INTRODUÇÃO
É possível ser submisso e ao mesmo tempo desobedecer. Paulo nos diz em
Romanos 13.1-2: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há
autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele
instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e
os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.”
Poderíamos pensar que esta passagem ensina obediência incondicional a qualquer
classe de autoridade. Na realidade, ela deve ser aplicada aos governadores descritos no
verso 3, que diz: “Porque não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o
mal”. Mas alguns governantes são o oposto disso. Eles aterrorizam os que fazem o bem e
galardoam os que fazem o mal.
Estive em Uganda depois que Idi Amim assumiu o poder. Ele é aquele tipo de
governante iníquo. E eu afirmo que obedecer a pessoas como ele não é a vontade de Deus
para as nossas vidas.
Mantivemos um seminário em Burundi, em 1969, e havia um pressentimento de
tumulto no país. Várias centenas de irmãos africanos assistiram ao seminário. Eram homens
de Deus muito amados. Logo depois do nosso seminário, aquele país teve uma mudança de
governo.
Dois grupos de tribos rivais compunham a base da população de Burundi. Um dos
grupos era amigável aos europeus, mas o outro lhes era hostil. Foi este grupo hostil que
tomou o poder. O resultado foi uma guerra civil. Houve uma carnificina. Entre outras coisas,
o novo governo ordenou que todos os pastores se apresentassem para serem presos (a
tribo que mantinha amizade com os europeus era bem evangelizada). Para nossa
consternação, alguns dos pastores que assistiram ao nosso seminário se apresentaram e
foram mortos. Eles tinham um conceito errado acerca de submissão. Eram homens a quem
eu havia ministrado. Muitos deles eu considerava como amigos. Isto me fez revisar alguns
ensinamentos sobre submissão muito em voga nos nossos dias.
Não havíamos ensinado nada acerca de submissão àqueles pastores. Mas gostaria
que tivéssemos prestado mais atenção no que o Espírito dizia naquele seminário, porque ele
estava nos avisando sobre o tumulto que se avizinhava. Se tivéssemos instruído bem
aqueles pastores a que não obedecessem a esse governo hostil, e que pelo contrário o
resistissem e fugissem, muitos talvez estivessem vivos agora.
O governo e a liderança que Deus quer que obedeçamos, são aqueles que se fazem
terror para as más obras e que condecoram as boas. Mas quando um líder ou governo fica
enlouquecido, devemos resisti-lo.
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O QUE É SUBMISSÃO
Submissão não tem nada a ver com a obediência em si. Submissão não é uma
obediência inquestionável à autoridade; não é a resposta cega a todo tipo de ordem.
Submissão é uma atitude do coração. É uma vontade firme de seguir as instruções que não
violem:
(1) o que Deus nos diz (At 4.17-30; ou
(2) o que a Bíblia nos ensina (Js 1.8; Is 8.20; At 17.11); ou
(3) o que nossa consciência nos diz (At 24.16; Rm 14.23; 1 Pe 2.19; 2 Co 4.2; 2 Co
1.12; 1 Co 8.7-12;10.29).
Dentro desses limites é bom que nos submetamos àqueles que nos dirigem no
Senhor, no governo, na sociedade e no lar. Fora desses limites, devemos aprender a
desobedecer, mantendo sempre no coração uma atitude de submissão.
TRÊS JOVENS HEBREUS
O rei Nabucodonosor fez um grande ídolo de ouro (Dn 3) e o erigiu na planície de
Dura. Para a dedicação do ídolo, ele estabeleceu as regras pelas quais todo o povo se
prostraria e adoraria a imagem. Qualquer um que deixasse de cumprir esta ordem seria
lançado na fornalha ardente.
Isto se transformou numa situação difícil para os três jovens hebreus, Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego. Eles eram submissos; queriam servir ao rei, mas disseram-lhe: “Ó
Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem
servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei.
Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem
de ouro que levantaste” (Dn 3.16-18).
Esses homens tinham coragem. Eles eram submissos. Mas o que o rei pedia
contrariava as Escrituras. Por isso foram lançados na fornalha ardente, mas Deus estava
com eles e os manteve vivos e salvos.
OS APÓSTOLOS
No Novo Testamento os apóstolos foram presos por pregar o evangelho (At 4). No dia
seguinte os membros do Sinédrio chamaram-lhes a atenção para que não pregassem mais
sobre Jesus. Mas Pedro insistiu em afirmar que para eles era mais importante obedecer a
Deus que aos homens. Completamente frustrados, as autoridades deixaram-lhes ir embora.
Mais tarde, porém, as autoridades ainda ficaram mais alarmadas pelas atividades dos
apóstolos.
“Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a
seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão
pública. Mas de noite um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para
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fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta
vida” (At 5.17-20).
Deus é a mais alta autoridade e devemos ser submissos a ele em todo o tempo.
Esses homens não eram rebeldes. Eles queriam apenas seguir ordens razoáveis. Mas
quando estas ordens violavam os mandamentos de Deus, então eles preferiam obedecer a
Deus antes que aos homens. E da mesma forma como o Senhor ficou ao lado dos três na
fornalha ardente, ele enviou o seu anjo à prisão para libertar os apóstolos.
RAABE, A PROSTITUTA
Raabe, a prostituta, entrou para o “rol de honra da fé”, através de sua fiel desobediência:
“Pela fé Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com
paz aos espias” (Hb 11.31). O rei de Jericó tinha proibido seu povo de receber os espias,
mas quando os policiais de Jericó estavam buscando por eles, Raabe os escondeu. Ela pôs
sua vida em jogo por aquilo que achava ser correto. Se lermos cuidadosamente Josué 2
notaremos que ela cria no Deus de Israel.
“De igual modo, não foi também justificada por obras, a meretriz Raabe, quando
acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” (Tg 2.25). Ela era uma mulher de
fé e demonstrou isto, pondo a vida em risco ao desobedecer o edito do rei de Jericó. Como
resultado, os espias prometeram que quando conquistassem a cidade, se ela pusesse um
cordão escarlata em sua janela, ela e toda sua casa seriam poupadas. Aquele cordão
escarlata é uma figura maravilhosa do sangue de Cristo, que nos protege agora. Quando
estamos cobertos pelo sangue de Jesus, temos uma promessa de proteção por parte do
Senhor. E foi a desobediência fiel de Raabe que alcançou para ela essa proteção.
SAMUEL, O PROFETA
Samuel foi um servo submisso ao rei Saul e ao Senhor. Mesmo assim desobedeceu a
Saul. “Disse o Senhor a Samuel: Até quando terás pena de Saul, havendo-o eu rejeitado,
para que não reine sobre Israel? Enche um chifre de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o
belemita; porque dentre os seus filhos me provi de um rei. Disse Samuel: Como irei eu? pois
Saul o saberá, e me matará” (1 Sm 16.1,2).
O Senhor lhe disse o que fazer para não ser morto. Normalmente, Samuel obedecia a
Saul, mas o Senhor lhe ordenou que fosse ungir um dos filhos de Jessé. Com risco de sua
própria vida, ele o fez. Ele se tornou um dos contrabandistas de Deus. Tomou o óleo da
unção e foi cumprir a palavra de Deus. Samuel não era um rebelde; era submisso. Mas foi
desobediente. Desobedeceu a Saul porque Saul era um líder a quem Deus já havia
rejeitado.
Há muitos líderes no mundo de hoje aos quais o Senhor rejeitou. Deus requer de nós
que nos alinhemos com sua Palavra e seus propósitos e não obedeçamos tais líderes.
Submissos, sim; obedientes, não.
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JÔNATAS, UM FILHO DE REI
Jônatas era filho de Saul e este lhe disse que matasse a Davi (1Sm 19.1). Eu creio
que os filhos devem obedecer a seus pais. A Bíblia ensina assim. Mas quando Jônatas
recebeu ordem de matar, qual era sua obrigação diante da Palavra, diante de Deus e dos
propósitos divinos? Era obedecer a Deus e desobedecer a seu pai. Nem sempre submissão
significa obediência.
Talvez haja no seu emprego pessoas que querem que você minta e defraude em
favor da empresa, ou que acompanhe a líderes sindicais trapaceiros. Você não deve violar
as Escrituras à guisa de estar em submissão. A sua responsabilidade é tomar uma posição
aberta em favor daquilo que é certo.
O APÓSTOLO PAULO
O apóstolo Paulo era um homem que queria estar sujeito à autoridade. Ele ensinou
sobre isto, possivelmente, mais que qualquer outro apóstolo. Mas quando estava em
Damasco e as autoridades procuravam matá-lo, por acaso ele se apresentou e disse:
“Ponham a corda no meu pescoço e enforquem-me?” Não, ele tratou de escapar. E os
discípulos se juntaram a ele naquela desobediência às autoridades. Não se puseram sob
aquela liderança que desejava matá-los. Eles acharam um modo de escapar e o fizeram (At
9.23-25).
Mais tarde, os judeus em Tessalônica se queixaram às autoridades locais acerca dos
cristãos, que estavam transtornando o mundo. Isto foi apenas a apreciação feita por
incrédulos. Se a apreciação fosse feita por Deus, ele diria que estavam endireitando o
mundo. Mas as autoridades ficaram perturbadas quando ouviram dos judeus que Paulo e
seu grupo proclamavam um outro Rei Jesus. As autoridades, recebendo pagamento de
fiança de Jasom, líder local dos novos convertidos, deixou-os sair. Que fizeram Paulo e seus
amigos? Quebraram a liberdade condicional e fugiram (At 17.5-10).
Onde houver líderes hostis ao evangelho ou aos mandamentos de Deus, devemos
resisti-los. Nós não somos rebeldes; somos submissos. Queremos seguir a uma liderança
razoável e certa. Mas quando eles se tornam um terror para as boas obras em lugar de ser
terror para as más, então devemos rejeitá-los.
AS PARTEIRAS HEBRÉIAS
As parteiras hebréias de Êxodo 1 também nos instruem neste assunto. “O rei do Egito
ordenou às parteiras hebréias, das quais uma se chamava Sifrá, e a outra Puá, dizendo:
Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o, mas se for filha,
que viva. As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do
Egito, antes deixaram viver os meninos” (vv. 15-17). Viva! para mulheres como estas que se
levantam contra o mandato do rei, porque temem mais a Deus do que ao rei. “E porque as
parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família” (v. 21). Elas foram premiadas por sua
fiel desobediência.
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Não estou aqui encorajando a rebelião contra o que é certo, justo e bom.
Necessitamos de autoridade se queremos ordem. Todos nós devemos aprender a
submissão. Mas uma obediência inquestionável ou cega a uma liderança errada, não é a
vontade de Deus para nossas vidas.
A ESPOSA QUE MORREU
“Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma
propriedade, mas de acordo com sua mulher, reteve parte do preço, e, levando o restante,
depositou-o aos pés dos apóstolos. Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás
teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?
Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder?” Estavam
fazendo aquilo para demonstração exterior, tentando fazer o povo crer que eram espirituais,
quando na verdade, em seus corações estavam agarrados ao dinheiro. Deus julgou-os por
hipocrisia.
“Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os
ouvintes... Quase três horas depois, entrou a mulher de Ananias, não sabendo o que
ocorrera. Então Pedro, dirigindo-se a ela, perguntou-lhe: Dize-me, vendestes por tanto
aquela terra? Ela respondeu: Sim, por tanto. Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em
acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu
marido, e eles também te levarão” (At 5.1-11). Safira morreu porque estava em cumplicidade
com o erro. Mesmo sendo uma esposa submissa, ela deveria ter desobedecido. Safira teria
permanecido viva se tivesse deixado de cooperar com o plano do seu marido. Necessita-se
de muito mais coragem para desobedecer do que para seguir a multidão.
Quem sabe você é uma mulher cristã, casada com um marido descrente; não é fácil
quando ele lhe pede para fazer algo errado. Talvez ele queira que você lhe acompanhe em
filmes censurados ou que faça outra coisa que você sabe ser errada. Não viole sua
consciência nem as Escrituras na sua aplicação à sua vida; pois você dará contas a Deus
pela maneira em que você recebeu essas autoridades superiores.
Isto nos coloca numa posição bem apertada no lar, no emprego, ou no governo, seja
onde for que sejamos chamados a estar comprometidos com aquilo que é reto. Temos que
desobedecer as ordens pecaminosas, senão sofreremos as conseqüências. Eu mesmo tive
que abandonar certas organizações quando descobri desonestidade, infidelidade e
manipulação do povo de Deus por trás de tudo! Deus deixa de contar conosco quando
fazemos parte de algo errado.
CONCLUSÃO
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade: porém não useis da liberdade para
dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (Gl 5.13). Se é verdade
que em algumas ocasiões devemos desobedecer, isto não deve servir para facilitar a
manifestação de nossos desejos oportunistas, ou fortalecer nossa obstinação natural e
desejo de conseguir nossa própria vontade. Também não é uma forma de fugir de nossa
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responsabilidade quanto ao bom relacionamento com o cônjuge, o patrão ou o governo.
Tendo dito isto, nunca comprometamos nossa integridade quando estivermos em situações
que requeiram uma posição inequívoca de submissão às mais altas autoridades que são
Deus, sua Palavra e as exigências de nossa consciência.
Devemos estar prontos a sermos impopulares, mal entendidos, a passarmos por
tolos, se necessário, pela causa de Cristo, a fim de manter sempre nossa integridade e
comunhão com o Senhor. Porque quando estivermos na presença do Senhor no dia do
juízo, seremos galardoados por nossa fiel obediência a ele somente.
Se temos sido fiéis, mesmo que isto nos custe amizades cortadas e relacionamentos
desfeitos nesta vida, Deus nos honrará naquele dia. Não devemos endossar passivamente a
maldade. Devemos usar nossa influência para combater o mal. Isto vai requerer de nós que
estejamos sempre submissos e que desobedeçamos quando necessário.
Desta mensagem foi traduzida de um artigo intitulado: “Submission and
Disobedience”, publicado na revista World MAP Digest, de julho e agosto de 1978.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
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