quarta-feira, 12 de agosto de 2009

UM DEUS QUE SE OCULTA

UM DEUS QUE SE OCULTA

Verdadeiramente tu és um Deus que te ocultas, ó Deus de Israel, o Salvador.(Is.45.15)

É como se o profeta fosse de repente tomado por um temor, e golpeado por um espanto com o que ele estava para profetizar! No meio de seu ministério, seu espanto rompeu sobre si mesmo e ele exclamou com este brado.
Deixando de lado muito do que isto poderia implicar como profecia, vamos nos ater à exclamação em si. Aquela declaração, em princípio, é uma com várias instâncias nas Escrituras. Olhando para o contexto, vemos que se trata da libertação de Israel do cativeiro, e o seu retorno à terra para reconstruir Jerusalém e o templo. Não há dúvida que muita especulação e discussão tem havido sobre como as profecias de seu retorno seriam cumpridas. Setenta anos tinham sido determinados e tornados conhecidos quanto a duração do cativeiro. Os poderes dos Gentios estavam sem dúvida em ascendência e parecia haver muito pouca perspectiva ou possibilidade de Israel reconquistar seu poder e glória nacional entre as nações. O estado das coisas em seu próprio país – o templo destruído, a cidade incendiada, a terra dominada por bestas feras, os emissários dos inimigos instalados – e a desintegração entre as próprias pessoas no exílio, fez da previsão algo carregado de problemas aparentemente insuperáveis, e isso poderia bem ter conduzido a uma completa confusão, e até mesmo desespero.
Então o profeta é obrigado a profetizar que tudo isto iria acontecer – esta restauração – nas mãos ou pela vontade do próprio poder Gentil; que o Soberano Espírito de Deus desceria sobre um que – até então – não estava em posição para fazê-lo, e provavelmente cujo nome ainda não era conhecido. Babilônia ainda não estava vencida: o Império Babilônico ainda não tinha sido destruído; as profecias de Daniel ainda não tinham sido cumpridas. Mas aquele que o faria fora mencionado pelo nome e os detalhes de sua conquista são dadas neste capítulo 45 das profecias de Isaías. ( Leia-o, fragmento por fragmento) E então, muito embora este homem estivesse em ignorância de Deus, ele seria constrangido e compelido por Deus, como um ungido para cumprir as Escrituras, libertar o povo, prover os meios, e de modo geral, facilitar a restauração.
Assim que o profeta vê tudo isto em sua “visão” (“a visão de Isaías”, 1.1, uma visão incluindo tudo), ele é esmagado por um espanto. Todos os problemas estão resolvidos, as perguntas respondidas, as “montanhas” niveladas! Quem teria pensado nisto? Quem teria sonhado com tal coisa? Oh, quão profundo são os caminhos de Deus, abaixo de nossa imaginação, escondidos de nossas mais intensas especulações. “Verdadeiramente tu és um Deus que te ocultas, ó Deus de Israel, o Salvador.
Há várias outras grandes e consideráveis instâncias no mistério dos caminhos de Deus em cumprir seus maiores propósitos. Todas as raças tinham se apartado dEle e se envolvido com o ateísmo e com a idolatria. Era universal. Como Deus encontraria uma solução? Ele se moveu para por suas mãos sobre um homem, e, a partir daquele homem Ele fez uma nação. Em sua Soberana Graça Ele fez daquela nação seu mistério, seu segredo, entre as nações. Israel era o mistério de Deus, o caminho escondido de Deus. Sempre houve algo misterioso acerca de Israel. Paulo, contemplando este método de Deus e achando-o elevado, com poder tão esmagador, fez exatamente o mesmo que Isaías. Enquanto escrevia ele apenas exclamou um alto e ressonante brado: - “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis seus juízos e inexcrutáveis seus caminhos! (Rom.11.33)
Ele bem poderia ter acrescentado, “Tu és o Deus que te ocultas”. Quem poderia ter pensado na encarnação, e que, não em glória, mas em humilhação, contrariando qualquer expectativa humana? Quem poderia ter pensado numa cruz para o Deus Encarnado como o método e o meio de solucionar o maior problema já conhecido neste universo? Quem poderia ter suspeitado que tudo isto estava incorporado naquele Homem de Nazaré, “o filho do carpinteiro”, como eles o chamavam? Lá estava o maior mistério de Deus! Funcionaria? Tem ele provado ser o caminho , o único caminho, e o bem sucedido caminho transcedental?
E o que é verdade quanto ao mistério de Israel, e o mistério de Cristo, é também verdade quanto ao mistério da Igreja. Há uma coisa oculta a respeito da Igreja. Nenhum olho natural pode dicerni-lo. Nenhuma mente natural pode explica-lo. Reduza-o ao senso e descrição humana e você o terá perdido, você terá se agarrado a coisa errada. “A sabedoria de Deus está em mistério”, diz Paulo. Tente recomendar a Igreja para o mundo sem fé e você a despiu de seu poder secreto. A menos que os homens venham diretamente de encontro com o Deus insondável que os esmaga, aquilo que afirma ser seu esconderijo será apenas uma concha vazia.
E nós lembraríamos você que o que é verdade naquelas épocas de soberano progresso através dos anos, aquelas intervenções e adventos na história da vida espiritual deste mundo, também é verdade para cada um de seu verdadeiro povo. E isto será constantemente confrontado com o “como”? de situações impossíveis, a fim de que eles possam ser compelidos a repetidas exclamações diante de Suas simples soluções –

“Verdadeiramente tu és um Deus que te ocultas a si próprio”
“Profundo em “impenetráveis minas
de capacidade que nunca falha,
Ele entesoura seus desígnos brilhantes
e opera sua vontade soberana.


Dar-te-ei os tesouros das trevas, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chamo pelo teu nome. (Isa.45.3).



















O Propósito de Deus para o Tempo Presente

por T. Austin-Sparks

Seria proveitoso se nos recordássemos a natureza especial desta dispensação, que compreende o período que vai desde a ascensão do Senhor até sua volta. E é bom que recordemos (pois, é uma tragédia que não tenha sido recordado continuamente ao povo do Senhor ao longo desta dispensação) que nesta geração - nesta dispensação – a preocupação principal de Deus com relação a este mundo é tirar algo fora dele... e não fazer algo com ele, nem ter algo nele ou que proceda dele.
Até que cheguemos a ver com clareza este assunto, estaremos confundidos em qualquer outro assunto relacionado com o Senhor: Seja este sua obra, seu propósito, ou nossa vida em comunhão com ele.
O Senhor está proeminentemente ocupado em tirar algo fora deste mundo. Tudo o mais não é senão uma preparação deste mundo para o juízo. Quando a atividade de Deus acabar, ao “tirar esse algo” fora da terra, então tomará lugar o juízo deste mundo. Portanto, todas as idéias a respeito de melhorar este mundo e estabelecer um pouco de Deus nele, como parte dele – estabelecendo aqui algo para Deus – são idéias falsas que conduzirão a muitos erros... e, com o tempo, a uma completa desilusão.
Em conexão com a atividade primária de Deus na presente dispensação, o próximo assunto que temos que recordar é que esta extração desde a terra é algo principalmente espiritual. Verdadeiramente, o Senhor tem tirado o seu povo literalmente fora deste mundo de geração em geração, e terá – ao final – uma literal e poderosa saída do resto daqueles que esperam sua aparição. Mas, a saída ao longo da presente dispensação é principalmente uma coisa espiritual. A dimensão literal ou física dela não será senão o termo de uma fase.
Este “ser tirados” ocorre espiritualmente, em primeiro lugar, através de uma crise - a crise do novo nascimento – quando nos damos conta de que nascemos de outro reino e que já não continuamos pertencendo a este mundo: Pois na realidade mais profunda de nosso ser, por meio de um novo nascimento, já não somos desta terra senão de acima. Esta é a crise que nos tira fora deste mundo. Depois, em segundo lugar, esta crise, extração, redenção ou emancipação (qualquer seja a expressão que você prefira) é um assunto espiritual. É, em certo sentido, uma peregrinação; um movimento progressivo. E, enquanto caminhamos com o Senhor pelo verdadeiro caminho, somos levados, num sentido espiritual, mais e mais longe deste mundo. Estas são verdades simples e elementares, nenhuma delas nova, mas que precisam ser enfatizadas como uma forma de estabelecer o fundamental.
O que permanece de Deus neste mundo está aqui com três propósitos. Referimo-nos agora ao que veio por meio da crise, está em processo... mas está aqui ainda (aqui, ainda não como parte desta terra). Enquanto isso permanece, apresenta-se com três propósitos, que apontam, por sua vez, em três direções diferentes: em primeiro lugar, para Deus; em segundo lugar, para si mesmo; e, em terceiro lugar, para o mundo.
O propósito dirigido para Deus, por cuja razão estamos aqui, é a representação dos direitos de Deus na terra. Tal como Davi, que, conduzido fora de seu reino e longe de Jerusalém, enviou de regresso a Jerusalém ao sacerdote Sadoque com o Arca, como um depoimento de que esse era seu lugar e de que ele regressaria ali um dia. Portanto, o Senhor, quem foi conduzido fora deste mundo, põe aqui estrategicamente seu povo em relação com ele mesmo e em representação de seus direitos. Em conseqüência, somos chamados a permanecer deliberadamente aqui, sobre esta terra, contra as reclamações do usurpador, como um desafio às pretensões do demônio de ser o príncipe deste mundo, a favor dos direitos daquele cujo direito é reinar. Simplesmente permanecemos aqui, voltados para ele com este propósito.
Em referência ao aspecto deste propósito, que aponta às coisas de Deus que estão aqui, seu objetivo é a aprendizagem da verdadeira natureza do que pertence a Deus. Nos deixa sobre esta terra pelo tempo todo de nossa permanência no meio de outras coisas, com o objetivo de educar-nos. E nossa educação está orientada à aprendizagem de qual é a natureza do que é de Deus. Temos muitas lições por aprender. E temos muitos assuntos por conhecer, tais como a diferença entre o que é de Deus e o que é do homem; o que é de Adão e o que é de Cristo; o que é da terra e o que é do céu; o que é da carne e o que é do Espírito... e nossa educação se estende nesta direção.
Isto é algo muito prático e experimental. Se você e eu fôssemos levados repentinamente ao céu; vale dizer, se uma vez salvos fôssemos transplantados imediatamente ao céu, teríamos que conhecer completa e imediatamente a natureza de tudo o que é de Deus. Mas, deveríamos conhecê-lo de uma forma que agora não o fazemos. Para expressá-lo de outra maneira, agora estamos conhecendo-o de uma forma que não poderíamos fazê-lo se aquilo acontecesse. Depois, nosso objetivo deveria ser conhecê-lo, como algo que demanda tudo de nossa parte... até onde só podemos entrar dessa maneira. Mais, conduzidos aqui entre elementos em conflito, estamos aprendendo-o de uma maneira experimental. Isto é, sendo lavrados interiormente por meio de sofrimentos, contradições, disciplinas e um grande acumulo de história interior. Isto é, sendo lavrados para dentro de nosso próprio ser, pois esta é a forma em que Deus ensina a seu povo. É a mais frutífera das formas; caso contrário, ele teria adotado outro método.

Depois, temos a dimensão orientada para o homem daquilo que está aqui de Deus, cujo assunto é o testemunho e suas testemunhas. Estas duas palavras não significam o mesmo. A testemunha é o instrumento mesmo; o testemunho é aquilo que a testemunha entrega. O Senhor deve ter aqui algo que seja a encarnação da verdade; e que, sendo dita encarnação, entregue a verdade. Esta é a diferença entre a testemunha e o testemunho. E nós estamos aqui na terra, dirigidos para os homens e para o mundo, com este propósito: Ser a encarnação e a expressão da verdade. Portanto, observe você isto, enquanto o Senhor deixa o que é estrita e essencialmente seu aqui por um tempo, ele não quer que o seu se estabeleça – e se consolide – para converter-se em parte do presente estado de coisas. Aquilo está aqui somente por razão de seu divino propósito. Quando este propósito tenha atingido o ponto em que o Senhor considere, em sua exclusiva sabedoria e soberania, que o melhor para seu vaso é de que seja transplantado ao céu, então ele atuará em conformidade.
Tudo isto se encontra sintetizado em duas características da vida de Cristo:
a) Ainda que estava no mundo, não era do mundo. Durante essa breve permanência aqui, ele tinha abraçado todas as leis de uma vida que se vive em relação com o céu e não em relação com esta terra. Seu lugar, enquanto vivia aqui, estava no seio do Pai (com Deus, e não neste mundo). Ele viveu por meio das leis dessa relação, e o fez assim para mostrar ao futuro o fato de que o homem é chamado a viver para Deus. É verdade que ele era Deus. Essa não é a questão pelo momento. Mais bem, enfatizamos o outro lado para compreender porquê era necessário que ele vivesse aqui; e isto, para estabelecer, adiante, o fato de que o homem pode ainda viver sobre a terra e ser governado por leis que, sendo obedecidas, o farão algo mais do que um homem deste mundo. Isto pode soar complicado, mas pode resolver-se num fato singelo: Ele viveu como um homem neste mundo, ainda que não foi parte dele. E para fazê-lo, ele teve que se mover, governado por leis que não eram as leis deste mundo senão as leis do céu. Esta é uma fase de sua vida que sintetiza o que viemos dizendo.
b) Ainda que está no céu, ainda está expressando sua vida celestial na igreja por meio do Espírito Santo. Tudo está reunido nisto. O Espírito Santo foi enviado com o objetivo primordial de reproduzir a Cristo na igreja e, deste modo, constituir à igreja num Homem Celestial conforme a Cristo. Assim, para nós se volta imprescindível conhecer que é a vida no Espírito. Aquilo que o Senhor está procurando em forma preeminente durante esta geração é um povo espiritual que se encontre em posse de um conhecimento, um entendimento e uma percepção dele mesmo, o qual é um assunto inteiramente diferente de tudo quanto possui o homem natural... e que, em conseqüência, será aquilo que vai permanecer quando tudo o mais se for (e perdurará através de todas a provas e todas as dificuldades). É o conhecimento interior de Deus numa forma sempre crescente.
O cuidado do Senhor para nós neste tempo está relacionado com que deveríamos saber que a mente de Deus se acomoda a uma mente espiritual, constituída de acordo com Cristo nos céus por meio do Espírito Santo (o Espírito reproduzindo em nós a vida, a mente, a inteligência do Senhor Jesus, segundo o Homem Celestial de Deus). Se a característica mais importante da espiritualidade é a inteligência espiritual, que implica conhecer ao Senhor na íntima forma de seu pensamento e de seu propósito (isto é, do que se conforma a Deus), porque isto é o que vai sobreviver a todo resto; que seja isto o que se queira ao permanecer na preeminente e suprema atividade de Deus nesta dispensação. Este mundo, e todas as coisas relacionadas com ele, não vai ser o último. Em conseqüência, não afundaremos nossas raízes nele; não estabeleceremos fundamentos profundos nele; e não edificaremos em união com ele (com o nome de Deus sobre isso), nem sequer de uma maneira religiosa. Você e eu devemos entrar na suprema atividade de Deus nesta dispensação, a qual consiste em tirar fora deste mundo, em associação consigo mesmo, aquilo que permanecerá eternamente quando tudo o mais tenha passado.

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