora a fim de trazer Cristo ao Seu lugar; todas as diferentes seções estavam envolvidas nisto. Onde estavam as barreiras, onde estavam os ‘recifes’, onde estavam as coisas departamentais? Por que deve ser isto por apenas três meses? Por que deve isto ser experimentado apenas durante a convenção, alguns dias uma vez por ano? Não, esta posição é o propósito de Deus para sempre. A chave para isto é apenas isto - Cristo tudo em todos.
Talvez possamos entender agora porquê a menção do evangelho nesta carta está confinada à uma ênfase - ‘a esperança do evangelho’. Sim, as únicas ocorrências de ‘evangelho’ ou ‘boas novas’ estão nesta conexão - ‘a esperança das boas novas’. A esperança do evangelho está em Jesus Cristo ser tudo em todos. Esperança é uma Pessoa, não uma natureza abstrata em nós - ‘sendo esperançoso’ - que não resulta em nada além de um período, um otimismo variável. Esperança aqui é uma Pessoa. A esperança das boas novas é: Ele em todas as coisas tendo a preeminência. É aí que está a esperança para você, para mim, para a Igreja, para o mundo, para o universo. Esta é a esperança do evangelho.
CAPÍTULO 7 -EM SUA CARTA AOS TESSALONICENSES
‘Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder,’ (1 Ts 1.5)
‘Mas, mesmo depois de termos antes padecido, e sido agravados em Filipos, como sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate.’ (1 Ts2.2)
‘Mas, como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado,’ (1 Ts 2.4)
‘Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos. Porque bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus.’ (1 Ts 2.8,9)
‘POR isso, não podendo esperar mais, achamos por bem ficar sozinhos em Atenas; e enviamos Timóteo, nosso irmão, e ministro de Deus, e nosso cooperador no evangelho de Cristo, para vos confortar e vos exortar acerca da vossa fé;’ (1 Ts 3.1,2)
‘Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo;’ (2 Ts 1.8)
‘O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.’ ( 2 Ts 2.4).
Vemos que o Evangelho tem um bom espaço nestas cartas. Procuramos agora descobrir o real significado do evangelho, isto é, o significado essencial das boas novas, do ponto de vista dessas cartas e dos crentes tessalônicos, e seremos ajudados por este entendimento se dermos uma olhada na história espiritual, na vida e estado desses crentes em Tessalônica.
Os cristãos Tessalonicenses: Um Exemplo
Você verá num vislumbre que consideração especial Paulo tinha por eles. Ele no geral usa palavras como as seguintes: ‘Sempre damos graças a Deus por todos vós’. Tanto na primeira como na segunda carta ele fala desta maneira (1 Ts 1.2; 2.13). ‘Damos graças a Deus por vós’. E, então, ele fala sobre eles uma coisa muito maravilhosa, que nos dá uma direção definitiva nesta consideração. Ele diz na primeira carta, capítulo 1, verso 7: ‘De maneira que fostes exemplo para todos os fiéis na Macedônia e Acaia.’ Isto é algo para dizer sobre uma companhia do povo do Senhor, e isto nos leva imediatamente a perguntar - Como foram eles um exemplo?’ Evidentemente eles não foram exemplo apenas para os da Macedônia e Acaia, pois essas cartas permanecem até o dia de hoje, de modo que eles foram exemplo para todo o povo do Senhor. Se isto foi verdade sobre eles, então o evangelho deve ter significado muito para eles. O evangelho deve ter tido uma forma de expressão especial neles, e, assim, procuramos responder a pergunta: Como foram eles ‘um exemplo para todos os que crêem’?
Um Espírito Puro e um Coração Limpo
Encontramos a resposta em primeiro lugar aqui neste mesmo primeiro capítulo. Foi na recepção real do evangelho. ‘Nosso evangelho não chegou a vós somente em palavras, mas em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza’. E novamente: ‘havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus,’ (1 Ts 2.13). Agora, isto representa um começo muito limpo; e, se é pra chegarmos à posição desses crentes tessalônicos, se o evangelho é pra ter esta expressão em nós, como teve neles, se é pra ser verdade em nosso caso de sermos exemplo para todos os que crêem, então é muito importante que tenhamos um começo limpo.
Para nós, naturalmente, se tivermos avançados na vida cristã sem nos tornarmos crentes exemplares, isto pode significar retroceder os nossos passos, a fim de começarmos novamente em algum ponto onde erramos; varrer um monte de lixo e começar tudo novamente a partir de um certo ponto. Porém, estou pensando também nos cristãos jovens, que começaram recentemente. Vocês realmente estão no começo, e nós estamos bastante preocupados com vocês, porque vocês podem encontrar muitos cristãos antigos que não são de forma alguma um exemplo para todos os crentes. Sinto muito por dizer isto, mas é verdade, e não queremos que vocês sejam da mesma forma. Queremos que vocês sejam cristãos exemplares; aqueles dos quais o apóstolo Paulo, se ele estivesse presente, pudesse dizer: ‘Dou graças a Deus por vocês’. Seria uma grande coisa, não seria, se isto pudesse ser dito de nós? ‘Graças a Deus por ele! Graças a Deus por ela! Graças a Deus por todas as vezes que entramos em contato com esta pessoa, e com aquela outra! Sempre agradeço a Deus por ele - Eles são um exemplo de como os cristãos devem ser!’
Agora, este é o desejo do Senhor, este é o nosso desejo para você, e este deveria ser o desejo de nossos corações para nós mesmos. Embora possamos não ter tido bom êxito, não vamos perder a esperança de que alguém possa ainda dar graças a Deus por nós, que possamos ser um exemplo, que em algumas coisas, de qualquer forma, isto possa ser verdade de nós como foi dos tessalonicenses. Paulo diz: ‘Tornaste-vos nossos imitadores’ (1 Ts 1.6). O Senhor nos ajude a ser um exemplo tal, de modo que possamos convidar outros, em alguns aspectos pelo menos, a nos imitar, sem qualquer orgulho espiritual.
Bem, se isto é pra ser assim, o começo deve ser limpo. Você vê, muito evidentemente, como esses tessalonicenses ouviram Paulo pregando as boas novas, suas mentes e corações estavam livres de qualquer preconceito. Eles não teriam chegado à conclusão a que chegaram se tivesse havido qualquer preconceito, se eles tivessem obstruído o assunto em suas mentes, ou chegassem à uma posição definida. Eles estavam abertos em seus corações desde o início, prontos para tudo o que viesse de Deus, e isto criou uma capacidade para discernir o que era de Deus. Você jamais irá saber se algo é de Deus se tiver preconceito, se você já tiver feito o julgamento, se você já chegou à uma posição definida. Se você tiver uma opinião formada, coração fechado, alimentando suspeitas e medos, você já sabotou a obra do Espírito Santo, e jamais saberá se aquilo é de Deus. Você deve ter o coração aberto, mente aberta, livre de suspeitas e preconceitos, e ficar firme nesta posição - ‘Agora, se houver alguma coisa do Senhor, alguma coisa de Deus, eu estou pronto para ela’. Isto cria uma disposição para que o Espírito Santo possa dar testemunho, e fazer as coisas possíveis para o Senhor.
Agora, como veremos, é exatamente assim que eram esses tessalonicenses. Eles receberam uma palavra, sim, em muita aflição, porém, receberam-na como Palavra de Deus, e não palavra de homem. Por causa de sua pureza de espírito, eles tinham o senso - ‘Isto está correto, isto é de Deus!’ Foi um bom começo. Como disse anteriormente, pode ser que alguns de nós tenhamos que voltar para algum ponto, a fim de fazer este início novamente. Para quem estiver lendo estas palavras, que possa estar na vida cristã há muitos anos, eu diria: Caro amigo, se você tiver algum ponto do caminho afetado, infectado, pelo preconceito e suspeita, você fechou a porta para qualquer acréscimo da parte de Deus. Vamos entender isto claramente. É verdade que - ‘O Senhor ainda tem mais luz e verdade para mostrar em Sua Palavra’.
Nós ainda não esgotamos tudo o que o Senhor tem para nos mostrar em Sua Palavra; mas Ele somente irá revelar ao puro de coração. ‘O puro de coração...verá a Deus’ (Mt 5.8)
Esses tessalonicenses, então, tinham um espírito puro desde o início.
Mutualidade e Maturidade
A próxima coisa que percebemos sobre eles, após seu realismo em recepção, foi sua mutualidade e maturidade - duas coisas que sempre andam juntas. Em ambas as cartas, isto de que o apóstolo fala a respeito, talvez mais do que qualquer outra coisa mais, é o maravilhoso amor entre os crentes. ‘o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros’ (2 Ts 1.3). Ele está falando o tempo todo sobre o amor mútuo deles. E seguindo lado a lado a isso estava o crescimento espiritual deles. Você vê, o amor sempre edifica (1 Co 8.1). Este tipo de amor, amor mútuo, sempre significa aumento espiritual. Podemos ver quão verdade isto é se enxergarmos isto do ponto de vista contrário. Indivíduos cristãos mesquinhos, egoístas, separados, ou companhias ou corpos de cristãos que são exclusivos e fechados, e não têm o coração bem aberto de amor para com todos os santos - quão pequenos e limitados eles são. É verdade. E é neste amor mútuo de um para com o outro, e crescimento e aumento de amor de um para com o outro, que o crescimento espiritual acontece. Não se esqueça disso. Se você estiver interessado no crescimento espiritual de seu próprio coração, de sua própria vida, e dos outros, isto irá ocorrer por meio do amor, do amor mútuo, e deve começar por você. Mutualidade e maturidade sempre caminham juntos.
Sofrimento e Serviço
E então, em terceiro lugar, você descobrirá que eles eram caracterizados pelo sofrimento e serviço, e isto é uma maravilhosa combinação Divina. Isto é algo que não é natural. O apóstolo tinha muito pra falar sobre isto, como você verá, se você grifar a palavra ‘sofrimento’ nessas cartas, e observar suas referências aos sofrimentos e aflições deles. Eles ‘receberam a palavra em muita aflição’ (1 Ts 1.6). Ele fala a respeito dos sofrimentos e aflições deles, e descreve esses sofrimentos. Eles, em Tessalônica, estavam sofrendo pelas mesmas causas que seus irmãos na Judéia, disse ele (2.14).
Agora, na Judéia, isto é, no país dos Judeus, você sabe como os cristãos sofriam. O próprio Cristo sofreu nas mãos dos judeus; Estevão foi martirizado nas mãos dos judeus; a Igreja conheceu sua primeira perseguição na Judéia, em Jerusalém, e eles foram dispersos por todos os lugares pelas perseguições que se levantaram lá sobre Estevão; e Paulo diz: ‘Agora vocês sofrendo do mesmo modo’. Evidentemente havia em Tessalônica muita perseguição, muita oposição; ameaças e todos os tipos de dificuldades - o tipo de coisa, talvez, onde era muito difícil para eles trabalhar e conseguir empregos, tudo porque o negócio estava nas mãos daqueles que não tinham lugar para este cristianismo e para esses cristãos.
Porém, com todo este severo sofrimento, e com toda a ‘muita aflição’ deles eles não se tornaram introspectivos. Este é o perfil do sofrimento. Se você estiver sofrendo frustração, oposição, perseguição, ou, se os melhores empregos são dados a outras pessoas, e assim por diante, a coisa natural é voltar-se para si mesmo, lamentar muito por si mesmo, começar a cuidar do seu próprio problema e ficar totalmente ocupado consigo mesmo. Porém aqui, o sofrimento levou ao serviço.
O apóstolo diz que a Palavra partiu deles, não somente por toda região da Macedônia e Acaia, mas por todo o país (1.8). O sofrimento deles - o que fez? Fez com que eles se voltassem para fora, e dissessem: ‘Há outras pessoas em outros lugares que estão em necessidade, em sofrimento, assim como nós: vamos ver o que podemos fazer por eles’. Esta é a maneira de se responder ao evangelho, não é? Isto fala do glorioso evangelho! O evangelho se tornou para eles as boas novas tais que teve efeito sobre eles, libertando-os completamente da auto-piedade estando em profunda aflição. Vamos tomar isto em nosso coração.
Paciência e Esperança
Além disso, o apóstolo fala da ‘paciência da esperança’ (1.3), e isto simplesmente significa que eles não desistiam facilmente. Isto fala de algo, você sabe. Você está tendo um tempo difícil; tudo e todos estão contra você. É tão fácil desistir - apenas desistir; desistir da luta, e dizer: ‘Não adianta - é melhor desistir de tudo’. Mas não: esses cristãos tinham paciência e esperança. Eles não desistiam, ‘agarravam-se firmemente’, e nós veremos que eles tinham uma esperança que os mantinha firmes.
Eles viveram desta maneira a tal ponto que ‘tornaram-se exemplo para todos os crentes’. Neles vemos os componentes de cristãos exemplares, e eles são as verdadeiras feições do evangelho. Você vê, o evangelho é para cristãos em dificuldade! Não é somente para os não salvos, mas para os cristãos quando estão em dificuldade ou em sofrimento. Ainda é boa nova. Se perdermos o elemento de ‘boas novas’ no evangelho, se o evangelho perder sua lâmina afiada como ‘boas novas’, nós nos tornamos estagnados; chegamos num ponto onde ‘sabemos tudo’. Se perdermos aquele senso, então, quando os problemas vêm nós desistimos; porém, se ter chegado a um conhecimento salvífico do Senhor Jesus ainda é para nós a maior coisa do mundo e do universo, então teremos vitória.
Dificuldades Por Causa Do Temperamento
Agora, porque as dificuldades sempre correspondem às nossas disposições, isto é, aquilo que somos sempre dá origem a natureza das nossas provas, assim era com os tessalonicenses. Nada é uma prova para você a menos que você seja constituído de certa maneira. Alguma coisa que é uma prova para você poderia jamais ser uma prova para mim absolutamente. Ou poderia ser o contrário. O que poderia ser uma coisa terrível para mim e me tirar do meu equilíbrio, outras pessoas poderiam seguir muito calmamente, e se admirarem do por que eu estou fazendo tamanho estardalhaço com aquilo. Nossos problemas e nossas lutas geralmente têm sua origem a partir do modo como somos constituídos.
Agora quero que você acompanhe o seguinte. A maturidade dos crentes tessalônicos levou-os para testes peculiares. E este é sempre o caso. Se você não é maduro, você não terá dificuldades extremas. Você irá sobreviver mais ou menos com certa facilidade. Se você for maduro, irá se deparar com testes à altura. Eles surgem muito naturalmente de sua própria atitude, ou de sua própria disposição.
Agora, você sabe que a natureza e a constituição humana são feitos de várias maneiras. Você sabe, em geral, que nós não somos todos iguais. Isto é justo também! Porém podemos, até uma certa extensão, classificar a natureza humana em diferentes categorias - O que chamamos de temperamentos. No principal, há sete diferentes temperamentos, ou categorias da constituição humana. Não irei tratar disso em detalhe, mas há um ponto muito importante sobre esta matéria. Esses tessalonicenses eram muito claramente de temperamento ‘prático’, e o ardor de seus sofrimentos específicos era basicamente encontrado devido a eles serem desse modo. Não quero dizer, naturalmente, que outras pessoas não sofrem, mas elas sofrem de outras maneiras.
Você vê, o padrão de vida de alguém que tem temperamento prático é do lucro rápido e direto. Devemos encontrar algo para o nosso dinheiro bem rapidamente! É o temperamento de negócio, o temperamento da vida comercial. O que governa este temperamento é é o ‘sucesso’ rápido. ‘Sucesso’ é a grande palavra do temperamento prático. Os bem sucedidos são os ídolos deste tipo particular de temperamento.
Não há muito sentimento aqui. Essas pessoas não podem parar para sentir. As coisas que não são práticas, como eles dizem, são apenas ‘sentimentais’. Elas não são assim, naturalmente, mas foi assim que Marta reagiu à Maria. Maria não era sentimental, mas Marta pensava que ela fosse, porque Marta era preeminentemente prática. Novamente, há muito pouca imaginação neste temperamento. Este temperamento ignora qualquer sentimento. Ele não para pra pensar em como as pessoas sentem sobre o que é dito; simplesmente segue em frente.
E, então, isto algumas vezes causa terríveis enganos - confunde as coisas. Por exemplo, confunde curiosidade com profundidade, porque sempre tem que estar fazendo perguntas intermináveis. As pessoas ‘práticas’ estão sempre fazendo perguntas, perguntas, perguntas; elas detém você o tempo todo com perguntas, pensando que isto é uma evidência de profundidade espiritual. Elas pensam que não estão apenas tomando as coisas superficialmente, que estão sendo muito práticas, tanto quanto profundas. Porém, há muita diferença entre curiosidade e profundidade. É muito possível confundir as coisas.
Agora queremos entender esses tessalonicenses e o efeito do evangelho. Não podemos nós agora pintá-los à luz do que temos dito? Eles responderam rapidamente, e de uma forma muito prática, e de uma forma madura. Um dos maiores temas ao qual eles responderam foi sobre a vinda do Senhor. Bem no início Paulo diz: ‘Vocês se voltaram dos ídolos para Deus, a fim de servir o Deus vivo e verdadeiro, e para aguardar por Seu Filho do Céu’. (1.9,10). Isto era uma coisa importante para eles, esta vinda do Senhor, e eles tinham concluído que ela iria acontecer durante o tempo de vida deles. Esta foi a reação prática deles ao evangelho, e isto foi bom num sentido. Porém, você sabe que essas duas cartas de Paulo estão quase totalmente ocupadas em corrigir um elemento falso nesta reação.
Agora você os encontra em problemas - problemas que surgem por causa do próprio temperamento deles - nesta questão. Eles estavam afirmando para si próprios algo como o seguinte: ‘O Senhor está vindo - foi nos dito que Ele está vindo, e nós aceitamos que “a vinda do Senhor está próxima” e nós aceitamos que isto pode acontecer a qualquer dia; e nos foi dito que, quando o Senhor viesse, todos os Seus seriam arrebatados para se encontrar com Ele. Concluímos que todos os crentes seriam arrebatados, raptados, e entrariam na glória desta maneira, juntos. Oh, que coisa maravilhosa - todos indo juntos para a presença do Senhor! Porém, alguns dos nossos amigos morreram, ontem, na última semana, e as pessoas ainda estão morrendo. Parece desarranjada toda esta questão de todos sermos arrebatados juntos’. Eles foram postos em confusão e consternação porque, ao invés do Senhor voltar e reunir todos para Ele mesmo, havia pessoas entre eles indo para a sepultura. Foi uma frustração para o temperamento prático deles, você sabe.
Agora, o apóstolo escreve para eles. Ele escreve para eles o evangelho, as boas novas, para as pessoas que estão em perplexidade e em sofrimento devido ao desapontamento, e ele diz: ‘Quero que vocês saibam, caros irmãos, quero que vocês compreendam, que isto não faz qualquer diferença na questão final. Quando o Senhor vier, eles não terão ido antes de nós; e nós não iremos antes deles. Isto não faz qualquer diferença. Aqueles que dormem em Jesus e nós que permanecermos vivos seremos todos arrebatados juntos. Não permitam que isto continue a perturbá-los. Vocês não devem sofrer como aqueles que não têm esperança, ou como aqueles que perderam sua grande esperança - Não há realmente lugar para qualquer elemento de desapontamento sobre isto. São boas novas para aqueles que perderam os seus entes queridos - São boas novas a respeito desta questão de vida e morte - todos nós iremos subir juntos ‘para nos encontrarmos com o Senhor nos ares: e assim, estaremos para sempre com o Senhor’. É simplesmente maravilhoso!
Assim, vemos que aqui Paulo foi capaz de trazer o evangelho - as boas novas, as boas notícias - a fim de por fim numa certa dificuldade que tinha surgido por causa do temperamento deles, da disposição deles.
Uma Ajuda para Conhecer o Próprio Temperamento
Vamos pausar aqui por um instante. Você sabe, poderíamos nos livrar de muitos dos nossos problemas se conhecêssemos qual o nosso temperamento. Se nos assentássemos por um minuto - e isto não é introspecção, absolutamente - se nos sentássemos por um minuto e disséssemos: ‘Agora, qual é minha disposição e temperamento específico? O que é isto a que sou propenso por constituição? Quais são os fatores, os elementos, que formam o meu temperamento?’
Se você puder colocar seu dedo nisto, você tem a chave para muitos de seus problemas. Asafe, o salmista, estava tendo um tempo muito ruim em uma ocasião. Ele olhou para os ímpios e os viu prosperando. Ele viu os justos tendo dificuldade - inclusive ele próprio - e ele ficou muito desanimado com tudo aquilo. Mas, então, ele se recompôs e disse: ‘Esta é minha enfermidade; porém me lembrarei dos anos da destra do Altíssimo’ (sl 77.10). ‘Esta é minha enfermidade’! Isto não é o Senhor, esta não é a verdade - isto é apenas eu, esta é minha propensão ao desânimo em tempos de dificuldade. É assim que sou constituído; é minha reação ao problema’.
Agora, talvez isto possa soar como uma forma muito natural de lidar com as coisas. Mas eu ainda não terminei. Se você e eu compreendermos isto - que muitos de nossos problemas vêm por causa da forma como somos constituídos; está realmente em nossa inclinação - iremos ter um terreno sobre o qual ir ao Senhor. Seremos capazes de ir ao Senhor e dizer: ‘Senhor, Tu sabes como sou feito; Tu sabes como reajo naturalmente às coisas. O Senhor sabe como, devido a eu ser feito desta maneira, como sempre estou sendo apanhado de certas maneiras; Tu sabes como me comporto sob certas pressões. Tu me conhece, Senhor. Agora, Senhor, Tu és diferente daquilo que eu sou: onde sou fraco, Tu és forte; onde sou falho, Tu és perfeito’.
Você não vê que o Senhor Jesus, o Homem perfeito, é o perfeito equilíbrio de todas as boas qualidades em todos os temperamentos, que Nele não há qualquer das más qualidades de qualquer temperamento, e que o Espírito Santo pode fazer Cristo ser em nós aquilo que não somos em nós mesmos? Esta é a grande maravilha, o grande mistério, a grande glória, do significado de Cristo como nosso mediador pelo Espírito Santo. É a maravilha de Sua humanidade: uma humanidade perfeita sem nada disto que nos perturba. Olhe para Ele sem constrangimento: Ele consegue. Mas Ele é homem. Ele não vence na base de Sua Deidade. Ele vence na base de Sua humanidade perfeita, e isto é para ser mediado a nós.
Crescimento espiritual significa isto, que estamos nos tornando uma outra pessoa diferente daquela que somos naturalmente. Não é assim? Naturalmente, podemos estar mais inclinados a ser miseráveis - sempre tomando uma vista miserável, sempre caindo no lixo. Agora, quando o Espírito Santo assume o controle de nós, as pessoas miseravelmente inclinadas tornam-se alegres, embora não seja natural para elas serem alegres. Este é o milagre da vida cristã. Tornamo-nos algo que não somos naturalmente. Naturalmente, iríamos cair muito rapidamente sob alguns tipos de críticas e perseguições, e afagaríamos os nossos problemas, mas o Senhor Jesus está em nós, podemos crer nisto e prosseguir. Não caímos, prosseguimos. Ele nos faz ser diferente do que somos. Esta é a obra da graça na vida do crente.
Esses tessalonicenses sofreram muito por causa do temperamento prático deles. Eles esperavam que aquilo que lhes fora dito no início iria acontecer imediatamente. Estavam dizendo para si mesmos: ‘O Senhor virá - ele pode vir hoje, a qualquer dia - e isto será o fim de todos os problemas. Porém o tempo está passando, e as pessoas estão morrendo, e as coisas estão ficando mais e mais difíceis. Não parece muito que o Senhor está voltando...’ eles podem ter quase chegado a ponto de desistir e se desviar. E neste ponto uma nova apresentação do evangelho do Senhor Jesus chega, trazendo a esperança de algo diferente daquilo que eles eram naturalmente.
Aquilo que é verdade no caso do temperamento prático é verdade em todos os outros temperamentos. Podemos tomar isto como princípio. Se nós apenas compreendêssemos isto, que o Senhor está tratando com cada um de nós desta forma. Ele está tratando conosco de acordo com o que somos. Não adianta tentar estereotipar ou padronizar os tratamentos de Deus com as pessoas. Os tratamentos de Deus comigo talvez não fossem problemas para você, mas os tratamentos de Deus com você pode muito bem mexer comigo. Ele nos trata conforme somos, a fim de que possa haver algo de Cristo em nós que não é de nós mesmos. Digo novamente, esta é a obra da graça. Esta é a mediação de Cristo - este é o exato significado de ser conformado à imagem de Cristo. Isto é participar de Sua natureza - algo absolutamente diferente. Porém isto é um processo doloroso. Agora, temos que vencer como aquelas pessoas venceram.
É isto boas novas? Penso que sim. Penso que este é o evangelho, ‘boas novas’. São boas novas para o homem que está sempre pronto a desistir e admitir a derrota, e ser miserável. São boas novas para aqueles que, por causa de suas próprias expectações e reações naturais, estão desapontadas com o que realmente está acontecendo. São boas novas que Cristo é uma pessoa diferente daquilo que somos, e que podemos ser salvos daquilo que somos por Cristo. É muito prático, você entende.
Como somos salvos daquilo que somos? Por Cristo! Não por apenas Cristo vir e estender Suas mãos e nos erguer. Isto é tudo o que todos queremos que Ele faça. Apelamos para que o Senhor venha e faça alguma coisa, literalmente nos levante de onde estamos. O que Ele está fazendo é nos removendo, e colocando a Ele mesmo em nosso lugar, interiormente. É um processo, um processo profundo, e talvez, somente ao longo dos anos você possa ver mais de Cristo. Esta pessoa costumava ser alguém desse ou daquele jeito, mas há uma diferença agora, você pode ver Cristo; eles não mais são o que costumavam ser, estão superando aquilo. Estão sendo ‘transformados à mesma imagem’. Isto é boa notícia: boas novas para os tessalonicenses, e boas novas para nós.
A Prova Final
Mas há uma outra coisa sobre esses tessalonicenses. As coisas no mundo estavam ficando cada vez mais difíceis; elas estavam indo de mal a pior. Essas pessoas queridas viram as coisas acontecendo, viram forças na obra, e pensaram: ‘Não parece que o Senhor está vindo, nem que Seu Reino esteja chegando. Parece que Satanás está fazendo o seu próprio caminho. As coisas estão de mal a pior; e, quanto as coisas serem mudadas, quanto a haver ‘um novo Céu e uma nova terra’, e um novo estado mundial, tudo isso que pensávamos que viria com a vinda de Cristo e de Seu Reino, não vemos nenhum sinal disso, absolutamente. Muito pelo contrário: o mundo está piorando, homens maus estão aumentando cada vez mais. Parece haver cada vez mais do Diabo do que jamais houve’.
Agora, o apóstolo escreveu sobre isto, e ele disse: ‘Olhem aqui, isto não significa que as coisas estão erradas; isto não significa desapontamento para as suas expectativas. O Senhor não virá até que essas coisas aconteçam e cheguem à plenitude. ‘O mistério da iniqüidade já opera’. Antes que o Senhor venha, duas coisas devem acontecer.
‘Primeiramente, deve ocorrer uma grande apostasia’. Uma grande apostasia? Cristãos apóstatas? Cristãos professos apóstatas, se apostatando do Senhor, voltando atrás? Isto não é muito prático para essas pessoas! Sim, isto é exatamente o que irá acontecer no final. Quanto mais a vinda do Senhor se aproxima, mais a prova encontrará pessoas afastadas. A peneira estará em serviço. Haverá uma apostasia; haverá muitas pessoas - professores - que dirão: ‘Não vamos continuar com isto, não mais podemos continuar com isto’. Eles irão desistir de seguir o Senhor. Sempre foi assim. Foi assim nos dias que o Senhor estava em carne. No final será da mesma forma. ‘Oh, que desapontamento!’ Ah, sim, porém entenda que é assim que será, e que isto não significa que tudo saiu errado. Simplesmente será desta maneira. Quando o Senhor realmente tomar um povo, será um povo que caminhou com Ele até o fim; e Ele está provando, provando. ‘Agora, vocês tessalonicenses, compreendam que o que Ele está fazendo é provando vocês, para ver se vocês irão seguir corretamente até o fim’. Tem que ser manifestado se a raiz do assunto está nos crentes, ou se é apenas uma profissão. Assim, não entendam mal os sinais dos tempos.
E, então, a segunda coisa. O anticristo, aquele homem do pecado, o Diabo, parece prosperar cada vez mais em seu caminho, eles pensam. E isto foi assim. ‘Porém’, disse o apóstolo, ‘o Dia do Senhor não virá até que o homem do pecado, o anticristo, seja revelado’. ‘Oh, pensávamos que Cristo estava vindo, não o anticristo’. Ah, mas Cristo não virá até que o anticristo venha. Não entenda mal as coisas.
Se houver um poderoso movimento neste mundo por meio de Satanás, o Diabo aparentemente encarnado, uma grande encarnação dele - seja através de um homem ou de um sistema, seja como for - isto é, um ataque de morte por todos os lados, ofuscando tudo o que pertence a Cristo, isto não é um mal sinal - o Senhor está prestes a vir! São as boas novas no dia quando o Diabo parece estar acabando com tudo. Isto é monumental. O Senhor está às portas.
‘Pois, quando essas coisas começarem a acontecer, levantai, e erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção está próxima’, disse Jesus (Lc 21.28). Assim, se o sofrimento aumenta, se a paciência é provada; se Satanás parece prosperar, tomando o poder em suas mãos, não se enganem - não permitam que vos digam: ‘Bem, nossa esperança não está sendo realizada’. Pelo contrário, diga: ‘Estas são as coisas que mostram que a nossa esperança está prestes a ser realizada’. Esta é uma boa notícia para o dia da adversidade, boa noticia para os cristãos que sofrem, boas novas quando Satanás está fazendo o seu pior. O Senhor está às portas!
O Resumo de Toda Matéria
Mas onde iremos resumir tudo isto? Sempre buscamos encontrar um pequeno fragmento no qual a matéria pudesse ser toda concluída, e penso que o temos aqui:
‘Fiel é Aquele que vos chamou, o qual também o fará’ (1 Ts 5.24)
Aqui está a conclusão e o resumo da matéria toda. Sim, pessoas queridas estão morrendo, indo para o Senhor. O tempo está se arrastando. O Diabo está aparentemente ganhando poder e fazendo o seu pior. Nós, povo de Deus, estamos sofrendo: contudo, Deus é capaz de nos ver completamente. ‘O qual também o fará’. O que mais queremos? Acima de tudo e contra tudo mais - ‘Ele também o fará’. Esta é a boa notícia! Afinal de contas, e na conclusão, a boa notícia é que isto não foi deixado para nós. Isto é um assunto do Senhor. O que foi deixado para nós é crer em Deus, buscar entender os Seus caminhos, ficar firme, ter esperança até o fim, e, então, o Senhor assume o controle. ‘Fiel é Aquele que vos chama, o qual também o fará’. Boas novas!
CAPÍTULO 8 - EM SUAS CARTAS A TIMÓTEO
‘...Conforme o evangelho da glória de Deus bem-aventurado, que me foi confiado’ (1Tm 1.11)
‘Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus,’ (1 Tm 1.8)
‘...E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho;’ (2 Tm 1.10).
‘Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dentre os mortos, segundo o meu evangelho;’ (2 Tm 2.8)
Chegamos agora às nossas conclusões sobre aquilo que Paulo chamou de ‘o evangelho que eu prego’. ‘O evangelho da glória de Deus Bem-Aventurado’. Precisamos, em primeiro lugar, observar a correta tradução dessas palavras, porque as diferentes versões as traduzem de diferentes maneiras. A Versão Autorizada tem: ‘o glorioso evangelho do Bem-Aventurado Deus’. Você irá observar quão diferente isto é da Versão Revisada, da qual eu citei acima. A carta - a Revisada - é a correta tradução da sentença, e o ponto em colocá-la correta é este. Paulo não está falando sobre o que é o evangelho - o conteúdo do evangelho. Ele está falando do evangelho que tem a ver com a manifestação da glória de Deus. Isto pode soar um pouco técnico, mas isto é muito importante. Deixe-me repetir: O que Paulo tem em mente é o evangelho, ou as boas novas, que se ocupa com a manifestação da glória de Deus. A glória de Deus em manifestação - isto é evangelho.
Observe uma outra coisa: ‘o evangelho da glória do Bem-Aventurado Deus’. Há uma tradução que muda esta palavra, e usa a palavra ‘feliz’ no lugar de ‘Bem-Aventurado’: ‘o evangelho da glória do Deus feliz’. Mas isto não soa muito correto aos nossos ouvidos, soa? E ainda, se compreendêssemos o real significado, poderíamos perceber que esta não é uma palavra totalmente inapropriada.
Há duas palavras gregas traduzidas como ‘bem-aventurado’ no Novo Testamento. Uma, que é a mais comum, literalmente significa apenas ‘bem falado’. Este é o seu significado literal, porém, no Novo Testamento, ela é quase que exclusivamente usada no sentido de ‘abençoado’, e é assim traduzida. Esta, contudo, não é a palavra que é usada aqui. A palavra usada aqui - a segunda das duas palavras as quais me referi - é uma que ocorre com muito menos freqüência. É uma palavra que expressa aquilo que, falando propriamente, é verdadeiro somente em relação a Deus: isto é, a singularidade de Deus quanto a que Ele é em Si mesmo, completamente distinto daquilo que os homens pensam sobre Ele, ou dizem sobre Ele. Esta é a palavra aqui traduzida ‘bem-aventurado’. A palavra realmente significa aquela alegria solene, tranqüila, perpétua, que enche o coração de Deus. Se você puder obter o sentimento desta definição, você, de alguma forma, chega perto de entender o significado da palavra aqui traduzida: ‘bem-aventurado’. É o evangelho da glória da tranqüila e confiante alegria do coração de Deus; as boas novas, a boa notícia.
As Boas Novas da Glória de Deus
O que é esta glória de Deus que se torna o evangelho, as boas novas? É a glória de Deus na revelação de Si mesmo em Seu Filho Jesus Cristo. A revelação dEle mesmo. No Velho Testamento, a glória de Deus tinha forma simbólica, como sabemos. Por exemplo, no Santíssimo Lugar do tabernáculo, entre o querubim e o propiciatório, a glória de Deus era encontrada. A glória cobria o propiciatório. Ela era uma luz brilhando sobre o propiciatório, sobre a arca do concerto; brilhando e se focando aí. Era uma luz celeste. Mas não passava de um símbolo. Aquilo que ela simbolizava está aqui - a luz de Deus brilhando sobre e através de Seu Filho Jesus Cristo. Esta é a glória de Deus. Paulo, escrevendo aos coríntios, coloca isto da seguinte forma: ‘a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo’. (2 Co 4.6). É aquilo que está no Senhor Jesus do Deus perfeitamente tranqüilo, sereno, de permanente satisfação.
A Glória de Deus em um Homem
Agora, aqui está uma coisa muito notável. Você tem a glória de Deus. Muito é dito sobre a glória, e você já ouviu dizer que a glória é aquilo que você irá encontrar na Bíblia; que, se você for para a Bíblia, lá irá encontrar muito sobre a glória de Deus. Quando você começa a estudar a Bíblia, procurando pela glória de Deus, o que você encontra? Um Homem! Você descobre que está confrontado com um Homem. Você não consegue se desviar deste Homem: o Velho Testamento está sempre apontando, através de vários meios, métodos e formas, para um Homem; o Novo Testamento, do começo ao fim, tem um Homem em vista, um Homem sempre em vista. De modo que você é obrigado a dizer: ‘Esta é a resposta para a minha busca. Eu estou em busca do conhecimento da glória de Deus, e a resposta de Deus para a minha busca é um Homem’. Isto é apenas uma exposição da seguinte frase: ‘o evangelho da glória do Bendito Deus’, que é a revelação de Deus em Seu Filho, Jesus Cristo.
Deus é aqui representado como estando num estado de perfeita tranqüilidade, repouso, calma, segurança, satisfação e alegria permanente, e tudo aquilo que pode ser resumido na palavra ‘Bendito’. Deus é representado como estando nesta condição. Qual é a base deste estado de Deus? É simplesmente de que Deus encontrou uma perfeito e completa expressão de Si mesmo em um Homem. Sim, nós sabemos quem este Homem era. Não estou desprezando, ou pondo de lado, a Sua Deidade, Sua própria Divindade, é que não estou pensando sobre isso nesse momento. Você vê, Deus criou o homem com propósitos muito elevados. De fato, o homem foi criado a fim de responder e satisfazer o coração de Deus! Há algumas pessoas que buscam muita satisfação. Na verdade, elas nunca parecem satisfeitas. As coisas nunca satisfazem aos seus padrões e ideais. E você pode percorrer um longo caminho, pode ir tão longe quanto for possível ir com qualquer conceito humano de satisfação, e ainda assim você estará longe, muito longe, infinitamente longe, da idéia de Deus. Deus é muito maior, muito mais maravilhoso.
Nós temos, na criação caída, apenas um fraco reflexo do quão maravilhoso Deus é. E mesmo quando vemos esta mesma criação como ela é, com toda os seus defeitos e fraquezas, e variações, e etc, temos que ficar assustados e adorar. Podemos enxergar apenas uma pequena indicação de que maravilhoso Deus Ele é, e de quanto é necessário para satisfazê-Lo. Contudo aqui Ele está num estado de absoluta satisfação, tranqüilidade, repouso, serenidade, porque todos os Seus pensamentos, todos os Seus desejos, todas as Suas intenções, todos os Seus empreendimentos, estão agora consumados e aperfeiçoados - não na criação, mas num Homem. Este Homem é a resposta de Deus. Quão grande Cristo é! Deus encontra, portanto, Sua felicidade, Sua bem aventurança, Sua satisfação, Sua tranqüilidade, Nele.
Um Homem Representativo
Talvez você possa pensar: ‘Isto é uma coisa bonita para se dizer; são pensamentos maravilhosos para se expressar, porém, onde está o valor prático disso?’ Ah, Isto é justamente o evangelho, você vê. Você pensa que o Senhor Jesus, o Filho de Deus, veio e assumiu a posição humana, e foi tornado perfeito para a absoluta e final satisfação de Deus apenas para que pudesse ter isso em um único Homem? Não, o evangelho é este: o Senhor Jesus é o representante de todos os homens que Deus irá ter.
Ele é representativo e inclusivo. O velho e bonito princípio do evangelho, que você e eu, após longa familiaridade com ele, ainda freqüentemente precisamos, para a nossa própria tranqüilidade, para compreender mais perfeitamente, é apenas este: que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é uma esfera para dentro da qual somos chamados, requisitados, convidados a entrar por meio da fé, de modo que estamos escondidos Nele quanto aquilo que somos em nós mesmos; Deus vê somente Ele, e não nós. Uma coisa maravilhosa! Você tem que colocar de lado todos os seus argumentos e todas os seus questionamentos, e aceitar o fato de Deus. O fato desta frase, ‘EM CRISTO’, ocorrer duzentas vezes ou mais no Novo Testamento deve seguramente significar alguma coisa.
Deus Nos Vê em Cristo
A primeira, e talvez a mais inclusiva, coisa que esta frase significa é que, se você está em Cristo, Deus vê Cristo ao invés de ver você. Eu tenho um pedaço de papel aqui. Vamos supor que ele represente você e eu, aquilo que somos. Eu coloco este pedaço de papel dentro de um livro, e este livro representa Cristo. Você não vê mais o papel, mas apenas vê o livro. Esta é a nossa posição “em Cristo”. Isto é o que Cristo significa. Toda a Sua satisfação a Deus é colocada em nossa conta. Isto é o evangelho: quando você e eu estamos em Cristo, Deus está satisfeito conosco - tranqüilo, alegre, feliz. Oh, maravilhoso evangelho! Você não pode entendê-lo, ou explicá-lo, mas há o fato declarado. Este é o evangelho da glória do Deus satisfeito.
Colocando novamente o teste que estávamos aplicando em outras conexões nos capítulos anteriores, é apenas isto: que, quando você e eu realmente vamos a Cristo e descobrimos o nosso lugar Nele, uma das primeiras coisas de que ficamos conscientes é que todo o estresse vai embora; encontramos o descanso. Uma maravilhosa tranqüilidade; uma condição feliz, abençoada. Agora, esta é a nossa experiência, mas qual é o seu significado? É o Espírito do Deus feliz dando testemunho dessa felicidade de Deus em nossos corações. ‘O evangelho da glória do Deus bendito’. O primeiro estágio disso é uma posição. Estamos EM CRISTO.
Cristo em Nós
O segundo estágio, ou segundo aspecto disso é que Cristo está em nós. Mas não devemos colocar isto segundo o mesmo raciocínio do último ponto. Isto não significa que nós somos vistos e que Cristo está escondido. Não, Cristo está em nós e nós estamos em Cristo: uma coisa impossível de se explicar, a menos que, talvez, possamos colocar da seguinte forma: Dr Campbell Morgan foi perguntado numa ocasião se o batismo era por imersão ou por aspersão. Ele disse: ‘Meu caro amigo, venha comigo às Quedas de Niagara, e fique debaixo. Você está aspergido ou imerso?’ Bem, deixo que você responda. Mas é desta forma. Cristo está em nós. Por que Ele está em nós? Ele está em nós como aquela satisfação ao coração de Deus, a fim de que o Espírito de Deus possa trabalhar em nós, para nos conformar a Cristo.
E isto introduz um outro aspecto da vida cristã: que, se você e eu prosseguirmos continuamente sobre esta base de Cristo dentro, nossa alegria aumenta. Isto pode ser posto à prova. Pare de caminhar com o Senhor e veja o que acontece com a nossa alegria. Afaste-se do Senhor e veja o que acontece à nossa felicidade. Iremos começar a lamentar então -‘Onde está a felicidade que eu conheci quando vi o Senhor no princípio? Onde está o refrigério da alma Do Senhor e de Sua Palavra?’
Ah, Deus nos livre que devesse ser necessário para qualquer um de nós cantar este hino. Não é necessário. Continue com o Senhor Jesus na base da satisfação de Deus com Ele, e a alegria aumenta. A alegria de Deus aumenta em nosso coração. Cristo está instalado dentro de nós como um padrão, modelo, como uma base na qual Deus trabalha.
Agora, aqui está algo fundamental. Oh, quanto tempo demoramos em aprender isto! É simples, eu sei, mas é fundamental e é algo no qual estamos sempre fracassando. Se começarmos a tentar prosseguir na base do que somos, Deus para. Se prosseguirmos em nosso próprio terreno, aquilo que somos em nós mesmos - nosso miserável e desprezível ‘EU’, a quem Deus se refere como um cadáver, um fétido cadáver - perdoe-me dizer assim, pois ele tem estado morto por dois mil anos (isto pode soar engraçado, mas realmente é muito sério): se você sair do terreno do ‘Cristo em você’ para aquilo que você é em você mesmo, Deus diz: ‘Não irei adiante’. Todas as operações Divinas cessam. Somente podemos continuar da forma como começamos. Começamos em fé que Jesus Cristo foi o nosso substituto, tomou o nosso lugar e respondeu a Deus por nós. Esta era a nossa fé que nos trouxe para Cristo. Temos que continuar até o fim com a mesma fé no Senhor Jesus, e não fé em nós mesmos, e Deus irá prosseguir, se continuarmos em Seu terreno. A Boa Nova é que Deus está pronto para prosseguir em frente, aumentando a felicidade se tão somente nos mantivermos sobre o Seu terreno. Sua glória está em Seu Filho, e ele não tem glória no homem separado de Seu Filho.
Assim, Cristo é nossa esfera, Cristo é o nosso centro, e Cristo é o nosso modelo, e nós estamos sendo conformados, diz o apóstolo, até que Cristo esteja completamente formado em nós. Simples, básico: A glória de Deus em Cristo sendo manifestada nos crentes, na Igreja, porque os crentes estão descansando sobre a satisfação de Deus com Seu Filho. Este é o único caminho da glória de Deus e a expressão do contentamento de Deus, da alegria de Deus. Isto é evangelho.
Você vê, tudo vem finalmente se focar nisto. O que é evangelho? Quando você tiver dito tudo o que você pode a respeito, tudo está incluído nisto: a perfeita satisfação, descanso, tranqüilidade de Deus em relação a Seu Filho, tornado disponível a nós. Oh, que você e eu possamos viver sem conflito com Deus, porque habitamos em Cristo! Irmãos, irmãs, quando vocês começarem a se sentir miseráveis em relação a vocês mesmos, repudie isto. ‘Sim, eu sei tudo a respeito disto. Se eu não souber tudo a respeito disto agora, já é hora de saber. Eu sei tudo sobre aquilo que sou; sei onde isto irá me levar se começar a tomar isto em consideração. Ponho isto de lado. É um fato - Deus tem feito isto - que, a muito tempo atrás, EM Cristo eu fui crucificado, EM Cristo eu morri, EM Cristo eu fui sepultado, EM Cristo eu ressuscitei. É tudo em Cristo. É aí que eu permaneço’. Mantenha esta posição; permaneça em Cristo. Saia desta posição para uma outra e a glória se vai, a alegria, a felicidade, é aprisionada.
Boas Novas para os Jovens
Paulo estava falando a Timóteo sobre o evangelho, e Timóteo precisava das boas novas. Timóteo era um homem jovem. Um homem jovem cristão tem seus próprios problemas pessoais - ele tem muitos problemas e dificuldades em si mesmo. Um jovem representa o resumo de uma vida no seu início: todos os problemas da vida residem aí. Timóteo era um jovem. A tal jovem o apóstolo diz: ‘Está tudo bem, Timóteo: você pode ser atacado por todos esses problemas e dificuldades, você pode estar tendo todos estes problemas espirituais de diferentes formas, mas Jesus Cristo é a resposta para toda esta situação!' Lembrem, jovens, de que o Senhor Jesus é a resposta de Deus para todos os problemas da juventude. É uma boa notícia, não é?
Timóteo não apenas era um jovem, mas era um jovem com determinados tipos específicos de dificuldades, em razão de sua posição na obra cristã. As dificuldades estavam vindo a ele de três direções. Primeiro, havia o mundo pagão. Que desafio isto deve ter significado para um jovem naqueles dias! Era um mundo que não tinha lugar pra Deus, não tinha lugar para o Senhor, não tinha lugar para as coisas de Deus, e todas as forças opositoras daquele mundo pareciam estar concentradas sobre este jovem. Segundo, houve todas as dificuldades do mundo judeu. Paulo faz referência a eles aqui. Aqueles judaizantes estavam perseguindo Paulo por todo o mundo, com uma determinação: ‘Este homem deve ter um fim - a obra deste homem deve ser eliminada!’ Por todos os meios esses judaizantes estavam determinados em destruir Paulo e sua obra, e seus convertidos, e Timóteo estava ligado a Paulo. Paulo diz: ‘Não se envergonhe de mim’. Esta associação criou muitas dificuldades para Timóteo. A resposta é: ‘Tudo bem, Timóteo; há boas novas para você! O Senhor Jesus é suficiente para isto - Ele irá ajudá-lo a passar por tudo isto’.
E, então, Timóteo era um jovem em grande responsabilidade na obra de Deus - na Igreja de Deus. Se você conhece alguma a respeito disto, sabe que precisa de uma boa base de confiança. Ele enfrentou muitas dificuldades cristãs. Porém, Paulo disse: ‘Não despreze a tua mocidade’. Havia certas pessoas pretensiosas - pessoas que pensavam ser alguma coisa - que se inclinavam a dizer: ‘Oh, Timóteo é apenas um jovem, você sabe - você não deve dar muita atenção a ele’. Essas pessoas estavam desprezando a mocidade de Timóteo. Isto é uma coisa difícil de suportar. Isto desanima o seu coração caso você fique nesta posição. Eu me lembro muito bem, quando comecei o ministério e fiquei responsável por uma igreja, onde muitos dos oficiais da igreja eram pessoas velhas, uma delas ouviu dizer: ‘Ele é tão jovem, você sabe!’ Mas eu tinha um defensor entre eles, e ele dizia: ‘Não se preocupe com isto - ele está superando isto a cada dia!’ Bem, isto é muito bom e agradável: mas este tipo de atitude entre os obreiros pode muito bem desanimar você, quando você tem que levar a responsabilidade. Timóteo estava nesta posição, mas este é o evangelho para Timóteo: ‘Está tudo bem: O Senhor Jesus é a resposta para esta situação - Ele irá ajudá-lo a passar isto também’.
Afinal de contas, é realmente isto. É o que o Senhor Jesus ‘foi feito para nós...para Deus’: A satisfação de Deus. Oh, graças a Deus que o Senhor Jesus cobre as nossas faltas e fraquezas, e defeitos. Eu uma vez li uma história - creio que era verdade - sobre um certo hotel no continente, onde as pessoas costumavam ir e ficar para descansar e se isolar. Um dia uma mãe chegou com sua garotinha, e esta garotinha estava apenas começando a aprender piano. Cada manhã, a primeira coisa, ela ia ao piano e tocava, tocava, tocava o dia inteiro. De manhã, de tarde e de noite ela tocava, até que as pessoas ficaram incomodadas, e se reuniram para saber o que poderiam fazer, quando um pianista famoso chegou e ficou no hotel. Ele imediatamente sentiu a atmosfera, e se inteirou da situação, e, quando a garotinha foi para o piano, ele seguiu junto e sentou, e colocou as suas mãos sobre as delas e as guiou, e aí surgiu uma linda música. As pessoas vieram de seus quartos para a sala onde estava o piano, e sentaram-se para ouvir. Quando terminou o recital, o pianista disse à garotinha: ‘Muito obrigado, querida; apreciamos muito hoje’ - e todos os problemas terminaram.
Sim, o Senhor Jesus apenas coloca as Suas mãos sobre as nossas. Nós fazemos uma bagunça se as coisas forem deixadas para nós mesmos. Nós perturbamos, ofendemos; somos muito imperfeitos, muito falhos: e, então, o Senhor Jesus vem, e de forma bendita, e corrige nossas deficiências, responde ao Pai por nós, supre as nossas deficiências - como? Com Ele mesmo, apenas com Ele mesmo.
Esta é a resposta; estas são as boas novas - ‘O evangelho da glória do Bendito Deus’.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
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